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NOZÂNGELA MARIA ROLIM DANTAS PROGRAMA DE ...

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A FUNABEM, extinta em 1990, com a promulgação do Estatuto da Criança e do<br />

Adolescente (ECA), órgão subordinado diretamente à Presidência da República, tinha a<br />

função de formular e implementar, em todo o território nacional, a Política Nacional do Bem-<br />

Estar do Menor (PNBEM), que procurou introduzir a metodologia interdisciplinar<br />

redimensionando a periculosidade limitada aos aspectos médicos dos higienistas (PASSETI,<br />

2004). Segundo o mesmo autor, ao se adotar uma metodologia científica na FUNABEM,<br />

fundamentada no conhecimento “biopsicossocial”, buscava-se romper com as práticas<br />

repressivas, usadas pelo Serviço de Assistência a Menores (SAM), criando-se um sistema que<br />

levasse em consideração as condições materiais de vida das crianças e adolescentes<br />

abandonados, carentes e infratores; o perfil psicológico; o desempenho escolar; as<br />

deficiências e os potenciais que os mesmos tivessem com vistas ao crescimento:<br />

[...] A nova política de atendimento organizada para funcionar em âmbito<br />

nacional pretendia mudar comportamentos não pela reclusão do infrator, mas<br />

pela educação em reclusão – uma educação globalizadora na qual não estava<br />

em jogo dar prioridades à correção de desvios de comportamentos, mas formar<br />

um indivíduo para a vida em sociedade (PASSETI, 2004, p.357, grifo nosso).<br />

A realidade, porém, não era condizente com a política apregoada pela fundação, como<br />

o papel desempenhado pelos inspetores que, conforme o depoimento de um ex-interno da<br />

Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), não se dava com tanta maestria,<br />

quando se tratava de manter a ordem e a disciplina:<br />

O regime de lá é tipo militarismo, tem que ficar em sentido, não pode nem se<br />

mexer. Se você se mexer, você é anotado no caderninho preto do inspetor (...).<br />

(Todo sábado) o pessoal que foi para a varanda, ficava em pé de uma hora às<br />

três da tarde. Em pé de sentido de sentido mesmo [...]. (Ficava em pé) até a<br />

hora que ele achasse que está bom o castigo. Eu achei que eles pensam que<br />

assim ‘vai’ educar. Eu acho pelo contrário, isso vai fazer com que a gente<br />

fique mais revoltado. Como no caso, muita gente tinha vontade de esganar os<br />

inspetores. Só não esganava porque não tinha como atacar eles. Mas muito<br />

‘pessoal’ tinha vontade de esganar - Entrevista com J. C. 20 anos, ex-interno -<br />

(ALTOÉ, 1990, p. 60).<br />

Altoé (1990), ao desenvolver seu trabalho sobre o internato de menores (FUNABEM)<br />

- partindo das representações que alguns ex-internos tinham de si, construído a partir das<br />

experiências passadas no internato -, reporta-se à questão da violência física e da disciplina. A<br />

autora chama atenção para:<br />

A referência à disciplina sempre surge como sendo rígida e militar. A<br />

disciplina vem, invariavelmente, associada às formas de punição, uma vez que<br />

as pequenas faltas disciplinares são tratadas como castigos diários. A punição<br />

severa muitas vezes não se relaciona à falta cometida, mas ao rigor ou à raiva<br />

do funcionário (ALTOÉ, 1990, p.59).

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