Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
J. A. Segurado e Campos<br />
cepticismo, salientando que a tendência natural do<br />
escravo submetido à tortura será tentar livrar-se <strong>de</strong>la o<br />
mais rápido possível dizendo aquilo que imagina ser o<br />
interesse dos inquiridores. É possível que na origem <strong>de</strong>ste<br />
procedimento esteja, historicamente, a antiga ordália,<br />
como escreveu G. Glotz nos seus Étu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 1906: “Pour<br />
la preuve, on se contenta, en règle générale, d’ un simple<br />
simulacre, puis d’ un symbole oral: le serment remplaça l’<br />
ordalie et la rappela toujours par la terrible imprécation<br />
dont il s’ accompagnait et qui n’ était qu’ une ordalie en<br />
paroles. Mais les personnes qui n’ étaient pas admises à<br />
jurer, les capite minores [= as pessoas sem direitos cívicos,<br />
nomeadamente os escravos], continuèrent d’ être soumises à<br />
l’ orddalie réelle: ce fut la torture inquisitoriale” (G. Glotz,<br />
Étu<strong>de</strong>s sociales et juridiques ...., 1906, p. 94). Claro que,<br />
com o tempo, o que fora um procedimento mágicoreligioso<br />
transformou-se num modus agendi jurídico:<br />
uma das partes <strong>de</strong>safiava a outra a ce<strong>de</strong>r os seus escravos<br />
para o interrogatório sob tortura, o que esta recusava; a<br />
recusa era <strong>de</strong>pois retoricamente (sobre o papel da retórica<br />
nesta questão v. D. C. Mirhady, “Torture and Rhetoric<br />
in Athens”, J.H.S., 116, 1996, pp. 119-131) usada pelo<br />
antagonista como comprovação da má consciência, da<br />
culpabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem recusava este soberbo meio <strong>de</strong><br />
prova. Que este <strong>de</strong>safio, esta próklêsis, não para um<br />
duelo como seria primitivamente, mas apenas para um<br />
interrogatório, se tornara numa técnica argumentativa,<br />
perdida já na mente dos oradores as suas origens remotas,<br />
mostra-o o facto <strong>de</strong>, embora em todos os processos civis<br />
<strong>de</strong> que restam os discursos escritos pelos oradores haja<br />
120<br />
Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor