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Ser o primeiro guardião Werecat feminino não é fácil. As ... - CloudMe

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Sinopse<br />

<strong>Ser</strong> o <strong>primeiro</strong> <strong>guardião</strong> <strong>Werecat</strong> <strong>feminino</strong> <strong>não</strong> <strong>é</strong> <strong>fácil</strong>. <strong>As</strong><br />

cicatrizes se acumulam, mas sou mais forte em muitos<br />

aspectos.<br />

Quanto a minha vida pessoal? É complicada. <strong>As</strong> escolhas que<br />

valem a pena sempre são. Desde a morte do meu irmão e a<br />

impugnação do meu pai, <strong>é</strong> tudo o que eu posso fazer para<br />

evitar que se derrame mais sangue.<br />

Agora nosso Pride <strong>é</strong> atacado por um bando de Thunderbirds 1<br />

cru<strong>é</strong>is. E fazer as pazes com nossos novos inimigos pode ser a<br />

única forma de obter o melhor do nosso velho inimigo.<br />

Com o crescente aumento na contagem de cadáveres e a<br />

traição em todas as partes, meu instinto me diz para olhar<br />

antes de saltar. Mas às vezes um salto de f<strong>é</strong> <strong>é</strong> a única opção<br />

real...<br />

1 Thunderbirds: O pássaro do trovão, o Thunderbird <strong>é</strong> um dos marcos da mitologia dos nativos americanos.<br />

Personificação de Deus em suas relações com os humanos, suas asas eram as causadoras das tempestades<br />

que proporcionavam agua as habitantes dos desertos americanos.<br />

3


Capítulo 1<br />

— Você deve sair. Agora. — o grunhido de aviso de meu pai ecoou em um<br />

lugar escuro e primitivo de mim e de repente desejei, ardentemente, carne rasgada<br />

e sangue fresco brilhando com a luz da lua. Onda após onda de desejo de matar<br />

batendo sobre mim; eu me debati sob o ataque, lutando para controlá-lo. Teríamos<br />

justiça por Ethan, mas <strong>não</strong> neste momento. Não neste lugar.<br />

Embora o escritório de meu pai, praticamente exalasse fumaça com a fúria<br />

que florescia atrav<strong>é</strong>s de mim e de meus companheiros guardiões, Paul Blackwell<br />

agia como o cabeça do Conselho, parecendo completamente indiferente. Eu o<br />

observava de meu lugar, perto da porta fechada do escritório, ambos os braços<br />

(meu direito ainda engessado) cruzados perto do peito.<br />

Blackwell colocou seu bastão de madeira fora de moda firmemente no tapete<br />

oriental e apoiou-se nele com ambas as mãos.<br />

— Agora, Greg, acalme-se... Só peço-lhe que considere o bem estar comum,<br />

que <strong>é</strong> exatamente o que você diz que honrará se for reintegrado como Presidente<br />

do Conselho.<br />

Infelizmente, isso parecia menos provável à medida que os dias passavam.<br />

Durante a semana em que eu havia enterrado meu irmão, Nick Davison havia<br />

anunciado seu apoio a Calvin Malone como chefe do Conselho, o que significava<br />

que agora meu pai precisava do último voto restante (o de Jerold Pierce, pai de<br />

meu companheiro <strong>guardião</strong> Parker) justamente para enredar tudo.<br />

E um enredo que <strong>não</strong> era bom. Precisávamos de uma vitória limpa.<br />

Meu pai sentou-se em uma poltrona no final do tapete e sua recusa em se<br />

levantar era (superficialmente) uma rara demonstração de desrespeito a um colega<br />

Alfa. Mas eu o conhecia bastante bem para entender a verdade: se ele ficasse de<br />

p<strong>é</strong>, poderia perder seu controle.<br />

— Está me pedindo que eu deixe que o assassinato de meu filho fique sem<br />

ser vingado. — sua voz era tão baixa e perigosa como eu nunca havia ouvido e juro<br />

que eu senti o profundo estrondo em meus ossos. Fez eco da dor de meu coração.<br />

— Estou lhe pedindo que <strong>não</strong> comece uma guerra. — Blackwell estava calmo<br />

e estável, deve ter tido um grande autocontrole, considerando a juventude e o peso<br />

de meu pai. E sua óbvia raiva. Mesmo em seu final dos cinquenta anos, Greg<br />

Sanders, Alfa do Pride 2 Central Sul e meu pai, tinha uma força formidável.<br />

bem.<br />

Meu pai grunhiu outra vez: — Calvin Malone começou isto e você sabe muito<br />

2 Território demarcado, onde há leis propostas por um Conselho. Um Alfa com poderes de delimitar a área de<br />

seu domínio, junto a sua família; e executores da lei.<br />

4


Blackwell suspirou e olhou ao redor do cômodo, seu olhar cansado alcançou<br />

os três Alfas reunidos perto do bar e os guardiões espalhados ao longo da parede.<br />

Eu tinha a impressão de que ele queria mais era estar sozinho com meu pai.<br />

Os outros Alfas e dois guardiões para cada um haviam chegado cedo esta<br />

manhã para a última reunião estrat<strong>é</strong>gica antes que o Pride Central Sul e nossos<br />

aliados lançassem a primeira ofensiva <strong>Werecat</strong> em grande escala nos Estados<br />

Unidos em mais de seis d<strong>é</strong>cadas. Era sábado. Planejávamos atacar em três dias,<br />

logo depois do anoitecer, na noite de terça-feira. A expectativa zumbia no ar ao<br />

nosso redor, agitando como eletricidade em meus ouvidos, pulsando como fogo em<br />

minhas veias.<br />

Já podíamos sentir os golpes, cada um de nós. Podíamos saborear o sangue<br />

e ouvir os gritos que logo perfurariam a tranquila noite. Estávamos vivendo com a<br />

promessa de que a violência se responde com violência e alguns dos Toms ao meu<br />

redor se equilibravam à beira do desejo de matar, cavalgando como se estivessem<br />

sobre uma onda mortal.<br />

Seguramente, Blackwell soubera que sua missão tinha falhado no momento<br />

em que ele entrou na casa.<br />

Nossos aliados eram esperados, mas a chegada de Paul Blackwell foi uma<br />

completa surpresa. Logo depois do almoço, ele entrou no caminho de acesso com<br />

um carro alugado, dirigido por seu neto, com uma bengala na mão e determinação<br />

em seu passo. Mas isso <strong>não</strong> seria suficiente e tamb<strong>é</strong>m <strong>não</strong> o seria a autoridade do<br />

Conselho Territorial, o qual ele usava como uma medalha de honra. Ou mais como<br />

uma medalha da vergonha, considerando que perto da metade dos membros<br />

estavam presentes e nenhum parecia feliz em vê-lo.<br />

Blackwell reacomodou um de seus p<strong>é</strong>s no tapete e fechou os olhos como se<br />

estivesse organizando seus pensamentos, então seu olhar se fixou em meu pai<br />

outra vez.<br />

— Greg, ningu<strong>é</strong>m está feliz com o que aconteceu a Ethan e muito menos eu.<br />

Calvin foi formalmente repreendido e os guardiões envolvidos. — aqueles que<br />

sobreviveram, presumivelmente. — Foram suspensos de suas obrigações<br />

indefinidamente, aguardando uma investigação.<br />

— Quem está liderando essa investigação? — meu tio Rick perguntou do<br />

outro lado do cômodo, com um copo meio cheio de brandy seguro perto de seu<br />

peito. — E quem será aceito como testemunha? Você acha, honestamente, que o<br />

Conselho <strong>é</strong> capaz de fazer justiça ou at<strong>é</strong> mesmo ser imparcial em seu estado<br />

atual?<br />

mãe.<br />

Blackwell virou-se torpemente para meu tio, o irmão mais velho de minha<br />

— Sinceramente, eu acho que o atual estado do Conselho <strong>não</strong> <strong>é</strong> nada menos<br />

do que um grande desastre, mas abandonar cada ordem que nos passa, <strong>não</strong> <strong>é</strong> a<br />

forma de reparar as frestas que temos aberto em nossa base. — então se virou<br />

para meu pai novamente. — Felizmente, eu acho que você se ocupou do culpado<br />

você mesmo.<br />

De fato, meu pai havia destroçado a garganta do assassino de Ethan antes<br />

que meu irmão exalasse seu último suspiro. O Tom atacante foi lançado no<br />

5


incinerador industrial atrás de nosso celeiro, suas cinzas foram jogadas sem<br />

cerimônias no chão a alguns metros do forno e depois pisoteadas junto com a<br />

sujeira e por todos que quiseram pisoteá-las. Mas, um pequeno ato de vingança<br />

aliviou muito pouco a chama de fúria que consumia todos nós.<br />

— Calvin Malone <strong>é</strong>, afinal de contas, o responsável pela morte de Ethan e ele<br />

pagará esse preço. — as palavras de meu pai saíram frias como se ele <strong>não</strong> pudesse<br />

sentir nem uma palavra que dizia. Mas, a minha direita, as mãos de Marc se<br />

fecharam em punhos e Jace ficou tenso. Da poltrona, Michael estava balançando<br />

tristemente a cabeça. Estávamos prontos. A vingança estava adiada.<br />

— O Conselho tomou uma medida oficial sobre este assunto. — Blackwell<br />

continuou. — Sei que você <strong>não</strong> está satisfeito com esta medida e isso <strong>é</strong><br />

compreensível, mas se bater em Malone depois de ele ter aceitado a condenação,<br />

você dará o <strong>primeiro</strong> golpe.<br />

— Somos crianças brincando de quem tem culpa? — meu pai finalmente se<br />

levantou de seu assento e Blackwell teve que levantar os olhos para se deparar<br />

com sua fúria. — Você está tão focado em quem tem culpa que <strong>não</strong> pode ver a<br />

imagem completa? Calvin Malone está fora de controle e se o Conselho <strong>não</strong> pode<br />

freá-lo, então nós o faremos.<br />

Do outro lado do cômodo, tio Rick, Umberto Di Carlo e Ed Taylor<br />

concordaram em solidariedade. Eles haviam dado seu apoio atrás de meu pai e<br />

tinham comprometido sua gente para lutar a nosso lado.<br />

— A imagem completa <strong>é</strong> exatamente o que eu estou olhando. — Blackwell se<br />

manteve firme quando meu pai caminhou majestosamente at<strong>é</strong> ele. — Você está<br />

falando de uma guerra civil. Como isto beneficia ao bem comum? — olhou para<br />

sua bengala e curvou a coluna de ancião. — Meus olhos podem ser velhos e<br />

fracos, mas eu posso ver claramente, Greg. Os Prides dos Estados Unidos <strong>não</strong><br />

podem se permitir o luxo de ir para a guerra.<br />

Meu pai encontrou-se com seu olhar, firmemente: — Nem podem se permitir<br />

o luxo de se deixar levar por Calvin Malone. — caminhou ao redor do idoso Alfa e<br />

pegou o copo que seu cunhado lhe ofereceu, bebendo enquanto Blackwell se<br />

virava lentamente, apoiando-se em sua bengala enquanto esquadrinhava o<br />

cômodo.<br />

O olhar de Chefe do Conselho fixou-se em minha mãe, quem estava sentada<br />

rígida e ereta em uma poltrona de couro no canto, meio escondida pelas sombras.<br />

Muito antes de eu nascer, ela tinha estado sentada no Conselho, mas <strong>não</strong> podia<br />

me lembrar dela falando de sua ativa participação nos assuntos do Conselho,<br />

durante toda minha vida. Mas ningu<strong>é</strong>m havia protestado quando ela entrou no<br />

cômodo atrás de nosso inesperado convidado, depois de lhe mostrar o escritório.<br />

— Karen... — disse Blackwell e a ironia de seu tom para com ela me irritava<br />

como um soco atrás de minha pelagem. A história do ancião, ser contra a respeito<br />

da igualdade de sexos era sólido, mas ele teve o descaramento de se dirigir a<br />

minha mãe em sua própria casa. — Realmente enviará seus próprios filhos para<br />

morrer em uma guerra que pode ser evitada?<br />

6


Os olhos de minha mãe brilharam de raiva e minha respiração parou em<br />

minha garganta. Ela se colocou de p<strong>é</strong> lentamente e cada rosto no cômodo virou<br />

para ela.<br />

— No caso de você <strong>não</strong> ter percebido Paul, eu <strong>não</strong> tenho que enviar meus<br />

filhos para observá-los morrer. Há menos de duas semanas atrás, Ethan foi<br />

assassinado em nossa própria terra, como resultado de uma medida que você<br />

sancionou. — caminhou para frente com os braços cruzados sobre o peito e,<br />

repentinamente, a semelhança entre minha mãe e eu era definitivamente<br />

assustadora. — Mas, você está aqui, em minha própria casa, pedindo-me para<br />

falar contra a execução de sua morte? Pedindo-me que apoie um Chefe de<br />

Conselho que apoia tudo o que eu odeio? Você <strong>é</strong> mais idiota do que Malone.<br />

Blackwell ficou olhando, obviamente sem palavras e um arrepio de prazer<br />

que eu mal podia conter correu por minha espinha. E minha mãe <strong>não</strong> havia<br />

terminado.<br />

— Al<strong>é</strong>m disto, se Calvin Malone assumir o comando do Conselho, a ordem<br />

das coisas afundará a um novo ponto mais baixo. O que faz você pensar que eu<br />

quero que você ou qualquer outro homem diga para minha filha quando e com<br />

quem deve se casar e quantos filhos ela deve ter? Sim, eu quero ver Faythe<br />

casada... — minha mãe me olhou pausadamente por um momento. — Mas, isso <strong>é</strong><br />

porque eu vejo nela, algumas vezes muito a fundo, a mesma veia feroz e protetora<br />

que eu sinto por meus filhos. E porque eu quero vê-la feliz. Esse <strong>é</strong> o direito de uma<br />

mãe, mas <strong>não</strong> direito seu. E você <strong>não</strong> convencerá nenhuma alma aqui que você<br />

traz um pouquinho de preocupação pela felicidade dela.<br />

— Karen... — Blackwell começou, mas minha mãe negou com a cabeça<br />

firmemente.<br />

Eu me contorci, igualmente com vergonha e orgulho, mas minha atenção<br />

<strong>não</strong> largou a máscara de porcelana de fúria e indignação de minha mãe.<br />

— Escute atentamente, eu <strong>não</strong> direi isto outra vez. — ela deu outro passo<br />

adiante, com seu dedo indicador apontando para o membro mais antigo do<br />

Conselho e esses arrepios na espinha dispararam por meus braços. — Não<br />

confunda meu caráter tranquilo e minha contribuição para a próxima geração de<br />

nossas esp<strong>é</strong>cies como sinal de docilidade ou fraqueza. Esse instinto maternal para<br />

o qual você está apelando <strong>é</strong> o que dá combustível a minha necessidade de<br />

vingança por meu filho. E eu lhe asseguro que a necessidade <strong>é</strong> grande, tão<br />

controladora como a de meu esposo. Agora, — ela continuou quando a mandíbula<br />

enrugada de Blackwell afrouxou. — Você <strong>é</strong> bem vindo como um convidado, mas se<br />

alguma outra vez insultar a mim ou a qualquer outro membro de minha casa, eu<br />

pessoalmente mostrar-lhe-ei a saída.<br />

Com isso, minha mãe colocou uma mecha de cabelo grisalho que chegava a<br />

seu queixo, atrás de uma orelha e caminhou resolutamente at<strong>é</strong> a porta, deixando<br />

o restante de nós segui-la com olhar de espanto. Exceto meu pai. Sua expressão<br />

brilhava com um orgulho tão feroz que se ele <strong>não</strong> estivesse de luto pela perda de<br />

um filho, eu tinha certeza de que ele teria pedido um brinde.<br />

O silêncio reinou no escritório de meu pai, exceto pelo som dos saltos de<br />

minha mãe contra a dura madeira. Sem olhar para trás ou fazer contato visual<br />

com ningu<strong>é</strong>m, ela abriu a porta e se chocou com uma pequena Tabby.<br />

7


— Kaci, o que aconteceu? — minha mãe pegou-a pelo ombro e guiou-a para<br />

fora do escritório, obviamente assumindo que ela estava prestes a bater na porta.<br />

Mas eu sabia melhor. Kaci <strong>não</strong> ia bater, ela estava ouvindo as escondidas.<br />

Pelo menos, tentava. Mas, eu poderia ter dito a ela, por experiência própria,<br />

que <strong>não</strong> teria muita sorte. A porta do escritório era de carvalho sólido e do teto at<strong>é</strong><br />

as paredes eram de bloco de concreto e sem janelas. Embora essas características<br />

na verdade <strong>não</strong> isolassem acusticamente o cômodo, ficava quase impossível<br />

entender as palavras pronunciadas dentro dele. Mesmo com a audição realçada<br />

dos <strong>Werecat</strong>s.<br />

— Eu... — Kaci hesitou, olhando-me à procura de ajuda. Mas, eu apenas<br />

sorri, desfrutando ver mais algu<strong>é</strong>m em apuros desta vez. — Estão falando de mim,<br />

certo? Se estiverem, eu tenho direito de saber.<br />

Minha mãe sorriu: — Seu nome <strong>não</strong> foi mencionado.<br />

Ainda. Mas, agora que Blackwell tinha sido baleado diante da frágil paz, eu<br />

<strong>não</strong> tinha dúvida de que ele iria começar com o assunto de Kaci. Calvin Malone<br />

estava desesperado para colocá-la em um Pride que mantivesse sua postura pelo<br />

controle do Conselho. Seu próprio Pride, se ele possivelmente pudesse levá-la. De<br />

fato, Ethan tinha morrido defendendo Kaci de uma tentativa de levá-la a força de<br />

nossa fazenda para o leste do Texas.<br />

E Kaci sabia disto.<br />

— O que está acontecendo então? Isto <strong>é</strong> sobre Ethan? — seu queixo tremeu<br />

quando falou e seus olhos mudaram rapidamente de um jeito para outro solene de<br />

“busca de respostas” e meu coração se quebrou mais uma vez.<br />

Kaci esteve mais próxima de Ethan e Jace do que de qualquer um dos<br />

outros Toms e embora o tivesse conhecido há menos de três meses, ela recebeu a<br />

morte de meu irmão tão duramente como o resto de nós. Talvez pior. Aos treze<br />

anos, Kaci já havia sido tragicamente superexposta à morte e subexposta aos<br />

conselhos. E, al<strong>é</strong>m da tristeza e a fúria que nós sofríamos, ela se sentia culpada<br />

porque Ethan havia morrido para defendê-la.<br />

— Vamos Kaci, vamos pegar algo para comer. — minha mãe tentou conduzila<br />

para fora do escritório, mas a Tabby se encolheu, escapando por debaixo de sua<br />

mão.<br />

— Não estou com fome e estou cansada de ficar de fora. Vocês me mantêm<br />

fechada na fazenda, mas <strong>não</strong> me dirão o que está acontecendo em minha própria<br />

casa? Isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> justo.<br />

Suspirei e olhei em torno do escritório, <strong>não</strong> querendo perder o restante da<br />

discussão, mas agora que Ethan havia ido, ningu<strong>é</strong>m mais podia lidar com Kaci tão<br />

bem quanto eu, exceto Jace e eu <strong>não</strong> ia pedir a ele que saísse. A guerra iminente<br />

tinha tanto a ver com ele quanto tinha comigo, Calvin Malone era seu padrasto e<br />

Ethan era seu melhor amigo de toda uma vida.<br />

— Vamos Kaci, por que <strong>não</strong> vamos chutar alguns fardos de feno no celeiro?<br />

Ela me olhou como se eu tivesse ido para o lado negro, mas concordou com<br />

a cabeça a contragosto.<br />

8


Marc pegou a minha mão, depois deixou que seus dedos se arrastassem<br />

pelos meus enquanto eu passava por ele a caminho da porta. Então eu parei e<br />

deliberadamente rocei um beijo em sua bochecha áspera durante o trajeto,<br />

inalando profundamente para ingerir tanto de seu aroma quanto fosse possível,<br />

demorando-me em beneficio de Blackwell, assim como no meu. Reiterando ao<br />

velho excêntrico que eu ia escolher minhas próprias relações.<br />

Mas, em meu caminho para o corredor, meu olhar capturou o de Jace e a<br />

tensa linha em sua mandíbula traiu sua expressão cuidadosamente em branco,<br />

assim como o lampejo de calor em seus olhos. Havíamos concordado em <strong>não</strong> falar<br />

sobre o que aconteceu entre nós no dia em que Ethan morreu. Na verdade, <strong>não</strong><br />

havia outra maneira de manter a paz no lugar e manter a energia e atenção de<br />

todos focada em vingar meu irmão. E eu havia jurado a mim mesma que Marc<br />

seria o <strong>primeiro</strong> a saber, que eu mesma contaria. Ele merecia tanto isso, tão<br />

malditamente quanto eu temia. E eu ainda <strong>não</strong> tinha tido tempo para isso, nem<br />

sequer um momento adequado. Cada momento era p<strong>é</strong>ssimo, de fato, e cada vez<br />

que Jace me olhava dessa forma, cada vez que eu me sentia respondendo a ligação<br />

que eu queria negar, minha pressão interna marcava um nível a mais.<br />

Se eu <strong>não</strong> liberasse a tensão logo, iria explodir. Ou fazer algo que todos nós<br />

lamentaríamos.<br />

Obriguei-me a caminhar diante de Jace com nada mais do que um<br />

assentimento cordial e triste, exatamente o que eu daria a qualquer um de meus<br />

outros companheiros guardiães, e fechei a porta quando saí para o corredor.<br />

Minha mãe estava parada ali com minha jaqueta de couro e o agasalho de<br />

esqui de Kaci. Às vezes eu esquecia que ela podia se mover tão rápido como o resto<br />

de nós, se quisesse. Às vezes eu esquecia que ela tem uma boca, tamb<strong>é</strong>m.<br />

Suponho que <strong>é</strong> onde eu consegui a minha...<br />

— Obrigada. — peguei a jaqueta e coloquei meus ombros dentro dela. —<br />

Mamãe, isso foi... impressionante — Não havia outra forma de descrevê-lo.<br />

Seus lábios formaram uma linha reta e sombria: — Foi a verdade. — tirou as<br />

longas ondas castanhas de Kaci de debaixo de seu pescoço e forçou um sorriso. —<br />

Entre e se aqueça, em meia hora e eu farei chocolate quente.<br />

No caminho pelo corredor, Kaci colocou as mãos nos bolsos de seus jeans e<br />

olhou-me, as sobrancelhas tão duras quanto as que meu pai geralmente usava e,<br />

neste instante, eu <strong>não</strong> queria mais do que vê-la sorrir. Vê-la brilhar, apenas por<br />

um minuto, como qualquer outra menina de treze anos. Como uma adolescente<br />

que <strong>não</strong> sabe nada de morte violenta, culpa despedaçando a alma e medo<br />

esmagador no espírito.<br />

— O que foi impressionante? — ela perguntou, abrindo a porta principal<br />

com um puxão.<br />

Sorri, meu estado de ânimo momentaneamente iluminado pela lembrança<br />

do rude monólogo de minha mãe.<br />

— Minha mãe acaba de agarrar Blackwell por suas velhas bolas enrugadas<br />

diante de todos.<br />

<strong>As</strong> sobrancelhas de Kaci se ergueram at<strong>é</strong> a metade de sua testa: — S<strong>é</strong>rio?<br />

9


Eu assenti e por um segundo, capturei um lampejo de quão feliz Kaci<br />

poderia parecer.<br />

— Genial.<br />

Saímos para a varanda e realmente nós <strong>não</strong> demos dois passos antes de me<br />

dar conta de que <strong>não</strong> estávamos sozinhas. Mercedes Carreño (Manx) estava<br />

sentada no banco de ferro com meu irmão Owen. Ambos levantaram os olhos<br />

quando nos aproximamos, mas seus simples sorrisos nos disseram que nós <strong>não</strong><br />

havíamos interrompido nada. Nenhuma conversa, de qualquer modo. Eles<br />

simplesmente estavam sentados juntos, apreciando o silêncio do inverno e, de<br />

alguma forma, o tranquilo conforto parecia mais íntimo do que muitos beijos que<br />

eu já tinha visto.<br />

— Ei. — disse Kaci, inconsciente de quando eu levantei uma sobrancelha<br />

curiosa para meu irmão. — Onde está Des?<br />

Manx encolheu os ombros mais profundamente em seu agasalho de lã: —<br />

Está dormindo.<br />

Minha sobrancelha ergueu-se ainda mais e Owen corou, deslizando seu<br />

chap<strong>é</strong>u de caubói para frente e para trás sobre sua cabeça. Manx nunca deixava<br />

Des. Nunca. O bebê dormia em sua cama e ela se sentava com ele quando tirava<br />

as sonecas. Ela nem sequer ia ao banheiro at<strong>é</strong> que encontrasse algu<strong>é</strong>m em quem<br />

confiasse para observá-lo enquanto ela <strong>não</strong> estava.<br />

No entanto, estava sentada aqui, junto com meu cavalheiro-irmão-caubói,<br />

sem fazer nada, com suas mãos descansando facilmente em seu colo, suas<br />

massacradas unhas escondidas por elásticas luvas de lã.<br />

— Posso brincar com ele quando acordar? — Kaci perguntou.<br />

Manx sorriu. Ela tinha percebido que brincar com o bebê (ainda que isso<br />

equivalesse a pouco mais do que deixar que o bebê de um mês agarrasse seu<br />

dedo) tranquilizava Kaci um pouco mais: — Claro.<br />

Os ombros de Kaci relaxaram e eu <strong>não</strong> podia deixar de me perguntar se dois<br />

bebês poderiam significar o dobro de terapia, para Kaci e para todos nós. Ainda<br />

<strong>não</strong> havíamos tido tempo de averiguar, mas a namorada humana de Ethan,<br />

Ângela, estava grávida e eu <strong>não</strong> tinha nenhuma razão para acreditar que o bebê<br />

<strong>não</strong> fosse dele.<br />

Minha mãe estava cautelosamente otimista sobre as notícias, com<br />

ocasionais episódios de alegria desenfreada nos momentos em que se permitia<br />

acreditar que era realmente verdade. Nada poderia preencher o vazio que a morte<br />

de Ethan havia deixado em todos nossos corações, mas seu filho (o <strong>primeiro</strong> neto<br />

de minha mãe) poderia percorrer um longo caminho at<strong>é</strong> a cura da ferida. Ela mal<br />

podia esperar para conhecer Ângela, mas todos nós havíamos concordado que, por<br />

segurança da nova mãe, seria melhor fazer as apresentações depois que nossos<br />

problemas com o Conselho Territorial tivessem terminado.<br />

O olhar de Kaci percorria o jardim em direção ao celeiro. Depois seus olhos<br />

se estreitaram e uma testa franzida puxou os cantos de sua boca. Eu sabia o que<br />

ela estava vendo sem eu me virar.<br />

O túmulo de Ethan.<br />

10


Nós o havíamos enterrado debaixo da macieira, a meio caminho entre o<br />

jardim e o prado leste e sua lápide mudou para sempre a paisagem familiar. Mas,<br />

esse era o plano. Queríamos vê-lo todos os dias, para lembrá-lo sem falta. Para<br />

chorar por tanto tempo quanto tiv<strong>é</strong>ssemos vontade.<br />

— Vou indo na frente. — Kaci murmurou e depois correu pelas escadas sem<br />

esperar uma resposta.<br />

Eu <strong>não</strong> tinha intenção de ficar com Owen e Manx, relutante em<br />

interromper... o que quer que seja que eles estivessem fazendo. Mas Kaci<br />

claramente queria um momento a sós com Ethan e eu tinha que respeitar isso.<br />

— Como estão os dedos 3 ? — perguntei, esparramando-me em uma cadeira<br />

de vime no extremo da varanda.<br />

— Perdão? — Manx franziu a testa at<strong>é</strong> que eu fiz sinal para suas mãos,<br />

então ela ergueu os dedos, como que para checá-los. — Oh. Muito melhor. Doem<br />

apenas quando... — fez uma pausa, procurando a palavra correta em inglês. —<br />

batem nas coisas. — empurrou suas mãos para frente e contra o nada para<br />

demonstrar.<br />

Depois de quase duas semanas que lhe arrancaram as garras, suas mãos<br />

tinham se curado quase completamente, mas o tecido da cicatriz onde suas unhas<br />

haviam estado, continuava de cor vermelho vivo e inchado. Ela odiava a visão de<br />

suas mãos e usava luvas largas sempre que possível, tirando-as apenas para<br />

cuidar do bebê ou de si mesma.<br />

Virei-me para olhar Kaci, a meio caminho da macieira e andando em seu<br />

próprio ritmo, e preguiçosamente notei um par de falcões sobrevoando.<br />

— Como está seu braço? — Manx perguntou, recobrando minha atenção.<br />

Ergui meu gesso, sorrindo ante os desenhos que Kaci havia feito entre as<br />

negligentes assinaturas dos guardiões. Uma flor com p<strong>é</strong>talas de cor púrpura e<br />

olhos em forma de X no centro. Uma caveira e ossos cruzados de cor rosa. Eu<br />

tinha me sentado, imóvel, durante várias de suas obras primas. Qualquer coisa<br />

para fazê-la sorrir, embora eu ameaçasse pintá-las por cima com esmalte preto de<br />

unhas se ela colocasse mais rosa em meu braço.<br />

Ainda assim, eu tinha que admitir que pensar em Kaci enquanto olhava meu<br />

gesso, era muito melhor do que pensar em como eu o havia quebrado. Nos<br />

bastardos que tinham sequestrado e espancado Marc para me arrancar<br />

informação, quando me bater <strong>não</strong> havia funcionado.<br />

— Está bom. O Dr. Carver disse que posso tentar Mudar em algumas<br />

semanas. — porque os ossos quebrados demoram mais para curar do que simples<br />

cortes e arranhões. Eu já sentia coceira pela mudança e pelo gesso que de alguma<br />

maneira, fazia com que meu braço suasse, mesmo em meados de fevereiro.<br />

— Ela realmente sente falta dele. — Owen apontou com a cabeça para algo<br />

por cima de meu ombro e eu me retorci para ver Kaci no chão junto à lápide de<br />

Ethan com um joelho tocando a terra rec<strong>é</strong>m-colocada.<br />

3 Manx se confunde quando Faythe lhe pergunta sobre os dedos porque ela <strong>não</strong> usa “fingers” (dedos), mas sim<br />

“digits” que tamb<strong>é</strong>m significa dedos e como o inglês de Manx <strong>não</strong> <strong>é</strong> muito bom, ela <strong>não</strong> entendeu.<br />

11


— Sim, ela...<br />

— Que diabos? — exigiu Owen e eu olhei por cima do parapeito da varanda.<br />

— Alguma vez você viu falcões tão grandes? Devem ter visto alguma comida, pela<br />

forma que estão dando voltas...<br />

Eu estava em p<strong>é</strong> em um instante, uma sensação de mal estar revirou meu<br />

estômago: — Não são falcões... — para começar, eles eram grandes demais. E suas<br />

asas estavam completamente inclinadas. Principalmente as pontas. Mesmo à<br />

distância, os estremos pareciam... estranhos. Os pássaros devem ter voado muito<br />

alto antes, porque agora que haviam voado mais baixo, lançando-se para o bosque<br />

atrás do prado oriental, pareciam enormes.<br />

Meu ritmo cardíaco logo ficou lento como se <strong>não</strong> pudesse se manter com o<br />

ritmo natural de meu corpo. Os pássaros eram muito grandes e estavam muito<br />

baixo. E eram rápidos demais...<br />

Oh, merda...<br />

— Kaci. — gritei quando o <strong>primeiro</strong> pássaro desceu sobre o descampado at<strong>é</strong><br />

ela. Ela levantou os olhos e gritou e eu já estava atravessando o jardim.<br />

Kaci saltou em seus p<strong>é</strong>s, depois se agachou quando o <strong>primeiro</strong> pássaro se<br />

lançou com as garras enormes apontando perigosamente perto de sua cabeça. Ela<br />

gritou de novo e quando o pássaro se elevou no ar, batendo as gigantes asas tão<br />

fortemente que eu podia ouvir o zumbido no ar a duzentos metros de distância, ela<br />

se colocou de p<strong>é</strong> e veio correndo at<strong>é</strong> mim.<br />

Kaci correu depressa pelo gramado seco, gritando a plenos pulmões.<br />

Eu continuei avançando em direção a ela, relutante em perder energia com<br />

meus próprios gritos. Mas em forma humana, nenhuma das duas era rápida o<br />

bastante. Eu estava a quinze dolorosos metros de distância quando o segundo<br />

pássaro mergulhou, suas potentes asas movendo tanto ar que, realmente, me fez<br />

voar um passo para trás. Suas garras se abriram extensamente, logo se fecharam<br />

ao redor de seus braços.<br />

Por um momento, quando ele recobrou o equilíbrio com sua nova carga, tive<br />

uma visão impressionante da magnífica criatura. <strong>As</strong>as suaves e de cor marrom.<br />

Um terrível bico curvado. Poderosas e horripilantes patas e longas e afiadas garras<br />

nas asas, sobressaindo por debaixo das plumas nas pontas de suas asas.<br />

Um instante depois, o pássaro estava voando novamente e eu parei com as<br />

pontas de meus dedos agarrando o ar a três metros abaixo dos tênis pendentes de<br />

Kaci.<br />

Meu coração se acelerou junto com meus p<strong>é</strong>s enquanto eu os seguia,<br />

sabendo que minha perseguição era inútil. Eu <strong>não</strong> podia voar e <strong>não</strong> podia correr<br />

rápido o suficiente para manter o ritmo. Porque Kaci <strong>não</strong> tinha sido pega por<br />

falcões. Nossa jovem Tabby, minha querida carga, acabara de ser sequestrada<br />

pelos <strong>primeiro</strong>s Thunderbirds vistos por <strong>Werecat</strong>s em quase um quarto de s<strong>é</strong>culo.<br />

12


Capítulo 2<br />

— Kaci! — gritei enquanto corria; com a adrenalina marcando um caminho<br />

por meu corpo tão quente e rápido que <strong>não</strong> podia sentir mais nada. Nem o frio<br />

mordaz de fevereiro, nem o chão debaixo de meus p<strong>é</strong>s, nem os galhos descobertos<br />

que me golpeavam no rosto e o pescoço enquanto corria pelo bosque atrás da<br />

casa.<br />

De cima, Kaci gritou e lutou, mostrando seus p<strong>é</strong>s atrav<strong>é</strong>s das copas nuas<br />

das árvores. Se fosse verão, eu jamais a teria visto atrav<strong>é</strong>s da folhagem.<br />

O Thunderbird saiu em um mergulho e balançou desenfreadamente<br />

enquanto Kaci puxava suas pernas para o lado, então ele se endireitou e<br />

empurrou contra o ar com outro golpe poderoso de ambas as asas. Em segundos<br />

estavam dez metros mais acima e Kaci ainda lutava contra ele, gritando em um<br />

mudo terror.<br />

— Fica quieta! — gritei tão forte quanto pude, esperando que ela pudesse me<br />

ouvir por sobre o vento e seus próprios gritos. Se ela caísse dessa altura, seria<br />

gravemente ferida, mesmo se seus p<strong>é</strong>s amortizassem a queda. E se <strong>não</strong> o fizessem,<br />

estaria morta.<br />

Al<strong>é</strong>m de Kaci e seu sequestrador, o segundo Thunderbird voava em um arco<br />

largo, voando em círculos para nós outra vez. Tive um momento de pânico,<br />

assumindo que ele cairia em mergulho at<strong>é</strong> mim, at<strong>é</strong> que me dei conta que <strong>não</strong><br />

poderia fazê-lo enquanto eu estivesse protegida pelo bosque; <strong>não</strong> havia espaço<br />

suficiente entre as árvores para acomodar sua impressionante envergadura de<br />

doze metros de comprimento, <strong>fácil</strong>. Talvez mais.<br />

Ao inv<strong>é</strong>s de descer, o segundo pássaro simplesmente voou em círculos ao<br />

redor de seu companheiro, vigiando, e provavelmente cumprindo um papel de<br />

reforço.<br />

Se o Thunderbird <strong>não</strong> tivesse sido retardado pelo peso de Kaci, eu os teria<br />

perdido totalmente. Mesmo com sua velocidade entorpecida consideravelmente,<br />

eles voavam muito, muito mais rápido do que eu podia me esquivar das árvores e<br />

arbustos em duas pernas humanas. Especialmente tendo em conta que meu foco<br />

de atenção estava no c<strong>é</strong>u, ao inv<strong>é</strong>s de meus obstáculos terrestres.<br />

Em poucos minutos eles estavam a um quarto de milha a minha frente, mas<br />

pelo menos <strong>não</strong> subiram mais do que aproximadamente quarenta metros sobre o<br />

dossel esquel<strong>é</strong>tico do bosque.<br />

Quanto tempo pode carregá-la? Empurrei para o lado um longo galho<br />

descoberto bem a tempo de evitar um nariz quebrado. Mas então olhei para cima<br />

outra vez e tropecei em uma raiz exposta e caí para frente como uma árvore<br />

derrubada.<br />

13


Minhas mãos sustentaram minha queda, mas o impacto irradiou atrav<strong>é</strong>s de<br />

meus braços, disparando agonia atrav<strong>é</strong>s do braço ainda quebrado. Parei apenas<br />

durante uma respiração antes de me empurrar sobre meus p<strong>é</strong>s outra vez,<br />

esfregando minhas mãos rasgadas e sangrentas sobre meus jeans. Mas antes de<br />

poder alcançar minha maior velocidade novamente, com o braço quebrado agora<br />

apertado contra o peito, uma mancha negra passou como um disparo a minha<br />

direita, saltando facilmente sobre um arbusto de sempre-viva que eu tive que<br />

rodear.<br />

Reforço. Menos mal que algu<strong>é</strong>m tinha Mudado. Se eu tivesse perdido tempo<br />

em fazê-lo, teríamos perdido Kaci de vista.<br />

O Tom se moveu rápido demais para que eu pudesse identificá-lo de vista,<br />

mas uma inalação rápida enquanto esquivava uma árvore fina e um tronco jogado<br />

no chão me deu sua identidade. Owen. E certamente vinham mais a caminho.<br />

Não <strong>é</strong> que qualquer um de nós pudesse fazer algo do chão...<br />

Meu irmão correu diante de mim e fora de minha vista, mas eu ainda podia<br />

ouvi-lo bufando de fúria e quebrando galhos, já que a velocidade era mais<br />

importante do que ser sigiloso neste momento. E segui adiante com meu ritmo<br />

humano enfurecido, com minha garganta doendo pelo ar frio, as mãos queimando<br />

com vários cortes e arranhões.<br />

Depois de cerca de um quilômetro, eu seguia cegamente tanto a Owen como<br />

a Kaci e tinha perdido a pista completamente para onde nos dirigíamos. Estava<br />

bastante certa de que tínhamos mudado de direção pelo menos uma vez e <strong>não</strong><br />

podia ver lógica na trajetória de voo dos pássaros, mais do que como uma<br />

tentativa de nos despistar. E permanecer sobre as árvores presumidamente para<br />

que os carros <strong>não</strong> pudessem segui-los.<br />

Então quando os pássaros e Kaci desapareceram de repente de minha visão,<br />

entrei totalmente em pânico. Meu coração batia tão rápido que pensei que<br />

estouraria, mas <strong>não</strong> podia instigar meus p<strong>é</strong>s a se moverem mais rápido. Jogueime<br />

para frente, tirando os galhos do caminho com ambos os braços agora, sem<br />

prestar atenção a meu gesso, atravessando o bosque na direção que tinha visto<br />

Kaci pela última vez. Já <strong>não</strong> podia ouvir Owen sobre o ruído de meu próprio pulso<br />

em meus ouvidos.<br />

At<strong>é</strong> que ele rugiu, adiante e para minha direita.<br />

Coloquei toda a energia que me restava em correr mais e, segundos mais<br />

tarde, transpassei as linhas das árvores para um dos lados do caminho campestre<br />

a menos de dois quilômetros da fazenda.<br />

Congelei, olhando fixamente o espetáculo diante de mim.<br />

Owen corria pela rua deserta, já dez metros à frente, dirigindo-se<br />

diretamente para um carro estacionado ao lado do caminho a uns bons trezentos<br />

metros diante dele. Sobre ele, ambos os pássaros voavam rapidamente para o<br />

carro, descendo enquanto chegavam, com Kaci ainda presa, e agora lutando de<br />

novo, nas garras do pássaro mais próximo.<br />

Corri atrás de Owen quando a porta do lado do motorista se abriu e um<br />

homem saiu do carro. Owen bufou em fúria pelo esforço. Meus quadríceps<br />

14


queimavam. O homem abriu a porta traseira do carro. O <strong>primeiro</strong> Thunderbird<br />

pousou elegantemente na terra e o choque me sacudiu tão fortemente que quase<br />

me fez cair.<br />

A um metro do chão, o pássaro tinha p<strong>é</strong>s. Pálidos e descalços p<strong>é</strong>s humanos,<br />

onde tinha estado garras agudas e afiadas um momento antes. Então sua cabeça<br />

era humana, exceto pelo bico largo e curvo ocupando o lugar de sua boca e nariz.<br />

Surpreendida at<strong>é</strong> o ponto da incompreensão, desacelerei meu ritmo at<strong>é</strong> um<br />

trote, sem poder despregar meu olhar da Mudança mais estranha que jamais tinha<br />

visto em minha vida. Eu podia realizar a Mudança parcial muito limitada. Uma<br />

mão, olhos, ou ainda a maior parte de meu rosto. Mas isto estava mais al<strong>é</strong>m de<br />

algo que eu alguma vez havia sequer considerado. Nenhum Gato podia Mudar tão<br />

rapidamente. E o que o Thunderbird acabara de fazer era o equivalente ao que um<br />

<strong>Werecat</strong> Mudaria na metade de um salto.<br />

A espantosa criatura a meio Mudada bateu elegantemente no solo aos p<strong>é</strong>s<br />

do carro, as pernas nuas meio formadas, o torso emplumado em sua maior parte,<br />

as asas ainda completamente intactas. Um instante mais tarde, Owen se apressou<br />

sobre ele.<br />

<strong>As</strong> asas poderosas golpearam o ar... e meu irmão. Longas plumas marrons<br />

se dobraram ao redor de Owen, roubando-o de minha vista por um instante antes<br />

que se abrissem completamente outra vez e o verdadeiro combate começasse.<br />

<strong>As</strong> garras cortaram. O bico se fechou com um forte ruído. O sangue fluiu.<br />

