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N.º 189 | Janeiro 2008 | Mensal | 2,00 euros - Inatel

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N.<strong>º</strong> <strong>189</strong> | <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> | <strong>Mensal</strong> | 2,<strong>00</strong> <strong>euros</strong>


NA CAPA<br />

Foto: José Frade<br />

9<br />

LINHARES DA BEIRA,<br />

NOVO INATEL NA SERRA<br />

Graça ao protocolo <strong>Inatel</strong>/ Câmara<br />

Municipal de Celorico da Beira, os<br />

associados do <strong>Inatel</strong> vão poder<br />

usufruir, já na Primavera, do Centro<br />

de Férias de Linhares da Beira, um<br />

novo e atractivo complexo turístico<br />

do Instituto na vertente nordeste da<br />

Serra da Estrela.<br />

4<br />

EDITORIAL<br />

8<br />

CARTAS E COLUNA<br />

DO PROVEDOR<br />

9<br />

NOTÍCIAS<br />

14<br />

Alegações de Defesa<br />

de Aristides Sousa<br />

Mendes por José<br />

Miguel Júdice<br />

16<br />

CONCURSO<br />

DE FOTOGRAFIA<br />

18<br />

ARTES E OFÍCIOS<br />

OLIMPÍADAS<br />

DO TRABALHO<br />

Sete jovens<br />

portugueses<br />

conquistaram<br />

Medalhas de Excelência<br />

no WorldSkills 2<strong>00</strong>7, o<br />

39<strong>º</strong> Campeonato<br />

Internacional das<br />

Profissões, em<br />

Shizuoka, Japão.<br />

30<br />

EFEMÉRIDE<br />

AS CORTES<br />

NO BRASIL<br />

Os 2<strong>00</strong> anos da<br />

transferência da Corte<br />

de Lisboa para o<br />

Brasil, no contexto<br />

histórico e político da<br />

invasão de Portugal<br />

pelos exércitos de<br />

Napoleão, serão tema<br />

nas edições <strong>2<strong>00</strong>8</strong> da TL<br />

34<br />

COMUNIDADES<br />

PORTUGUESAS<br />

O CLUBE DOS<br />

FOLCLORISTAS<br />

VIVOS<br />

Jovens das<br />

comunidades<br />

portuguesas<br />

asseguram o futuro<br />

do folclore português<br />

junto da emigração.<br />

36<br />

TERMAS<br />

EM PORTUGAL<br />

Monchique<br />

38<br />

OFÍCIOS<br />

Ulisses: a última<br />

Luvaria do Chiado<br />

40<br />

FAMÍLIA<br />

ESCA - Espaço para a<br />

Saúde da Criança e do<br />

Adolescente, um<br />

ginásio de afectos<br />

44<br />

VIAGENS<br />

MEDINA<br />

AZAHARA: A<br />

CIDADE DOS<br />

CALIFAS<br />

No tempo do califado<br />

de Córdova, a cidade<br />

Sumário<br />

mais sumptuosa do<br />

Al-Andaluz, na<br />

extremidade ocidental<br />

da serra Morena,<br />

chamava-se Medina<br />

Azahara.<br />

50<br />

A CASA NA ÁRVORE<br />

54<br />

PORTUGAL<br />

E A LUSOFONIA<br />

55<br />

O TEMPO<br />

E O MUNDO<br />

56<br />

VIAGENS<br />

NA HISTÓRIA<br />

57<br />

BOA VIDA<br />

74<br />

CLUBE TEMPO LIVRE<br />

Passatempos, Novos<br />

Livros e Roteiro<br />

81<br />

CHEFE SUGERE<br />

INATEL Fornos de<br />

Algodres: Sopa Seca<br />

82<br />

CRÓNICA<br />

Fernando Dacosta<br />

Revista <strong>Mensal</strong>: e-mail: tl@inatel.pt - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni Vice-<br />

Presidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 21<strong>00</strong>27<strong>00</strong>0 Fax 21<strong>00</strong>27061, N<strong>º</strong> Pessoa Colectiva:<br />

5<strong>00</strong>122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, Carlos Barbosa<br />

de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Lurdes<br />

Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro Cronistas: Alice<br />

Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Pedro<br />

Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 21<strong>00</strong>27<strong>00</strong>0 Fax: 21<strong>00</strong>27061 E-Mail tl@inatel.pt Publicidade: Tel. 21<strong>00</strong>27187 Pré-impressão e<br />

impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 2143454<strong>00</strong> Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade<br />

na D.G.C.S. n<strong>º</strong> 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. n<strong>º</strong> 214483. Preço: 2,<strong>00</strong> <strong>euros</strong> Tiragem deste número: 173.9<strong>00</strong> exemplares


Editorial<br />

4 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Plano e Orçamento para <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

aprovados por unanimidade<br />

OConselho Geral, na sessão de 5<br />

de Dezembro último, pelo segundo<br />

ano consecutivo, honrou-me<br />

e à Direcção, a que<br />

tenho a honra de presidir, com a aprovação,<br />

por unanimidade, do Plano de Actividades<br />

e Orçamentos de Exploração e de Investimento<br />

do <strong>Inatel</strong> para <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, os quais foram<br />

já submetidos à aprovação tutelar de S. Exa.<br />

o Ministro do Trabalho e da Solidariedade<br />

Social.<br />

PLANO E ORÇAMENTO <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

No contexto do combate ao deficit das contas do<br />

Estado, o último orçamento do <strong>Inatel</strong>, integrado na<br />

LOE – Lei do Orçamento de Estado – será idêntico, no<br />

plano nominal dos macrovalores, ao vigente para 2<strong>00</strong>7,<br />

bem como ambos iguais ao de 2<strong>00</strong>6.<br />

Nesta perspectiva , a receita e a despesa globais situar-se-ão<br />

nos 77 (setenta e sete) milhões de <strong>euros</strong> – 15,4<br />

milhões de contos – sendo de 69 (sessenta e nove) milhões<br />

de <strong>euros</strong> - 13,8 milhões de contos – o Orçamento<br />

de Exploração e de 8 milhões de <strong>euros</strong> – 1,6 milhões de<br />

contos – o Orçamento de Investimento. Na sequência<br />

do realizado em 2<strong>00</strong>6 e 2<strong>00</strong>7, acredito, para <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, numa<br />

taxa de execução do Orçamento de Investimento, de<br />

novo, próxima dos 1<strong>00</strong>%.<br />

No Orçamento de Exploração, a receita será, inevitavelmente,<br />

reduzida pela inflação estimada – 2,1% - e a<br />

despesa acusará a repercussão do aumento salarial,<br />

assim como da actualização dos preços dos fornecimentos<br />

e serviços externos, normalmente superior à inflação.<br />

É o orçamento possível numa LOE – Lei do<br />

Orçamento de Estado - apostada no controlo e redução<br />

do défice e na credibilização internacional das finanças<br />

públicas de Portugal.<br />

FUNDAÇÃO INATEL<br />

A LOE – Lei do Orçamento de Estado para <strong>2<strong>00</strong>8</strong> prevê,<br />

expressamente, a externalização do <strong>Inatel</strong> da<br />

Administração Central dispondo que: “Fica o Governo<br />

JOSÉ ALARCÃO<br />

TRONI<br />

autorizado a estabelecer, por decreto-lei, as<br />

regras de transferência do orçamento<br />

atribuído pela presente Lei ao Instituto<br />

Nacional para Aproveitamento dos Tempos<br />

Livres dos Trabalhadores, IP, para a fundação<br />

de direito privado e utilidade pública<br />

que lhe suceder”.<br />

Entretanto, na sequência dos trabalhos<br />

preparatórios do aludido decreto-lei de<br />

externalização e dos anexos estatutos da<br />

Fundação <strong>Inatel</strong>, que decorreram, ao longo<br />

de 2<strong>00</strong>7, com a colaboração da Direcção a que tenho a<br />

honra de presidir, o XVII Governo Constitucional,<br />

através de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da<br />

Solidariedade Social, desencadeou o respectivo processo<br />

legislativo, com audição das Confederações<br />

Sindicais.<br />

Pessoalmente, considero os projectos do decreto-lei,<br />

contendo o regime jurídico da externalização e os anexos<br />

estatutos da Fundação <strong>Inatel</strong>, com entrada em<br />

vigor, em princípio, previsto para o primeiro trimestre<br />

de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, como excelente base de trabalho na modernização<br />

e quase empresarialização do <strong>Inatel</strong>, com inteiro<br />

respeito pela cultura fundacional de setenta e dois anos<br />

e pela natureza desinteressada da missão, dos objectivos<br />

e do objecto estatutário do binómio FNAT-<strong>Inatel</strong>.<br />

PERÍODO DE TRANSIÇÃO<br />

No âmbito do Plano e Orçamentos para <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, o<br />

Conselho Geral aprovou a estratégia de transição do<br />

<strong>Inatel</strong>–instituto para o <strong>Inatel</strong>-fundação, constante de<br />

um programa de 1<strong>00</strong> (cem) dias, abrangendo 10 (dez)<br />

acções prioritárias.<br />

São estas as dez prioridades da Direcção para os<br />

primeiros cem dias de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>:<br />

1. Estatutos.<br />

Breves reflexões da Direcção sobre o projecto de<br />

diploma da criação da Fundação <strong>Inatel</strong>, submetendo à<br />

consideração de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da<br />

Solidariedade Social sugestões de pormenor, tendentes


à melhoria global do projecto de externalização, com as<br />

quais se considera encerrada a audição do <strong>Inatel</strong>. O<br />

memorando, contendo as reflexões e sugestões finais<br />

da Direcção, será entregue a S. Exa. o Ministro até 31 de<br />

Dezembro, data do termo da extremamente prestigiante<br />

Presidência da União Europeia por Portugal.<br />

2. Regulamentos.<br />

Elaboração, nos primeiros cem dias de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, dos principais<br />

regulamentos, decorrentes dos futuros estatutos<br />

da Fundação <strong>Inatel</strong>, com óbvio destaque para a<br />

Estrutura Orgânica, Regulamento e<br />

Quadro de Pessoal – prévio do<br />

Acordo de Empresa – e Manual do<br />

Cartão <strong>Inatel</strong>, abrangendo a política<br />

associativa e o guia de serviços e<br />

benefícios, na perspectiva do aprofundamento<br />

da ligação da Fundação<br />

aos seus 4.2<strong>00</strong> CCDs – Centros de<br />

Cultura e Desporto – em Portugal, na<br />

Diáspora a na Lusofonia – e ao mais<br />

de 1 (um) milhão de beneficiários e<br />

suas famílias; os beneficiários–associados<br />

– 250 mil – e os beneficiários- convencionados, os<br />

3<strong>00</strong> mil sócios dos CCDs e os 5<strong>00</strong> mil beneficiários de<br />

uma década de Programas Seniores.<br />

3. PDE – Plano de Desenvolvimento Estratégico.<br />

Submissão do ante-projecto do PDE – Plano de<br />

Desenvolvimento Estratégico da Fundação <strong>Inatel</strong> para o<br />

primeiro triénio (<strong>2<strong>00</strong>8</strong>/2011) e para o cenário quinquenal<br />

de vigência do QREN – Quadro de Referência<br />

Estratégico Nacional (<strong>2<strong>00</strong>8</strong>/2013) à apreciação de S. Exa.<br />

o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social e dos<br />

demais órgãos estatutários no primeiro trimestre do<br />

novo ano.<br />

4. Equilíbrio Orçamenta.<br />

Garantia da governabilidade, equilíbrio financeiro,<br />

auto sustentabilidade, projectos de inovação e desenvolvimento<br />

e administração corrente do <strong>Inatel</strong> no<br />

Considero os projectos<br />

do decreto-lei como<br />

excelente base de<br />

trabalho na<br />

modernização e quase<br />

empresarialização do<br />

<strong>Inatel</strong>, com inteiro<br />

respeito pela cultura<br />

fundacional<br />

período de transição, com especial destaque para a formação<br />

e motivação da comunidade de trabalho.<br />

5. Carteira de Obras<br />

Manutenção e aprofundamento da carteira de obras,<br />

em curso ou prevista, privilegiando-se a inauguração, em<br />

<strong>Janeiro</strong> ou Fevereiro, da Delegação de Viana do Castelo –<br />

Casa Pedro Homem de Mello – sediada em edifício classificado<br />

do centro histórico, completamente reabilitado,<br />

após 12 (doze) anos de ruína e de abandono, com reforço<br />

do prestígio e visibilidade do <strong>Inatel</strong> no distrito limiano e<br />

termo de mais de uma década de<br />

instalação provisória da Delegação em<br />

espaço cedido pela Segurança Social.<br />

A Delegação de Viana constituirá<br />

novo “ex-libris” do património edificado<br />

da Fundação <strong>Inatel</strong>.<br />

A Delegação de Portalegre – Casa<br />

José Régio – está, igualmente, reabilitada,<br />

em edifício classificado do centro<br />

histórico – cujo estado de<br />

degradação era deplorável – dotado<br />

de extenso “campos” e vista deslumbrante<br />

sobre a Serra de São Mamede. A sua inauguração<br />

encontra-se, também, prevista para <strong>Janeiro</strong> ou Fevereiro.<br />

Paralelamente, continuarão as obras de reabilitação<br />

das Subdelegações de Ponta Delgada e Horta – ambos<br />

edifícios classificados – e a conclusão das obras nas<br />

agências – ou lojas – do <strong>Inatel</strong> em Castelo Branco e<br />

Lisboa, a primeira no Rossio – nas Arcadas do Palácio<br />

da Independência, sede da SHIP – Sociedade Histórica<br />

da Independência de Portugal – e a segunda no Estádio<br />

Primeiro de Maio. Ficam as duas agencias de Lisboa<br />

dotadas de excelentes acessibilidades, designadamente<br />

estações de metropolitano, evitando-se aos associados<br />

e beneficiários seniores a penosidade da deslocação ao<br />

Palácio dos Condes de Camarido, sede do <strong>Inatel</strong>, na<br />

Calçada de Santana, desprovida de parques de estacionamento<br />

e de rede de transportes públicos.<br />

Continuarão, também, em Lisboa, as obras de reabilitação<br />

do Palácio dos Condes de Camarido e do<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 5


Editorial<br />

Editorial<br />

Edifício da Infante Santo, destinadas à instalação dos<br />

serviços centrais e da futura Delegação de Lisboa –<br />

Casa Tomaz Ribas – assim como as obras de grande<br />

recuperação do Centro de Férias da Foz do Arelho, do<br />

Edifício Principal do Centro de Férias de Albufeira ou<br />

do Parque de Jogos da Ramalde – cujo plano director<br />

acaba de ser aprovado pelo Município do Porto – este<br />

objecto de um programa plurianual de obras de reabilitação<br />

e expansão. Espero, por fim, que a cada vez<br />

mais urgente grande reabilitação do Teatro da Trindade<br />

– no âmbito da candidatura da Baixa-Chiado a<br />

património cultural edificado da UNESCO – se possa<br />

iniciar, em <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, com a pintura da fachada exterior e o<br />

indispensável reforço dos mecanismos de segurança<br />

do emblemático espaço cultural do <strong>Inatel</strong> em Lisboa.<br />

6. Inovação e Qualidade.<br />

Projectos de inovação e qualidade, com óbvio destaque<br />

para o Projecto <strong>Inatel</strong>-Digital – que está re-<br />

volucionando o arcaico sistema de<br />

organização informática, no desejável<br />

objectivo da “no paper administration”<br />

na Fundação <strong>Inatel</strong> e para o<br />

Projecto <strong>Inatel</strong>-Net para Todos, cofinanciado<br />

pela União Europeia,<br />

através do POSC – Programa<br />

Operacional para a Sociedade do<br />

Conhecimento – destinado à utilização<br />

da rede das delegações e centros<br />

de férias na ocupação criativa e diálogo<br />

intergeracional de seniores e<br />

crianças em idade pré-escolar, combatendo-se o analfabetismo<br />

e a info-exclusão. Saliento que o POSC considerou<br />

o Projecto <strong>Inatel</strong>-Net para Todos de grande<br />

qualidade e utilidade social, pelo que no seu êxito<br />

investiremos todo o nosso interesse e disponibilidade.<br />

Comunidade de Trabalho.<br />

O Programa <strong>Inatel</strong>-Digital desencadeará um extenso<br />

plano de formação e reciclagem da nossa comunidade<br />

de trabalho – em princípio, apoiado em nova parceria<br />

com o INA- Instituto Nacional de Administração – não<br />

esquecendo a formação específica dos colaboradores<br />

do Turismo, Cultura, Desporto e Teatro da Trindade,<br />

cujas entidades formadoras serão as Universidades,<br />

Politécnicos, Escolas Profissionais e Centros Protocolares<br />

de Turismo, Hotelaria e Restauração, bem como o<br />

Cinágua, este para as categorias profissionais do<br />

Termalismo.<br />

6 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Projectos de inovação<br />

e qualidade, com óbvio<br />

destaque para o<br />

Projecto <strong>Inatel</strong>-Digital<br />

– que está<br />

revolucionando o<br />

arcaico sistema de<br />

organização e<br />

informática<br />

7. Centro de Férias de Linhares da Beira.<br />

Está prevista, para 9 de <strong>Janeiro</strong>, no Município de<br />

Celorico da Beira, a assinatura do protocolo de transferência<br />

para o <strong>Inatel</strong> da gestão, a partir de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, da<br />

projectada Pousada da Enatur, na Aldeia Histórica de<br />

Linhares da Beira, a Pousada de Santa Eufémia, constituída<br />

por dois solares interligados – os Palacetes<br />

Brandão de Mello e Côrte Real – edifícios de grande<br />

qualidade arquitectónica, com vista deslumbrante<br />

sobre a Serra da Estrela e a Cova da Beira.<br />

O futuro décimo sexto centro de férias – Palacetes de<br />

Linhares – muito brevemente se transformará noutro<br />

ex-libris do <strong>Inatel</strong> e do Turismo Social Português, constituindo<br />

unidade turística e hoteleira topo de gama,<br />

com grande qualidade em qualquer parte do mundo.<br />

8. Polis de Albufeira.<br />

O <strong>Inatel</strong> continuará a defender – nos planos negocial,<br />

arbitral e jurisdicional – uma solução justa para a in-<br />

demnização do património imobiliário,<br />

expropriado ou intervencionado<br />

pelo Polis de Albufeira, não<br />

desistindo do direito de reabilitação<br />

do Edifício da Praia, do direito de<br />

propriedade e posse da Mata – com<br />

seu uso semi-público pela população<br />

e turistas – e da expansão da capacidade<br />

do Edifício Principal, dos edifícios<br />

periféricos e da área de construção<br />

autorizada na “Cabeça do<br />

Cão”.<br />

Como pessoa de bem, o <strong>Inatel</strong> reinvestirá no Centro<br />

de Férias de Albufeira o valor das compensações pelo<br />

património expropriado ou intervencionado, mas<br />

defenderá, em todas as instâncias, que a indemnização<br />

devida seja calculada de acordo com o preço de mercado,<br />

como é jurisprudência constante do Tribunal<br />

Constitucional.<br />

9. Parcerias e Intercâmbios.<br />

Encontram-se negociadas e em “pipeline” de<br />

aprovação e assinatura cerca de 50 (cinquenta) protocolos<br />

de cooperação com a Região Autónoma dos<br />

Açores, Municípios, Freguesias, Movimentos Sindical e<br />

Associativo, Serviços Públicos, CCDs, ONGs e empresas,<br />

tendentes à optimização dos benefícios do<br />

Cartão <strong>Inatel</strong> e à abertura da Fundação <strong>Inatel</strong> à<br />

sociedade civil em Portugal, na Diáspora e na<br />

Lusofonia.


O Plano e Orçamentos prevêem, ainda, a celebração<br />

de mais de 30 (trinta) novos protocolos de colaboração<br />

ou de intercâmbio, com entidades portuguesas ou<br />

estrangeiras, considerados estratégicos para a plena<br />

abertura da Fundação <strong>Inatel</strong> à sociedade civil portuguesa,<br />

às entidades homólogas estrangeiras e às<br />

organizações internacionais do Turismo, Cultura e<br />

Desporto, como instituição de referência da economia<br />

social de Portugal.<br />

10. Relações Internacionais<br />

O <strong>Inatel</strong> aprofundará o protagonismo nas organizações<br />

internacionais de que é membro – com a missão de<br />

valorizar o destino turístico Portugal e o prestígio e visibilidade<br />

externos da Nação Portuguesa – com destaque<br />

para a OMT – Organização Mundial do Turismo, BITS –<br />

Bureau Internacional do Turismo Social – cujos Conselho<br />

de Administração e CETS – Comissão Europeia<br />

do Turismo Social integra – CSIT – Confederation<br />

Sportive Internationale du Travail –<br />

de cujo Conselho de Administração<br />

faz parte, com o pelouro da<br />

Cooperação com África e Ásia – ISCA<br />

– International Sport and Culture<br />

Association – onde participa no<br />

Conselho Europeu – e CIOFF –<br />

Conselho Internacional das Organizações<br />

de Festivais de Folclore e<br />

Artes Tradicionais, da Unesco, presidindo<br />

ao CIOFF – Portugal.<br />

O meu Vice-presidente, Arq. Luís<br />

Lamas, foi convidado a apresentar<br />

candidatura à presidência da CSIT – Confederation<br />

Sportive Internationale du Travail. Eu próprio fui<br />

convidado a assumir, no âmbito do Conselho de<br />

Administração do BITS, a coordenação do lançamento<br />

do BITS – Ásia – Pacífico, bem como a apresentar a<br />

candidatura à vice-presidência da ESPA – European<br />

Spa Association parceiro social europeu das associações<br />

de termalismo de saúde e bem estar dos 27<br />

países da União Europeia. Destes convites foi informado<br />

o gabinete de S.Exa. o Ministro do Trabalho e<br />

da Solidariedade social, conquanto as candidaturas<br />

devam ser proteladas, atendendo, por um lado, ao<br />

período de transição para a Fundação <strong>Inatel</strong>, e, por<br />

outro, a que as eleições para orgãos de cúpula de<br />

organizações internacionais têm mais em conta as<br />

pessoas do que as instituiçãos ou até os países.<br />

O Programa Turismo<br />

para Todos/Açores<br />

constituirá<br />

importantíssimo<br />

instrumento da coesão<br />

social e territorial,<br />

inter-ilhas, de combate<br />

ao isolamento<br />

e à pobreza<br />

TURISMO PARA TODOS – AÇORES <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Por iniciativa de S. Exa. o Presidente do Governo<br />

Regional dos Açores, o Orçamento da Região<br />

Autónoma para <strong>2<strong>00</strong>8</strong> criou o Programa Turismo para<br />

Todos/ Açores, com gestão do <strong>Inatel</strong>, destinado a proporcionar<br />

férias, nas épocas baixa e média da hotelaria<br />

e restauração, a mil concidadãos açorianos carenciados,<br />

combatendo, também, o isolamento decorrente da<br />

dupla ou tripla insularidade.<br />

O Programa Turismo para Todos/Açores constituirá<br />

importantíssimo instrumento da coesão social<br />

e inter-ilhas, de combate ao isolamento e à pobreza e<br />

de desenvolvimento económico, ilhéu, empresarial e<br />

local. É, para o <strong>Inatel</strong>, uma honra haver merecido do<br />

Governo Regional dos Açores a confiança para este<br />

novo e estimulante desafio.<br />

Decorrem, também, negociações com o Governo<br />

Regional e os Municípios de Ponta Delgada, Angra do<br />

Heroísmo e Horta, no sentido da criação de centros de<br />

férias em S. Miguel, Terceira e Faial,<br />

assim como na Graciosa e nas Flores,<br />

ilha que a Unesco acaba de classificar<br />

como reserva natural de biodiversidade.<br />

UNIÃO EUROPEIA. PRESIDÊNCIA<br />

DE PORTUGAL.<br />

Portugal acaba de concluir, com a<br />

maior dignidade e sucesso, a sua terceira,<br />

e certamente última, Presidência<br />

da União Europeia.<br />

O Tratado de Lisboa, assinado, a 13<br />

de Dezembro, no Mosteiro dos Jerónimos, aprova a<br />

Constituição da Europa a 27, pondo termo ao impasse<br />

institucional resultante da rejeição - pela França e<br />

Holanda – do projectado Tratado Constitucional, de<br />

Valery Giscard d’Estaing.<br />

As Cimeiras da União Europeia com os denominados<br />

países BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China deram a<br />

Portugal e à Diplomacia Portuguesa grande e merecida<br />

visibilidade.<br />

Por fim, a Cimeira União Europeia – África revelou a<br />

multissecular capacidade de diálogo de Portugal com<br />

os países africanos, esperando-se que a referida<br />

Cimeira abra novo capítulo do envolvimento da<br />

Europa no desenvolvimento de África, com o desejável<br />

protagonismo de Portugal e da Nação Portuguesa.<br />

Bom Ano de <strong>2<strong>00</strong>8</strong> para a querida Família <strong>Inatel</strong>. ■<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 7


S. Pedro do Sul<br />

A correspondência para estas secções deve ser enviada para<br />

a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062<br />

Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt<br />

8 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Cartas<br />

É Outono!... Que beleza<br />

Sinto em S. Pedro do Sul<br />

Onde a Mãe-Natureza ufana toda de taful!<br />

O rio não corre…É um espelho<br />

ondeando levemente;<br />

nele se mira o tronco velho<br />

cheio de musgo aderente.<br />

E as árvores debruçadas<br />

num adeus de despedida<br />

lançam as folhas douradas<br />

que se animam na corrida.<br />

Tanto ouro derramado,<br />

tanta Paz, Tanta beleza<br />

eu sinto por todo o lado…<br />

Isto é o Céu, com certeza!<br />

Francisca Cruz, Portimão<br />

“Vulcão dos Capelinhos”<br />

Na revista “Tempo Livre” de Dezembro, no artigo assinado<br />

por Humberto Lopes intitulado “Vulcão dos Capelinhos”, a<br />

frase “colecção da viúva do faroleiro Tomás Pacheco”<br />

(pág.31) não corresponde à verdade. A frase correcta será:<br />

“colecção do faroleiro Tomás Pacheco, agora pertença de<br />

suas filhas”.<br />

Maria Noémia Pacheco da Rosa, Açores<br />

[ Kalidás Barreto ]<br />

COLUNA<br />

DO PROVEDOR<br />

Entramos no ano de <strong>2<strong>00</strong>8</strong> das grandes expectativas<br />

o que não é novidade num povo que<br />

vem vivendo de esperança num mundo melhor.<br />

A esperança no futuro não alimenta as barrigas<br />

do presente nem as glórias passadas,<br />

ainda que muitos nos orgulhem já pouco<br />

servem para a presente realidade, para além<br />

da experiência recolhida.<br />

A memória dos homens é curta - como é sabido<br />

e bem dizia drasticamente um amigo que de<br />

nada nos vale o passado bom se não continuamos<br />

no presente e desesperarmos com o<br />

futuro que vemos com pessimismo.<br />

Acho porém que vale a pena termos esperança<br />

desde que não cruzemos os braços. Parece, por<br />

isso, útil repetir que o esquema estatutário em<br />

que no INATEL acreditam os que como dirigentes,<br />

funcionários ou associados será brevemente<br />

implantado.<br />

A Fundação INATEL é um projecto que vale a<br />

pena e será aprovado brevemente; há que<br />

estarmos todos preparados para o tornar<br />

credível e funcional.<br />

A hora não é só dos que desejam fazer melhor,<br />

é dos que querem fazer melhor!■<br />

Tel: 21<strong>00</strong>27197 Fax: 21<strong>00</strong>27179<br />

e-mail: provedor@inatel.pt


Notícias<br />

Linhares da Beira<br />

Novo <strong>Inatel</strong> na Serra<br />

● Com o protocolo definitivo, a<br />

rubricar no próximo dia 9 de<br />

<strong>Janeiro</strong>, entre o <strong>Inatel</strong> e a Câmara<br />

Municipal de Celorico da Beira,<br />

prevê-se a abertura, na Primavera,<br />

do Centro de Férias de Linhares da<br />

Beira, um novo e atractivo<br />

complexo turístico do Instituto na<br />

vertente nordeste da Serra da<br />

Estrela, constituído pelos Solar<br />

Brandão de Melo e Solar Corte Real.<br />

O acordo, assinado por José Alarcão<br />

Troni e José Francisco Gomes<br />

Monteiro, presidente da câmara<br />

municipal de Celorico da Beira,<br />

envolve a cooperação do Instituto e<br />

da Autarquia no aproveitamento<br />

das vastas potencialidades<br />

paisagísticas, turísticas e culturais<br />

do concelho beirão.<br />

Aldeia milenar, fundada pelos<br />

nórdicos Túrdulos em 580 antes de<br />

Cristo, Linhares da Beira integrou a<br />

importante rede medieval de<br />

fortalezas defensivas na luta contra<br />

as ambições de Castela.<br />

Reconquistada aos árabes por D.<br />

Afonso Henriques, que lhe atribuiu<br />

foral em 1169, a histórica aldeia<br />

serrana conserva significativos<br />

vestígios e monumentos de<br />

sucessivas épocas, desde a Idade<br />

do Ferro até ao século XIX, com<br />

destaque para o Castelo<br />

(construído sobre as ruínas de um<br />

antigo castro pré-romano), o<br />

Fórum Romano, a Igreja da<br />

Misericórdia (período românico), a<br />

Casa Manuelina e os Solares Corte-<br />

Real e Pina d'Aragão (barrocos) e<br />

Brandão de Melo (neo-clássico).<br />

Palco do mais importante festival<br />

de parapente do País, promovido<br />

pelo <strong>Inatel</strong>, Linhares da Beira, tem<br />

uma população reduzida, menos<br />

de 4<strong>00</strong> habitantes, que vive da<br />

pastorícia e de uma agricultura de<br />

subsistência. O futuro avizinha-se,<br />

porém, mais risonho, como espaço<br />

privilegiado de lazer e turismo,<br />

graças ao projecto das Aldeias<br />

Históricas, de recuperação e<br />

desenvolvimento do património,<br />

de que o novo protocolo, assinado<br />

com o Instituto, é exemplo<br />

marcante.<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 9


Notícias<br />

Trindade festejou 140 anos<br />

● Os 140 anos do Trindade ao<br />

serviço da Cultura foram<br />

assinalados em Novembro último<br />

com o descerramento, no Salão<br />

Nobre do Teatro, de uma lápide<br />

comemorativa pelo Secretário de<br />

Estado do Emprego e Formação<br />

Profissional, Pedro Medina.<br />

A anteceder a cerimónia, teve lugar,<br />

na Sala Principal, um concerto pela<br />

Orquestra do Algarve, sob a<br />

direcção do maestro Cesário Costa<br />

e com a participação da soprano<br />

Ana Quintas e do tenor Mário<br />

Alves, que interpretaram alguns<br />

dos mais conhecidos temas de<br />

Mozart, Rossini e Donizetti.<br />

Teatro e Ópera<br />

● Ainda no âmbito do 140<strong>º</strong> aniversário do Trindade, teve<br />

lugar no Salão Nobre, uma sessão comemorativa,<br />

presidida pelo Secretário de Estado da Cultura, Mário<br />

Vieira de Carvalho, com a participação de Duarte Ivo<br />

Cruz e Serra Formigal que evocaram as grandes figuras e<br />

espectáculos de Teatro e Ópera no centenário palco do TT.<br />

Investigador de reconhecido mérito na área da<br />

musicologia, e designadamente da história da ópera em<br />

Portugal, Mário Vieira de Carvalho sublinhou a<br />

importância do Trindade, desde a sua inauguração, em<br />

1967, no panorama cultural de Lisboa como “espaço<br />

importante no desenvolvimento da ópera e do teatro”.<br />

Lembrou, a propósito, as referências literárias ao<br />

Trindade, caso entre outros, do romance de Eça de<br />

Queiroz, onde um dos episódios chave ocorre durante<br />

a representação da opereta “Barba Azul”, de Offenbach.<br />

Vieira de Carvalho acentuou, ainda, que foi pela<br />

qualidade da música e dos actores que este teatro<br />

conseguiu gerar um público que dava sustentabilidade ao<br />

teatro e, por outro lado, gerar um espaço onde os cantores<br />

portugueses se podiam profissionalizar. “Para um cantor é<br />

importante tratar o palco por tu e isso só se consegue com<br />

a experiência”, disse, para acrescentar que, actualmente,<br />

em matéria de politica europeia, há a preocupação de<br />

“optimizar as politicas culturais através da cooperação,<br />

10 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

diálogo e interacção, acelerando e intensificando os<br />

artistas no espaço europeu e apoiando os jovens artistas”.<br />

Serra Formigal falou da importância da antiga<br />

Companhia Portuguesa de Ópera, de que foi director<br />

(1963-1975), sedeada no TT, no panorama nacional,<br />

assumindo-se como um teatro popular, criado para o<br />

povo, e propiciando o contacto com os grandes<br />

intérpretes líticos ou revelando outros, como Elsa e<br />

Zuleika Saque.<br />

Do Teatro falou Duarte Ivo Cruz, com pormenorizadas<br />

referências às grandes estreias e representações cénicas<br />

no Trindade, sem esquecer os seus mais destacados<br />

intérpretes, casos, entre muitos, de Palmira Bastos,<br />

Amélia Rey Colaço, Eunice Munoz, Rui Mendes e<br />

Cármen Dolores.<br />

A sessão terminou com um momento musical com a<br />

cantora lírica Elsa Saque, acompanha ao piano por<br />

Nuno Vieira de Almeida.


