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Um olhar sobre a Coleção Sattamini<br />

Luiz Camillo Osorio<br />

crítico de arte<br />

A coleção de João Sattamini é uma <strong>da</strong>s mais importantes do<br />

país. Nenhuma outra coleção hoje, no Brasil, poderia mostrar<br />

tantas obras concretas e um grupo tão significativo de trabalhos<br />

de Lygia Clark, Antonio Dias, Raimundo Colares e Jorge Guinle.<br />

O ponto de parti<strong>da</strong>, se quisermos refazer a genealogia de<br />

nossa aventura contemporânea, não poderia ser outro senão<br />

o movimento concreto. Combinam-se aí ousadia experimental<br />

e arrojamento formal. Junto deles, aparecem obras de Volpi,<br />

Milton Dacosta e Ione Sal<strong>da</strong>nha. Ca<strong>da</strong> um, à sua maneira, manteve<br />

uma clara independência lírica em relação ao movimento, o<br />

que não os impedia de compartilhar a mesma disciplina formal<br />

alia<strong>da</strong> ao mergulho na abstração geométrica.<br />

Em segui<strong>da</strong>, como uma espécie de constelação à parte,<br />

temos a obra de Lygia Clark. Pode-se ver, através desta coleção,<br />

todo o desenvolvimento experimental que a faz descolar a forma<br />

do plano em direção ao espaço e ao corpo. A aproximação do<br />

seu Trepante com as peças iniciais de Antonio Dias é proposital,<br />

no sentido de mostrar a articulação entre expressivi<strong>da</strong>de e geometria.<br />

O conteúdo político explícito destas peças de Dias e de<br />

todo o movimento <strong>da</strong> Nova Figuração precisava <strong>da</strong> radicali<strong>da</strong>de<br />

experimental e do rigor formal dos neoconcretos para se manifestar<br />

poeticamente e ganhar contundência plástica. A vira<strong>da</strong><br />

para os anos 1970, com o exílio voluntário, trouxe-lhe contenção<br />

expressiva e certo desassombro cósmico. Junto a ele temos a<br />

extraordinária produção de Raimundo Colares, com sua mistura<br />

singular de rigor geométrico e urgência pop. Sua obra formaliza<br />

de modo singular o olhar em trânsito vertiginoso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

contemporânea.<br />

Depois desse percurso pela abstração geométrica, passemos<br />

para Iberê Camargo e Jorge Guinle. Parafraseando um famoso<br />

técnico de futebol, são pintores-pintores. Vê-se em suas obras o<br />

domínio absoluto do ofício pictórico, o desejo total <strong>da</strong> tinta, <strong>da</strong>s<br />

cores, <strong>da</strong>s texturas, <strong>da</strong> dimensão tátil e física <strong>da</strong> pintura. Para os<br />

amantes <strong>da</strong> pintura, é uma festa para os olhos.<br />

Terminando a <strong>exposição</strong>, uma homenagem póstuma a Eliane<br />

Duarte. Pouco conheci<strong>da</strong> do público, sua trajetória remete a uma<br />

articulação pouco provável entre organici<strong>da</strong>de e força expressiva.<br />

Este recorte <strong>da</strong> coleção Sattamini nos dá um vislumbre <strong>da</strong><br />

melhor arte brasileira desde os anos 1950 até o presente.<br />

Fazer cento e trinta e cinco anos em cinco séculos de descobrimento<br />

representa o temor de ser tão nova. Miscigena<strong>da</strong> e tão presente. Brasileira.<br />

Com esta mostra a Comgás expõe obras que criam significados para este<br />

país, agora tão esperançoso de desenvolvimento e vi<strong>da</strong> melhor.<br />