Owen grunhiu. O pássaro grasnou um som agudo horrível que embargava tanto<br />

de dor como temor e outras coisas que eu <strong>não</strong> podia identificar. E um par de<br />

garras horrivelmente curvas e finas se arqueou para cima, então caíram atrav<strong>é</strong>s do<br />

lado de meu irmão.<br />

Owen rugiu e suas próprias patas desenvasadas voaram. O motorista do<br />

carro, um gordinho e baixo homem com um nariz bruscamente curvado, parou<br />

com cuidado atrás do barulho, sem estar disposto a interceder por qualquer um<br />

dos lados da luta, parecendo indefeso. Então sua cabeça virou para cima e eu<br />

segui seu olhar para ver o segundo pássaro descendo para aterrissar a vinte<br />

metros do carro, com Kaci balançando em suas garras.<br />

Eu estava correndo outra vez nesse instante.<br />

O segundo pássaro voou mais baixo e abriu suas imensas asas para deterse<br />

no ar. Então abriu suas garras e deixou Kaci cair bruscamente a três metros do<br />

chão.<br />

A Tabby aterrissou duramente em seu p<strong>é</strong> esquerdo, então caiu sobre seu<br />

quadril com um golpe surdo. Sua boca se fechou pelo golpe, cortando um grito que<br />

já havia se tornado rouco. Um segundo mais tarde, seu sequestrador<br />

simplesmente aterrissou a um metro de distância, em dois p<strong>é</strong>s humanos, com as<br />

plumas já retrocedendo em seu corpo, as asas encolhendo-se com uma velocidade<br />

incrível at<strong>é</strong> formar longos e pálidos braços.<br />

Jogou-se para Kaci antes que suas mãos estivessem formadas<br />

completamente, mas no chão ela era mais rápida. A Tabby se afastou de seu<br />

alcance, então se colocou de p<strong>é</strong> e correu para o outro lado da rua, para mim.<br />

Tinha um leve coxear na perna esquerda e seus olhos estavam bem abertos pelo<br />

15


terror, mas as bochechas estavam ainda secas. No entanto, estivera gritando<br />

durante dez minutos seguidos, as lágrimas <strong>não</strong> tinham vindo ainda. E <strong>não</strong> viriam<br />

at<strong>é</strong> que o choque <strong>não</strong> passasse.<br />

O agora completamente humano, e nu, o Thunderbird correu atrás da<br />

Tabby, mas eu já estava ali. Kaci chocou-se comigo tão forte que quase caímos de<br />

lado. Sua testa se estatelou contra minha clavícula e seu ombro quase se enterra<br />

em meu esterno. Eu a girei ao redor de meus braços, colocando meu corpo entre<br />

ela e o sequestrador. Ele teria que passar por cima de mim para chegar at<strong>é</strong> ela e<br />

com garras ou <strong>não</strong>, inferno, com gesso ou <strong>não</strong>, eu cairia lutando.<br />

No carro, Owen tinha o <strong>primeiro</strong> pássaro bem preso, com seus dentes ao<br />

redor da agora garganta humana. Diante do grito ininteligível do motorista, o<br />

Thunderbird nu olhou para trás, então se virou e correu para o carro,<br />

evidentemente tendo se dado por vencido em relação a Kaci.<br />

O motorista deslizou em seu assento e fechou a porta e o motor do carro<br />

rosnou para a vida. O último Thunderbird olhou para seu companheiro ferido,<br />

hesitou e então se jogou no assento traseiro pela porta aberta. Um instante mais<br />

tarde, o carro deu uma guinada no caminho de cascalho, jogando pedras em<br />

Owen, e correu atrav<strong>é</strong>s da esquina at<strong>é</strong> desaparecer de vista.<br />

Logo que o carro se foi, Kaci pareceu derreter em meus braços e levou um<br />

momento para me dar conta de que só então ela tinha soltado seu aperto de morte<br />

ao redor de minhas costelas. Retrocedi e levantei seu queixo at<strong>é</strong> poder ver seu<br />

rosto, então disse o único pensamento coerente que podia formar.<br />

— Você está bem?<br />

— Acho que sim. — a cor voltava a seu rosto e seus dentes começaram a<br />

tremer.<br />

— Que tal seus braços? — segurei seu agasalho enquanto puxava,<br />

cuidadosamente, um braço para liberá-lo. Em seguida fez uma careta quando<br />

puxou a manga para cima. Logo abaixo de seu ombro tinha três grandes<br />

contusões, dois na frente e um na parte de trás, já escurecendo em feios<br />

hematomas azuis. O outro braço tinha, sem dúvida, o mesmo padrão. — E a<br />

perna? Estava mancando.<br />

— S<strong>é</strong>rio? — Kaci franziu a testa e deu um passo cuidadoso para frente,<br />

então estremeceu. — Acredito que torci quando... aterrissei.<br />

— Uma Mudança rápida deve arrumar isso. — Kaci assentiu e eu a conduzi<br />

de volta ao outro lado da rua, lentamente, já tirando meu celular do bolso.<br />

— Faythe?<br />

— Hmm? — dei uma olhada para baixo para encontrar a Tabby me olhando<br />

fixamente, o sinal de medo finalmente desaparecendo de seus olhos.<br />

— Acho que tenho medo de altura.<br />

Eu sorri.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m teria depois de um passeio como esse. — apertei o marcador<br />

automático do telefone de Marc enquanto caminhávamos e ele atendeu no<br />

16


<strong>primeiro</strong> toque, enquanto chegava à beira do caminho a uns bons dez metros de<br />

Owen, que ainda tinha o pássaro, agora inconsciente, preso pelo pescoço.<br />

— Faythe?<br />

— Estamos na estrada do condado três, a menos de dois quilômetros da<br />

fazenda. — eu disse e ele exalou em sinal de alívio. — Estou com Kaci e Owen tem<br />

um prisioneiro, inconsciente e sangrando. Owen está ferido tamb<strong>é</strong>m. — por vários<br />

arranhões óbvios em ambos os lados e atrav<strong>é</strong>s da parte esquerda de seu torso.<br />

— Estamos a caminho. Como está Kaci?<br />

— Aturdida, mas bem. Seus braços estão machucados e torceu o tornozelo,<br />

mas <strong>não</strong> <strong>é</strong> nada que uma Mudança e algum chocolate quente <strong>não</strong> arrumem.<br />

Outro suspiro aliviado, fazendo eco a um ruído satisfeito de Jace. Estavam<br />

juntos?<br />

— Estamos a caminho.<br />

Desliguei e deslizei meu telefone no bolso, então deslizei fora do aperto de<br />

Kaci para poder inspecionar o prisioneiro sem levá-la para mais perto do perigo<br />

potencial.<br />

— Ah. Bom trabalho Owen. — meu irmão bufou em resposta e choramingou<br />

enquanto me ajoelhava e corria uma mão suavemente por suas costas, guiando<br />

meu corpo longe do pássaro, se por acaso ele despertasse. <strong>As</strong> feridas de Owen <strong>não</strong><br />

colocavam sua vida em perigo, mas <strong>não</strong> eram cômodas, tamb<strong>é</strong>m. Se o pássaro<br />

tivesse se aproximado mais do seu estômago, ele teria sido desentranhado.<br />

— Thunderbirds... — sussurrei, colocando-me de p<strong>é</strong> para inspecionar o<br />

estranho meio pássaro a meus p<strong>é</strong>s. Que demônios eles queriam com Kaci?<br />

Jace chegou três minutos mais tarde com Marc no banco do passageiro.<br />

Marc havia deixado seu carro em sua casa, no Mississipi, e ambos estavam fora do<br />

veiculo mesmo antes que o motor deixasse de soar.<br />

— Que diabos aconteceu? — Marc me perguntou, correndo suas mãos por<br />

meus braços, como se eu fosse a que estava ferida. Jace parou quase de forma<br />

imperceptível a meu lado e seu olhar encontrou o meu. Então deu um passo a<br />

nossa frente, ajoelhando-se junto a Kaci, inspecionando seus ombros, movendo<br />

suavemente seu tornozelo e no geral atendendo-a como se ela fosse a única Tabby<br />

na terra. Apesar de seu choque, dor e medo persistente, ela ruborizou sobre sua<br />

inocente atenção e se manteve mais tranquila do que nos momentos antes de sua<br />

chegada.<br />

Eu quase sentia pena por Owen; sozinho e sangrando, ainda mantendo suas<br />

patas dianteiras no pássaro-monstro inconsciente.<br />

— Simplesmente saíram do nada e levaram Kaci do jardim dianteiro. — fiz<br />

gestos para meu irmão e Marc virou comigo. — Devemos levar Owen de volta para<br />

casa.<br />

Marc me seguiu at<strong>é</strong> o pássaro caído, enquanto meu irmão se levantava para<br />

nos dar uma vista melhor.<br />

— É o que penso que <strong>é</strong>?<br />

17


— Se o que pensa <strong>é</strong> um Thunderbird, então sim, acredito que sim.<br />

Marc tocou um meio-braço emplumado com a ponta da bota e assobiou: —<br />

Olhe quão grandes são as asas.<br />

— Eram maiores quando estavam em voo. — eu disse. Ele começou a se<br />

ajoelhar, mas eu o puxei pelo braço. — Confie em mim, se ele acordar, você <strong>não</strong><br />

vai querer estar em nenhum lugar perto dessas garras. — apontei para as garras<br />

curvas de duas polegadas de largura, com as pontas mais finas e mais afiadas do<br />

que qualquer adaga que eu jamais havia visto.<br />

— Bom, amarremos e levemos de volta. — ele disse enquanto eu me<br />

ajoelhava junto a Owen, acariciando suavemente a pelagem em seu lado bom. Ele<br />

choramingou outra vez e colocou sua cabeça em meu ombro enquanto Marc<br />

olhava por sobre minha cabeça. — Jace, traga alguma corda. — porque as<br />

algemas desenhadas para os humanos nunca funcionariam nesses pulsos<br />

estreitos de pássaro.<br />

Claro, se o bastardo acordasse, bem poderia cortar atrav<strong>é</strong>s da corda, ou<br />

ainda da fita adesiva.<br />

Mas então, pelo canto de minha visão, Jace ficou tenso e <strong>não</strong> fez<br />

movimentos para seguir a ordem de Marc.<br />

Bem, merda. Isso <strong>é</strong> novo.<br />

Tecnicamente, Marc <strong>não</strong> tinha sido aceito novamente no Pride, nem estava<br />

formalmente reintegrado como <strong>guardião</strong>, em grande parte porque estávamos<br />

ocupados com outras coisas e a volta de Marc parecia normal, ainda que sem<br />

proclamações oficiais. Nenhum dos outros guardiões tinha hesitado em seguir<br />

uma ordem dele. Exceto talvez, eu.<br />

No entanto, Jace ficou ali, com os braços quietos ao seu lado, a mandíbula<br />

apertada e sobressaindo. E ele <strong>não</strong> me olhava. Olhava fixamente o chão, como se<br />

tentasse controlar seu gênio.<br />

Mas Jace <strong>não</strong> tinha temperamento ruim. Marc tinha.<br />

Eu parei, disparando a Jace uma advertência silenciosa, mas ele <strong>não</strong> me<br />

olhava. Kaci o olhou fixamente, confusa, e pouco depois Marc percebeu que sua<br />

ordem <strong>não</strong> tinha sido seguida. Tirou seu olhar do pássaro que tinha despertado<br />

seu fascínio e levantou uma sobrancelha para Jace.<br />

— O quê? Não tem corda?<br />

E por último, Jace levantou o olhar. Olhou brevemente, valentemente para<br />

Marc, e depois virou para seu carro sem uma palavra.<br />

— O que aconteceu agora? — Marc passou uma mão consoladora sobre a<br />

cabeça de Owen, meu irmão parou pronto para mastigar a garganta do pássaro<br />

outra vez, se <strong>é</strong> que acordasse.<br />

18


Encolhi os ombros, esperando que meu gesto casual parecesse autêntico: —<br />

Ele provavelmente está chocado pelo ataque do pássaro gigante. O que <strong>é</strong> isso,<br />

Hitchcock 4 ?<br />

Jace voltou com um rolo de corda de nylon e uma navalha e em minutos<br />

tivemos os p<strong>é</strong>s humanos do Thunderbird, atados, e as asas-garras restringidas<br />

incomodamente diante de seu meio-emplumado estômago. Mesmo com a<br />

amplitude de suas asas cortadas a menos de nove metros de distância por sua<br />

Mudança parcial, pensei que jamais poderíamos enfiá-lo no espaço de carga sem<br />

feri-lo mesmo que o acordássemos, mas Marc finalmente conseguiu dobrar suas<br />

asas-braços para seu rosto e assim conseguir fechar a porta. Mal fechadas.<br />

Mesmo assim, como <strong>não</strong> estávamos certos de que as cordas resistiriam no<br />

caso de ele despertar durante a viagem de cinco minutos de volta para casa, Kaci<br />

se sentou na frente com Jace. Marc e eu pegamos o assento traseiro com Owen<br />

estirado sobre o piso a nossos p<strong>é</strong>s.<br />

Os Alfas e os guardiões saíram da casa quando estacionamos na garagem e<br />

meu pai realmente teve que pedir silêncio para ser ouvido. Depois disso, minha<br />

mãe ajudou Owen a entrar em casa e os outros observaram em silêncio como Marc<br />

e Jace tiravam com cuidado o Thunderbird da parte traseira do Explorer e o<br />

depositavam na grama seca no arco do semicírculo da garagem.<br />

Então os sussurros começaram.<br />

Os Alfas se colocaram de frente a multidão e meu pai deu um passo adiante,<br />

parando para colocar uma ampla e aprazível mão no ombro de Kaci.<br />

— Manx, pode levá-la para dentro e se assegurar que ela se limpe um pouco<br />

e coma algo?<br />

— Claro. — Manx envolveu um braço ao redor dos ombros de Kaci enquanto<br />

acompanhava a Tabby que mancava para a porta principal.<br />

Pela primeira vez desde que os forasteiros tinham descido sobre a fazenda,<br />

Kaci <strong>não</strong> era o centro das atenções. E ela pareceu estar de acordo com isso.<br />

Jace fechou a porta e se afastou para fazer guarda a seu Alfa. Meu pai se<br />

ajoelhou próximo à criatura amarrada e inconsciente e começou um exame visual,<br />

completo e lento, sem dúvida catalogando cada detalhe em sua cabeça. Se o<br />

Conselho <strong>não</strong> estivesse quebrado, e possivelmente de forma irreparável, ele faria<br />

um informe formal do incidente logo que fosse possível. E, mesmo isso, quase<br />

certamente <strong>não</strong> aconteceria sob as circunstancias atuais, eu estava certa de que<br />

ele registraria suas observações.<br />

<strong>As</strong> aparições de Thunderbirds eram suficientemente raras do tipo históricas,<br />

e eu nunca tinha ouvido de um <strong>Werecat</strong> que tenha feito contato físico verdadeiro<br />

com um. Muito menos ser arrebatado e levado como uma minhoca gigante para o<br />

ninho de monstruosos filhotes. Uma grande minhoca adolescente que chutava e<br />

gritava.<br />

4 Alfred Hitchock dirigiu incontáveis filmes entre 1922 e 1976, mais conhecido pelo filme “Psicose”, mas<br />

mencionado neste caso por seu filme de 1963 “The Birds” (Os pássaros) onde, sem razão alguma, todos os<br />

pássaros da cidade enlouquecem e atacam as pessoas.<br />

19


— O que <strong>é</strong> isso? — Ed Taylor, Alfa do território do setor meio-oeste, deu um<br />

passo adiante lentamente, como se sua curiosidade apenas triunfasse sobre seu<br />

sentido de preservação e repulsão.<br />

Meu Alfa se colocou de p<strong>é</strong>, mas <strong>não</strong> tirou seu olhar do espetáculo.<br />

— Acredito que <strong>é</strong> um Thunderbird.<br />

— Greg, ele tem p<strong>é</strong>s. — Blackwell indicou, inclinando-se sobre sua bengala a<br />

vários metros da criatura.<br />

— Igual a você. — meu pai disse. Vários Toms riram entre dentes e eu <strong>não</strong><br />

pude disfarçar um sorriso. — Ele, obviamente, fez uma Mudança parcial.<br />

— E o fez muito melhor do que eu. Que nós... — corrigi-me, olhando ao<br />

redor para ver vários dos Toms que já tinham dominado a Mudança parcial. —<br />

Eles podem Mudar no meio de uma aterrissagem. E têm essas malditas asasgarras.<br />

— apontei onde suas <strong>não</strong> mãos estavam atadas e vários Toms se<br />

aproximaram para obter uma melhor visão. — Owen poderia contar-lhes um<br />

pouco sobre isso.<br />

— Que diabos eles querem com Kaci? — tio Rick ajoelhou-se ao lado de meu<br />

pai para examiná-lo mais de perto. — Eles <strong>não</strong> são conhecidos por atacar as<br />

pessoas. Se o fizessem, nós saberíamos mais sobre eles. <strong>As</strong>sim como os humanos.<br />

Mas ningu<strong>é</strong>m teve uma resposta para isso, assim, eu encolhi os ombros<br />

enquanto o braço de Marc deslizava ao redor de minha cintura.<br />

— Talvez <strong>não</strong> quisessem a ela em particular. Talvez somente tenha sido a<br />

primeira que eles viram. — porque o resto de nós estava sob o telhado da varanda.<br />

— Ou talvez ela fosse a única leve o suficiente para ser carregada.<br />

Meu pai me deu um pequeno assentimento. Mas a verdade era que nós <strong>não</strong><br />

tínhamos a menor ideia.<br />

Marc começou a dizer algo, mas Jace o interrompeu, postando-se de meu<br />

outro lado.<br />

— O que você quer que façamos com ele?<br />

Marc franziu a testa, mas olhou nosso Alfa em busca de uma resposta, igual<br />

ao resto de nós.<br />

Por um momento, somente conseguimos um silêncio pensativo, enquanto<br />

meu pai acariciava lentamente a barba grisalha em seu queixo.<br />

— Por agora o colocaremos na jaula e quando ele acordar, nós o<br />

interrogaremos. Por enquanto, vejamos se podemos descobrir algo mais sobre os<br />

Thunderbirds.<br />

Levou algumas manobras cuidadosas, mas finalmente Marc e Jace puderam<br />

levar o pássaro atrav<strong>é</strong>s das escadas estreitas at<strong>é</strong> o sótão e então o enfiaram na<br />

jaula. Eles deixaram-no preso porque julgando quão facilmente ele tinha Mudado,<br />

estávamos certos de que poderia sair de suas ataduras logo que acordasse.<br />

No caminho para meu quarto para uma ducha depois de minha corrida pelo<br />

bosque, passei pelo quarto que Owen tinha dividido com Ethan. No começo eu <strong>não</strong><br />

conseguia entrar. A morte de Ethan ainda era muito fresca. Sua memória<br />

20


mantinha-se recente. Seu quarto ainda cheirava como ele e entrar parecia como<br />

caminhar atrav<strong>é</strong>s de seu fantasma.<br />

Então Kaci me chamou com uma das mãos, eu armei-me de coragem e dei<br />

um passo atrav<strong>é</strong>s da porta, parando para sorrir para Mateo Di Carlo, o irmão mais<br />

velho de meu companheiro <strong>guardião</strong> Vic. Teo apenas acenou e <strong>não</strong> parecia<br />

especialmente interessado em Owen tamb<strong>é</strong>m. No entanto, ele olhava Manx atender<br />

seu paciente como se cada movimento dela abastecesse de combustível seu<br />

coração.<br />

Suspirei e virei-me para meu irmão. Owen estava encostado em sua cama,<br />

em sua forma humana agora, nu exceto por suas boxers verdes com listras. <strong>As</strong><br />

feridas atrav<strong>é</strong>s de suas costelas pareciam horríveis e a que atravessava sua coxa<br />

esquerda parecia ainda pior.<br />

— Você está bem? — perguntei enquanto Manx se ajoelhava para secar<br />

suavemente a perna com uma gaze est<strong>é</strong>ril.<br />

— Já estive pior. — ele disse e forçou um sorriso. Essa era a resposta<br />

padrão de um <strong>guardião</strong>, mas em seu caso <strong>não</strong> era verdade. Owen tinha visto<br />

menos ação do que Ethan ou que nosso irmão mais velho Michael, ou mesmo eu.<br />

Não porque ele <strong>não</strong> pudesse lutar e sim porque se sentia feliz em cuidar da<br />

fazenda enquanto os outros patrulhavam e saiam para cumprir missões. Somente<br />

Ryan, o segundo filho, tinha lutado menos do que ele e todos considerávamos isso<br />

uma coisa muito boa; ele ainda estava oficialmente foragido depois de ter escapado<br />

da jaula duas semanas antes.<br />

Mas eu assenti. Owen tinha dado um passo adiante durante a ausência de<br />

Ethan e provavelmente havia salvado a vida de Kaci. Ele havia ganhado suas<br />

cicatrizes e como o resto de nós, ele as levaria com orgulho.<br />

Quando me retirei do quarto vários minutos mais tarde, encontrei Jace que<br />

me esperava no vestíbulo. Repentinamente irritada, olhei ao redor para me<br />

assegurar de que ningu<strong>é</strong>m nos observava. Felizmente, a maior parte dos Toms<br />

estava na cozinha devorando as sobras do almoço de buffet mexicano de minha<br />

mãe e Marc, Vic e os Alfas tinham desaparecido no escritório, já procurando<br />

informações sobre os Thunderbirds. Então peguei Jace pelo braço e arrastei-o at<strong>é</strong><br />

meu quarto sem dizer uma palavra.<br />

— Wow, <strong>não</strong> estive aqui por algum tempo. — sorriu no momento em que a<br />

porta se fechou atrás de nós. — Mas já me sinto em casa.<br />

A ira me inundou, sentindo um formigamento nos nervos, como se meu<br />

corpo inteiro perdesse a circulação.<br />

— Isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> engraçado! — grunhi. — O que diabos você está fazendo?<br />

A fachada atrevida de Jace caiu, revelando a dor, a raiva e a tristeza que<br />

tinham abastecido cada uma de suas ações desde o dia em que Ethan morreu.<br />

— Não sei. — puxou a cadeira de minha escrivaninha e sentou nela,<br />

cruzando seus braços. — Eu somente... Durante um minuto ali, <strong>não</strong> pude fazê-lo.<br />

Eu <strong>não</strong> pude me curvar diante dele.<br />

— Não <strong>é</strong> curvar-se Jace. É trabalhar. Marc dá as ordens durante a ausência<br />

de meu pai e nós as seguimos.<br />

21


— Eu sei. — ele disse e eu deixei sair um suspiro silencioso de alívio, porque<br />

ele <strong>não</strong> tinha me corrigido sobre a falta de posição oficial de Marc. E <strong>não</strong> poderia<br />

ter gerenciado isso sem perder a paciência. — Mas parecia diferente desta vez e eu<br />

<strong>não</strong> pude fazê-lo.<br />

— Jace... — afundei-me nos p<strong>é</strong>s de minha cama, cansada, afastando meu<br />

longo cabelo preto da testa. Não queria entrar nesse assunto tão cedo. Não estava<br />

pronta para falar sobre o que tinha acontecido entre nós. Não tão cedo depois da<br />

morte de Ethan. Não com tudo o que está acontecendo.<br />

— Não tem nada a ver com você. — ele disse antes que eu pudesse<br />

encontrar um bom final para meu começo apressado. — Não posso explicar. Mas<br />

eu estou al<strong>é</strong>m disto. Pode jogar minha parte at<strong>é</strong> que esteja pronta para dizê-lo.<br />

Mas que demônios ele supõe que eu diria a Marc? Que tinha dormido com<br />

Jace? Isso era verdade, mas incrivelmente, miseravelmente, isso <strong>não</strong> era o pior de<br />

tudo. O pior de tudo era que eu <strong>não</strong> estava certa de como me sentia sobre ele. Eu<br />

desesperadamente, <strong>não</strong> queria magoar Marc e <strong>não</strong> poderia suportar perdê-lo. Não<br />

estava certa de que podia forçar realmente outra respiração fora de meu corpo se<br />

pensasse que o perderia para sempre. Mas <strong>não</strong> queria perder Jace tamb<strong>é</strong>m.<br />

Eu <strong>não</strong> estava certa do que isso significava.<br />

Não estava com Jace. Mas tínhamos nos conectado depois da morte de<br />

Ethan e <strong>não</strong> tinha sido um simples momento de consolo mútuo pela dor da perda.<br />

Embora certamente tivesse sido isso tamb<strong>é</strong>m, mas a verdade era que essa tristeza<br />

tinha derrubado minha resistência a um vínculo que tínhamos formado muito<br />

antes. Um que eu vinha negando por causa do que tinha com Marc.<br />

Mas <strong>não</strong> estava pronta para compreender o que isso significava. E <strong>é</strong> certo<br />

como o inferno que <strong>não</strong> estava pronta para tentar explicar para Marc. Então Jace<br />

e eu tínhamos concordado em permanecer... separados. Completamente sem nos<br />

tocar. Mas se ele <strong>não</strong> fosse mais cuidadoso do que tinha sido hoje, logo estaríamos<br />

nos explicando a mais pessoas do que somente a Marc.<br />

colo.<br />

— Tem que ter cuidado. — sussurrei, olhando para minhas mãos sobre meu<br />

— Eu sei. — ele interrompeu, dirigindo-se para a porta, mas eu fui adiante e<br />

corri diante ele.<br />

— Espere, deixe-me verificar. — peguei a maçaneta, mas antes que pudesse<br />

girar, Jace estava diante de mim, tão próximo que eu podia sentir o calor de sua<br />

bochecha na minha. Mas ele <strong>não</strong> me tocava. Tinha seu corpo tão perto que uma<br />

folha de papel teria amassado entre nós, mas ele <strong>não</strong> fez contato.<br />

— Jace...<br />

— Eu sei... — sussurrou novamente, agora contra minha bochecha. — Não <strong>é</strong><br />

o momento. Mas esse tempo virá Faythe. Eu <strong>não</strong> pedi que escolhesse. Sabe disso.<br />

Mas peço que seja honesta com você mesma. Deve isso a nós dois.<br />

Com isso, enquanto eu ficava de p<strong>é</strong>, respirando tão duramente que minha<br />

visão começou a escurecer, ele puxava a porta at<strong>é</strong> abri-la um pouco, empurrandome<br />

um passo para frente e olhando ao redor de mim, para o vestíbulo. Quando<br />

22


estava certo de que <strong>não</strong> tinha ningu<strong>é</strong>m por perto, deu um passo para fora e fechou<br />

a porta.<br />

Deixando-me sozinha em meu quarto, obcecada por possibilidades muito<br />

perigosas para sequer contemplá-las.<br />

23


Capítulo 3<br />

— O que eu perdi? — eu me afundei no sofá entre Marc e meu tio Rick e<br />

olhei ao redor do cômodo cheio de Alfas. Ed Taylor e Bert Di Carlo estavam<br />

sentados na extremidade oposta ocupando os dois últimos lugares disponíveis que<br />

havia no sofá. Blackwell sentou-se na cadeira que minha mãe tinha ocupado<br />

anteriormente, a mesma que algu<strong>é</strong>m havia movido para o canto do tapete mais<br />

próximo do sofá. E meu pai estava sentado em sua poltrona no final do tapete, em<br />

uma posição onde podia ver todos de uma vez.<br />

— Muito pouco, infelizmente. — meu pai suspirou e juntou as mãos sobre os<br />

braços do sofá. — Acontece que <strong>não</strong> sabemos quase nada sobre os Thunderbirds, a<br />

maior parte do que sabemos foram você e Owen que investigaram.<br />

Encolhi os ombros e cruzei a perna embaixo de mim na almofada. — Quanto<br />

<strong>é</strong> quase nada?<br />

Marc bufou. — Eles voam e são tímidos.<br />

Humberto Di Carlo, pai do Vic e Matt, se inclinou em sua poltrona de dois<br />

lugares.<br />

— Al<strong>é</strong>m do incidente de hoje, <strong>não</strong> encontramos nenhum registro de qualquer<br />

indicação dos Thunderbirds e isso <strong>é</strong> desde que seu pai viu um e faz... o que? — ele<br />

olhou para meu pai. — Trinta anos?<br />

Meu pai balançou a cabeça confirmando e colocou as mãos sob o queixo. —<br />

Pelo menos.<br />

Di Carlo se virou para mim e continuou. — Nós <strong>não</strong> sabemos onde vivem,<br />

quantos são ou se seus grupos são organizados. E eu <strong>não</strong> conheço ningu<strong>é</strong>m que<br />

saiba alguma coisa sobre eles.<br />

— Nenhum dos outros Alfas?<br />

— Para quem você sugere que perguntemos? — Marc dirigiu um meio<br />

sorriso para mim.<br />

— Boa pergunta. Todos os Alfas que <strong>não</strong> estavam conosco no momento, se<br />

aliaram contra nós. Mesmo se eles soubessem alguma coisa e estivessem<br />

dispostos a ajudar, como poderíamos confiar em algo que eles falassem?<br />

— Vou fazer algumas ligações. — Blackwell começou a falar. — Mas estou<br />

certo de que, se algu<strong>é</strong>m teve algum contato recente com os Thunderbirds, teríamos<br />

sabido.<br />

24


<strong>As</strong> cabeças ao redor do cômodo assentiram. Essa era uma grande notícia.<br />

— Ok. Quais são os fatos? — meu pai olhou ao redor de seu escritório como<br />

um professor diante de sua sala.<br />

— Eles, evidentemente, Mudam em movimento. — Ed Taylor passou a mão<br />

por seu escuro e curto cabelo. Parecia um fuzileiro naval aposentado, mantinha<br />

sua forma física melhor do que qualquer um dos Alfas, a maioria dos quais estava<br />

al<strong>é</strong>m da idade de guardiões.<br />

Di Carlo assentiu. — Eles sabem onde moramos.<br />

— E podem transportar passageiros humanos. — acrescentou tio Rick.<br />

— Sim, mas eles <strong>não</strong> podem voar muito alto com a carga. Ou muito longe. —<br />

coloquei minha outra perna embaixo de mim, ao estilo ioga, no sofá, e descalça. —<br />

Na verdade <strong>não</strong> estou certa de que eles possam levar uma carga mais pesada do<br />

que Kaci. Não sem um desgaste duplo, de qualquer maneira.<br />

— Acha que eles se foram? — Marc olhou ao redor buscando por opiniões,<br />

mas só Blackwell parecia ter uma.<br />

— Eu duvido. Considerando que temos um dos seus.<br />

— E espero que saibamos muito mais sobre o problema antes que ele<br />

acorde. — algu<strong>é</strong>m arrastou os p<strong>é</strong>s no chão atrás de mim, e meu pai deu uma<br />

olhada sobre minha cabeça. — Sim?<br />

Eu me virei para ver Brian Taylor, o filho mais novo de Ed Taylor e nosso<br />

novo <strong>guardião</strong>, na porta com os braços cruzados sobre o peito.<br />

— Desculpe interromper, mas, papai, você viu o Jake?<br />

Cada um dos Alfas que estavam nos visitando havia trazido um filho e um<br />

<strong>guardião</strong>, já que ambos eram escoltas necessárias e guarda costas, por isso a casa<br />

estava praticamente cheia de testosterona. Jake tinha vindo com o seu pai, meu<br />

tio tinha trazido meu primo Lucas, o Tom mais alto que eu já havia conhecido<br />

pessoalmente, e Di Carlo havia trazido Mateo, seu segundo filho.<br />

— Não recentemente, por quê? — Taylor franziu a testa para o filho.<br />

— Ele saiu para patrulhar uma hora atrás, e <strong>não</strong> retornou quando o ataque<br />

terminou. Eu tenho um mau pressentimento...<br />

O cenho franzido de Taylor se aprofundou, meu pai ficou instantaneamente<br />

em alerta. — Todo mundo no meu escritório!<br />

Os Toms fizeram fila em frente à cozinha, e minha mãe parou após o último,<br />

com Kaci olhando sobre seu ombro.<br />

— Saiam em pares. — meu pai começou a falar e os outros Alfas<br />

permaneceram em silêncio. — Se espalhem, mas fiquem juntos com seus<br />

parceiros.<br />

25


— Estamos procurando o Jake? — perguntou Jace. Ele <strong>não</strong> tinha olhado<br />

para mim desde que eu tinha entrado no recinto, mas eu sabia que ele queria<br />

olhar. Se <strong>não</strong> tiv<strong>é</strong>ssemos contato, ele obviamente <strong>não</strong> iria me causar problemas.<br />

Melhor decidir logo o que dizer para Marc... Porque se Jace <strong>não</strong> conseguisse,<br />

algu<strong>é</strong>m poderia notar que ele estava agindo de forma estranha ao meu redor. E de<br />

Marc.<br />

— Sim. Não tem muito sentido Mudar de forma, caso os Thunderbirds ainda<br />

estejam na área. Não se pode coçar a cabeça sem expor a barriga. Esperamos que<br />

possamos vê-los vindo de algum lugar da estrada.<br />

Agora que sabíamos o que procurar…<br />

— Vocês podem escutá-los tamb<strong>é</strong>m, uma vez que se aproximem. —<br />

acrescentei. — Suas asas são fortes, mas <strong>não</strong> exatamente silenciosas.<br />

Meu pai assentiu. — O que podemos escolher entre as armas? — porque em<br />

forma humana, mesmo com a vantagem de nos movermos para evitarmos um<br />

golpe na cabeça, estamos muito indefesos diante das garras.<br />

— Ferramentas. — disse Marc. — Machados, p<strong>é</strong>s de cabra, ferros de pneus,<br />

algumas chaves grandes. — tudo isso tinha sido muito usado duas semanas atrás<br />

quando tínhamos lutado contra um grupo grande de Extraviados que tentaram<br />

matar Marc na nossa frente, para enviar uma mensagem.<br />

— Facas. — acrescentou minha mãe suavemente. — Tenho três jogos de<br />

facas de açougueiro e várias facas de desossar, funcionam muito bem em aves<br />

vivas, assim como em mortas. — a única pessoa que parecia mais surpresa do que<br />

eu era Paul Blackwell, que certamente se deu conta então de que o seu apelo a<br />

minha mãe como sendo o “sexo frágil”, tinha ido por água abaixo.<br />

— E um machado de açougueiro. — Jace cruzou seus grossos braços sobre<br />

o peito, e ao mesmo tempo sorriu para mim, enquanto a maioria dos Toms riu<br />

entre dentes. Mesmo aqueles que <strong>não</strong> tinham estado presentes, tinham ouvido a<br />

respeito de como eu tinha derrubado um Extraviado com um grande machado de<br />

açougueiro, ao inv<strong>é</strong>s das minhas garras, durante o meu julgamento em Montana,<br />

há três meses. Aparentemente, isso era algo que iria ficar comigo.<br />

— Bom. — at<strong>é</strong> meu pai esboçou um pequeno e breve sorriso. — Você<br />

armaria às tropas? — ele perguntou a minha mãe — Para qualquer outro a<br />

pergunta teria soado como uma simples ordem. Para minha mãe era um pedido.<br />

Ela assentiu com a cabeça solenemente, e depois introduziu Kaci na<br />

cozinha, enquanto meu pai se virava para o restante de nós. — Formem pares e<br />

reportem-se a minha esposa para que os arme. Liguem para seu Alfa se encontrar<br />

alguma coisa. Dispensados.<br />

Marc e eu ficamos enquanto os outros saíam do escritório e cruzavam o<br />

corredor. Ele pegou minha mão e Jace olhou para nós, esquecendo-se de olhar<br />

26


para outro lado por um momento, para parecer desinteressado, mas então, Brian<br />

entrou em sua linha de visão, pouco antes de Marc levantar a vista, e sem dúvida<br />

ele tinha notado.<br />

— Você está pronto? — Brian estava sendo parceiro de Jace desde a morte<br />

de Ethan, e agora que Marc estava de volta, teríamos que ficar juntos no campo,<br />

mesmo com seu status <strong>não</strong> oficial. Owen e Parker ainda eram parceiros, mas como<br />

meu irmão estava temporariamente fora de serviço, ele iria com Vic Parker, que<br />

estava atualmente sem um parceiro, devido ao número ímpar de guardiões.<br />

Jace balançou a cabeça e seguiu pelo corredor atrás de Brian e olhando<br />

para mim.<br />

— Ele vai ficar bem. — Marc acenou com a cabeça em direção ao Jace, e<br />

passou o braço em volta do meu pulso. — A morte de Ethan atingiu a todos nós<br />

muito fortemente, mas Jace foi o mais afetado, ele mudou.<br />

Meu coração quase explodiu no meu peito e eu me esforcei para conseguir<br />

manter a minha frequência cardíaca sobcontrole. — O que você quer dizer?<br />

Ele se afastou para me deixar passar pela porta, assim <strong>não</strong> viu quando<br />

meus olhos se fecharam, esperando ansiosamente e em silêncio que ele <strong>não</strong><br />

tivesse visto muita diferença em Jace. Ou em mim. — Ele está s<strong>é</strong>rio o tempo todo.<br />

Mal humorado e zangado. É assustador.<br />

— É justamente por isso que ele <strong>é</strong> um bom <strong>guardião</strong>. — eu disse, e Marc<br />

concordou sem hesitar. Ele sabia o que eu estava pensando, o quão ruim para ele<br />

deve ter sido a morte do meu irmão, pois tinha tirado o potencial de Jace.<br />

Uma fila se formou na cozinha, começando do outro lado do corredor e<br />

terminado na sala de jantar. Kaci e minha mãe estavam atrás do balcão,<br />

oferecendo uma variedade de armas improvisadas que teriam feito o orgulho de<br />

qualquer filme de ação. Os Toms saíram em pares, segurando facas ou<br />

ferramentas que algu<strong>é</strong>m havia trazido do porão e do porta-malas de algum carro.<br />

Ed Taylor e tio Rick eram os <strong>primeiro</strong>s da fila, e logo atrás deles meu pai e<br />

Bert Di Carlo. Os Alfas selecionavam as armas; em seguida se dirigiam para a<br />

porta com os guardiões, pisquei surpresa, eles assentiram com respeito. A maioria<br />

dos Alfas estava fora de forma, no entanto Taylor estava em excelente forma física,<br />

muito dos Alfas ainda Mudavam e faziam exercícios para manter uma boa saúde,<br />

embora <strong>não</strong> patrulhassem com frequência ou caçavam com seus homens.<br />

O fato de que eles fossem em busca de nosso homem perdido me encheu de<br />

mais orgulho do eu podia conter.<br />

Eles sabiam que cada vida <strong>é</strong> muito valiosa e ao contrário de Calvin Malone,<br />

estavam dispostos a colocar suas próprias vidas na linha de fogo para provar isso.<br />

Jace e Brian pegaram suas armas e saíram sem olhar para trás.<br />

27


— Aqui. — dei um passo at<strong>é</strong> o balcão, Kaci chegou ao lado da diminuída<br />

seleção de armas e pegou um martelo grande, com um cabo preto. — Guardei um<br />

presente para você. Achei que precisava de uma vantagem, trabalhando apenas<br />

com a mão esquerda. — ela apontou com a cabeça em direção ao meu braço<br />

direito.<br />

Minha mãe olhou com o canto do olho, e deslizou uma grande chave sobre o<br />

balcão para Marc, eu arquei uma sobrancelha para Kaci.<br />

A Tabby odiava violência, o que superficialmente a tinha transformado em<br />

uma jovem Tabby ideal.<br />

Mas Kaci cresceu como um ser humano, pois seus pais humanos <strong>não</strong><br />

tinham ideia de que cada um contribuiria com o gene recessivo necessário para<br />

transformar a sua filha mais nova em um <strong>Werecat</strong> no início da puberdade.<br />

Considerando que ela tinha, acidentalmente, matado sua mãe e a sua irmã<br />

durante sua primeira Mudança, e depois ficou vagando pela floresta durante<br />

semanas por conta própria, presa em sua forma de gata, a postura pacifista de<br />

Kaci <strong>não</strong> era uma surpresa. Mas <strong>não</strong> era suficiente para transformá-la no que<br />

metade da oposição do Conselho queria. Porque ela tinha crescido como uma<br />

humana, Kaci tinha expectativas humanas sobre sua vida e nenhuma das quais<br />

incluía se casar com o Tom que seu Alfa escolhesse e produzir a próxima geração<br />

de <strong>Werecat</strong>s, muito menos ter muitos filhos para conseguir uma preciosa filha.<br />

Kaci tinha uma boca, e <strong>não</strong> tinha medo de usá-la. O que fez com que alguns<br />

elementos do Conselho ficassem ainda mais decididos a separá-la da minha<br />

influência questionável.<br />

— Obrigada. — forcei um sorriso e encontrei o olhar de minha mãe por cima<br />

da cabeça de Kaci.<br />

— Tome cuidado. — disse ela e eu assenti. Marc e eu saímos pela porta da<br />

frente depois dos outros.<br />

Vários pares de guardiões tinham entrado no bosque, mas Jace e Brian se<br />

dirigiam para o oeste, assim Marc e eu fomos em direção oposta, caminhando<br />

afastados vários passos e respirando atrav<strong>é</strong>s de nossos narizes, apesar do frio de<br />

fevereiro queimar nossas narinas. Não queríamos perder o cheiro.<br />

Estava estranhamente tranquilo no campo, somente interrompido pelo<br />

rangido das botas esmagando a grama morta. A temperatura tinha aumentado<br />

dramaticamente desde a tempestade de gelo semanas atrás, embora ainda<br />

estivesse rondando por volta dos trinta graus negativos e meus dedos estivessem<br />

rígidos pelo frio. Tentei colocá-los nos bolsos de minha jaqueta, mas o gesso deteve<br />

minha mão direita na primeira articulação.<br />

Meu nariz estava pingando quando voltamos para a beira do campo, olhei o<br />

c<strong>é</strong>u colorido com suspeita. O perigo nunca, literalmente, tinha saído do nada<br />