Novos Livros<br />

● Os 140 anos do Trindade foram<br />

igualmente assinalados com o<br />

lançamento das obras “A Ópera do<br />

Trindade - O papel da Companhia<br />

Portuguesa de Ópera na “politica<br />

social” do Estado Novo”, de Nuno<br />

Domingos (editado pela Lua de<br />

Papel, com o apoio do <strong>Inatel</strong>, da<br />

FCT - Fundação para a Ciência e<br />

Tecnologia e INET – Instituto de<br />

Etnomusicologia da<br />

Universidade Nova<br />

de Lisboa) e o<br />

“Manual de<br />

Produção Cultural:<br />

algumas reflexões<br />

sobre o tema”, de<br />

Conceição Mendes,<br />

edição <strong>Inatel</strong>.<br />

Alarcão Troni<br />

destacou o significado histórico e<br />

cultural do importante trabalho de<br />

Nuno Domingos, facto igualmente<br />

sublinhado por Rui Vieira Nery<br />

que considerou tratar-se de uma<br />

obra “ marcante no contexto da<br />

historia da vida musical portuguesa<br />

da segunda metade do século<br />

passado”, em que a Companhia<br />

Portuguesa de Ópera teve um<br />

papel importante na criação de<br />

alternativas culturais ao Teatro S.<br />

Carlos.<br />

O “ Manual de Produção Cultural”<br />

foi apresentado por Carlos Cabral,<br />

actor e professor da Escola Superior<br />

de Teatro e Cinema, que salientou<br />

estarmos perante uma obra<br />

“original e plurifacetada” sobre<br />

produção cultural a nível nacional.<br />

A obra aborda o papel do produtor<br />

cultural na sociedade portuguesa e<br />

a forma como este exerce as suas<br />

funções com outros profissionais<br />

da cultura e organiza e concretiza<br />

um projecto cultural ou uma<br />

produção teatral.<br />

Protocolo <strong>Inatel</strong>/Typet<br />

dá férias na Grécia<br />

● Aprofundar o mútuo<br />

conhecimento da vida social e<br />

património cultural de Portugal e<br />

da Grécia é o objectivo do<br />

protocolo assinado entre o <strong>Inatel</strong> e<br />

a Typet (associação mutualista do<br />

Banco Nacional da Grécia). O<br />

acordo assinala a importância dos<br />

períodos de lazer e férias como<br />

oportunidade de intercâmbio<br />

turístico entre as respectivas<br />

organizações e assegura a<br />

disponibilidade (excepto nos<br />

meses de Julho e Agosto), dos<br />

Centros de Férias de Oeiras e de<br />

Santa Maria da Feira, em Portugal,<br />

e de Rapsani Dionyssos, na<br />

Grécia, para o intercâmbio<br />

turístico entre os associados do<br />

<strong>Inatel</strong> e da Typet.<br />

Conselho Geral - O último Conselho Geral do <strong>Inatel</strong> enquanto Instituto<br />

público aprovou, por unanimidade, o Plano de Actividades e Orçamento para<br />

<strong>2<strong>00</strong>8</strong>, no passado dia 5 de Dezembro último.<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 11


Notícias<br />

XII Encontro Nacional de Concertina<br />

● Com a presença de tocadores de<br />

várias centenas de tocadores e<br />

cantadores de sete distritos, num<br />

total de 35 concelhos, realizou-se<br />

Homenagem a Torga<br />

O Salão Teatro do <strong>Inatel</strong>, em<br />

Coimbra, esteve repleto, no final de<br />

Novembro, para o espectáculo de<br />

homenagem a Miguel Torga. João<br />

Fernandes, Delegado do <strong>Inatel</strong>,<br />

lembrou, no início, que na origem<br />

desta homenagem esteve, para<br />

além da sua relação pessoal de<br />

amizade com Torga, o facto de o<br />

escritor ter presenteado o Instituto<br />

com a edição do livro “Coimbra<br />

Vista Por Miguel Torga”, quando se<br />

sabia ser ele o próprio editor de<br />

toda a sua obra literária.<br />

Coube a Teresa Ferreira a<br />

apresentação do espectáculo e da<br />

12 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

em Valença, nos dias 16, 17 e 18 de<br />

Novembro, o XII Encontro<br />

Nacional de Concertina e<br />

Cantadores ao Desafio.<br />

Os Encontros têm visitado,<br />

anualmente, uma sede de<br />

concelho: Viana do Castelo (1996),<br />

Ponte da Barca (1997), Monção<br />

(1998, 2<strong>00</strong>4, 2<strong>00</strong>5), Vila Nova de<br />

Cerveira (1999), Paredes de Coura<br />

(2<strong>00</strong>0), Melgaço (2<strong>00</strong>1), Viana do<br />

Castelo (2<strong>00</strong>2), Caminha (2<strong>00</strong>3) e<br />

Ponte de Lima (2<strong>00</strong>6).<br />

obra de Miguel Torga e a Augusto<br />

França a narração e declamação<br />

dos textos e poemas do escritor.<br />

A parte musical, composta por<br />

canções inéditas dos irmãos Álvaro<br />

e Eduardo Aroso, coube ao grupo<br />

coimbrão, “Quarteto”, e ao Coral<br />

Poliphonico de Coimbra.<br />

A Sociedade<br />

Filarmónica de<br />

Cabanas de Viriato<br />

actuou no último dia<br />

da representação da<br />

peça “A desobediência”,<br />

em Novembro,<br />

no Teatro da<br />

Trindade.<br />

Novos CCD’s em Leiria<br />

● A Delegação <strong>Inatel</strong> em Leiria<br />

assinalou seu 63<strong>º</strong> Aniversário no<br />

passado dia 8 de Dezembro no<br />

Restaurante “O Braz” na vila de<br />

Alvaiázere, com a entrega de nove<br />

certificados a CCD’s (Centros de<br />

Cultura e Desporto). Foram ainda<br />

distinguidas as quatro entidades<br />

culturais e desportivas que mais<br />

destacaram na região em 2<strong>00</strong>7.<br />

A finalizar a cerimónia, teve lugar<br />

um apontamento cultural com o<br />

Rancho Folclórico dos Pussos e três<br />

fadistas amadores da região<br />

“A Fuga Real”<br />

● Na sede do Museu Nacional da<br />

Imprensa, no Porto, está patente, até<br />

6 de Junho, a exposição documental<br />

“A Fuga Real por um triz”, composta<br />

por dezenas de publicações,<br />

nomeadamente jornais e livros,<br />

sobre as Invasões Francesas, com<br />

especial destaque para a saída da<br />

Corte de D. João VI para o Brasil,<br />

em Novembro de 1807. “A Gazeta<br />

de Lisboa”, “Minerva Lusitana” e o<br />

“Novo Diário de Lisboa” são alguns<br />

dos jornais editados na época, com<br />

relatos sobre as invasões francesas e<br />

a retirada da Corte, que integram a<br />

mostra. Vários números d’ “O<br />

investigador Português em<br />

Inglaterra ou Jornal Literário<br />

Político”, de 1816, do “Semanário de<br />

Instrução e Recreio” de 1812 e da<br />

“Gazeta do Rocio”, de 1809, também<br />

figuram na exposição.


Concursos <strong>Inatel</strong><br />

Grupo da Bemposta: o Melhor CCD 2<strong>00</strong>7<br />

O Teatro da Trindade foi palco da<br />

cerimónia de entrega dos prémios<br />

do Concurso de Teatro, Artes,<br />

Vídeo e “Melhor CCD <strong>Inatel</strong>” de<br />

2<strong>00</strong>7, em Dezembro último, uma<br />

iniciativa do Departamento<br />

Cultural do Instituto.<br />

O Prémio Melhor CCD <strong>Inatel</strong> 2<strong>00</strong>7<br />

foi atribuído ao Grupo Musical e<br />

Recreativo da Bemposta. Fundado<br />

há 40 anos, este dinâmico e<br />

prestigiado grupo etnográfico do<br />

concelho de Loures, tem obtido<br />

importantes galardões, dentro e<br />

fora do País..<br />

Na categoria de Teatro - Novos Textos,<br />

Natal Sénior na Caparica<br />

Cerca novecentos associados seniores, oriundos de<br />

todo o país, participaram numa animada e divertida<br />

festa de Natal, em Dezembro último, no <strong>Inatel</strong> “Um<br />

lugar ao Sol”, na Costa de Caparica.<br />

os vencedores foram: “7(sete)”, de A.<br />

Branco (Grande Prémio de Teatro), “O<br />

Rei de Cristal”, de César Magalhães<br />

(Prémio Miguel Rovisco 2<strong>00</strong>7), e<br />

“Barcos de Fósforos”, de António<br />

Joaquim Silva (Menção Honrosa).<br />

No concurso Artes, José Granja foi o<br />

vencedor em Pintura, João Paulo<br />

Gonçalves em escultura<br />

(“Homenagem a Magrit”) e Paulo<br />

Perre Viana em Instalação (“Mundo<br />

Cão”).<br />

Os premiados na categoria Vídeo<br />

foram:Nelson Tondela<br />

(“Dominicu”), Rui Sobral (“Martina<br />

– Um Olhar sobre Lisboa”), e Filipa<br />

Lopes Bravo (Tema Livre) e “N<strong>º</strong> 30<br />

Rua das Madres”.<br />

Espanha condecora Lima de Carvalho<br />

Lima de Carvalho, director da Galeria de Arte do<br />

Casino Estoril, foi distinguido, em Dezembro último,<br />

com a Comenda da Ordem de Mérito Civil de Espanha<br />

pelo seu relevante papel no âmbito das relações<br />

culturais entre os dois Estados ibéricos. Assistiram à<br />

cerimónia,<br />

numerosos<br />

amigos de Lima<br />

de Carvalho,<br />

nomeadamente<br />

artistas e<br />

jornalistas da<br />

Imprensa<br />

estrangeira em<br />

Portugal.<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 13


Alegações de defesa de<br />

Aristides Sousa Mendes<br />

(Processo intentado pelas<br />

Autoridades Portuguesas por<br />

presumidos delitos que são<br />

enumerados no Anexo 1)<br />

Teatro da Trindade<br />

Lisboa, 2 de Outubro de 2<strong>00</strong>7<br />

JOSÉ MIGUEL JÚDICE<br />

Advogado<br />

1. Cumprimento o Tribunal. Apesar<br />

das minhas legítimas dúvidas de<br />

que tenha coragem de se guiar<br />

apenas pela sua convicção, apesar<br />

da pressão do Poder Político, espero<br />

que seja capaz de decidir com<br />

liberdade.<br />

2. A Independência do Poder<br />

Judicial é o elemento mais<br />

importante do Estado de Direito.<br />

Não quero deixar de acreditar que<br />

isso seja viável.<br />

3. Este processo é paradigmático e<br />

servirá para definir o grau em que<br />

podemos falar na existência da<br />

“Rule of Law” em Portugal.<br />

4. Cumprimento o Réu. Estas<br />

alegações irão falar muito dele.<br />

5. Por isso neste momento basta<br />

dizer que ser Advogado tem o<br />

significado etimológico de ser<br />

chamado em auxílio.<br />

6. Quanto mais difícil é a causa<br />

mais necessário é o mandato. Sem<br />

uma Advocacia livre e corajosa<br />

também não pode haver Estado de<br />

Direito. Ser escolhido para defender<br />

esta causa é uma honra, que<br />

agradeço.<br />

7. Cumprimento os Cidadãos<br />

presentes. Desde os Romanos que a<br />

14 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Justiça é feita em nome do Povo e o<br />

controlo da Opinião Pública sobre<br />

os decisores é outra peça essencial<br />

da Fábrica do Estado de Direito.<br />

8. Estar aqui é um acto de coragem.<br />

Mas não há Liberdade sem<br />

Cidadãos e não há Cidadania sem<br />

riscos. Para mim, Vós representais<br />

os Portugueses - os que desde o<br />

Século XII, sempre que foi preciso,<br />

tomaram o seu destino nas suas<br />

mãos.<br />

9. Quero declarar solenemente que<br />

aceito todos os factos em que a<br />

Acusação pretende basear o pedido<br />

de condenação do meu Cliente.<br />

10. É certo que alguns aspectos se<br />

não passaram exactamente como o<br />

dizem; que outras pessoas para<br />

além de Aristides e pelas mesmas<br />

razões deviam ser Réus e<br />

terminaram testemunhas de<br />

acusação; é certo que seria possível<br />

e fácil descobrir causas<br />

justificativas, atenuantes, até<br />

invocar que Aristides tivera falta de<br />

coragem para recusar apoiar os que<br />

pediam ajuda, como alguns<br />

sugeriram como linha de defesa.<br />

Mas, como veremos, tudo isso é<br />

secundário.<br />

11. Aristides Sousa Mendes<br />

desobedeceu.<br />

12. Infringiu as normas legais e<br />

regulamentares em vigor,<br />

desrespeitou as circulares e as<br />

instruções, actuou sem respeitar as<br />

praxes e as tradições da carreira<br />

diplomática.<br />

13. Fê-lo, em plena consciência e<br />

com total conhecimento.<br />

14. Aristides Sousa Mendes é um<br />

conservador, um defensor do<br />

respeito das regras administrativas,<br />

um Monárquico tradicionalista.<br />

15. Para ele a Ordem deve ser<br />

mantida e as Instituições devem ser<br />

respeitadas. Não é um<br />

Revolucionário. Não é um<br />

adversário do Regime a que<br />

chamam “Estado Novo”.<br />

16. Aristides Sousa Mendes conhece<br />

a História e a Política Internacional.<br />

Sabe que a neutralidade num<br />

conflito armado europeu é muito<br />

difícil de manter.<br />

17. Sabe que a generalidade dos<br />

Países que estavam contra o Eixo<br />

não facilitavam a entrada de<br />

emigrantes que fugiam de<br />

perseguições políticas.<br />

18. Sabe que a “realpolitik” é a<br />

ideologia das pequenas potências<br />

nas relações internacionais.<br />

19. Não desconhece que Franco<br />

deve a Hitler e Mussolini parte<br />

determinante da sua vitória.<br />

20. Sabe que se a Guerra alastrar à<br />

Península Ibérica, Portugal será<br />

palco de combates decisivos e<br />

terríveis, como fora no tempo de<br />

Napoleão.<br />

21. O meu Cliente não tem, por<br />

tudo isto, nenhumas atenuantes,<br />

nenhuma justificação para pedir<br />

compreensão, nenhuma explicação<br />

ideológica para as suas acções.<br />

Aristides Sousa Mendes é um<br />

Homem normal, que nada fizera<br />

antes em toda a sua vida que<br />

justificasse um pendor para os


iscos, para a ousadia, para o<br />

heroísmo.<br />

22. Aristides Sousa Mendes actuou<br />

no cumprimento de um dever mais<br />

forte do que a sua maneira de estar<br />

no Mundo, a sua adesão às regras<br />

da carreira diplomática, a sua<br />

ideologia, o seu passado.<br />

23. V. Exas, Srs Juizes,<br />

provavelmente irão ficar chocados:<br />

Aristides tinha o dever histórico de<br />

desobedecer. Não lhe ouvirão<br />

apesar disso uma palavra a pedir<br />

desculpa ou clemência. Resignado e<br />

com serenidade, aceitaria que o<br />

condenassem neste Tribunal.<br />

24. Este dever de desobedecer<br />

radica em que a Justiça é superior à<br />

Lei, os Direitos do Homem são<br />

superiores aos do Estado, a<br />

Salvação de Homens é superior às<br />

conveniências político-ideológicas e<br />

aos equilíbrios geopolíticos.<br />

25. Naqueles dias, em Bordéus,<br />

estava em jogo a Humanidade.<br />

Milhares de pessoas indefesas<br />

pediam auxílio. Queriam apenas<br />

fugir dos horrores da guerra e do<br />

que o “Mein Kampf lhes anunciava.<br />

Não eram terroristas, não eram<br />

guerreiros, não queriam impor<br />

nenhuma ideologia. Queriam<br />

apenas sobreviver.<br />

26. Todos os que tinham o dever de<br />

os ajudar faltaram à chamada. O<br />

Estado francês, que tinha a<br />

obrigação histórica de ser capaz de<br />

aplicar a Declaração Universal dos<br />

Direitos do Homem, mas tremia de<br />

medo. As Democracias Ocidentais,<br />

que queriam conter a barbárie, mas<br />

temiam a destabilização social que<br />

muitos milhares de emigrantes<br />

causariam provavelmente. A Igreja<br />

Católica, que era hostil ao racismo e<br />

ao anti-semitismo, mas achava que<br />

tinha de manter a sua prudência<br />

secular. A União Soviética, farol da<br />

esquerda europeia do tempo, mas<br />

que se preparava para assinar um<br />

Pacto de Não Agressão com Hitler.<br />

27. Naqueles dias em Bordéus<br />

alguém tinha de defender a<br />

Civilização contra a Barbárie, os<br />

Direitos Humanos contra a<br />

Opressão. Alguém tinha de ter<br />

coragem. Alguém tinha de ser a<br />

Humanidade.<br />

28. V. Exas não podem absolver<br />

Aristides Sousa Mendes. Ele<br />

infringiu as regras e os<br />

regulamentos, ele desobedeceu aos<br />

poderes instituídos. Ele não actuou<br />

como ao longo dos séculos o<br />

determinaram as praxes e os<br />

costumes diplomáticos.<br />

29. Mas V. Exas também não podem<br />

condenar Aristides Sousa Mendes.<br />

V. Exas não têm competência para<br />

julgar o meu Cliente. V. Exas não<br />

estavam em Bordéus naqueles dias.<br />

V. Exas não podem imaginar o que<br />

estavam a sofrer os que imploravam<br />

vistos para sair de França. V. Exas<br />

não podem perceber que nas mãos<br />

do meu Cliente estavam as decisões<br />

para salvar ou perder a<br />

Humanidade. V. Exas só conhecem<br />

o conforto dos vossos gabinetes,<br />

estão rodeados pêlos vossos Filhos,<br />

vivem habitualmente e sem<br />

tragédia o vosso dia a dia, sentemse<br />

protegidos das tragédias<br />

históricas.<br />

30. Mas V. Exas são Juizes<br />

experientes e sabem apreciar os<br />

factos que foram provados.<br />

Aristides Sousa Mendes com a sua<br />

acção, num dos momentos mais<br />

horríveis da História da Civilização,<br />

manteve acesa a Luz que Picasso<br />

pintou de forma definitiva naquele<br />

que é sem dúvida o seu melhor<br />

quadro, porque o que melhor<br />

exprime a tragédia do seu tempo.<br />

Aristides foi, nesses dias, a própria<br />

Humanidade.<br />

31. V. Exas devem, por isso,<br />

concordar que ele deve ser aceite na<br />

restrita galeria dos Heróis da<br />

Humanidade. E de o fazer<br />

declarando que os factos provados<br />

permitem concluir que o heroísmo<br />

está ao alcance de todos, desde que<br />

saibamos encarar em cada<br />

momento os deveres mais básicos e<br />

mais essenciais de cada Homem:<br />

Tudo fazer para espalhar a<br />

Liberdade. Proteger os mais<br />

desfavorecidos. Enfrentar com<br />

coragem os opressores.<br />

Muito obrigado ■<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 15


[ 1 ] Fernando<br />

Gomes, Lisboa<br />

Sócio n.<strong>º</strong> 657<br />

[ 2 ] Conde Falcão,<br />

Lisboa<br />

Sócio n.<strong>º</strong> 1299<strong>00</strong><br />

[ 3 ] José Esteves,<br />

Olival de Basto<br />

Sócio n.<strong>º</strong> 89785<br />

[ a ] Carlos Aniceto,<br />

Azambuja<br />

Sócio n.<strong>º</strong> 199105<br />

[ b ] Alfredo Oliveira,<br />

Quarteira<br />

Sócio n.<strong>º</strong> 448066<br />

[ c ] Fernando<br />

Máximo, Avis<br />

Sócio n.<strong>º</strong> 435473<br />

Menções Honrosas<br />

[ 1 ]<br />

[ a ] [ b ] [ c ]


[2]<br />

[3]<br />

REGULAMENTO<br />

1. Concurso Nacional de Fotografia da<br />

revista Tempo Livre. Periodicidade<br />

mensal. Podem participar todos os<br />

sócios do <strong>Inatel</strong>, excluindo os seus funcionários<br />

e os elementos da redacção e<br />

colaboradores da revista Tempo Livre.<br />

2. Enviar as fotos para: Revista Tempo<br />

Livre - Concurso de Fotografia, Calçada<br />

de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.<br />

3. A data limite para a recepção dos trabalhos<br />

é o dia 10 de cada mês.<br />

4. O tema é livre e cada concorrente<br />

pode enviar, mensalmente, um máximo<br />

de 3 fotografias de formato mínimo de<br />

10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em<br />

papel, cor ou preto e branco, sem qualquer<br />

suporte.<br />

5. Não são aceites diapositivos e as<br />

fotos concorrentes não serão devolvidas.<br />

6. O concurso é limitado aos sócios do<br />

<strong>Inatel</strong>. Todas as fotos devem ser assinaladas<br />

no verso com o nome do autor,<br />

direcção, telefone e número de associado<br />

do <strong>Inatel</strong>.<br />

7. A Tempo Livre publicará, em cada<br />

mês, as seis melhores fotos (três premiadas<br />

e três menções honrosas), seleccionadas<br />

entre as enviadas no prazo<br />

previsto.<br />

8. Não serão seleccionadas, no mesmo<br />

ano, as fotos de um concorrente premiado<br />

nesse ano<br />

9. Prémios: cada uma das três fotos<br />

seleccionadas terá como prémio um fim<br />

de semana (duas noites) para duas pessoas<br />

num dos Centros de Férias do<br />

<strong>Inatel</strong>, durante a época baixa, em<br />

regime APA (alojamento e pequeno<br />

almoço). O premiado(a) deve contactar<br />

a redacção da «TL»<br />

10. Grande Prémio Anual: uma viagem<br />

a escolher na Brochura <strong>Inatel</strong> Turismo<br />

Social até ao montante de 1750 Euros. A<br />

este prémio, a publicar na revista<br />

Tempo Livre de Setembro de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, concorrem<br />

todas as fotos premiadas e publicadas<br />

nos meses em que decorre o<br />

concurso.<br />

11. O júri será composto por dois<br />

responsáveis da revista Tempo Livre e<br />

por um fotógrafo de reconhecido<br />

prestígio.


ARTES E OFÍCIOS<br />

WorldSkills<br />

Jovens portugueses brilham n<br />

Sete jovens portugueses conquistam Medalhas de Excelência no WorldSkills


2<strong>00</strong>7<br />

o campeonato das profissões<br />

2<strong>00</strong>7, o 39<strong>º</strong> Campeonato Internacional das Profissões, em Shizuoka, Japão.


