NOZÂNGELA MARIA ROLIM DANTAS PROGRAMA DE ...

era inadequada à realidade do mercado de trabalho, e os internos, uma vez desligados, saíam
da instituição com baixa escolaridade e sem formação profissional adequada para ingressarem
no complexo mercado de trabalho. Além disso, acentuava a dificuldade da obtenção do
primeiro emprego, pelo fato de terem sido internos ou terem passado por essa instituição, com
uma imagem tão negativa.
Costa (1994) afirma que o trabalho infanto-juvenil, a sociedade e o Estado, antes dos
anos oitenta, conviveram pacificamente. A Pedagogia do Trabalho 4 era uma constante na
metodologia de muitas instituições públicas e particulares. A fiscalização do Ministério do
Trabalho, os sindicatos, as Organizações Não Governamentais (ONGs) faziam atendimentos
isolados, evitando discussões que envolvessem questões políticas e sociais de forma a
estabelecer ações mais eficazes na mudança da estrutura do quadro de exploração desta mãode-obra.
No entanto, mesmo sob o domínio do regime militar em crise, o Brasil da década de
80 passava a questionar o tratamento dado a suas crianças e adolescentes. A luta pela
democratização do Estado, com o movimento das “Diretas Já”, fez eclodir, em todo o
território nacional, os movimentos sociais de contestação, que reivindicam melhores
condições de vida e de trabalho. A política recessiva adotada pelo governo, com seus vários
planos econômicos, que elevou cada vez mais a inflação (que chegou a atingir patamares
altíssimos de 235,5% em 1985), gerava a cada dia descontentamento na população, que via
seus salários serem desvalorizados, perdendo, assim, o poder de compra. O desemprego
crescente aumentava ainda mais o número de crianças e adolescentes nas ruas, demonstrando
a incapacidade e ineficiência das FEBEMs em atender eficazmente essa população espalhada
pelas ruas, fora as constantes fugas e rebeliões (VOGUEL, 1995).
Segundo Costa (1994), apesar dessas constantes crises econômicas e políticas
vivenciadas nos anos oitenta, o país avançou no processo de participação democrática com a
eleição de um Presidente Civil, com a elaboração de uma nova Carta Magna para o país, com
a participação dos diversos setores da sociedade e com a formação de um amplo movimento
4 A pedagogia do trabalho, segundo Menezes e Santos (2007), “refere-se a uma área de estudo sobre o
desenvolvimento dos indivíduos num processo histórico e social do trabalho. Os pesquisadores desse campo
entendem que as contradições sociais têm papel fundamental na promoção das rupturas, com sérias
transformações na vida do indivíduo. Uma preocupação constante nessa pedagogia é com as potencialidades do
indivíduo, que são impedidas de se desenvolverem diante de um trabalho alienado. Daí, por conseqüência, a
pedagogia do trabalho visa conscientizar o indivíduo em suas relações históricas, materiais e sociais. Karl Marx
(1818-1883), junto com seus comentadores, foi um dos grandes pensadores sobre essa temática”. No entanto, a
“Pedagogia do Trabalho”, à qual COSTA (1994) se refere, possui uma conotação de exploração, devido a várias
instituições ao longo da história fazerem uso do trabalho, como meio educativo, para “disciplinar” e “reeducar”
as crianças e adolescentes nelas inseridos.