28


antes. Fora dos ramos das árvores, sim. Das vigas, do segundo andar e at<strong>é</strong> mesmo<br />

do telhado de uma varanda. Mas nunca do c<strong>é</strong>u, e de repente me senti parada<br />

insuportavelmente vulnerável a c<strong>é</strong>u aberto, onde antes, o ambiente sempre tinha<br />

feito eu me sentir livre e ansiosa para correr.<br />

Minha paranoia <strong>não</strong> foi gerada pelo fato de que, embora ningu<strong>é</strong>m tivesse<br />

dito em voz alta, era claro que estávamos procurando um corpo em nosso próprio<br />

território.<br />

Em nosso terceiro registro de campo, tirei um lenço do meu bolso esquerdo e<br />

o usei desajeitadamente para assuar meu nariz, outra simples atividade quase<br />

impossível graças ao meu gesso. Logo fiquei gelada com a metade do lenço<br />

dobrado no bolso.<br />

Minha primeira respiração sem obstáculos tinha trazido um perfume<br />

familiar, e um choque de medo muito familiar.<br />

Sangue. Sangue <strong>Werecat</strong>.<br />

— Marc. — eu disse, virando-me para a estrada em busca da fonte do odor.<br />

Ele me seguiu, inalando dramaticamente e o seu andar foi encorajado a encontrar<br />

a trilha. Os gatos <strong>não</strong> podem caçar usando apenas seus narizes. Ao contrário dos<br />

cães, simplesmente <strong>não</strong> estamos equipados para isso. Mas nós podemos encontrar<br />

a fonte de um odor se ele ficar parado.<br />

E o cheiro era horrível, miserável, e imóvel.<br />

O cheiro ficou mais forte enquanto andávamos para o norte, e depois de<br />

andar menos de um minuto, olhando em volta freneticamente para qualquer sinal<br />

do Tom desaparecido, eu congelei em minhas botas quando meu olhar parou em<br />

uma mancha vermelha em um pedaço de grama, meio que escondendo uma mão<br />

estendida no solo macio, com metade dos dedos fechados em punho.<br />

Obriguei-me a dar o próximo passo para frente apesar do medo e da raiva<br />

que pulsava dentro de mim. E quando o corpo apareceu em uma visão completa,<br />

eu fiquei ofegante, horrorizada e sem palavras.<br />

Se o rancho <strong>não</strong> estivesse quase congelado, nos o teríamos cheirado antes.<br />

Jake Taylor estava de barriga para cima, tão coberto de sangue que a<br />

princípio eu <strong>não</strong> conseguia dar um sentido àquela situação caótica, meus olhos<br />

enviaram imagens violentas ao meu c<strong>é</strong>rebro. Havia muitas feridas. Muito sangue.<br />

Pouquíssimo sentido.<br />

— Oh, inferno. — disse Marc e eu estremeci, embora ele tivesse falado em<br />

um sussurro. Ele abriu seu telefone e usou a discagem automática para chamar<br />

meu pai, com a mão segurando a chave enquanto se agachava ao lado do corpo,<br />

tomando cuidado para <strong>não</strong> pisar no sangue. Mas eu continuei olhando.<br />

29


Eu tinha visto um pouco de carnificina em meus sete meses como guardiã,<br />

mas nada como isto. Nada tão completamente destrutivo. Uma violência tão<br />

brutal. Nem mesmo o arranhão febril de um Extraviado que eu tinha visto<br />

empoleirado em uma árvore, consumindo uma vítima humana, era igual a isto.<br />

Isso o tinha feito parecer apenas um pouco louco, em comparação com a terrível<br />

morte de Jake.<br />

O Extraviado tinha feito o que fez, por fome e só tinha machucado sua<br />

vítima no processo de comer. Mas Jake tinha sido ferido al<strong>é</strong>m da razão. Seu rosto<br />

era uma massa de carne moída, seus olhos arruinados, seu nariz e lábios quase<br />

arrancados do rosto. Seus braços <strong>não</strong> estavam em melhor estado, as mangas do<br />

casaco foram arrancadas junto com a pele do pulso ao cotovelo, provavelmente ele<br />

estava defendo seu rosto. Mas o pior era o seu estômago. Jake tinha sido total e<br />

completamente eviscerado com tantas lacerações, qualquer um dos ferimentos<br />

teria sido fatal e era impossível identificar as feridas individualmente.<br />

— Ao leste do campo, perto da linha de árvores. — Marc ergueu os olhos<br />

para ver se algu<strong>é</strong>m mais estava por perto, o telefone continuava em seu ouvido. —<br />

Mas <strong>é</strong> horrível… Não deixe que os Taylors venham aqui. Eles <strong>não</strong> deveriam ter que<br />

ver isto.<br />

— Obrigado. Estaremos aí em seguida. — disse meu pai do outro lado da<br />

linha.<br />

Marc guardou o telefone e eu me ajoelhei antes que ele pudesse me<br />

perguntar se eu estava bem. Eu estava bem. Um Alfa em treinamento sempre<br />

estava bem <strong>não</strong> <strong>é</strong> verdade? Não havia outra opção.<br />

— Droga. Estes bastardos foram brutais. — disse Marc e eu concordei com a<br />

cabeça, pegando uma pluma marrom e negra da grama que tinha caído no<br />

sangue, era como uma pluma do diabo. Era facilmente o dobro do comprimento da<br />

minha mão.<br />

— Mas este <strong>não</strong> era nenhum dos pássaros que pegaram Kaci. Não poderia<br />

ter sido. Eu teria visto sangue neles. Ou cheirado. Estávamos somente alguns<br />

metros de distância quando aterrissaram.<br />

— E o motorista? — perguntou Marc.<br />

— Esse <strong>é</strong> o meu palpite. Não cheguei muito perto dele e ele estava vestido.<br />

Portanto, <strong>é</strong> certamente possível. — hesitei, sem saber realmente se queria a<br />

resposta. Depois segui adiante, porque precisava saber. — Você já viu um<br />

ferimento como este?<br />

— Nunca. — e isso era dizer muito, vindo do <strong>guardião</strong> mais experiente do<br />

meu pai. — Os Gatos <strong>não</strong> fazem isso. Nem mesmo os loucos.<br />

30


Ouvimos o barulho de passos vindo em nossa direção, e nos viramos para<br />

ver meu pai encabeçando a comitiva atrav<strong>é</strong>s do campo, Bert Di Carlo em seus<br />

calcanhares, ambos com o cenho franzido em sombria atitude.<br />

Meu pai parou ao meu lado com a mandíbula apertada, quando seus olhos<br />

encontraram Jake Taylor. O rosto de Di Carlo ficou completamente branco. Sem<br />

dizer uma palavra, meu pai tirou o telefone do bolso do casaco e pressionou um<br />

botão.<br />

— Alô? — disse Jace.<br />

— Volte com Brian para o escritório e dê alguma coisa para ele beber.<br />

Por um momento, só houve silêncio. E então… — Certo.<br />

Meu papai desligou e depois começou a procurar algu<strong>é</strong>m na lista de<br />

contatos, enquanto Di Carlo aproximava-se da pena sem marcas de sangue e que<br />

eu ainda estava pressionando contra o gesso.<br />

Eu a dei para ele de bom grado e ele assobiou, impressionado com o<br />

tamanho.<br />

— Rick? — meu pai disse em seu telefone quando uma voz rouca e áspera<br />

respondeu.<br />

— Sim? — meu tio falou em voz alta e clara.<br />

— Encontramos Jake e o estamos levando ao celeiro. Pegue o Ed e leve-o<br />

para dentro de casa, por favor.<br />

— Farei isso agora.<br />

A última chamada que meu pai fez, enquanto Marc esfregava os braços para<br />

se aquecer, foi para Vic, seu pedido era simples. — Pegue um rolo de plástico e<br />

venha para o campo, perto da linha das árvores. Você conseguirá nos ver. — ele<br />

desligou sem esperar a resposta de Vic.<br />

— Bem, Greg. — disse Di Carlo, assim que meu pai colocou o telefone no<br />

bolso. — Eu <strong>não</strong> sei o que eles querem, mas parecem conhecer o nosso número.<br />

— Kaci. — sussurrei, horrorizada pela possibilidade do que poderia ter<br />

acontecido. Mas então a misericordiosa lógica intercedeu. — Mas se eles<br />

quisessem machucá-la, poderiam tê-lo feito. Eles nem sequer se preocuparam com<br />

o carro, certo? — eu precisava saber que ela <strong>não</strong> tinha estado perto de uma morte<br />

horrível. Um sequestro horrível era mais do que suficiente.<br />

Os Alfas concordaram e Marc tomou minha mão boa na sua.<br />

— Então, por que matar o Jake?<br />

Finalmente meu pai suspirou e olhou para o Tom morto: — Meu palpite <strong>é</strong><br />

que ele os viu chegando. Você <strong>não</strong> disse que eles saíram voando desta direção? —<br />

apontou para as árvores a leste.<br />

31


— Sim. Então, eles o mataram para que <strong>não</strong> nos avisasse? — olhei para os<br />

rostos de um por um com incredulidade, mas a pergunta era parcialmente<br />

retórica. Todos sabiam a resposta. — Por que ele <strong>não</strong> ligou?<br />

— A recepção <strong>é</strong> ruim no bosque, mas parece que ele tentou. — meu pai fez<br />

um gesto para algo na grama atrás de mim e eu me virei para ver um celular caído<br />

no chão, ensanguentado, aberto e pronto para uso.<br />

— Eles <strong>não</strong> poderiam ter chegado a ele pelo bosque. Suas envergaduras<br />

(distância entre as pontas de suas asas) devem ter doze metros ou mais. Eles<br />

teriam quebrado os braços se tivessem tentado bater as asas lá.<br />

O cenho do Marc se aprofundou. — Eles esperaram at<strong>é</strong> que ele estivesse ao<br />

ar livre e depois atacaram.<br />

— E devem ter feito rápido para impedir que nós escutássemos. — Di Carlo,<br />

balançou a cabeça. — Isso foi planejado. Eles querem algo.<br />

— O que os Thunderbirds querem conosco? — perguntei em voz alta, quando<br />

Vic e Parker apareceram ao redor do celeiro, trazendo uma protuberância negra e<br />

de grande tamanho.<br />

— Vamos descobrir quando o Grande Pássaro acordar. — disse Marc<br />

Meu pai balançou a cabeça. — Vamos descobrir agora. Despertem-no e o<br />

façam cantar.<br />

32


Capítulo 4<br />

Marc e eu nos dirigimos para a casa enquanto Vic e Parker levaram Jake ao<br />

celeiro. No caminho para o porão, passamos pelo escritório em silêncio, onde Ed e<br />

Brian Taylor estavam de costas. Jace sustentou brevemente meu olhar do assento<br />

de dois lugares onde estava sentado, e eu neguei com a cabeça, confirmando o que<br />

ele já tinha adivinhado. O que os Taylors certamente já sabiam. Que tínhamos<br />

encontrado um corpo, <strong>não</strong> um Tom ferido.<br />

Sentia-me culpada por passar em frente a eles e <strong>não</strong> dizer uma palavra, mas<br />

<strong>não</strong> era minha responsabilidade dizer para um Alfa que seu filho tinha morrido.<br />

Graças a Deus.<br />

A cozinha estava vazia, mas pude ouvir Kaci conversando com Manx e Owen<br />

em seu quarto enquanto eu corria pelas escadas de concreto do porão atrás de<br />

Marc, parando apenas para girar a maçaneta.<br />

Duas lâmpadas proporcionavam uma luz tênue a um cômodo feito de blocos<br />

de cimento, quase tão grande como a base da casa. O tapete azul estava<br />

pontilhado com imensas plumas que o Thunderbird tinha perdido em seu caminho<br />

pelas escadas, e com a maioria de nossos equipamentos obsoletos, mas o bem<br />

usado equipamento de levantar pesos estava em um canto mais afastado, perto de<br />

onde estava o velho e gasto saco de boxe. A porta que dava para o pequeno<br />

banheiro estava aberta, e um retângulo de luz frágil se projetava sobre uma mesa<br />

dobrável com pilhas de fitas cassetes e um antigo som est<strong>é</strong>reo.<br />

O lugar estava úmido e sujo, e era um dos poucos lugares da casa que<br />

minha mãe <strong>não</strong> tinha tentado nem limpar, nem decorar. Era estritamente<br />

utilitário, e bem utilizado.<br />

Tamb<strong>é</strong>m era uma prisão.<br />

O canto do porão mais perto do p<strong>é</strong> da escada estava tomado por uma jaula<br />

formada por duas das paredes do porão e duas paredes de barras de aço. A cela,<br />

só continha uma cama de armar, sem lençóis e nem travesseiros. Próximo das<br />

barras tinha um bebedouro de água e um copo de plástico, estreito o suficiente<br />

para passar atrav<strong>é</strong>s das grades. Uma lata de caf<strong>é</strong> (era usada como um vaso<br />

sanitário temporário) estava colocada junto ao bebedouro.<br />

Eram acomodações miseráveis. E sim, eu sabia disso por experiência<br />

própria.<br />

Certa vez, passei um mês inteiro na gaiola, a maior parte desse tempo em<br />

forma de Gato, quando ameacei fugir novamente, depois de ter sido arrastada pela<br />

primeira vez. O que posso dizer? Eu estava em minha juventude desenfreada. E<br />

em grande parte da minha vida adulta.<br />

E tenho que admitir, eu prefiro a visão do lado de fora das barras.<br />

33


— Ainda desacordado. — disse Marc, e eu segui o seu olhar para o meio-<br />

pássaro ainda inconsciente no chão, exatamente como o havia deixado. Ele estava<br />

deitado de costas, estranhamente, com as asas estiradas de cada lado de forma<br />

que as plumas batiam nas barras. A extremidade oposta de seu braço escondida<br />

fora de visão, provavelmente dobrado debaixo da cama.<br />

Mesmo sem a Mudança completa, o braço da criatura era, pelo menos, de<br />

três metros.<br />

— Sugestões? — perguntei; minha fúria e o medo silenciados com um pouco<br />

de pura surpresa, enquanto eu olhava mais de perto para o pássaro, repelida pelo<br />

bico grosso e curvo, onde o nariz e a boca humana deveriam estar.<br />

Marc <strong>não</strong> desviou o olhar da gaiola.<br />

— Traz a mangueira.<br />

Abri a porta sob a escada e tateei no escuro por um minuto antes que minha<br />

mão encontrasse a mangueira de textura lisa e em espiral ao redor do que só<br />

podia ser uma barra de pesos quebrada. Enfiei meu braço bom atrav<strong>é</strong>s da bobina<br />

e a levei para a pia perto do fogão. Quando eu liguei a mangueira à torneira<br />

(ligeiramente deformada por mim no passado) estiquei-a ao redor da sala at<strong>é</strong> Marc.<br />

Ele ergueu as sobrancelhas ligeiramente, o dedo suspenso sobre a abertura<br />

de alta pressão da mangueira.<br />

— Isto vai ser interessante...<br />

Marc apertou o gatilho, e um comprido, reto, e presumivelmente frio jorro de<br />

água disparou entre as barras da jaula, espirrando na parede de concreto e<br />

voltando novamente para o pássaro inconsciente. Marc se ajustou ao objetivo, e a<br />

pressão bateu diretamente sobre o peito coberto de penas.<br />

O Thunderbird sentou-se com um sobressalto, respirando ar (e um pouco de<br />

água) por seu bico mal formado. Sua asa direita disparou um instante mais rápido<br />

do que da sua esquerda, muito rápido para ser outra coisa que o instinto de<br />

proteger o rosto e o torso, embora suas plumas tivessem ficado imediatamente<br />

ensopadas.<br />

O pássaro fez um barulho horrível, gritando de dor e saltando diretamente<br />

contra a parede, onde caiu de joelhos e puxou seus longos braços cobertos de<br />

penas.<br />

Marc soltou o gatilho e parou a água, o pássaro estava agachado no chão,<br />

pingando. Em um silêncio repentino, respirando pesadamente, ouvi seu coração<br />

batendo forte com o choque. Mas o pulso desacelerou rapidamente e ele recuperou<br />

o controle de si mesmo, e quando baixou suas asas, o pássaro olhou para nós com<br />

olhos pequenos e escuros como a minha própria pele, com uma expressão tão<br />

dura como os blocos de concreto em suas costas.<br />

— Levante-se e Mude para que possamos conversar. — eu disse, esperando<br />

desesperadamente que ele falasse inglês ou espanhol, porque ele poderia ser do<br />

Chile, por tudo o que sabíamos. Ou de Plutão, <strong>não</strong> importava.<br />

Por um momento, ele apenas nos observou com a hostilidade presente em<br />

seus olhos, brilhando intensamente. Ou talvez fosse a água de seu despertar rude.<br />

Mas quando Marc redirecionou a mangueira, o pássaro se levantou lentamente e<br />

34


abriu os braços. Sua esquerda resistia e ele fez uma careta quando a forçou a ficar<br />

no lugar, flexionando as garras de suas asas como se as estivesse mostrando. Ele<br />

inclinou a cabeça para um lado, como se pensasse, fechando os olhos. Um muito<br />

suave e sussurrante som assustador parecia saltar atrav<strong>é</strong>s da sua coluna e eu<br />

assisti fascinada como suas penas desapareciam em sua pele e os braços ficavam<br />

mais curtos.<br />

Aconteceu em segundos.<br />

Marc e eu estávamos em um atordoado silêncio.<br />

A Mudança mais rápida que uma vez eu tinha conseguido foi de menos de<br />

um minuto, e eu era uma das mais rápidas. Provavelmente porque sou menor do<br />

que a maior parte dos Toms (portanto, tenho menos corpo para Mudar) e com mais<br />

experiência do que a maioria dos adolescentes, que tem menos para Mudar do que<br />

eu.<br />

Mas este pássaro, todos os pássaros, se o exemplo que vimos era uma<br />

indicação de que fossem assim, tinham me deixado no chinelo. Ou garras para<br />

baixo, conforme o caso. E sua Mudança foi estranha. A pele que ficava em mim era<br />

apenas de um centímetro de comprimento, e <strong>não</strong> muito mais espessa do que o<br />

cabelo humano, mas as penas eram longas e de cerdas rígidas. Não havia<br />

nenhuma maneira de que as penas de doze a catorze centímetros de comprimento<br />

entrassem com tanta rapidez e facilidade em sua pele.<br />

No entanto, lá restava o Thunderbird, totalmente humano, e nu, sem<br />

vergonha, olhando com ódio óbvio e cauteloso. Ele era pequeno (<strong>não</strong> mais que um<br />

metro e meio) e magro, com um tronco desproporcional e poderoso e pernas finas.<br />

Passaria por humano se estivesse vestido, mas ele definitivamente se destacaria,<br />

embora a maioria das pessoas fosse incapaz de explicar exatamente por que.<br />

Enquanto nós observávamos, ele passou a mão direita sobre o peito grosso e<br />

a cintura fina, casualmente tocando as feridas que Owen tinha feito nele. Sua mão<br />

ficou vermelho brilhante. A água tinha lavado o sangue seco e reaberto as feridas.<br />

Seu braço esquerdo estava rígido ao seu lado, e quando eu olhei mais de<br />

perto, pude ver que estava inchado. Obviamente estava quebrado, e sem dúvida,<br />

muito dolorido.<br />

Mas ele <strong>não</strong> fez nenhum som ou movimento.<br />

— O que <strong>é</strong> isso? — o Thunderbird tinha a voz rouca e estridente, como se<br />

falasse em dois tons de uma só vez. Era um som esquisito e estranhamente<br />

apropriado para a sua estrutura fora do comum.<br />

— Sou Marc Ramos. Esta <strong>é</strong> Faythe Sanders. Nós fazemos as perguntas. —<br />

Marc se ajoelhou para colocar a mangueira aos seus p<strong>é</strong>s, ficou de p<strong>é</strong> e encontrou<br />

meu olhar, fez um gesto com uma mão para o prisioneiro. Ele queria que eu<br />

tomasse a iniciativa. <strong>As</strong>sim como o meu pai que estava sempre me treinando.<br />

Meu pai nos havia dito que começássemos sem ele, pois queria dar a notícia<br />

a Ed Taylor pessoalmente, assim dei um passo à frente, tomando cuidado para me<br />

manter fora do alcance das barras. Muuuuito fora do alcance devido ao pouco<br />

tempo que seus braços poderiam crescer e quão rápido ele Mudava de forma.<br />

Mesmo ferido.<br />

35


— Qual <strong>é</strong> o seu nome? — cruzei meus braços sobre o peito e encontrei seus<br />

olhos escuros.<br />

Ele apenas piscou para mim e repetiu sua pergunta. E quando eu <strong>não</strong><br />

respondi, ele sorriu com a expressão totalmente ausente de alegria, e inclinou a<br />

cabeça para o outro lado em um movimento espasmódico de pássaro.<br />

— Este <strong>é</strong> o seu ninho, certo? A sua casa? Este esconderijo baixo <strong>é</strong> onde os<br />

Gatos se escondem, por quê? Calor? Segurança? Vocês se amontoam em tocas<br />

porque <strong>não</strong> podem voar. Vocês me dão muita pena.<br />

Minhas sobrancelhas se ergueram com o desgosto gotejando de cada uma de<br />

suas sílabas.<br />

— Talvez você devesse ter pena de si mesmo. Continua sangrando e parece<br />

ter quebrado uma asa. Você está em boa companhia. — levantei o meu próprio<br />

gesso. — Mas o meu foi colocado no lugar. Se o seu <strong>não</strong> for colocado corretamente<br />

no lugar, você <strong>não</strong> será capaz de voar, n<strong>é</strong>? Nunca mais?<br />

Seus olhos se estreitaram e sua mandíbula apertada me disse que eu estava<br />

certa. Eu tinha encontrado a sua fraqueza.<br />

— O nosso m<strong>é</strong>dico está somente a algumas horas de distância. — o Dr.<br />

Carver havia sido chamado para tratar de Owen.<br />

— Mas você <strong>não</strong> conseguirá sequer um sacerdote at<strong>é</strong> que nos diga o que<br />

queremos saber. Começando com seu nome.<br />

O Thunderbird embalou o braço quebrado, mas seu olhar <strong>não</strong> vacilou. —<br />

Então eu nunca vou voar de novo. — ele parecia ao mesmo tempo angustiado e<br />

decidido, raramente tinha visto vontade tão forte.<br />

— S<strong>é</strong>rio? — dei um passo para mais perto da barra, julgando uma distância<br />

segura. — Você vai ficar aleijado pelo resto da vida só por causa do seu nome? Em<br />

que você vai servir ao seu bando... ou o que quer que seja, se ficar aleijado pelo<br />

resto de sua vida?<br />

A dúvida cruzou sua expressão, expulsa quase imediatamente pela sua<br />

indiferença.<br />

— O resto de minha vida? Ou seja, os três segundos que cuspirá minhas<br />

entranhas e rasgará o meu corpo? Eu diria que um braço quebrado <strong>é</strong> o menor dos<br />

meus problemas.<br />

Revirei os olhos: — Nós <strong>não</strong> vamos te matar.<br />

— Claro. Você vai me consertar e me jogar pela janela com um palito de<br />

sorvete amarrado na asa. — encolheu os ombros desajeitadamente com o braço<br />

bom, encostado na parede de blocos. — Eu vi esse episódio. Este <strong>é</strong> o que Sylvester<br />

come Tweety.<br />

— Se a memória <strong>não</strong> me falha, Sylvester nunca comeu realmente Tweety, e<br />

embora eu goste de uma boa refeição de ave, <strong>não</strong> podemos matá-lo sem provas de<br />

você tenha matado um dos nossos. E você <strong>não</strong> corresponde a isto. — coloquei a<br />

mão em meu bolso traseiro e retirei a pena de quatorze centímetros que eu tinha<br />

encontrado junto ao corpo de Jake. Eu a tinha guardado com cuidado, para<br />

preservar o patrão da cor.<br />

36


A diferença era sutil, mas inegável. <strong>As</strong> penas de nosso prisioneiro eram<br />

castanho escuro, com três listras horizontais pretas e grossas.<br />

No entanto, a que eu tinha na minha mão tinha dois de espessura e uma<br />

listra fina no meio.<br />

Marc reforçou quando o Thunderbird franziu a testa enquanto olhava para a<br />

pena — Não podemos te matar, e você tem direito à água e comida duas vezes ao<br />

dia. — pelo menos, era isso que o Conselho dizia que um prisioneiro <strong>Werecat</strong> tinha<br />

direito. Nós realmente <strong>não</strong> temos qualquer precedente para saber como tratar os<br />

prisioneiros de outras esp<strong>é</strong>cies. — Mas <strong>não</strong> temos que tratar seus ferimentos ou<br />

deixá-lo ir, portanto você ficará aí com dor durante o tempo que demorará a<br />

começar falar.<br />

— Então, acho que devo me acomodar. — o olhar do Thunderbird desafiou<br />

Marc abertamente, que tinha pelo menos dez centímetros e trinta quilos a mais do<br />

que ele, sem um pingo de medo.<br />

O Alfa interior de Marc rugiu para a vida, eu vi as partículas de ouro<br />

brilhando loucamente em seus olhos. Apoiei o braço engessado sobre seu<br />

estômago um instante antes que ele se lançasse contra as barras. O que só teria<br />

convencido o prisioneiro a <strong>não</strong> falar.<br />

Notei algo que realmente poderia ser útil. O pássaro estava claramente<br />

devastado pelo pensamento de <strong>não</strong> voltar a voar, apesar de sua vontade de<br />

suportar isso. Ele odiava a nossa habitação de teto baixo, e a pensamento de<br />

“amontoamento” nele.<br />

— Sim, fique à vontade. — abri o meu braço bom para indicar o porão<br />

inteiro. É muito quente aqui, graças ao isolamento natural da terra contra os<br />

blocos de concreto...<br />

O pássaro franziu a testa e suas pernas tremeram como se estivesse lutando<br />

contra a vontade de se levantar. Ou tentar voar para fugir. Seu olhar escuro<br />

percorreu o ambiente grande e escuro e, finalmente posou nas duas únicas<br />

pequenas janelas, com estreitos pain<strong>é</strong>is de vidro que estavam perto do teto e que<br />

davam para o chão do lado de fora.<br />

— Estamos no subsolo? — sua voz soou estranhamente mais áspera do que<br />

o habitual.<br />

— Sim. Você <strong>não</strong> só está apenas em nossa “toca no nível do solo”, como está<br />

abaixo dela. Está preso nela. Completamente enterrado, como você quiser. — ele<br />

fez uma careta para a minha escolha de palavras, mas eu continuei. — Você <strong>não</strong><br />

vai ver o c<strong>é</strong>u novamente at<strong>é</strong> que responda às nossas perguntas. E eu posso<br />

escurecer os vidros agora mesmo se você quiser o efeito completo.<br />

O pânico em seus olhos brilhava como lágrimas <strong>não</strong> derramadas.<br />

Eu estava certa. Nosso prisioneiro (e provavelmente todos os Thunderbirds)<br />

sofria de uma combinação fascinante de claustrofobia e tafefobia, o medo de ser<br />

enterrado vivo. E eu estava mais do que disposta a explorar esse medo, se o fizesse<br />

falar sem colocar em perigo qualquer um de nós.<br />

— Ou, eu posso abri-las e deixá-lo olhar para fora.<br />

37


A luta silenciosa do pássaro era evidente quando ele lutou para manter uma<br />

expressão vazia. Para esconder o terror que se construía em seu interior em cada<br />

respiração. Mas eu conhecia esse medo. Tinha estado presa mais de uma vez, e<br />

quando <strong>não</strong> estava assustada por ser engolida pela terra, temia a perda de minha<br />

liberdade tão intensamente como ele temia na sua atual situação.<br />

Mas o pássaro era forte, obviamente, <strong>não</strong> acostumado a ceder, seja pelo<br />

medo ou por seus inimigos.<br />

Ele precisava de um empurrãozinho...<br />

— Você pode sentir isso? — escorreguei para frente apenas o suficiente para<br />

me certificar de que o movimento chamasse sua atenção. — Esses tijolos em suas<br />

costas? Estão retendo toneladas de terra e argila. Terra sólida. Há apenas oito<br />

centímetros de concreto entre você e a morte por asfixia. Ou talvez o peso fosse<br />

esmagá-lo <strong>primeiro</strong>. De qualquer maneira, você pode ser enterrado vivo. Você <strong>não</strong><br />

pode quase provar o solo...?<br />

Marc olhou para mim como se eu tivesse enlouquecido. Ou como se tivesse<br />

cruzado uma linha que ele <strong>não</strong> tinha sequer chegado perto. Mas eu já o tinha visto<br />

trabalhar. Havia literalmente tirado as informações que precisava de um<br />

prisioneiro at<strong>é</strong> a morte. Como poderia minha manipulação calma e psicológica ser<br />

pior do que isso?<br />

O pássaro tinha os olhos fechados, respirando lenta e deliberada atrav<strong>é</strong>s da<br />

boca, tentando se acalmar.<br />

— A verdade? É que <strong>não</strong> posso te deixar sair. Embora quisesse, <strong>não</strong> tenho<br />

autoridade. — dei de ombros, falando suavemente. — Mas eu posso deixar isso<br />

muito mais <strong>fácil</strong> para você. Podemos abrir as janelas, e inclusive a porta. —<br />

apontei para a parte superior da escada. — Pela manhã, verá a luz do sol pela<br />

cozinha. Isso seria melhor, <strong>não</strong> <strong>é</strong> verdade? Eu poderia deixar isso somente<br />

suportável?<br />

— Abra a porta. — ele exigiu com os tons duplos de sua voz quase unidos,<br />

tanto no tom como na intensidade. <strong>As</strong> penas brotavam de seus braços, e uma<br />

flutuou at<strong>é</strong> o chão. Ele estremeceu e segurou seu braço esquerdo. Sobressaltada,<br />

saltei para trás e bati com o braço machucado no cotovelo de Marc. Ele me<br />

tranquilizou com uma mão, e eu dei um passo à frente de novo. O Thunderbird<br />

<strong>não</strong> tinha notado. Sua atenção estava cravada na porta fechada, como se estivesse<br />

disposto a abri-la por si mesmo. — Abra. — ele repetiu.<br />

— Me dê o seu nome.<br />

— Abra a janela. — ele forçou os olhos para a porta e encontrou-se<br />

brevemente com o meu, antes que sua cabeça fosse voltada acentuadamente para<br />

as janelas fechadas e os cabelos desaparecessem sob uma coroa de penas claras e<br />

curtas.<br />

— Seu nome.<br />

Ele gemia, e suas pernas começaram a tremer contra o piso de concreto, os<br />

joelhos ossudos batendo entre si.<br />

— Kai.<br />

38


— Kai de quê? — me aproximei mais das barras, entusiasmada pelo meu<br />

progresso e fascinada por sua reação...<br />

— Não temos sobrenomes. Não somos humanos. — cuspiu a última palavra<br />

como se fosse um insulto, como se lhe queimasse a língua, apesar do suor<br />

jorrando constantemente das penas de sua cabeça.<br />

— Abra a janela. — virei-me para Marc, mas ele já estava do outro lado do<br />

porão.<br />

Ele tirou o trinco do <strong>primeiro</strong> painel e o vidro se inclinou para frente.<br />

Ar frio e seco entrou pelo cômodo, quase visível no calor úmido do porão. Kai<br />

respirou fundo. <strong>As</strong> penas de sua cabeça foram recolhidas e ele abriu os olhos. Ele<br />

ainda <strong>não</strong> estava muito bem. <strong>Ser</strong>ia preciso bem mais do que uma brisa fresca para<br />

isso. Mas ele <strong>não</strong> podia fazer nada agora.<br />

— Ótimo. Agora, vamos nos conhecer. — o barulho de metal raspado soou<br />

as minhas costas, e eu me afundei no assento da cadeira metálica que Marc tinha<br />

colocado atrás de mim. — Onde você mora? Onde está seu rebanho?<br />

— É um Bando. — cuspiu ele. — E você <strong>não</strong> pode chegar lá, mesmo que<br />

quisesse. E você <strong>não</strong> quer. Confie em mim.<br />

— Por que <strong>não</strong>?<br />

— Por que eles a rasgariam em dois segundos.<br />

— Como o seu amigo rasgou o nosso? No campo justamente depois da linha<br />

das árvores?<br />

Kai inclinou a cabeça de novo e levantou uma sobrancelha: — Algo assim.<br />

— Por que eu <strong>não</strong> posso chegar à sua casa?<br />

— Porque você <strong>não</strong> pode voar.<br />

— O que significa isso? — Marc sentou-se em uma segunda cadeira ao meu<br />

lado. — Vocês vivem em uma árvore? Porque nós podemos subir.<br />

Mas Kai só colocou seu braço lesado nos joelhos e apertou os lábios com<br />

firmeza. Ele tinha terminado de falar de sua casa.<br />

— Está bem. — pensei por um momento. — Que tal um número de telefone?<br />

— Precisamos falar com seu Alfa. Ou como seja que você o chame. Ou ela.<br />

Kai negou com a cabeça e se permitiu um pequeno sorriso — Sem telefone.<br />

— Nem mesmo uma linha terrestre? — Marc perguntou, acomodando-se na<br />

segunda cadeira.<br />

— Especialmente sem uma linha terrestre. — o pássaro parou, e depois de<br />

um breve olhar tranquilo para a janela aberta, deixou seus olhos se encherem de<br />

desprezo novamente, e então apontou para os dois como uma arma. — Sua<br />

esp<strong>é</strong>cie tem sobrevivido por tanto tempo por pura sorte. Com os constantes<br />

remanescentes de seus próprios desastres. Nós sobrevivemos todo esse tempo por<br />

nos mantermos longe dos seres humanos e <strong>não</strong> fazer bagunça em <strong>primeiro</strong> lugar.<br />

Nós <strong>não</strong> temos telefones ou internet, carros ou qualquer coisa que requer<br />

manutenção regular humana. Exceto por alguns presentinhos, como programas<br />

39


em fita para entreter os nossos jovens, <strong>não</strong> temos nada al<strong>é</strong>m de água potável e<br />

energia el<strong>é</strong>trica para manter as luzes de trabalho e calor.<br />

Eu sorri surpresa: — Vocês precisam de calor? Por que simplesmente <strong>não</strong><br />

migram para o sul no inverno?<br />

Kai franziu a testa — Nós vamos para o sul no inverno. Os direitos de nossa<br />

terra <strong>não</strong> se estendem ao sul do local onde vivemos agora.<br />

Guardei essa pequena semente de quase informação para mais tarde —<br />

Muito bem, vocês vivem como os Amish. Como se pode entrar em contato com seu<br />

Bando...?<br />

Kai quase sorriu — Pessoalmente. Mas no seu caso, isso seria suicídio.<br />

Não pude evitar revirar meus olhos — Isso <strong>é</strong> o que você diz. Por que<br />

exatamente os Tweetys e seu bando estão prontos para nos matar com seus bicos<br />

quando estivermos à vista?<br />

Os olhos do Thunderbird se estreitaram, como se ele <strong>não</strong> tivesse certeza se<br />

podia confiar na minha ignorância: — Porque o seu povo... o seu Pride. — de novo<br />

ele pronunciou como uma palavra suja. — ...Matou o nosso mais jovem e<br />

promissor galo.<br />

Pisquei por um momento pelo seu palavreado e quase dei uma gargalhada.<br />

Então pelo que eu entendi. Os machos dos Thunderbirds são chamados de galos.<br />

S<strong>é</strong>rio. Como galinhas.<br />

E ele pensa que tínhamos matado um dos seus?<br />

— Nós vamos atacar at<strong>é</strong> que a nossa sede de vingança seja satisfeita, mesmo<br />

se tivermos que fazer isso com um por um.<br />

Olhei confusa para Marc antes de me voltar para o pássaro: — Do que<br />

diabos você está falando...? — mas a minha pergunta foi interrompida no meio<br />

com o grito aterrorizado que soou lá de cima.<br />

Olhei para as escadas em direção aos gritos de comoção (profundamente<br />

voltados para um pedido de socorro, os passos pesados), em seguida, me virei para<br />

Kai. O Thunderbird estava sorrindo ansiosamente. Sua antecipação fez com que o<br />

meu estômago revirasse.<br />

Então, ouvi Kaci gritando em pânico junto com os outros e corri para as<br />

escadas de concreto, com Marc em meus calcanhares.<br />

40


Capítulo 5<br />

Eu corri para abrir a porta, entramos na cozinha a tempo de ver meu tio<br />

Rick e Ed Taylor entrar pelo amplo corredor central em direção a porta de trás,<br />

momentaneamente chocados por qualquer novo horror que tivesse acabado de<br />

rasgar seu caminho para nossas vidas.<br />

Marc passou por mim no corredor e eu fui a última a sair da casa, com<br />

excessão de Owen que parecia frustrado e furioso por ter sido preso em sua cama.<br />

No momento que eu cheguei na pequena varanda lotada, os gritos pararam,<br />

embora eu ainda pudesse ouvir Kaci soluçando suavemente em algum lugar à<br />

frente. Os únicos outros sons eram os murmúrios silenciosos dos vários Alfas que<br />

tentavam entender o que havia acontecido e o de algu<strong>é</strong>m agonizando, com gemidos<br />

meio incoerentes.<br />

Meu coração pulsava quando caminhei at<strong>é</strong> os três degraus que levavam ao<br />

gramado pálido pelo inverno, educadamente dando cotoveladas e golpeando os<br />

ombros dos que estavam no meu caminho. Cinquenta metros da varanda, os Alfas<br />

estavam reunidos em torno de uma forma masculina cujo rosto eu ainda <strong>não</strong><br />

podia ver. Minha mãe se ajoelhou no chão ao redor da cabeça do Tom, mas ela<br />

parecia estar falando com ele em vez de prestar os <strong>primeiro</strong>s socorros.<br />

Na borda da multidão que rodeava, Manx estava de p<strong>é</strong> com Des embalada<br />

em um braço, e o outro envolto ao redor dos ombros de Kaci, enquanto lágrimas<br />

escorriam pelo rosto da jovem Tabby.<br />

Uma respiração vazia escapou de mim quando vi que ela estava bem, mas<br />

apavorada. At<strong>é</strong> que me dei conta de que Jace <strong>não</strong> estava com ela.<br />

Não...<br />

Eu fui em direção a forma que estava no chão, meu pulso se acelerando<br />

enquanto tentava me lembrar se Jace tinha ou <strong>não</strong> um par de botas da cor<br />

marrom, que era tudo o que eu podia ver do Tom ferido. Mas eu <strong>não</strong> conhecia Jace<br />

como conhecia Marc. Não tinha memorizado seu guarda-roupa, nem podia prever<br />

o que ele iria dizer ou fazer em qualquer situação. No entanto, meu alívio foi como<br />

babosa em queimaduras de sol quando Jace deu um passo à minha esquerda,<br />

milagrosamente ileso. Sua mão encostou na minha, mas eu <strong>não</strong> a peguei,<br />

consciente de que Marc estava do meu outro lado e de que estávamos rodeados de<br />

pessoas.<br />

— É muito ruim. — Jace sussurou.<br />

41


— Quem <strong>é</strong>? — <strong>não</strong> fiz nenhum movimento para dar um olhada mais<br />

cuidadosa.<br />

— Charlie. — Charles Eames era o <strong>guardião</strong> principal do meu tio. Seu irmão<br />

mais velho era John Eames, o geneticista que tinha descoberto a verdade sobre<br />

como os Extraviados eram infectados e sobre “a dupla” herança recessiva de Kaci.<br />

Seu pai tinha sido um Alfa no norte quando ele era pequeno, mas nenhum dos<br />

seus filhos se casou.<br />

Quando ele se aposentou, seu território foi para o seu genro, Wes Gardner.<br />

Que agora estava firmemente aliado com Calvin Malone.<br />

Esse emaranhado particular de laços familiares era só um exemplo do por<br />

quê a guerra civil devastaria o Pride Americano. Havia apenas dez territórios e<br />

todo mundo que eu conhecia tinha amigos e familiares na maior parte dos outros<br />

Prides. Desenhar as linhas de lealdade era um trabalho muito delicado e mantêlos<br />

no lugar era quase impossível.<br />

Charlie gemeu outra vez, com isso, endireitei minha coluna e logo dei um<br />

passo adiante para poder ver melhor, Marc veio comigo e nós nos ajoelhamos na<br />

frente da minha mãe ao lado do Tom abatido. Quase perdi todo o meu autocontrole<br />

tentando segurar o grito de choque e de horror com o que eu vi.<br />

Charles Eames estava com a cabeça virada para a minha mãe,<br />

contemplando como se ela fosse seu ponto focal de meditação. Talvez a única coisa<br />

que o mantivesse consciente. Seus dois braços e uma perna estavam tortos,<br />

obviamente quebrados em vários pontos e o osso realmente se mostrava pela pele<br />

rasgada do seu braço esquerdo, onde algu<strong>é</strong>m tinha rasgado sua blusa para expor<br />

a ferida. O sangue acumulado em seu braço, ainda escorrendo da ferida aberta.<br />

— Eu precisava de um cigarro. — Charlie sussurou para minha mãe. — Fui<br />

apenas a poucos metros da varanda. — seus olhos se fecharam e ele estremeceu<br />

quando respirou profundamente.<br />

Minha mãe franziu a testa e começou a desabotoar sua camisa. Com<br />

cuidado ela puxou o cós da sua calça e levantou sua camisa para expor seu peito.<br />

O lado esquerdo já estava azul e roxo, no minimo ele teria quebrado várias<br />

costelas, no mesmo lado da sua perna quebrada e do braço com a fratura exposta.<br />