ARTES E OFÍCIOS<br />

CONHECIDO por Olimpíadas do<br />

Trabalho, este torneio bienal, um<br />

dos mais importantes certames<br />

internacionais vocacionado para<br />

jovens trabalhadores entre os 17 e<br />

22 anos, envolveu, na edição 2<strong>00</strong>7,<br />

realizada no Japão, 850 participantes<br />

de 46 países de todos os continentes<br />

num total de 47 profissões.<br />

Os dezasseis jovens portugueses,<br />

representativos de igual número de<br />

profissões, apurados num torneio<br />

promovido pelo IEFP (Instituto do<br />

Emprego e Formação Profissional),<br />

membro da WorldSkills, conquistaram<br />

sete medalhas de Excelência em<br />

Joalharia, Carpintaria de Limpos,<br />

Electromecânica de Frio, Electricidade<br />

de Instalações, Desenho Indústrial<br />

CAD, Polimecânica da Madeira<br />

e Soldadura, ou seja, uma<br />

notável e meritória prestação, que<br />

pouco eco teve na generalidade dos<br />

media nacionais.<br />

DESAFIO ALÉM FRONTEIRAS<br />

O nível da prestação dos jovens<br />

portugueses pode aferir-se pela circunstância<br />

de estarem em prova os<br />

melhores jovens de cinco continentes.<br />

A perfeição e rapidez na<br />

execução dos trabalhos era determinante<br />

para o resultado da competição<br />

o que, em boa medida,<br />

explica o facto de a Coreia e o país<br />

anfitrião terem conquistado o<br />

maior número de medalhas.<br />

Certo é que os nossos jovens,<br />

apesar dos escassos apoios empresariais<br />

obtidos, demonstraram<br />

invulgar capacidade face aos seus<br />

mais directos competidores.<br />

Filipa Oliveira, medalha de<br />

Excelência em Joalharia, adorou a<br />

experiência, fez muitos amigos estrangeiros,<br />

sobretudo na sua profissão,<br />

e sobre o torneio considerou<br />

que “ali o tempo passa muito<br />

depressa e os nervos por vezes atra-<br />

20 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

António Caldeira, responsável no IEFP pelo Campeonato das Profissões, Luís Reis,<br />

Campo Aventura Olho de Marinho e Joaquim Fidalgo, Comunicação IEFP


António Nabais no outdoor Olho de Marinho<br />

palham, mas seria ainda pior se não<br />

fosse a preparação dada pelo IEFP”.<br />

Opinião partilhada, igualmente,<br />

pelo beirão António Nabais,<br />

Excelência em Electromecânica de<br />

Frio, que viu esta oportunidade<br />

como uma bênção não só pela possibilidade<br />

de viajar até ao Japão como<br />

pelo convívio que jamais esquecerá.<br />

Filipa Oliveira aguarda, agora, a<br />

chamada para um estágio em<br />

Joalharia “a WoldSkills promove<br />

também estágios e eu inscrevi-me<br />

para Inglaterra”, revelou. António<br />

Nabais, a trabalhar numa pequena<br />

empresa da Covilhã, sublinhou-nos<br />

o apoio da entidade patronal nas<br />

muitas ausências que teve de fazer<br />

para se preparar para a competição<br />

e espera continuar a dedicar-se à<br />

profissão em que se sente realizado.<br />

“QUALIDADE E CRIATIVIDADE”<br />

As Olimpíadas do Trabalho são<br />

encontros que fomentam a competição<br />

saudável entre jovens da<br />

mesma área profissional e visam,<br />

sobretudo, “reconhecimento das<br />

WORLDSKILLS 2<strong>00</strong>7<br />

Medalhas de Excelência<br />

● Luís Alexandre (Açores) -<br />

Carpintaria de Limpos da Esc.<br />

Profissional das Capelas;<br />

● António Nabais (Atalaia do<br />

Campo) - Electromecânica de<br />

Frio do Centro de Formação<br />

Prof.de Castelo Branco;<br />

● José Correia (Madeira) -<br />

Electricidade de Instalações da<br />

Cafistal;<br />

● Antónia Marlene Moreira<br />

(Paredes) - Desenho Industrial<br />

CAD Cenfim/Porto;<br />

● Filipa Oliveira (Vila Verde) -<br />

Joalharia do Centro de Formação<br />

Prof. da Ind. Ourivesaria e<br />

Relojoaria;<br />

● Énio Garanito (Funchal) -<br />

Polimecânica da Madeira;<br />

● João Teixeira (Fronteira) -<br />

Soldadura da Empresa<br />

Solisform;<br />

Outras participações<br />

● Joana Monteiro (Póvoa da<br />

Galega) - Cabeleireiro;<br />

● José Freitas (Feitosa) -<br />

Canalizações;<br />

● Humberto Carvalho (Torres<br />

Vedras) - Electromecânica<br />

Industrial;<br />

● Tânia Morais, (Lagoa, Açores)<br />

- Esteticismo;<br />

● Bruno Monteiro (Vialonga) -<br />

Fresagem CNC;<br />

● Fábio Branco (Caldas da<br />

Rainha) - Marcenaria;<br />

● João Raimundo (Portalegre) -<br />

Serralharia Mecânica;<br />

● Fábio Frias (Capelas, Açores) -<br />

Serviço de Mesa e Bar;<br />

● Tiago Pacheco (Ponta<br />

Delgada, Açores) - Tecnologia<br />

da Informação.<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 21


ARTES E OFÍCIOS<br />

vias profissionalizantes como alternativas<br />

de sucesso para a inserção<br />

na vida activa” e o “aperfeiçoamento<br />

de métodos e técnicas de organização<br />

e execução através do desenvolvimento<br />

dos valores da qualidade,<br />

da criatividade, da autonomia<br />

e do trabalho em equipa”.<br />

Trata-se da maior competição<br />

internacional na área da qualificação<br />

profissional para jovens com<br />

idades entre os 17 e os 22 anos. A<br />

ideia surgiu em Espanha com o<br />

campeonato de metalomecânica de<br />

1947. A primeira edição “olímpica”<br />

teve lugar, três anos depois, também<br />

em Espanha, em Madrid, já<br />

com a participação de Portugal.<br />

O sucesso da iniciativa cresceu,<br />

com a adesão dos grandes países<br />

europeus, e, ainda na década de 50,<br />

é criada a WordSkills (International<br />

Vocational Training Organisation),<br />

com sede em Amesterdão, actualmente<br />

com 48 países/membros.<br />

Em Portugal, o IEFP é o responsável<br />

pela organização e promoção<br />

dos campeonatos nacionais, selecciona<br />

e prepara os concorrentes<br />

para a competição internacional que<br />

se realiza em anos impares em países<br />

membros da WorldSkills, como<br />

aconteceu recentemente no Japão. A<br />

40ª edição das também designadas<br />

Olimpíadas do Trabalho, terá como<br />

palco Calgary, no Canadá, em 2<strong>00</strong>9.<br />

Londres acolherá a edição de 2011.<br />

SELECÇÃO E PREPARAÇÃO<br />

DOS JOVENS<br />

A competência profissional adquirida<br />

pelos jovens por via da experiência<br />

em empresas ou da formação em<br />

escolas e centro de formação profissional<br />

é avaliada por técnicos especializados,<br />

numa primeira fase, em<br />

campeonatos regionais que decorrem<br />

nas cinco áreas das Delegações<br />

Regionais do IEFP (Norte, Centro,<br />

22 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Filipa Oliveira na Competição no Japão<br />

Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e<br />

Algarve e nas Regiões Autónomas da<br />

Madeira e Açores). É preciso fazer<br />

bem e rápido, salienta António<br />

Caldeira, responsável no IEFP pelo<br />

desenvolvimento do Campeonato<br />

das Profissões. Só os jovens que revelem<br />

maior competência e rapidez<br />

na execução dos trabalhos nas diferentes<br />

áreas, desde a metalomecânica,<br />

electricidade, carpintaria, joalharia,<br />

cabeleireiro e outras, passam<br />

à fase nacional onde apenas um por<br />

profissão vence e adquire passaporte<br />

para a representação internacional.<br />

Mas, se seleccionar os concorrentes<br />

obedece a critérios rigorosos, a<br />

preparação para as Olimpíadas implica<br />

reforçar laços entre os concorrentes.<br />

“É necessário incutir nos<br />

jovens ferramentas capazes de os ajudar<br />

a lidar com o stress”, revela o dirigente<br />

do IEFP, adiantando que, para<br />

tanto, “há que fortalecer o espírito de<br />

equipa, estabelecendo laços de afecto<br />

fortes para no caso de existirem<br />

descompensações a nível emocional<br />

durante as provas serem capazes de a<br />

superar com o apoio da equipa”.<br />

Assim, e no âmbito da preparação<br />

para o torneio no Japão, o IEFP<br />

organizou um Outdoor no Campo<br />

de Aventura de Olho Marinho,<br />

para intensificar o espírito de<br />

equipa e ajudar os jovens a gerir as<br />

situações de stress. O campo de<br />

aventura utilizou técnicas como os<br />

low rops (actividades efectuadas ao<br />

nível do solo e que exploram a<br />

interacção do grupo) e outras<br />

essenciais à boa liderança e união<br />

do grupo, de que são exemplo o<br />

jogo da Teia, a Transferência, a Bola<br />

Cega e o Mikado gigante. ■<br />

Glória Lambelho


TERRA NOSSA<br />

Leiria<br />

de Eça ao Polis<br />

Os leirienses começaram a fazer passeios a pé, e de bicicleta<br />

também, na sua própria cidade. Isso acontece desde que o<br />

rio Lis, num percurso que vai de uma ponta à outra da<br />

cidade, viu as suas margens transformadas numa via para<br />

caminhantes e ciclistas.<br />

ESTA É UMA obra Polis, um programa<br />

de intervenção urbana que<br />

irradiou em várias direcções. Por<br />

exemplo, o antigo Rossio, uma<br />

vasta zona central hoje partilhada<br />

pelo Jardim Luís de Camões, Largo<br />

5 de Outubro e Largo Paulo VI foi<br />

redesenhado, donde resultou uma<br />

nova estética e principalmente mais<br />

espaço destinado às pessoas. Outra<br />

obra emblemática deste renovar<br />

urbano foi a recuperação do antigo<br />

Moinho de Papel. Não é um moinho<br />

qualquer, este. Gonçalo Lourenço<br />

de Gomide teve permissão de<br />

Dom João I, em 1411 para instalar<br />

“engenhos de fazer ferro, serrar<br />

madeira, pisar burel e fazer papel<br />

ou outras algumas coisas que se<br />

façam com o artifício da água (…)<br />

contando que não sejam moinhos<br />

de pão (…)”. Passados quase 6<strong>00</strong><br />

anos o moinho ainda existe e não<br />

há notícia de outro mais antigo em<br />

Portugal que tivesse manufactura-<br />

24 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

do papel. O restauro, que recebe<br />

agora os últimos retoques, coube ao<br />

atelier de Siza Vieira, com o objectivo<br />

não só de recuperar vetustos<br />

equipamentos, mas principalmente<br />

guardar a memória de um espaço<br />

tão emblemático para a cidade e<br />

para o país.<br />

Mas o pioneirismo da cidade<br />

nesta matéria vai mais longe. Leiria<br />

disputa com Faro, Chaves e Lisboa<br />

a localização da primeira tipografia<br />

do país. Há uma Travessa da<br />

Tipografia, na antiga judiaria, onde<br />

um painel de azulejos reproduz<br />

uma frase retirada “Da Famosa Arte<br />

da Imprimição”, de Américo Cortês<br />

Pinto, que defende que foi Leiria o<br />

primeiro lugar em Portugal onde a<br />

revolucionária invenção de Gutemberg<br />

foi usada. O argumento mais<br />

importante na defesa da tese leiriense<br />

provém de uma informação<br />

do académico Pedro Afonso Vasconcelos,<br />

que, em 1590, diz que o<br />

grande matemático e cosmógrafo<br />

Pedro Nunes afirmara que “Leiria<br />

fora a primeira cidade de toda a<br />

Hespanha que tivera impressão de<br />

forma ou caracteres metálicos”.<br />

LEIRIA DE EÇA<br />

A Travessa da Tipografia tem outro<br />

motivo de interesse: a casa onde<br />

viveu Eça de Queiroz, o número 13,<br />

assinalada com uma lápide. Para os<br />

menos conhecedores do percurso<br />

do genial autor, esclarece-se que<br />

Eça foi administrador do concelho<br />

de Leiria de Julho de 1870 a Junho


TERRA NOSSA<br />

Campos de ténis<br />

do ano seguinte e durante esse ano<br />

terá usado o tempo mais para escrever<br />

do que no exercício das funções<br />

que lhe estavam confiadas. Podemos<br />

seguir o seu percurso assim<br />

como das personagens de “O Crime<br />

do Padre Amaro”, obra que como é<br />

sabido tem o seu eixo na Leira de<br />

Oitocentos.<br />

Depois da Travessa da Tipografia<br />

o melhor é ir até à Praça e em Leiria<br />

quando se menciona a Praça, já se<br />

sabe, essa é a Praça Rodrigues Lobo,<br />

o poeta, recordado numa expressiva<br />

estátua de bronze colocada<br />

numa das extremidades da Praça. A<br />

26 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

razão de tal distinção vem da sua<br />

antiguidade e de, ao mesmo tempo,<br />

funcionar como verdadeiro centro<br />

cívico acolhendo, hoje como no<br />

passado, as mais grandiosas celebrações<br />

ou os simples encontros do<br />

dia-a-dia, o que para muito contribuem<br />

os seus cafés, acolhedores e<br />

cheios de estilo.<br />

Um dos lados da Praça é preenchido<br />

pelo edifício do Ateneu, e<br />

aqui voltamos à companhia de Eça.<br />

Quando o escritor chegou à cidade<br />

domiciliava a Assembleia Leiriense,<br />

espaço de convívio da sociedade<br />

local, que logo acolheu o novo<br />

administrador do concelho. Mas<br />

evocar a presença de Eça em Leiria<br />

obriga a contar um episódio. Para<br />

isso vamos até outra praça citadina,<br />

o Largo Cândido dos Reis, ou<br />

Terreiro, um rectângulo em forma<br />

de cunha delimitado por casarões<br />

apalaçados. O número 18 era habitado<br />

pelo Barão do Salgueiro e aí<br />

no Carnaval de 1871, num baile de<br />

máscaras onde participava a elite<br />

da cidade e onde o escritor se apresentou<br />

disfarçado de Cupido, chegando<br />

o momento das quadrilhas<br />

entrou na dança e, habilidosamente,<br />

retirou-se com uma dama para


Percurso Polis e casa de Eça de Queiroz<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 27


um compartimento vazio, só que a<br />

manobra acabou mal, pois o par foi<br />

surpreendido, e Eça desancado e<br />

posto na rua. Mais tarde, exporá o<br />

caso dizendo: “O que chocou aquela<br />

boa gente do tempo de Dom<br />

Diniz não foram os excessos da<br />

autoridade administrativa … Foi o<br />

trajo tirolês! Se me encontrassem<br />

aos abraços à senhora vestido de<br />

cónego da Sé, todos teriam achado<br />

muita graça!”<br />

Pois, a Sé. Eça, é sabido, deu-lhe<br />

grande relevo em o “O Crime do<br />

Padre Amaro” e foi muito claro<br />

quando afirmou que tinha “cantarias<br />

pesadas e jesuíticas”. Ou seja:<br />

é um edifício austero, a que não é<br />

alheio ter sido seu arquitecto<br />

Afonso Álvares, especialista em<br />

obras militares. Para lá chegarmos<br />

tomamos a rua Varão de Viamonte,<br />

ou melhor, a Rua Direita, como por<br />

todos é conhecida, apesar de já ter<br />

mudado de nome há mais de um<br />

século. Artéria comprida e delgada<br />

percorre toda a Baixa e embora<br />

tenha perdido a relevância e prestígio<br />

de outros tempos, a rua resiste e<br />

renova-se. A par de um comércio<br />

de feição mais tradicional, parado<br />

no tempo, outro lhe faz companhia:<br />

inovador, por vezes arrojado. Arrumadas<br />

nos rés-do-chãos das casas<br />

antigas, uma fiada de lojas transpiram<br />

novidade. São a nova alma da<br />

antiga Rua Direita. Vamos dar uma<br />

vista de olhos a algum desse comércio.<br />

O número 43 domicilia o Cardamomo,<br />

restaurante, o qual, como o<br />

nome sugere, nos remete para sabores<br />

da Ásia, o número 25 está ocupado<br />

pela Garagem, uma loja de<br />

roupa de vanguarda, se assim<br />

podemos dizer, e na extremidade<br />

norte fica o Grão de Café que comer-<br />

GUIA<br />

Pontes no rio Lis<br />

Página da esquerda: vista da Sé<br />

INFORMAÇÕES:<br />

Região de Turismo Leiria-Fátima,<br />

Jardim Luís de Camões,<br />

Tel.: 244 848 770<br />

www.rt-leiriafatima.pt<br />

DORMIR:<br />

● Hotel Eurosol Leiria,<br />

Rua Dom José Alves Correia da<br />

Silva, Tel: 244 849 849<br />

● Hotel Dom João III, Avenida<br />

Dom João III, Tel: 244 817 888<br />

COMER:<br />

● Tromba Rija, Rua Professor<br />

Portelas, 22, Marrazes – Leiria, Tel:<br />

244 852 277<br />

● Cardamomo, Rua Varão de<br />

Viamonte, 43, Tel: 244 832 033<br />

TERRA NOSSA<br />

cializa produtos variados, segundo<br />

o espírito do “comércio justo”.<br />

Vai terminar este roteiro no castelo.<br />

Para lá chegar temos de subir, subir<br />

sempre, até ao cimo do plinto de<br />

rocha onde assenta. Passa-se a Porta<br />

do Sol, de seguida a igreja de São<br />

Pedro, o único exemplar de arquitectura<br />

românica em Leiria, e ainda as<br />

obras da futura casa do Mimo, Museu<br />

da Imagem Em Movimento -<br />

instalado provisoriamente no Centro<br />

Cultural Mercado de Santana e onde<br />

está exposto um rico espólio nos<br />

domínios da fotografia e cinema -, e,<br />

mais uns passos, e chegamos. Parece<br />

certo que D. Afonso Henriques, no<br />

seu avanço para Sul, encontrou uma<br />

atalaia muçulmana que depois de<br />

conquistar entregou a Paio Guterres,<br />

primeiro alcaide de Leiria. Mas o que<br />

vemos hoje não tem nada a ver com<br />

essa austera fortaleza do século XII.<br />

Na última década do século XIX o<br />

castelo estava uma ruína. Até que um<br />

suíço, recém-chegado, meteu mãos à<br />

obra. Ernesto Korrodi, arquitecto,<br />

professor, arqueólogo amador, dedicou<br />

largos anos da sua vida ao castelo:<br />

estudou-o, desenhou-o, fotografou-o,<br />

idealizou-o e reconstruiu-o.<br />

O grande encanto deste castelo<br />

reside, acima de tudo, na sua loggia<br />

onde se aliam a “esbelteza gótica da<br />

ogiva, a força do suporte românico<br />

e o doadoiro árabe da alpendurada”.<br />

Aqui facilmente se evoca a<br />

figura de D. Diniz, as cantigas de<br />

amor e de amigo, o passado cortesão<br />

deste espaço. Aqui entrelaçam-se<br />

a harmonia e encanto da<br />

própria construção com a vista que<br />

este balcão debruçado sobre a cidade<br />

oferece. Como final de passeio é<br />

perfeito. ■<br />

José Luís Jorge [texto e fotos]<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 29


EFEMÉRIDE<br />

A Corte no Brasil<br />

Antecedentes históricos, consequências políticas<br />

Assinalamos, ao longo de <strong>2<strong>00</strong>8</strong>, os 2<strong>00</strong> anos da transferência<br />

da Corte de Lisboa para o Brasil, no contexto histórico e político<br />

da invasão de Portugal pelos exércitos de Napoleão.<br />

NÃO SE TRATOU, é hoje ponto<br />

assente na moderna historiografia,<br />

de uma mera e apressada fuga ao<br />

invasor, mas antes de uma opção<br />

táctica e política, de que resultou a<br />

salvaguarda da soberania e da legitimidade<br />

política e jurídica de Portugal,<br />

como era entendida na<br />

época, mas também, a definição da<br />

unidade do Estado brasileiro, a elevação<br />

da ex-colónia à dignidade de<br />

Reino Unido, e ainda a fundamentação<br />

e o desenvolvimento, económico<br />

cultural e a afirmação política,<br />

com uma diplomacia e uma<br />

estratégia interna, regional e internacional<br />

próprias.<br />

Ao longo de 11 artigos de diversos<br />

autores, vamos celebrar e recordar<br />

esta grande aventura, nas suas<br />

causas e consequências multidisciplinares.<br />

Mas há que ter bem presente<br />

a própria trajectória histórica<br />

do Brasil, antes da chegada do<br />

então Príncipe Regente D. João, da<br />

Rainha D. Maria II, da família real,<br />

do governo, e de milhares de nobres,<br />

padres, militares, funcionários<br />

superiores, que fizeram a travessia<br />

acidentada do Atlântico, e que<br />

trouxeram móveis, quadros, livros,<br />

30 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

poucos países<br />

e poucas culturas<br />

poderão<br />

gabar-se de ter<br />

simultaneamente<br />

dado origem<br />

a uma História<br />

e a uma Literatura<br />

nacionais<br />

estes na origem da portentosa Biblioteca<br />

Nacional brasileira – mas<br />

que, sobretudo, trouxeram a capacidade<br />

de juntamente com as populações<br />

e autoridades locais, concretizar<br />

a ideia e a viabilidade de<br />

um grande país soberano. Nesse<br />

aspecto, aliás, certas correntes da<br />

moderna historiografia brasileira<br />

consideram 1815, data de criação do<br />

Reino Unidos de Portugal, Brasil e<br />

Algarves, como o momento histórico<br />

da independência do Brasil.<br />

NO INÍCIO, UMA CARTA<br />

Ora bem: poucos países e poucas<br />

culturas poderão gabar-se de ter<br />

simultaneamente dado origem a<br />

uma História e a uma Literatura<br />

nacionais. E isto porque a Carta de<br />

Pêro Vaz de Caminha, escrivão da<br />

Armada de Pedro Álvares Cabral,<br />

endereçada a D. Manuel I e datada<br />

de 1 de Maio de 15<strong>00</strong>, dando noticia<br />

do “achamento” do que é o Brasil,<br />

constitui, na objectividade rigorosa<br />

e minuciosa da narrativa, uma<br />

extraordinária obra literária, na beleza<br />

da prosa. E mais: um impressionante<br />

documento do espírito<br />

renascentista, na medida em que


abarca, nas suas descrições e considerações,<br />

a geografia, a antropologia,<br />

a fauna e a flora, a potencialidade<br />

económica, os usos e costumes,<br />

a moral e a religião, numa<br />

visão extremamente aberta no seu<br />

humanismo, compreensiva dos factos,<br />

dialéctica na comparação com<br />

as realidades europeias científica no<br />

rigor da descrição, sobretudo profética<br />

na certeza da potencialidade<br />

das novas terras descobertas: “a<br />

terra em si é de muito bons ares (...)<br />

águas são muitas infindas. E de tal<br />

maneira é graciosa, que, querendoa<br />

aproveitar, dar-se á nela tudo”... e<br />

agora, até o petróleo, coisa que Pero<br />

Vaz de Caminha não podia compreender<br />

nem adivinhar!<br />

O que mais impressiona, entretanto,<br />

é o espírito humanista com que<br />

se descrevem as populações: a dignidade<br />

que transparece nessa abordagem,<br />

a curiosidade e o respeito<br />

pela diferença e até o sentido de<br />

humor que não raro aflora: mostraram<br />

lhes um carneiro: não fizeram<br />

caso dele. Mostraram-lhe uma galinha:<br />

quas tiveram medo dela e não<br />

lhe queriam pôr a mão e depois a<br />

tomaram como espantados” (...)<br />

Não se tratou,<br />

é hoje ponto assente<br />

na moderna<br />

historiografia,<br />

de uma mera<br />

e apressada fuga<br />

ao invasor, mas antes<br />

de uma opção táctica<br />

e política,<br />

Acenava para terra e novamente as<br />

contas e para o colar do capitão,<br />

com que dariam ouro por aquilo.<br />

Isto tomavamos assim por o desejarmos”...<br />

o que não ocorreu, ou ocorreria,<br />

bem longe dali, em Minas<br />

Gerais, dois séculos passados!<br />

A CULTURA E O ESPÍRITO<br />

MISSIONÁRIO<br />

E são frequentes as descrições da<br />

abordagem cultural, tanto dos índios<br />

– “levantaram-se muitos deles<br />

e tangeram corno ou buzina e<br />

começaram a saltar e a dançar” –<br />

como dos portugueses: “Diogo Dias<br />

(...) que é homem gracioso e de prazer,<br />

e levou consigo um gaiteiro<br />

nosso com a sua gaita e meteu-se<br />

com eles a dançar tomando-os<br />

pelas mãos, e eles folgavam e riam e<br />

andavam com ele muito bem ao<br />

som da gaita (...) e além do rio<br />

andavam muitos deles dançando e<br />

folgando uns diante dos outros”<br />

A nudez de homens e (sobretudo)<br />

de mulheres, as pinturas ao<br />

longo do corpo “tinto de pintura<br />

vermelha”, a inocência e naturalidade<br />

com que se exibiam, impressiona<br />

este escrivão que não hesita<br />

em comunicar ao Rei, com pormenores<br />

e certa ironia decorrente<br />

da situação as descrições anatómicas<br />

e antropológicas do que viu.<br />

Mas o tom é respeitoso e antecede<br />

em mais de 2<strong>00</strong> anos o “bom selvagem”<br />

rousseauneano: “parecemme<br />

gente de tal inocência que se<br />

homem os entendesse e eles a nós,<br />

seriam logo cristãos porque eles<br />

não têm nem entendem em nenhuma<br />

crença, segundo parece”. Aliás,<br />

o sentido religioso é dominante: e<br />

para lá da descrição das missas,<br />

consagradas no belíssimo quadro<br />

de Pedro Alexandrino, fica o recado<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 31


EFEMÉRIDE<br />

final ao Rei: “o melhor fruto que<br />

(desta terra) se pode tirar me parece<br />

que será salvar esta gente. E esta<br />

deve ser a principal semente que<br />

Vossa Alteza nela deve lançar”.<br />

A DIALÉCTICA E O ESPÍRITO<br />

RENASCENTISTA<br />

Esta é, com efeito, a chave doutrinária<br />

da Carta, bem coerente com a linha<br />

programática de toda a doutrina da<br />

Expansão (“a fé e o império”). A<br />

descrição das missas e dos actos religiosos<br />

é extremamente relevante. E<br />

mais: “se alguém vier, não deixe logo<br />

de vir clérigo para os baptizar”.<br />

E o outro aspecto mais relevante,<br />

repetimos, será o espírito científico<br />

próprio do Renascimento, que induz<br />

o universalismo da curiosidade<br />

e dos conhecimentos, e a dialéctica<br />

da comparação. As “almadias<br />

(...) não são feitas como as que eu já<br />

vi: sómente são três traves atadas<br />

juntas; (...) um muito grande camarão<br />

muito grosso, que em nenhum<br />

tempo o vi tamanho; (...) as casas<br />

“tão compridas cada uma como<br />

esta nau capitania. Eram de madira<br />

e das ilhargas de tábuas e cobertas<br />

de palha, de razoada altura: e todas<br />

de um só espaço, sem nenhum re-<br />

32 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

A descrição<br />

das missas e dos<br />

actos religiosos<br />

é extremamente<br />

relevante. E mais:<br />

“se alguém vier,<br />

não deixe logo de vir<br />

clérigo para<br />

os baptizar”<br />

partimento, tinham dentro muitos<br />

esteios e de esteio a esteio uma rede<br />

atada em cada esteio, altas em que<br />

dormiam. Debaixo, para se aquentarem,<br />

faziam seus fogos. E tinha<br />

cada casa duas portas pequenas<br />

uma em um cabo e outra no outro.<br />

Diziam que em cada casa se recolhiam<br />

trinta ou quarenta pessoas”.<br />

E o que comiam? “Daquela vianda<br />

que tinham, a saber muito<br />

inhame, e outras sementes que na<br />

terra há, que eles comem”. A dieta<br />

europeia não lhes agradaria “Deram-lhe<br />

ali de comer pão e pescado<br />

cozido, confeitos, farteis de mel e<br />

figos passados. Não quizeram comer<br />

daquilo quase nada, e alguma<br />

coisa se a provavam, lançavam-na<br />

logo fora. Trouxeram-lhes vinho<br />

numa taça; mal lhe puzeram a boca<br />

e não gostaram dele nada, nem o<br />

quizeram mais. Trouxeram-lhes<br />

água em uma albarrada, tomaram<br />

cada um o seu bocado e não beberam,<br />

somente lavaram as bocas e<br />

lançaram logo fora”...<br />

DA DESCRIÇÃO CRONOLÓGICA<br />

AO PEDIDO FINAL<br />

Esta Carta constitui um documento<br />

histórico, literário, científico, religioso,<br />

cultural e humanista que serve<br />

de” preparação” ao espírito que<br />

Camões sublimaria em “Os Lusíadas”,<br />

72 anos depois. A descrição é<br />

feita rigorosamente dia a dia, com o<br />

escrúpulo do escrivão da Armada,<br />

de 22 de Abril a 1 de Maio de 15<strong>00</strong>.<br />

É o início do Renascimento português<br />

em todo o seu esplendor.<br />

E para reforçar o espírito nacional,<br />

a Carta de Pêro Vaz de Caminha<br />

ao Rei D. Manuel sobre o<br />

achamento do Brasil termina com<br />

um pedido, ou uma “cunha”:<br />

“E pois que, Senhor, é certo que<br />

assim neste cargo que levo como em<br />

qualquer outra coisa que de Vosso<br />

serviço for, Vossa Alteza há-de ser<br />

de mim muito bem servida a Ela<br />

peço que por fazer singular mercê,<br />

mande vir da Ilha de São Tomé a<br />

Jorge de Osório, meu genro, o que<br />

d’Ela receberei em muita mercê.<br />

Beijo as mãos de Vossa Alteza”. O<br />

genro estava degredado! ■<br />

Duarte Ivo Cruz


COMUNIDADES PORTUGUESAS<br />

O PRIMEIRO clube de folcloristas<br />

das comunidades emigrantes foi<br />

criado informalmente em França,<br />

em 2<strong>00</strong>3, por um grupo de jovens<br />

“apaixonados por folclore” que<br />

adoptaram como lema a frase de<br />

Charles Chaplin que aponta a persistência<br />

como o caminho do êxito e<br />

assumiram como prioritária a<br />

reflexão sobre a qualidade da representação<br />

do folclore português nas<br />

comunidades.<br />

Oficializado um ano depois, o<br />

movimento alastrou ao Brasil, Venezuela,<br />

Argentina, Suíça, Bélgica,<br />

Luxemburgo, Canadá, Alemanha e<br />

Estados Unidos e deu origem a<br />

fóruns virtuais onde mais de 7<strong>00</strong><br />

elementos discutem “em francês e<br />

em espanhol” a melhor forma de<br />

assegurar o futuro do folclore português<br />

junto da emigração.<br />

Adérito Caldeira, presidente do<br />

Clube de Jovens Folcloristas das<br />

Comunidades Portuguesas de França,<br />

explica os números da adesão ao<br />

movimento folclorista com o título<br />

da canção de Zeca Afonso “Traz um<br />

amigo também”.<br />

34 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

MOVIMENTO LANÇADO EM FRANÇA JÁ CHEGA<br />

A UMA DEZENA DE COMUNIDADES EMIGRANTES<br />

Clube dos folcloristas vivos<br />

São jovens, nasceram no estrangeiro e muitos nem sequer falam<br />

português, mas a causa do folclore juntou-os num movimento que<br />

teve o seu embrião há quatro anos nos bancos de um café parisiense.<br />

Hoje, está organizado em 10 clubes espalhados por todo mundo onde<br />

7<strong>00</strong> membros lutam diariamente para preservar fielmente<br />

o folclore português.<br />

“Uma família portuguesa entrou<br />

há bastante tempo num grupo folclórico<br />

português emigrante e os<br />

filhos, por amizade escolar, vão convidando<br />

colegas de turma... que<br />

acabam por gostar e integrar o agrupamento”,<br />

diz o responsável, lembrando<br />

que “a identificação com a<br />

nação lusa leva muitos jovens, além<br />

do futebol, a identificarem-se com a<br />

promoção de tradições portuguesas<br />

em países de acolhimento”.<br />

CONSTRUIR A MEMÓRIA<br />

DE PORTUGAL<br />

Ainda que continuem a existir muitos<br />

jovens luso-descendentes que<br />

vivem as actividades da comunidade<br />

através dos pais, a vergonha<br />

de outras gerações em relação às<br />

coisas portuguesas deu hoje lugar<br />

ao orgulho nas origens, acredita<br />

Adérito Caldeira.<br />

“Temos que compreender e defender<br />

o nosso património, a nossa<br />

identidade, até porque o desenvolvimento<br />

só coabita com uma população<br />

culturalmente evoluída, o que<br />

não pode acontecer no desconheci-<br />

mento das raízes que nos definem,<br />

no ignorar das memórias do povo<br />

que somos”, defende.<br />

Para Adérito Caldeira, é inquestionável<br />

que “um povo sem memória<br />

não existe”, por isso “há que preservar,<br />

investigando, reconstituindo<br />

essa memória patrimonial e divulgar<br />

as nossas tradições, e tornálas<br />

prioritárias”.<br />

Os mandamentos do movimento,<br />

que se insere nas políticas da<br />

UNESCO de salvaguarda do património<br />

imaterial, assumem assim<br />

como principal compromisso a<br />

divulgação fiel da etnografia e do<br />

folclore português, promovendo a<br />

reflexão sobre a qualidade da representação<br />

do folclore junto da emigração<br />

e ajudando os grupos folclóricos<br />

na defesa da correcta etnografia<br />

folclórica portuguesa.<br />

A criação de um fundo documental<br />

e audiovisual sobre o folclore<br />

regional de Portugal é outro dos<br />

objectivos do movimento, que<br />

desde a sua fundação tem promovido<br />

acções de formação para jovens<br />

responsáveis e directores técnicos


Grupo de jovens fundadores do Clube de Folcloristas das Comunidades Portuguesas<br />

de grupos folclóricos portugueses<br />

no estrangeiro.<br />

“Valorizar este património nacional<br />

para que seja reconhecido mundialmente,<br />

divulgar esta riqueza<br />

cultural e combater o uso pejorativo<br />

do ou da palavra “folclore” pelos<br />

políticos que acabam por insultar<br />

cerca de 2<strong>00</strong> mil dos seus eleitores<br />

que integram” os grupos, são para<br />

Adérito Caldeira os grandes desafios<br />

futuros do movimento.<br />

Ultrapassada a desconfiança inicial<br />

dos “veteranos” ligados aos ranchos<br />

folclóricos em relação a uma<br />

“juventude mais estudiosa” nestas<br />

matérias, o clube sente já hoje dificuldades<br />

em responder rapidamente<br />

aos pedidos para a realização<br />

de workshops e conferências sobre<br />

folclore, bem como a pedidos de<br />

informação de carácter mais técnico.<br />

Adérito Caldeira denuncia um<br />

certo “autismo” dos ranchos folclóricos<br />

em Portugal, que, segundo<br />

afirma, teimam em guardar os seus<br />

conhecimentos em segredo.<br />

MAIS DE 7<strong>00</strong> RANCHOS<br />

NO ESTRANGEIRO<br />

O movimento juntou em Agosto, no<br />

Algarve, mais de 1<strong>00</strong> pessoas no<br />

primeiro congresso de jovens folcloristas<br />

das comunidades portuguesas.<br />

Do encontro emergiu a<br />

necessidade de os ranchos folclóricos<br />

lutarem pela adequada representação<br />

da indumentária da região<br />

que representam e revelou-se imperioso<br />

dedicar crescente atenção a<br />

outras vertentes da etnografia e do<br />

folclore para além das danças e dos<br />

trajes, designadamente a oralidade.<br />

Frequentemente na génese do<br />

movimento associativo português<br />

no estrangeiro, os ranchos folclóri-<br />

cos das comunidades representam<br />

além-fronteiras quase todas as regiões<br />

de Portugal.<br />

A maioria dos grupos representam<br />

a região do Minho, na Europa<br />

em segundo lugar surgem os ribatejanos,<br />

enquanto na América Latina<br />

a Madeira é a região mais representada.<br />

“Se antigamente os ranchos<br />

de portugueses emigrantes representavam<br />

“Portugal por inteiro”,<br />

hoje assistimos a uma consciencialização<br />

de seus dirigentes associativos<br />

e técnicos em escolher uma<br />

zona etnográfica única de representação”,<br />

adianta Adérito Caldeira.<br />

Nas comunidades existem cerca<br />

de 7<strong>00</strong> agrupamentos folclóricos,<br />

450 em França e entre 30 a 50 em<br />

cada país com forte emigração portuguesa,<br />

segundo estimativas do<br />

Clube de Jovens Folcloristas. ■<br />

Cristina Fernandes Ferreira<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 35