Esta mostra reforça compromissos, valores e missão essenciais para<br />

uma empresa concessionária de serviços públicos: temos um compromisso<br />

com São Paulo, com as novas ci<strong>da</strong>des onde a Comgás se faz presente,<br />

com as comuni<strong>da</strong>des onde atuamos e levamos moderni<strong>da</strong>de. Por<br />

isto, a itinerância, além do <strong>Masp</strong>, por 20 outras ci<strong>da</strong>des.<br />

E moderni<strong>da</strong>de também significa cultura, comprometimento com o<br />

entorno econômico e social no qual a Comgás atua.<br />

Cento e trinta e cinco anos: somos história de São Paulo, uma ci<strong>da</strong>de<br />

que aju<strong>da</strong>mos a desenvolver-se, e agora retribuímos o que compactuamos<br />

com seus habitantes: ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, educação, cultura, meio ambiente e o<br />

direito de compartilharmos o melhor.<br />

A Coleção Sattamini é um marco. Uma grande apreciação <strong>da</strong> arte: um<br />

grande homem, uma grande mostra, um grande museu.<br />

A Comgás sente-se orgulhosa de ser parceira <strong>da</strong> história de São Paulo<br />

na comemoração de seus 135 anos de existência. E esta mostra revela<br />

arte e história, a história presente <strong>da</strong> Comgás.<br />

Comgás – Companhia de Gás de São Paulo<br />

experimental e do rigor formal dos neoconcretos para se manifestar<br />

poeticamente e ganhar contundência plástica. A vira<strong>da</strong><br />

para os anos 1970, com o exílio voluntário, trouxe-lhe contenção<br />

expressiva e certo desassombro cósmico. Junto a ele temos a<br />

extraordinária produção de Raimundo Colares, com sua mistura<br />

singular de rigor geométrico e urgência pop. Sua obra formaliza<br />

de modo singular o olhar em trânsito vertiginoso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

contemporânea.<br />

Depois desse percurso pela abstração geométrica, passemos<br />

para Iberê Camargo e Jorge Guinle. Parafraseando um famoso<br />

técnico de futebol, são pintores-pintores. Vê-se em suas obras o<br />

domínio absoluto do ofício pictórico, o desejo total <strong>da</strong> tinta, <strong>da</strong>s<br />

cores, <strong>da</strong>s texturas, <strong>da</strong> dimensão tátil e física <strong>da</strong> pintura. Para os<br />

amantes <strong>da</strong> pintura, é uma festa para os olhos.<br />

Terminando a <strong>exposição</strong>, uma homenagem póstuma a Eliane<br />

Duarte. Pouco conheci<strong>da</strong> do público, sua trajetória remete a uma<br />

articulação pouco provável entre organici<strong>da</strong>de e força expressiva.<br />

Este recorte <strong>da</strong> coleção Sattamini nos dá um vislumbre <strong>da</strong><br />

melhor arte brasileira desde os anos 1950 até o presente.<br />

A coleção de João Sattamini é uma <strong>da</strong>s mais importantes do<br />

país. Nenhuma outra coleção hoje, no Brasil, poderia mostrar<br />

tantas obras concretas e um grupo tão significativo de trabalhos<br />

de Lygia Clark, Antonio Dias, Raimundo Colares e Jorge Guinle.<br />

O ponto de parti<strong>da</strong>, se quisermos refazer a genealogia de<br />

nossa aventura contemporânea, não poderia ser outro senão<br />

o movimento concreto. Combinam-se aí ousadia experimental<br />

e arrojamento formal. Junto deles, aparecem obras de Volpi,<br />

Milton Dacosta e Ione Sal<strong>da</strong>nha. Ca<strong>da</strong> um, à sua maneira, manteve<br />

uma clara independência lírica em relação ao movimento, o<br />

que não os impedia de compartilhar a mesma disciplina formal<br />

alia<strong>da</strong> ao mergulho na abstração geométrica.<br />

Em segui<strong>da</strong>, como uma espécie de constelação à parte,<br />

temos a obra de Lygia Clark. Pode-se ver, através desta coleção,<br />

todo o desenvolvimento experimental que a faz descolar a forma<br />

do plano em direção ao espaço e ao corpo. A aproximação do<br />

seu Trepante com as peças iniciais de Antonio Dias é proposital,<br />

no sentido de mostrar a articulação entre expressivi<strong>da</strong>de e geometria.<br />