Ele tinha aterrisado sobre o seu lado esquerdo.<br />

— Quantos eram? — meu pai se inclinou para ajudar minha mãe a tirar o<br />

resto da camisa solta e Charlie começou a tremer.<br />

— Dois. Eles estavam no telhado. — hesitou com outra curta respiração, nós<br />

viramos a cabeça para a casa, para nos assegurarmos de que <strong>não</strong> tinhamos<br />

acabado de entrar em uma armadilha.<br />

Mas o telhado estava claro agora. Os pássaros <strong>não</strong> pegariam tantos de nós<br />

imediatamente, pelo menos eu esperava.<br />

42


Cruzei meus braços para me proteger do frio, quando Charlie continuou e<br />

meu pai entrou na sua linha de visão, assim o Tom ferido <strong>não</strong> teria que se esforçar<br />

para vê-lo.<br />

— Escutei um barulho e quando me virei, eles estavam sobre mim. — ele<br />

tossiu e quando parou seus olhos estavam fechados, lutando contra a dor. — E<br />

então, eu estava no ar. Um tinha meu braço e o outro meu tornozelo.<br />

— Não posso acreditar que eles conseguiram te erguer. — eu disse,<br />

pensando em como o <strong>primeiro</strong> Thunderbird tinha lutado com Kaci, sendo tão<br />

pouco o que ela pesava.<br />

— Eles <strong>não</strong> estavam tentando. — Charlie fechou seus olhos outra vez e falou<br />

sem abri-los. — Eles me levantaram at<strong>é</strong> cerca de trinta metros e depois me<br />

deixaram cair.<br />

Meus próprios olhos se fecharam em horror. Eles o deixaram cair de<br />

propósito e se ele pesasse menos, eles poderiam tê-lo deixado cair de uma altura<br />

maior. Eles <strong>não</strong> estavam tentando levá-lo, estavam tratando de matá-lo.<br />

Quando meus olhos se abriram, meu pai estava me observando e eu vi a<br />

mesma amarga compreensão por trás do verde brilhante do seus olhos. Os<br />

Thunderbirds eram diferentes de qualquer inimigo que nós já tínhamos<br />

enfrentado. Eles mergulham vindos de algum lugar e saem voando depois de<br />

terem infligido o máximo de dano.<br />

Nós <strong>não</strong> poderiamos nos defender das suas garras e tamb<strong>é</strong>m <strong>não</strong> podiamos<br />

Mudar rápido o bastante para realmente lutar com eles. E claro, <strong>não</strong> poderiamos<br />

persegui-los pelo c<strong>é</strong>u.<br />

No espaço de uma hora, eles tinha machucado Owen, ferido gravemente<br />

Charlie Eames e matado Jake Taylor. Estávamos com três homens a menos, no<br />

pior momento possível.<br />

O nó na minha garganta era grande demais para eu conseguir respirar.<br />

Como poderiamos lutar contra Malone, se <strong>não</strong> conseguissemos sobreviver aos<br />

Thunderbirds?<br />

— Greg … — Vic emergiu da multidão e meu pai se levantou para pegar o<br />

telefone que ele ofereceu. — Eu o tenho na linha.<br />

— Obrigado. — meu Alfa voltou a andar enquanto falava ao telefone e minha<br />

mãe fazia tudo o que podia por Charlie.<br />

— Danny, Quão perto você está? — fez uma pausa quando o Dr. Carver<br />

disse algo que eu <strong>não</strong> pude distinguir por causa da estática. — Você pode chegar<br />

mais rápido?<br />

43


Apertei a mão de Marc quando ele a deslizou na minha mão boa e seguimos<br />

meu pai para longe da multidão para ouvir o telefonema. Se ele <strong>não</strong> quisesse que<br />

ouvíssemos, teria ido para dentro da casa.<br />

— Depende, você quer me dizer do que se trata? — Carver perguntou e meu<br />

pai suspirou.<br />

— Apenas se apresse, esses malditos pássaros deixaram o Charlie Eames<br />

cair de trinta metros, na melhor das hipóteses, eu diria que ele tem seis ou sete<br />

ossos quebrados e <strong>não</strong> está conseguindo respirar direito.<br />

— Trinta metros? — ouvi o assombro e o horror na voz de Carter e registrei,<br />

ligeiramente, o pisca alerta do seu carro apitando, <strong>não</strong> reconhecido por seu<br />

motorista distraído. — É um milagre que ele tenha sobrevivido a uma queda como<br />

esta.<br />

— Não o teria feito se tivesse aterrissado de cabeça ou outra coisa se<strong>não</strong> a<br />

grama. — felizmente, a tempestade de gelo da semana passada já tinha derretido e<br />

umedecido o solo que foi esmagado por nossos p<strong>é</strong>s, o que sem dúvida havia<br />

suavizado a queda de Charlie. — Acredito que ele tenha uma concussão cerebral e<br />

muita dor. O que devemos fazer por ele?<br />

Marc e eu nos dirigíamos ao encontro do meu pai quando ele concordou e<br />

disse “Uh-uh”, essas eram a indicações do doutor sobre a melhor maneira de como<br />

levar Charlie para dentro sem causar mais danos. Kaci chamou minha atenção,<br />

ainda soluçando suavemente na borda da multidão. Manx tinha levado o bebê<br />

para dentro, aqui fora ainda fazia muito frio, Owen estava sozinho em casa e Jace<br />

tinha ido consolar a pobre Tabby, mas ele poderia fazer muito pouco neste<br />

momento para acalmá-la.<br />

— Você precisa de um casaco. — eu disse, esfregando seus braços quando<br />

ela começou a tremer. Mas seu problema era maior do que apenas a temperatura.<br />

— <strong>Ser</strong>á que eles iam fazer isso comigo? — Kaci olhou firmemente nos meus<br />

olhos, se negando a ser poupada pela minha preocupação com a sua saúde. —<br />

Eles iam me deixar cair? — seus olhos se encheram de lágrimas e seu tom se<br />

elevou para um chiado quase hist<strong>é</strong>rico.<br />

Jace franziu a testa e olhou para esquerda onde meu pai e vários guardiões<br />

tratavam de seguir as instruções do Dr. Carver.<br />

— Vamos para dentro, onde <strong>é</strong> mais seguro e mais quente. — eu disse,<br />

pensando na predição de Kai e em seus companheiros Thunderbirds empoleirados<br />

no nosso telhado.<br />

— Não! — Kaci franziu a testa e me doía o coração ver uma versão mais<br />

jovem da expressão que eu tinha usado há algum tempo por mais de uma vez.<br />

44


— Você <strong>não</strong> pode simplesmente me esconder em um cofre seguro e me<br />

deixar na escuridão. — as pessoas estavam olhando para mim agora e minha mãe<br />

franziu a testa advertindo-me silenciosamente para <strong>não</strong> deixar Kaci nervosa.<br />

Charlie tinha mais do que vários ossos quebrados, mas a Tabby <strong>não</strong> se<br />

acalmou e eu reconheci a determinação em sua expressão como se fosse meu<br />

próprio espelho.<br />

— Isso quase aconteceu comigo, portanto, eu tenho direito de ter respostas.<br />

— insistiu. — O que eles querem?<br />

Suspirei, consciente de que quase todo mundo estava nos olhando agora,<br />

incluindo Charlie.<br />

— Eles querem vingança.<br />

<strong>As</strong> sobrancelhas de meu pai se ergueram, depois sua testa enrugou<br />

formando uma careta. Empurrou o telefone para a mão do meu tio Vic sem<br />

nenhuma palavra e andou majestosamente at<strong>é</strong> a mim.<br />

— Creio que <strong>é</strong> hora de eu conhecer esse Thunderbird.<br />

Meu pai parou bem em frente às cadeiras dobráveis, olhando para o<br />

prisioneiro que ainda <strong>não</strong> tinha feito nenhum movimento para ficar de p<strong>é</strong>, mesmo<br />

depois que meu pai se apresentou como um Alfa.<br />

— Entendo que o seu povo, seu Bando. — ele me olhou para confirmar e eu<br />

concordei. — Vocês acham que somos responsáveis pela morte de um dos seus?<br />

Um jovem?<br />

O Thunderbird confirmou, mas permaneceu sentado, com o braço quebrado<br />

descansando cuidadosamente em seu colo, mas <strong>não</strong> muito embalado, como se a<br />

exposição de dor admitisse sua debilidade. Os <strong>Werecat</strong>s tinham instintos<br />

similares. A debilidade significa vulnerabilidade e admitir tal coisa para o inimigo<br />

poderia significar sua cabeça sendo arrancada imediatamente.<br />

Mas sua recusa em ficar de p<strong>é</strong> era um absoluto insulto e um contato com<br />

seus olhos corajosos me disse que ele sabia muito bem disso.<br />

— Seu nome <strong>é</strong> Kai? — meu pai continuou, nós havíamos passado tudo para<br />

ele no piso superior.<br />

O Thunderbird concordou de novo.<br />

— Você tem algum tipo de prova que eu possa examinar, Kai? Porque pelo<br />

que eu sei, nenhum dos meus homens jamais havia visto um Thunderbird antes<br />

de hoje e matar algu<strong>é</strong>m de outra esp<strong>é</strong>cie <strong>é</strong> precisamente o tipo de coisa que eu<br />

ficaria sabendo.<br />

Embora, sempre tivesse surpresas. Toms como Kevin Mitchell, cujos crimes<br />

passaram despercebidos at<strong>é</strong> que fosse tarde demais.<br />

45


Kai se endireitou, ainda que isto deva ter feito mais dano nos cortes que<br />

ainda escorriam em seu estômago: — Aceitamos as provas sobforma de<br />

testemunho juramentado de um membro respeitado da sua própria comunidade.<br />

— Espere. — cruzei meus braços sobre o peito e me aventurei mais perto<br />

das barras, confiando que o pássaro estava muito fraco e com muita dor para se<br />

lançar sobre mim. E se eu estiver errada, posso me defender de um pássaro<br />

enjaulado e com uma asa quebrada. — Algu<strong>é</strong>m lhes disse que nós matamos o<br />

seu... galo? — resisti ao impulso de sorrir abertamente. O que era uma brincadeira<br />

normal para nós era um negócio s<strong>é</strong>rio para ele e zombar do nosso prisioneiro <strong>não</strong><br />

o convenceria a cooperar.<br />

No entanto, a piada estava implorando para ser contada. Mais tarde, quando<br />

necessitarmos de uma quebra de tensão. Quando e onde Kai <strong>não</strong> pudesse ouvir.<br />

— Quem? — exigi, franzindo a testa para ele.<br />

— Mesmo que eu quisesse te dizer. — e estava claro que ele <strong>não</strong> queria. —<br />

Não me cabe dizê-lo.<br />

— Então, nem sequer dirá quem está nos acusando?<br />

— Não. — girou rapidamente, provavelmente buscando uma posição mais<br />

cômoda no chão, mas ao inv<strong>é</strong>s disso ele estremeceu quando o movimento causou<br />

ainda mais dor.<br />

— Como isso <strong>é</strong>... apenas? — quase digo “injusto”, mas mordi a língua antes<br />

que algu<strong>é</strong>m me lembrasse de que a vida <strong>não</strong> era justa. Poucos guardiões sabiam<br />

disso melhor do que eu.<br />

O pássaro encolheu os ombros com as costas pressionadas contra os blocos<br />

de cimento: — Demos nossa palavra de que guardaríamos sua identidade em troca<br />

da informação que ele nos ofereceu. Juramos por nossa honra. — ele estava muito<br />

s<strong>é</strong>rio, tão obviamente comprometido em cumprir sua promessa que eu <strong>não</strong> me<br />

atrevia a discutir. Em troca, me dirigi ao meu pai arrastando as botas contra o<br />

piso de cimento arenoso.<br />

— É o Malone. — para mim, parecia óbvio. Claro que neste momento eu<br />

estava provavelmente reclamando que Calvin Malone era a fonte de todo o mal<br />

deste mundo. Então talvez a minha <strong>não</strong> fosse a mais objetiva das opiniões…<br />

Por um minuto, pensei que ele discutiria. Mas então meu Alfa concordou<br />

lentamente esfregando a barba do queixo com uma mão: — Essa, com certeza, <strong>é</strong><br />

uma possibilidade...<br />

— É mais do que isso. — desdobrei meus braços para gesticular com ele,<br />

com cuidado para <strong>não</strong> dar as costas para o pássaro enjaulado.<br />

— Quem mais tentaria nos incriminar por matar um Thunderbird?<br />

46


Marc levantou uma sobrancelha em profundas sombras, silenciosamente<br />

perguntando se eu estava falando s<strong>é</strong>rio.<br />

— Milo Mitchell, Wes Gardner, faça a sua escolha.<br />

— Se fosse qualquer um deles, estariam agindo em nome de Malone, então<br />

dá no mesmo.<br />

Meu pai me fez um sinal de silêncio e se virou para o Thunderbird: — Se <strong>não</strong><br />

sabemos quem está nos acusando. Como podemos nos defender? Ou investigar a<br />

acusação?<br />

Kai olhou firmemente para trás: — Essa <strong>não</strong> <strong>é</strong> nossa preocupação.<br />

— É do interesse da justiça. — insisti. — Se vocês valorizam tanto a honra,<br />

você <strong>não</strong> deveria estar preocupado com a justiça?<br />

— Para Finn? Sim. — o pássaro concordou sem hesitar, sua mão boa<br />

pairando protetoramente sobre as feridas abertas no seu torso. — Esse <strong>é</strong> o nosso<br />

único motivo. Para você? De forma alguma.<br />

— Mas você <strong>não</strong> está conseguindo justiça para... Finn? — levantei minhas<br />

sobrancelhas em forma de questionamento e ele concordou. — Se está atacando o<br />

Pride errado. — <strong>não</strong> <strong>é</strong> como se eu estivesse tentando prender o rabo de outro gato.<br />

Eu só estava tentando conseguir o nome do nosso acusador. — Certo?<br />

Kai realmente pareceu considerar isso. — Concordo, mas essa <strong>não</strong> <strong>é</strong><br />

alegação minha.<br />

— De quem <strong>é</strong> a alegação? — meu pai andou at<strong>é</strong> o meu lado. Marc era nosso<br />

apoio, uma constante e silenciosa ameaça.<br />

— Do Bando.<br />

Franzi a testa sem compreender. — Então quem decide pelo Bando?<br />

Kai franziu o cenho com a minha ignorância: — Todos nós decidimos.<br />

— Todos vocês? — <strong>não</strong> podia deixar de quebrar meu c<strong>é</strong>rebro com isso dando<br />

voltas na minha cabeça. Sem um líder, algu<strong>é</strong>m para encabeçar o processo, tomar<br />

decisões e manter os demais na linha. Como isso podia funcionar?<br />

Meu pai ainda estava ali e eu <strong>não</strong> pude interpretar seu silêncio ou sua<br />

disposição para me deixar seguir interrogando o pássaro, sozinha. Mas eu <strong>não</strong> iria<br />

reclamar. Se eu estragar tudo, ele vai interferir.<br />

— E se você discordar? Não há um tipo de... Ordem Hierárquica?<br />

O Thunderbird concordou relutantemente: — Só <strong>é</strong> convocada em casos<br />

extremos.<br />

— Como este? — estendi ambos os braços para indicar os ataques dos<br />

pássaros em nosso Pride inteiro.<br />

47


Naquele momento Kai sorriu mostrando pequenos dentes que ele <strong>não</strong> tinha<br />

na forma de pássaro.<br />

— Fomos unânimes sobre isto.<br />

Sacudi minha cabeça como se a estivesse clareando e levantei minhas mãos:<br />

— Sua unanimidade decidiu agarrar uma menina inocente, responsabilizada por<br />

uma acusação sem fundamentos de um assassinato que <strong>não</strong> teve nada a ver com<br />

ela? Como isso pode ser honrável?<br />

A expressão do prisioneiro se converteu em uma máscara de desprezo: —<br />

Nós <strong>não</strong> teríamos prejudicado a menina, mesmo ela sendo nosso inimigo natural.<br />

Nem teríamos machucado você se pudesse nos ajudar. Finn foi assassinato por<br />

um Gato macho e em troca de informações, tamb<strong>é</strong>m concordamos em remover as<br />

Gatas de seu acampamento antes da verdadeira luta começar de verdade.<br />

— Luta? Eles eram pássaros ninjas? Boinas verdes com penas?<br />

Meu pai estava rígido na borda da minha visão e Marc rosnou atrás de mim.<br />

E por um momento, eu estava realmente surpresa com as suas palavras. Mas logo<br />

a indignação surgiu atrav<strong>é</strong>s do meu assombro, queimando todas as minhas<br />

terminações nervosas como as chamas de uma raiva infantil.<br />

— Você concordou em nos remover? — me dirigi ao meu pai antes que o<br />

pássaro pudesse contestar.<br />

— Eu te disse que foi o Malone. — inicialmente ele tinha tentado colocar<br />

suas garras em Kaci atrav<strong>é</strong>s de sua manobra política e quando isso <strong>não</strong> funcionou<br />

tinha transpassado nossos limites para tomá-la a força. Meu irmão Ethan tinha<br />

sido morto tentando defendê-la e a sensação de segurança de Kaci foi quebrada.<br />

Como a confiança em nossa habilidade para protegê-la.<br />

— Acho que ela tem razão, Greg. — Marc deu um passo entre nós e pude ver<br />

que ele queria colocar o braço ao meu redor. Mas uma exibição pública de afeto<br />

poderia ser pouco profissional diante do prisioneiro. Mesmo me confortando, eu<br />

ainda pareceria fraca.<br />

Meu pai concordou, convencido. Ele se virou em direção às grades: — Vocês<br />

<strong>não</strong> têm telefones? Então como vamos entrar em contato com seu Bando?<br />

Aquele sorriso cruel voltou, ainda que desta vez parecesse menos confiante:<br />

— Não podem, eles só podem ser contatados em pessoa, inclusive se eu te dissesse<br />

para onde ir, você <strong>não</strong> poderia conseguir chegar lá por conta própria. E, nesta<br />

condição. — ele levantou seu braço quebrado com o queixo apertado contra a dor.<br />

— Eu <strong>não</strong> posso te levar.<br />

— Então, como Malone fez? — exigi, dando um passo suficiente para tocar<br />

as barras. Queria envolver minhas mãos sobre ela e agitá-las com raiva. Mas eu<br />

sabia por experiência que elas eram muito fortes para serem sacudidas e agarrá-<br />

48


las no meu atual estado de desespero me faria parecer como um prisioneiro e <strong>não</strong><br />

como seu interrogador, especialmente porque ele tinha vantagem.<br />

E ele sabia muito bem disso.<br />

— Se você está se referindo ao nosso informante, ele nunca esteve no nosso<br />

ninho, nossa equipe de busca o encontrou junto com o corpo do Finn.<br />

— Como <strong>é</strong> que você fez um acordo com ele se <strong>não</strong> estavam todos lá para<br />

concordar? — perguntou Marc e eu estava aliviada ao me dar conta de que eu <strong>não</strong><br />

era a única que <strong>não</strong> entendia a mentalidade desta colmeia que os pássaros<br />

evidentemente têm mantido.<br />

Kai encolheu os ombros outra vez: — Funcionamos como uma unidade.<br />

Uma promessa feita por um de nós será honrada por todos.<br />

— Então, se estiver convencido da nossa inocência prometeria parar o<br />

bombardeio aos nossos Toms e o resto de vocês honraria tal promessa? — podia<br />

trabalhar com isso, eu era boa em convencer…<br />

Mas Kai sacudiu a cabeça e seus lábios estavam apertados sob outra careta<br />

de dor: — Não posso oferecer minha palavra em contradição a um acordo<br />

permanente. Mesmo se eu quisesse, desonraria meu Bando.<br />

Droga!<br />

Meu pai deixou o Thunderbird e sem uma palavra foi para as escadas, era<br />

nosso sinal para segui-lo.<br />

No terceiro degrau ele parou e olhou por cima do seu ombro: — Alimente-o e<br />

em seguida feche a porta, mas deixe a janela aberta. — o que nos faria parecer<br />

misericordiosos no momento e garantir que teríamos o efeito máximo se nós<br />

tiv<strong>é</strong>ssemos que fechá-lo mais tarde.<br />

Concordei quando meu pai saiu do porão e me virei para a gaiola do pássaro<br />

enjaulado: — Você come comida normal? Comida de gente?<br />

Ele sorriu desagradavelmente: — Acho que aqui <strong>não</strong> há carniça fresca?<br />

Nenhum de nós estava disposto a deixá-lo comer isso. Meu estômago se<br />

revirou com esse pensamento.<br />

Mas Marc apenas sorriu friamente: — Pessoalmente, eu me sinto melhor<br />

comendo uma ave crocante e extrassaborosa.<br />

49


Capítulo 6<br />

— Ningu<strong>é</strong>m sai de casa em grupos menores que três. — disse o meu pai, e<br />

eu gemia por dentro, embora reconhecesse a necessidade. Nós tivemos restrições<br />

similares nas montanhas de Montana durante o meu julgamento, graças ao bando<br />

psicótico de três Extraviados que tentavam recrutar Kaci a força. Mas, pelo menos<br />

pudemos nos defender.<br />

Infelizmente, <strong>não</strong> tínhamos ideia de como combater os Thunderbirds, e <strong>não</strong><br />

havia nenhuma maneira de saber quando ou onde atacar. E nós <strong>não</strong> poderíamos<br />

nem persegui-los e nem rastreá-los. Estávamos fora de nossa área de conforto e<br />

fora da nossa Liga, a menos que pud<strong>é</strong>ssemos encontrar uma maneira melhor de<br />

nos defender. Ou uma forma de contatar o Bando de Kai.<br />

— E se Kaci estiver com vocês, serão quatro. — meu pai acrescentou,<br />

enquanto seu olhar pousava sobre a jovem Tabby pressionada tão perto de mim<br />

que eu me senti como se tivesse crescido quatro membros extras.<br />

Tínhamos nos reunido na sala de estar desta vez, porque ela era maior que o<br />

escritório e porque esta era uma reunião obrigatória para todos os Gatos da<br />

fazenda. Meu pai tinha deixado a porta aberta para que os Gatos em nosso centro<br />

de operações improvisado pudessem ouvir melhor.<br />

Haviam deitado Charlie cuidadosamente na cama de Ethan depois de<br />

estabilizar seu pescoço, como o m<strong>é</strong>dico havia indicado. Normalmente, deveria ter<br />

ficado onde estava caído at<strong>é</strong> que o Dr. Carver pudesse examiná-lo, mas o chão<br />

estava frio demais para deixá-lo lá, e nenhum de nós estava a salvo naquele<br />

momento. Com todas as perguntas que ainda <strong>não</strong> tinham respostas, isto estava<br />

claro.<br />

Sentei-me no sofá, me encaixando entre Kaci e Marc. Jace sentou-se do<br />

outro lado de Kaci. Ao nosso redor, a sala estava cheia de Toms e Alfas, embora<br />

apenas Blackwell estivesse sentado no sofá de estofado branco. A mula velha<br />

parecia que estava prestes a desmaiar, e apenas teimosia pura mantinha sua<br />

coluna reta. Bem, isso e sua indignação com a recente crise.<br />

A raiva zumbia por todo o cômodo, e a palavra “choque” nem sequer<br />

começava a descrever a nossa consternação com a súbita invasão do alto.<br />

— Embora, Kaci... — meu pai continuou com a voz grave, por<strong>é</strong>m amável. —<br />

Acho que será melhor se você ficar dentro de casa por um tempo.<br />

Kaci assentiu em silêncio. Eu só podia imaginar como ela deve estar se<br />

sentindo. Alguns meses antes tinha sido uma garota normal de 13 anos, em<br />

grande parte ignorada pela irmã mais velha e apaixonada por garotos humanos da<br />

sua idade. Agora ela <strong>não</strong> tinha preço, quando antes era comum. Cobiçada, quando<br />

antes apenas tinha sido meramente aceita. Frágil em comparação com aqueles ao<br />

seu redor apesar de seu ganho exponencial de força, embora já tenha sido<br />

considerada forte e saudável para uma menina da sua idade.<br />

50


Tudo havia mudado para Kaci, e ela ainda tinha que encontrar o equilíbrio<br />

em sua nova vida. A paz e aceitação de seu passado seriam difíceis de conseguir<br />

enquanto algu<strong>é</strong>m estivesse sempre tentando afastá-la de sua casa.<br />

Especialmente nesta última tentativa.<br />

— Isto <strong>é</strong> o que nós sabemos... — todos os olhares seguiram em direção ao<br />

meu pai quando ele começou a caminhar pelo centro da sala. — Os Thunderbirds<br />

acreditam que nós matamos um de seus jovens. — levantou uma mão para<br />

silenciar quando as perguntas começaram por toda sala. — Vamos chegar aos<br />

detalhes em um minuto. Mas, <strong>primeiro</strong>, o pássaro que Owen capturou se chama<br />

Kai. Sem sobrenome, eles <strong>não</strong> usam isso.<br />

— Como <strong>é</strong> possível diferenciar entre dois com o mesmo nome? — perguntou<br />

meu tio, encostado na parede ao lado de um sombrio e silencioso Ed Taylor. A<br />

família de Jake <strong>não</strong> teria tempo realmente para lamentar sua morte at<strong>é</strong> que a vida<br />

voltasse ao normal, e ningu<strong>é</strong>m estava disposto a arriscar um palpite sobre quanto<br />

tempo isso levaria.<br />

Meu pai deu de ombros. — Minha teoria <strong>é</strong> que há tão poucos deles que <strong>não</strong><br />

tem necessidade de repetir nomes.<br />

— Ou tem um montão de nomes. — sugeri. Papai começou a franzir seu<br />

cenho para mim, mas eu levantei a mão para pedir paciência. — Falo s<strong>é</strong>rio. Eles se<br />

mantêm completamente longe da sociedade humana. Se fiz<strong>é</strong>ssemos isso, mesmo<br />

com o nosso número relativamente grande, incluindo os Extraviados. — Blackwell<br />

franziu a testa para isso, mas eu o ignorei. — <strong>Ser</strong>á que precisaríamos de<br />

sobrenomes? Podemos dizer apenas pelo cheiro a qual família um Gato pertence, e<br />

se <strong>não</strong> vivêssemos ou trabalhássemos dentro da sociedade humana, por que<br />

precisaríamos de sobrenomes? — para minha surpresa, embora Blackwell ainda<br />

franzisse a testa, os outros pareciam considerar o meu ponto. — Tudo o que estou<br />

dizendo. — continuei, com o objetivo de convencer Blackwell. — É que só porque<br />

eles têm apenas um nome, <strong>não</strong> significa que <strong>não</strong> tenha um monte deles. Se a<br />

população deles fosse realmente tão pequena, eles correriam o risco de lutar<br />

conosco?<br />

— Ok, este <strong>é</strong> um ponto válido. — meu pai admitiu. — Vamos adiar qualquer<br />

suposição sobre o tamanho de sua população at<strong>é</strong> que tenhamos mais informações<br />

do Senhor... Kai.<br />

— Ele disse alguma coisa útil? — Blackwell bateu a bengala no tapete.<br />

— Na verdade, Faythe e Marc conseguiram dois valiosos pedaços de<br />

informação. Sem arrancar-lhe uma única pena. — <strong>não</strong> pude deixar de sorrir<br />

diante disso. Meu pai aproveitava cada oportunidade para enfatizar o meu valor<br />

aos outros membros do Conselho. <strong>As</strong>sim como de Marc. — Em <strong>primeiro</strong> lugar, os<br />

Thunderbirds <strong>não</strong> tem Alfa.<br />

Bert Di Carlo falou por trás de mim e eu me virei para vê-lo franzir a testa.<br />

— Você quer dizer que eles atualmente estão sem Alfa ou que nunca tiveram um?<br />

— Eles nunca tiveram um. — eu respondi. Meu pai levantou uma<br />

sobrancelha, mas me deixou continuar, e eu balancei a cabeça brevemente para<br />

ele em agradecimento. — De acordo com o que Kai disse, eles tomam suas<br />

decisões em grupo.<br />

51


— Como na democracia? — os olhos castanhos de Kaci brilharam com o<br />

<strong>primeiro</strong> sinal de curiosidade que eu tinha visto em mais de uma semana, desde<br />

que eu tinha evitado a sua pergunta sobre minha vida sexual. — Então eles fazem<br />

algo como, votar?<br />

— Não acho que seja tão simples. Ou talvez <strong>não</strong> tão complicado. — encolhi<br />

os ombros e alterei a minha atenção para ficar de frente a todos da sala. — Eu <strong>não</strong><br />

entendo completamente, mas a impressão que eu tenho <strong>é</strong> que eles tomam as<br />

decisões como uma só unidade, mas <strong>não</strong> <strong>é</strong> tão formal como uma votação<br />

propriamente dita. E a palavra <strong>é</strong> a sua lei. Literalmente. Kai se recusou a quebrar<br />

uma promessa com o seu Bando, ou mesmo contradizê-la. Mesmo se o<br />

convencermos de que somos inocentes.<br />

— Então, são assassinos honrosos? — Jace moveu-se no sofá e olhou para<br />

mim por sobre a cabeça de Kaci, mas foi meu pai quem respondeu.<br />

— Eles <strong>não</strong> veem isso como assassinato. Estão vingando a morte de um dos<br />

seus, e foram informados por um dos nossos que nós somos responsáveis por essa<br />

morte, a de um jovem Thunderbird chamado Finn.<br />

— Quem disse isso a eles? — Ed Taylor exigiu, empurrando-se contra a<br />

parede em uma postura ereta, seus braços ainda bem tonificados estavam contra<br />

o material azul pálido de sua camisa abotoada.<br />

— É verdade? — Blackwell perguntou em voz baixa, antes de algu<strong>é</strong>m<br />

pudesse responder à pergunta de Taylor.<br />

Meu pai deu um suspiro e parou de andar para enfrentar o Alfa idoso. —<br />

Acho que <strong>não</strong>, mas <strong>não</strong> podemos afirmar sem mais informações, o qual Kai <strong>não</strong><br />

está disposto a dar no momento. Mas tão logo terminemos aqui, entraremos em<br />

contato com os membros do nosso Pride para questionar um por um. Pode<br />

demorar um pouco, mas <strong>não</strong> vejo uma medida de ação melhor neste momento.<br />

Blackwell concordou com relutância e meu pai virou-se para Taylor.<br />

— Quanto a quem nos acusou... — ele olhou para mim, então se virou para<br />

seu companheiro Alfa. — A lógica e francamente, o instinto, apontam para Calvin<br />

Malone.<br />

Eu estava olhando para Paul Blackwell quando meu pai falou, e como eu<br />

esperava, seu rosto ficou vermelho de raiva e seu peito estufou dramaticamente.<br />

Se ele tivesse pelo, neste momento estaria totalmente arrepiado.<br />

— Você <strong>não</strong> pode sair por aí acusando Calvin de tudo o que acontece de<br />

errado, só porque você <strong>não</strong> gosta dele. Você <strong>não</strong> tem nenhuma prova de que ele<br />

estava envolvido no monitoramento dos Extraviados, e nada para provar isso,<br />

tamb<strong>é</strong>m!<br />

Não, nós <strong>não</strong> tivemos nenhuma prova de que Malone era o responsável pela<br />

implantação de dispositivos de rastreamento em vários Extraviados com os quais<br />

tínhamos lutado quando Marc estava desaparecido, mas tínhamos provas que<br />

implicavam Milo Mitchell, o mais forte aliado de Malone. Infelizmente, apesar de o<br />

monitoramento de Extraviados, ser sem dúvida imoral, <strong>não</strong> era ilegal,<br />

tecnicamente falando, e atualmente <strong>não</strong> tínhamos votos suficientes no Conselho<br />

para corrigir isso. Portanto, o nosso caso contra Mitchell e consequentemente,<br />

52


contra Malone, estava em espera. Indefinidamente. Outro espinho nas minhas já<br />

maciçamente feridas costas.<br />

Meu pai tinha ficado muito mais calmo do que eu, embora eu estivesse<br />

orgulhosa de mim mesma por morder a minha língua. Literalmente.<br />

— Nós <strong>não</strong> estamos acusando, Paul. Nós suspeitamos dele. Fortemente.<br />

— Por ele se opor a sua candidatura para o cargo de Presidente do<br />

Conselho?<br />

— Porque, como solicitado pelo informante, os Thunderbirds concordaram<br />

em tentar retirar todas as fêmeas da fazenda antes do ataque. Calvin Malone<br />

declarou publicamente que ele quer Kaci e Manx fora da Lazy S, e que preferia ver<br />

Faythe no caminho “adequado” para uma jovem mulher. Quem poderia ser<br />

considerado um suspeito mais provável?<br />

Blackwell hesitou e o rubor de suas bochechas desapareceu enquanto seu<br />

olhar descia em direção a curva de sua bengala. — Ele <strong>não</strong> faria isso. Eu sei que<br />

você e Calvin <strong>não</strong> se dão bem, e <strong>não</strong> <strong>é</strong> que eu veja isso como um olho por olho<br />

contra ele, mas ele nunca faria isso. Conspirar contra um companheiro Alfa com<br />

terceiros hostis de outras esp<strong>é</strong>cies! Isso <strong>é</strong>... traição.<br />

— Sim. — meu pai deixou que a silenciosa gravidade em sua voz ressoasse<br />

no cômodo. — É.<br />

Blackwell levantou-se cambaleante e olhou para o chão antes de finalmente<br />

encontrar o olhar expectante do meu pai. — Você sabe que <strong>não</strong> posso agir sem<br />

prova e eu tenho apenas mais uma semana como Chefe do Conselho, de qualquer<br />

maneira. Mas iniciarei uma investigação formal sobre isso. Hoje.<br />

— Por que deveríamos confiar em seus investigadores? — Bert Di Carlo<br />

parecia, repentinamente, tão indignado quanto Blackwell parecia exausto. E cada<br />

pedaço dos seus setenta e dois anos.<br />

— Porque você acaba de se oferecer voluntariamente para o trabalho. — o<br />

velho homem encontrou o olhar grave de Di Carlo. Eu colocarei você com o Nick<br />

Davidson, para equilibrar as coisas. — dois dias antes Davidson tinha oficialmente<br />

colocado sua influência para Malone. — Se Calvin <strong>é</strong> responsável por isso, você tem<br />

uma semana para me trazer provas. Depois disso, o ponto <strong>é</strong> discutível.<br />

Di Carlo concordou e Blackwell virou-se para meu pai. — Onde eu posso dar<br />

alguns telefonemas?<br />

— No meu escritório. — meu pai fez um gesto em direção à porta,<br />

gesticulando para o Alfa mais velho. Blackwell fez o seu caminho para o escritório<br />

e meu pai virou-se para o resto de nós. — Meus guardiões, iniciem no topo de<br />

suas listas de telefones e continuem descendo. Passem-me o telefone se encontrar<br />

algu<strong>é</strong>m que viu um Thunderbird ou sabe algo sobre eles. Mesmo que seja apenas<br />

um boato ou um antigo conto. Se souberem mais do que os “Thunderbirds podem<br />

voar”, eu quero falar com eles.<br />

Nós tínhamos feito a lista de telefones na semana passada, depois de Owen<br />

ter passado horas telefonando para os Gatos do Pride Sul Central para ajudarem a<br />

patrulhar as fronteiras em busca de Marc nas florestas do Mississipi. Agora cada<br />

um de nós tinha uma lista, e graças a minha ideia, cada Tom do Pride tinha<br />

53


contato com a fazenda. Uma forma de resolver os problemas ou enviar relatórios,<br />

no caso de o meu pai estar ausente. Ou ocupado com um dos inumeráveis<br />

desastres que afetavam o nosso Pride recentemente.<br />

Durante a hora seguinte, sentei-me na grande mesa de jantar com meus<br />

companheiros guardiões, marcando lentamente nome após nome da minha lista.<br />

Os outros Alfas haviam estabelecido tarefas semelhantes para os seus homens<br />

saudáveis, à procura de informações entre os seus próprios membros. Porque<br />

independentemente de quem tenha matado aquele Thunderbird, eram escassas as<br />

possibilidades de que o assassinato tenha acontecido em nosso território. Nós<br />

estávamos patrulhando obsessivamente desde a morte de Ethan; os Toms que <strong>não</strong><br />

eram guardiões vinham se revezando nas fronteiras desde então. Havíamos<br />

insistido, embora dois tivessem perdido seus empregos pelas excessivas faltas.<br />

Um trabalho perdido era pouco comparado com outro Tom perdido.<br />

Baixei o telefone depois da minha última ligação e levantei os olhos para<br />

encontrar Jace me olhando do outro lado da mesa. Na sala, Marc estava em uma<br />

animada discussão com um dos Toms desempregados, que <strong>não</strong> estava feliz com<br />

seu emprego atual. Todos os outros ainda estavam falando em seus próprios<br />

telefones, então por um momento, deixei que Jace me olhasse. E eu olhei para ele,<br />

meu coração doía a cada batida. Depois de alguns segundos agridoces, o barulho<br />

de um motor familiar, me libertou do olhar de Jace.<br />

Dr. Carver.<br />

Meu pai correu para a porta principal com seu celular pressionado contra a<br />

orelha. — Estacione o carro o mais próximo possível da varanda. Vamos sair para<br />

te buscar. — porque o próprio Dr. Carver era um alvo atraente para qualquer<br />

Thunderbird por perto, como Charlie tinha sido. Mais ainda, se soubessem quem<br />

ele era. — Marc? Vic? — meu pai chamou, agora fora da minha vista, mas eu me<br />

juntei aos rapazes na sala.<br />

— Não. — disse o meu Alfa quando cheguei à maçaneta. Ele pegou meu<br />

braço pelo cotovelo. — Se você <strong>não</strong> se der uma chance de curar isso, <strong>não</strong> nos<br />

ajudará quando formos atrás de Malone.<br />

— Bom ponto. — eu disse e ele pareceu surpreso enquanto eu me afastava<br />

para que Vic pudesse abrir a porta. Marc roçou um dedo em minha bochecha e me<br />

deu um sorriso simpático, antes de seguir seu Alfa e seu ex-parceiro de campo at<strong>é</strong><br />

o lado de fora.<br />

Olhei pela janela alta e com laterais estreitas como eles desciam apressados<br />

os degraus da escada enquanto Carver abria a porta de seu carro. Dois pássaros<br />

voavam em círculo sobre suas cabeças, baixo o suficiente para que seu tamanho,<br />

garras e asas fossem óbvios. Quando Carver virou-se para pegar sua mochila no<br />

assento de passageiros, os pássaros mergulharam em um pouso brusco e<br />

surpreendentemente elegante no centro do jardim da frente, Mudando ainda<br />

quando seus rec<strong>é</strong>m-transformados p<strong>é</strong>s tocavam o chão. Por um longo momento<br />

enfrentaram Marc e Vic, com nada mais do que o carro de Carver a dois metros do<br />

campo entre eles.<br />

Meu pai se manteve firme no degrau mais baixo e o m<strong>é</strong>dico sentou-se<br />

congelado em seu assento, olhando com espanto para os nossos indesejados<br />

54


visitantes. De repente brotou penas nos braços de um dos pássaros e ele se<br />

preparou em seus p<strong>é</strong>s descalços, como se fosse se lançar contra o carro.<br />

Marc bateu com a enorme chave que segurava na palma de sua mão livre,<br />

rosnando ameaçadoramente. O pássaro se acalmou aparentemente contido com a<br />

ameaça silenciosa e a superioridade num<strong>é</strong>rica, e um suspiro de alívio escapou dos<br />

meus lábios.<br />

Meu pai se aproximou dos seus homens, Carver saiu do carro e foi<br />

conduzido pelos dois Toms para dentro da casa. Nosso Alfa permaneceu na<br />

varanda, sozinho e sem escolta como uma demonstração de força. A verdade era<br />

que qualquer um de nós poderia estar com ele em menos de um segundo. Mas às<br />

vezes as aparências são tão importantes quanto a realidade.<br />

— Kai está vivo, mas com muita dor. — ele gritou com uma voz forte e<br />

constante. — Se o quiserem de volta, me coloquem em contato com o seu Bando.<br />

— com isso, virou as costas para os pássaros, uma amostra de confiança, bem<br />

como um insulto, e entrou na casa.<br />

Ele fechou a porta e eu me virei para encontrar a sala cheia de Toms. — Não<br />

há nada a fazer. — meu pai disse e enquanto os Toms se dispersavam lentamente,<br />

ele se virou para Carver. — É bom vê-lo novamente, Danny. Quanto tempo se<br />

passou? Uma semana?<br />

— Você está certo. — Carver mantinha sua mochila no ombro. — Eu tive<br />

menos de uma semana de f<strong>é</strong>rias. Neste ritmo, eu vou procurar um novo emprego<br />

em breve, Greg.<br />

Meu pai suspirou. — Então somos dois. — ele disse, referindo-se ao seu<br />

lugar no Conselho, e <strong>não</strong> à sua carreira como arquiteto.<br />

Carver estremeceu e concordou com a cabeça. — Ei, Faythe. — ele disse,<br />

enquanto Marc trancava a porta da frente e Vic pegava a mochila de nosso último<br />

convidado. — Como está o braço?<br />

— Pronto para sair do gesso. — caminhei entre o m<strong>é</strong>dico e o meu pai, e Marc<br />

e Vic nos seguiram.<br />

Carver sorriu. Ele estava quase sempre de bom humor, <strong>não</strong> importando<br />

quem ele tivesse que costurar ou cortar em pedaços. Em seu trabalho diário Dr.<br />

Danny Carver era um m<strong>é</strong>dico legista, no estado de Oklahoma. Passava mais tempo<br />

com os mortos do que com os vivos. — Espere mais duas semanas, então eu o tiro<br />

e deixo você tentar Mudar.<br />

— Nós <strong>não</strong> temos duas semanas, Dr. — parei no corredor e tive que pará-lo<br />

para manter contato visual. — Iremos atrás de Malone em três dias. — sussurrei a<br />

última parte porque eu <strong>não</strong> tinha certeza de quanto dos nossos planos de batalha,<br />

Blackwell tinha ouvido. Ou se podíamos confiar nele, mesmo com a investigação,<br />

que ele tinha começado contra Malone.<br />

Dr. Carver franziu a testa e olhou para o pesadamente decorado gesso que<br />

eu carregava. — Então você terá que lutar com gesso. Vai proteger melhor o seu<br />

braço, de qualquer maneira.<br />

— Mas eu <strong>não</strong> posso Mudar com um gesso. Ficarei presa em minha forma<br />

humana.<br />

55


Carver deu de ombros e aumentou a pressão sobre a sua mochila com os<br />

suprimentos m<strong>é</strong>dicos. — Nós poderíamos tirá-lo e fazê-la Mudar várias vezes, mas<br />

um osso quebrado <strong>não</strong> <strong>é</strong> como uma entorse ou um corte.<br />