TERMAS EM PORTUGAL [9]<br />

Caldas de Monchique<br />

outras águas algarvias<br />

A região de Monchique é exemplo de que o Algarve tem algo mais<br />

para além das praias douradas. De outras águas quentes nos fala a<br />

«vila termal» das Caldas de Monchique, um dos locais mais<br />

encantadores, com vistas deslumbrantes, um clima ameno e diversas<br />

opções de estada, cultura e gastronomia.<br />

ESTE CONJUNTO insere-se numa<br />

área verde superior a 30 hectares,<br />

na qual existem edifícios afectos às<br />

actividades termal, hoteleira e de<br />

engarrafamento, e outros que compõem<br />

a estância, como residências,<br />

capela e estabelecimentos comerciais.<br />

As Caldas de Monchique modernizaram-se<br />

recentemente, mas<br />

mantêm algumas memórias de outros<br />

tempos, nas pedras, nas casas e<br />

nos seus utentes.<br />

Durante séculos, perdurou o designado<br />

«corredor da saudade», sensivelmente<br />

no local onde se encontram<br />

as novas piscinas exteriores,<br />

construído por etapas ao longo de<br />

um tempo em que estas termas<br />

foram administradas, designadamente,<br />

pelos bispos do Algarve. Foi,<br />

no entanto, na viragem para o século<br />

XX que se construiu uma parte<br />

importante dos edifícios de alojamento<br />

e o casino. Depois, as termas<br />

foram sucessivamente geridas por<br />

médicos e comissões administrativas.<br />

Em meados do século, muitos<br />

eram os aquistas que chegavam de<br />

fora, sobretudo alentejanos em férias<br />

periódicas, como nos anos 50 as<br />

meninas Maurícias, de Montes<br />

36 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Velhos, que nos falam hoje, com<br />

saudade, dos bálsamos da serra, da<br />

inspiradora «Fonte dos Amores» ou<br />

dos sons das águas da ribeira do<br />

Lajeado e do chafariz do largo.<br />

Elementos que perduram, ainda.<br />

Mas há outros de que lhes restam<br />

apenas a memória, como os bailes do<br />

salão do casino, ou o sr. Ventura do<br />

balneário e o sr. Guilherme da mercearia,<br />

ambos figuras conhecidas<br />

destas termas de outros tempos, que<br />

até acabaram compadres entre si.<br />

O tempo correu. As termas<br />

acabaram por ser geridas pela<br />

ENATUR, com algumas dificuldades,<br />

mas, em 1994, por concurso<br />

público, passaram a ser exploradas<br />

por uma Sociedade detida maioritariamente<br />

pela Fundação Oriente.<br />

Foi realizado um projecto global de<br />

modernização, que incluiu as<br />

remodelações do balneário, do edifício<br />

do hospital (e sua adaptação a<br />

hotel termal), de todas as unidades<br />

hoteleiras e de restauração e das<br />

infra-estruturas urbanas.<br />

As águas destas termas são bicarbonatadas,<br />

sódicas e ricas em flúor,<br />

indicadas para afecções das vias


Vista geral das Termas das Caldas de Monchique. Em baixo, imagens do hotel termal<br />

respiratórias e afecções musculoesqueléticas.<br />

Há quem nos refira<br />

que, por estas características, as<br />

águas ao serem também utilizadas<br />

em tratamentos de bem-estar e<br />

beleza conferem à pele um estado<br />

de hidratação total. E porque as<br />

águas se passeiam depois de<br />

tomadas, pode-se andar pela serra,<br />

em caminhadas, na equitação, na<br />

observação de plantas e pássaros e<br />

nas técnicas de relaxação. Um dos<br />

trilhos mais frequentado demora<br />

cerca de 45 minutos a pé, partindo<br />

da esplanada, passando pelas<br />

fontes, capela e por um antigo<br />

moinho de água na zona mais profunda<br />

do vale. Para os mais novos,<br />

o Kids Club tem jogos, pinturas,<br />

vídeos, bem como serviço de babysitter,<br />

quando solicitado.<br />

Em Monchique, costuma-se dizer<br />

que «ao que a terra dá e que do porco<br />

se aproveita junta-se o engenho das<br />

gentes da serra». Esta é a fórmula<br />

que serve de base aos pratos tradicionais,<br />

exemplos de um hábito<br />

muito remoto que não se perdeu,<br />

como por exemplo os que levam<br />

castanhas piladas, reminiscências<br />

de uma culinária que desconhecia a<br />

batata, que foi novidade quinhentista<br />

vinda da América.<br />

Em diversos restaurantes, muita é a<br />

variedade gastronómica: a assadura,<br />

o feijão ou grão com arroz, o feijão<br />

com couve, o grão com massa, as bisnagas<br />

de porco, as papas de caldo e a<br />

couve à Monchique. Há-os em todo o<br />

concelho, por entre os bosques de castanheiros<br />

e campos de flores silvestres,<br />

com vistas sobre vales selvagens,<br />

precipícios e prados, ou na<br />

própria vila. Esta é pacata e acolhedora,<br />

onde se descobre a simpatia dos<br />

seus habitantes ou o surpreendente<br />

portal manuelino da Igreja Matriz.<br />

Como recordação para levar desta<br />

visita, sugerimos os produtos tradicionais<br />

da região, como os cestos, os<br />

artefactos de madeira e cortiça, as<br />

camisolas de lã, o mel, o medronho e<br />

os produtos biológicos. E, também, os<br />

notáveis casacos nascidos da imaginação<br />

e do tear da Zé Ventura, artista<br />

da terra, premiada a nível nacional<br />

pelos seus trabalhos de pintura e<br />

tecelagem, as suas «cores do tempo»<br />

que já há muito percorrem mundo. ■<br />

Jorge Mangorrinha<br />

Helena Gonçalves Pinto<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 37


OFÍCIOS<br />

Ulisses<br />

A última luvaria do Chiado<br />

O interior da Luvaria Ulisses, um cubículo onde não cabe meia<br />

dúzia de pessoas espremidas umas contra as outras, é uma imagem<br />

preciosa da iconografia da Lisboa do princípio do século XX.<br />

OS ESPELHOS, os lustres, os<br />

dourados, o balcão de madeira, as<br />

gavetas minúsculas onde são<br />

guardadas as luvas continuam a ser<br />

os mesmos há praticamente um<br />

século. Está tudo na mesma desde<br />

1925, quando Joaquim Rodrigues<br />

Simões, então vereador da Câmara<br />

de Lisboa, fundou a Luvaria Ulisses,<br />

a única sobrevivente das muitas<br />

luvarias que proliferaram na Baixa<br />

lisboeta no início do século passado.<br />

A originalidade desta loja minúscula,<br />

incrustada na antiga muralha<br />

do Carmo, é bem visível no rosto<br />

dos turistas estrangeiros. A meio de<br />

38 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

uma manhã fria de Dezembro,<br />

ainda a Rua do Carmo estava quase<br />

deserta, a Ulisses, mal tinha aberto<br />

as portas, já era palco de um clássico,<br />

requintado, mas invulgar, ritual<br />

de prova de um par de luvas: após<br />

ter escolhido um modelo preto<br />

pincelado de vermelho nos dedos,<br />

uma turista japonesa olhava encantada,<br />

como se fosse a coisa mais surpreendente<br />

do mundo, para a<br />

forma como a luva era aberta com<br />

um instrumento especial em<br />

madeira e tratada com pó de talco.<br />

Concluída esta operação, a cliente<br />

foi convidada a pousar o cotovelo<br />

sobre uma pequena almofada<br />

depositada sobre o balcão para<br />

experimentar a luva. E todos estes<br />

procedimentos são efectuados as<br />

vezes necessárias até a luva assentar<br />

como uma segunda pele.<br />

Carlos Carvalho, um dos sócios<br />

da Luvaria Ulisses, não consegue<br />

deixar de esboçar um sorriso de<br />

contentamento perante a satisfação<br />

da própria cliente japonesa: “Os<br />

estrangeiros ficam surpreendidos<br />

com este ritual de preparação da<br />

luva, porque isto já não se usa em<br />

quase parte nenhuma do mundo”.<br />

A surpresa dos turistas estrangeiros,


os principais clientes nos meses de<br />

Verão, não fica por aqui: “eles ficam<br />

surpreendidos por encontrarem<br />

uma luvaria em Lisboa, numa altura<br />

em que já há muitas poucas no<br />

mundo, e ficam encantados com a<br />

elegância das nossas luvas”.<br />

Com mais de quatro décadas de<br />

existência, a Luvaria Ulisses, instalada<br />

num espaço exíguo pensado<br />

para acolher o escritório do fundador<br />

da casa Joaquim Rodrigues<br />

Simões, é a única sobrevivente das<br />

muitas luvarias que floresceram na<br />

Baixa alfacinha, até à década de 70<br />

do século XX, por uma única razão:<br />

“A qualidade é que garante a sobrevivência”,<br />

afirma Carlos Carvalho.<br />

E precisa ainda mais este argumento:<br />

“Se nós não tivéssemos qualidade,<br />

os estrangeiros não compravam<br />

as nossas luvas”. Por isso,<br />

remata, “a nossa loja tem de ter fa-<br />

brico próprio para assegurar a qualidade<br />

das luvas”.<br />

Todas as luvas expostas na Luvaria<br />

Ulisses são produzidas numa<br />

fábrica própria desta loja, instalada<br />

também na baixa alfacinha. E Carlos<br />

Carvalho é categórico sobre o método<br />

de produção: “O processo de<br />

fabrico é artesanal e precisamente<br />

igual ao que tínhamos em 1925”. E<br />

dá um exemplo dos cuidados especiais<br />

com a produção: “existem sete<br />

tamanhos para senhora e vão de 6 e<br />

1/4 até 7 e 3/4. São diferenças mínimas<br />

que são importantes numa luva<br />

de senhora”.<br />

A maioria das peles utilizadas são<br />

importadas, mas existe também<br />

matéria-prima nacional. As luvas<br />

em peccari, uma espécie de javali da<br />

América do Sul, são o topo máximo<br />

da qualidade dos artigos da Ulisses.<br />

Mas há também luvas em pelica,<br />

renda, cetim e camurça. E a paleta<br />

de cores é diversificada: preto, castanho,<br />

verde alface, azul petróleo,<br />

laranja, amarelo, brancas, roxas.<br />

Todas esta diversidade de cores é<br />

trabalhada numa fábrica própria<br />

com sete funcionários, dos quais<br />

cinco são jovens. Por isso, Carlos<br />

Carvalho está optimista sobre o<br />

futuro: “A continuidade da produção<br />

está assegurada e estamos a<br />

pensar meter mais pessoas”. E tudo<br />

pela simples razão de que o universo<br />

de clientes não pára de aumentar:<br />

“As senhoras continuam a ser os<br />

maiores clientes, mas os homens e os<br />

jovens também já procuram luvas”.<br />

A localização central, a originalidade<br />

e qualidade das luvas, e a raridade<br />

que esta luvaria já representa<br />

no mundo transformaram a Ulisses<br />

num ícone da Baixa lisboeta. E vários<br />

guias internacionais citam-na<br />

mesmo como um local a não perder<br />

durante uma visita a Lisboa. ■<br />

António Sérgio Azenha [texto e fotos]<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 39


Ginásio dos afectos<br />

Entram de sorriso nos lábios, procuram um cantinho para guardar o<br />

calçado e sentam-se no chão. Parece que vai iniciar mais uma sessão de<br />

Música e Massagem para Bebés, mas é apenas um encontro entre pais<br />

e filhos que já passaram, em alturas diferentes, pelo programa de<br />

Preparação para o Nascimento e a Parentalidade, no ESCA. Um espaço<br />

onde os ingredientes principais são o afecto e a criatividade.<br />

40 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong>


A MADALENA e a Beatriz chegam<br />

quase ao mesmo tempo. Têm ambas<br />

dois anos e já partilharam ali<br />

algumas emoções. A aguardá-las<br />

estão a Ana Rita, a Joana, a Madalena,<br />

o Tiago e o Vasco - ainda na<br />

barriga da mãe. A entrada é triunfal.<br />

É que embora não conheçam os<br />

outros bebés, de idades diferentes,<br />

aquele espaço é-lhes familiar e não<br />

escondem a alegria de voltar a pisálo.<br />

Afinal, foram as primeiras deste<br />

projecto. Pelo menos no ESCA -<br />

Espaço para a Saúde da Criança e<br />

do Adolescente, que em 2<strong>00</strong>7 celebrou<br />

o 10<strong>º</strong> aniversário.<br />

Tudo começa por volta da 22ª<br />

semana de gestação. Para promover<br />

a comunicação com o bebé, sem<br />

esquecer a preparação física, aspectos<br />

ligados à amamentação e primeiros<br />

cuidados com o recémnascido.<br />

Após o nascimento, há que<br />

fortalecer laços familiares e ajudar o<br />

‘pequeno’ com sessões de música e<br />

massagem.<br />

A ideia é da psicóloga e musicoterapeuta<br />

Eduarda Carvalho, que<br />

conta com a colaboração da enfermeira<br />

Laura Massa. Como diz,<br />

trata-se de um «espaço de promoção<br />

da criatividade, encontro e<br />

de dúvidas, onde os pais são aceites<br />

e escutados, quer nas lágrimas,<br />

quer nos risos». No fundo, «onde se<br />

pretende que surjam esses afectos<br />

de uma forma verdadeira e que,<br />

obviamente agasalhados pela música,<br />

pelas artes e pelo movimento, se<br />

tornam mais acolhedores».<br />

«Fala-se muito em ginásios, eu<br />

digo ginásio dos afectos, porque se<br />

fala de preparação física, mas a<br />

parte emocional continua a ser um<br />

grande tabu», adianta, salientando<br />

que «a música e as artes são veículos<br />

importantes para que a pessoa<br />

se deixe fluir, no sentido de facilitar<br />

FAMÍLIA<br />

a expressão, que pode não ser tão<br />

positiva, mas que quando é escoada<br />

é libertada e aceite.»<br />

MUSICAR AS EMOÇÕES<br />

Já com a Leonor em cena, os acordes<br />

de Eduarda dão o mote. A<br />

canção parece ser familiar de todos.<br />

Não por ser novidade, mas por<br />

fazer parte da banda sonora das<br />

sessões de massagens. E ninguém<br />

hesita em recordar, pequenos e<br />

graúdos, «o porquinho que foi à<br />

horta a comer uma bolota», entre<br />

outros clássicos. Lembram-se também<br />

as criações dos vários casais,<br />

pois uma das vertentes do projecto<br />

passa pela criação de uma música<br />

para o bebé, ainda durante a<br />

gravidez.<br />

«Os pais nem sempre sabem o<br />

que dizer para um bebé que ainda<br />

lhes é desconhecido», refere a também<br />

vice-presidente da Associação<br />

Portuguesa de Musicoterapia. A<br />

ideia «não é propriamente retratar<br />

o bebé, mas musicá-lo, imaginá-lo<br />

através da música». E se «há canções<br />

que suportam aspectos do passado<br />

da vida dos pais, outras focam-se<br />

na relação do casal, ou<br />

ainda nas expectativas». «É um berço<br />

que se cria.»<br />

Hoje há uma colectânea riquíssima,<br />

o que levou Eduarda a pensar<br />

em dois outros projectos: um artigo<br />

sobre as letras «e as interpretações<br />

psicológicas que se podem eventualmente<br />

tirar» e a possível gravação<br />

de um CD.<br />

«É tudo uma questão de pôr o<br />

projecto a andar, eventualmente<br />

com algum patrocínio, embora não<br />

queremos que se torne um projecto<br />

comercial.» Se a oportunidade surgir,<br />

haverá «uma harmonização<br />

mais musical, por parte de algum<br />

músico, mas sempre de cariz fami-<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 41


FAMILIA<br />

liar, pois fazemos isto de uma forma<br />

muito afectiva», adianta.<br />

CONTINUIDADE E INTEGRAÇÃO<br />

As marcas da experiência são visíveis.<br />

Segundo a maioria dos pais,<br />

são crianças muito sociáveis, atentas<br />

e musicais. «Porque foram escutadas<br />

e também querem escutar»,<br />

acrescenta Eduarda Carvalho.<br />

Quase a completar um ano, Joana<br />

«já faz muitas vocalizações», conta a<br />

mãe, Ana Marina. Se «nos primeiros<br />

meses ouvíamos muito o CD das<br />

sessões, depois passámos a ouvir<br />

outras músicas». Contudo, adianta<br />

o pai, Luís Nabais, «quando ela começar<br />

a entender vai procurar a<br />

música que criámos».<br />

Para o casal, toda esta partilha é<br />

uma «experiência muito individual<br />

e difícil de transmitir». Por outro<br />

lado, «não tem um impacto espectacular,<br />

é preciso estar atento», tal<br />

como uma psicoterapia. Algo «a<br />

nível interno», um processo «de<br />

continuidade e de integração». Por<br />

isso mesmo, alerta Luís, não deve<br />

ser conduzido por leigos. «Se vamos<br />

42 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

mexer nas emoções e nas vivências<br />

das pessoas, é necessário um técnico<br />

que esteja preparado para tal.»<br />

Para os pais de Joana, além dos<br />

cuidados físicos que exige, a gravidez<br />

é um processo emocional. E<br />

as duas partes complementam-se. A<br />

prová-lo está Leonor, cujos pais<br />

foram orientados para o programa<br />

de Música e Massagem para Bebé<br />

pelo próprio pediatra. O motivo era<br />

um choro incessante e muitas cólicas.<br />

Os efeitos foram visíveis: «ajudou<br />

a acalmar e a integrar a Leonor»<br />

e «reduziu imenso a minha<br />

ansiedade como mãe».<br />

Com 21 meses, a Leonor já faz<br />

massagens a si própria e até aprendeu<br />

a fazer à mãe. «Claro que de<br />

uma forma diferente», diz Catarina,<br />

salientando ainda a magia da música<br />

lá em casa. É que o pai é muito<br />

musical e a pequena fica sempre em<br />

alerta quando Rui pega na guitarra.<br />

PAIS GRÁVIDOS<br />

Outra característica é a presença do<br />

pai. A gravidez é vista não como<br />

algo da mulher, mas do casal, e é<br />

frequente ouvir-se dizer «quando<br />

estávamos grávidos».<br />

«Os pais não são bem vindos, são<br />

tão vindos quanto a mãe», refere<br />

Eduarda Carvalho. «Não promovemos<br />

cursos para grávidas, podendo<br />

vir ou não com o seu acompanhante».<br />

Pelo contrário, «é um projecto<br />

para casais grávidos. O pai<br />

também engravida, ainda que de<br />

forma diferente. Há vínculos do pai<br />

para o filho que importa trabalhar,<br />

favorecer e envolver.»<br />

Por outro lado, não é uma preparação<br />

para o parto, mas para «o<br />

nascimento de uma vida que vai continuar»,<br />

diz, destacando ainda os en-


contros pós-curso. «Há casais que continuam<br />

a comunicar comigo e com<br />

outros pais.» Algo «que pode promover<br />

uma socialização precoce nas<br />

crianças, que ficam ligadas.» Por isso,<br />

decidiu reunir pais e filhos que por ali<br />

passaram em períodos diferentes.<br />

E num encontro onde a música é a<br />

grande forma de comunicação, não<br />

podia faltar a improvisação. Pais e<br />

bebés escolhem um instrumento e<br />

ao som do xilofone, das pandeiretas<br />

ou do tambor, expressam a sua<br />

emoção. Até a pequena Ana Rita,<br />

que ainda não tem três meses, mas<br />

já está habituada a estes ambientes.<br />

É a mais nova do grupo e termi-<br />

nou as sessões de massagens há<br />

duas semanas. No entanto, tudo<br />

começou uns meses antes, durante<br />

a Preparação para o Nascimento,<br />

que ajudou a reduzir ansiedades e<br />

aproximou o pai à gravidez. Já o<br />

pós-parto foi uma divertida aventura,<br />

que os uniu enquanto família.<br />

Agora, Ana Rita ainda não consegue<br />

pegar no instrumento que os<br />

pais escolheram por si, mas já se<br />

deixa embalar pelo som. E acaba<br />

por adormecer. Afinal, a música é<br />

também um bálsamo, que ajuda a<br />

acalmar. Pelo menos até ao próximo<br />

desafio. ■<br />

Cláudia Elias (texto) José Goulão (fotos)<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 43


VIAGENS<br />

Medina Azahara<br />

A Cidade dos Califas<br />

A encosta meridional da Sierra Morena, uma longa mancha de terra<br />

castanha bafejada com intensidade pelos ventos do norte<br />

e rica em nascentes, foi sempre um sítio ideal<br />

para construir residências de Verão.


OS TEXTOS antigos falam de villas<br />

romanas e árabes de arquitectura<br />

caprichosa, floridos jardins e formosas<br />

fontes, de que hoje não<br />

restam praticamente vestígios e se<br />

conhece mal a história. No tempo<br />

do califado de Córdova, a cidade<br />

mais sumptuosa do Al-Andaluz<br />

ficava ali mesmo, na extremidade<br />

ocidental da serra. Chamava-se<br />

Medina Azahara.<br />

Os cronistas árabes descrevemna<br />

como uma cidade grande e luxuosa,<br />

onde predominavam os mais<br />

belos mármores, madeiras e pedras<br />

preciosas, os mais diversos objectos<br />

em ouro, prata, marfim, cristais, e<br />

as mais variadas plantas exóticas.<br />

Os embaixadores estrangeiros<br />

deixaram relatos fantásticos sobre<br />

as paradas militares e o aparato dos<br />

salões. Mesmo aqueles que nunca a<br />

conheceram não têm pejo nenhum<br />

em reconhecer-lhe uma beleza<br />

incomparável: tinha “todos os elementos<br />

de ornamentação que iden-<br />

tificam o Oriente e que definem o<br />

génio grego”, dizia em meados do<br />

século XIX Pedro de Madrazo, o<br />

historiador espanhol que localizou<br />

as suas ruínas.<br />

A fundação da cidade está envolvida<br />

em lendas que se confundem com<br />

a própria história. A mais conhecida<br />

diz que Abderramão III mandou<br />

construir Medina Azahara em homenagem<br />

à sua esposa favorita, Zahra,<br />

que o povo acreditava estar representada<br />

na vénus romana de mármore<br />

que decorava a entrada da<br />

porta principal, a Bal Al-Cubba.<br />

Zahra deixara em testamento que a<br />

sua fortuna devia servir para resgatar<br />

mouros cativos em terras cristãs.<br />

Como os emissários do califa não<br />

encontraram um único mouro cativo<br />

nos reinos cristãos de Espanha,<br />

Abderramão III utilizou essa fortuna<br />

para edificar uma cidade em nome<br />

da sua amada. Assim terá nascido<br />

Medina Azahara, que em árabe significa<br />

a “cidade da flor”.<br />

A realidade histórica, porém, é<br />

outra. No apogeu do reino de<br />

Córdova, depois de pacificados os<br />

territórios rebeldes e definida a<br />

fronteira com os cristãos, Abderramão<br />

III adoptou, a 16 de <strong>Janeiro</strong><br />

de 929, o título de califa do Al-<br />

Andaluz, consumando a independência<br />

dos califas abássidas de<br />

Bagdade. Com um milhão de habitantes,<br />

Córdova era uma metrópole<br />

activa, movimentada e florescente e<br />

o Alcazar era pequeno para as festas<br />

da corte. Por isso, o novo califa<br />

decidiu construir uma sede digna<br />

do seu império.<br />

As obras começaram a 19 de<br />

Novembro do ano 936 de Cristo,<br />

325 da Hégira, aos pés do monte<br />

Novia, na ponta da Sierra Morena,<br />

oito quilómetros a oeste da capital.<br />

Dez mil operários trabalharam ali<br />

durante 25 anos, até à morte de<br />

Abderramão III, utilizando os mais<br />

nobres materiais de construção.<br />

Das 4.<strong>00</strong>0 colunas de Medina<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 45


VIAGENS<br />

Azahara, 1.3<strong>00</strong> vieram de Cartago,<br />

Tunes, Esfahan, Tarragona. A maioria<br />

delas veio de pedreiras nas serras<br />

Morena e da Cabra, cujos mármores<br />

azul e rosa eram muito apreciados<br />

pelos arquitectos árabes. A<br />

pedra da região foi usada também<br />

no revestimento das paredes: 1.5<strong>00</strong><br />

mulas e 4<strong>00</strong> camelos transportavam<br />

diariamente para a obra 6.<strong>00</strong>0<br />

pedras de calcário e 4<strong>00</strong> quilos de<br />

gesso e cal. Os trabalhos eram executados<br />

por pedreiros-livres e<br />

escravos cristãos e africanos capturados<br />

nas expedições militares.<br />

Medina Azahara estava arrumada<br />

em três grandes terraços aplanados<br />

na encosta e diferenciados de<br />

acordo com o seu uso urbano. Uma<br />

dupla muralha, separada por um<br />

canal de cinco metros, bordejava<br />

todo o perímetro, excepto o lado<br />

norte, onde o monte Novia funcionava<br />

como barreira natural.<br />

Entre membros da família real,<br />

ministros, generais e outros personagens<br />

ilustres, soldados, escribas e<br />

tradutores, criados e escravos,<br />

residiam ali 20.<strong>00</strong>0 pessoas.<br />

O terraço superior era ocupado<br />

pelo Alcazar Real, que albergava as<br />

residências do califa e dos dignatários<br />

mais importantes, dos<br />

órgãos administrativos e de governo,<br />

e as dependências militares. Jardins e<br />

hortas ocupavam o vasto terraço<br />

intermédio, constituindo uma zona<br />

de respeito entre o Alcazar e a cidade<br />

propriamente dita, que ocupava o<br />

terreno mais baixo. Era aqui que<br />

estavam a mesquita, os luxuosos<br />

salões de recepção, as vivendas do<br />

pessoal de serviço e o resto dos<br />

departamentos da administração.<br />

A riqueza gasta na edificação<br />

desta cidade é hoje incalculável. O<br />

Salão de Abderramão III, onde eram<br />

proclamados e elevados os califas ao<br />

trono, tinha as paredes cobertas de<br />

46 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

pétalas e flores esculpidas em<br />

pedra, as portas, oito em cada lado,<br />

eram formadas por arcos de marfim<br />

e ébano apoiados em colunas de<br />

jaspe e cristais-de-rocha, com<br />

grande profusão de pérolas e rubis<br />

incrustados. A meio do salão uma<br />

fonte despejava um fio de mercúrio<br />

numa concha de pórfiro. Gomez<br />

Moreno, especialista espanhol em<br />

arqueologia árabe, denominou-o de<br />

“Salão Rico” por excelência.<br />

O Salão Oriental, onde o filho de<br />

Abderramão III recebeu os embaixadores<br />

estrangeiros durante os<br />

seus catorze anos de reinado, tinha<br />

uma biblioteca com mais de 4<strong>00</strong>.<strong>00</strong>0<br />

manuscritos e uma fonte ornamentada<br />

com doze figuras de ouro e<br />

pedras preciosas incrustadas. Como


tudo o que é formoso, Medina<br />

Azahara teve uma existência<br />

efémera. Em 1010, apenas 74 anos<br />

após o início da sua construção, é<br />

arrasada pela comunidade berbere<br />

de Córdova, que se revolta contra o<br />

califado e inicia uma guerra civil<br />

que leva à sua extinção em 1031.<br />

A partir daqui seguiram-se nove<br />

séculos de pilhagens. Os almorávidas<br />

e os almóadas arrancaram tudo o que<br />

era possível para utilizar nas suas<br />

construções em Sevilha e Marraquexe.<br />

O Alcazar de Sevilha, por<br />

exemplo, contém um grande número<br />

de capitéis da cidade destruída, com<br />

as datas e os louvores dos califas de<br />

Córdova, e a sua célebre giralda tem<br />

121 capitéis provenientes das ruínas<br />

de Medina Azahara.<br />

Descoberta<br />

mesquita<br />

do século X<br />

Oito meses apenas após o<br />

recomeço das escavações<br />

arqueológicas em Medina<br />

Azahara, em Abril deste ano,<br />

os arqueólogos anunciaram,<br />

em meados de Novembro<br />

passado, uma descoberta<br />

surpreendente: as escavações<br />

numa zona nunca antes<br />

explorada, junto à muralha da<br />

antiga cidade, permitiram<br />

localizar as ruínas de uma<br />

mesquita do século X.<br />

Com uma área de 25 metros de<br />

comprimento e 18 metros de<br />

largura, a mesquita conserva o<br />

minarete, a torres de onde<br />

eram chamados os fiéis para a<br />

oração, na zona sul e não na<br />

zona norte, como acontece com<br />

as mesquitas encontradas em<br />

Córdoba.<br />

Construído com orientação<br />

para Meca, o edifício de barro<br />

contava com três naves e um<br />

pátio interior. A Junta da<br />

Andaluzia, responsável pela<br />

gestão do património de<br />

Medina Azahara, pretende<br />

incluir no futuro esta mesquita<br />

no percurso acessível aos<br />

turistas.<br />

Quando Fernando III conquistou<br />

Córdova, em 29 de Junho de 1236,<br />

não restava mais do que um monte<br />

de ruínas e a recordação de uma<br />

cidade grandiosa. Os saques continuaram<br />

até que Medina Azahara<br />

mergulhou no limbo do esquecimento.<br />

Muitos desses objectos pilhados,<br />

como cofres, materiais de<br />

cerâmica e adornos pessoais, en-<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 47


