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os catadores de lixo ea desativação do lixão do Jangurussu - anpuh

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<strong>ea</strong>proveitavam tornan<strong>do</strong>-<strong>os</strong> utilizáveis ou ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-<strong>os</strong>. Surgiram especialistas da<br />

catação, alguns se <strong>de</strong>dicavam somente à coleta <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, outr<strong>os</strong> como as c<strong>os</strong>tureiras<br />

catavam retalh<strong>os</strong> com <strong>os</strong> quais criavam roupas. Alguns estabeleciam pequen<strong>os</strong> barrac<strong>os</strong><br />

on<strong>de</strong> vendiam merenda a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> <strong>cata<strong>do</strong>res</strong> enquanto o restante da família catava no<br />

<strong>lixo</strong>. O <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Maria Dias <strong>de</strong>screve este momento:<br />

“Vim para o <strong>lixão</strong> porque não tinha outro serviço. Tô muito <strong>do</strong>ente<br />

tomo muito remédio. Cheguei junto com o <strong>lixão</strong>, vim <strong>do</strong> Henrique<br />

Jorge. Tenho 60 an<strong>os</strong>, achava bom trabalhar lá, tinha minha venda,<br />

vendia pro cata<strong>do</strong>r e casquerava, eu e meus filh<strong>os</strong>. Os filh<strong>os</strong> ficou<br />

gran<strong>de</strong>, hoje é <strong>do</strong>no <strong>do</strong> seu nariz, como tô sozinha, c<strong>os</strong>turo. Se não<br />

acabasse o <strong>lixão</strong> ainda estava lá.”<br />

Os <strong>cata<strong>do</strong>res</strong> trabalhavam intensamente. Durante o dia e à noite, já que se<br />

organizavam a partir d<strong>os</strong> horári<strong>os</strong> <strong>de</strong> chegada d<strong>os</strong> caminhões que <strong>de</strong>spejavam o <strong>lixo</strong>.<br />

Levavam seus filh<strong>os</strong> e ali mesmo sobre o <strong>lixo</strong> montavam barrac<strong>os</strong>, para protegerem <strong>do</strong><br />

sol a si e às suas crianças. Também sob as malocas r<strong>ea</strong>lizavam suas refeições e<br />

<strong>de</strong>scansavam durante <strong>os</strong> interval<strong>os</strong> <strong>de</strong> trabalho. Acabavam por passar dias seguid<strong>os</strong> sob<br />

estas barracas. É o que n<strong>os</strong> relatam duas cata<strong>do</strong>ras que habitaram o local:<br />

“Fui buscar minha mãe no interior e resolvi trabalhar no <strong>lixão</strong>. (...)<br />

Era tranqüilo lá cima. Eu trazia o mais velho (filho <strong>de</strong> seis an<strong>os</strong>),<br />

porque eles brigava <strong>de</strong>mais. Fiz uma barraca para <strong>de</strong>ixar meu filho<br />

em baixo, ele comeu alguma coisa e tava com a cara toda suja. Pensei<br />

que ele ia morrer. Não sentiu nada. Não me preocupei mais.”<br />

“A favela é a minha primeira lembrança. Logo quan<strong>do</strong> começou. É a<br />

época mais feliz da minha vida. Quan<strong>do</strong> meu pai era vivo, minhas<br />

irmã tu<strong>do</strong> era viva. Toda a família trabalhava no <strong>lixão</strong>. O pai, era<br />

difícil vir em casa. Trabalhava vinte e quatro horas. Vivia mais lá <strong>do</strong><br />

que em casa.”<br />

Em 1998, apresentan<strong>do</strong> 40m <strong>de</strong> resíduo acumula<strong>do</strong>, o <strong>lixão</strong> <strong>do</strong> <strong>Jangurussu</strong><br />

chegou a seu limite. Nesse momento, o chorume, líqui<strong>do</strong> poluente gera<strong>do</strong> na<br />

<strong>de</strong>comp<strong>os</strong>ição <strong>do</strong> <strong>lixo</strong>, já provocava a contaminação <strong>do</strong> lençol freático e <strong>do</strong> rio Cocó. O<br />

bairro <strong>do</strong> <strong>Jangurussu</strong> passara por um processo <strong>de</strong> urbanização. Em suas proximida<strong>de</strong>s<br />

instalaram-se outr<strong>os</strong> bairr<strong>os</strong> que abrigavam inclusive órgão públic<strong>os</strong> como <strong>os</strong> Centr<strong>os</strong><br />

Administrativ<strong>os</strong> <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste e <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil, que ficam a men<strong>os</strong> <strong>de</strong> 5<br />

km <strong>do</strong> local. Os resi<strong>de</strong>ntes d<strong>os</strong> bairr<strong>os</strong> contígu<strong>os</strong> reclamavam constantemente das<br />

mazelas provocadas pela proximida<strong>de</strong> com <strong>os</strong> <strong>de</strong>jet<strong>os</strong>. Entravam em contato direto com<br />

nuvens <strong>de</strong> fumaça provocadas pela queima espontân<strong>ea</strong> <strong>do</strong> <strong>lixo</strong>, originada da combustão<br />

<strong>do</strong> gás metano que era expeli<strong>do</strong> durante a <strong>de</strong>comp<strong>os</strong>ição d<strong>os</strong> resídu<strong>os</strong>. Temiam o risco<br />

<strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong>. Reclamavam também <strong>do</strong> fogo at<strong>ea</strong><strong>do</strong> pelo cata<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> preparava suas<br />

refeições, pois a fumaça invadia as casas próximas dia e noite, trazen<strong>do</strong> problemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>. Segun<strong>do</strong> <strong>de</strong>poiment<strong>os</strong> da população local a poluição ambiental causada pel<strong>os</strong>

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