O conteúdo político explícito destas peças de Dias e de<br />

todo o movimento <strong>da</strong> Nova Figuração precisava <strong>da</strong> radicali<strong>da</strong>de<br />

<strong>exposição</strong><br />

29 de agosto a 28 de outubro<br />

quinta-feira, <strong>da</strong>s 11h às 20h<br />

terça, quarta, sexta, sábado, domingos e feriados, <strong>da</strong>s 11h às 18h<br />

Museu de Arte de São Paulo - Aveni<strong>da</strong> Paulista, 1.578<br />

patrocínio<br />

Comgás – Companhia de Gás de São Paulo<br />

realização<br />

Arquiprom<br />

Aprazível Edições e Arte<br />

Museu de Arte Moderna de Niterói<br />

Comgás<br />

Diretoria de Assuntos Regulatórios e Institucionais<br />

Superintendência de Comunicação<br />

coordenação geral<br />

Arquiprom | Marklen Siag Lan<strong>da</strong><br />

patrocínio realização<br />

apoio<br />

Luiz Camillo Osorio<br />

crítico de arte<br />

Um olhar sobre a Coleção Sattamini<br />

concepção e conteúdo<br />

Aprazível | Leonel Kaz<br />

curadoria<br />

Leonel Kaz<br />

Luiz Camillo Osorio<br />

Luiz Guilherme Vergara<br />

museografia, comunicação visual e produção<br />

Marklen Siag Lan<strong>da</strong><br />

Fernando José Arouca<br />

Silvia Lan<strong>da</strong><br />

multivídeo<br />

Estúdio Preto e Branco | Nigge Loddi<br />

Antonio Dias, Incomplete Biography, 1968<br />

Antonio Dias, Incomplete Biography, 1968


João é assim: um homem e uma coleção de quadros. Um homem, uma<br />

mulher, uma coleção de filhas e de amigos... e uma coleção de quadros.<br />

Como numa biografia incompleta, João dá voltas em si mesmo, faz piruetas<br />

e retorna a um ponto que não é de parti<strong>da</strong> nem de chega<strong>da</strong>. O que<br />

importa, para ele, é que a arte exponha o mundo que o circun<strong>da</strong>. Assim<br />

nasceu a idéia desta <strong>exposição</strong>.<br />

Como no adágio do educador Anísio Teixeira – “A única finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> é mais vi<strong>da</strong>” –, a única finali<strong>da</strong>de de João foi buscar mais e mais obras<br />

de arte que fizessem um sentido, qualquer sentido, e que recompusessem<br />

esta época, qualquer época habita<strong>da</strong> por homens e desejos.<br />

João é assim: Silvia e suas filhas, Vanessa, Valeria, Paula e Julia, incorpora<strong>da</strong><br />

ao patrimônio imaterial dos afetos. João é assim: Antonio, Victor,<br />

Afonso, Rubem, João Manoel e Anna Maria, Roberto, Carlos Alberto,<br />

Nelson, Luiz e tantos nomes de seres que foram capazes de criar coisas.<br />

João foi capaz de descobrir nelas (as coisas) sentidos de prazer, transformando-as<br />

num elo sem fim.<br />

João não buscou sentidos; nem construiu conceitos. Ele soube ser um<br />

coletor, notável, de frutos. Nesta <strong>exposição</strong>, a arte e a ousadia ficaram por<br />

conta de alguém que soube desapegar-se <strong>da</strong>s vicissitudes e desvarios do<br />

cotidiano para reunir fio a fio, costura a costura, uma rede que hoje nos<br />

aconchega, nos envolve e nos protege.<br />

A coleção de João Sattamini é um manto, como o de Arthur Bispo do<br />

Rosário, um manto sagrado e profano, que nos cobre a todos, recupera<br />

em nós o sentido de coletivi<strong>da</strong>de e nos transmite fé: uma fé que evidencia<br />

a capaci<strong>da</strong>de de criação e transformação de que são capazes os homens.<br />