VIAGENS<br />

contram-se hoje dispersos por<br />

locais tão prestigiados como o<br />

Museu do Louvre, em Paris, e o<br />

Museu Nacional do Bargello, em<br />

Florença.<br />

Com o passar dos séculos as ruínas<br />

foram sendo soterradas e, no<br />

início do século XIX, só já eram<br />

visíveis os escombros mais altos. O<br />

renascimento do interesse pela cultura<br />

árabe, que a reconquista cristã<br />

adormecera durante quase 4<strong>00</strong><br />

anos, reavivou, entretanto, a memória<br />

sobre Medina Azahara. As<br />

descrições apaixonadas dos cronistas<br />

árabes fascinaram os eruditos<br />

da corrente ocidental-romântica,<br />

que iniciaram uma busca desenfreada<br />

de pistas para a sua localização.<br />

Em 1840, o historiador Pedro<br />

de Madrazo identifica, a partir de<br />

uma compilação de história do Al-<br />

Andaluz da autoria do historiador<br />

magrebino Al-Maqqari, a cidade<br />

dos califas com as ruínas de<br />

“Córdova-a-Velha”, que tinham<br />

sido vendidas em 1405 pela admi-<br />

48 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

GUIA<br />

Medina Azahara localiza-se a 8<br />

Km de Córdova. O acesso mais<br />

rápido é em direcção a Palma del<br />

Río<br />

DORMIR<br />

Córdova é o local ideal para pernoitar.<br />

● Hotel Tryp Los Gallos- Av.<br />

Medina Azahara, 7, Tel.: 957 47 83<br />

76; www.trypgallos.solmelia.com<br />

● Alfaros - C/Alfaros, 18, Tel.: 957<br />

49 19 20, E-mail: alfaros@maciahoteles.com<br />

VISITAS<br />

Medina Azahara pode ser visitada<br />

entre Outubro e Abril das 10h<strong>00</strong>-<br />

14h<strong>00</strong> e das 16h<strong>00</strong>-18h30 e de<br />

Maio a Setembro das 10h<strong>00</strong>-14h<strong>00</strong><br />

e das 18h<strong>00</strong>-20h30. Entrada gratuita<br />

para os cidadãos da União<br />

Europeia. Encerra à segunda-feira.<br />

nistração cordovesa aos monges de<br />

São Jerónimo e cujas pedras foram<br />

usadas na construção do convento<br />

que domina agora a encosta meridional<br />

da Sierra Morena.<br />

As escavações arqueológicas só<br />

dariam achados dignos das descrições<br />

dos cronistas árabes em<br />

1944, com a descoberta dos restos<br />

do deslumbrante Salão de Abderramão<br />

III. As paredes originais, que<br />

estavam ainda de pé, conservavam<br />

importantes painéis de pedra decorativa<br />

e parte dos elementos de sustentação,<br />

capitéis e colunas de mármore.<br />

Tamanha beleza irá concentrar,<br />

nos anos seguintes, os trabalhos<br />

de reconstituição no Salão de<br />

Abderramão III. E hoje, no seu interior<br />

sombrio, o vermelho-vivo das<br />

pinturas murais, a diversidade de<br />

cores das colunas e a profusão de<br />

símbolos das pedras decorativas<br />

desafiam a imaginação a tentar<br />

reconstruir a beleza de outros tempos<br />

da cidade dos califas. ■<br />

António Sérgio Azenha [texto e fotos]


A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES<br />

Ginkgo Biloba<br />

A memória do mundo<br />

No ano em que se inicia a primeira fase do compromisso contra o aquecimento global,<br />

previsto pelo Tratado de Quioto, e se torna cada vez mais evidente que o desafio da<br />

Humanidade, no século XXI, é impedir a sua própria extinção, a antiquíssima Ginkgo Biloba L.<br />

(vulgarmente conhecida por Nogueira-do-Japão) surge como árvore emblemática<br />

que viu chegar a espécie humana e poderá vê-la desaparecer.<br />

Introduzida na Europa, no princípio do século<br />

XVIII, em Portugal, existe notícia da sua comercialização<br />

no Porto, pelo menos desde 1865, este<br />

“fóssil vivo” (segundo Lineu) não só é a mais<br />

antiga árvore que se conhece, apareceu há mais de 2<strong>00</strong><br />

milhões de anos, como pode ultrapassar os 3 milénios<br />

de vida.<br />

Considerada sagrada pelos monges budistas que a<br />

plantaram junto dos templos, no Sul da China, Japão e<br />

Coreia do Sul, ela representa, desde a Segunda Guerra<br />

Flora Japonica, Siebold& Zuccarini, Leiden, 1835/42<br />

50 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Mundial – na sequência de ter sobrevivido à Bomba<br />

Atómica de Hiroshima – a árvore de todos os combates<br />

mas não necessariamente a da nossa salvação.<br />

Introduzir Ginkgo Bilobas nos parques e jardins (em<br />

Portugal destacam-se, entre outros, dois exemplares<br />

classificados, o da Praça Paiva Couceiro, em Lisboa, e o<br />

do Jardim das Virtudes, no Porto, ou ainda o belíssimo<br />

grupo de árvores que em Dezembro tornam obrigatório<br />

o Jardim das Amoreiras) onde antes viviam outras<br />

espécies que não aguentaram o stress da poluição,


Grupo de Ginkgo Bilobas no Jardim das Amoreiras no mês de Dezembro em Lisboa<br />

Fotografias: Susana Neves<br />

como já há alguns anos tem sido feito na Inglaterra<br />

(http://www.timesonline.co.uk) poderá evitar a curto<br />

prazo o colapso de um espaço público mas destruirá o<br />

conceito de Arboretum (colecção de árvores), no qual<br />

assentam muitos dos jardins europeus, como o do<br />

Parque da Pena, em Sintra, onde também foi plantada<br />

uma frondosa Ginkgo, mas não impedirá que uma vez<br />

abertas as portas não haja quem nelas possa entrar.<br />

Uma das lições da Ginkgo Biloba prende-se<br />

justamente com a vida simples, despojada<br />

e sábia dos monges budistas que a protegeram.<br />

Enquanto, no século XVIII, os coleccionadores<br />

ocidentais disputavam jovens rebentos de<br />

Ginkgo (também conhecida por “a árvore que põe<br />

ovos”) desconhecendo a particularidade de esta árvore<br />

não ser hermafrodita mas dióica, os monges, conscientes<br />

do necessário equilíbrio de todas as coisas, há<br />

milénios juntavam a árvore macho à árvore fêmea,<br />

independentemente desta última produzir frutos<br />

malcheirosos, que de resto, são uma iguaria. É uma<br />

japonesa, Misa Suda quem o confirma: “No Japão compra-se<br />

esse fruto chamado “guin`nan” ou então apanha-se<br />

nas Avenidas onde as árvores foram plantadas.<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 51


A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES<br />

Habitualmente verde, a folha caduca da Gingko torna-se amarela no Inverno<br />

Parece um damasco amarelo, aliás, a tradução de<br />

Ginkgo (“Ichou”) é “damasco prateado”, mas não<br />

comemos senão o que está no interior da semente.<br />

Uma vez limpa, a semente é frita, partimos a casca e<br />

comemos o que está no seu interior, como se fosse uma<br />

noz”.<br />

Tal como acontece na maioria dos países ocidentais,<br />

em Portugal, apesar de haver alguns<br />

casais de Ginkgo Biloba L (por exemplo, no<br />

jardim Botânico em Lisboa e também no Porto,<br />

fazem casal o espécime feminino do Palácio de Cristal<br />

com o masculino que está perto da Biblioteca Almeida<br />

Garrett) tem-se plantado, sobretudo, machos, evitando<br />

o odor dos frutos da árvore fêmea. Uma vez mais, temse<br />

privilegiado a comodidade urbana em detrimento do<br />

equilíbrio natural.<br />

Quando entre nós é prática rotineira cortar árvores<br />

porque poderão estar a destruir um muro, impedir a<br />

construção de uma auto-estrada ou a prejudicar a<br />

canalização de um prédio imagina-se o grau de per-<br />

52 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

plexidade que pode gerar a notícia publicada no ano<br />

passado, na rubrica “News” do site Ginkgo Biloba<br />

Pages: os residentes de Dobong, em Seul, na Coreia do<br />

Sul, em conjunto com as autoridades camarárias decidiram<br />

gastar 4,3 milhões de dólares para demolirem dois<br />

edifícios de apartamentos cujas infra-estruturas<br />

estavam a lesar as raízes de uma Ginkgo de 840 anos, a<br />

árvore mais antiga da cidade.<br />

Tendo em conta as suas qualidades medicinais, utilizadas<br />

na farmacopeia tradicional chinesa e na indústria<br />

farmacêutica contemporânea mundial, a Ginkgo<br />

Biloba corre o risco de ser o eucalipto do futuro. Uma<br />

árvore sagrada reduzida à condição de escravo para<br />

que a Humanidade prospere e não oxide, dadas as suas<br />

qualidades na preservação da memória e na melhoria<br />

da circulação sanguínea.<br />

Na Província chinesa de Henan, vive uma Ginkgo<br />

com mais de 15<strong>00</strong> anos. O tronco tem alguns pequenos<br />

buracos. São a marca de todos os dedos dos monges<br />

que nele tocaram antes de entrarem no templo de<br />

Shaolin. ■


PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID<br />

Cahora Bassa<br />

O projecto da barragem de Cahora Bassa foi decidido pelo Governo Português, ainda<br />

Moçambique estava sob o domínio colonial, num dos últimos Conselhos de Ministros<br />

a que presidiu o Dr. Salazar.<br />

Asua construção decorreu durante o tempo em<br />

que Marcelo Caetano foi o Presidente do<br />

Conselho do regime anterior ao 25 de Abril.<br />

É um empreendimento de dimensões surpreendentes<br />

e quem o concebeu teve uma visão do verdadeiramente<br />

ímpar, que ultrapassa regimes e ideologias.<br />

Foi construída em lugar inóspito, no Norte de<br />

Moçambique, em pleno rio Zambeze, e a sua edificação<br />

decorreu, integralmente, em zona afectada pela guerra<br />

colonial. Uma pequena pista de aviação servia a zona<br />

dos trabalhos e ainda hoje espanta como é que os materiais<br />

necessários à barragem foram transportadas por<br />

vias rodoviárias, ao tempo – entre 1969 e 1973 - quase<br />

artesanais.<br />

A sua albufeira é a segunda maior de África, com uma<br />

extensão de 250 Km em comprimento e 38 Km de afastamento<br />

entre as margens.<br />

A barragem de Cahora Bassa é o maior produtor de<br />

electricidade em Moçambique, fornecendo ainda energia<br />

à África do Sul, ao Zimbabué e, em breve, ao<br />

Malawi. É um factor de inquestionável progresso não<br />

apenas de Moçambique mas de grande parte da África<br />

Austral.<br />

Quando em 1986, o Presidente Samora Machel visitou<br />

a barragem escreveu, no Livro de Honra e pelo seu<br />

54 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

próprio punho, uma mensagem, também ela invulgar e<br />

quase sublime: “Esta maravilhosa obra do género<br />

humano constitui um verdadeiro hino à inteligência,<br />

um promotor do progresso, um orgulho para os empreiteiros,<br />

construtores e trabalhadores desta fantástica<br />

realização. Cahora Bassa é a matriz do desenvolvimento<br />

do Moçambique independente(...) Moçambicanos e<br />

Portugueses consolidam aqui a unidade, a amizade e<br />

solidariedade cimentadas pelo aço e betão armado, que<br />

produziu Cahora Bassa (...)”<br />

Há poucas semanas, Moçambique tornou-se,<br />

de pleno, proprietária da barragem de<br />

Cahora Bassa, com a liquidação da verba<br />

acordada para cedência por parte do<br />

Governo português daquele que era o maior investimento<br />

luso no estrangeiro. Portugal passa a ter uma<br />

quota quase simbólica, menos de 19% na sociedade que<br />

gere a barragem.<br />

Os portugueses foram os criadores de um empreendimento<br />

notável como é Cahora Bassa. Com esta reversão<br />

cumpriu-se mais uma excelente etapa da lusofonia.<br />

Porque em Cahora Bassa fica a marca indelével do progresso,<br />

com uma chancela que fala a nossa língua, que<br />

é comum, em Valença do Minho ou na zona do Songo<br />

onde está implantada a barragem de Cahora Bassa. ■


O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ<br />

O sucesso da cimeira UE-África<br />

Retomamos o tema, no dia seguinte ao do encerramento da cimeira UE-Africa. Tal como<br />

referido no artigo anterior, constituiu o maior desafio da presidência portuguesa: e desde já se<br />

confirma que foi efectivamente, não hesitamos na qualificação, um grande sucesso.<br />

Em primeiro lugar, pela capacidade de<br />

definição e efectivo cumprimento de uma<br />

agenda delicada, que privilegiava à partida o<br />

grande concerto económico das Nações, mas<br />

não descurou, antes pelo contrário, os temas mais sensíveis,<br />

como designadamente os direitos humanos. E<br />

nesse aspecto, houve liberdade, coragem e frontalidade<br />

para uma abordagem específica, designadamente no<br />

que respeita ao Zimbabwe e ao Sudão, mas a que não<br />

escaparam outras referências, mesmo que menos<br />

explícitas.<br />

Aliás, a Líbia merece uma referência especifica, e não<br />

apenas pelas singularidades culturais e/ou de comportamento<br />

do respectivo “líder”, como Kadhafi é designado<br />

(tendas, reuniões, linguagem). Líder que não hesitou<br />

em considerar despiciendos os Parlamentos nacionais,<br />

mas que, a nível de membros do Governo de Tripoli, e<br />

designadamente no que respeita às negociações com<br />

as empresas portuguesas, permitiu um registo de qualidade<br />

no mínimo inesperado: quem assistiu às<br />

reuniões e conferência de imprensa e acompanhou a<br />

assinatura dos acordos pôde constatá-lo. No que diz<br />

respeito, portanto, às empresas portuguesas, os acordos<br />

bilaterais forma muito positivos.<br />

Também não foram escamoteadas as referências à boa<br />

governação e aos direitos humanos, com particular<br />

ênfase, já o dissemos, junto de Mugabe e junto de Al-<br />

Bechir, ambos com quase 30 anos de exercício do poder,<br />

e ambos visados, na comunidade internacional, por<br />

situações internas extremamente graves. Não houve<br />

contemplações, dentro da “firmeza bem - educada” que<br />

convém à diplomacia. E a repercussão internacional das<br />

posições assumidas por Portugal e pela UE servirão,<br />

espera-se, de aviso para outras situações sentadas à<br />

mesa. Algumas delas poderiam ter sido referidas.<br />

O problema relativo às negociações económicas no<br />

âmbito do Acordo de Cotonou, que foi objecto principal<br />

do artigo anterior (TL (Dezembro 2<strong>00</strong>7) não teve<br />

solução imediata - mas como poderia tê-la? Para já,<br />

trata-se de uma negociação no âmbito da Organização<br />

Mundial de Comércio - OMC. O Acordo abrange o conjunto<br />

dos chamados países ACP, pelo que não é limita-<br />

do a África. A bilateralidade impõe-se nesta área, pois as<br />

situações são extremamente diversificadas - e é de assinalar<br />

que Cabo Verde, entre poucos mais, assinou, em<br />

Dezembro, um Acordo de Partenariado com a UE. Em<br />

Lisboa, foram assinados mais 30 Acordos diversos, o<br />

que, pese embora a posição globalizadora do Presidente<br />

do Senegal e as razões que eventualmente, em parte,<br />

lhe assistem, constitui um valor acrescentado para a<br />

Cimeira de Lisboa, numa quantificação de algo como 8<br />

mil milhões de <strong>euros</strong>. As negociações prosseguem, caso<br />

a caso, no âmbito da Comissão Europeia. (Na primeira<br />

presidência portuguesa, participei na reunião UE-ACP:<br />

não é fácil...!)<br />

Mas importa referir que estes partenariados<br />

ficam ligados à boa governação e aos<br />

direitos do homem. Aliás, essa é uma das<br />

grandes áreas prioritárias definidas na<br />

Parceria EU/África aprovada na Cimeira, e no âmbito<br />

do “espírito” de Lisboa, sendo as restantes a paz e<br />

segurança, o comércio e integração regional, os objectivos<br />

para o desenvolvimento, as migrações e emprego<br />

(importante intervenção de Zapatero), a energia, a<br />

ciência e sociedade de informação e as alterações<br />

climáticas.<br />

Mas acrescente-se ainda que, pela voz autorizadíssima<br />

e insuspeita de Alpha Konaré, presidente da<br />

Comissão da União Africana, foi posto em termos justos<br />

e objectivos o problema da ultrapassagem dos complexos<br />

coloniais de parte a parte. O mesmo disse o PM de<br />

Cabo Verde: não podemos continuar a remoer situações<br />

históricas - e Portugal, que foi o ultimo a descolonizar<br />

e foi o que o fez de forma menos pacífica e mais difícil,<br />

pelas razões que se conhecem, é exemplo de excelentes<br />

relações com as ex colónias, como mais uma vez se comprovou<br />

nesta cimeira.<br />

E como quem colonizou a Líbia foi a Itália, que se<br />

retirou há dezenas de anos, as queixas intempestivas do<br />

Coronel Kadhafi não nos dizem respeito...<br />

E finalmente: a Cimeira foi um imenso sucesso de<br />

organização e de logística. Estamos todos de parabéns,<br />

a nível do País, do Governo e do MNE.■<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 55


VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR<br />

Viagem ao vendaval<br />

Serve esta viagem na História para prestar homenagem a um homem português,<br />

pouco brilhante, mas muito injustiçado.<br />

Quanto ao vendaval de que se fala aqui,<br />

inclui várias rajadas destruidoras: a<br />

Revolução Francesa e as suas consequências<br />

em toda a Europa; a invasão de<br />

Portugal pelas tropas de Napoleão; a<br />

Revolução Liberal portuguesa; a independência do<br />

Brasil e, pelo meio, várias guerras. Foi isto o que o tal<br />

homem injustiçado teve de enfrentar —e muito mais<br />

ainda, por acréscimo.<br />

O leitor já terá percebido que<br />

estou a evocar a figura do rei D.<br />

João VI. Certas historiografias — a<br />

romântica, a marxista, entre outras<br />

— têm zurzido impiedosamente<br />

este monarca. Mas os juízos que<br />

sobre ele fazem são, no mínimo,<br />

apressados. Poucos governantes,<br />

nacionais ou estrangeiros, tiveram<br />

de enfrentar um período de tantas<br />

mutações brutais, um «salto» tão<br />

fundamental na evolução social,<br />

política, económica e ideológica<br />

como D. João VI enfrentou ao longo<br />

dos 34 anos em que chefiou o<br />

Estado, primeiro em nome da sua<br />

mãe, D. Maria I, depois como<br />

regente oficialmente investido e<br />

finalmente como rei. Note-se, também,<br />

que D. João não contava, de<br />

todo, subir ao trono: o herdeiro era o seu irmão D. José,<br />

príncipe do Brasil, ao que parece com melhor cabeça e<br />

que fora cuidadosamente preparado por Pombal, mas<br />

que viria a morrer aos vinte e sete anos.<br />

A questão é muito simples: durante o vendaval,<br />

europeu e português, a que me referi, Portugal teria<br />

necessitado de um génio e de um herói. Que pena: em<br />

vez disso, teve somente um homem sensato, honesto,<br />

bem intencionado e pacífico, ansioso por evitar conflitos<br />

e derramamentos de sangue. Ora, a esse homem, o que<br />

lhe saiu na rifa foi uma série de guerras e revoluções,<br />

uma família desunida em que se remexia uma amantíssima<br />

esposa militantemente reaccionária, um país invadido,<br />

destroçado, economicamente destruído e saquea-<br />

56 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

do pelos invasores. Seria difícil fazer melhor do que ele<br />

fez, nas circunstâncias em que ocupou o trono de<br />

Portugal.<br />

Não é possível apresentar aqui o historial do reinado<br />

de D. João VI. O que é possível — e, atrevo-me a dizer,<br />

necessário — é fazer a seguinte advertência: não devemos<br />

iludir-nos ingenuamente com o pouco brilho e a<br />

barriga do senhor, tal como os retratos o mostram. Não<br />

era um tonto que ali estava. A<br />

retirada da família real para o<br />

Brasil foi um golpe de mestre e<br />

D. João, então ainda regente,<br />

adoptou uma política extremamente<br />

subtil, mesmo maquiavélica:<br />

arranjou as coisas de<br />

modo a que, na Europa, Portugal<br />

pudesse ser considerado<br />

como «aliado» da França (por<br />

isso deixou disposições para<br />

que não houvesse resistência);<br />

ao mesmo tempo, mantinha os<br />

portos brasileiros abertos aos<br />

navios ingleses, para jogar a cartada<br />

britânica logo que o ímpeto<br />

napoleónico fosse quebrado.<br />

Nada disto era heróico, mas ele<br />

não queria heroísmo, queria,<br />

sim, acautelar a futura independência<br />

do seu povo e<br />

poupar-lhe, quanto possível, as misérias de uma guerra.<br />

Nos conflitos que acompanharam a instauração<br />

do constitucionalismo, o rei agiu<br />

sempre no sentido de apaziguar os ânimos,<br />

de conseguir uma evolução pacífica,<br />

de promover a concórdia. Quem sabe, se não o tivessem<br />

assassinado — como parece ter sido o caso —, talvez<br />

ainda pudesse concretizar uma parte do seu sonho, um<br />

país pacificado, um povo reconciliado consigo mesmo.<br />

Se falhou (e falhou), a culpa não foi sua. O seu grande<br />

defeito foi não ter sido um génio. Bom, mas criticar é<br />

fácil e aqueles que o têm coberto de lama também o não<br />

foram, nem são… ■


BOAVIDA<br />

CONSUMO<br />

Todos os anos,<br />

terminadas as festas<br />

e iniciado um novo<br />

ano, somos<br />

confrontados<br />

com o aumento de<br />

preços<br />

Pág. 58<br />

MÚSICAS<br />

Com “À Noite”,<br />

título genérico do seu<br />

novo CD, Carlos do<br />

Carmo protagoniza<br />

mais um<br />

acontecimento<br />

na sua exemplar<br />

carreira.<br />

Pág. 64<br />

CINECLUBE<br />

Miguel Freitas da Costa<br />

apresenta a nova<br />

coluna da Boavida com<br />

a garantia de que<br />

“todos os enigmas da<br />

vida têm resposta nos<br />

filmes”.<br />

Pág. 69<br />

INFORMÁTICA<br />

Invoca-se Pessoa,<br />

“navegar é preciso”,<br />

para melhorar o<br />

conhecimento via<br />

Internet, e não só,<br />

utilizando as novas<br />

tecnologias.<br />

Pág. 72<br />

LIVRO ABERTO<br />

“Mazagão-a Cidade<br />

que Atravessou o<br />

Atlântico” narra<br />

a epopeia da<br />

emigração para o<br />

Brasil de toda a<br />

população da antiga<br />

cidade marroquina.<br />

Pág. 60<br />

NO PALCO<br />

A origem das espécies,<br />

histórias aluadas e<br />

resistências laborais,<br />

três temas em palcos<br />

distintos de Lisboa,<br />

Sintra e Almada<br />

Pág. 66<br />

À MESA<br />

A única forma de<br />

tratamento da doença<br />

celíaca (no intestino<br />

delgado) baseia-se na<br />

ingestão de uma dieta<br />

rigorosamente sem<br />

glúten.<br />

Pág. 70<br />

AO VOLANTE<br />

O petróleo chega aos<br />

cem dólares, os<br />

combustíveis<br />

aumentam. Há que<br />

procurar novas<br />

alternativas como o<br />

etanol, a electricidade e<br />

o hidrogénio.<br />

Pág. 73<br />

ARTES<br />

Lisboa reconstruída<br />

pela memória<br />

é o tema da pintura<br />

que Manuel Amado<br />

apresenta, até 20<br />

do corrente, no Centro<br />

Cultural de Cascais.<br />

Pág. 62<br />

CINEMA EM CASA<br />

Em foco a divertida<br />

e sábia ironia dos<br />

Simpson, uma das<br />

boas propostas<br />

natalícias para todos os<br />

cinéfilos caseiros.<br />

Pág. 68<br />

SAÚDE<br />

Qualquer dos<br />

tratamentos de que<br />

dispomos para o<br />

hipertiroidismo tem de<br />

ser adaptado às<br />

características do<br />

doente.<br />

Pág. 71<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 57


BOAVIDA<br />

Consumo<br />

Taxas e aumentos sustentáveis<br />

Em nome da qualidade de vida, os consumidores devem habituar-se a encarar como normais os<br />

aumentos de determinados produtos, considerados essenciais, acima da taxa de inflação. É o preço que<br />

terão de pagar por um estilo de vida que não é consentâneo com a sustentabilidade.<br />

