NOZÂNGELA MARIA ROLIM DANTAS PROGRAMA DE ...
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Os resultados enfatizam outro aspecto, também relevante, que é o não conhecimento<br />
da proposta do PETI e o despreparo para desempenhar a função de monitor junto aos egressos<br />
do trabalho infanto-juvenil. Embora a maioria tenha o ensino médio completo e, até mesmo, o<br />
nível superior, observou-se que os monitores não estão preparados para atuar junto à<br />
população infanto-juvenil provenientes da situação de trabalho precoce, seja por<br />
desconhecimento da temática e das diretrizes do Programa, seja por não saber como organizar<br />
e coordenar diariamente turmas que chegam a compor entre 15 e 50 crianças e adolescentes,<br />
multiseriadas, em espaços físicos pequenos, desenhando um quadro de super-lotação. Muitos<br />
têm conhecimentos teóricos e práticos, mas não têm conhecimentos metodológicos adequados<br />
à proposta.<br />
Isso demonstra a falta de organização estrutural do programa, pois não existem<br />
critérios bem definidos para a seleção e formação dos monitores, bem como a falta de<br />
organização física para o funcionamento dos grupos, além de outros aspectos como a<br />
desigualdade de pagamento dos monitores, divididos em categorias, em que os que ganham<br />
menos são aqueles que possuem a maior responsabilidade, como no caso dos monitores fixos.<br />
O trabalho socioeducativo desenvolvido pelos monitores, pelos dados coletados, segue<br />
a linha da escola tradicional de ensino, com cadeiras enfileiradas e quadro negro. Não foi ao<br />
acaso que alguns se denominaram de professores ou de educadores no sentido restrito do<br />
exercício da docência, na tentativa de colocar uma “ordem” através do uso da disciplina, pois<br />
para alguns monitores a “culpa” em não atingir os objetivos do Programa é da falta de<br />
“interesse” e “compromisso” da criança e do adolescente, por serem inquietos, como<br />
“argumenta” um monitor oficineiro ao afirmar que uma das principais dificuldades para<br />
desenvolver suas atividades na Jornada Ampliada, junto às crianças e adolescentes: O não<br />
conhecimento de como funciona a mente deles, e a falta de disciplina mínima (Monitor de 47<br />
anos, Ensino superior completo).<br />
Pode-se perceber que o PETI também é visto pelos pais como sendo “apenas um<br />
depósito de crianças”, confirmando a visão de uma parte dos monitores, que afirma que o<br />
PETI não oferece perspectiva de futuro para a população infanto-juvenil egressos do trabalho<br />
infantil. Daí questiona-se: como o monitor pode desenvolver um trabalho, que visa, ao<br />
desenvolvimento de crianças e adolescentes, se não consegue vislumbrar um futuro promissor<br />
para essa população? Tal postura torna-se contraditória com a política do Programa e reforça<br />
a idéia de que o PETI - assim como outros programas sociais do governo, destinado a crianças<br />
e adolescentes - visa mais à retirada das crianças das ruas, devido ao “incômodo” causado<br />
para a população, do que à sua formação pessoal. Afinal, de acordo com as diretrizes do