Ambos que eu havia sofrido no cumprimento do dever.<br />

— Eles levam mais tempo para curar corretamente e se <strong>não</strong> curam<br />

devidamente, o dano pode ser permanente. E Mudar depois de quebrar um osso<br />

que <strong>não</strong> está nem meio curado, dói como nada que você já tenha sentido. Basta<br />

perguntar para Marc.<br />

Olhei para Marc, sem me surpreender em vê-lo concordar. Ele obteve várias<br />

costelas quebradas na mesma <strong>é</strong>poca em que eu quebrei meu braço. Um torso <strong>não</strong><br />

pode ser engessado, então ele vinha Mudando duas vezes ao dia durante a última<br />

semana e suas costelas estavam voltando ao normal.<br />

— Então o que isso significa para o Charlie? — perguntei enquanto nos<br />

aproximávamos do quarto de Owen.<br />

— Vamos ver quão ruim está...<br />

Meu pai e Vic seguiram o m<strong>é</strong>dico at<strong>é</strong> o nosso centro de triagem provisório,<br />

mas em vez disso eu fui para a cozinha e Marc me seguiu. — O que há de errado?<br />

— ele perguntou enquanto eu me servia do restante de caf<strong>é</strong> em minha caneca<br />

favorita. Eu levantei as duas sobrancelhas e ele balançou a cabeça em concessão.<br />

— Ok, está tudo errado. Mas, especificamente?<br />

— Isso. — coloquei minha caneca sobre o balcão e coloquei meu braço<br />

engessado. — Estamos a dias de uma grande luta contra Malone e ao mesmo<br />

tempo, estamos sob o fogo vindo de cima. E eu sou tão útil quanto um cão de três<br />

patas.<br />

— Você <strong>é</strong> muito mais útil do que qualquer tipo de cão, mi vida 5 . — ronronou<br />

Marc e apertou-me contra o balcão com as mãos na minha cintura. Não pude<br />

resistir ao seu sorriso. Eu era realmente ruim com o espanhol.<br />

Exceto quando ele gritava isso para mim.<br />

Eu o beijei e passei meus braços em volta da sua cintura, a minha mão boa<br />

aberta em suas costas. Sentindo a potência contida, e amando.<br />

— Está melhor? — ele perguntou quando tomamos ar.<br />

— Um pouco. — suspirei. — Quero apenas lutar.<br />

Ele sorriu. — Eu amo isso em uma mulher.<br />

— Gesso estúpido. — tentei virar e pegar a minha caneca, mas ele me<br />

abraçou.<br />

— Eu gosto. Você quebrou o seu braço salvando a minha vida.<br />

Tive que sorrir para isso. — E faria novamente amanhã. Eu só queria que<br />

isso <strong>não</strong> me impedisse da próxima vez.<br />

— Sinto muito.<br />

5 No livro original em inglês: Mi vida(Minha vida).<br />

56


Dei de ombros e peguei a caneca, depois o segui para o corredor. Marc ficou<br />

para trás para evitar a multidão no quarto de Owen, mas eu me espremi no meio<br />

da multidão e fiquei contra uma parede com Kaci. Minha mãe sentou em uma<br />

cadeira ao lado da cama de Ethan, segurando a mão de Charlie porque <strong>não</strong> podia<br />

fazer mais nada por ele. Manx sentou no chão ao lado da cama de Owen, com uma<br />

mão mutilada em seu braço.<br />

Carver foi diretamente at<strong>é</strong> Charlie, cuja roupa havia sido cortada, mas<br />

permanecia sob ele, porque levantá-lo para removê-la teria sido pior. O m<strong>é</strong>dico<br />

balançou a cabeça quando minha mãe começou a dar a sua cadeira, em seguida,<br />

ajoelhou-se para procurar em sua maleta. Segundos depois, pegou um vidro com<br />

algo claro e uma seringa descartável. Carver sugou ligeiramente o líquido na<br />

seringa, então, cuidadosamente tocou uma veia no braço de Charlie.<br />

— Vou te dar isso para ajudar com a dor e então veremos o que podemos<br />

fazer por você. — ele disse suavemente enquanto ele deslizava a agulha sobre a<br />

pele de Charlie. Charlie nem sequer pestanejou. O que era uma picada comparada<br />

com uma queda de dez metros pelo ar?<br />

Minha mãe pegou a seringa usada e o Dr. Carver atravessou o quarto at<strong>é</strong><br />

Owen, em seguida, sentou-se na cadeira da escrivaninha para examinar o<br />

estômago do meu irmão. — Os pontos estão com bom aspecto, Karen. — ela<br />

murmurou “obrigada” e o m<strong>é</strong>dico virou-se para a perna de Owen, o qual minha<br />

mãe <strong>não</strong> tinha confiado em suturar de forma inadequada. — Está esta profunda.<br />

Vai doer por um tempo, mas se você Mudar algumas vezes amanhã; ficará bem em<br />

um par de dias. Vamos te costurar. — o m<strong>é</strong>dico falava, enquanto trabalhava para<br />

fazer com que o seu paciente se sentisse confortável e isso ajudava. Eu podia<br />

atestar isso pessoalmente. — Não está tão ruim. — disse quando Owen suspirou.<br />

— Faythe teve feridas parecidas há alguns meses, mas Brett Malone tinha umas<br />

muito piores do que...<br />

Mas eu perdi o resto do que ele disse, porque esse nome ecoou na minha<br />

cabeça. Brett Malone. O irmão de Jace, que eu tinha salvado a vida com um<br />

martelo de carne. Brett insistia que me devia, embora depois ele tivesse exaltado a<br />

destituição de meu pai. Eu havia tentado me livrar de sua dívida, estava apenas<br />

fazendo meu trabalho, mas ele insistia.<br />

E agora eu sabia exatamente como ele poderia pagar sua dívida.<br />

Passei a mão no cabelo de Kaci e sussurrei que eu voltaria logo.<br />

— Aonde você vai? — meu pai perguntou quando passei por ele, e quando fiz<br />

um sinal, ele me seguiu em direção ao corredor, onde Jace estava agora parado<br />

com Mar e Vic.<br />

— Estou conseguindo provas para Blackwell. — antes que me pressionasse<br />

por mais detalhes, eu me virei para Jace. — Preciso do seu telefone.<br />

Jace enfiou a mão no bolso sem hesitar e nem fazer perguntas, e eu sorri em<br />

gratidão. Ningu<strong>é</strong>m mais teria feito isso. Mesmo Marc teria me perguntado para o<br />

que eu o queria.<br />

Peguei o telefone de Jace e fui para meu quarto, gritando sobre o meu ombro<br />

enquanto corria. — Eu informarei depois de consultar a minha fonte.<br />

57


Capítulo 7<br />

— Alô? — a voz de Brett parecia cautelosa e desconfiada e ele ainda nem<br />

sabia quem havia ligado. Jace tinha seu meio-irmão na discagem rápida, como eu<br />

sabia que seria. Al<strong>é</strong>m de sua mãe, Brett era o único membro da família com quem<br />

ele fazia contato, isso eu tamb<strong>é</strong>m já tinha adivinhado.<br />

— Ei, Brett, sou eu.<br />

— Faythe? — ele sussurrou, então ouvi o barulho de algo arranhando o<br />

bocal do telefone, enquanto ele o cobria. Segundos depois ele estava de volta e as<br />

conversas de fundo se foram, deixando apenas o barulho do vento, um eco que<br />

soava oco em minha orelha. — Meu pai vai me matar se descobrir que eu estou<br />

falando com você!<br />

— Sim, eu sei, bem-vindo ao jogo. Ele tentou me matar, em novembro.<br />

Eu estava nervosa e revoltada demais para me sentar, por isso caminhava<br />

no tapete ao p<strong>é</strong> de minha cama, ocasionalmente cruzando os dedos de minha mão<br />

engessada pelas cicatrizes das colunas do quarto.<br />

— Este <strong>não</strong> <strong>é</strong> um bom momento, Faythe. O que você quer?<br />

Eu respirei fundo e tentei manter em mente o quão difícil deve ter sido a<br />

coisa toda para Brett. Ele sabia que seu pai era um mentiroso, ambicioso,<br />

hipócrita e um canalha machista preconceituoso e <strong>não</strong> havia nada que ele pudesse<br />

fazer sobre isso. Ao contrário de Jace, ele era filho verdadeiro de Malone e <strong>não</strong><br />

poderia escapar de seu Pride. Não, sem deixar sua mãe e o resto de sua família. E<br />

<strong>não</strong> sem permissão, que Malone nunca daria.<br />

Mas o tempo para decisões fáceis tinha terminado.<br />

Eu suspirei e deixei um pouco de medo e frustração escapar em meu tom de<br />

voz: — Nunca vai ser um bom momento, Brett. Eu preciso de um favor. Uma<br />

informação.<br />

Por um momento, apenas ouvi o assobio do vento e o pesado rangido de<br />

ramos de pinheiro verde. Ele estava no bosque atrás de sua casa,<br />

esperançosamente fora do alcance do ouvido do resto de seu Pride, porque se<br />

algu<strong>é</strong>m ouvisse por acaso o que eu estava a ponto de pedir, ele poderia ser preso<br />

pelo resto de sua vida. Ou pior.<br />

Finalmente Brett falou e cada palavra soava como se doesse ao sair: — Não<br />

me peça favores, Faythe. <strong>As</strong> coisas estão ruins por aqui. Eles vão perceber que eu<br />

saí.<br />

Meu coração doeu por Brett. Eu sabia o que era estar no meio de um<br />

conflito com o resto de minha família. Com o resto de meu Pride. Mas vidas <strong>não</strong><br />

estavam em jogo quando eu discuti com meus pais. Meu Alfa <strong>não</strong> era um psicótico<br />

ambicioso.<br />

58


No entanto, tão fortemente quanto eu simpatizava com sua posição, eu tinha<br />

que pensar sobre meu Pride em <strong>primeiro</strong> lugar. Em Kaci e Manx. Na precária<br />

posição de meu pai no Conselho. Se ele a perdesse, perderia a capacidade de<br />

proteger a todos nós. Então, eu me enchi de coragem e segui em frente.<br />

— Você está curtindo a vida, Brett? Valorizando cada respiração<br />

verdadeiramente? Porque se <strong>não</strong> fosse por mim, você estaria apodrecendo no chão<br />

agora.<br />

— Eu sei, mas...<br />

— Você me deve. Você disse: permita-me dever a você, Faythe? Então eu vou<br />

lhe permitir isso.<br />

Sua respiração parecia carregar o peso do mundo todo.<br />

— E eu já lhe paguei.<br />

— Sim e esse pedaço de informação <strong>não</strong> serviu para nada. — quando ele<br />

acordou do ataque que quase o matara, Brett tinha me avisado que seu pai iria<br />

tentar assumir a presidência do Conselho. — Seu pai agiu deslealmente e desafiou<br />

o meu antes que eu tivesse uma oportunidade de avisá-lo.<br />

— Eu <strong>não</strong> tenho nada a ver com isso.<br />

— Eu sei. — afundei em minha cadeira e peguei uma caneta com uma pena<br />

roxa emaranhada na ponta. — Ok, esqueça o favor. Eu pergunto como uma<br />

amiga. Nós precisamos disso, Brett. Você sabe o que está acontecendo com os<br />

Thunderbirds, certo?<br />

— Thunderbirds? O que você está...?<br />

— Economize suas palavras. — eu deixei a caneta cair na mesa. — Não me<br />

insulte com mentiras. Você <strong>é</strong> melhor do que isso. Você <strong>é</strong> melhor do que Calvin.<br />

A exalação seguinte de Brett foi irregular e galhos rangiam sob suas botas.<br />

Ele estava andando. Esperançosamente movendo-se para mais longe da casa. —<br />

Eu só tenho um minuto, o que você quer?<br />

— A verdade. Seu pai fez isso? Jogou os pássaros sobre nós?<br />

— Faythe, eu <strong>não</strong> posso... Ele me mataria.<br />

— Jake Taylor está morto, Brett. E Charlie Eames provavelmente nunca<br />

mais voltará a andar, se ele sobreviver. — Eu <strong>não</strong> deveria ter revelado nossas<br />

baixas a nosso inimigo, estava na primeira página do manual “<strong>não</strong> foda com seu<br />

Pride”. Mas você <strong>não</strong> tem lucros se <strong>não</strong> correr riscos e eu acredito em Brett.<br />

Claro, eu tinha acreditado em Dan Painter tamb<strong>é</strong>m, mas sua atuação como<br />

um agente duplo quase tinha me matado. Mas Brett <strong>não</strong> falharia conosco. Ele<br />

tinha que...<br />

— Sinto muito. Eu...<br />

— Desculpas <strong>não</strong> são boas o suficiente, Brett. Eles quase chegaram a Kaci.<br />

Você sabe o que seu pai vai fazer se colocar suas garras nela.<br />

— Ele nunca iria machucá-la.<br />

59


— Não, ele só a transformaria na puta de um de seus irmãos no dia que fizer<br />

dezoito anos. Antes, se ele conseguir passar por cima desta regra como se fosse<br />

pelo bem das esp<strong>é</strong>cies. Você vai deixá-lo fazer isso? Você vai permitir que ele a<br />

venda em casamento, para que ele possa colocar suas mãos pegajosas em nosso<br />

território? Ou no território de Di Carlo? — porque Umberto Di Carlo <strong>não</strong> tinha<br />

herdeiros, graças ao assassinato de sua filha e, quando se aposentasse, ou fosse<br />

forçado a se aposentar, algu<strong>é</strong>m teria que tomar o comando de seu território.<br />

E em nosso mundo, aquele que tem as Tabbies, tem o poder.<br />

— É isso que você quer para Kaci? — perguntei quando Brett <strong>não</strong><br />

respondeu. — Porra, <strong>é</strong> isso que você quer para Mel? — Melody Malone tinha<br />

apenas quatorze anos e já estava sendo cortejada por vários Toms escolhidos a<br />

dedo por seu pai. Por todos os ajustes, ela comprou sua propaganda e acreditou<br />

que sua decisão tinha o poder de levantar ou quebrar seu Pride. Ela tomou a<br />

responsabilidade muito a s<strong>é</strong>rio e faria qualquer coisa para agradar seu pai.<br />

Pobre criança manipulada.<br />

— Claro que <strong>não</strong>. — disse Brett afinal e sua próxima pausa foi longa. — Mas<br />

se eu fizer isso, eu <strong>não</strong> poderei ficar aqui — se seu pai descobrisse que ele tinha<br />

traído seu Pride, Malone tiraria suas garras e seus caninos e lançá-lo-ia na jaula<br />

tão rápido que ele ainda estaria cambaleando devido ao <strong>primeiro</strong> golpe. E ele<br />

nunca sairia. Eu <strong>não</strong> tinha nenhuma dúvida disso.<br />

Meus dedos se enroscaram no grosso tapete, como se eles sozinhos me<br />

fixassem no chão. Ele estava dizendo o que eu acreditava que estava dizendo?<br />

— O que eu posso fazer?<br />

— Eu preciso de asilo. Se seu pai me der sua palavra, eu juro que lhe vou<br />

dizer tudo o que eu sei.<br />

Eu suspirei de alívio e realmente senti o início de um sorriso vindo. Era<br />

disso que Blackwell precisava. Com a prova, ele teria que retirar sua lealdade a<br />

Malone e começar a processá-lo. O pêndulo do poder mover-se-ia de volta para<br />

meu pai. Ou, pelo menos, para longe de Malone.<br />

— Deixe-me ver o que posso fazer.<br />

— Depressa...<br />

Eu abri a porta de meu quarto e com empurrões abri caminho atrav<strong>é</strong>s da<br />

multidão para o quarto de Owen, os azulejos estavam frios contra meus p<strong>é</strong>s<br />

descalços. Dr. Carver estava sentado na cadeira ao lado da cama de Charlie<br />

Eames, extraindo um líquido claro em uma seringa de um pequeno frasco virado.<br />

Olhei rapidamente para Charlie e percebi que sua pele estava mais pálida do<br />

que eu jamais tinha visto. E seu estômago parecia... inchado. Mas, então, meus<br />

olhos se encontraram com os de meu pai e acenei para que me seguisse. Dr.<br />

Carver olhou apenas brevemente, mas ambos Marc e Jace nos seguiram para o<br />

corredor.<br />

Uma vez que tínhamos escapado da multidão, peguei o telefone de Jace,<br />

bloqueando o som, em direção à sala já que Blackwell ainda ocupava o escritório.<br />

Se Brett <strong>não</strong> falhasse conosco como eu esperava que ele fizesse, nós<br />

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poderíamos permitir que ele falasse diretamente com o velho homem, que então<br />

<strong>não</strong> teria outra opção se<strong>não</strong> acreditar na participação de Malone.<br />

— Tenho Brett Malone na linha e ele está disposto a nos dizer o que sabe,<br />

em troca de asilo.<br />

<strong>As</strong> sobrancelhas de Marc se levantaram; ele estava obviamente<br />

impressionado. Jace sorriu abertamente: — Quisera ter pensado nisso. — mas<br />

mesmo que ele tivesse feito isso, meio-irmão ou <strong>não</strong>, Brett provavelmente <strong>não</strong> teria<br />

conversado com Jace. Não era como falar comigo. Eu tinha salvado sua vida.<br />

Al<strong>é</strong>m disso, eu era uma garota e, gostando ou <strong>não</strong>, a maior parte dos Toms<br />

<strong>não</strong> era ameaçada por mim. Pelo menos, <strong>não</strong> at<strong>é</strong> que eu tivesse razões para provar<br />

que deveriam.<br />

Meu pai franziu a testa e afundou-se cansado em uma cadeira localizada em<br />

frente à janela panorâmica.<br />

— O que a faz pensar que deveríamos confiar nele?<br />

Eu sentei no braço do sofá estofado e encarei meu pai.<br />

— Ele nos disse que seu pai ia desafiá-lo. Ele falou a verdade.<br />

— Exatamente. — ele cruzou suas mãos sob o queixo, um sinal claro de que<br />

estava considerando minha proposta, mesmo que ele soasse c<strong>é</strong>tico. — Isso o faz<br />

parecer leal e grato, mas a informação chegou tarde demais para ser de alguma<br />

utilidade. Parece para mim que ele tem estudado a cartilha de seu pai.<br />

— Ele <strong>não</strong> sabia que Cal iria se mover tão rápido. — Jace insistiu, sentado à<br />

beira de outra cadeira colocada perto da janela.<br />

Meu pai pensava e eu mordi o lábio para <strong>não</strong> apressá-lo.<br />

— O que ele sabe?<br />

Eu só podia dar de ombros, ainda segurando o telefone com a mão cobrindo<br />

o bocal. — Ele está esperando por sua palavra que você dará asilo a ele.<br />

— Então, como você sabe que ele sabe alguma coisa?<br />

Jace franziu a testa.<br />

— Se Calvin está envolvido, Brett sabe.<br />

Marc assentiu solenemente.<br />

— E, provavelmente, está arriscando muito, apenas por falar com Faythe.<br />

— Sim. E ele <strong>não</strong> tem muito tempo — Muito nervosa para me sentar,<br />

levantei-me, observando ansiosamente meu pai. Minha frequência cardíaca<br />

marcava cada segundo de interminável silêncio. Então, finalmente, ele abriu os<br />

olhos e estendeu a mão: — Dê-me o telefone.<br />

Eu entreguei o telefone de Jace e meu pai levou-o ao ouvido, em seguida,<br />

levantou-se e começou a andar enquanto falava: — Brett? Minha filha me disse<br />

que você tem informações sobre o envolvimento de seu pai com um bando de<br />

Thunderbirds? Você está disposto a me dar essa informação?<br />

— Estou... Em troca de asilo. — A voz de Brett realmente tremeu e eu peguei<br />

a mão de Marc que ainda estava de p<strong>é</strong>, segurando-a para lhe oferecer o conforto<br />

61


que eu <strong>não</strong> poderia oferecer a Brett. — Eu <strong>não</strong> posso ficar aqui depois disso,<br />

senhor Sanders.<br />

— Eu tenho algo melhor que isso. Se você puder trazer provas do<br />

envolvimento de seu Alfa, você terá um trabalho aqui como <strong>guardião</strong>.<br />

Brett expirou e eu podia ouvir seu alívio e ansiedade simultâneos, tudo em<br />

um suspiro.<br />

— Você está falando s<strong>é</strong>rio? Senhor?<br />

— Completamente. — meu pai sorriu, divertindo-se com as dúvidas<br />

nervosas do jovem Tom. — Qualquer pessoa disposta a se levantar contra seu<br />

próprio pai em nome da justiça ficará conosco.<br />

— Obrigado, senhor. Eu concordo.<br />

Meu sorriso foi tão grande que ameaçou dividir meu rosto.<br />

— Eu estou no meio de um projeto, então eu vou deixar você dar os detalhes<br />

a Faythe. Então eu quero que você pegue as provas e venha direto para cá. E tome<br />

cuidado. Isso <strong>é</strong> uma ordem.<br />

— Sim, senhor.<br />

Meu pai estava quase sorrindo de verdade quando me entregou o telefone,<br />

mas sua carranca preocupada estava de volta quando ele virou-se para o corredor.<br />

Ele estava preocupado com Charlie. E provavelmente com o resto de nós.<br />

— Tome nota. — ordenou e então desapareceu no corredor.<br />

Eu me sentei no sofá, abrindo a gaveta mais próxima à procura de uma<br />

caneta e um caderno. Felizmente, minha mãe mantinha isso em todos os lugares.<br />

— Obrigado, Faythe. — Brett sussurrou em meu ouvido e eu tive que piscar<br />

as lágrimas, a fim de falar claramente.<br />

— Você pode agradecer a meu pai, quando você chegar aqui. Por agora,<br />

basta dizer-nos o que você sabe.<br />

Marc sentou no sofá a meu lado e Jace inclinou-se em sua cadeira, ouvindo<br />

atentamente quando seu irmão começou a falar.<br />

— Dois dias atrás, um dos rapazes atirou em um veado e depois foi tocar o<br />

sino para o jantar. Antes que estivesse a cinquenta metros de distância, um<br />

enorme pássaro voou na caça que ele tinha matado. Nosso homem matou o<br />

Thunderbird em uma disputa pela caça. Quando eu relatei a meu pai, ele ficou<br />

louco. Ele disse que a última coisa que precisávamos era chatear os Thunderbirds.<br />

Demorou um ou dois dias at<strong>é</strong> ele chegar lá...<br />

Olhei para Marc para ver se ele pegara isso e ele assentiu. Quão longe os<br />

Thunderbirds estavam, se seu Alfa levou um dia inteiro para alcançá-los? Claro<br />

que, se eles estivessem esperando nosso ataque, patrulhas nas fronteiras faziam<br />

sentido, mas o território Apalache <strong>não</strong> era tão grande.<br />

— E no momento em que chegou, estava quase... excitado. — e tudo o que<br />

excitava Malone seriam más notícias para nós. — Ele <strong>não</strong> queria queimar o corpo.<br />

Disse que eles viriam procurar seu pássaro perdido, por isso teríamos que sentar e<br />

esperar.<br />

62


— Como soube que eles viriam procurar o pássaro? — perguntou Marc.<br />

Brett começou a responder, mas Jace se adiantou: — Quando eu era<br />

criança, havia um bando que migrava atrav<strong>é</strong>s de nosso território todo ano. Cal<br />

alegava que ele havia conversado com um deles uma vez, mas nunca acreditei<br />

nele. Eu acho que ele estava dizendo a verdade daquela vez.<br />

— Sim. — disse Brett da linha. — Então, nós esperamos. Seis horas depois,<br />

eles apareceram. Três deles. Eu <strong>não</strong> tenho nenhuma ideia de como eles nos<br />

encontraram. Eles <strong>não</strong> podem sentir o cheiro de uma merda com aqueles bicos.<br />

— Mas eles podem ver a quilômetros lá de cima. — Marc passou a mão para<br />

cima e para baixo de minhas costas. — Pelo menos os pássaros naturais podem.<br />

— Eu sempre odiei essa frase. — disse Jace. — Faz com que nossas<br />

mudanças pareçam anormais.<br />

— Enfim... — Brett ignorou os dois. — Eles aterrissaram e foi totalmente<br />

bizarro. Eles mudaram no meio do movimento, os p<strong>é</strong>s em <strong>primeiro</strong> lugar, tão<br />

rápido que parecia um filme de efeitos especiais.<br />

<strong>As</strong>senti, embora ele <strong>não</strong> pudesse me ver: — Eu sei. Vimos o show.<br />

— Oh. Sim. — Brett limpou a garganta e continuou: — De qualquer forma,<br />

eles aterrissaram e viram seu garoto morto, rodeado por uns cinco de nós. Três em<br />

forma de gato. Eles começaram a ficar selvagens. Mas antes que pudessem atacar,<br />

meu pai disse que sabia quem havia matado seu homem e queria fazer um acordo.<br />

— Então, ele fez uma armadilha para nós. — eu imaginei, fechando meus<br />

olhos em frustração.<br />

— Sim. Disse-lhes que só poderia ter sido um gato de seu Pride, porque o de<br />

vocês era o território mais próximo.<br />

Marc rosnou.<br />

— Onde diabos vocês estavam?<br />

Brett respirou pesadamente.<br />

— A quatro milhas de sua fronteira oeste na zona livre. Tenho certeza que<br />

você sabe por quê.<br />

Sim. Parecia que eles estavam tão preparados para invadir-nos quanto nós<br />

estávamos preparados para invadi-los. O suficiente para Malone prometer a<br />

Blackwell que <strong>não</strong> iniciaria a Guerra.<br />

Mas então algo ainda mais estarrecedor me ocorreu. Tinham colocado cinco<br />

Toms em nossa fronteira oeste, na direção contrária que esperaríamos que eles<br />

viessem, porque Malone tinha sua sede a nosso leste, em Kentucky. Mas cinco <strong>não</strong><br />

eram suficientes para um ataque de larga escala. O que obviamente <strong>não</strong> era o que<br />

eles estavam planejando.<br />

Eles estavam esperando que nós começássemos a Guerra. Esperando que<br />

levássemos a maioria de nossos homens para o nordeste, para o território<br />

Apalache, deixando Manx, Kaci e minha mãe indefesas. Então esses cinco Toms<br />

entrariam às escondidas por trás e pegariam nossos bens mais valiosos. Os<br />

membros mais apreciados e vulneráveis.<br />

63


A raiva subiu a minha volta como fogo em brasa, mas eu me forcei a me<br />

controlar. Seus planos mudaram claramente e eu precisava me concentrar.<br />

— Então, os Thunderbirds prometeram a seu pai que tirariam as Tabbies e<br />

depois cortariam todos nós em pedaços, um por um?<br />

— Essa era a proposta. — Brett parecia miserável.<br />

— Você tem provas? — perguntou Marc.<br />

— Meu testemunho e penas do pássaro morto manchadas com o sangue de<br />

quem o matou. Meu pai disse-nos para limpar a bagunça e eu fiquei com algumas<br />

penas. Tinha a sensação de que isso iria morro abaixo. Mas <strong>não</strong> estou certo de<br />

quão bem fará. Estes pássaros <strong>não</strong> conseguem distinguir o cheiro de um gato do<br />

outro.<br />

— Pelo menos ajuda com o Conselho. — disse Jace, dizendo meus<br />

pensamentos em voz alta. — Mas temos de encontrar outra maneira de provar isso<br />

para os pássaros.<br />

— Isso se nós pudermos encontrá-los. — eu fiz uma careta, subitamente<br />

esmagada pela nova carga, quando nós podíamos proporcionar o mínimo. Kaci<br />

teria que falar, isso era tudo o que havia no momento.<br />

— Tenho que ir. Eles provavelmente já perceberam minha falta. — disse<br />

Brett, os galhos se esmagando sob seus p<strong>é</strong>s, enquanto ele fazia o caminho de volta<br />

para a casa da floresta.<br />

— Espere, Paul Blackwell está aqui. Você tem que dizer a ele o que você nos<br />

contou.<br />

— Eu <strong>não</strong> tenho tempo agora, mas falarei com ele quando chegar aí. Mas há<br />

mais uma coisa. Sabe o nosso Tom? O que matou o Thunderbird?<br />

— Sim? — levantei-me, ansiosa para contar a meu pai.<br />

— Foi Lance Pierce.<br />

Irmão do Parker.<br />

Oh merda...<br />

64


Capítulo 8<br />

— Filho da puta! — Jace acertou o braço do sofá e eu pulei, o telefone<br />

ricocheteou em minha mão aberta. — Para limpar nossos nomes, temos que trair o<br />

irmãozinho do Parker. Como deixá-lo entre a cruz e a espada?<br />

— Nós <strong>não</strong> podemos voltar atrás... — comecei, mas minhas palavras caíram<br />

no silêncio quando passos e suaves soluços soaram no corredor. Cheguei à porta<br />

justamente quando Kaci se jogou em meus braços. — O quê aconteceu? — mas,<br />

realmente, era incrível o número absoluto de maneira que ela poderia ter<br />

respondido a essa pergunta.<br />

— Ele morreu. Charlie está morto.<br />

— Oh, <strong>não</strong>... — envolvi-a em meus braços enquanto meu pai saía da<br />

sombria multidão de Toms ainda reunidos ao redor do quarto de Owen, agora<br />

olhando fixamente para seus p<strong>é</strong>s, como se tivessem medo de que o contato visual<br />

fosse provocar lágrimas.<br />

Kaci chorava livremente. Ela só conheceu Charlie Eames naquela manhã,<br />

mas na idade dela, com toda a trag<strong>é</strong>dia que já havia testemunhado, qualquer<br />

morte teria sido traumática. <strong>As</strong>sassinato, ainda mais.<br />

O olhar de meu pai estava pesado quando o Dr. Carver seguiu para o<br />

corredor, ambos vindo em nossa direção.<br />

— O que aconteceu? — perguntei, puxando Kaci para a sala comigo, para<br />

que eles pudessem entrar.<br />

— Uma hemorragia interna. — o Dr. Carver pôs a mão no ombro de Kaci<br />

brevemente, em seguida, afundou exausto no sofá ao lado de Marc.<br />

— Cometemos um erro ao removê-lo do lugar? — eu tive que perguntar. Não<br />

que a resposta fosse mudar alguma coisa.<br />

— Provavelmente. — o Dr. Carver retorceu-se em sua almofada para me<br />

olhar. — Mas <strong>não</strong> tínhamos outra opção e a verdade <strong>é</strong> que com a gravidade dos<br />

ferimentos em todo seu corpo, suas opções nunca foram muito boas em <strong>primeiro</strong><br />

lugar.<br />

Kaci gemeu em meus braços e apertei-a com mais força. O contato físico era<br />

o único consolo que eu podia lhe oferecer.<br />

Meu pai sentou-se rigidamente perto da janela da frente, onde a luz do sol<br />

vermelho do final da tarde inclinava-se sobre sua camisa social branca, parecendo<br />

linhas de sangue translúcidas. Ele inclinou-se com os cotovelos sobre os joelhos,<br />

olhando para seus sapatos brilhantes. Ele tinha tirado o paletó (a casa estava<br />

quente com todos os corpos extras correndo em acelerado metabolismo pela<br />

mudança), mas sua camisa ainda estava abotoada at<strong>é</strong> o pescoço e a gravata<br />

listrada cinza ainda permanecia perfeitamente abotoada.<br />

65


Dei uma olhada para o corredor, onde os Toms agora caminhavam para a<br />

cozinha, depois olhei para Kaci com indecisão. Então suspirei e fechei a porta,<br />

fazendo um gesto para que ela se sentasse ao lado de Jace. Mantê-la no escuro<br />

<strong>não</strong> a confortaria ou a tranquilizaria, mas estar com os que ela mais confiava<br />

poderia fazer isso.<br />

Ela aconchegou-se no colo de Jace, descansando a cabeça no ombro dele e<br />

ele passou os braços em volta dela, confortando-a como se fosse sua irmã mais<br />

nova. De qualquer forma, ele e Kaci eram mais próximos do que ele e Melody<br />

jamais tinha sido.<br />

A sala de estar <strong>não</strong> era à prova de som e quem realmente quisesse ouvir o<br />

que seria dito, teria poucos problemas. Mas em uma casa cheia de <strong>Werecat</strong>s, uma<br />

porta fechada era um pedido formal de privacidade e podíamos contar com nossas<br />

atuais companhias para honrá-lo. Incluindo Blackwell, se ele saísse do escritório<br />

antes que terminássemos a conversa. Ele e meu pai podiam <strong>não</strong> concordar em<br />

tudo, mas Blackwell nunca faria algo intencionalmente que ele considerasse<br />

desonroso.<br />

Meu pai olhou para cima quando eu fechei a porta.<br />

— Há dois Toms assassinados, uma tentativa de sequestro e um ferido, tudo<br />

em menos de três horas. — a voz do Alfa era grave, com um forte tom de ira e<br />

frustração amarga. Sua expressão era tensa por baixo da tensão do que ele <strong>não</strong><br />

dizia: que <strong>não</strong> podíamos permitir a morte de dois aliados Toms menos de duas<br />

semanas depois de termos perdido Ethan. Não que houvesse um momento<br />

conveniente para tanta morte.<br />

— Sim, mas ambos saíram sozinhos, <strong>não</strong> <strong>é</strong> verdade? — o Dr. Carver olhou<br />

ao redor para confirmar. — Agora sabemos como evitar.<br />

Os olhos de meu pai brilharam com fúria.<br />

— Não deveríamos ter que fazer isso! Este <strong>é</strong> nosso território. Minha<br />

propriedade. Não nos encolheremos de medo em nossa própria casa, enquanto<br />

justiceiros nos destroem um por um.<br />

— Nós <strong>não</strong> podemos lutar contra eles. — disse Marc enquanto eu me<br />

afundava no sofá entre ele e o m<strong>é</strong>dico. — Não em seus termos.<br />

— Eu sei. — meu pai olhou para mim, sem dúvida esperando boas notícias.<br />

— O que Brett disse?<br />

— Que tem penas encharcadas de sangue, o que prova que nós <strong>não</strong><br />

matamos Finn. Infelizmente, enquanto as aves têm uma visão excelente, eles têm<br />

muito pouco do olfato e temos quase certeza de que eles <strong>não</strong> conseguem<br />

diferenciar entre dois aromas de Toms. <strong>As</strong> penas, na melhor das hipóteses,<br />

convencerão o Conselho de que Malone está mexendo os pauzinhos com os<br />

pássaros, mas <strong>não</strong> nos ajudarão muito com os Thunderbirds. Mesmo se<br />

encontrarmos uma maneira de contatar com seu… ninho.<br />

— Maravilhoso. — a carranca de meu pai aprofundou-se.<br />

— Pode ficar pior. — Marc começou, mas Jace interrompeu, gentilmente<br />

acariciando o cabelo castanho comprido de Kaci em suas costas, acariciando-a<br />

como um gatinho.<br />

66


— O sangue das penas pertence a Lance Pierce. Ele matou Finn em uma<br />

disputa pela caça fresca.<br />

Marc fulminou Jace com o olhar e eu franzi minha testa. Ele estava<br />

tentando superar Marc? Na frente de nosso Alfa?<br />

Felizmente, meu pai estava muito distraído pela nova informação e lançoulhes<br />

apenas um breve olhar.<br />

— Bem, isso <strong>é</strong> maravilhoso. — ele levantou-se e caminhou pelo corredor,<br />

depois parou e olhou em volta como se surpreendido ao ver que se encontrava na<br />

sala de estar e <strong>não</strong> no escritório. — Isso coloca em apuros Jerold Pierce, certo?<br />

Sem falar de nós.<br />

— Por quê? — Kaci levantou a cabeça do ombro do Jace.<br />

— Porque agora o Alfa Pierce terá que escolher entre dois de seus filhos. —<br />

explicou Marc.<br />

Lance Pierce estava morando com Malone o mesmo tempo que Parker estava<br />

conosco e seu pai era o único Alfa norte-americano que ainda <strong>não</strong> tinha<br />

oficialmente escolhido um lado no debate presidencial do Conselho.<br />

Kaci ainda parecia confusa, então lhe dei mais detalhes: — Sabemos que<br />

Malone levou os Thunderbirds at<strong>é</strong> nós para nos enfraquecer antes de podermos<br />

atacar, mas <strong>é</strong> provável que o pai de Parker veja Malone como um herói por salvar<br />

a vida de Lance. — dei de ombros miseravelmente. — E se trairmos Lance para<br />

fazer com que os pássaros fiquem fora de nossas costas, seu pai <strong>não</strong> ficará muito<br />

feliz conosco. — o eufemismo do s<strong>é</strong>culo. — Ou mais propenso a apoiar meu pai<br />

como presidente do Conselho.<br />

Meu pai precisava de Jerold Pierce a seu lado só para fazer números,<br />

inclusive com Malone. Então, se Blackwell retirasse seu apoio a Malone em<br />

resposta às evidências de Brett, estaríamos a um voto acima de Malone.<br />

Eu confiava relativamente que Blackwell faria o correto uma vez que falasse<br />

com Brett Malone. Infelizmente, eu tinha certeza de que se entregássemos Lance<br />

aos Thunderbirds, mesmo que apenas seu nome, poderíamos dizer adeus ao apoio<br />

de Pierce. Mesmo com Parker ainda trabalhando para meu pai. Supondo que ele<br />

quisesse ficar aqui depois disso.<br />

— Pobre Parker. — Kaci olhou de um para outro com enormes olhos<br />

castanhos. — Nada disso <strong>é</strong> sua culpa e ele será pego no meio.<br />

<strong>As</strong>senti com a cabeça, impressionada de novo por sua perspicácia.<br />

— <strong>Ser</strong>á que ele sabe? — meu pai inclinou-se para um lado sobre o<br />

comprimento do centro de entretenimento.<br />

— Não, a menos que ele esteja ouvindo atrás da porta. — Marc disse. E <strong>não</strong><br />

estava. Parker nunca bisbilhotaria sem o convite das portas abertas.<br />

— Faythe, traga-o aqui. — levantei-me e meu pai virou-se para Kaci. — E<br />

por que você <strong>não</strong> vai ver se Manx precisa de alguma ajuda com o bebê? Ela e<br />

Karen estão com suas mãos bastante ocupadas no momento. — porque minha<br />

mãe estava cozinhando para vinte pessoas. Não, na verdade dezoito, uma vez que<br />

perdemos dois homens. E Manx estava cuidando de Owen muito de perto.<br />

67


Kaci parecia desapontada, mas ela saiu do colo de Jace. Ela tinha sido<br />

autorizada a ficar em uma reunião a portas fechadas e sabia que <strong>não</strong> devia tentar<br />

brincar com sua sorte. A maior parte do tempo.<br />

Ela saiu emburrada em direção ao quarto de Manx e eu cruzei o corredor at<strong>é</strong><br />

a cozinha, onde quatro Toms estavam sentados à mesa do caf<strong>é</strong> com um baralho de<br />

cartas, uma enorme vasilha de molho e vários sacos abertos de salgadinhos de<br />

milho. Outro grupo estava sentado na sala de jantar comendo asinhas picantes e<br />

sem cartas, mas a atmosfera em ambos os lugares era idêntica.<br />

Os Toms tinham chegado ao rancho, prontos para lutar, mas em vez disso<br />

tinham sido expostos. Eles foram confinados à casa principal, exilados do<br />

escritório e da sala de estar. Eles estavam inquietos, irritados e com os nervos a<br />

flor da pele pela tensão de seus Alfas. O clima predominante era sombrio e<br />

silenciosamente raivoso. Como água quente a ponto de entrar em ebulição.<br />

— Ei, Parker, você pode vir aqui um momento?<br />

Parker olhou para cima e passou a mão pelo cabelo prematuramente<br />

grisalho, em seguida colocou suas cartas viradas para baixo e seguiu-me. Minha<br />

mãe levantou as sobrancelhas quando passamos, mas ela nunca deixou de agitar<br />

uma grande vasilha cheia de carne, feijão e tomate, os primórdios do melhor chili<br />

do mundo.<br />

Eu balancei a cabeça para a sala e ela assentiu, então chamou Vic para ficar<br />

em seu lugar. Mas antes de sairmos da cozinha, Paul Blackwell saiu do escritório<br />

e dirigiu-se para a sala, deixando-nos para segui-lo.<br />

— Obrigado por me deixar usar seu escritório. — o velho Alfa disse enquanto<br />

eu ocupava um lugar contra uma parede perto da porta. Parker estava por perto e<br />

minha mãe sentou-se em uma poltrona, mas ningu<strong>é</strong>m havia mudado de lugar.<br />

Blackwell se inclinou sobre a bengala a poucos metros a minha frente, ficando na<br />

frente do restante da sala. — Falei com os outros Alfas e nenhum deles admitiu ter<br />

qualquer contato com os Thunderbirds na última d<strong>é</strong>cada. De fato, todos pareciam<br />

bastante impressionados. Incluindo Calvin Malone.<br />

— Você acredita nele? — perguntei e no começo eu pensei que ele <strong>não</strong> ia<br />

responder. Mas quando meu pai <strong>não</strong> se opôs a minha pergunta, Blackwell virou-se<br />

para mim, usando sua bengala mais do que já usara. Talvez tivesse ficado rígido<br />

na cadeira do escritório de meu pai. Ou talvez o estresse estivesse afetando o<br />

pobre velho fisicamente.<br />

— Pretendo me abster de julgar at<strong>é</strong> que eu tenha escutado todos os fatos e<br />

visto todas as provas disponíveis. — sua voz estava firme, mas a dúvida mostrouse<br />

em cada linha de seu rosto. E havia muitas para escolher.<br />

— Bom, poderíamos ser capazes de ajudá-lo. — olhei para meu pai pedindo<br />

permissão para continuar, mas ele negou com a cabeça e levantou-se.<br />

— Vamos falar disso no escritório.<br />

Saímos em fila da sala para o escritório, depois nos sentamos em nossas<br />

formações habituais, centrados em meu pai em sua cadeira de respaldo alto.<br />

Quando todo mundo se acomodou e o Dr. Carver fechou a porta, o olhar de meu<br />

pai me encontrou.<br />

68


— Faythe, vá em frente.<br />

Está certo: minha fonte, minha ideia, minha festa. Não pude evitar um<br />

pequeno calafrio de adrenalina pelo conhecimento de que eu tinha feito uma<br />

contribuição vital para o Tom.<br />

Sentei no sofá, entre Marc e Jace, com extremo desconforto, e confrontei<br />

Blackwell na cadeira que ele tinha reivindicado na frente de meu Alfa: — Acabei de<br />

falar com Brett Malone, que diz ter provas de que seu pai deu a volta no Pride do<br />