Carlos Barbosa de Oliveira<br />

Todos os anos, terminadas<br />

as festas e iniciado um<br />

novo ano, somos confrontados<br />

com o aumento<br />

de preços. Aumenta o seguro do<br />

automóvel, a prestação da casa, os<br />

transportes, a luz, a água, a bica e o<br />

rissol com que aconchegamos o<br />

estômago num qualquer come em<br />

pé de ocasião, a conta do condomínio<br />

e as despesas de alimentação.<br />

Tudo se passa como se estivéssemos<br />

perante uma lei inexorável<br />

que se cumpre e renova no<br />

início de cada ano. Independentemente<br />

da bolsa de cada um e dos<br />

efeitos colaterais que provocam no<br />

nosso orçamento, reagimos normalmente<br />

com a expressão “a vida<br />

está a tornar-se insustentável”. E a<br />

verdade é que está mesmo, como<br />

bem ficou demonstrado durante a<br />

Cimeira de Bali, onde delegados de<br />

180 países se reuniram, durante 10<br />

dias, para discutirem as medidas a<br />

adoptar face às alterações climáticas<br />

que ameaçam tornar a vida no<br />

nosso planeta, igualmente insustentável.<br />

Só que esta insustentabilidade<br />

não se deve ao aumento dos<br />

preços, mas antes à emissão dos<br />

gases com efeito de estufa (GEE)<br />

que não pára de aumentar.<br />

Entre a insustentabilidade provocada<br />

pelo aumento dos preços e a<br />

ameaça de a vida na terra se tornar<br />

insustentável, existe uma relação em<br />

que nem sempre pensamos e que<br />

determina que alguns aumentos<br />

58 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

sejam não só justos, como inevitáveis.<br />

Refiro-me, concretamente,<br />

ao aumento do custo de recursos naturais<br />

que se começam a reduzir<br />

perigosamente, como é o caso da<br />

água. Prevê-se que em 2025 um terço<br />

da população mundial não tenha<br />

acesso a água potável, mas se pensarmos<br />

que em 1992 as previsões apontavam<br />

para que tal ocorresse apenas<br />

em 2050, podemos compreender<br />

melhor a gravidade do problema. O<br />

mesmo se pode dizer em relação à<br />

electricidade e ao gás. Enquanto as<br />

energias alternativas não estiverem<br />

suficientemente desenvolvidas, de<br />

modo a permitir uma redução drásti-<br />

ca do recurso aos combustíveis fósseis,<br />

é de esperar que os preços da<br />

electricidade continuem a aumentar,<br />

pois o preço do petróleo não pára de<br />

subir e a procura de aumentar<br />

No entanto, apesar de conhecerem<br />

o problema, os consumidores<br />

comportam-se como a cigarra.<br />

Gastam sem pensar na necessidade<br />

de poupar hoje para poder ter no<br />

futuro. Provavelmente, não restará<br />

aos Governos europeus outra alternativa<br />

que não seja aplicar taxas<br />

suplementares que desincentivem<br />

o consumo, como forma de cumprir<br />

as metas traçadas em Quioto ( até<br />

2012) e em Bali ( até 2020). Trata-se


de uma medida que, embora impopular,<br />

deve ser encarada como<br />

sustentável, pois visa a protecção<br />

de interesses comuns.<br />

É bem possível, porém, que ao<br />

longo do ano os consumidores se<br />

venham a confrontar com outras<br />

“taxas” e aumentos, no caso de não<br />

optarem definitivamente por um<br />

estilo de vida mais sustentável. A<br />

criação de uma “taxa ecológica”<br />

sobre os sacos de plástico, por<br />

exemplo, foi recentemente falada.<br />

Pessoalmente, considero-a justa e<br />

eficaz. O uso e abuso dos sacos de<br />

plástico é prova de falta de consciência<br />

ambiental e consumerista<br />

que não pode durar muito mais<br />

tempo, e a eficácia da aplicação de<br />

uma taxa ficou bem demonstrada<br />

quando o governo irlandês decidiu<br />

pô-la em prática: um ano depois, a<br />

redução do uso de sacos de plástico<br />

caiu 95 por cento e o Estado<br />

encaixara 13,5 milhões de <strong>euros</strong>!<br />

Além do mais é uma medida<br />

muito menos penalizadora do que<br />

algumas das que constavam de um<br />

plano elaborado em 2<strong>00</strong>1 pelo<br />

Governo para enfrentar uma eventual<br />

crise grave provocada pela<br />

escalada dos preços de petróleo e<br />

que vale a pena lembrar: restrição<br />

do uso de automóveis particulares,<br />

diminuição ou supressão de carreiras<br />

de transportes públicos, limitação<br />

de horários de iluminação,<br />

aquecimento e refrigeração de edifícios<br />

públicos e limites ao abastecimento<br />

dos veículos particulares.<br />

A maioria dos portugueses desconhece<br />

esse “plano de emergência”.<br />

É isso que explica que, apesar<br />

de o preço da gasolina não parar de<br />

subir, continuemos a assistir a engarrafamentos<br />

bi-diários, sem que se<br />

vislumbre um esforço significativo<br />

em recorrer aos transportes públicos,<br />

em detrimento do automóvel<br />

particular, ou a fazer esforços sérios<br />

para poupar energia. O melhor,<br />

porém, é estarmos preparados para<br />

ser mais parcimoniosos na utilização<br />

de veículos particulares,<br />

enfrentar o aumento de alguns bens<br />

de consumo, resultante do aumento<br />

dos transportes de mercadorias, o<br />

agravamento dos preços dos transportes<br />

públicos e das viagens aéreas,<br />

como custos que teremos de vir a<br />

pagar, no caso de persistirmos nesta<br />

atitude de deixar para os nossos filhos<br />

a resolução dos problemas. ■


BOAVIDA<br />

Livro aberto<br />

Viagem com livros de Mazagão<br />

ao humor de John Kennedy<br />

A palavra Mazagão continua a ter uma sonoridade mágica no nosso imaginário colectivo, por<br />

corresponder a um invulgar processo histórico nunca depois igualado.<br />

José Jorge Letria<br />

Em 1514, a Coroa portuguesa<br />

fundou, na costa<br />

marroquina, a cidadela<br />

de Mazagão. Em 1769,<br />

estando a cidadela cerca por mais de<br />

1<strong>00</strong> mil soldados mouros e berbéres,<br />

a mesma Coroa decide deslocar os<br />

dois mil portugueses que ali se<br />

encontravam para a Amazónia, cuja<br />

colonização começara entretanto. É<br />

assim que nasce a cidade de<br />

Mazagão e, com ela, um processo<br />

único de transferência de uma<br />

matriz civilizacional. A ida daquelas<br />

duas mil pessoas para um tão<br />

longínquo destino representou uma<br />

verdadeira epopeia logística e<br />

humana, tendo em conta os limitados<br />

meios da época. É dessa epopeia<br />

que nos dá conta o livro “Mazagão-a<br />

Cidade que Atravessou o Atlântico”<br />

(Teorema), de Laurent Vidal, mestre<br />

de conferências da Universidade de<br />

la Rochelle. Tratando-se de um<br />

ensaio histórico, lê-se com o prazer<br />

que só as grandes narrativas ficcionais<br />

são capazes de proporcionar.<br />

Da mesma editora é “Filho Único -<br />

As Confissões de François, Irmão de<br />

Jean-Jacques Rouseau”, do francês<br />

Stéphane Audeguy. O autor partiu<br />

daquilo a que pode chamar-se um<br />

verdadeiro “desarrincanço” ficcional:<br />

sendo sabido que Jean-Jacques<br />

Rousseau tinha um irmão mais<br />

velho e que dele se perdeu o rasto a<br />

partir de certo momento, Audeguy<br />

desencantou a brevíssima e fugaz<br />

60 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

referência feita pelo filósofo a esse<br />

misterioso irmão nas suas “Confissões”,<br />

restituiu-o à vida, com perfil e<br />

comportamento de impenitente libertino,<br />

e pô-lo a assistir à trasladação<br />

do irmão para o que viria a<br />

ser o Panteão Nacional, em Paris,<br />

por iniciativa dos líderes da Revolução<br />

Francesa. O texto é de uma<br />

grande riqueza literária, sendo, ao<br />

mesmo tempo, revelador de uma<br />

capacidade de efabulação apreciável<br />

e de um profundo conhecimento da<br />

época e da obra de Rousseau, bem<br />

como dos ideais e desaires dos revolucionários<br />

que tomaram a Bastilha<br />

e criaram a guilhotina. Por tudo isto,<br />

“Filho Único”é um livro que se lê<br />

com prazer, tanto mais que lança luz<br />

sobre a vida de um filósofo cujo percurso<br />

como homem poucas vez foi<br />

consentâneo com os ideais que<br />

proclamou e expandiu, desde logo<br />

na relação com as mulheres e com os<br />

filhos.<br />

ANTONIO NEGRI é uma das figuras<br />

mais controversas e heterodoxas da<br />

esquerda europeia, bastando, para<br />

confirmar a afirmação, ter em conta<br />

o seu atribulado percurso político.<br />

“Adeus, Sr, Socialismo” é o título de<br />

um livro da Ambar que nasce de<br />

um longo diálogo de Negri com<br />

Ralf Scelsi. Ambos reflectem sobre o<br />

presente e o futuro das esquerdas<br />

mundiais, confrontadas com situações<br />

e fenómenos como a queda<br />

do Muro de Berlim, o movimento<br />

antiglobalização e as novas formas<br />

de conflitualidade e belicismo.<br />

Da mesma editora é o volume<br />

“Cadernos de la Romana”, que reúne<br />

as crónicas do grande escritor<br />

Gonzalo Torrente Ballester publicadas<br />

semanalmente sob a forma diarística,<br />

em 1973-74. Estamos, uma<br />

vez mais perante, a aguda e transgressora<br />

lucidez de um dos grandes<br />

escritores do século XX, a reflectir<br />

sobre a vida e sobre o mundo, com<br />

o seu estilo inconfundível e soberbo.<br />

Para ler sempre.<br />

EM MATÉRIA de ficção narrativa de<br />

qualidade, são múltiplas as escolhas.<br />

A saber: “A Mulher Certa”, do<br />

grande escritor húngaro Sándor<br />

Márai, autor, entre outras obras<br />

maiores, de “A Herança de Estzer”,<br />

“Next”, de Michael Crichton, “A<br />

Vida e o Tempo de Michael K”, do<br />

Nobel sul-africano J.M. Coetze, e


“Zadie Smith-Uma Questão de<br />

Beleza”, de Zadie Smith, todos com<br />

a chancela da Dom Quixote, “Rio<br />

das Flores”, segundo romance de<br />

Miguel Sousa Tavares, após o<br />

estrondoso êxito de “Equador”, da<br />

Oficina do Livro, “Escola de<br />

Validos”, ficção de estreia da jornalista<br />

Maria João Martins, já com<br />

obras publicadas no domínio do<br />

ensaio histórico, e “O Quadro”, de<br />

Bibi Perestrelo, ambos da Teorema, e<br />

ainda “Nuvens entre Estrelas”, de<br />

Victoria Clayton, com a chancela de<br />

Publicações Europa-América.<br />

POR SEU TURNO, a Casa das Letras<br />

acaba de editar o saboroso “A Sabedoria<br />

e o Humor de John F. Kennedy”,<br />

que se segue a idêntica colectânea<br />

dedicada a Winston Churchill<br />

e que reúne, em vários e bem estruturados<br />

capítulos, citações, comentários,<br />

ditos de espírito e breves<br />

reflexões daquele que foi um dos<br />

mais populares presidentes da história<br />

dos Estados Unidos. Um livro<br />

que é revelador da inteligência, da<br />

argúcia e do fino sentido de humor<br />

de um estadista que teve o trágico<br />

fim que a História registou.<br />

“SOL NASCENTE – da Cultura<br />

Republicana e Anarquista ao Neo-<br />

Realismo” (Campo das Letras), de<br />

Luís Crespo de Andrade, docente de<br />

Filosofia na Universidade Nova de<br />

Lisboa, é um estudo sério e rigoroso<br />

sobre o papel desempenhado pelo<br />

quinzenário “Sol Nascente”, publicado<br />

entre 1937 e 1940, no processo de<br />

transição da cultura de matriz republicana<br />

e anarquista para o movimento<br />

estético e político que ficou<br />

conhecido como Neo-Realismo.<br />

Da mesma editora, a<br />

antologia “Fernão Lopes<br />

- Crónicas”, organizada<br />

pelo historiador constitui<br />

um importante documento<br />

da história portuguesa,<br />

enriquecido por<br />

dezenas de desenhos e<br />

por 25 pinturas temáticas<br />

originais do pintor<br />

Rogério Ribeiro, e visa alargar a um<br />

maior número de leitores a fruição<br />

destes tesouros da cultura medieval<br />

portuguesa.<br />

«Algumas palavras de Fernão<br />

Lopes – sublinha Borges Coelho -<br />

perdem-se na noite da língua.<br />

Ganharam novas letras, perderam<br />

algumas das antigas. Aumentaram o<br />

corpo ou encolheram: o “fuão” engordou<br />

para “fulano”. A frase está<br />

próxima da fala. Mesmo presa no<br />

papel tem som. E se a dizemos, ouvimos<br />

o marulhar do tempo. Não<br />

empastela para fazer bonito. Só<br />

entoa largo na voz dos pregadores.<br />

Em frases curtas ilumina as figuras,<br />

enreda-as nas teias do amor ou do<br />

ódio, faz andar e ferver as multidões.<br />

Certos capítulos são retábulos<br />

onde lemos e ouvimos os actores na<br />

sua nua humanidade. O quotidiano<br />

entra com o seu ruído e falas nas<br />

informações históricas e jurídicas.<br />

Fernão Lopes é de algum modo,<br />

como tem sido dito, um antepassado<br />

do repórter.»<br />

LUCIANO de Samosata foi um dos<br />

mais produtivos e originais escritores<br />

gregos do século II depois de<br />

Cristo, sendo “Diálogos dos Deuses”(Publicações<br />

Europa-América)<br />

uma das suas obras mais importantes<br />

e inovadoras. Crítico implacável<br />

da sociedade do seu tempo,<br />

Samosata viria a influenciar alguns<br />

dos mais importantes escritores dos<br />

séculos seguintes, com destaque<br />

para Erasmo, Swift ou<br />

Voltaire, que, aos seus<br />

textos, foram buscar a<br />

inspiração para obras<br />

igualmente sarcásticas e<br />

demolidoras. Entretanto,<br />

a Europa América acaba<br />

de lançar uma série de<br />

novos títulos na colecção<br />

“Horrível”, a saber e destinados<br />

ao público jovem, mas sempre<br />

piscando o olho aos adultos: “Os<br />

Terríveis Egípcios”, de Terry Deary,<br />

“Lagos Monstruosos”, de Anita<br />

Ganeri, “Animais Ferozes”, de Nick<br />

Arnold, e “Medicina Sangrenta”, do<br />

mesmo autor. ■<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 61


Rodrigues Vaz<br />

BOAVIDA<br />

Artes<br />

Lisboa, reconstruída pela memória, através de praias, exteriores, arquitecturas, interiores, retratos e<br />

pinturas antigas é, apesar das aparências e intencionais ilusões, o tema-chave da exposição que<br />

Manuel Amado apresenta até dia 20 do corrente no Centro Cultural de Cascais.<br />

Intitulando-a significativamente<br />

“pintura PINTURA”, portanto<br />

assumindo-a como um<br />

regresso à chamada Grande<br />

Pintura, Manuel Amado prossegue<br />

por esta via o seu levantamento<br />

nostálgico de um passado encantatório<br />

– ele passou a sua infância<br />

no palácio que acolhe hoje o Museu<br />

da Cidade de Lisboa – que não é<br />

mais do que a evocação de um horizonte<br />

perdido que não é mais possível<br />

reencontrar.<br />

Embora tudo parecendo perfeita-<br />

62 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Regresso à Grande Pintura<br />

mente identificado, mas tudo, ao<br />

mesmo tempo, possuindo uma aura<br />

de irrealidade que prende hipnoticamente<br />

o olhar, como diz Luísa<br />

Soares de Oliveira, «Manuel Amado<br />

trabalha, não com a realidade visível,<br />

mas com a reconstrução operada<br />

pela memória sobre as impressões<br />

mais fortes de toda a sua vida.»<br />

ALBERTO REGUERA EM LISBOA<br />

De certo modo podemos falar igualmente<br />

de Grande Pintura para caracterizar<br />

a exposição que o artista<br />

segoviano Alberto Reguera mostra<br />

até 12 de <strong>Janeiro</strong> na Galeria António<br />

Prates, em Lisboa, sob o título “Pintura<br />

en Expansión”.<br />

Toda a obra de Alberto Reguera,<br />

criadora de melodiosas atmosferas,<br />

poderia sintetizar uma magnífica<br />

ode à serenidade onde o “abstraccionismo<br />

lírico” de que este pintor é<br />

um dos melhores representantes<br />

espanhóis, é aqui renovador de formas<br />

e estilos. Com estas “pinturas<br />

em expansão” assistimos à transposição<br />

do visível para os redutos<br />

da memória onde o misterioso e o<br />

sonho se fundem. E para lhe dar<br />

mais profundidade, usa os próprios<br />

lados dos quadros, prolongando a


mancha e envolvendo exaustivamente<br />

o espaço.<br />

Segundo Javier Rubio Nomblot<br />

escreve no catálogo, esta exposição<br />

é a mais completa que o artista<br />

dedicou ao novo ciclo de pinturas<br />

espaciais ou expandidas nos últimos<br />

dois anos. Porque esta é «Uma<br />

pintura que, cada vez mais, busca<br />

ser ela mesma mas que, neste<br />

renascimento, parece recuperar a<br />

juventude, o dinamismo e a agilidade,<br />

para se tornar imprevisível.»<br />

ERNESTO NEVES ABRE FIRST<br />

GALLERY<br />

E de Grande Pintura podemos também<br />

falar sobre a retrospectiva com<br />

que Ernesto Neves abriu no mês passado<br />

a First Gallery, um dos maiores<br />

espaços com que Lisboa passa a contar<br />

a partir de agora na Baixa.<br />

Recorrendo especialmente a linhas<br />

abertas, a arcos com perspectivas,<br />

em que o espaço é idealizado a<br />

partir de volumes mais sugeridos<br />

do que expressos, ora isoladamente<br />

ora fazendo uma sábia mistura do<br />

figurativo com o abstracto, com<br />

gestos vigorosos e nervosos, expressivos<br />

de um caudal que nunca<br />

se esgota, Ernesto Neves criou há<br />

vários anos um estilo que, no início<br />

da década de 90, apelidei de arquitectonismo,<br />

o qual marcou todo o<br />

seu percurso posterior.<br />

Na verdade, com todo o vigor e<br />

espontaneidade de que é capaz,<br />

este artista mostra cada vez mais a<br />

sua habilidade para desenhar formas<br />

sem outra ajuda do que os perfis<br />

de cor, sem outro esboço prévio<br />

que não seja o esquema mental,<br />

pelo que as suas criações fazem-nos<br />

participes da sua própria sensibilidade,<br />

do desejo de comunicar o seu<br />

universo plástico mediante certas<br />

pulsões, que vão desde a dramatização<br />

geométrica até ao sossego dos<br />

traços horizontais, largos e frios.<br />

Em cima, um<br />

acrílico de Ernesto<br />

Neves<br />

Em baixo,<br />

“Pinturas en<br />

Expansión” de<br />

Alberto Reguera.<br />

Técnica mista<br />

s/tela, 2<strong>00</strong> x 2<strong>00</strong><br />

x 20 cm<br />

Pág. da esquerda,<br />

óleo de Manuel<br />

Amado<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 63


Vítor Ribeiro<br />

BOAVIDA<br />

Músicas<br />

«À noite» com Carlos do Carmo<br />

“À Noite” é o título genérico do novo CD de Carlos do Carmo. Em abono da verdade, diga-se que o<br />

fadista acaba de protagonizar mais um acontecimento na sua exemplar carreira.<br />

Ocantor seleccionou doze<br />

fados tradicionais (Armandinho,<br />

Marceneiro,<br />

Joaquim Campos) e outros<br />

tantos textos de José Luís Tinoco,<br />

Maria do Rosário Pedreira, Júlio<br />

Pomar, Nuno Júdice, José Manuel<br />

Mendes, Fernando Pinto do Amaral<br />

e Luís Represas.<br />

Na guitarra portuguesa surge<br />

José Manuel Neto, na viola de fado<br />

Carlos Manuel Proença e no baixo<br />

acústico José Marino Freitas.<br />

A capa, a contracapa e interiores<br />

deste CD são ilustrados com dois<br />

retratos de Carlos do Carmo criados<br />

por Júlio Pomar.<br />

Cantor de voz límpida, grave e<br />

convincente, de frases rematadas<br />

com uma peculiaridade única, Carlos<br />

do Carmo atingiu uma maturidade<br />

interpretativa, como jamais alguém<br />

64 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

terá alcançado na História do Fado.<br />

E se, ao longo de quase 50 anos de<br />

carreira, Carlos do Carmo contribuiu<br />

de forma decisiva para a renovação<br />

e revitalização de um género<br />

musical, arrogantemente considerado<br />

menor, mais importante ainda<br />

terá sido, porventura, a acção constante<br />

e empenhada do cantor pela<br />

dignificação do fado e da cultura<br />

fadista, geralmente olhados com<br />

preconceito, mesquinhez e soberba,<br />

pelos chamados “sectores dominantes”<br />

da sociedade portuguesa.<br />

Assim sendo, deve falar-se, sem<br />

exagero e em absoluto, de fado<br />

antes e depois de Carlos do Carmo.<br />

“À Noite” é excepcional porque<br />

consubstancia exemplarmente tudo<br />

o que acima ficou escrito. Com<br />

sobriedade peculiar, firmeza e serenidade,<br />

Carlos do Carmo dá-nos,<br />

mais uma vez, o melhor de si.<br />

Num texto de introdução escrito<br />

propositadamente para este CD,<br />

Rui Vieira Nery afirma: “Nesta lição<br />

de fado dada serenamente por um<br />

grande mestre, cruzam-se sete poetas<br />

que souberam partilhar deste<br />

olhar de Janus, que contempla ao<br />

mesmo tempo o passado e o futuro.<br />

À Noite, naturalmente, porque por<br />

alguma razão mais profunda do<br />

que os habituais clichés que continuam<br />

a assombrar a reflexão sobre<br />

o género, o Fado preferiu desde<br />

sempre este registo intimista de<br />

uma penumbra a envolver o canto<br />

de todas as dores”.<br />

Frequentemente, o álbum “Um<br />

Homem na Cidade” (1977) é integrado<br />

na lista dos 10 mais importantes<br />

discos da História da música<br />

ligeira portuguesa, a par de “Por<br />

Este Rio Acima”, de Fausto ou de<br />

“Cantigas de Maio”, de Zeca Afonso,<br />

entre outros.<br />

Neste outro tempo e na actual<br />

conjuntura, “À Noite” poderá colocar-se<br />

ao lado de “Um Homem na<br />

Cidade”.<br />

SURPREENDENTE<br />

“DONNA MARIA”<br />

Chamam-se “Donna Maria” e acabam<br />

de surgir no mercado discográfico<br />

com o álbum “Música para<br />

Ser Humano”. Uma bela surpresa.<br />

Surpreendente porque ali se concilia<br />

exemplarmente inovação formal<br />

com as mais tradicionais sonoridades<br />

da música popular portuguesa,<br />

surpreendente também<br />

pela qualidade dos textos, surpreendente,<br />

enfim, pela voz de Marisa<br />

Pinto.


“Música para Ser Humano” é, sobretudo,<br />

um trabalho elegante, de<br />

muito bom gosto, que nos convida a<br />

reflectir sobre o presente, embora<br />

não descure o passado. Não será<br />

por acaso que o CD encerra com<br />

uma original versão de “Pomba<br />

Branca”.<br />

Na qualidade de artistas convidados,<br />

intervêm em três temas<br />

Luís Represas e Rão Kyao, Júlio<br />

Pereira e Raquel Tavares.<br />

Para que se faça justiça, aqui ficam<br />

os nomes dos outros dois elementos<br />

do grupo, que assinam, de resto,<br />

uma excelente produção musical:<br />

Miguel Ângelo Majer (bateria, samples<br />

e voz) e Ricardo Santos (piano<br />

acústico, sintetizadores e voz).<br />

Pela amostra dada, poderá ir longe<br />

este grupo empenhado em fazer<br />

“Música para Ser Humano”. ■ Donna Maria


Maria Mesquita<br />

Sobrevivências<br />

A Origem das Espécies e a sobrevivência do mais forte durante um ensaio teatral sobre<br />

a viagem de Darwin, é a aposta do TNDM II, na sala 2 da Escola Politécnica, com a peça<br />

After Darwin, até 28 de Fevereiro.<br />

Nunca Darwin imaginou<br />

que a sua viagem a<br />

bordo do “Beagle”, e as<br />

suas conclusões científicas,<br />

provocassem, dois séculos mais<br />

tarde, uma autêntica luta pelo<br />

poder individualista durante o<br />

ensaio de uma peça teatral sobre<br />

essa mesma viagem. Recontando a<br />

história dos quatro anos e nove<br />

meses que passou a bordo da<br />

embarcação, sob o comando do<br />

Capitão Fitz-Roy, um homem<br />

colérico, profundamente religioso<br />

que não aceitava de bom grado a<br />

evolução no estudo que Darwin ia<br />

obtendo a cada paragem, dois<br />

After Darwin<br />

BOAVIDA<br />

No Palco<br />

66 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

actores e uma encenadora acabam<br />

também eles por sofrer uma crescente<br />

tensão motivada pela lei do<br />

mais forte. A cada momento da<br />

viagem, o nervosismo entre o<br />

homem cientista e homem criacionista<br />

vai aumentado, principalmente<br />

devido à diferença de visões<br />

sobre o mundo biológico; por seu<br />

lado, a cada momento do ensaio,<br />

essa diferença biológica é transformada<br />

numa diferença sobre a<br />

forma de ver e entender o papel do<br />

teatro no mundo regido pelos<br />

Humanos, considerado a manifestação<br />

superior da cultura da nossa<br />

espécie. No final, só o mais forte irá<br />

sobreviver face à resignação dos<br />

restantes, independentemente da<br />

espécie animal a que pertençamos.<br />

O antepassado é comum a todos, e<br />

o elo genético obriga-nos mais<br />

tarde ou mais cedo a mostrar-mos<br />

como podemos sobreviver no<br />

mundo cada vez mais imprevisível.<br />

“ESTÓRIAS ALUADAS”<br />

“Estórias Aluadas”, pela Companhia<br />

TapaFuros, no mítico cenário<br />

da Quinta da Regaleira, em Sintra<br />

até 27 Abril.<br />

Sintra, conhecida também por<br />

Monte da Lua, local de mistérios,<br />

profecias, magia e adoração à Lua,<br />

essa deusa para os povos antigos da<br />

habitavam o litoral e que respeitavam<br />

a Natureza como Mãe de<br />

todas as coisas.


A Companhia Teatral TapaFuros<br />

convidou assim cinco autores sintrenses<br />

com o objectivo de escreverem,<br />

cada um deles, estórias relacionadas<br />

com o magnífico cenário<br />

natural que só a Serra de Sintra<br />

pode proporcionar. Estórias de<br />

fadas, de pirilampos, de grutas e<br />

caminhos rodeados de floresta luxuriante<br />

e verde, que só a Lua pode<br />

contar, porque é sábia e muito antiga,<br />

e sempre esteve presente em<br />

todas as alturas, desde os dias mais<br />

quentes de Verão, quando a Serra<br />

oferece sombra e frescura, aos dias<br />

que começam a ficar mais pequenos,<br />

e mesmo quando a bruma começa a<br />

espreitar pelos montes, castelos, palácios<br />

e quintas, nos dias mais frios.<br />

Assim, os autores escrevem sobre a<br />

natureza e sobre a forma que se<br />

deve respeitá-la, proporcionando,<br />

ao longo de uma viagem pela Quinta<br />

da Regaleira (local de eleição para<br />

as encenações da TapaFuros), um<br />

ensinamento pedagógico sobre ecosistemas<br />

e valorização do património<br />

natural do planeta Terra.<br />

Esta peça teatral tem como principal<br />

objectivo alertar as consciências<br />

dos mais novos, sendo que o espectáculo,<br />

embora aberto a qualquer<br />

faixa etária, seja dedicado a escolas<br />

ou a famílias, onde o contributo de<br />

pais e educadores é essencial para<br />

uma melhor compreensão do tema<br />

Natureza.<br />

FICHAS TÉCNICAS<br />

AFTER DARWIN<br />

De Timberlake Wertenbaker;<br />

Produção: TNDM II; Encenação: Carlos<br />

António; Cenografia | figurinos: Daniela<br />

Roxo; Desenho de luz: Carlos Arroja;<br />

Com: André Levy, Manuel Coelho<br />

e Rita Calçada Bastos<br />

“A Fábrica do Nada”<br />

RESISTIR<br />

Na Sala Principal do Teatro Municipal<br />

de Almada, de 16 a 20 <strong>Janeiro</strong>, “A<br />

Fábrica do Nada”, pelos Artistas Unidos,<br />

é uma peça que conta a história<br />

da vida dos trabalhadores de uma<br />

fábrica, após o seu encerramento.<br />

Após o encerramento da fábrica<br />

de cinzeiros onde trabalhavam,<br />

vários operários resolvem dedicarse<br />

a um novo tipo de produção fabril:<br />

a produção de “nada”. Estranho?<br />

Nem por isso. Em vez de se<br />

revoltarem, irem para a porta da<br />

fábrica, reivindicarem direitos perdidos,<br />

aparecerem na televisão e,<br />

consequentemente irem para casa<br />

com a perspectiva de terem falhado<br />

na vida, estes trabalhadores ocu-<br />

“A FÁBRICA DO NADA”<br />

Encenação: Jorge Silva Melo; Intérpretes:<br />

Américo Silva, António Filipe, António Simão,<br />

Carla Galvão, Hugo Samora, João Meireles,<br />

João Miguel Rodrigues, Miguel Telmo, Mílton<br />

Lopes, Paulo Pinto, Pedro Carraca, Pedro Gil,<br />

Sérgio Grilo, Vítor Correia; Músicos: Gonçalo<br />

Lopes, João Madeira, Miguel Fevereiro, Paulo<br />

Curado, Rini Luyks, Rui Faustino<br />

pam-se em organizarem tarefas,<br />

entre as quais, escolherem novos<br />

gerentes para a fábrica, furtos dos<br />

produtos e tribunais. Em vez de se<br />

agarrarem ao desalento que o nada,<br />

o vazio trazem, estes homens<br />

retomam as rédeas das suas vidas,<br />

contando a história depois da<br />

história. O que sobra quando já não<br />

sobra nada para quem tinha ao que<br />

se agarrar?<br />

Tudo isto, eles vão cantando sob<br />

um espaço onde o som se propaga<br />

em excelente acústica e os músicos<br />

os vão acompanhando. “Não precisamos<br />

de mais nada do que estarmos<br />

uns com os outros porque<br />

força como esta só existe outra, que<br />

também temos: a música.”■<br />

“ESTÓRIAS ALUADAS”,<br />

Encenação: Rui Mário;<br />

Textos: José António Guille, George Till,<br />

Luísa Barreto, Maria Almira Medina, Rui<br />

Mário; Música original: Pedro Hilário;<br />

Interpretação: José Redondo, Rute Lizardo,<br />

Samuel Saraiva.<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 67


BOAVIDA<br />

Cinema em casa<br />

Sérgio Alves<br />

Num tempo de progressiva sensibilização para<br />

as questões ambientais, o leitor poderá rever,<br />

este mês, ainda que de forma parcelar e em<br />

películas tão distintas - “Blade Runner” (versão<br />

original), “Still Life -Natureza Morta” (premiado em<br />

SIMPSONS, O FILME<br />

Baseado numa série de<br />

sucesso, Simpsons chega<br />

finalmente ao cinema depois<br />

de duas décadas de emissão<br />

na televisão. Em<br />

tempo de preocupaçõesambientais,<br />

Homer<br />

vê-se obrigado a<br />

reparar os danos<br />

de uma catástrofe ecológica<br />

em Springfield, que ele<br />

próprio provocou. Uma multidão<br />

sedenta de vingança<br />

aproxima-se da casa dos<br />

Simpson. A família consegue<br />

escapar, mas divide-se em<br />

torno do conflito. Enquanto<br />

o destino de Springfield e do<br />

mundo está por definir,<br />

Homer embarca numa odisseia<br />

de redenção – procurando<br />

o perdão da Marge, a<br />

reunião da família dividida e<br />

a salvação da cidade.<br />

TÍTULO ORIGINAL: The<br />

Simpsons Movie; REALIZAÇÃO:<br />

David Silverman; VOZES: Dan<br />

Castellaneta, Julie Kavner,<br />

Nancy Cartwright, Yeardley<br />

Smith, Harry Shearer;<br />

EUA, 87m, cor, 2<strong>00</strong>7<br />

EDIÇÃO: Castello Lopes<br />

BLADE RUNNER<br />

– PERIGO IMINENTE<br />

Eis-nos perante a reedição,<br />

68 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

No planeta azul<br />

25 anos depois, de um<br />

profético e clássico filme de<br />

ficção científica. Visualmente<br />

espectacular e repleto de<br />

acção, Blade Runner regressa<br />

na versão original e definitiva<br />

do realizador, Ridley<br />

Scott, com a inclusão de<br />

cenas mais longas e efeitos<br />

especiais, eliminados na versão<br />

do produtor.<br />

Um solitário e aposentado<br />

detective do século XXI, Rick<br />

Deckard (Harrison Ford) é<br />

intimado a regressar à actividade<br />

(2019) para dar caça a<br />

fugitivos<br />

andróides<br />

assassinos.<br />

Baseado na<br />

obra de Philip<br />

K. Dick, “Do<br />

Androids<br />

Dream of Electric Sheep?”, o<br />

filme conduz-nos a um<br />

mundo afectado por catástrofes<br />

ambientais, cidades<br />

destruídas e fuga para colónias<br />

espaciais. A banda sonora<br />

de Vangelis e o inesperado<br />

e tenso romance de Deckard<br />

com Raquel dão o suporte<br />

adequado a um notável e<br />

revelador filme de culto.<br />

TÍTULO ORIGINAL: Blade<br />

Runner; Realização: Ridley<br />

Scot; COM: Harrison Ford,<br />

Rutger Hauer, Sean Young,<br />

Veneza) e a inédita longa metragem dos Simpsons – ,<br />

diferentes e criativas abordagens a um tema vital para a<br />

sobrevivência do planeta. Destaque ainda para uma<br />

nova e premiada versão (francesa) de “Lady Chatterley”,<br />

baseada no célebre romance de D.H. Lawrence.<br />

Edward James Olmos; EUA,<br />

117m, cor, 1982<br />

EDIÇÃO: Castello Lopes<br />

LADY CHATTERLEY<br />

No castelo dos Chatterley,<br />

Constance vive dias<br />

monótonos, junto de um<br />

marido inválido. O dever de<br />

fidelidade é, entretanto, abalado<br />

por intensos e apaixonados<br />

encontros<br />

amorosos com<br />

Oliver, o guarda<br />

de caça da<br />

propriedade. O<br />

filme, baseado<br />

no romance homónimo de<br />

D.H. Lawrence, duramente<br />

hostilizado, e considerado<br />

pornográfico, aquando da<br />

sua publicação (1928), é a<br />

história, sensível e magnificamente<br />

interpretada, do reencontro,<br />

humano e vital, de<br />

uma mulher que reavivou a<br />

adormecida sensualidade. Os<br />

cinco Césares (galardão máximo<br />

do cinema francês),<br />

atribuídos em 2<strong>00</strong>7, justificam<br />

plenamente a nossa escolha.<br />

TÍTULO ORIGINAL: Lady<br />

Chatterley; REALIZAÇÃO:<br />

Pascale Ferran; COM: Marina<br />

Hands, Jean-Louis Coulloc’h,<br />

Hippolyte Girardot; França,<br />

158m, Cor, 2<strong>00</strong>6<br />

EDIÇÃO: Atalanta Filmes<br />

STILL LIFE<br />

– NATUREZA MORTA<br />

A construção da gigantesca<br />

barragem das Três Gargantas<br />

no rio Yangtse vai submergir<br />

a velha cidade de Fengjie. O<br />

mineiro Han Saming viaja<br />

para Fengjie. Quer reencontrar<br />

a filha e a ex-mulher, que<br />

não vê há 16 anos. Um reencontro<br />

feliz… Han e Missy<br />

voltam a casar. Final diferente<br />

para Shen Hong, uma<br />

enfermeira que viaja para<br />

Fengjie à procura do seu<br />

marido, ausente há dois<br />

anos. Abraçam-se e<br />

dançam junto à<br />

barragem. Mas o<br />

marido tem outra<br />

mulher, dona da<br />

empresa de<br />

demolições da cidade. O<br />

reencontro termina em<br />

divórcio. Retrato impressivo<br />

das vertiginosas mudanças<br />

económicas, sociais e ambientais<br />

do imenso país asiático,<br />

“Sanxia Haoren” teve a<br />

máxima consagração no<br />

Festival de Veneza 2<strong>00</strong>6.<br />

TÍTULO ORIGINAL: Sanxia<br />

Haoren; REALIZAÇÃO: Jia Zhang-<br />

Ke; COM: Zhao Tao, Han<br />

Sanming, Li Zhubin, Hong Wei<br />

Wang, Haiyu Xiang, Zhou Lin;<br />

China, 108m, cor, 2<strong>00</strong>6<br />

EDIÇÃO: Atalanta Filmes


Carta de intenção<br />

BOAVIDA<br />

Cineclube<br />

Não foram os “cineclubes” que me iniciaram no cinema. Comecei a ir ao cinema muito cedo<br />