No caso de João, os brasileiros.<br />

v í d e o<br />

MULTIVÍDEO<br />

Imagens de época e depoimentos, de<br />

João Sattamini e Antonio Dias, entre<br />

outros, mostram como foi forma<strong>da</strong><br />

a coleção – e a relação desta com a<br />

história de cinco déca<strong>da</strong>s.<br />

VOLPI, DACOSTA E IONE SALDANHA<br />

NÚCLEO CONCRETO<br />

LYGIA CLARK<br />

ANTONIO DIAS<br />

RAIMUNDO COLARES<br />

IBERÊ CAMARGO<br />

JORGE GUINLE<br />

ELIANE DUARTE<br />

Leonel Kaz<br />

Volpi, Sem título, sem <strong>da</strong>ta<br />

VOLPI, DACOSTA e IONE SALDANHA<br />

Nas telas de Volpi, com sua têmpera<br />

caseira, her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> arte primitiva italiana,<br />

há uma experiência artesanal, de contato<br />

físico e direto com o mundo. A abstração<br />

geométrica ganhou com ele um<br />

intimismo singular. Essa mesma vontade<br />

de ver de perto e tocar na tela surge nas<br />

pinturas <strong>da</strong> gaúcha, que se radicou no<br />

Rio de Janeiro, Ione Sal<strong>da</strong>nha.<br />

Sua paleta, to<strong>da</strong>via, é solar e vibrante.<br />

A simplificação geométrica <strong>da</strong> paisagem<br />

e <strong>da</strong> figura foi levando a pintura de<br />

Milton Dacosta na direção <strong>da</strong> abstração.<br />

A fatura avelu<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> tinta garante uma<br />

tonali<strong>da</strong>de rebaixa<strong>da</strong>, como se suas<br />

cores sussurrassem aos nossos olhos.<br />

Raimundo Colares, Sem título, 1969<br />

RAIMUNDO COLARES<br />

A combinação <strong>da</strong> urgência pop com o<br />

rigor construtivo seria uma marca <strong>da</strong><br />

obra de Colares, abrevia<strong>da</strong> pela morte<br />

prematura, em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de<br />

1980. Sua pintura parte <strong>da</strong> circulação<br />

selvagem pela ci<strong>da</strong>de, deslocando<br />

para a tela seu olhar desnorteado e<br />

fragmentado. O uso <strong>da</strong>s chapas de<br />

metal e <strong>da</strong>s tintas industriais contribui<br />

para a formalização desse olhar urbano.<br />

A obra de Raimundo Colares ain<strong>da</strong><br />

merece uma recepção condizente com<br />

sua importância.<br />

NÚCLEO CONCRETO<br />

O concretismo não queria representar<br />

o mundo visível, mas conceber novas<br />

formas de visibili<strong>da</strong>de. As relações<br />

entre as formas dão uma estrutura e<br />

um ritmo ao olhar e servem como uma<br />

espécie de célula construtiva para a<br />

visuali<strong>da</strong>de cotidiana – do mobiliário ao<br />

urbanismo, passando pelo design<br />

e pela mo<strong>da</strong>.<br />

Aluísio Carvão, Tema Triangular, 1957<br />

IBERÊ CAMARGO<br />

As pinturas de Iberê Camargo são<br />

construí<strong>da</strong>s com espessas cama<strong>da</strong>s<br />

de tinta, compostas de pincela<strong>da</strong>s<br />

urgentes e precisas. A perspectiva é<br />

inverti<strong>da</strong>, nos fazendo olhar como se<br />

estivéssemos dentro <strong>da</strong> pintura e não<br />

diante dela. A densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cama<strong>da</strong><br />