Centro Sul pelo assassinato do Thunderbird Finn.<br />

Blackwell levou um momento para processar a informação e, em sua honra,<br />

eu <strong>não</strong> tinha ideia do que ele estava pensando ou sentindo. Ele tinha tido mais de<br />

sete d<strong>é</strong>cadas para trabalhar seu rosto indiferente.<br />

Por fim, o velho Alfa agarrou sua bengala e fixou seu olhar<br />

surpreendentemente forte em mim.<br />

— Provas de que tipo?<br />

— Seu próprio testemunho e penas do pássaro morto, manchadas com o<br />

sangue de seu assassino.<br />

— E quem <strong>é</strong> esse assassino?<br />

Eu queria desesperadamente a orientação de meu pai antes de responder<br />

essa pergunta, mas <strong>não</strong> poderia ter êxito sem um olhar óbvio na direção oposta.<br />

Então eu dei uma resposta tão conservadora quanto eu podia: — Um dos<br />

guardiões do território dos Apalaches.<br />

Blackwell fez uma careta por eu ter sido evasiva, mas <strong>não</strong> insistiu no<br />

assunto.<br />

— O jovem Malone deu voluntariamente esta informação?<br />

— Não. — eu me senti desconfortável em meu lugar e tive que me lembrar de<br />

que <strong>não</strong> tinha feito nada de errado; eu geralmente <strong>não</strong> estava sob tal escrutínio de<br />

um Alfa com exceção de meu pai, a menos que eu estivesse em s<strong>é</strong>rios apuros. —<br />

Liguei para ele em busca de informações. Para sua investigação.<br />

— E o que ele pediu em troca? — Blackwell podia ser velho, mas <strong>não</strong> era<br />

nenhum tolo.<br />

— <strong>As</strong>ilo. — eu <strong>não</strong> sentia nenhuma obrigação de divulgar a oferta de<br />

trabalho de meu pai, porque tecnicamente Brett <strong>não</strong> tinha pedido, por isso estava<br />

al<strong>é</strong>m do alcance de sua pergunta.<br />

Blackwell ficou em silêncio outra vez e aventurei-me a olhar para meu pai.<br />

Ele deu um pequeno aceno de cabeça e eu suspirei em silêncio, depois voltei<br />

minha atenção para o velho Alfa quando ele começou a falar: — Quando terá esta<br />

prova?<br />

— Brett já deve ter ido embora. Então... amanhã, na melhor das hipóteses.<br />

— eu <strong>não</strong> tinha certeza se ele viajaria de avião para economizar tempo, ou viria<br />

dirigindo para permanecer na posse de seu carro.<br />

Blackwell levantou-se, apoiando-se fortemente em sua bengala.<br />

— Infelizmente, <strong>não</strong> posso esperar tanto tempo. Apresente as provas ao Alfa<br />

69


Di Carlo, quando ele chegar. Eu estarei esperando pelo relatório.<br />

Meu pai levantou-se.<br />

— Você está indo agora?<br />

— Eu acho que <strong>é</strong> melhor. Eu vou estar pronto em meia hora. — o velho Tom<br />

acenou com a cabeça para seu neto, que veio para seu lado como um cão treinado.<br />

— Enviarei uma escolta com você ao aeroporto.<br />

Blackwell hesitou. Normalmente tais precauções <strong>não</strong> teriam sido<br />

necessárias. Mas se o Presidente do Conselho fosse ferido enquanto deixasse<br />

nosso território, alguns dos outros Alfas poderiam considerar isso como um reflexo<br />

de nossa segurança. Ou a falta dela.<br />

Finalmente, o velho Tom balançou a cabeça e meu pai o acompanhou at<strong>é</strong> a<br />

porta do escritório.<br />

— Avise-me quando você estiver pronto para ir.<br />

Minha mãe provou seu chili, depois se juntou novamente a nós no escritório<br />

e fechou a porta. Meu pai suspirou e virou-se para Parker: — Eu odeio ser o<br />

portador de mais uma má notícia, Parker, mas de acordo com Brett Malone, foi<br />

Lance quem matou o Thunderbird.<br />

Por um momento, o alívio era evidente no rosto de Parker. Ningu<strong>é</strong>m tinha<br />

morrido. Ningu<strong>é</strong>m conectado a ele, de qualquer maneira. Depois as ramificações<br />

entraram em sua cabeça e o alívio se derreteu lentamente de suas feições. Ele<br />

piscou e eu quase podia ouvir as engrenagens girando em sua cabeça.<br />

— Então Malone o estava protegendo ao nos culpar?<br />

Meu pai balançou a cabeça e Jace inclinou-se com os cotovelos sobre os<br />

joelhos, a raiva queimando por trás de seus olhos azuis brilhantes.<br />

— Sim, mas eu posso garantir que a segurança de seu irmão <strong>não</strong> era o mais<br />

importante na mente de Calvin. Ele estava salvando seu próprio rabo e<br />

emoldurando os nossos.<br />

— Nós temos escolha e eu gostaria de ter seu apoio antes de tomar uma<br />

decisão. — disse meu pai. — Uma vez que entrarmos em contato com eles, nós<br />

podemos dizer a verdade ao bando do Kai e tentar limpar nossos nomes, mas<br />

neste caso, estaríamos envolvendo seu irmão. Ou podemos manter silêncio sobre o<br />

assunto e neste caso devemos encontrar uma maneira de combater esses<br />

Thunderbirds ou convencê-los a parar de lutar contra nós.<br />

Parker olhou fixamente para o chão, fios retos de cabelo mesclando tons<br />

claros e escuros pairavam sobre seu rosto: — Está pedindo que eu decida entre o<br />

sim e o <strong>não</strong> sobre dar as costas a meu irmão pelos Thunderbirds?<br />

— Não. — meu pai balançou a cabeça com firmeza. — Esse <strong>é</strong> meu dever.<br />

Mas estou interessado em sua opinião.<br />

Parker levantou-se então, seu rosto enrugado de dor e um amargo conflito.<br />

— Ok, se lhe dermos as costas, ele será morto, certo? — ele perguntou e o<br />

resto de nós assentiu com a cabeça. Inclusive minha mãe, que estava sentada com<br />

as pernas cruzadas recatadamente sob sua cadeira, sua expressão tão cautelosa<br />

70


como a de meu pai. — Mas se <strong>não</strong>, continuarão nos matando.<br />

— Sim, mas <strong>é</strong> um pouco mais complicado do que isso. — disse meu pai.<br />

— Devido a meu pai? Perguntou Parker.<br />

Mais uma vez nosso Alfa assentiu com a cabeça: — Estou assumindo que se<br />

entregarmos seu irmão, nossas opções de ganhar o apoio de seu pai cairiam<br />

dramaticamente.<br />

— Você poderia dizer isso. — Parker passou a mão pelos cabelos e nesse<br />

momento ele parecia muito mais velho do que seus trinta e dois anos.<br />

— Poderia haver mais opções que <strong>não</strong> estamos enxergando... — eu me<br />

arrisquei a dizer e ambos se viraram para mim com expectativa. — Talvez<br />

pud<strong>é</strong>ssemos oferecer asilo ao Lance tamb<strong>é</strong>m, em troca de seu testemunho para os<br />

pássaros. — meu pai começou a se opor, mas me precipitei antes que ele pudesse<br />

falar alguma coisa. — Atrav<strong>é</strong>s de vídeos, ou algo assim. Eu <strong>não</strong> sei. Eu <strong>não</strong><br />

trabalhei os detalhes ainda, mas deve haver alguma maneira de corrigir isso sem<br />

entregá-lo para ser sacrificado.<br />

Mas antes que algu<strong>é</strong>m pudesse discutir ou concordar, uma versão eletrônica<br />

do som de um telefone antiquado cortou o ar e eu olhei para baixo para ver que<br />

ainda tinha o telefone de Jace em meu colo. Peguei-o e olhei para a tela,<br />

esperando ver o nome de Brett.<br />

Patrícia Malone. Andei pelo tapete para dar o telefone para Jace.<br />

— É sua mãe.<br />

Jace levantou uma sobrancelha para nosso Alfa, pedindo permissão para<br />

atender a chamada. Meu pai balançou a cabeça e uma sensação de desconforto foi<br />

implantada nas profundezas de meu estômago. Jace atendeu ao telefone: — Alô?<br />

— Jace? — a voz da mãe de Jace era vagamente familiar e eu percebi que<br />

<strong>não</strong> conseguia me lembrar da última vez que tinha visto Patrícia Malone. — Eu<br />

apenas pensei que você gostaria de saber que Brett está morto.<br />

71


Capítulo 9<br />

— O quê? — Jace estava pálido. A testa enrugada e seus olhos azuis<br />

encontraram os meus, meu coração ameaçava entrar em colapso sob a pressão<br />

crescente da culpa.<br />

— Isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> possível. Acabei de falar com ele. — ele se levantou e,<br />

provavelmente teria deixado a sala, se o destino de seu irmão <strong>não</strong> fosse crucial<br />

para todo nosso Pride.<br />

— Não me diga o que <strong>é</strong> possível, eu vi o corpo. — retrucou a mãe dele, sua<br />

angústia alimentando sua ira. Mas, em seguida, suavizou o tom. — Você falou<br />

com Brett hoje?<br />

Jace afundou na poltrona de dois lugares, ele parecia quase vazio<br />

emocionalmente diante de nós.<br />

— Bem, Faythe ligou. Mas eu estava aqui com ela.<br />

Ele olhou para mim e eu só conseguia olhar para ele de novo, segurando a<br />

mão de Marc com a minha boa. A culpa foi minha. Pressionei o Brett para nos<br />

ajudar, e agora ele estava morto.<br />

E nós <strong>não</strong> tínhamos nenhuma prova.<br />

— O que foi dito? — a voz de sua mãe ficou ainda mais baixa. Como se <strong>não</strong><br />

quisesse ser ouvida.<br />

— Nada de mais. Eles estavam apenas conversando. — disse Jace e se<br />

curvou para frente. — O que...? Como isso aconteceu?<br />

A Sra. Malone suspirou, e sua raiva parecia estar se afastado com uma<br />

exalação suave. — Foi um acidente. Ele e Alex lutaram na floresta, apenas<br />

treinando. Brett perdeu o equilíbrio e caiu de uma árvore.<br />

— Caiu de uma árvore? — Jace olhou <strong>primeiro</strong> para mim, depois para nosso<br />

Alfa para ver se algum de nós estava notando a coincidência.<br />

Meu pai, com o cenho franzido dizia que <strong>não</strong> estava e minha própria<br />

expressão refletia seu pensamento. Ele havia dito aos poucos seres humanos em<br />

sua vida que Ethan tinha morrido quando caiu de uma árvore, mas <strong>não</strong> era tão<br />

verossímil a história do Brett como tinha sido a do meu irmão.<br />

A merda da árvore era uma mensagem de Malone para nós. Malone tinha<br />

descoberto o que Brett ia fazer e tinha matado seu próprio filho tanto para nos<br />

ferir quanto para manter seus próprios negócios de fora. E parecia que Alex, o<br />

72


segundo filho de Malone, fez as honras.<br />

Os nós na árvore genealógica do Jace me fizeram olhar para a minha e era<br />

forte a comparação.<br />

— Você <strong>não</strong> pode estar falando s<strong>é</strong>rio. — Jace se recostou na poltrona e ficou<br />

olhando para o teto.<br />

— Querid...<br />

— Mãe, eu realmente <strong>não</strong> acho que Brett caiu de uma árvore. Justamente<br />

hoje dentre todos os outros dias? — ela começou a interromper novamente, mas<br />

Jace foi mais rápido. — Você pode fingir <strong>não</strong> ouvir as coisas, mas você sabe o que<br />

está acontecendo. Eu sei, então você <strong>não</strong> pode acreditar seriamente que Brett<br />

estava perdendo tempo na mata hoje e caiu de uma árvore. O que eles disseram?<br />

Que ele quebrou o pescoço? — seus olhos lacrimejaram e sua voz parou<br />

estrangulada. — Quão perto olhou para seu corpo?<br />

— Querido...<br />

Jace se levantou e andou em direção ao bar, mas <strong>não</strong> fez nenhum<br />

movimento para tomar uma bebida. — Você viu o pescoço dele, mamãe? — ele<br />

perguntou.<br />

Patrícia Malone gritou ao telefone, gritou em um soluço desesperado que me<br />

deixou vazia por dentro, a minha culpa e arrependimento era um mero eco de sua<br />

dor. Então ela chorou mais alguns minutos, e depois de um breve silêncio parecia<br />

estar sobcontrole.<br />

— Eu preciso que você venha para casa. — disse ela em um sussurro.<br />

— Mamã...<br />

— Melody está inconsolável, Jace. Ela <strong>não</strong> está lidando bem com isso e nós<br />

devemos estar lá por ela.<br />

Jace virou-se para o restante de nós, e quebrou meu coração vê-lo assim.<br />

Ele <strong>não</strong> podia voltar; se tinham matado Brett, eles certamente matariam Jace.<br />

Todos nós sabíamos disso e sem dúvida nenhuma sua mãe tamb<strong>é</strong>m sabia, ou <strong>não</strong><br />

estava disposta a admitir nem para si mesma.<br />

— Você tem que estar aqui conosco. — disse ela.<br />

A última gota de autocontrole desabou e Jace revelou a dor selvagem e a<br />

raiva por um momento antes de se voltar para a parede.<br />

— Isso <strong>não</strong> tem sido verdade desde que você se casou com Calvin.<br />

Fiquei olhando para o gesso em meu braço. Ele deveria estar falando a sós,<br />

todos nós estávamos interferindo no que deveria ter sido uma agonia muito<br />

particular. Olhei para meu pai e apontei a cabeça na direção da porta, levantando<br />

uma sobrancelha. Ele balançou a cabeça, então se levantou e disse a todos nós<br />

73


para segui-lo para fora da sala. O que Jace diria a seguir seria pessoal e de<br />

nenhum valor ao nosso Pride. Marc pegou meu braço bom e se dirigiu para a<br />

porta, mas se Jace percebeu que estávamos saindo, <strong>não</strong> demonstrou qualquer<br />

sinal.<br />

— Não faça isso, Jace. — implorou sua mãe. Eu ouvi isso enquanto andava<br />

ao redor da mesa para sair. Mas, a sua voz tinha uma pontada afiada de alerta.<br />

— Eu <strong>não</strong> estou fazendo. — eu nunca tinha ouvido Jace falar com um som<br />

tão alto. Tão irritado. — Calvin está fazendo. Colocou os Thunderbirds atrás de<br />

nós, e matou seu próprio filho, porque Brett estava desertando com provas. Se<br />

você <strong>não</strong> consegue ver a verdade quando ela <strong>é</strong> tão clara, então <strong>não</strong> temos mais<br />

nada a dizer um para o outro.<br />

Eu estava a meio caminho da porta com Marc ao meu lado quando um<br />

barulho de plástico se quebrando ecoou na sala. Virei-me para ver Jace quebrando<br />

os restos de seu celular com a mão; pequenas partes de plástico e componentes<br />

eletrônicos caíram de seus dedos para a madeira dura.<br />

— Você aceitaria Marc Ramos como escolta? — meu pai perguntou, sem<br />

fazer qualquer esforço para diminuir a sua voz. A mão de Marc se apertou ao redor<br />

da minha, debaixo da mesa. Na cozinha, minha mãe congelou a mão na hora em<br />

que colocava o chili nas tigelas, e seu olhar se desviou para a porta. Junto com o<br />

meu.<br />

— Greg... — os passos de meu pai <strong>não</strong> pararam, e Blackwell teve que seguir<br />

ou ficar para trás. Os dois homens pararam em frente à sala, sem dúvida, uma<br />

posição estrat<strong>é</strong>gica do meu pai.<br />

— Marc <strong>é</strong> o meu melhor <strong>guardião</strong>, Paul. — meu Alfa virou-se para a cozinha,<br />

colocando eu e Marc em sua linha direta de visão. — Só irei ficar com a<br />

consciência tranquila se te enviar com meu melhor homem.<br />

Olhei para Marc e o encontrei olhando-o em silêncio, com todos os músculos<br />

tensos, a respiração aparentemente congelada em seus pulmões.<br />

Blackwell olhou em nossa direção e suspirou, então, seu foco mudou para o<br />

meu pai. — Claro. Eu sinto pelo desconforto e agradeço pela escolta.<br />

Eu poderia ter sido a única que viu o alivio na tensão quase imperceptível<br />

dos ombros de meu pai. Mas, minha mãe provavelmente viu tamb<strong>é</strong>m.<br />

Marc ficou quieto quando nosso Alfa apontou para ele e Vic. Eles deviam<br />

levar o Blackwell e seus dois Toms ao aeroporto em um carro alugado, e então<br />

voltar com o meu irmão mais velho, Michael, que tinha desembarcado horas antes<br />

voltando de uma viagem de negócios.<br />

Michael tinha estado fora da cidade durante os últimos três dias, e <strong>não</strong><br />

74


sabia nada sobre os Thunderbirds ou os danos que eles tinham feito, pois estava<br />

fora de alcance enquanto seu avião estava no ar. Então, meu pai havia deixado<br />

uma mensagem de voz dizendo-lhe para se encontrar com Vic e Marc, e que eles<br />

iriam explicar tudo a caminho de casa.<br />

Vários minutos depois, vi pela janela da frente quando os quatro jovens<br />

Toms apressadamente escoltaram o velho Alfa pelas escadas at<strong>é</strong> o veículo alugado,<br />

onde ficou sentado no banco de trás entre seus próprios homens. Vic iria dirigir<br />

durante parte do caminho, e mesmo se os Thunderbirds lançassem seus<br />

dramáticos mergulhos assustadores sobre o carro, eles <strong>não</strong> fariam nenhum dano.<br />

Provavelmente porque o carro teria saído vencedor em uma missão kamikaze de<br />

penas e ossos.<br />

Momentos depois o barulho do motor do carro desapareceu, os pássaros<br />

desceram e se sentaram sobre o telhado esperando que algum Gato tolo saísse<br />

sozinho.<br />

Mas, embora odiássemos ser prisioneiros em nossa própria casa, isso <strong>não</strong><br />

iria acontecer.<br />

O jantar foi miserável, mesmo com os bolinhos de chili e pão de milho<br />

caseiro de minha mãe. Jace se sentou à minha frente, olhando para a tigela,<br />

mexendo seu conteúdo. Eu queria dizer alguma coisa. Queria me desculpar pela<br />

questão do Brett, ou lhe emprestar meu ombro. Afinal, eu tamb<strong>é</strong>m tinha acabado<br />

de perder meu próprio irmão. Mas, as lembranças da última vez que eu tinha<br />

chorado junto a algu<strong>é</strong>m, alertaram a minha mente como um grande sinal de<br />

"perigo", de forma que me conformei olhando-o significativamente e com simpatia<br />

cada vez que nossos olhares se cruzavam, desejando saber o que dizer.<br />

Obriguei-me a comer duas tigelas do chili para fazer com que Kaci comesse<br />

tamb<strong>é</strong>m, embora nenhum de nós tivesse apetite. Apesar de ter uma casa cheia de<br />

convidados, havia várias cadeiras vazias, e meu olhar foi atraído para elas mais de<br />

uma vez enquanto comia. Marc e Vic só voltariam daqui algumas horas. Manx<br />

ainda estava atendendo Owen em seu quarto e Jake e Charlie se foram para<br />

sempre.<br />

Após o jantar, Kaci foi ajudar com o bebê e alguns dos rapazes me<br />

convidaram para compartilhar uma garrafa de uísque e um jogo de cartas. Mas eu<br />

estava inquieta e impaciente, então eu me desculpei e fui para o porão. Eu <strong>não</strong><br />

conseguia mais aguentar o luto comum. E presume-se que havia uma corrente de<br />

raiva correndo embaixo da nossa dor nas articulações? Minha inquietação era<br />

como estar em um tanque de gás, com uma tocha. Finalmente, uma daquelas<br />

pequenas chamas cairia no lugar certo, e todo o meu mundo explodiria.<br />

Uma parte de mim sentia que isso já tinha ocorrido.<br />

— Você está com problemas. — disse Kai quando meu punho esquerdo<br />

bateu contra o grande saco de boxe.<br />

75


— Não, eu estou de saco cheio. — dei outro murro, me concentrando mais<br />

no poder que na forma, e como resultado meu ombro doía em sinal de protesto.<br />

Fiquei na ponta dos meus p<strong>é</strong>s, como tinham me ensinado, com os punhos<br />

preparados, apesar do meu braço direito que estava quebrado.<br />

— <strong>Ser</strong>á que isso ajuda?<br />

— Sim. — mas isso era uma mentira. Normalmente, bater em alguma coisa<br />

me deixaria de bom humor imediatamente, mas bater com uma mão só me fez<br />

sentir estranha e irritantemente impotente.<br />

Nós esperávamos que o nosso hóspede indesejável sofresse frustrações<br />

semelhantes. O Thunderbird foi deixado com seu próprio braço quebrado junto ao<br />

seu peito nu e ainda sangrando. Com sua mão boa, plenamente humana no<br />

momento, ele pegou uma barra de aço da parte da frente da gaiola, atrav<strong>é</strong>s do<br />

qual ele me viu desabafar minha dor, raiva e frustração no ginásio da casa.<br />

Eu mal podia respirar sem querer matar algu<strong>é</strong>m, apenas por inalação de<br />

toda a tensão.<br />

Mas, assim como no escritório, o porão era praticamente à prova de som, em<br />

virtude de ser insonoro. <strong>As</strong> pequenas janelas altas e a porta no topo das escadas<br />

eram os pontos fracos apenas na armadura do som, e deveriam ficar muito<br />

próximo a eles para ouvir algo com clareza. <strong>As</strong>sim, a minha solidão era quase<br />

completa, se <strong>não</strong> fosse pelo pássaro humano que me olhava como se eu fosse uma<br />

raridade de circo.<br />

— O que aconteceu com seu braço? — Kai perguntou ao mesmo tempo em<br />

que eu dava outro murro. Eu tinha batido sem luvas, mas a dor sobre meus dedos<br />

<strong>não</strong> era nada em comparação com a carne rasgada, coração batendo e tudo mais<br />

que meus companheiros Gatos sofriam.<br />

Sequei o suor com meu braço bom, sem olhá-lo.<br />

— Eu o quebrei. — e esse aviso aspirou a pouca alegria que restava em mim,<br />

então eu mudei o meu peso sobre meu p<strong>é</strong> esquerdo e deixei voar a perna direita.<br />

Bati no saco pesado com força suficiente para fazê-lo balançar lentamente. Uma<br />

pequena faísca de triunfo correu atrav<strong>é</strong>s de mim. Expulsá-lo seria melhor. Não<br />

havia nada de errado com minhas pernas.<br />

— Como você o quebrou? — Kai perguntou. Obviamente incomodado com as<br />

minhas respostas deliberadamente curtas.<br />

Parei o saco com a mão boa e confrontei-o na esperança de me achar feroz,<br />

apesar do meu gesso rabiscado.<br />

— Quebrei batendo no bastardo que tentou matar vários companheiro do<br />

meu Pride.<br />

Eu esperava ver Kai vacilar, ou rir, ou se mostrar c<strong>é</strong>tico. No entanto, ele<br />

76


apenas assentiu com a cabeça solenemente. Quase com respeito.<br />

— Então você entende a nossa necessidade de vingança.<br />

— Não. — eu me virei para trás e minha perna esquerda bateu no saco. —<br />

Nós lidamos com justiça.<br />

— Justiça e vingança <strong>é</strong> a mesma coisa.<br />

— Agora você está mentindo para si mesmo só para validar a sua sede de<br />

sangue. — chutei o saco de novo. — Justiça <strong>é</strong> para a vítima. — bati novamente no<br />

saco. — A vingança <strong>é</strong> para o sobrevivente. — outra batida. Parei para estabilizar o<br />

saco e olhei para o pássaro que assistia com fascínio agora. — Eles <strong>não</strong> estão<br />

fazendo isso por Finn. — lancei um golpe com a esquerda e tive que desistir de dar<br />

com a direita como de costume. — Eles estão fazendo isso para si mesmo, o que<br />

<strong>não</strong> <strong>é</strong> nada honroso. — o desprezo escorrendo de minha voz, manchas de sangue<br />

ficaram no saco quando meus dedos se abriram com o soco que dei.<br />

— Estamos punindo o culpado como um aviso para os delinquentes futuros.<br />

— Kai insistiu, e eu me virei para vê-lo franzindo a testa, os pequenos olhos<br />

escuros brilhantes na tênue luz do lampião empoeirado.<br />

— Não houve nenhuma agressão! — lancei minhas mãos para o ar. — O<br />

jovem Thunderbird tentou matar um <strong>Werecat</strong>. Isso <strong>é</strong> um suicídio de merda. Suas<br />

harpias <strong>não</strong> têm nenhum pouco de instinto? Ou sentido comum?<br />

Kai sentou-se reto, mais alto, embora o movimento deva ter estirado todos<br />

os ferimentos de seu estômago cinzelado.<br />

— Nós somos aves de rapina, uma bicada seria suficiente. A caça foi<br />

abandonada em um terreno que caçamos. Finn tinha todo o direito a uma quota.<br />

— Ela <strong>não</strong> foi abandonada. O caçador... — tive o cuidado de <strong>não</strong> citar o<br />

nome de Lance. — Ele foi informar aos demais que havia caçado o jantar. E para<br />

que fique registrado, um <strong>Werecat</strong> só <strong>é</strong> obrigado a compartilhar seu alimento com<br />

um Tom superior e sua própria esposa e filhos, caso os tenha. Nossos costumes<br />

<strong>não</strong> dizem nada a respeito da doação a qualquer abutre que caia do c<strong>é</strong>u.<br />

— A caça <strong>não</strong> estava em território <strong>Werecat</strong>.<br />

Bem, tecnicamente Kai estava certo, mas isso foi apenas por acaso. Em<br />

muitos casos, os territórios de esp<strong>é</strong>cies diferentes, muitas vezes se sobrepõem,<br />

especialmente as raças que duram mais tempo do que outras esp<strong>é</strong>cies, lobisomens<br />

existiam em quantidades tão pequenas que era insignificante para nós.<br />

Ou assim eu pensava.<br />

— Sabe de uma coisa? Nada disso importa. — franzindo a testa, chutei uma<br />

luva de boxe no chão e cruzei os braços sobre o peito; chateada porque <strong>não</strong> me<br />

encaixava, graças ao gesso. — O gato que matou Finn <strong>não</strong> era um dos nossos. Se<br />

tivesse sido, o seu pássaro teria morrido em nosso território. Mas você acabou de<br />

77


dizer que <strong>não</strong> foi.<br />

Kai franziu mais seu cenho e sua mão boa se apertou mais em torno da<br />

barra at<strong>é</strong> os nós dos dedos ficaram brancos, os músculos de suas mãos<br />

aumentaram devido ao esforço contra a sua pele.<br />

— Se essas pessoas são inocentes, onde está a prova?<br />

Indignada agora, pisei duro sobre o cimento áspero na penumbra da fraca<br />

luz que vinha de cima, tendo o cuidado de ficar bem longe das grades.<br />

— Nossa prova foi assassinada está tarde. Por seu honorável informante.<br />

O pássaro só ficou olhando para mim, provavelmente tentando julgar a<br />

verdade em meus olhos. Mas eu <strong>não</strong> conseguia ler sua expressão. Eu <strong>não</strong> poderia<br />

dizer se ele acreditou em mim, ou mesmo me importava de uma forma ou de<br />

outra.<br />

— Precisa de uma nova prova.<br />

— Não me diga, piu-piu. — dei as costas e me afastei andando sobre o<br />

grosso tapete azul, combinando com o lavabo na parede de trás. — Vocês ainda<br />

<strong>não</strong> perceberam que enquanto vocês estão aqui, sacrificando Toms inocentes, o<br />

homem que realmente estão procurando se encontra a centenas de quilômetros de<br />

distância, rindo da bunda de vocês?<br />

Bem, Lance provavelmente <strong>não</strong> estava rindo, mas com certeza estava pelo<br />

menos um pouco aliviado de que ele <strong>não</strong> era um dos que tinham caído de dez<br />

metros de altura por um pássaro vingativo.<br />

Eu me agachei e olhei embaixo da pia suja at<strong>é</strong> que encontrei uma garrafa de<br />

álcool e um saco quadrado de gaze e esparadrapo.<br />

— Aqui. — joguei o álcool para ele. Caiu um pouco mais longe do que o<br />

esperado, então deslizou at<strong>é</strong> atingir as barras, ainda em bom estado. — Eu <strong>não</strong><br />

posso fazer nada pelo seu braço, mas pelo menos isso vai impedir a gangrena. —<br />

enquanto Kai ficou olhando para a garrafa, obviamente confuso com a minha<br />

simpatia, eu joguei o saco de curativos, que bateu na barra e depois caiu.<br />

Kai inclinou-se desajeitadamente para pegar o frasco atrav<strong>é</strong>s das duas<br />

barras. Seus olhos se afastavam de mim para o álcool, em seguida para o álcool<br />

novamente, a cabeça inclinada abruptamente para o lado, um movimento<br />

decididamente de aves, que envolveu uma curiosidade muito estranha.<br />

— Por que você se importa?<br />

— Pela mesma razão que eu <strong>não</strong> saio por aí matando Toms inocentes.<br />

Porque a minha metade humana entende que, às vezes, a compaixão <strong>é</strong> a maior<br />

parte da honra.<br />

78


Capítulo 10<br />

Suada devido a meu treinamento, dirigi-me a meu chuveiro, mas eu sabia<br />

que algo estava errado no momento em que fechei a porta do quarto. A porta de<br />

meu banheiro estava aberta e vi uma sombra distorcida localizada em meu tapete,<br />

emitida pela luz mais brilhante de dentro.<br />

Prendi a respiração, mas <strong>não</strong> podia impedir meu coração de bater. Meu<br />

<strong>primeiro</strong> pensamento, tão ridículo quanto parecia em retrospecto, era que de<br />

alguma forma Malone tinha violado <strong>não</strong> só nossos limites territoriais, mas nossa<br />

casa. Eu odiava me sentir insegura em minha própria casa.<br />

Furiosa, peguei um livro de capa dura de minha cômoda, a única arma<br />

disponível no momento, mas antes de dar o <strong>primeiro</strong> passo, uma voz familiar me<br />

chamou suavemente do banheiro.<br />

— Relaxe. Sou eu.<br />

— Jace? — eu <strong>não</strong> tinha certeza de que era muito melhor. Meu pulso se<br />

desacelerou, mas só um pouco e uma sensação de formigamento começou dentro<br />

de meu estômago, meio temor, meio expectativa...<br />

— Você <strong>não</strong> deveria...<br />

— Eu sei. Desculpe. — sua sombra estava do lado da banheira e caminhou<br />

em direção à porta. — Este era o lugar mais privado que eu poderia encontrar. — e<br />

foi aí que eu percebi que ele estivera chorando...<br />

Compaixão ressonou atrav<strong>é</strong>s de mim, suavizando a margem fina de minha<br />

irritação e derretendo minha força de vontade como chocolate derretendo ao sol.<br />

— Ah. Sim, eu suponho que seja. — porque ningu<strong>é</strong>m mais (al<strong>é</strong>m de Marc e<br />

Kaci) ousaria entrar em meu quarto sem permissão.<br />

Depois que Charlie morreu, os Alfas proibiram as viagens à casa de<br />

hóspedes, mesmo em grupos, at<strong>é</strong> averiguarmos a melhor maneira de lutar contra<br />

os Thunderbirds. Então, estávamos todos socados na casa principal, mais<br />

apertados do que palhaços em um Volkswagen.<br />

— Você está bem?<br />

Ele deu de ombros e enxugou a umidade de suas bochechas com as duas<br />

mãos, mas seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados.<br />

— É só que tudo me atingiu de uma só vez. Sobre Brett.<br />

— E sua mãe? — eu fiquei perto da cama, temendo me mover para mais<br />

79


perto dele. Estar perto dele fazia meu coração bater mais forte e minha garganta<br />

parecia se fechar. Eu estava muito consciente de cada terminação nervosa<br />

formigando, inclusive em circunstâncias tão graves.<br />

Jace pareceu surpreso por um momento, em seguida colocou as mãos nos<br />

bolsos da calça jeans e assentiu.<br />

— Ela sabe o que Cal está fazendo. Tem que saber. Mas eu acho que seria<br />

mais <strong>fácil</strong> se eu pudesse acreditar que ela <strong>não</strong> sabe.<br />

— Sinto muito. — eu <strong>não</strong> sabia como consolá-lo. Eu queria abraçá-lo.<br />

Segurá-lo como faria se fosse qualquer um dos outros rapazes sofrendo. Os<br />

<strong>Werecat</strong>s tendem a relaxar no meio de muitos gatos e relacionam-se entre si por<br />

meio do toque. Mas Jace já <strong>não</strong> era apenas um dos outros guardiões e da última<br />

vez que tentamos nos consolar, as coisas tinham saído de controle. Saíram<br />

muuuito do controle.<br />

O rosto de Brett passou por minha mente e tive que me concentrar para <strong>não</strong><br />

imaginar seus últimos momentos, perguntar-me se sua morte pareceu-se com a<br />

de Ethan. Meus olhos lacrimejaram e eu afundei no tapete, encostada em meu<br />

suporte para p<strong>é</strong>s.<br />

— A culpa <strong>é</strong> minha. Envolvi Brett e agora ele está morto. Sinto muito<br />

mesmo.<br />

— Não. — Jace deu um passo adiante e gentilmente caiu de joelhos, a<br />

centímetros de mim. Seus olhos azuis brilhavam cheios de lágrimas contidas e<br />

cintilavam com determinação. — Brett já estava envolvido. Ele guardou as penas<br />

por uma razão. E se ele <strong>não</strong> estivesse disposto a assumir o risco, ele teria<br />

desligado no momento em que ouviu sua voz.<br />

— Mas...<br />

— Isso <strong>é</strong> culpa de Calvin, Faythe. Não sua e <strong>não</strong> minha. Cal vai pagar por<br />

isso. Eu vou me certificar disso.<br />

<strong>As</strong>senti. Olhando fixamente em seus olhos, acreditei nele. Acreditei que<br />

podíamos fazer com que Calvin pagasse, porque Jace <strong>não</strong> poderia viver com a<br />

alternativa contrária. E ele <strong>não</strong> era o único.<br />

Mas matar Malone <strong>não</strong> faria com que tudo estivesse bem de novo. Nenhuma<br />

quantidade de justiça (ou vingança) devolveria a vida de Ethan ou de Brett, ou nos<br />

faria sentir menos saudades. Nada poderia apagar o trauma de Kaci, ou me<br />

devolver o tempo que tinha perdido com Marc.<br />

— Nós vamos ficar bem, Faythe. — insistiu Jace, mas desta vez <strong>não</strong> acreditei<br />

nele, porque sua voz tremeu. Ele realmente <strong>não</strong> acreditava nisso. — Você <strong>é</strong> forte e<br />

tão determinada. Nada nunca a abate. <strong>As</strong> pessoas tentam, mas você só tropeça. —<br />

ele atreveu-se a sorrir apesar do óbvio sofrimento. — Você vai assumir o lugar de<br />

seu pai, quando ele se aposentar e será uma incrível Alfa.<br />

80


— E você? — perguntei e então o quarto pareceu desmoronar a nossa volta,<br />

como se nada mais existisse nesse momento.<br />

Uma sombra penosa passou sobre seus olhos, como nuvens diante do sol.<br />

Ele chegou mais perto e inclinou-se sobre o suporte para p<strong>é</strong>s a meu lado.<br />

— Eu vou ser feliz se eu ainda for parte de sua vida.<br />

Não queria perguntar, mas <strong>não</strong> pude evitar: — Que parte? — minha voz<br />

quebrou-se na última palavra e pisquei para evitar as lágrimas. Por que eu estava<br />

chorando? Por que meu coração doía, como se estivesse prestes a desmoronar<br />

sobre si mesmo?<br />

— Esta parte... — Jace sussurrou. Então me beijou.<br />

Eu tentei lutar contra isso. Tentei pensar em Marc e no quanto eu o amava.<br />

Mas Jace estava em toda parte nesse momento. Ele era tudo. Nossos pulsos<br />

batiam em uníssono e a dor oca em seu coração ecoou no meu. Seus lábios eram<br />

quentes, mas sua mão ao lado de meu pescoço, seu polegar roçando o fundo de<br />

minha mandíbula, isso era quente.<br />

Não podia me afastar. E a verdade era que <strong>não</strong> queria.<br />

Esse beijo era mais profundo do que o que eu havia esperado. Mais<br />

demorado. Acendeu fogos minúsculos dentro de minhas veias, pingando pequenas<br />

partes de chamas que se arrastavam queimando profundamente em meu corpo.<br />

Quando nosso beijo finalmente terminou, Jace afastou-se alguns<br />

centímetros e meus olhos umedeceram-se quando meu olhar torturado encontrouse<br />

com o dele.<br />

— Por que isso <strong>é</strong> tão difícil? — sussurrei.<br />

Seu pulso saltou descontroladamente diante de minha admissão.<br />

— Tudo pelo que vale a pena lutar <strong>é</strong> difícil.<br />

Minha mão desceu por seu braço.<br />

— Quando você ficou tão inteligente?<br />

A sombra passou por seus olhos novamente.<br />

— Quando eu me dei conta de que nada mais importa. Nada al<strong>é</strong>m de meu<br />

trabalho e você, Faythe. Todas as merdas estúpidas e mesquinhas desapareceram.<br />

Só resta matar Calvin e conquistar um lugar em sua vida. É isso aí. Esse <strong>é</strong> todo<br />

meu mundo agora.<br />

Não, isso <strong>é</strong> demais. Minha cabeça balançou lentamente. Era difícil o<br />

bastante ser o centro da atenção quase constante de Marc. Eu <strong>não</strong> poderia ser a<br />

metade do mundo de Jace, tamb<strong>é</strong>m. Isso era muita atenção. Demasiada pressão.<br />

Muitos... problemas.<br />

81


— Jace, isso <strong>não</strong> pode acontecer. — fechei os olhos, pensando que seria<br />

mais <strong>fácil</strong> dizer sem ele me olhando. Mas <strong>não</strong> foi. — Isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> apenas sobre nós.<br />

Eu <strong>não</strong> posso deixar Marc. — abri meus olhos novamente, esperando que ele fosse<br />

acreditar em mim se visse a verdade neles. — Eu amo Marc.<br />

— Eu <strong>não</strong> estou pedindo...<br />

— Eu sei. — deixei minhas mãos se abrirem inutilmente em meu colo. —<br />

Você <strong>não</strong> me está pedindo que o deixe. Mas ele <strong>não</strong> vai compartilhar. E <strong>não</strong> posso<br />

lhe pedir isso.<br />

— Você quer que ele compartilhe? — Jace tentou colocar seu rosto em<br />

branco, mas <strong>não</strong> deu certo. Talvez eu estivesse muito perto dele agora e pudesse<br />

ver al<strong>é</strong>m dele. Ou talvez ele <strong>não</strong> pudesse mais se proteger contra mim. De<br />

qualquer forma, eu vi o que lhe custou me perguntar isso e partiu meu coração.<br />

— Eu <strong>não</strong> sei. — frustrada, eu deixei minha cabeça cair para trás contra<br />

meu suporte para p<strong>é</strong>s. — Não sei o que eu quero, mas <strong>não</strong> posso perder Marc e eu<br />

perderei se você... Se nós...<br />

— Tudo bem. — ele franziu a testa e seu repentino olhar duro procurou o<br />

meu. — Diga-me que você quer que eu vá e eu irei. Eu juro.<br />

— Jace... — mas eu <strong>não</strong> poderia dizer. E ele sabia disso.<br />

— Você <strong>não</strong> pode, porque <strong>não</strong> quer que eu vá. — tentei argumentar, mas ele<br />

me interrompeu: — Você sente algo por mim e <strong>não</strong> <strong>é</strong> fraternal e <strong>não</strong> <strong>é</strong> compaixão.<br />

Não <strong>é</strong> curiosidade tamb<strong>é</strong>m. Não mais. — o brilho que surgiu em seus olhos enviou<br />

lembranças sugestivas correndo atrav<strong>é</strong>s de mim. Eu e Jace, no chão da casa de<br />

hóspedes.<br />

Entrelaçados de dor e necessidade mútua.<br />

Aliviando o recente sofrimento da única maneira que sabíamos fazê-lo.<br />

— Jace, isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> correto. Vai arruinar tudo. — isto destroçaria o Pride<br />

inteiro.<br />

Ele sacudiu a cabeça e segurou minha mão boa quando tentei me afastar.<br />

— Não <strong>é</strong> um erro só porque <strong>não</strong> <strong>é</strong> <strong>fácil</strong>, Faythe. A única coisa que fizemos de<br />

errado foi esconder isso de Marc. Devemos lhe contar.<br />

Eu balancei a cabeça. Isso era justo.<br />

— Mas ainda <strong>não</strong>. Não <strong>é</strong> uma boa hora. — e eu <strong>não</strong> tenho ideia do que eu<br />

vou dizer...<br />

Algu<strong>é</strong>m bateu em minha porta e ambos saltamos e depois nos ruborizamos.<br />

— Faythe?<br />

Dr. Carver.<br />

82


A porta abriu-se antes que eu pudesse responder e ele entrou, depois fechou<br />

a porta atrás de si. Ambos nos levantamos de um salto e o Doutor nos deu um<br />

olhar triste e cauteloso. Mas pelo menos <strong>não</strong> se mostrou surpreso.<br />

— Seu pai está procurando vocês. Os dois.<br />

Senti o sangue fugir de meu rosto. Dr. Carver pegara-nos na casa de<br />

hóspedes no dia em que Ethan morreu e prometeu manter segredo, com a<br />

condição de que eu descobrisse o que eu estava fazendo. Infelizmente, <strong>não</strong> houve<br />

muito progresso nesse sentido.<br />

— Ele...? — eu <strong>não</strong> consegui terminar minha pergunta.<br />

— Não. Eu lhe disse que buscaria você, mas eu <strong>não</strong> sabia que Jace estava<br />

aqui at<strong>é</strong> eu chegar at<strong>é</strong> a porta e escutar vocês.<br />