e as primeiras vezes precederam até a actividade moralizadora e pedagógica<br />

da “classificação dos espectáculos”.<br />

Miguel Freitas da Costa<br />

Não fui ver especialmente<br />

filmes “para crianças”,<br />

que não eram muitos<br />

(estreavam-se e reestreavam-se<br />

as primeiras longas-metragens<br />

de desenhos animados de Walt<br />

Disney, a começar pela Branca de<br />

Neve e os Sete Anões, de 1937, que<br />

vi numa das suas reposições, além<br />

do Bambi, 1953, etc., que ainda hoje<br />

circulam e não perdem, até ganham,<br />

na comparação com muitas<br />

das produções mais recentes e mais<br />

preguiçosas). Os primeiros filmes<br />

que me lembro de ver, no São Luiz e<br />

no Monumental, foram o Cyrano de<br />

Bergerac, numa excelente versão<br />

americana, com o grande actor José<br />

Ferrer, As Minas de Salomão e O<br />

Facho e a Flecha, todos de 1950 e<br />

todos com muito que se lhes poderia<br />

dizer. Ainda tenho os “programas”.<br />

Mas foi na incipiente actividade<br />

cineclubísta do Colégio S. João<br />

de Brito que pela primeira vez vi<br />

publicado um texto meu de “crítica<br />

de cinema”. Tinha quinze anos – e<br />

ganhei o primeiro e último<br />

“prémio” da minha vida no cinema<br />

(o filme era o Moby Dick, de John<br />

Huston). Depois, houve muitos outros<br />

filmes e outros cineclubes.<br />

Numa das melhores e mais sucintas<br />

definições que encontrei, um<br />

“cineclube” é uma “associação que<br />

reúne apreciadores de cinema para<br />

fins de estudo e debates e para<br />

exibição de filmes seleccionados<br />

(Dicionário Houaiss de Língua<br />

Portuguesa). Diz tudo, na sua generalidade.<br />

Na Enciclopédia Verbo,<br />

Fernando Garcia escreve que um<br />

“cineclube” é uma “associação constituída<br />

para proporcionar aos seus<br />

membros espectáculos de cinema<br />

seleccionados. Os C. apareceram em<br />

1920, em consequência da acção dos<br />

primeiros teóricos da expressão cinematográfica<br />

e dos primeiros estudos<br />

de estética de cinema, em especial<br />

devidos a Louis Delluc e Canudo...“<br />

e assim por diante. A<br />

citação serve principalmente para<br />

lembrar e prestar homenagem a um<br />

importante e por demais esquecido<br />

cinéfilo e cineasta português, autor<br />

deste verbete e de muitos outros na<br />

rubrica de cinema da Verbo. Mas ao<br />

ser mais extenso e “histórico” do<br />

que a concisa definição dos dicionários,<br />

o artigo não é tão indiscutível.<br />

Há certos aspectos práticos, culturais<br />

e políticos que mereciam mais<br />

desenvolvimento, em particular<br />

quanto a Portugal, em que muitos<br />

dos “cineclubes”, na sua “idade de<br />

ouro”, foram palco privilegiado do<br />

“combate cultural” e um dos principais<br />

portos de abrigo e rampas de<br />

lançamento da crítica marxista, uma<br />

história que não vi ainda contada, a<br />

não ser na perspectiva oca e pouco<br />

esclarecedora da “luta antifascista”.<br />

Há muitos tipos de “cineclube”,<br />

de diferentes importâncias e modelos<br />

e muito diferentes meios (nem<br />

todos podem publicar uma luxuosa<br />

revista de cinema como a “Film<br />

Society” - outro nome para “cineclube”<br />

- do Lincoln Center de Nova<br />

Iorque, que edita a Film Comment).<br />

Há “cineclubes” na Internet. Este<br />

modesto CINECLUBE, que não<br />

projecta filmes, vai dedicar-se, na<br />

medida das suas possibilidades, a<br />

tentar situar, comentar e relacionar<br />

entre si e com outras áreas da vida<br />

a programação cinematográfica<br />

que está ao alcance da maioria das<br />

pessoas, na televisão, no cinema<br />

(quando seja caso disso) e na vasta<br />

cinemateca que hoje se pode levar<br />

para casa. Tendo sempre presente<br />

que o cinema abre todas as portas:<br />

o realizador francês François<br />

Truffaut escreveu que pertencia a<br />

uma geração que tinha conhecido<br />

Shakespeare graças aos filmes de<br />

Orson Welles. Mais recentemente,<br />

um personagem do filme Grand<br />

Canyon dizia a outro: “Um dos<br />

teus problemas é que não vais<br />

muito ao cinema. Todos os enigmas<br />

da vida têm resposta nos filmes”.<br />

Verão que sim. ■<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 69


Pedro Soares<br />

BOAVIDA<br />

À mesa<br />

Boa alimentação à mesa<br />

do doente Celíaco<br />

Estima-se que sejam cerca de 1<strong>00</strong> mil os portugueses afectados pela doença celíaca.<br />

A doença celíaca é uma doença auto-imune que afecta o intestino delgado de crianças e adultos<br />

que já estão geneticamente predispostos.<br />

Os sintomas podem<br />

incluir diarreia, dificuldades<br />

no desenvolvimento<br />

das crianças,<br />

perda de peso e fadiga. Em adultos,<br />

o quadro clínico mais comum é a<br />

anemia podendo, o aparecimento<br />

da intolerância ao glúten, estar relacionada<br />

com uma forte alteração<br />

emocional como uma mudança de<br />

emprego ou a morte de um familiar.<br />

O aparecimento da doença é precipitado<br />

pela ingestão de alimentos<br />

que contêm glúten como o trigo,<br />

centeio, cevada e aveia. A doença<br />

causa atrofia de algumas regiões do<br />

intestino prejudicando a absorção<br />

de nutrientes como vitaminas, sais<br />

minerais e água.<br />

A única forma de tratamento da<br />

doença celíaca baseia-se na ingestão<br />

de uma dieta rigorosamente sem<br />

glúten. Esta situação<br />

obriga a um conhecimento<br />

profundo da<br />

composição dos alimentos<br />

por parte da<br />

família e dos doentes, a<br />

determinadas regras na<br />

confecção culinária e a<br />

um grande auto-controlo.<br />

Como se percebe,<br />

esta não é uma doença fácil, em especial<br />

para crianças e adolescentes.<br />

Obriga as famílias a se unirem e a<br />

aprenderem em conjunto. O objectivo<br />

passa por transmitir ao doente<br />

70 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Uma das<br />

primeiras<br />

coisas a fazer<br />

é perceber<br />

quais os<br />

alimentos<br />

que contêm<br />

glúten<br />

uma série de regras para que progressivamente<br />

vá ficando mais<br />

autónomo. Para uma criança tornase<br />

muito importante que mantenha<br />

a sua actividade escolar normal.<br />

Deve-se indicar à escola e aos<br />

responsáveis escolares toda a informação<br />

necessária para que a criança<br />

cumpra a dieta de forma natural sem<br />

se sentir descriminada, cabendo aos<br />

pais uma intervenção firme mas ao<br />

mesmo tempo possibilitando o convívio,<br />

as saídas e toda a vida social de<br />

um jovem nesta idade.<br />

Nestas situações, uma das primeiras<br />

coisas a fazer é perceber quais<br />

os alimentos que contêm glúten.<br />

Entre estes podemos indicar o pão,<br />

bolos, pasteis, massas e biscoitos.<br />

Existem também outro tipo de alimentos<br />

para os quais é necessária<br />

vigilância acrescida. São os alimentos<br />

que podem conter glúten ou não,<br />

dependendo se a estes são adicionadas<br />

farinhas de<br />

trigo, centeio, cevada ou<br />

aveia. Como exemplos<br />

podemos indicar os<br />

enchidos, gelados, queijos<br />

fundidos, conservas e<br />

patés e sucedâneos de<br />

café ou chocolate. A leitura<br />

de rótulos é muito<br />

importante nestes casos e<br />

quando existirem dúvidas devem ser<br />

consultados os pediatras e nutricionistas<br />

que acompanham as crianças.<br />

Atenção especial deve ser<br />

dada aos espessantes, aos extractos<br />

de levedura e a certos aditivos derivados<br />

de amidos modificados como o E<br />

1404, E 1410, E 1412, E 1413, E 1414, E<br />

1420 e E 1440. Existem listas actualizadas<br />

de alimentos sem glúten e<br />

uma Associação dos Doentes com<br />

Intolerância ao Glúten. Existe ainda<br />

um símbolo internacional que identifica<br />

os alimentos “sem glúten” garantindo<br />

uma maior segurança aos consumidores.<br />

Este tipo de simbologia é<br />

muito importante porque alguns alimentos<br />

da mesma marca podem ter<br />

diferentes composições em países<br />

diferentes. O que obriga a cuidados<br />

redobrados quando se viaja para o<br />

estrangeiro ou quando as listas são<br />

internacionais.<br />

Colocados os cuidados e restrições<br />

convém relembrar que a vida de um<br />

doente celíaco pode e deve ser recheada<br />

de alimentos e receitas bem<br />

saborosas. As farinhas sem glúten<br />

(de arroz, de pau, milho, araruta) a<br />

fécula de batata e o amido de trigo<br />

sem glúten permitem uma culinária<br />

inventiva e saborosa. Com pequenas<br />

adaptações pode compensar-se a<br />

menor elasticidade destas massas,<br />

utilizando um pouco mais de fermento,<br />

gordura, frutos secos ou<br />

ovos. Os alimentos sem glúten como<br />

o leite e iogurtes, as carnes e peixes,<br />

os ovos, as hortaliças, leguminosas,<br />

arroz, milho e tapioca, frutas frescas<br />

e secas, o mel, açúcar, azeite e vinho<br />

não contém glúten e permitem uma<br />

vida saudável, saborosa e duradoura<br />

a estas pessoas. Ainda bem. ■


Quando a tiróide<br />

adoece<br />

A dona M.J. é uma senhora de sessenta e poucos anos. É modista,<br />

mas já não trabalha “para fora”. Vive com uma sobrinha que ajudou<br />

a criar e que é como se fosse sua filha. Foi sempre uma senhora<br />

saudável, embora de aspecto frágil. Esconde lá dentro de si uma<br />

enorme força de vontade com que enfrenta as adversidades da vida.<br />

M.Augusta Drago<br />

Q<br />

uando a conheci há<br />

cerca de dois anos,<br />

tinha um ar ainda<br />

mais frágil do que<br />

hoje. Disse que se sentia irritável,<br />

inquieta, ao mesmo tempo que lhe<br />

tremiam as mãos. O coração andava<br />

num alvoroço, batia muito rapidamente<br />

e este desassossego não a<br />

deixava dormir. Acordava frequentemente<br />

durante a noite e também<br />

lhe parecia que o comer não lhe<br />

aproveitava: comia como dantes ou<br />

mais e sentia-se emagrecer.<br />

Na sua aparência havia um aspecto<br />

que não mencionara mas que<br />

me chamou desde logo a atenção –<br />

os olhos estavam muito abertos e<br />

um pouco salientes.<br />

Este é o quadro clínico duma do-<br />

ença chamada hipertiroidismo. A<br />

maioria dos doentes com esta patologia<br />

apresenta-se nas consultas<br />

com estas queixas e ainda outras,<br />

como a pele seca, perda de cabelo<br />

(cabelo frágil e quebradiço) e múltiplas<br />

dejecções por dia. É frequente<br />

o aumento de volume da tiróide e<br />

as pessoas nestas circunstâncias<br />

queixam-se de dificuldade em engolir<br />

ou referem o aumento de volume<br />

do pescoço.<br />

A tiróide é uma glândula endócrina<br />

localizada na base do pescoço e produz<br />

duas substâncias (hormonas): a<br />

tiroxina (T4) e a tri-iodotironina (T3).<br />

Estas substâncias, em quantidades<br />

equilibradas, ajudam a regular o<br />

metabolismo do corpo. Estas hormonas,<br />

ao circularem através do<br />

sangue por todo o corpo, ajudam-no<br />

a manter a sua temperatura, regulam<br />

BOAVIDA<br />

Saúde<br />

o consumo de calorias e auxiliam na<br />

recuperação dos músculos.<br />

Se a tiróide libertar grande quantidade<br />

de hormonas, então o metabolismo<br />

corporal acelera e dizemos<br />

que o doente sofre de hipertiroidismo,<br />

como a dona M.J..<br />

A situação inversa é quando a<br />

tiróide liberta poucas quantidades<br />

de T3 e T4. O doente nestas condições<br />

sofre de hipotiroidismo e as<br />

suas queixas são, ao contrário do<br />

hipertiroidismo, sensação de falta<br />

de energia, lentidão, cansaço, por<br />

vezes dormita. Refere ainda perda<br />

de memória e obstipação. Estes sintomas<br />

no idoso podem levar a pensar<br />

que se trata do próprio processo<br />

de envelhecimento e a não actuar.<br />

É por isso que é mandatório a<br />

partir de uma certa idade fazer um<br />

estudo da função tiroideia, porque<br />

no caso de serem detectadas alterações,<br />

estas poderem ser medicamente<br />

corrigidas.<br />

O hipotiroidismo pode ser tratado<br />

com uma hormona sintética, a levotiroxina,<br />

e na maior parte dos doentes<br />

a sintomatologia regride rapidamente.<br />

Depois de se ter acertado a<br />

dose de medicamento necessária<br />

para manter os níveis normais das<br />

hormonas, a vigilância é feita com<br />

análises e exame clínico anual.<br />

Em relação ao hipertiroidismo, o<br />

tratamento é feito com fármacos<br />

antitiroideus para reduzirem o excesso<br />

de hormona produzida. Os<br />

medicamentos podem no entanto<br />

causar reacções adversas para as<br />

quais o seu médico de família lhe<br />

chamará a atenção. A cirurgia para<br />

remoção de parte da tiróide pode<br />

ainda estar indicada em raros casos.<br />

Qualquer dos tratamentos de que<br />

dispomos tem de ser adaptado às<br />

características do doente e depende<br />

da idade, se sofre de outras doenças,<br />

se deseja engravidar, etc… ■<br />

medicofamília@clix.pt<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 71


BOAVIDA<br />

Tempo informático<br />

Fernando Pessoa utilizou esta frase que nasceu da mente privilegiada de Petrarca, para quem o<br />

termo “preciso”, ao contrário, como se julga, de algo que é necessário,<br />

está associado a técnica exacta.<br />

Gil Montalverne<br />

Aqui aplicamos os dois significados.<br />

Para melhorar<br />

o conhecimento “navegar<br />

é preciso”. Naveguemos<br />

pois na Internet e não só,<br />

utilizando as novas tecnologias.<br />

Para melhor navegar quando<br />

transportamos o nosso portátil, a<br />

Logitech lançou o Nano, um minirato<br />

sem fios que usa um nanoreceptor,<br />

tão pequeno que depois de<br />

ligado à porta USB apenas fica a<br />

descoberto cerca de 6 mm. Liga-se<br />

apenas uma vez e podemos esquecê-lo,<br />

pois não prejudica a arrumação<br />

do portátil na mala e o Nano<br />

estará sempre pronto a usar. A sua<br />

tecnologia laser proporciona um<br />

controlo do cursor mais suave em<br />

quase todas as superfícies e com ele<br />

se pode navegar por documentos<br />

longos a uma velocidade hiper-elevada.<br />

Navega-se melhor na estrada ou<br />

na cidade com um GPS. E o novo<br />

O receptor está<br />

colocado na<br />

parte inferior<br />

do rato<br />

72 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Navegar é preciso<br />

modelo do Via-Michelin lançado<br />

pela NET-BIT permite melhor navegação,<br />

mais segurança e mais prazer<br />

e conforto, incluindo um leitor de<br />

MP3. Com as várias versões, entre o<br />

X960 para Portugal/Espanha (169<br />

Euros) e o X980T para a toda a<br />

Europa (349 E), este com Bluetooth,<br />

mãos livres e ecrã panorâmico, existem<br />

outros 3 para todas as bolsas ou<br />

exigências. Permitem definir etapas<br />

intermédias, avisar sobre Curvas<br />

Perigosas, aproximação de Escolas,<br />

Radares Fixos, etc. tudo com actualizações<br />

regulares. O nome Michelin<br />

é garantia de precisão nas informações<br />

e os célebres Guias Vermelho<br />

(restauração e<br />

hotéis) e Verde (os<br />

mais importantes<br />

pontos turísticos<br />

com 30.<strong>00</strong>0 fotografias)<br />

e a informação<br />

da previsão<br />

do tempo para os<br />

próximos cinco dias, garantem<br />

de facto uma navegação<br />

precisa. Além de tudo<br />

isto, se desejar planear a<br />

sua viagem no site da<br />

Michelin, pode depois sincronizar<br />

para o seu GPS o<br />

trajecto escolhido.<br />

Mas há outros processos<br />

de navegar para entrar noutro<br />

mundo. O mundo do conhecimento<br />

é o que enche a famosa<br />

Enciclopédia Britannica,<br />

agora na edição de <strong>2<strong>00</strong>8</strong> que<br />

acaba de nos chegar às mãos.<br />

Continua a ser a mais completa<br />

enciclopédia em língua Inglesa. Um<br />

DVD que inclui os notáveis 47 volumes<br />

da edição impressa, com<br />

mais de 1<strong>00</strong>.<strong>00</strong>0 artigos, obras completas,<br />

clipes de<br />

Audio e vídeo, mapas<br />

mundiais actualizados.<br />

Incluindo a ciência,<br />

a política, o<br />

desporto, tem a<br />

vantagem de<br />

poder ser consultada<br />

em três modos<br />

diferentes, para adultos,<br />

estudantes dos 10 aos 14 ou crianças<br />

dos 6 aos 10. Credível, eficiente<br />

e sempre actualizável, ficamos<br />

a conhecer os artigos do ano<br />

escritos por intelectuais, prémios<br />

Nobel e os melhores especialistas<br />

mas diversas matérias. Adquirida<br />

pela Internet, navegar nela… é preciso.<br />

■<br />

ajuda@gil.com.pt


Carlos Blanco<br />

ETANOL: o Etanol, que<br />

serve de base aos bioetanol<br />

e ao biodiesel, pode<br />

ser usado em várias<br />

proporções: a 85/15 de etanol/gasolina,<br />

é chamado E85 bioetanol; se<br />

a mistura for 5/95, de etanol/diesel,<br />

é o chamado B5 biodiesel. O Brasil<br />

é o principal produtor de etanol do<br />

mundo. Sintra foi município pioneiro<br />

em Portugal na instalação de<br />

um posto de abastecimento de<br />

biodiesel, há dois anos, usado sobretudo<br />

por transportes públicos.<br />

Do lado das vantagens contabilizase<br />

o facto de se poder reciclar óleos<br />

usados ou cultivar a matéria-prima<br />

vegetal e não serem necessárias<br />

grandes alterações tecnológicas aos<br />

actuais motores. Mas o biodiesel<br />

tem emissões poluentes de Nox,<br />

não serve para motores anteriores a<br />

1992 e o cultivo intensivo prejudica<br />

os campos.<br />

ELECTRICIDADE: poder<br />

carregar a bateria do<br />

carro como o telemóvel<br />

pode ser uma alternativa<br />

a curto prazo. Mas antes de haver<br />

um veículo totalmente eléctrico<br />

(plug-in), a solução irá passar por<br />

uma fase de upgrade dos actuais<br />

híbridos. Ou seja, ter baterias eléctricas<br />

com mais potência que o<br />

motor tradicional. Um carro totalmente<br />

eléctrico permite a erradicação<br />

das emissões poluentes. O<br />

problema é o armazenamento da<br />

energia: para serem pequenas e<br />

leves, as baterias de níquel têm<br />

pouca capacidade (a autonomia<br />

média anda nos 60 quilómetros),<br />

tornam-se caras e não são eternas.<br />

As de lítio, preferidas pelos construtores,<br />

são sensíveis ao calor e<br />

precisam de ventilação. E carregar<br />

uma bateria não é como meter<br />

gasolina: são precisas várias horas.<br />

HIDROGÉNIO: é a solução<br />

que mais problemas<br />

técnicos levanta e que<br />

mais dinheiro tem consumido<br />

aos departamentos de investigação.<br />

O hidrogénio (pilha de<br />

combustível) pode ser usado no<br />

estado líquido ou gasoso. A grande<br />

BOAVIDA<br />

Ao Volante<br />

Combustíveis alternativos<br />

face ao aumento do petróleo<br />

O petróleo chega aos cem dólares, os combustíveis aumentam. Há, pois, que procurar novas<br />

alternativas: o etanol, a electricidade e o hidrogénio são disso exemplo.<br />

vantagem é o facto de ter emissões<br />

não poluentes – apenas vapor de<br />

água. Por outro lado, é muito caro<br />

produzir hidrogénio, é difícil de<br />

armazenar e distribuir no estado<br />

gasoso. E no estado líquido tem que<br />

ser mantido a 253 graus negativos,<br />

o que torna impossível de usar nos<br />

automóveis. Há quem defenda que<br />

não é solução a médio prazo, mas<br />

construtores como a General Motors,<br />

Toyota, Honda e BMW têm<br />

feito experiências ultimamente. Até<br />

aqui, não passam de concept-cars.<br />

A entrada nas linhas de produção<br />

deverá levar pelo menos 15 anos.<br />

Assim os automóveis híbridos<br />

representam, para já, a melhor hipótese<br />

de diminuir as emissões de<br />

CO2 para atmosfera. ■<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 73


1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15<br />

SOLUÇÕES<br />

1-GOIS; GERES; GAIO. 2-OBRAIS; O; ANIMAR. 3-IESIM; M S; ABATE:<br />

4-IR; S; PARIS; A; EM. 5-AOS; CALAMOS; USO. 6. S; OVOS; M; NUAS;<br />

S. 7-CRISTO; TEMIAS. 8-S; ILEO; M; TEAR; F. 9-IBA; URSINOS; ALA.<br />

10-NU; P; AUTOS; A; EM. 11- TRAIA; ARA; AMIGO. 12-REGALO; A;<br />

BRIDAS. 13-ALAR; SALVA; RARO.<br />

Xadrez > por Joaquim Durão<br />

Henri Rinck (1870-1952), engenheiro<br />

químico francês e xadrezista amador<br />

dedicado à composição de problemas e<br />

sobretudo de finais artísticos, foi sem<br />

dúvida um dos mais destacados do<br />

século passado. Em 1924 cometeu a<br />

proeza de num mesmo concurso,<br />

arrebatar os três primeiros prémios. Além<br />

da famosa obra “As Surpresas da Teoria”<br />

(da composição), deixou colectânea de<br />

referência: 150 Finais (1907) 3<strong>00</strong> (1919),<br />

7<strong>00</strong> (1927) e 1414 (1951). Harmonia e<br />

simplicidade – com a sua dificuldade,<br />

obviamente – são três características das<br />

suas obras, como a de hoje, uma pequena<br />

obra-prima.<br />

AS BRANCAS JOGAM E GANHAM<br />

Continuando com a beleza, relembramos<br />

a Partida Imortal – a primeira baptizada<br />

com a designação. Extraordinária<br />

combinação final para 1851 – a época<br />

romântica do xadrez, pelo alemão Adolf<br />

Anderssen (Breslau, 06.08.1818 –<br />

09.03.1878) que, com brancas derrota o<br />

russo Kieseritsky (01.01.1806 –<br />

18.05.1853), natural da Livonia – antiga<br />

74 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas<br />

Horizontais:<br />

1-Sede de concelho do distrito de Coimbra; Crias; Esperto. 2-<br />

Fabricais; Alentar. 3-Veio de madeira; Espaço de tempo; Humilha.<br />

4-Caminhar; Capital europeia; Sobre. 5-Ós; Cortamos; Trejo. 6-<br />

Origens; Despidas. 7-Redentor; Receavas. 9-Elemento de construção<br />

de palavras que traduz a ideia de “intestino”; Maquinismo<br />

para tecer. 9-Nome pessoal masculino; Ursídeos; Enfiada.10-Sem<br />

roupa; Actos; Entre. 11-Atraiçoe; Pedra de altar; Afeiçoado. 12-<br />

Prazer; Conjunto das rédeas, freio e cabeçada. 13-Erguer; Ovação;<br />

Invulgar.<br />

Verticais:<br />

1-Gigante filisteu morto por David; Sede de concelho dos arredores<br />

de Lisboa. 2-Agravo; Pano grosseiro de Ia. 3-”Imposto sobre o<br />

Rendimento das Pessoas Singulares” (Sigla). Nome pessoal feminino;<br />

Nome da oitava letra do alfabeto português. 4-Desapareces;<br />

Miserável; Dar pios. 5-Pref. de “negação”; Costurou; Ao. 6-Símbolo<br />

da “Unidade electromagnética”; Pegureira; Elos. 7-Achaque;<br />

Transpira. 8-Rataram; Que tem forma de mitra. 9-Afirmativa; Hora<br />

canónica. 10-Sua; Sátiras; Ama-seca. 11-”Sódio” (s.q.); Fazes desaparecer;<br />

Viração. 12-Corcova; Ama; Emir. 13-Estalajadeira;<br />

Utilizara; Nome pessoal feminino. 14-Barcos de recreio; Deixar. 15-<br />

Rezemos; Brilhante.<br />

província russa, agora dividida entre a<br />

Estónia e a Letónia, mas residente em<br />

Paris desde 1839.<br />

Londres, 1851. Gambito de Rei Aceite. 1,<br />

e4 e5 2. f4 exf4 3.Bc4 Dh4+ 4.Rf1 b5?! (3.<br />

Bc4 também Fischer jogou mais tarde,<br />

mas este lance, fraco, tem que ser<br />

entendido nas mãos de um mestre, com a<br />

época romântica a que pertence a<br />

partida. Pretende-se, a troco de um peão,<br />

situar pior o Bc4 e deixar livre “b7” para o<br />

B. Tudo pelo ataque e ganhos de<br />

“tempos”. A partir daqui tudo é mais<br />

lógico, apesar da complexidade da<br />

combinação final. 5.Bxb5 Cf6 6.Cf3 Dh6<br />

7.d3 Ch5 8.Ch4! Dg5 9.Cf5 c6 10.g4! Cf6<br />

11. Tg1! (Sacrifica-se o B para ganhar<br />

tempos e perseguir a dama preta) cxb5<br />

12. h4 Dg6 13. h5 Dg5 14. Df3 Cg8 15.<br />

Bxf4 Df6 16. Cc3 Bc5 17. Cd5! Dxb2<br />

18.Bd6!! (Nascendo o chamado “sacrifício<br />

imortal das duas torres”) Bxg1 19. e5!! (O<br />

grande detalhe: corta a diagonal à dama,<br />

negando-lhe a defesa do mate) Dxa1+<br />

20. Re2 Ca6 (salva um mate, mas há<br />

outro) 21. Cxg7+ Rd8 22. Df6+!! Cxf6 23.<br />

Be7++.<br />

SOLUÇÕES<br />

1. Bd5+ Rxd5 (Óbvio. se R joga diferentemente 2.<br />

Bxa8 e o final é fácil para as brancas, com a figura<br />

de vantagem) 2. dxe7 g2 (Forçado. Se qualquer<br />

outra, 3. d8=D e esta dama evitará a coroação do<br />

peão “g” preto) 3. d8=C! (se 3.d8=D, g1=D 4.<br />

Dxa8+ Re6 e as brancas não têm mais que o<br />

empate) g1=D ou qualquer outra figura, ou ainda<br />

se joga o peão “d” inevitavelmente 4. c4 mate. A<br />

promoção a C é um detalhe de grande efeito<br />

estético.


