os catadores de lixo ea desativação do lixão do Jangurussu - anpuh
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soment e 12% foram mantid<strong>os</strong> na usina, enquanto <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> foram largad<strong>os</strong> à própria<br />
sorte e acabaram na marginalida<strong>de</strong> das ruas.<br />
A participação <strong>de</strong>sta população nas discussões acerca da imp<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
manutenção <strong>do</strong> <strong>lixão</strong>, e da busca <strong>de</strong> sua organização política, enquanto grupo foram<br />
r<strong>ea</strong>lizadas, em n<strong>os</strong>sa perspectiva, <strong>de</strong> maneira incorreta. Os <strong>cata<strong>do</strong>res</strong>, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong><br />
vinte an<strong>os</strong> <strong>de</strong> trabalho no <strong>lixo</strong> haviam estabeleci<strong>do</strong> entre si e na relação com <strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>p<strong>os</strong>eir<strong>os</strong> códig<strong>os</strong> <strong>de</strong> conduta e acord<strong>os</strong> <strong>de</strong> trabalho que faziam funcionar a<br />
engrenagem da coleta <strong>do</strong> material. Embora estes acord<strong>os</strong> f<strong>os</strong>sem em muit<strong>os</strong> moment<strong>os</strong><br />
prejudiciais a<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> <strong>cata<strong>do</strong>res</strong>, principalmente em sua relação com <strong>os</strong> <strong>de</strong>p<strong>os</strong>eir<strong>os</strong>,<br />
era necessário que o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong>sta cultura f<strong>os</strong>se r<strong>ea</strong>liza<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong><br />
suas próprias percepções, <strong>de</strong> sua compreensão, <strong>de</strong> sua história e da reconstrução <strong>de</strong><br />
outra forma <strong>de</strong> organização, autogestionária e libertária. As alternativas <strong>de</strong> trabalho e<br />
renda teriam <strong>de</strong> ser r<strong>ea</strong>lizadas com a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> grupo e através <strong>de</strong> uma política social<br />
condizente com suas limitações <strong>de</strong> formação. A maioria d<strong>os</strong> <strong>cata<strong>do</strong>res</strong> p<strong>os</strong>suía baixa<br />
escolarida<strong>de</strong> e não conseguiu enten<strong>de</strong>r o significa<strong>do</strong> das transformações que foram<br />
imp<strong>os</strong>tas a partir da criação da cooperativa. A prop<strong>os</strong>ta <strong>do</strong> San<strong>ea</strong>r implicava em um<br />
disciplinamento da força <strong>de</strong> trabalho que não condizia com a característica <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>pendência d<strong>os</strong> <strong>cata<strong>do</strong>res</strong> que se sentiam bem por <strong>de</strong>cidirem acerca <strong>de</strong> sua<br />
organização. Sobre isto ouvim<strong>os</strong> o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> um d<strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res, que foi<br />
incluí<strong>do</strong> na cooperativa: “Você ia (trabalhar) na hora que você queria, se quisesse cê ia <strong>de</strong><br />
manhã, cê ia <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, cê ia <strong>de</strong> noite.” E outra cata<strong>do</strong>ra complementa: “Agente era livre parecia<br />
um passarizinho.”<br />
Prova da insatisfação d<strong>os</strong> <strong>cata<strong>do</strong>res</strong> em relação a isto é que sua retirada foi<br />
feita <strong>de</strong> forma repressora, com violência, provocan<strong>do</strong> indignação. A própria organização<br />
em uma cooperativa não foi construída a partir da iniciativa espontân<strong>ea</strong> d<strong>os</strong> <strong>cata<strong>do</strong>res</strong> e<br />
<strong>de</strong> um amadurecimento d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>. Até hoje, muit<strong>os</strong> <strong>de</strong>les sequer enten<strong>de</strong>m o<br />
significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo.<br />
A situação <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong> a que eram submetid<strong>os</strong> quan<strong>do</strong> trabalhavam no <strong>lixão</strong><br />
não mu<strong>do</strong>u com a construção da usina, já que o resíduo <strong>de</strong>p<strong>os</strong>ita<strong>do</strong> nas esteiras <strong>de</strong><br />
triagem era oriun<strong>do</strong> d<strong>os</strong> rejeit<strong>os</strong> <strong>do</strong>miciliares da cida<strong>de</strong> e chegava até eles mistura<strong>do</strong>.<br />
Continuaram, portanto, trian<strong>do</strong> o <strong>lixo</strong> <strong>do</strong>miciliar bruto, sem o uso <strong>de</strong> qualquer<br />
equipamento <strong>de</strong> proteção individual, exp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> a cortes, infecções e outras <strong>do</strong>enças<br />
<strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> contato direto com a sujeira. Continuaram a se alimentar <strong>do</strong> <strong>lixo</strong>, pois