Ainda bem que sussurrávamos...<br />

— Obri... — eu comecei, mas ele me interrompeu com um olhar que era<br />

parte ira (provavelmente por ter sido colocado nessa posição) e parte compaixão<br />

dolorosa.<br />

Dr. Carver aproximou-se e baixou a voz quase al<strong>é</strong>m de nossa faixa de<br />

audição.<br />

— Se vocês <strong>não</strong> estiverem dispostos a informar às pessoas sobre isso ainda,<br />

então <strong>é</strong> melhor vocês aprenderem a ficar longe um do outro, porque se algu<strong>é</strong>m<br />

estivesse passando perto da porta com um ouvido atento, vocês estariam tendo<br />

uma conversa completamente diferente a esta altura. E isso <strong>não</strong> parece justo com<br />

Marc ou com seu pai, dado tudo o que está acontecendo neste momento.<br />

Jace arrepiou-se sob a censura verbal e senti-o ficar rígido a meu lado.<br />

Eu coloquei a mão em seu braço como um aviso e ouvi seu pulso<br />

desacelerando quando ele foi relaxando.<br />

Surpresa cintilou por trás dos olhos do m<strong>é</strong>dico quando assimilou tanto o<br />

gesto como a resposta, mas eu falei antes que ele pudesse fazer perguntas ou<br />

suposições: — Aconteceu. Mas isso <strong>não</strong> vai acontecer de novo, certo? — olhei para<br />

Jace e ele assentiu com frieza. — Saia com o Doutor, por favor. — porque os dois<br />

vistos saindo de meu quarto, juntos, levantariam muito menos suspeita do que<br />

Jace saindo sozinho. — Eu estarei lá em um minuto. — depois de lavar o rosto e<br />

escovar os dentes, para evitar que Marc cheirasse minha indiscrição. Pelo menos<br />

at<strong>é</strong> que eu estivesse pronta para dizer a ele.<br />

Jace piscou para mim, a dor brilhava em seus olhos como lágrimas. Ele<br />

queria tocar-me, ou dizer algo em particular, mas <strong>não</strong> diria na frente do Dr.<br />

Carver. Eu quase podia saborear sua frustração; refletia a minha. Então ele se<br />

virou abruptamente e seguiu o m<strong>é</strong>dico para fora de meu quarto.<br />

A água quente caiu sobre minha cabeça e em minhas costas, eliminando o<br />

83


cheiro de Jace e meu suor e misturando-se com as lágrimas que eu já <strong>não</strong> podia<br />

conter. Eu chorei em silêncio, esperando que o fluxo de água escondesse a<br />

evidência de minha fraqueza em uma casa cheia de gatos, a maioria dos quais<br />

precisavam me ver como Jace havia descrito. Forte. Determinada. Algu<strong>é</strong>m que<br />

sabia explorar a dor, raiva e angústia e usá-las a seu favor. Para aprimorar suas<br />

habilidades de liderança, aguçar sua inteligência e os sentidos e avivar seu<br />

impulso por justiça.<br />

Mas eu <strong>não</strong> me sentia muito parecida com essa pessoa no momento. Eu me<br />

sentia... fraturada. Fragmentada. Como se estivesse sob fogo por toda parte e cada<br />

impacto deixasse uma pequena rachadura em mim. Logo essas rachaduras se<br />

estenderiam e se tocariam e eu simplesmente viria abaixo.<br />

Porque eu <strong>não</strong> era boa o suficiente.<br />

Eu <strong>não</strong> era boa o suficiente para salvar Brett. Para vingar Ethan. Para criar<br />

Kaci. Para proteger Manx. Para ser... o que seja que Jace precisasse. Para<br />

conservar Marc.<br />

eu.<br />

Para dirigir o Pride algum dia.<br />

Eles precisavam de algu<strong>é</strong>m melhor do que eu. Eles mereciam mais do que<br />

Meus ombros estremeceram e joguei a cabeça para trás na ducha, tirando o<br />

cabelo molhado de meu rosto com minha mão direita, agradecida pelo protetor de<br />

plástico transparente para o gesso.<br />

— Faythe?<br />

Eu pulei e quase escorreguei nos ladrilhos molhados.<br />

— Whoaaa. — Marc abriu a porta do chuveiro e segurou-me, com cuidado<br />

para pegar acima do gesso.<br />

— O que houve?<br />

Eu murmurei algo que nem eu pude entender e joguei meus braços em<br />

torno dele, sem me preocupar com suas roupas. Ele acariciou meu cabelo<br />

molhado em minhas costas e ignorou a água encharcando sua camisa e seu jeans.<br />

Eu <strong>não</strong> tinha que ser forte com Marc. Com ele, eu podia simplesmente ser eu.<br />

Podia dizer qualquer coisa que eu estivesse pensando, fazer qualquer coisa que<br />

sentisse apropriada, chorar se estivesse angustiada e ele <strong>não</strong> pensaria o pior de<br />

mim.<br />

Ele me levantava.<br />

Eu <strong>não</strong> era boa o suficiente para Marc.<br />

Quando meus piores soluços diminuíram, ele gentilmente me separou dele,<br />

então se despiu, enquanto eu estava embaixo da ducha. Então entrou no chuveiro<br />

comigo e fechou a porta.<br />

84


— O que aconteceu?<br />

Mas eu <strong>não</strong> sabia por onde começar.<br />

— A morte de Ethan. A morte de Jake. A morte de Charlie. A morte de Brett.<br />

Nós <strong>não</strong> temos nenhuma prova e os pássaros malditos <strong>não</strong> vão parar de chegar.<br />

Há mais deles agora. — dez, em minha última contagem. E at<strong>é</strong> que aprendamos a<br />

lutar contra eles, nossas únicas opções eram nos esconder em nossa própria casa<br />

ou fugir.<br />

Nenhuma delas era aceitável.<br />

Funguei e enxuguei o rosto com a mão boa.<br />

— Eu pensei que eu poderia resolver. Eu pensei que poderia obter as provas<br />

e proteger Brett de seu pai e demonstrar ao Conselho que Malone está por trás<br />

disso. Mas eu <strong>não</strong> posso. Eu <strong>não</strong> posso fazer nada direito. Nem mesmo posso lavar<br />

meu próprio cabelo. — solucei de novo, apontando meu vidro de xampu com o<br />

braço quebrado.<br />

Marc inclinou-se para beijar minha testa úmida.<br />

— Então me deixe fazer isso. — ele virou-me pelos ombros e gentilmente<br />

puxou minha cabeça para trás para molhar meu cabelo. Então ele me empurrou<br />

para frente e jogou um pouco de xampu em cima de minha cabeça.<br />

Ele usou muito e começou na parte superior, em vez de nas extremidades,<br />

mas eu mal notei porque ele estava lavando meu cabelo. Massageando meu couro<br />

cabeludo com seus dedos fortes e confiantes, satisfazendo minha necessidade, no<br />

sentido mais literal. Mais uma vez, ele estava lá para mim quando eu precisava e<br />

eu era...<br />

Não boa o suficiente para ele.<br />

— Você merece algo melhor do que eu. — sussurrei e minha parte egoísta<br />

esperava que ele <strong>não</strong> pudesse ouvir.<br />

Ele ouviu.<br />

Marc virou-me tão rápido que eu teria escorregado novamente se ele <strong>não</strong><br />

estivesse me segurando. Estávamos tão perto que gotas de água caíam de seu<br />

queixo em meu peito e eu tinha que esticar meu pescoço para vê-lo.<br />

— Você <strong>é</strong> perfeita para mim, Faythe, exatamente como você <strong>é</strong>, porque <strong>não</strong> <strong>é</strong><br />

perfeita. Você <strong>é</strong> teimosa, impulsiva e franca e eu sou possessivo e superprotetor e<br />

muito <strong>fácil</strong> de ficar com raiva. Nós dois erramos em muitas coisas, mas nós somos<br />

certos um para o outro. Você entende?<br />

Eu balancei a cabeça. Eu <strong>não</strong> sabia mais o que fazer.<br />

— Não há nada que você pudesse ter feito por Ethan ou qualquer um dos<br />

outros, mas todos nós sabemos que você daria qualquer coisa para salvá-los.<br />

85


Inferno, veja o que você passou por mim. — levantou meu braço quebrado e tocou<br />

com os dedos de sua mão livre as contusões descoloridas em minhas costelas e<br />

estômago.<br />

Foi apenas dor. Eu merecia essa dor, ao menos pelo que eu tinha feito a<br />

Marc.<br />

— Você <strong>é</strong> muito bom para mim. — eu balancei a cabeça, procurando<br />

profundamente a coragem de dizer a verdade. Era o mínimo que ele merecia,<br />

embora ele <strong>não</strong> merecesse as consequências negativas.<br />

— Você <strong>não</strong> entende...<br />

A boca de Marc esmagou a minha e ele beijou-me com tanta força, tão<br />

completamente, que eu <strong>não</strong> conseguia respirar. E <strong>não</strong> dava a mínima.<br />

Eu beijei-o de volta, degustando-o, respirando-o, odiando o plástico que<br />

envolvia meu braço porque me impedia de senti-lo adequadamente. Seu peito<br />

estava escorregadio. Os músculos mudando de posição sob minha mão boa<br />

quando ele se movia. Deixei que meus lábios se deslocassem pela aspereza de seu<br />

queixo e ele jogou a cabeça para trás, dando-me acesso total a sua garganta, a<br />

parte mais vulnerável de seu corpo.<br />

Eu poderia matá-lo em meio segundo, se eu quisesse. Oferecendo-me sua<br />

garganta, Marc dizia-me que confiava em mim com sua vida. Era o maior elogio<br />

que um gato poderia dar ao outro.<br />

Mas a parte assustadora <strong>é</strong> que ele confiava em mim com seu coração.<br />

Forcei esse pensamento para longe e fiquei na ponta dos p<strong>é</strong>s para alcançar<br />

sua mandíbula. Suas mãos percorriam minha cintura, tocando as curvas mais<br />

baixas de meus seios. Minha língua traçou a linha de seu pescoço, seguindo-a at<strong>é</strong><br />

a clavícula. Eu lambia a água que saía dali, então minha língua aventurou-se<br />

novamente para cima, procurando sua boca.<br />

Baixei sua cabeça para outro beijo e Marc gemeu. Sua língua encontrou a<br />

minha e ele deu um passo para trás. Minhas costas atingiram a parede de azulejo<br />

frio e ele virou-se para levantar-me em ambos os braços, as pernas bem abertas<br />

para estabilizar-se. Eu envolvi minhas pernas em torno de seus quadris e agarreime<br />

a ele, minha pele escorregadia contra a sua.<br />

Meus seios estavam pressionados contra seu peito. Meu braço bom ao redor<br />

de seu pescoço. Ele levantou-me mais alto e fiquei meio sentada na prateleira de<br />

sabonete para ajudar a manter meu peso, enquanto seus dedos deslizaram pelos<br />

lados, deixando rastros de fogo por onde passavam. Sua mão deslizou entre nós,<br />

testando, guiando. Então ele me baixou lentamente.<br />

Prendi a respiração at<strong>é</strong> que ele foi at<strong>é</strong> o fundo e minha respiração era tão<br />

irregular que quase doía. Eu me balancei para frente e ele gemeu. Seus olhos<br />

estavam fechados e ele se balançou comigo. Eu passei os braços em volta de seu<br />

86


pescoço, fechei os olhos e cavalguei-o. Deixei que ele definisse o ritmo: lento no<br />

início, mas ganhando velocidade quando o atrito ficou mais forte.<br />

Ele empurrou contra mim, prendendo-me na parede, tirando pequenos sons<br />

de mim a cada golpe. Ele balançava-me para frente e para trás com um aperto em<br />

ambos os quadris. Eu agarrei-me no alto do boxe com a mão esquerda e peguei o<br />

chuveiro com os dedos que ficaram de fora do gesso. A respiração tornou-se mais<br />

rápida, cada investida mais forte. Minhas pernas apertaram-se ao redor dele,<br />

enquanto eu procurava mais contato. Maior fricção. Mais calor.<br />

Finalmente, quando eu tinha certeza de que <strong>não</strong> podia segurar mais um<br />

segundo, Marc gemeu e seus golpes tornaram-se fren<strong>é</strong>ticos. Eu deixei-me levar e a<br />

sensação apoderou-se de mim, queimando-me em comparação com a água já<br />

morna.<br />

Esgotado, Marc inclinou-se para mim e sua cabeça encontrou meu ombro.<br />

Seu coração batia em ritmo acelerado a centímetros do meu e eu podia ouvir cada<br />

som de seu pulso.<br />

Depois de pelo menos um minuto, ele desceu-nos at<strong>é</strong> ficarmos sentados em<br />

um canto do chão do chuveiro, a água caindo em minhas costas. Eu sentei nele de<br />

perna aberta e inclinei-me para trás para poder ver seu rosto. Ele olhou para mim,<br />

mas <strong>não</strong> sorriu. Parecia... atemorizado. Determinado.<br />

Eu comecei a perguntar o que estava errado, mas ele falou antes que eu<br />

pudesse dizer algo.<br />

— Case-se comigo, Faythe.<br />

Eu quase engasguei com a surpresa. Quantas vezes esse pedido iria me<br />

pegar desprevenida?<br />

— Esta <strong>é</strong> a última vez que eu vou pedir. Estou falando s<strong>é</strong>rio. Case-se comigo<br />

para que, quando tudo isso acabar, nós possamos ter uma casa. Um pequeno<br />

terreno. Muita privacidade.<br />

— Marc... — mas eu <strong>não</strong> tinha ideia de como terminar esse pensamento.<br />

— Nós podemos fazer do jeito que você quiser. Nós podemos ter uma<br />

cerimônia, ou ir at<strong>é</strong> o cartório a caminho de Veneza. Você pode usar um vestido<br />

branco ou um vestido vermelho, ou jeans, ou nada. Podemos nos casar nus. Eu<br />

<strong>não</strong> me importo. Faremos o que você quiser. Basta dizer que você vai se casar<br />

comigo, para que possamos tirar algo de bom de tudo isso. — seus braços bem<br />

estendidos cobriam cada desastre nos últimos meses que tinha sido jogado contra<br />

nós, mas seus olhos nunca deixaram os meus. — Case-se comigo, Faythe. Por<br />

favor.<br />

Seu rosto quebrou meu coração. Seus olhos queimavam minha alma.<br />

Eu <strong>não</strong> era boa o suficiente para ele.<br />

87


— Marc, precisamos falar sobre... algo. — engoli em seco e coloquei minha<br />

mão boa sobre sua boca quando ele começou a protestar. — Eu <strong>não</strong> estou dizendo<br />

<strong>não</strong>. — insisti e ele relaxou visivelmente enquanto a água em minhas costas<br />

continuava a correr. — Mas eu <strong>não</strong> posso... Eu <strong>não</strong> posso fazer isso agora. Há<br />

coisas demais acontecendo e precisamos conversar <strong>primeiro</strong>.<br />

Ele endireitou-se e eu deslizei alguns centímetros em suas pernas.<br />

— Seja o que for, <strong>não</strong> importa. Se forem as crianças, ou tornar-se Alfa, ou o<br />

que quer que seja, <strong>não</strong> importa. Vamos solucionar isso.<br />

Ele parecia tão esperançoso, eu queria sorrir, mas <strong>não</strong> me permiti isso. Ele<br />

<strong>não</strong> tinha ouvido o que eu tinha a dizer ainda.<br />

— Eu...<br />

E foi então que a energia se foi.<br />

88


Capítulo 11<br />

— Algu<strong>é</strong>m me dê uma lanterna. — a voz de meu pai ressoou do outro lado<br />

do corredor. Um feixe oscilante de luz acompanhou fortes passos em direção a ele<br />

e uma sombra com a forma de Vic entregou-lhe sua lanterna.<br />

Marc enrolou uma toalha ao redor da cintura e o fino feixe de sua própria<br />

lanterna mostrava gotas de água ainda presas em seu peito e pingando de seu<br />

cabelo. Não havendo previsto nem o ataque a<strong>é</strong>reo em grande escala e nem meu<br />

abraço molhado, ele <strong>não</strong> havia trazido uma muda de roupa.<br />

Nas profundas sombras, as quatro cicatrizes paralelas que percorriam seu<br />

peito, pareciam horríveis. Frescas. Sem dúvida eram frescas em sua mente, mas<br />

ele carregava-as desde que ele tinha quatorze anos, quando o Extraviado que<br />

havia violentado e matado sua mãe, tamb<strong>é</strong>m o havia mordido, colocando-o em<br />

minha vida.<br />

Para melhor ou pior.<br />

Outros três feixes entrecruzaram o corredor lotado enquanto meu pai<br />

realizava uma chamada informal, mas um só ponto estável de luz prendeu minha<br />

atenção. Jace estava parado do outro lado de meu quarto, vários metros mais<br />

abaixo, seu rosto estava severamente iluminado pelo feixe da pequena lanterna<br />

que minha mãe conservava debaixo da pia da cozinha. Mas, mesmo pobremente<br />

iluminada, sua expressão era inconfundível. Seu foco pulou de meu roupão para<br />

Marc enrolado na toalha e sua mandíbula inchou furiosamente.<br />

Um emaranhado de emoções agitou-se dentro de mim, ameaçando banharme<br />

em uma mar<strong>é</strong> de confusão, culpa, medo e arrependimento. E, por um<br />

momento, pensei que Jace iria nos expor.<br />

Mas, quando seu olhar encontrou-se com o meu, sua raiva suavizou para<br />

inveja cuidadosamente controlada. Então, respirou e arrastou seu feixe at<strong>é</strong> o final<br />

do corredor quando meu pai aclarou a voz para chamar a atenção de todos.<br />

A mão de Marc enrolou-se ao redor da minha. Ele <strong>não</strong> tinha visto Jace nos<br />

observando. Ele estava focado no problema em questão. Como um bom <strong>guardião</strong>.<br />

— Vic, você e Parker desçam as escadas e girem o disjuntor. — disse meu<br />

pai de sua posição perto da porta principal. — E permaneçam longe da jaula. Esse<br />

Thunderbird tem um incrível comprimento de asas e pode Mudar<br />

instantaneamente.<br />

Vic assentiu já se dirigindo para a cozinha com uma lanterna. Parker o<br />

seguiu, seus passos pesados, sua carranca amarga exagerada pelas sombras<br />

escuras que se estendiam em seu rosto. Que eu saiba, ele <strong>não</strong> havia falado desde<br />

que tinha ouvido o que Lance havia feito.<br />

Eu sabia como ele se sentia, pelo menos melhor do qualquer outro poderia.<br />

Lance tinha deixado Malone armar-nos uma armadilha e incriminar-nos de<br />

89


assassinato, colocando todas nossas vidas em risco, incluindo a de Parker. Meu<br />

irmão Ryan havia me entregado para um Extraviado da selva, estuprador em s<strong>é</strong>rie,<br />

que tinha pensado em me vender como uma <strong>é</strong>gua na Amazônia. A traição <strong>é</strong> uma<br />

merda, mas eu tinha mais f<strong>é</strong> em minha terapia de bater-na-merda-do-saco do que<br />

o m<strong>é</strong>todo de beber-at<strong>é</strong>-desmaiar de Parker.<br />

— Karen, você pode distribuir velas e fósforos, só por precaução? — disse<br />

meu pai, levando minha atenção de volta ao assunto. Minha mãe levantou um<br />

maço de velas que já tinha juntado e depois se abaixou na cozinha, provavelmente<br />

para procurar os fósforos. Todos os guardiões mantinham duas lanternas em seus<br />

carros como parte do kit padrão de emergência. Exceto eu, que <strong>não</strong> tenho carro.<br />

Infelizmente, aventurar-se do lado de fora para pegar meia dúzia de kits,<br />

atrairia mais risco neste momento do que caminhar tropeçando no escuro.<br />

Especialmente considerando que vários de nós poderiam Mudar parcialmente<br />

nossos olhos, se fosse necessário.<br />

O rosto severo de meu pai passou de um rosto para uma careta sombreada.<br />

— Todos os outros, peguem uma vela e encontrem algo tranquilo para fazer<br />

enquanto esperam. <strong>As</strong> luzes devem estar de volta a qualquer minuto. — então,<br />

enquanto os Toms se arrastavam para a cozinha, meu pai murmurou sob sua<br />

respiração. — E tenham cuidado, se uma de suas velas incendiarem minha casa,<br />

eu substituirei o tapete de meu escritório com sua pele.<br />

Bufei. O senso de humor de um Alfa era um bicho estranho.<br />

Mas meu sorriso morreu em meus lábios quando Vic e Parker subiram as<br />

escadas do porão, por<strong>é</strong>m a casa permanecia escura.<br />

Kai gritou de baixo, em um guinchante tom de voz alto o suficiente para<br />

ecoar pelo cômodo lotado: — Eles cortaram a eletricidade para atraí-los para fora.<br />

O que significa que há o suficiente de nós para pegá-los em grupos!<br />

— Então, o que eles esperam que façamos? — Jace exigiu, enquanto meu<br />

pai olhava de cara feia do centro de um grupo amontoado com os outros Alfas. —<br />

Sair andando e nos entregar?<br />

— Não. — ajustei firmemente meu roupão e segurei meu braço quebrado em<br />

minha barriga. — Eles esperam que morramos.<br />

O semblante sisudo de meu pai aprofundou-se e ele conduziu os outros<br />

Alfas para seu escritório com a lanterna que dividiam.<br />

— Isso <strong>não</strong> faz sentido. — Mateo Di Carlo disse para a casa em geral, uma<br />

vez que a porta do escritório havia fechado. Ele estava tão perto que podia chegar<br />

a Manx sem realmente tocá-la enquanto ela amamentava Des para que voltasse a<br />

dormir. — Por que eles acreditaram na merda da história de Malone, mas <strong>não</strong> em<br />

nossa verdade?<br />

— Acreditariam se tiv<strong>é</strong>ssemos uma prova. — acenei para Kaci quando ela<br />

espiou pela porta do quarto de Owen. Meu irmão ferido estava deitado dentro do<br />

quarto, ouvindo e observando pela luz da vela ao lado de sua cama. Michael estava<br />

sentado em uma cadeira ao lado dele, captando tudo isso. — E isso seria razão<br />

suficiente para eles quebrarem sua palavra com Malone. — continuei. — Para<br />

90


anular o acordo que fizeram. Mas, sem provas eles se consideram obrigados por<br />

sua honra a defender sua palavra. E vingar seu morto.<br />

— Eles estão tentando nos matar? — Kaci sussurrou.<br />

Coloquei meu braço engessado ao redor dela: — Não você. Podiam tê-la<br />

matado antes, mas <strong>não</strong> o fizeram. Eles estão tentando proteger você, eu e Manx.<br />

Ela pareceu menos do que tranquila.<br />

— Isso <strong>é</strong> loucura. — Brian Taylor deu um passo da cozinha com uma vela<br />

em uma das mãos, as chamas piscando sobre suas sardas e barba marrom pálido,<br />

enfatizando sua juventude. — Como <strong>é</strong> que vamos pará-los? Atirando neles no c<strong>é</strong>u?<br />

— Sim, isso seria ótimo, se tiv<strong>é</strong>ssemos armas. — já que nosso rancho <strong>não</strong><br />

tinha animais para proteger, elas <strong>não</strong> eram necessárias para o uso prático típico<br />

de uma fazenda e os <strong>Werecat</strong>s caçavam com suas garras e caninos. Carregar uma<br />

arma de fogo era como trapacear, portanto, considerado desonroso na maioria dos<br />

Prides.<br />

Na verdade, o único Gato que eu já vi com uma arma foi...<br />

— Aqui... — afastei-me de Marc e empurrei Kaci para mais perto dele, por<br />

comodidade. — Eu já volto. — podia sentir todos me observando enquanto eu saía<br />

do corredor e o olhar de Jace, particularmente, parecia queimar.<br />

— O que você está fazendo? — ele sussurrou, seguindo meu passo.<br />

— Tenho uma ideia. — parei na porta do escritório e dei três batidas bem<br />

consistentes para anunciar minha entrada. Eu <strong>não</strong> poderia ouvir a autorização de<br />

qualquer maneira.<br />

A porta estava destrancada, então eu a empurrei para abri-la e encontrar os<br />

quatro Alfas me olhando.<br />

— Sinto interromper, mas eu tenho uma ideia e preciso de algo de sua mesa.<br />

Se estiver tudo bem.<br />

Meu pai ergueu uma sobrancelha por minha formalidade e um canto de sua<br />

boca se contorceu como se ele quisesse sorrir. Ele sabia que eu estava prestes a<br />

pedir algo louco, por que mais eu lubrificaria as rodas com boas maneiras?<br />

Ele acenou com a mão grossa para sua mesa em um movimento de “seja<br />

bem-vinda”, andei pelo cômodo. Jace parou na porta e um padrão de respiração<br />

intimamente familiar me disse que Marc havia se juntado a ele.<br />

Ansiosa agora, eu virei o pote de mármore no canto da mesa. <strong>As</strong> canetas e<br />

lapiseiras se esparramaram por cima do imaculado livro de anotações como pega<br />

varetas e eu vasculhei atrav<strong>é</strong>s deles at<strong>é</strong> que encontrei um pequeno e fino chaveiro,<br />

prendendo duas brilhantes e idênticas chaves.<br />

Meu pai ficou de p<strong>é</strong> quando me agachei atrás de sua mesa.<br />

— Faythe... — ele advertiu, mas eu já havia aberto a gaveta inferior e ali<br />

estava: uma pequena pistola negra. Morte portátil. De acordo com a caixa de balas<br />

que estava ao lado, a arma era uma 9 mm, que era mais do que eu sabia sobre ela<br />

um segundo antes.<br />

91


Segurei-a deitada em minha mão, tendo uma noção do peso. Era mais<br />

pesada do que eu esperava.<br />

Do outro lado do cômodo, Jace estremeceu e eu percebi o gesto com minha<br />

visão perif<strong>é</strong>rica. Manx havia atirado nele, acidentalmente, com esta arma cinco<br />

meses atrás e sua recuperação tinha sido menos do que agradável. E, mais do que<br />

memorável.<br />

— Faythe... — ele começou e eu estava surpresa ao perceber que seu tom<br />

era quase exatamente igual ao de meu pai.<br />

Meu pai aclarou a voz e eu levantei os olhos para ver que todos os Alfas<br />

estavam em p<strong>é</strong> agora. Meu tio observou-me igualmente com cautela e curiosidade.<br />

Taylor olhou-me como se pensasse que eu havia perdido o juízo. E se eu <strong>não</strong><br />

estivesse enganada, Bert Di Carlo, parecia... quase impressionado.<br />

— Você <strong>não</strong> sabe como usar isso. — meu pai disse.<br />

— Eles <strong>não</strong> sabem disso.<br />

Jace estremeceu novamente quando eu levantei a arma, procurando pela<br />

trava de segurança. A maioria dos Gatos que eu conhecia, tinha um medo inato de<br />

armas de fogo, o que ficava lado a lado com o medo de caçadores. Graças a nossos<br />

reflexo e audição fantásticos, realmente <strong>não</strong> havia muito perigo de nós levarmos<br />

um tiro, mas as chances de morrer por um ferimento à bala eram maiores do que<br />

as de morrer por m<strong>é</strong>dias contusões. O que nossos corpos crivados de cicatrizes<br />

podiam atestar.<br />

<strong>As</strong>sim, ningu<strong>é</strong>m parecia muito confortável comigo balançando uma arma ao<br />

redor do cômodo.<br />

— O que você está fazendo? — Marc começou a atravessar o piso at<strong>é</strong> mim,<br />

com um tom bravo, mas meu pai alcançou-me <strong>primeiro</strong>.<br />

— Estou procurando as balas, para ver quantas há aqui.<br />

— O que você vai fazer? Ficar de p<strong>é</strong> na varanda e começar uma “Caça ao<br />

Pássaro”? — Taylor perguntou, passando uma mão sobre seus cabelos cortados<br />

bem rentes.<br />

— Espero <strong>não</strong> chegar a isso. — franzi a testa e girei a pistola outra vez. —<br />

Como se abre essa coisa?<br />

Meu pai calmamente tirou a arma de minha mão, então puxou uma<br />

alavanca no topo do encaixe com o polegar. Alguma coisa fez click e o carregador<br />

deslizou para a palma de sua mão que aguardava. Ele segurou-a para que eu visse<br />

e deslizou de volta para o encaixe da arma at<strong>é</strong> que fizesse click outra vez.<br />

— Uma na câmara, quinze no carregador. A trava está colocada.<br />

Devolveu-me a arma e eu fiquei boquiaberta, olhando para meu Alfa como se<br />

eu <strong>não</strong> o conhecesse.<br />

— Como você fez...?<br />

Meu pai levantou ambas as sobrancelhas grisalhas.<br />

— Quando você vai parar de se surpreender com as coisas que eu sei?<br />

92


— Onde aprendeu a usar uma arma?<br />

Ele suspirou, mas pareceu satisfeito com meu interesse.<br />

— Enfrentar seus medos <strong>é</strong> a melhor forma de vencê-los. Mas, esta <strong>é</strong> uma<br />

história para outro dia. E Ed tem razão. Você <strong>não</strong> pode simplesmente sair e<br />

começar a atirar.<br />

— Eu sei. — mesmo que eu quisesse matar um dos Thunderbirds (e eu <strong>não</strong><br />

estava disposta a matar a menos que fosse em defesa própria ou de um amigo) se<br />

nosso pistoleiro atirasse e errasse, eles saberiam que estávamos blefando. — Eu<br />

esperava espantá-los o suficiente para que nós pud<strong>é</strong>ssemos... pensar em um plano<br />

melhor. Aprender a lutar contra eles ou tentar encontrar alguma outra prova. Ou<br />

voltar a restabelecer a luz, pelo menos.<br />

Sem ela, nós <strong>não</strong> poderíamos acessar a internet, carregar nossos celulares<br />

ou sequer cozinhar. Muito menos aquecer a casa. O calor <strong>não</strong> era uma<br />

preocupação imediata, com todos os corpos mantendo as coisas quentes, mas<br />

ficaríamos com frio com o tempo. E ficaríamos, definitivamente, sem alimento.<br />

Tínhamos abastecido no dia anterior, mas duas dezenas de <strong>Werecat</strong>s adultos<br />

acabam com a comida muito, muito rapidamente. Tínhamos comido quinze quilos<br />

de carne só no chili.<br />

— Ok. Este <strong>é</strong> um objetivo sólido e viável — tio Rick concordou sabiamente.<br />

Taylor franziu a testa: — Não, isso <strong>não</strong> mudaria nada. Mesmo se<br />

conseguirmos restaurar a energia sem problema (e para constar, isto me cheira a<br />

armadilha), eles simplesmente a cortariam de novo. Precisamos de uma solução<br />

permanente.<br />

— Não vamos conseguir nos livrar deles sem matá-los. — disse Marc. — E<br />

isso só traria mais deles indo e vindo. Literalmente.<br />

Ningu<strong>é</strong>m riu.<br />

— Eles irão embora se conseguirmos provar que <strong>não</strong> estamos envolvidos —<br />

eu repeti. Esta era nossa única esperança de uma solução pacífica.<br />

— Sim e desapareceriam dentro de um buraco negro se nós soub<strong>é</strong>ssemos<br />

como abrir um 6 . — Michael disse da porta, ajustando seus óculos na ponta do<br />

nariz. — Por que está segurando uma arma?<br />

— Acho que devemos tentar ameaçá-los. Talvez acertar um par de asas no<br />

processo. Temos que lhes mostrar que estamos dispostos a lutar contra eles.<br />

— Mesmo se isso fizer com que mais pássaros caiam sobre nós? — meu pai<br />

olhou-me com uma estranha intensidade, como se buscasse algo em particular em<br />

minha resposta.<br />

— Sim. — assenti para pontuar definitivamente. — Não podemos<br />

simplesmente nos esconder aqui, esperando ser eliminados um por um. Eles são<br />

aves de rapina e nós estamos agindo como um monte de ratos tremendo em um<br />

campo. Todos nós precisamos lembrar que, na ordem natural das coisas, os Gatos<br />

caçam os pássaros e <strong>não</strong> o contrário.<br />

6 Ele quer dizer que conseguir as provas <strong>é</strong> quase tão impossível quanto isso.<br />

93


— Concordo... — disse meu Alfa. Mas ele <strong>não</strong> parecia muito convencido com<br />

minha proposta, então respirei profundamente e tentei outra vez.<br />

— Olha, mesmo que eles tenham tempo suficiente para trazer reforços, isso<br />

nos dará tempo para nos armarmos e recuperar nossa energia.<br />

— Armarmo-nos? — Ed Taylor perguntou e eu virei-me para vê-lo segurando<br />

uma garrafa de Scotch. Nunca tinha visto Taylor bebendo, mas com seus olhos<br />

ainda vermelhos pelo pranto por Jake, eu <strong>não</strong> podia culpá-lo. — Com armas?<br />

— Sim.<br />

Taylor colocou o copo no bar e derramou um pouco da garrafa.<br />

— Nós nunca recorremos a medidas tão brutas antes e francamente tenho<br />

medo de pensar onde um passo como esse pode levar.<br />

Encontrei firmemente seu olhar, tentando manter um equilíbrio entre<br />

confiança e crítica: — Nós tamb<strong>é</strong>m nunca fomos aprisionados em nossa própria<br />

casa. E eu tenho medo de pensar onde isso pode levar.<br />

Vic.<br />

— Um ponto válido. — Di Carlo declarou e eu podia ter abraçado o pai de<br />

Meu tio Rick alcançou a garrafa de Scotch.<br />

— Então, algu<strong>é</strong>m sabe como disparar essa coisa? — olhou deliberadamente<br />

para seu cunhado.<br />

Meu pai coçou a testa.<br />

— Eu era um atirador decente na universidade, mas <strong>não</strong> atiro com uma<br />

arma há um quarto de s<strong>é</strong>culo.<br />

Eu encolhi os ombros: — Mais algu<strong>é</strong>m já disparou uma arma?<br />

Ningu<strong>é</strong>m falou, então estendi a pistola para meu pai. Ele suspirou, mas<br />

pegou-a e virou-se para seus companheiros Alfas.<br />

— Estamos de acordo sobre esta linha de ação? Devo fazer uma votação?<br />

— Não acho que seja necessário. — disse tio Rick e Bert Di Carlo assentiu<br />

concordando. Então, para minha surpresa, Ed Taylor assentiu tamb<strong>é</strong>m.<br />

— Não podemos ficar sentados aqui e esperar o ataque. — ele disse e uma<br />

onda de orgulho floresceu em meu peito. Eles realmente estavam me escutando!<br />

Não apenas meu pai, mas todos os outros Alfas tamb<strong>é</strong>m. Não pude resistir a um<br />

sorriso, mas meu sorriso vacilou ligeiramente quando vi que tanto Marc como Jace<br />

sorriam para mim. Nenhum deles notou que o outro sorria para mim.<br />

— Então, qual <strong>é</strong> o plano? — Di Carlo sentou no braço do sofá com o<br />

pequeno copo que meu tio lhe entregou.<br />

Tio Rick voltou a tampar a garrafa.<br />

— Eu sugiro um ultimato. Chamar um deles para uma tr<strong>é</strong>gua para<br />

negociações e explicar que se <strong>não</strong> forem embora daqui, nós vamos fazer uma caça<br />

aos pássaros. — piscou para mim e eu <strong>não</strong> pude resistir a sorrir.<br />

— Então ferir um deles. — sugeriu Taylor e eu o olhei com surpresa. Eu <strong>não</strong><br />

havia pensado que ele iria concordar com esta parte de meu plano. — Como aviso.<br />

94


Temos que demonstrar que estamos falando s<strong>é</strong>rio e <strong>é</strong> melhor fazer isso sem<br />

arriscar ferir um dos nossos.<br />

Meu pai concordou.<br />

— Melhor cedo do que tarde. — olhou ao redor como se procurasse algo,<br />

mas eu tinha a impressão de que ele estava vendo algo diferente de seu escritório.<br />

— Teremos que fazer isso das escadas... Eles <strong>não</strong> nos poderão ver sob o telhado da<br />

varanda. E nós precisaremos de luz. Estou supondo que eles <strong>não</strong> veem muito bem<br />

na escuridão, porque a maioria dos pássaros <strong>é</strong> diurna.<br />

<strong>As</strong> cabeças ao redor do cômodo assentiam agora e tínhamos conseguido<br />

vários observadores no corredor, onde os Toms haviam se reunido para ouvir.<br />

— Eu quero dois guardiões em minha retaguarda. — olhou para cima e<br />

tanto Marc quanto Jace deram um passo à frente imediatamente e meu primo<br />

Lucas abriu caminho vindo do corredor.<br />

— Ótimo. — nosso Alfa assentiu. — Marc, busque a pistola de dardos<br />

tranquilizantes no sótão e alguns dardos. Se algum deles se aproximar demais,<br />

atire nele.<br />

Marc saiu imediatamente para a cozinha.<br />

— Lucas, busque algo que o faça sentir mais confortável para manejar. —<br />

porque Lucas era, dos dois, o fisicamente mais poderoso e seria mais efetivo<br />

usando a força bruta. Na verdade, ele <strong>é</strong> o maior Tom que eu já tinha encontrado<br />

pessoalmente. Com mais de dois metros de altura e cento e trinta quilos... Eu <strong>não</strong><br />

iria querer me deparar com ele em um beco escuro.<br />

Jace parecia decepcionado, mas <strong>não</strong> discutiu. Ele podia entrar em atrito sob<br />

a autoridade de Marc, mas ainda tinha um total respeito por nosso Alfa.<br />

Dez minutos mais tarde, reunimo-nos na sala da frente, com meu pai diante<br />

da porta e com Marc um passo atrás a sua esquerda e meu primo refletindo-o do<br />

outro lado, cada um segurando uma arma e uma vela em um pote. Meu tio e eu<br />

observávamos pela grande janela à esquerda da porta. Taylor e Di Carlo olhavam<br />

pelo outro lado.<br />

Na sala, vários Toms haviam se reunido para presenciar a ação da janela da<br />

frente. Minha mãe, Kaci e Manx observavam da sala de jantar do outro lado do<br />

corredor, ladeadas por mais guardiões, só para garantir.<br />

Meu pai respirou fundo, então abriu a porta principal e deu um passo para<br />

a varanda com a arma em sua mão direita. Marc e Lucas seguiram-no, em seguida<br />

espalharam-se na varanda e colocaram as velas cuidadosamente no chão, fora do<br />

caminho. Deram os passos juntos, os guardiões um passo atrás de meu pai.<br />

— Enviem algu<strong>é</strong>m para representar seu Bando. — meu pai ordenou em uma<br />

forte e clara voz. — Exijo uma palavra.<br />

Houve um momento de total silêncio, seguido pelo ruído de imensas asas<br />

batendo no ar. Um instante depois, um só Thunderbird mergulhou de nosso<br />

próprio telhado e aterrissou três metros diante da varanda, com pernas humanas.<br />

Sua cabeça e a maior parte de seu busto eram humanos tamb<strong>é</strong>m e foi assim que<br />

eu percebi, para minha total surpresa, que este Thunderbird era uma garota.<br />

95


Ou, mas apropriadamente, uma mulher nua e com asas.<br />

— Eu falarei em nome do Bando. — ela anunciou em uma voz que quase<br />

doía ouvir. Seus tons duplos eram altos e estridentes, como se sua garganta <strong>não</strong><br />

tivesse Mudado completamente. O que era uma clara possibilidade.<br />

— Qual <strong>é</strong> seu nome?<br />

— Neve. — ela anunciou e <strong>não</strong> ofereceu nenhum título e nem adicionais.<br />

— Eu sou Greg Sanders, Alfa do Pride Central Sul. — meu pai aclarou a<br />

garganta e fez seu pronunciamento formal. — Ouçam isto e considerem-se<br />

avisados. Nós <strong>não</strong> matamos nenhum membro de seu Bando, nem assumimos<br />

responsabilidade pela morte dele e <strong>não</strong> pagaremos o preço por um crime que <strong>não</strong><br />

cometemos. O próximo Thunderbird que se mostrar nesta propriedade será<br />

baleado ao ser visto. — ele levantou a arma e mesmo de dentro da casa eu ouvi<br />

Neve respirar fortemente.<br />

Uma sensação de satisfação correu atrav<strong>é</strong>s de mim. Ela <strong>não</strong> tinha visto isso<br />

vindo!<br />

— Você tem que sair at<strong>é</strong> eu contar três ou eu farei você de exemplo.<br />

Olhei surpresa para Jace. Eu perguntei-me, quando o pássaro fêmea havia<br />

aparecido, se meu pai realmente atiraria nela. A maioria dos Toms morreria antes<br />

de machucar uma mulher de qualquer esp<strong>é</strong>cie. O protecionismo era arraigado<br />

neles desde o nascimento.<br />

— Um. — meu pai apontou a pistola apertando-a com as duas mãos e<br />

tirando a trava de segurança.<br />

Neve <strong>não</strong> fez movimento algum, então Marc lhe apontou a arma com<br />

tranquilizante.<br />

— Dois.<br />

Ela ainda se mantinha em p<strong>é</strong>, paralisada, então Lucas bateu o p<strong>é</strong> de cabra<br />

na palma de sua outra mão.<br />

— Três.<br />

Meu pai disparou a arma.<br />

Neve tentou decolar. A bala bateu em sua asa esquerda. Ela gritou e<br />

cambaleou para trás. Um rugido poderoso trovejou de cima. O próximo instante foi<br />

uma mancha de asas, garras e pele pálida contra a noite escura.<br />

Um Tom gritou.<br />

Lucas desapareceu.<br />

96


Capítulo 12<br />

Kaci gritou e bateu a janela da sala de jantar a minha direita. Na escada da<br />

frente, Marc virou a sua esquerda, a pistola tranquilizante levantada e pronta.<br />

Mas ele <strong>não</strong> tinha um tiro limpo. Meu pai mantinha sua pistola focalizada em<br />