Este cupão só é válido na compra<br />

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Clube Tempo Livre –<br />

LIVROS, Calçada de<br />

Sant’Ana n<strong>º</strong> 180 –<br />

1169-062 Lisboa, o<br />

seguinte:<br />

● Pedido, referenciando<br />

a editora e o título<br />

da obra pretendida;<br />

● Cheque ou Vale dos<br />

Correios, correspondente<br />

ao valor (PVP)<br />

do livro, deduzindo<br />

2,74 <strong>euros</strong> de desconto<br />

do cupão.<br />

● Portes dos Correios<br />

referente ao envio da<br />

encomenda, com<br />

excepção do<br />

estrangeiro, serão<br />

suportados pelo Clube<br />

Tempo Livre. Em caso<br />

de devolução da<br />

encomenda, os custos<br />

de reenvio deverão ser<br />

suportados pelo<br />

associado.


CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS<br />

CAMPO DAS LETRAS<br />

MEU PRIMEIRO LAROUSSE<br />

O NOSSO PLANETA<br />

Vários Autores<br />

ISBN: 978-989-625-151-2<br />

156 pg. | 15,12 (PVP)<br />

Um livro para<br />

compreender melhor a<br />

nossa Terra. Por que é ela<br />

tão bela e tão frágil?<br />

Como é que se formou?<br />

Por que é que houve<br />

dinossauros e homens préhistóricos.<br />

Por que é que<br />

há vulcões e tremores de<br />

terra? Que podemos fazer<br />

para preservar o ar, a<br />

água, as florestas, os<br />

animais?<br />

ESPOSA DE ASSUÃO<br />

Rula Jebreal<br />

ISBN: 978-989-625-237-3<br />

252 pg. | 14,70 (PVP)<br />

Relato de uma vida<br />

dramaticamente<br />

entrelaçada com quase um<br />

século de história do Médio<br />

Oriente, este romance de<br />

tom biográfico e histórico, é<br />

também uma apaixonante<br />

história de amor, ódio e<br />

guerra.<br />

Odiada, ofendida,<br />

perseguida: no início do<br />

século XX, a família de<br />

Mazen Qupti, comerciante<br />

de Assuão, vive na própria<br />

pele a tragédia dos cristãos<br />

coptas no Egipto, suspeitos<br />

de colaboracionismo com o<br />

protectorado inglês pela<br />

maioria muçulmana.<br />

FERNÃO LOPES -<br />

CRÓNICAS (DE D. PEDRO I,<br />

D. FERNANDO E D. JOÃO<br />

I)<br />

Fernão Lopes<br />

ISBN: 978-989-625-238-0<br />

456 pg. | 70 (PVP)<br />

Em frases curtas ilumina as<br />

figuras, enreda-as nas teias<br />

do amor ou do ódio, faz<br />

andar e ferver as multidões.<br />

76 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Certos capítulos são<br />

retábulos onde lemos e<br />

ouvimos os actores na sua<br />

nua humanidade.<br />

O quotidiano entra com o<br />

seu ruído e falas nas<br />

informações históricas e<br />

jurídicas.<br />

Uma antologia de António<br />

Borges Coelho sobre Fernão<br />

Lopes, considerado um dos<br />

antepassados do repórter.<br />

MEU GRANDE LAROUSSE<br />

DE MONSTROS E<br />

DRAGÕES<br />

Benoît Delalandre<br />

ISBN: 978-989-625-153-6<br />

144 pg. | 16,80 (PVP)<br />

O Badilisco, a<br />

Mandrágora,/a Fénix, os<br />

Trolls…/Vivem nas nossas<br />

lendas/e desde sempre<br />

fazem parte/do nosso<br />

mundo.<br />

Rosnam, cospem fogo/e<br />

veneno. São enormes/ou<br />

minúsculos, magníficos/ou<br />

muito feios.<br />

Metem muito medo,/mas<br />

escondem por vezes/um<br />

coração terno.<br />

Aí estão os Monstros!<br />

TERCEIRO ANJO - JOSÉ<br />

RODRIGUES - ANJOS EM<br />

DESCONSTRUÇÃO<br />

Nuno Higino<br />

ISBN: 978-989-625-215-1<br />

120 pg. | 24, 99 (PVP)<br />

Toda a obra de José<br />

Rodrigues (Luanda, 1936)<br />

está povoada de anjos. Os<br />

Anjos pintados,<br />

desenhados ou esculpidos<br />

são a sua voz, o efeito do<br />

seu gesto: neles se aloja um<br />

mundo (vários mundos) que<br />

há muito tempo deixou<br />

morrer os anjos.<br />

São anjos em retirada [como<br />

os deuses, segundo<br />

Hölderlin e Heidegger que,<br />

na sua fuga, ainda<br />

desenham um rasto de<br />

promessa.<br />

O CERCO<br />

Helen Dunmore<br />

ISBN: 978-989-625-212-0<br />

392 pg. | 19,95 (PVP)<br />

No Inverno de 1941, os<br />

tanques alemães cercam<br />

Leninegrado. Isolada do<br />

mundo, a cidade definha,<br />

martirizada. Nas ruas, nos<br />

parques, nas casas, as<br />

pessoas vão morrendo de<br />

fome e de frio.<br />

A autora contrapõe o amor<br />

e o ódio, a barbárie e a<br />

amizade, a vida e a morte,<br />

para construir uma obra<br />

impressionante, onde a<br />

guerra é vista no seu lado<br />

mais humano.<br />

DITORIAL PRESENÇA<br />

O ESPIÃO FIEL<br />

Alex Berenson<br />

ISBN: 978-972-23-3850-9<br />

324 pg. | 18 (PVP<br />

Um thriller de espionagem<br />

absolutamente soberbo.<br />

John Wells, o protagonista,<br />

é o único agente da CIA a<br />

conseguir infiltrar-se com<br />

sucesso nas mais altas<br />

esferas da al-Qaeda. Mas é<br />

um homem só, suspeito de<br />

traição pelos seus<br />

superiores da CIA e de<br />

espionagem por parte dos<br />

seus irmãos muçulmanos.<br />

Como teste decisivo à sua<br />

lealdade, um dos cérebros<br />

maquiavélicos da al-Qaeda<br />

incumbe-o de regressar aos<br />

EUA para uma importante<br />

missão – participar no mais<br />

devastador ataque<br />

terrorista da história.<br />

RICARDO CORAÇÃO DE<br />

LEÃO<br />

José-Augusto França<br />

ISBN: 978-972-23-3863-9<br />

179 pg. |15 (PVP)<br />

Este livro não é «um<br />

romance histórico» como o<br />

seu título pode fazer<br />

supor: as amigas do herói<br />

assim lhe chamavam por<br />

gosto e proveito, mas,<br />

universitário e jornalista,<br />

Ricardo viveu em Portugal,<br />

crises dos anos 60 e 70 e,<br />

em França, o Maio de<br />

1968. Depois, entre<br />

amores e desamores,<br />

incógnita e<br />

ocasionalmente cruzados,<br />

instalou-se numa quinta<br />

que fora dos Templários, a<br />

escrever, mais ou menos,<br />

a história da família.<br />

EUROPA-AMÉRICA<br />

A RÁDIO DA CIDADE<br />

PERDIDA<br />

Daniel Alarcón<br />

ISBN: 978-972-1-05858-3<br />

288 pg. | 20,51 (PVP)<br />

Num país perdido da<br />

América Latina grassa uma<br />

violenta guerra civil entre<br />

as forças do governo e as<br />

facções guerrilheiras<br />

reunidas sob o comando da<br />

Legião Ilegítima.<br />

No rescaldo do conflito,<br />

milhões de pessoas estão<br />

desaparecidas e famílias<br />

separadas, e a única réstia<br />

de esperança parece ser a<br />

Rádio da Cidade Perdida<br />

que divulga listas de<br />

desaparecidos e recebe<br />

chamadas em directo de<br />

pessoas que pretendem<br />

conhecer o destino de entes<br />

queridos.<br />

LISBOA A DAKAR<br />

Charley Boorman<br />

ISBN: 978-972-1-05847-7<br />

288 pg. | 24,90 (PVP)<br />

Na presente obra, o autor<br />

que em 2<strong>00</strong>4 terminou a<br />

volta ao mundo de mota<br />

narra as suas<br />

extraordinárias aventuras e<br />

revela a história do rali.<br />

Também acompanha as<br />

experiências dos outros<br />

participantes. De Portugal


ao Senegal, passando por<br />

Marrocos, pelo Sahara<br />

ocidental, pela Mauritânia,<br />

pelo Mali e pela Guiné,<br />

Lisboa a Dakar é o relato<br />

fascinante de um rali que<br />

conquistou a imaginação de<br />

milhões de pessoas.<br />

O KAMA SUTRA DOS<br />

NEGÓCIOS<br />

Nury Vittachi<br />

ISBN: 978-972-1-05859-0<br />

216 pg. | 19,51 (PVP)<br />

A Índia é uma fonte de<br />

pérolas de sabedoria e um<br />

país visitado por todos<br />

aqueles que procuram o<br />

sentido profundo da vida.<br />

Os segredos do poder<br />

espiritual estão contidos<br />

nos textos milenares<br />

indianos cuja essência<br />

este livro desvenda num<br />

estilo apelativo e<br />

divertido.<br />

Com técnicas para alcançar<br />

o sucesso nos negócios e na<br />

política, a obra é um<br />

autêntico elixir destilado a<br />

partir das fontes mais<br />

antigas.<br />

A ARTE DA PAZ<br />

Scott Ritter<br />

ISBN: 978-972-1-05860-6<br />

184 pg. | 18,90 (PVP)<br />

A obra é uma verdadeira<br />

Arte da Guerra para todos<br />

os que se comprometem a<br />

lutar pela Paz.<br />

O autor, um dos líderes dos<br />

inspectores de armamento<br />

da ONU no Iraque entre<br />

1991 e 1998 que serviu<br />

como oficial nos Marines e<br />

como conselheiro do<br />

general Schwarzkopf na<br />

primeira guerra do Golfo,<br />

propõe que o movimento<br />

antiguerra procure a<br />

orientação de que carece<br />

em fontes que normalmente<br />

rejeitaria: as filosofias<br />

daqueles que dominaram a<br />

arte do conflito, de César a<br />

Napoleão, de Sun Tzu a<br />

Clausewitz.<br />

ESTADO CRÍTICO<br />

Robin Cook<br />

ISBN: 978-972-1-05848-4<br />

432 pg. | 25,50 (PVP)<br />

Uma médica de 37 anos, a<br />

quem tudo corre bem na<br />

vida, funda a Angels<br />

Healthcare, com<br />

participações em três<br />

concorridos hospitais de<br />

Nova Iorque.<br />

Porém, uma infecção<br />

resistente nos três hospitais<br />

provoca várias vítimas e<br />

pode colocar em causa tudo<br />

o que levou anos a<br />

construir. As fortes<br />

suspeitas recaem sobre os<br />

seus investidores, a<br />

proveniência do dinheiro e<br />

a súbita necessidade de<br />

fundos torna a situação<br />

desesperante.<br />

O autor é um prestigiado<br />

médico norte-americano,<br />

reconhecido como o<br />

fundador do género literário<br />

“thriller médico”.<br />

ROMA EDITORES<br />

GRUPOS CORAIS E<br />

INSTRUMENTAIS DE<br />

PORTUGAL<br />

Lauro Portugal<br />

ISBN: 978-989-8063-19-9<br />

234 pg. | 40 (PVP)<br />

Uma mostra de Grupos<br />

Corais, Vocais e<br />

Instrumentais, Orfeões e<br />

Tunas, a nível nacional –<br />

contactos, reportórios,<br />

instrumentos, actuações,<br />

prémios e demais<br />

pormenores de interesse –<br />

com a sua música clássica,<br />

tradicional, erudita ou<br />

popular, o que,<br />

acreditamos,<br />

inegavelmente contribuirá<br />

para a sempre tão<br />

interessante e<br />

encantadora antropologia<br />

cultural.<br />

ARTE DE BEM MORRER<br />

Casimiro de Brito<br />

ISBN: 978-989-8063-17-5<br />

136 pg. | 13 (PVP)<br />

Uma obra prenhe de<br />

palavras “artisticamente<br />

vivas”, ricas de sentido,<br />

fortes, intensas e ao mesmo<br />

tempo tão leves, tão<br />

naturais, que se lêem como<br />

a água cai do cimo da rocha<br />

para o rio e, depois da<br />

agitação da queda, pouco a<br />

pouco se acalma. E cá<br />

estamos: sempre as<br />

“Quedas”, no poema de<br />

Casimiro de Brito – de que<br />

este é o segundo volume –<br />

“em que trabalharei no<br />

resto dos meus dias” –<br />

confidencia.<br />

CONTROLO DE TRÁFEGO<br />

AÉREO<br />

José João Martins<br />

Sampaio<br />

ISBN: 978-989-8063-18-2<br />

320 pg. | 15 (PVP)<br />

Um ensaio de cariz<br />

sociológico que revela um<br />

forte contributo para<br />

cimentar a ideia – polémica,<br />

talvez – de que a inexorável<br />

utilização de processos<br />

tecnológicos não reduz a<br />

prestação humana, de cuja<br />

acção complementar não<br />

pode dissociar-se para<br />

conseguir os resultados-alvo.<br />

O autor é membro do IET –<br />

Centro de Investigação em<br />

Inovação Empresarial e do<br />

Trabalho da Faculdade de<br />

Ciências e Economia da<br />

UNL e docente de<br />

Sociologia das Novas<br />

Ciências da Informação e foi<br />

controlador de tráfego aéreo<br />

durante mais de 30 anos.


CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO<br />

BRAGA<br />

Cultura<br />

REIS: dia 6 às 15h – Os Palhaços<br />

Artur e Carlitos na Escola EB1<br />

da Qta da Veiga e Jardim de<br />

Infância em S. Vicente.<br />

Cinema: Filme “O Mistério” - dia<br />

11 às 21h no Centro Recreativo<br />

e Cultural de Moreira de<br />

Cónegos; dia 12 às 21h no<br />

Centro Recreativo e Cultural de<br />

Campelos; dia 18 às 21h no CCD<br />

da Associação Recreativa e<br />

Cultural de Valdozende; dia 19<br />

às 21h na Casa do Povo de<br />

Apúlia.<br />

Desporto<br />

ORIENTAÇÃO: dia 26 – Desporto<br />

Aventura, informações na<br />

Delegação<br />

FUTEBOL: Sábados e Domingos<br />

– Jornadas do C.D. Futebol<br />

ANDEBOL: dias 4 e 25 –<br />

Campeonato Distrital e Torneio<br />

de Inverno em Braga<br />

DAMAS: dia 19 - Torneios do C. P.<br />

Lousado em Vila Nova de<br />

Famalicão; dia 23 – Campeonato<br />

Distrital Individual em Braga.<br />

TÉNIS DE MESA: dia 7 –<br />

Campeonato Distrital Individual<br />

– Veteranos em Braga<br />

XADREZ: dia 9 e 16 –<br />

Campeonato Distrital em Braga.<br />

BRAGANÇA<br />

Cultura<br />

JANEIRAS: dia 6 às 21h -<br />

Cantares dos Reis no Auditório<br />

Municipal de Vila Flor<br />

TEATRO: Dia 17 às 21h -<br />

Comemorações do Centenário<br />

de Miguel Torga, peça o<br />

“Poemato” pela Companhia de<br />

Teatro de Vila Real no Teatro<br />

Municipal de Bragança<br />

FESTA: dia 25 às 21h - Festa das<br />

Claras (de São Sebastião) no<br />

Salão Paroquial de Ifanes<br />

COIMBRA<br />

Cultura<br />

MÚSICA: dia 15 às 21h30 -<br />

78 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

Dixie Gringos Jazz Band no<br />

aniversário da Sociedade<br />

União Tavaredense em<br />

Tavarede; dia 12 às 21h30 -<br />

“Oratória Fátima – Sinal de<br />

Esperança para a<br />

Humanidade”, Coro misto de<br />

288 vozes, na Igreja da Sé<br />

Nova, Coimbra; dia 25 às<br />

21h30 - Ciclo Schubert – “A<br />

viagem de Inverno” na Casa<br />

Municipal da Cultura de<br />

Coimbra<br />

JANEIRAS: dia 5 às 21h30 –<br />

Cantares de Janeiras no<br />

Convento de Semide em<br />

Miranda do Corvo.<br />

Desporto<br />

ATLETISMO: dia 12 – 3<strong>º</strong><br />

Torneio <strong>Mensal</strong><br />

Lançamento/Cluve no Estádio<br />

Universitário de Coimbra; dia<br />

13 – Campeonato Distrital de<br />

Corta Mato na Vila de<br />

Cordinha; dia 27 –<br />

Campeonato Distrital de<br />

Estrada de Vila da Lousã.<br />

FUTEBOL: dias 6, 13, 20 e 27 -<br />

jornadas do Camp. Distrital,<br />

informações na Delegação<br />

FARO<br />

Cultura<br />

JANEIRAS: dia 5 às 16h30 -<br />

Cantares as Janeiras de Porta<br />

em Porta em Cortelha, Salir e<br />

Querença; dia 6 às 10h -<br />

Charola de Quelfes, pelo<br />

Grupo Etnográfico de Quelfes,<br />

no Mercado Municipal de<br />

Olhão<br />

CONCERTO: dia 5 às 16h30 -<br />

Concerto de Reis pelo Grupo<br />

Coral Ossónoba, na sala da<br />

Alcaidaria do Castelo de<br />

Loulé, às 15h - Grupo Coral<br />

Henriquinas no Centro<br />

Cultural da Vila do Bispo<br />

GUARDA<br />

<br />

Roteiro <strong>Inatel</strong> de actividades culturais e desportivas<br />

Cultura<br />

CONCERTOS: dia 5 às 21h30 -<br />

Orfeão de Seia em S. Miguel e<br />

Orfeão da Guarda em Vila<br />

Nova de Foz Côa; dia 6 às 16h<br />

- Grupo de Cantares<br />

Mensagem na Casa da Cultura<br />

de Meda, Grupo Ronda do<br />

Jarmelo no Centro Cultural do<br />

Reboleiro e Orfeão de<br />

Nespereira em Almeida;<br />

Desporto<br />

ATLETISMO: dia 6 às 10h30 - 9<strong>º</strong><br />

Corta Mato dos Reis no Ski<br />

Parque, Sameiro; dia 27 às<br />

10h30 – Grande Prémio Juvenil<br />

e 9ª Tripla-Légua de Almeida,<br />

em Almeida.<br />

BTT: dia 13 às 9h - Passeio ao<br />

Vale de Estrela, com partida e<br />

chegada em Vale de Estrela.<br />

DAMAS: dia 12 às14h30 - 7<strong>º</strong><br />

Torneio no Clube Camões em<br />

Gouveia; dia 26 às 14h30 -<br />

Campeonato Distrital de<br />

Equipas na Guarda.<br />

PEDESTRIANISMO: dia 6 e 27 -<br />

Marcha pedestres na Guarda<br />

TÉNIS DE MESA: dia 5 às 14h –<br />

Torneio em Paranhos da Beira.<br />

TIRO AO ALVO: dia 12 às 14h30<br />

- Torneio do Chaveiral,<br />

Paranhos da Beira.<br />

LISBOA<br />

TEATRO DA TRINDADE<br />

Sala Principal<br />

CONCERTO: dia 4 às 21h30 –<br />

Concerto de Ano Novo<br />

Teatro-Bar<br />

A partir do dia 24 até 23 de<br />

Fevereiro às 23h - MADE IN<br />

BRAZIL<br />

SETUBAL<br />

Desporto<br />

FUTEBOL: dias 6,13,20 e 27 às<br />

15h - Campeonato Distrital de<br />

Futebol 11<br />

FUTSAL: dias 20 e 22 às 20h -<br />

Campeonato Distrital<br />

TIRO: dia 19 às 9h - Torneio<br />

Regularidade no Bons Amigos<br />

em Montijo.<br />

ATLETISMO: dia 27 às 10h –G<br />

Prémio do Alto do Moinho,<br />

Seixal<br />

VIANA DO CASTELO<br />

Cultura<br />

JANEIRAS: Dia 26 às 21h30 -<br />

“Cantar as Janeiras” pelo<br />

Rancho Folclórico da Casa do<br />

Povo de Barbeita.<br />

Desporto<br />

PEDESTRIANISMO: dia 19 às 9h -<br />

percurso pedestre “Ecológico<br />

/Paisagístico” em Sistelo; dia 26<br />

às 9h - Passeio “Românico do<br />

Alto Minho” em Monção.<br />

ATLETISMO: dia 27 às 10h -<br />

Campeonato Distrital de<br />

Estrada em Vila de Punhe.<br />

TÉNIS DE MESA: dia 19 às 14h30<br />

- Distrital Individual na Casa do<br />

Povo de Barroselas.<br />

FUTEBOL: dia 6, 13, 20 e 27 às<br />

15h - Final da Supertaça e várias<br />

jornadas do Camp. Distrital.<br />

VISEU<br />

Cultura<br />

JANEIRAS: Encontros de<br />

Janeiras e Reis - dia 4 às 21h<br />

na Associação de Vila Chã de<br />

Sá; dia 5 às 20h30 no Centro<br />

Social de Orgens, na<br />

Associação Dalvares, em Santo<br />

André, na Assoc. Mesquitela<br />

em Mangualde e no Largo de<br />

S. Pedro Gumirães; dia 6 às 17h<br />

na Praça D. Duarte em Viseu,<br />

na Capela N. Senhora dos<br />

Milagres em Pindelo dos<br />

Milagres, na Associação Bairro<br />

Santo António em Nelas, na<br />

Assoc. Social de Ferminhão, na<br />

Sé Catedral em Lamego (às<br />

15h), em Castelo de Penedono<br />

em Sincelo, na Igreja de<br />

Loumão e na Igreja de S.<br />

Romão em Travassos de<br />

Orgens; dia 20 às 14h30 -<br />

Encontro Geral Encerramento<br />

no Pavilhão do <strong>Inatel</strong> de Viseu.<br />

Desporto<br />

TÉNIS DE MESA: dia 12 às 15h30<br />

– Campeonato Distrital no<br />

Pavilhão Gimnodesportivo<br />

CORTA-MATO: dia 13 às 9h -<br />

Campeonato Distrital em São<br />

João Monte


A CHEFE SUGERE<br />

MARIA EMÍLIA MARTINS| INATEL FORNOS DE ALGODRES<br />

Sopa seca<br />

Da gastronomia de Linhares, mais concretamente de<br />

Celorico da Beira, para além dos bons vinhos, vale a<br />

pena procurar a sopa seca feita com legumes, carne<br />

de porco e/ou vitela, pão de centeio e ervas<br />

aromáticas. Esta especialidade local reúne alguns dos<br />

alimentos mais tradicionais da região, desde o pão<br />

aos produtos hortícolas. Possuir uma pequena horta<br />

para a produção caseira de batata, leguminosas e<br />

hortícolas variados é uma tradição em Linhares, bem<br />

como a produção de pão, cozido no antigo forno de<br />

lenha.<br />

Aqui fica uma sugestão gastronómica<br />

“aconchegante” para os dias frios, que é<br />

nutricionalmente interessante por reunir alimentos<br />

dos diferentes grupos, sem se tornar demasiado<br />

calórica.<br />

INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS:<br />

2 batatas, um pedaço de carne de porco (um osso<br />

com carne ou pedaço de presunto), couve, pão tipo<br />

saloio (pode ser antigo), massa grossa, azeite q.b.,<br />

colorau, sal qb., piri-piri.<br />

PREPARA-SE ASSIM: Coze-se a batata em água com<br />

o pedaço de carne e um pequeno fio de azeite. Lava-<br />

se e parte-se a couve em pedaços grandes. Passa-se a<br />

batata e põem-se as couves a ferver no caldo.<br />

Quando a couve está meia cozida, junta-se a massa<br />

grossa. À parte, aquece-se azeite (1 colher de sopa)<br />

com uma colher de colorau, piri-piri e sal a gosto, e<br />

junta-se na sopa.<br />

Corta-se o pão em fatias ou bocados, deita-se na<br />

panela e deixa-se ferver durante alguns minutos.<br />

Retira-se do lume e deixa-se repousar.<br />

Serve-se quente, com o pão embebido no caldo.<br />

Pode optar-se pelo uso de pão torrado.<br />

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA:<br />

• 22,9 g de proteínas; • 2,3 g de gordura; • 45 g de<br />

hidratos de carbono; • 17,9 g de fibra; • 283,4 kcal<br />

INFORMAÇÕES E RESERVAS:<br />

INATEL Fornos de Algodres<br />

Fornos de Algodres, 6370-401 Vila Ruiva<br />

Tel.: 271 776 016/17 - Fax: 271 776 034<br />

E.mail: cffalgodres@inatel.pt<br />

<strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong> TempoLivre 81


Música de cangalheiros<br />

Ela tinha 78 anos. Solteira e só, vivia de um confortável<br />

pé-de-meia (reforma, acções, apartamento)<br />

entre viagens, bisbilhotices, inocências<br />

e novenas. Crente, fez doação dos bens à sua<br />

igreja para ter, no final da existência, um lar confortável,<br />

e passou procuração ao pároco dela, a fim de<br />

garantir gestor de benzida confiança. Depois, deixou a<br />

vida correr, reconfortada e segura.<br />

A sua saúde inabalável e o seu afã consumista (roupas,<br />

excursões, antiguidades) impacientaram, porém, a<br />

resignação dos herdeiros.<br />

Ao saberem do testamento que os ignorava, eles passaram<br />

subitamente a empanturrá-la com jantares apaparicados<br />

de piedosas doses (apenas para a atordoar)<br />

de veneno brandinho.<br />

Tempos depois, a até aí rija anciã via-se, compungidamente,<br />

internada numa clínica de amigos.<br />

Em afã crescente, os parentes entraram de insinuar<br />

que ela estava mentalmente perturbada devendo<br />

inviabilizar-lhe (substituir-lhe) as disposições legais<br />

que fizera. Médicos e notários foram envolvidos no<br />

caso, todos testemunhando, decretando a incapacidade<br />

da visada.<br />

Transferida e retida contra vontade num lar por si<br />

desconhecido (sem o quarto, o conforto, o tratamento<br />

prometidos e pagos aos religiosos), entrou rapidamente,<br />

encharcada de comprimidos, em estado de dormência.<br />

A casa foi-lhe vendida, as contas bancárias levan-<br />

82 TempoLivre <strong>Janeiro</strong> <strong>2<strong>00</strong>8</strong><br />

CRÓNICA |FERNANDO DACOSTA<br />

A matança dos velhos é hoje<br />

corriqueira. Tornamo-nos, aliás, de<br />

uma avareza afectiva terrível para<br />

com eles. Estamos a desenvolver<br />

comportamentos fóbicos aos seus<br />

contactos físicos, a perder o seu<br />

calor, os seus sentimentos, as suas<br />

sabedorias, as suas reminiscências<br />

tadas, os papeis transaccionados. Três meses passados<br />

expirava, de madrugada, após rezas em catadupa. Uma<br />

funerária que trabalhava para o grupo vestiu-a, veloua,<br />

enterrou-a.<br />

Histórias destas acontecem todos os dias à<br />

nossa volta. Os idosos com recursos<br />

tornaram-se, com efeito, alvos fáceis (pela<br />

sua desprotecção) e fartos (pelo seu número)<br />

de instituições, de pessoas que encontram neles<br />

lucros e discrições inesgotáveis. As famílias são frequentemente<br />

(livram-se dos seus fardos e beneficiam<br />

dos seus pecúlios) colaboradoras activas.<br />

Certas casas de repouso para a terceira idade são<br />

câmaras de morte para ela. Os remédios que ministram,<br />

por exemplo, exterminam sem suspeita, sem rasto,<br />

impunemente os mais incómodos ou compensadores.<br />

A matança dos velhos é hoje corriqueira. Tornamonos,<br />

aliás, de uma avareza afectiva terrível para com<br />

eles. Estamos a desenvolver comportamentos fóbicos<br />

aos seus contactos físicos, a perder o seu calor, os seus<br />

sentimentos, as suas sabedorias, as suas reminiscências.<br />

Com frequência abandonamo-los em centros comerciais,<br />

em bancos de jardins, em enfermarias de hospícios,<br />

em gares de metro, em parques de diversões.<br />

«Uma agência de Sacavém cobrou-me 250 contos<br />

pelo funeral da minha tia», relata-me um conhecido.<br />

«Ofereceu-se, depois, para tratar da cobrança do dinheiro<br />

junto da Caixa de Aposentações, e devolver-mo.<br />

Vim a saber que debitou ao Estado 450 mil escudos, ou<br />

seja o dobro. Participei. Até agora, e já lá vão cinco<br />

anos, não aconteceu nada: nem eu fui reembolsado<br />

nem a funerária investigada. Continua a actuar, a<br />

vigarizar calmamente».<br />

A hipocrisia, o oportunismo, a corrupção a maldade,<br />

a cupidez, a covardia fizeram-se músicas contínuas à<br />

volta dos que entram na última fase da vida, tocadas<br />

por cangalheiros de toda a espécie e desvergonha —<br />

num país que, alienado ao mito da juventude, envelhece<br />

desamparadamente, pateticamente. ■

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