pictórica nos faz tocar a tela com os<br />

olhos, revelando uma relação quase<br />

erótica com as tintas.<br />

Iberê Camargo, Hora V, 1983<br />

Lygia Clark, Bicho, c.1960<br />

LYGIA CLARK<br />

A obra de Lygia Clark foi assimilando<br />

a geometria concreta e introduzindo<br />

o que ela chamava de “linha orgânica”,<br />

que articulava a superfície planar e a<br />

parede <strong>da</strong> sala, projetando a forma<br />

na arquitetura.<br />

Esse espaçamento <strong>da</strong> forma e sua<br />

potência orgânica vai se desdobrando<br />

nos Casulos, chegando aos Bichos e<br />

indo até os Trepantes. Aos poucos,<br />

vai sendo requisita<strong>da</strong> a participação<br />

criativa do espectador, remodelando e<br />

reinventando as possibili<strong>da</strong>des formais.<br />

Jorge Guinle, 10 Anos de Solidão, c.1983<br />

JORGE GUINLE<br />

A obra de Jorge Guinle, assim como a<br />

de Colares, é ao mesmo tempo breve,<br />

concentra<strong>da</strong> e definitiva. O gesto<br />

violento que ataca a tela com suas<br />

cores pulsantes é estruturado por uma<br />

intuição forma<strong>da</strong> pela convivência com<br />

a pintura e o ofício do pintor.<br />

A composição <strong>da</strong>s telas de Guinle<br />

parte de uma fluência gráfica próxima<br />

de Picasso e De Kooning, sendo que a<br />

experiência cromáticaw relacional, em<br />

que uma cor se potencializa na relação<br />

com as demais, vem diretamente de<br />

Matisse. As grandes telas de 1983,<br />

expostas na Bienal de São Paulo e<br />

adquiri<strong>da</strong>s por João Sattamini, formam<br />

um conjunto primoroso.<br />

ANTONIO DIAS<br />

As pinturas/assemblages de Antonio<br />

Dias na déca<strong>da</strong> de 60 carregavam<br />

uma expressivi<strong>da</strong>de nova, com<br />

uma materiali<strong>da</strong>de orgânica e uma<br />

temática de forte entonação política.<br />

Ao mesmo tempo, vinha organiza<strong>da</strong><br />

plasticamente dentro de uma<br />

estrutura geométrica e com uma<br />

paleta reduzi<strong>da</strong> de cores, com forte<br />

presença do vermelho-encarnado.<br />

Suas pinturas, entre 1970 e 1975,<br />

exibirão o espanto de uma época<br />

em que o sujeito ocidental perdeu o<br />

sonho de uma revolução utópica e se<br />

lançou, simultaneamente, no vazio<br />

<strong>da</strong> conquista espacial.<br />

Antonio Dias, For Me, For You, 1968<br />

ELIANE DUARTE<br />

Há no trabalho de Eliane Duarte uma<br />

dose de estranhamento peculiar,<br />

unindo artesania e viscerali<strong>da</strong>de. A<br />

impressão que se tem é a de que a<br />

carga simbólica nasce do seu embate<br />

com os materiais. A costura vai<br />

desentranhando pequenos seres em<br />

gestação, em estado de metamorfose,<br />

em vias de se tornarem outra coisa.<br />

Há uma violência que vem de dentro,<br />

de uma interiori<strong>da</strong>de em ebulição<br />

constante e que toma a obra como<br />

exteriorização do incômodo, <strong>da</strong>quilo<br />

que não tem lugar, nome, forma,<br />

mas que, por isso mesmo, ameaça e<br />

aterroriza. A obra de Eliane Duarte é<br />

um grito abafado.<br />

Eliane Duarte, Vestido de Noiva, 1994

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