Neve. Suas costas e seus ombros estavam tão tensos que eu tinha medo de que<br />

seus músculos se quebrassem como cordas esticadas.<br />

Tio Rick correu pela porta principal aberta para as escadas da varanda e fui<br />

atrás dele, olhando fixamente para a noite procurando por seu filho. Meu coração<br />

acelerou-se, exigindo ação. Ao inv<strong>é</strong>s disso, inalei uma respiração profunda e<br />

forcei-me a pensar.<br />

Uma lua crescente brilhava atrav<strong>é</strong>s da capa de nuvens, muito fraca para<br />

iluminar grande coisa e a luz das velas penetrava apenas alguns metros na<br />

escuridão. Os gritos enfurecidos de Lucas ecoavam de algum lugar a nossa<br />

esquerda e <strong>não</strong> muito alto, dando-nos sua direção geral. Mas <strong>não</strong> podíamos ajudálo<br />

se <strong>não</strong> pud<strong>é</strong>ssemos vê-lo.<br />

Aproximei-me da parte traseira da varanda coberta, fora do perigo imediato<br />

e fechei os olhos, já trabalhando em uma Mudança parcial. Somente meus olhos.<br />

O pássaro estava obviamente tendo problemas com Lucas (<strong>não</strong> era uma surpresa,<br />

considerando que meu primo Lucas devia ter quase o dobro de seu peso). Se eu<br />

pudesse encontrá-los antes que estivessem muito longe (ou muito alto para que<br />

Lucas sobrevivesse a uma queda), ainda poderíamos resgatá-lo.<br />

Escutei e senti meus colegas guardiões alcançarem a varanda e pude cheirar<br />

Jace a meu lado. Mas bloqueei tudo isso quando o <strong>primeiro</strong> raio de dor alcançou<br />

meus olhos.<br />

— Traga-o de volta agora ou vou disparar em sua outra asa. — advertiu meu<br />

pai e à distância me dei conta de que Neve <strong>não</strong> podia voar com um buraco no<br />

braço. Era, literalmente um alvo <strong>fácil</strong>.<br />

Agonia fresca lambeu a parte posterior de minhas pálpebras e meus olhos<br />

pareciam que iam explodir. Apertei os dentes e suportei a dor, concentrando-me<br />

no que podia escutar, na ausência da visão.<br />

Outro jogo de asas bateu o ar à distância, mas <strong>não</strong> era o captor de Lucas.<br />

Ainda podia escutar os gritos de meu primo (lentamente à deriva e cada vez mais<br />

longe) vindos de minha esquerda.<br />

— Fique onde está ou o deixaremos capenga tamb<strong>é</strong>m. — gritou Marc a quem<br />

quer que estivesse se aproximando e perguntei-me se as aves poderiam ainda<br />

escutá-lo por cima do ruído de seu próprio voo.<br />

A dor começou a suavizar atrás de meus olhos e levei um momento para<br />

agradecer que eles eram uma das partes mais rápidas que Mudavam (<strong>não</strong> há<br />

ossos, nem músculos longos e nem brotam pelos). Depois abri meus olhos de gato.<br />

97


Minhas novas pupilas verticais dilataram-se instantaneamente, captando cada<br />

pequeno pedaço de luz disponível. E logo podia ver na escuridão.<br />

No arco de grama que definia nosso meio-círculo, uma mulher nua,<br />

completamente humana sentou-se no chão frio, tremendo miseravelmente. Neve<br />

abraçou o braço esquerdo contra seu peito, dobrado como uma asa e jorrando<br />

sangue. Ela olhou para meu pai com ódio adjeto, com sua mandíbula apertada.<br />

A suas costas, outro pássaro planou diretamente para a confrontação, a luz<br />

da lua brilhava em suas penas escuras e brilhantes. Neve olhou para trás e para<br />

cima e o alívio apoderou-se dela. Ele vinha buscá-la, mas <strong>não</strong> ao limite de<br />

velocidade, <strong>não</strong> com a ameaça contínua dos disparos.<br />

Meu pai observou a lenta aproximação da nova ave, tenso e com fúria<br />

controlada. Marc olhou para Lucas, com a pistola de dardos tranquilizantes<br />

apontada na direção geral, a julgar pelos gritos de meu primo. Aproximei-me da<br />

meia dúzia de guardiões e olhei para o parapeito à esquerda. Lucas e seu captor<br />

estavam quase na árvore de maçã, voando muito devagar. O pássaro lançou-se em<br />

um mergulho enquanto Lucas lutava com ele, balançando seu p<strong>é</strong>-de-cabra e<br />

chutando furiosamente.<br />

Quando seus p<strong>é</strong>s roçaram os galhos mais altos, meu primo deixou de lutar.<br />

Ele vociferou um impressionante rugido e fincou a ponta da barra de aço no torso<br />

do pássaro. O Thunderbird gritou e sua respiração falhou. Lucas empurrou mais<br />

profundamente o p<strong>é</strong>-de-cabra. O pássaro gritou, soando quase humano. Suas<br />

garras abriram-se. Lucas caiu entre os galhos da árvore de maçã.<br />

Sim! Marc e meu tio olharam para cima do parapeito comigo, mas eles <strong>não</strong><br />

podiam ver tão longe na escuridão. Não com olhos humanos.<br />

— Lucas perfurou o pássaro. — sussurrei com urgência. — Caiu na árvore<br />

de maçãs, vivo, mas provavelmente ferido. O pássaro caiu em algum lugar depois<br />

da árvore.<br />

— Vamos. — tio Rick sussurrou para Marc. Depois saltou o parapeito da<br />

varanda com um movimento suave e ágil. Marc aterrissou junto a ele, ainda com a<br />

pistola de dardos tranquilizantes na mão e adentraram na noite.<br />

Observei a escuridão, à procura de outras aves, ou qualquer outro sinal que<br />

se tratasse de uma armadilha, mas <strong>não</strong> vi nada. Com um pouco de sorte, meu pai<br />

tinha razão: seus olhos <strong>não</strong> eram melhores na escuridão que os de um humano.<br />

— Para trás! — meu Alfa rugiu e virei-me para ver que o pássaro já tinha<br />

quase chegado a Neve.<br />

Corri pelas escadas at<strong>é</strong> chegar ao lado de meu pai.<br />

— Ele <strong>não</strong> pode ouvi-lo pelo vento que estão provocando. Dê-lhe um disparo<br />

de advertência.<br />

A boca de meu pai formou uma fina e irritada linha.<br />

— Não posso vê-lo bem o suficiente.<br />

— Então dispare nela de novo. — a mulher pássaro sentou-se entre uma<br />

piscina de luz que vinha das lanternas de dois diferentes guardiões. — Neutraliza<br />

a outra asa, para que ele entenda totalmente.<br />

98


Meu pai considerou por menos de um segundo. Depois disparou de novo.<br />

A bala roçou o braço direito da mulher pássaro. Neve gritou. O sangue saiu<br />

correndo da nova ferida, perfumando o ar da noite. A minhas costas, os Toms<br />

moveram seus p<strong>é</strong>s como se o cheiro alimentasse sua fúria, ameaçando<br />

transformar isso em desejo por derramamento de sangue. Em uma grande escala.<br />

Mas o segundo disparo cumpriu seu objetivo.<br />

— Neve! — o pássaro em voo bateu na terra na escuridão há muitos metros<br />

atrás dela, já plenamente humano, exceto por suas asas.<br />

— Estou bem Beck. — ela gritou, sem afastar o brilhante olhar negro de<br />

meu Alfa.<br />

— Não quero matá-la. — meu pai gritou para Beck. — Mas se você<br />

aproximar-se mais terei... — sua voz desvaneceu em um incômodo silêncio<br />

enquanto ao fundo o bater de asas no ar aumentou com um crescente trovão.<br />

Olhei para cima. Meu olhar de gato estreitou-se. Contive a respiração em minha<br />

garganta.<br />

— O que <strong>é</strong> que dizem sobre pássaros de pena? — Jace murmurou logo atrás<br />

de mim.<br />

— Voam juntos... — olhei para o c<strong>é</strong>u, tentando <strong>não</strong> entrar em pânico pelo<br />

grande número.<br />

— Quantos? — meu pai <strong>não</strong> se incomodou em falar em voz baixa; eles <strong>não</strong><br />

podiam escutar-nos por sobre o som de suas próprias asas.<br />

Olhei para a linha de enormes pássaros, fazendo uma estimativa rápida.<br />

— Quinze, sem contar com Neve, Beck ou o outro que pegou Lucas.<br />

— Isso <strong>é</strong> muito. — Bert Di Carlo disse, assumindo uma posição de<br />

retaguarda no lugar de Marc.<br />

— Sem mais armas? — meu pai assentiu firmemente. — Sim, <strong>é</strong>.<br />

Olhamo-nos em silêncio e tentei elaborar mentalmente um plano, certa de<br />

que meu pai e os outros Alfas estavam fazendo o mesmo. Segundos depois, todo o<br />

bando aterrissou atrás de Beck em uma graciosa e misteriosa aterrissagem atrás<br />

da outra. Ficaram a uns bons quatro metros e meio de distancia. A maioria tinha<br />

cabeças e torsos humanos, mas todos tinham deixado suas asas intactas, para<br />

uma decolagem rápida.<br />

Ao menos cinco eram mulheres, cabelos negros e longos que chegavam um<br />

pouco mais abaixo de seus muito atenuados torsos nus. Pareciam harpias,<br />

flexionando perversamente suas agudas asas-garras, e estalando com seus bicos<br />

fortes e curvos.<br />

Beck avançou lentamente em suas finas pernas humanas, desproporcionais<br />

em relação à parte de cima de seu corpo massivamente musculosa. Ele ajoelhouse<br />

atrás de Neve sem afastar o olhar de nós, depois se levantou, puxando-a para<br />

ele, aconchegando-a com óbvia familiaridade e afeto.<br />

— Se <strong>é</strong> mais sábio que as criaturas que comanda, aconselho-lhe que se<br />

rendam agora. — a voz de Beck era somente ligeiramente mais baixa e mais<br />

99


tolerável do que a de sua namorada. Ou sua esposa. Ou o que seja. — Seus<br />

homens morrerão rapidamente, tem minha palavra.<br />

Supõe-se que isso seja misericórdia?<br />

Meu pai eriçou-se e a fúria emanou dele em ondas que quase pude sentir.<br />

Mudou seu objetivo para a nova ameaça.<br />

— Partam agora ou começarei a disparar.<br />

— Que assim seja. — Beck soltou Neve e Mudou tão rápido que meus olhos<br />

<strong>não</strong> podiam dar sentido ao que viam. Meu pai levantou a arma ligeiramente,<br />

pronta para nos defender.<br />

Mas Beck somente agitou suas poderosas asas duas vezes, subindo vários<br />

metros no ar a cada batida e prendeu Neve pelos ombros com suas garras rec<strong>é</strong>mformadas.<br />

Ela gritou quando ele a levantou e mais sangue derramou-se das feridas em<br />

seus braços. Então os pássaros decolaram como um só e voaram na noite.<br />

Mas ao inv<strong>é</strong>s de desaparecer pouco a pouco em silêncio, o trovão de sua<br />

partida pôs fim a quase todos os sons de uma vez. Não tinham voado muito.<br />

Tinham aterrissado provavelmente no campo à frente, apenas fora do alcance de<br />

meus olhos de gato.<br />

A grama era triturada a minha esquerda e virei-me para ver Marc e meu tio<br />

Rick dirigindo-se para nós, ambos apoiando Lucas, que apoiava sua perna direita.<br />

Demos vários passos para trás para deixá-los passar e Marc me deu um sorriso<br />

sombrio.<br />

— Seu primo <strong>é</strong> bom com p<strong>é</strong>s-de-cabra. — então ele me saudou com a barra<br />

ensanguentada e seguiu para a casa com o gato ferido.<br />

O resto de nós seguiu-o e meu pai fechou a porta da frente. Não tinha<br />

trancado a casa desde a noite em que Luiz tinha estado vagando livremente em<br />

nossa propriedade. E mesmo assim, ele apenas trancou as mulheres, deixando-me<br />

para proteger Manx e minha mãe, enquanto o resto dos guardiões saía para caçálo.<br />

Mas isso era diferente. Isso era ser covarde. Parecia errado.<br />

— O que vamos fazer a seguir, pregar as janelas com madeira? — sussurrei,<br />

seguindo meu pai pelo corredor principal at<strong>é</strong> a porta de trás. — Realmente pensa<br />

que vão tentar entrar?<br />

— Não. — o fecho arranhou a madeira, depois se deslizou para seu lugar. —<br />

Com uma envergadura de mais de três metros estariam muito limitados para<br />

aproveitar suas qualidades. E <strong>não</strong> poderiam voar, o que praticamente os<br />

paralisaria. Mas <strong>não</strong> quero correr nenhum risco.<br />

— Nesse caso, talvez devêssemos convidá-los a entrar! — segui-o para a<br />

cozinha, onde minha mãe sorria com cansaço e deslizava a porta lateral para<br />

fechá-la.<br />

Papai assentiu para agradecer-lhe, depois olhou para Kaci (ela estava<br />

sentada em uma península de frente a uma vela aromática de baunilha, olhando<br />

um brownie) antes de dirigir-se a seu escritório.<br />

100


Queria segui-lo. Queria ser parte de qualquer decisão crítica que ele e os<br />

outros Alfas tomassem nos próximos minutos. Mas Kaci precisava de mim mais do<br />

que eu precisava expressar minha opinião.<br />

— Ei. — tirei um banco e sentei-me, sorrindo em agradecimento quando<br />

minha mãe colocou um copo de leite em frente a mim. — Como você está?<br />

— Bem. — Kaci partiu o brownie na metade, mas <strong>não</strong> fez qualquer<br />

movimento para comer nenhum dos dois pedaços. — Você?<br />

— Honestamente? — dei de ombros. — Estou um pouco assustada. Muito<br />

triste. Realmente irritada.<br />

Kaci olhou-me por vários segundos, depois assentiu solenemente: — Sim, eu<br />

tamb<strong>é</strong>m.<br />

— Então, o que acredita que devamos fazer?<br />

— Sobre os Thunderbirds?<br />

Bebi um gole de meu copo e depois o coloquei na bancada vendo sombras<br />

profundas crepitar na frente da geladeira.<br />

— Sim.<br />

Ela piscou surpresa, depois pareceu considerar e me dei conta de que<br />

ningu<strong>é</strong>m parecia ter lhe perguntado o que fazer antes. Ao menos, <strong>não</strong> sobre algo<br />

mais importante que o que queria para jantar.<br />

— Acho que deveríamos falar com eles, — disse afinal. — Não quero que<br />

ningu<strong>é</strong>m mais saia ferido.<br />

— Inclusive um deles?<br />

Ela assentiu lentamente, em seguida com mais confiança.<br />

— É tudo um mal entendido, certo? Acreditam que fizemos algo que <strong>não</strong><br />

fizemos e estão tentando nos castigar por machucar algu<strong>é</strong>m. Como nós vamos<br />

fazer por Ethan. — seus olhos lacrimejaram ao dizer seu nome e lutei para conter<br />

minhas próprias lágrimas. — Está correto?<br />

— Sim, suponho que seja um mal entendido. — um grande e sangrento caso<br />

de identidade trocada. — E concordo com você. Prefiro conversar sobre tudo isso.<br />

— temos dado e recebido mais mortes do que o suficiente nos últimos meses e<br />

ainda tem mais no horizonte. — Mas isso <strong>é</strong> difícil de fazer, considerando que eles<br />

<strong>não</strong> têm um líder e <strong>não</strong> podemos nos colocar em contato com a maioria de seu<br />

bando.<br />

Kaci começou a dizer algo, mas parou quando a voz de Michael chegou at<strong>é</strong><br />

nós do corredor.<br />

— Não. Holly, <strong>não</strong> dirija at<strong>é</strong> aqui. — ele parou, mas <strong>não</strong> podia escutar como<br />

ela respondera por sobre as vozes elevadas que vinham do escritório. — Sim, outra<br />

emergência familiar. Sinto muito, mas ficarei aqui durante a noite. Owen... caiu da<br />

parte da traseira do trator. — outra pausa. — Sim, ele ficará bem, mas <strong>não</strong> há<br />

nada que possa fazer por ele.<br />

Michael cruzou diante da ampla porta, levando uma vela vermelha em um<br />

suporte de cristal e depois reapareceu quase que de repente. Colocou seu dedo<br />

101


polegar sobre o receptor de seu celular e encontrou meu olhar, enquanto Holly<br />

enumerava suas objeções a seu ouvido. — Faythe, posso usar seu quarto? Preciso<br />

de um pouco de privacidade.<br />

Antes que pudesse responder, minha mãe tomou a palavra.<br />

— Manx está usando a ducha de Faythe. Use a suíte principal.<br />

Meu irmão deu um olhar de agradecimento, depois desapareceu pelo<br />

corredor.<br />

— Pobre Michael. — Kaci franziu a testa por ele. — Não sei como a mant<strong>é</strong>m<br />

tranquila para que <strong>não</strong> imagine outras coisas.<br />

Michael era o único <strong>Werecat</strong> que conhecia que tinha se casado com um<br />

humano. Como <strong>não</strong> havia Tabbies suficiente para todos, a maioria dos Toms se<br />

conformou em sair com mulheres humanas. Mas meu irmão mais velho queria<br />

algo mais (algu<strong>é</strong>m para amar por mais que alguns meses) e Holly tinha parecido a<br />

escolha perfeita. Ela amava Michael e graças a seu trabalho (ela era uma modelo<br />

de passarela) passava quase tanto tempo fora como em casa. O que era bom,<br />

porque quando Michael <strong>não</strong> estava praticando advocacia, estava no rancho.<br />

Mas quando ela estava em casa, Holly queria estar com seu marido e ele <strong>não</strong><br />

tinha estado disponível a maior parte dos meses anteriores, ajudando-nos a lidar<br />

com um desastre atrás do outro.<br />

— Não tenho ideia. Mas <strong>é</strong> mais provável que ela acredite que ele a está<br />

enganando do que acreditar que ele esteja se convertendo em um enorme gato<br />

negro em seu tempo livre — bebi outro gole de meu copo e enquanto a porta de<br />

meus pais se fechou, a voz de meu pai me levou at<strong>é</strong> a porta aberta do escritório do<br />

outro lado da sala.<br />

— O que temos feito <strong>é</strong> mostrar a eles e a nós mesmos que podemos<br />

combatê-los, mesmo que seja somente por m<strong>é</strong>todos <strong>não</strong> tradicionais.<br />

— Sim, isso seria magnífico... — Taylor começou e, em sua pausa, escutei o<br />

tilintar característico de vidro sobre vidro. — Se tiv<strong>é</strong>ssemos algo mais do que meia<br />

caixa de munição e uma pistola.<br />

Ao menos eles estão levando-nos a s<strong>é</strong>rio agora, pensei, então voltei minha<br />

atenção para Kaci.<br />

— ...acredita que ela vai morrer? — ela estava dizendo quando me<br />

concentrei nela. — A garota pássaro?<br />

— Não. — sacudi minha cabeça decisivamente enquanto ela mordia seu<br />

brownie. — Aposto que as balas entraram por um lado e saíram pelo outro. E<br />

considerando o quão rápido os Thunderbirds Mudam, provavelmente saram ainda<br />

mais rápido que nós.<br />

Isso era um problema que eu <strong>não</strong> tinha considerado antes. <strong>Ser</strong>ia terrível<br />

estar cara a cara com uma saudável e rec<strong>é</strong>m-zangada Neve em poucas horas.<br />

— ...<strong>não</strong> podia levar Lucas muito longe ou muito alto... — disse Di Carlo do<br />

outro lado da sala.<br />

102


— Sim, mas Luke pesa quase cento e quarenta quilos. — meu tio replicou.<br />

— São bons vinte e três quilos a mais que o homem mais alto daqui e mais de<br />

trinta em relação aos outros.<br />

Sim e se <strong>não</strong> estivessem distraídos pela arma, os pássaros certamente<br />

teriam duplicado a equipe com ele como fizeram com Charlie...<br />

— ...pegou a arma de qualquer forma? — Kaci perguntou e eu estava ficando<br />

zonza por tentar manter duas conversas de uma vez. — Pensei que os que Mudam<br />

<strong>não</strong> utilizassem armas de fogo.<br />

— Era a que Manx disparou em Jace. — mas <strong>não</strong> me dei conta do que<br />

realmente tinha dito at<strong>é</strong> que minha mãe fez cara feia por cima do balcão,<br />

congelada no ato de enxugá-lo.<br />

Os olhos castanho-claros de Kaci ampliaram-se horrorizados.<br />

— Manx disparou em Jace?<br />

Amaldiçoei em silêncio por <strong>não</strong> ter prestado toda minha atenção. Essa era<br />

provavelmente uma das coisas que uma garota de treze anos de idade <strong>não</strong><br />

precisava escutar. Ao menos, <strong>não</strong> sem a história completa.<br />

— Foi um acidente. Ela estava apontando... para um cara mau atrás de<br />

mim, mas Jace pensou que fosse um ataque contra mim. Então ele pulou em<br />

minha frente e tomou o tiro.<br />

Mesmo que <strong>não</strong> parecesse possível, seus olhos ampliaram-se ainda mais e<br />

voltaram-se vítreos no que apenas poderia ter sido adoração total.<br />

— Jace tomou um tiro por você?<br />

— Humm... Sim. — na verdade ele tinha tomado o tiro por Luiz, mas <strong>não</strong> ia<br />

subtrair a importância de seu heroísmo, ele estivera disposto tomar o tiro por<br />

mim. E ainda estava. Jace teria feito qualquer coisa por mim e todos na casa<br />

sabiam.<br />

Mas Marc tamb<strong>é</strong>m teria feito.<br />

Eu estivera olhando o brownie dela quando me perdi em meus próprios<br />

pensamentos e Kaci confundiu minha desordem emocional com fome.<br />

— Aqui. — empurrou o prato e a metade de seu lanche para mim. — É o<br />

último. Pegue-o.<br />

Forcei um sorriso.<br />

— Obrigada. — mas enquanto eu mastigava, a voz de Marc veio at<strong>é</strong> mim do<br />

escritório.<br />

— ...ela <strong>não</strong> vai fazer isso.<br />

— Não cabe a ela decidir. — meu pai disse e deixei cair o resto do brownie<br />

no prato.<br />

— Um momento... — murmurei e depois desci do banco, movimentando-me<br />

rapidamente pelo corredor escuro e entrando no escritório sobre luz de velas.<br />

Estavam falando de Manx ou de Kaci, pensei enquanto passava por Jace e entrava<br />

103


no cômodo. Mas <strong>não</strong> era verdade. Dei-me conta pela forma que todos me olharam,<br />

com os olhos sombreados de forma idêntica na penumbra.<br />

— O que <strong>não</strong> me cabe decidir? — exigi, no tom mais respeitoso que pude.<br />

Meu pai suspirou e levantou de sua cadeira.<br />

— Podemos lutar contra eles, mas <strong>não</strong> vai ser lindo. <strong>As</strong>sim quero que leve<br />

Kaci, Manx e Des para algum lugar onde possam estar seguras at<strong>é</strong> que isto<br />

termine.<br />

Não! Mas gritar com meu Alfa, especialmente na frente de seus<br />

companheiros, somente deixaria as coisas piores. Portanto, respirei<br />

profundamente e reorganizei-me enquanto todos me observavam, esperando os<br />

fogos de artifício.<br />

— Eu realmente preferiria ficar e lutar. Outra pessoa <strong>não</strong> poderia levá-las?<br />

— Teo ofereceu-se para ir com você. — Di Carlo disse. — Mas precisaremos<br />

de todo mundo aqui para lutar.<br />

Dei uma olhada em Mateo, mas estava ostensivamente absorvido na limpeza<br />

de suas unhas. Eu nunca soube que Mateo Di Carlo escondera-se de uma luta;<br />

Vic e seu irmão eram muito parecidos a esse respeito. Mas ele poderia nunca ter<br />

outra oportunidade de passar tanto tempo quase a sós com Manx. Ele estava<br />

disposto a perder a ação para ter uma oportunidade de convencê-la de que estaria<br />

melhor com ele do que com Owen.<br />

A maioria dos Toms nunca teve a oportunidade de aprender a ser sutis com<br />

seus afetos.<br />

— Papai... — disse, mas detive-me quando seus olhos me suplicaram<br />

silenciosamente.<br />

— Faythe, sendo completamente honesto, <strong>não</strong> pode lutar com um braço<br />

quebrado e queremos enviar algu<strong>é</strong>m em quem as Tabbies confiem. Essa <strong>é</strong> você.<br />

Não estamos tentando desfazer-nos de você ou mesmo protegê-la. Dependemos de<br />

você para protegê-las.<br />

Essa era a verdade; pude ver. Mas era somente uma meia verdade. Ele<br />

estava tentando me proteger.<br />

— Não estarão em perigo. — insisti. — Os pássaros devem nos deixar fora do<br />

caminho, de qualquer maneira, de forma que provavelmente nos deixarão sair do<br />

rancho, sem sermos incomodadas.<br />

Meu pai assentiu solenemente.<br />

— Isso <strong>é</strong> o que esperamos. Mas só para garantir, acreditamos que Teo e você<br />

são mais bem preparados para defendê-las.<br />

Ok, ele tinha um ponto ali. Mateo estava apaixonado por Manx, ao menos<br />

ele pensava que estava e eu daria minha própria vida para manter Kaci a salvo.<br />

— Não posso lhe convencer do contrário, certo?<br />

— Desejaria que <strong>não</strong> tentasse. — meu pai disse. Então assenti uma vez.<br />

Decididamente.<br />

104


— Tudo bem. Eu vou. — juro que cada sobrancelha da sala se levantou e<br />

alguns queixos caíram. Eles <strong>não</strong> tinham que parecer tão surpresos. Eu <strong>não</strong> era<br />

uma mulher ranzinza, era? — Aonde vamos?<br />

— Se <strong>não</strong> fosse uma viagem tão longa (e atrav<strong>é</strong>s da zona livre) a enviaríamos<br />

ao território de Bert. — Humberto Di Carlo construiu seu território a partir de um<br />

subúrbio ao norte de Atlanta. Mas como Manx era ilegal e <strong>não</strong> tinha identidade,<br />

<strong>não</strong> podíamos voar. — Por agora, vá para o norte at<strong>é</strong> Henderson e consiga um<br />

quarto. Estaremos em contato com planos mais concretos logo. — felizmente,<br />

todos nós mantínhamos baterias reservas recarregadas para os telefones<br />

celulares, só por garantia. Uma lição que tínhamos aprendido da maneira mais<br />

difícil.<br />

— Ok. — eu disse e meu pai deu um suspiro de alívio. Voltei para o corredor<br />

para ver Kaci na porta, agarrada a sua vela aromática. — Faça as malas, Gata.<br />

Nós vamos viajar.<br />

105


Capítulo 13<br />

Manx estava saindo da ducha quando cheguei a meu quarto, então eu a<br />

informei enquanto ela parava no meio do meu chão, com o cabelo jogado sobre o<br />

robe como costuma fazer sempre, sombras saltando e movendo-se sobre seu rosto.<br />

Ela ouvia com suas sobrancelhas escuras franzidas para baixo, a boca uma linha<br />

sombria e reta.<br />

A centelha de irritação nos olhos dizia que ela preferia ficar e lutar, mas a<br />

contração em seu braço (como se ela quisesse segurar seu bebê), disse que ela<br />

sabia que <strong>não</strong> poderia proteger o filho sozinha.<br />

Eu <strong>não</strong> podia suportar vê-la tão... impotente. Dependente. E eu sabia muito<br />

bem o quão perto eu tinha estado de compartilhar sua sorte. Ou pior.<br />

Manx limpou a garganta e me forcei a encarar seu sofrimento silencioso.<br />

— Vinte minutos. Vou fazer as malas. — então ela se foi.<br />

Empurrei o essencial em minha bolsa, depois peguei a vela e dirigi-me para<br />

o quarto de hóspedes para encontrar Kaci. A caminho, parei na porta do banheiro<br />

de hóspedes, onde Lucas estava sentado em uma cadeira de bar trazida da<br />

cozinha. Minha mãe estava envolvendo o tornozelo que estava apoiado no assento<br />

do vaso sob a luz de diversas velas, enquanto Brian Taylor aplicava uma pomada<br />

clara e pegajosa sobre os ombros de meu primo. Que pareciam como se tivessem<br />

sido quase arrancados de seu corpo.<br />

Três talhos profundos atravessavam toda sua pele profundamente abaixo de<br />

cada clavícula onde as garras o pegaram e um quarto que aparentemente tinha<br />

sido impulsionado atrav<strong>é</strong>s de suas duas omoplatas, completando o estrago feito<br />

pelo pássaro em suas costas.<br />

— Porra, Lucas! — eu coloquei a bolsa no corredor e fui para o banheiro<br />

para olhar mais de perto. Minha mãe franziu a testa ante minha grosseria, mas<br />

<strong>não</strong> levantou a vista de seu trabalho.<br />

— Sim. — Lucas olhou seu reflexo e depois para mim. Mesmo sentado no<br />

banco, era uns bons 15 centímetros mais alto do que eu. — Parece desagradável,<br />

hein? — ele demonstrou medo quando Brian trabalhou em seu ombro esquerdo.<br />

— Levaram Kaci muito mais alto e mais longe do que você. Como ela <strong>não</strong><br />

ficou assim? — perguntou Brian, passando mais pomada na pele rasgada com<br />

bolas de algodão.<br />

106


— Porque Kaci pesa cerca de um terço menos do que Lucas. — minha mãe<br />

acabou o invólucro e fechou-o com um clipe de metal em forma de borboleta. —<br />

Então era um peso muito menor para puxar contra suas garras.<br />

— Isso e o fato que eles a pegaram pelo braço ao inv<strong>é</strong>s do ombro. — eu<br />

acrescentei. — E eles estavam tentando <strong>não</strong> machucá-la, enquanto que com Lucas<br />

eles planejavam provavelmente uma queda de 15 metros.<br />

Minha mãe ficou de p<strong>é</strong> e cuidadosamente pôs os p<strong>é</strong>s dele no chão.<br />

— Você terá que Mudar algumas vezes antes de... sair. — seu rosto ficou<br />

pálido com o pensamento da luta que estava por vir, mas sua expressão<br />

continuava determinada. Forte. — Mas esclareça isso com o m<strong>é</strong>dico <strong>primeiro</strong>. Os<br />

ombros podem <strong>não</strong> suportar seu peso por um tempo.<br />

Disparei a meu primo um olhar simpático e depois continuei pelo corredor.<br />

Mas eu só caminhei três metros antes que a voz de Mateo me chamasse à atenção<br />

e eu parei fora do quarto de Manx. Eu <strong>não</strong> deveria ter escutado. A porta fechada<br />

dizia que queriam privacidade e os sussurros ansiosos apenas ressaltavam este<br />

fato. Mas do outro lado do corredor, Owen estava dormindo com sua última dose<br />

de analg<strong>é</strong>sicos e mesmo que Manx e Teo <strong>não</strong> fossem da minha conta, eram da<br />

conta de meu irmão. Então eu disse a mim mesma que estava escutando por ele.<br />

— ...aqui <strong>não</strong> <strong>é</strong> mais seguro e nossas portas estarão sempre abertas para<br />

você. Você tem opções, Mercedes. Você <strong>não</strong> tem que ficar aqui só porque foi aqui<br />

que aterrissou, ou porque você se sente na obrigação com eles.<br />

Uma gaveta da cômoda fechou-se.<br />

— Eu gosto daqui. — Manx disse em um breve e firme discurso.<br />

— Sei disso. Só quero que saiba que ficaríamos felizes em tê-la conosco. Eu<br />

ficaria feliz em tê-la comigo. Posso cuidar de você, Manx. De você e de Des.<br />

Seus passos pararam e eu a imaginava olhando para o chão, as roupas na<br />

mão enquanto ela pesava o que era melhor para seu filho contra o que era melhor<br />

para seu coração.<br />

— Sim. — ela disse, finalmente. — Eu acho que você pode.<br />

Isso foi tudo que eu pude escutar.<br />

Sim, Manx tinha opções, mas às vezes escolher por si mesma era tão difícil<br />

quanto aceitar a escolha de outra pessoa para você.<br />

Vinte e quatro minutos mais tarde, saímos pela porta dos fundos, as<br />

mulheres no centro. Kaci levava uma mochila cheia e embalava um adormecido<br />

Des, que felizmente <strong>não</strong> sabia do perigo que estávamos a ponto de levá-lo. Eu<br />

tinha meu velho saco de livros da faculdade e, logo atrás de nós, Mateo Di Carlo<br />

carregava a bolsa de Manx sobre um ombro e sua própria bolsa menor no outro.<br />

107


Meu coração doeu quando abracei minha mãe. Não tínhamos certeza se ela<br />

estava sob o comando de Malone de separar as mulheres, porque ela <strong>não</strong> estava<br />

mais em idade f<strong>é</strong>rtil e era casada. Meu pai tentou convencê-la a vir conosco, só por<br />

precaução, mas ela recusou-se obstinadamente.<br />

— Tem certeza de que <strong>não</strong> quer vir? — sussurrei enquanto eu me agarrava a<br />

ela. — Você sabe como sou impulsiva e teimosa. Eu poderia usar você para me<br />

manter na linha.<br />

Minha mãe riu e afastou-se para que ela pudesse ver meu rosto.<br />

— Você vai superar a impulsividade e você herdou a teimosia de mim. Não<br />

importa o que diga seu pai. — ela lançou um olhar carinhoso por cima de meu<br />

ombro para ele. — Mas tenho que ficar aqui.<br />

O jeito como ela me olhou fixamente, de forma significativa, e a forma como<br />

ela pronunciou sua frase seguinte, enviou violentos calafrios a minha espinha<br />

dorsal.<br />

— Agora, vá e diga adeus ao seu pai.<br />

<strong>As</strong>senti com a cabeça, sem deixar de olhá-la nos olhos. Tentando <strong>não</strong><br />

entender a mensagem que ela me enviava. Mas tudo era muito claro.<br />

O homem com a arma seria o <strong>primeiro</strong> e mais óbvio alvo. Minha mãe estava<br />

preocupada porque havia uma boa probabilidade de que esta pudesse ser a última<br />

luta de meu pai.<br />

Eu pisquei para conter as lágrimas e voltei-me para abraçar meu pai, bem<br />

ciente de que este era diferente de qualquer outro adeus que tínhamos<br />

compartilhado.<br />

— Tenha cuidado. — eu sussurrei, respirando o cheiro de couro, caf<strong>é</strong> e loção<br />

pós-barba que eu sempre associei com segurança e autoridade, mesmo que às<br />

vezes me irritasse sob o jugo dos dois.<br />

— Eu ia dizer o mesmo a você.<br />

— Se vocês fizerem bastante barulho, ficaremos bem. — mostrei-me<br />

confiante, embora eu estivesse longe de estar segura.<br />

— Oh, nós vamos fazer muito barulho. — prometeu Jace e voltei-me para<br />

abraçá-lo, tamb<strong>é</strong>m, apertando-o um segundo al<strong>é</strong>m do que eu deveria. Então eu fui<br />

abraçar Michael, Vic, Parker e Brian. E eu disse adeus a Owen em seu quarto,<br />

onde a frustração brilhou como lágrimas em seus olhos.<br />

Ele odiava perder as lutas quase tanto quanto eu, mas já tinha dado o golpe<br />

e nos dado nosso prisioneiro. E sem Kai, <strong>não</strong> saberíamos o suficiente para sequer<br />

pensar em lutar contra os membros de seu Bando.<br />

Então eu o beijei e o chamei de meu herói. Então eu ordenei-lhe que ficasse<br />

na cama e se recuperasse.<br />

108


— Faythe... — Marc começou quando eu o encarei, a última de minhas<br />

despedidas. Mas ele <strong>não</strong> tinha que dizer mais nada. Despedimo-nos um do outro<br />

com muita frequência nos últimos meses e deixá-lo de novo era a última coisa que<br />

eu queria fazer.<br />

— Tenha cuidado. — fiquei na ponta dos p<strong>é</strong>s para beijá-lo e deixei que o<br />

contato se prolongasse um pouco mais do que normalmente faria na frente de<br />

uma plateia. — Cuide de meu pai.<br />

— Você sabe que eu cuidarei.<br />

E eu sabia. O papel de Marc na próxima luta era proteger seu Alfa: o homem<br />

com a arma de fogo. E, de fato, seria provavelmente mais <strong>fácil</strong> para eles sem mim<br />

por lá para que eles se preocupassem. Não importa quão longe eu avance em<br />

meus treinos, <strong>não</strong> importa quão bem eu lute em qualquer das formas, sempre<br />

havia algu<strong>é</strong>m tentando me defender. Colocando-o e aos outros em risco<br />

desnecessário desta forma.<br />

— Vejo vocês em breve. — eu o apertei mais forte.<br />

Ele sorriu.<br />

— Eu apostaria minha vida nisso.<br />

Meu pai limpou a garganta.<br />

— Estão todos prontos?<br />

— Onde está Manx? — olhei a pequena multidão e vi-a sair do quarto de<br />

Owen. Ela corou quando notou que estávamos observando, então seu passo<br />

acelerou e se tornou mais confiante.<br />

— Estamos prontos? — ela pegou Des quando Kaci o colocou nas mãos dela,<br />

obviamente consciente dos olhos focados nela. Incluindo os de Mateo.<br />

— Estamos. — tão preparados quanto poderíamos estar, de qualquer<br />

maneira.<br />

Meu pai deu um passo adiante, segurando a arma e apontou para a<br />

esquerda. Os meninos (todos, exceto Mateo) dirigiram-se para a porta principal.<br />

Meu pai virou-se para mim uma última vez.<br />

— Carey Dodd já está no local esperando vocês. Você tem o número dele,<br />

certo?<br />

— Sim. — eu gravei no meu celular, só para garantir.<br />

— Bom. Mesmo que eles compreendam o que está se passando, eu <strong>não</strong> acho<br />

que os pássaros segui-las-ão na floresta, mas mantenham os ouvidos abertos, em<br />

todo caso.<br />

— Faremos isso. — Kaci disse, segurando uma lanterna pequena e meu pai<br />

por um momento sorriu.<br />

109


— Liguem-me logo que cheguem ao carro. — ele disse e eu assenti, com uma<br />

mão na maçaneta da porta. — Espere o sinal de sua mãe. — advertiu, então<br />

correu pelo corredor escuro para se juntar ao resto dos homens.<br />

— Muito bem, vamos lá. — meu pai abriu a porta da frente.<br />

Meu pulso estava acelerado e eu me perguntei se a audição dos pássaros era<br />

boa o suficiente para ouvi-lo.<br />

Meu Alfa saiu para a varanda, com a arma pronta. Marc e Vic ficaram um<br />

em cada lado dele, Jace e Parker depois deles. Cada <strong>guardião</strong> tinha uma arma<br />

rudimentar e porque eles estavam todos apaixonados pela abordagem espetá-losno-meio-do-voo<br />

de Lucas, todas as armas tinham pelo menos uma ponta afiada.<br />

O plano era simples: os meninos fariam um pouco de escândalo, exigindo<br />

que as aves restaurassem a energia. Não havia uma maldita chance de isso<br />

acontecer, mas esperávamos que provocasse distração suficiente para nos<br />

esgueirarmos pela porta dos fundos para a floresta, sem que as aves se dessem<br />

conta. Era um risco dos infernos, mas estávamos sem opções.<br />

— Beck! — gritou meu pai da varanda da frente e, atrav<strong>é</strong>s das janelas, eu vi<br />

o brilho da lanterna de algu<strong>é</strong>m, marcando o c<strong>é</strong>u como um refletor. — Precisamos<br />

conversar!<br />

Por um momento houve apenas silêncio, quebrado apenas pelo pulsar<br />

selvagem de nosso medo e eu tive certeza de que nosso pequeno truque seria um<br />

fracasso. Manx, Des e Kaci seriam apanhados aqui com o resto de nós em perigo<br />

uma vez que a verdadeira luta começasse.<br />

Mas, então, aquele rugido muito familiar de asas irrompeu da frente da<br />

propriedade e eu suspirei de alívio. Eles estavam vindo.<br />

O ruído de sua aproximação serviria para esconder os sons de nossa saída,<br />

mas <strong>não</strong> poderíamos nos dar ao luxo de começar a correr para a floresta at<strong>é</strong> que<br />

todos os pássaros tivessem aterrissado, porque a visão deles, embora <strong>não</strong> fosse tão<br />

boa na escuridão como a nossa, era muito melhor que sua audição e eles<br />

facilmente poderiam nos ver sair.<br />

Então esperamos e observei a escuridão com meus olhos de gato enquanto<br />

minha mãe olhava com ansiedade atrav<strong>é</strong>s da janela da frente. Quando o vento<br />

batendo finalmente desapareceu e o último dos pássaros bateu no chão, meu pai<br />

começou seu discurso. E minha mãe freneticamente acenou com a mão por trás<br />

das costas.<br />

Esse era nosso sinal.<br />

O pulso de Kaci disparou. Eu coloquei uma das mãos em seu ombro e<br />

gesticulei para que ela apagasse a luz. Ela desligou a lanterna, então empurrou<br />

para dentro do bolso para garrafa de água em um dos lados da mochila enquanto<br />

eu lenta e cuidadosamente abria a porta de trás.<br />

110


A porta <strong>não</strong> rangeu; at<strong>é</strong> agora, tudo bem.<br />

A porta de tela era a próxima e eu fiquei gelada quando ela rangeu na<br />

metade da abertura. Minha mamãe congelou depois se inclinou para olhar pela<br />

janela de novo para ver se algu<strong>é</strong>m tinha notado. Estou certa de que todos os gatos<br />

ouviram, mas se os pássaros notaram, ela <strong>não</strong> viu nenhum sinal. Ela nos deu o<br />

sinal novamente e eu abri o restante da porta, aliviada quando ela abriu em<br />

silêncio.<br />

Mateo foi o <strong>primeiro</strong> a sair, com Manx e o bebê em seus calcanhares.<br />

Desceram as escadas de concreto nas pontas dos p<strong>é</strong>s, em seguida, dispararam<br />

pela grama seca em direção à floresta. Kaci apenas um segundo atrás de Manx e<br />

eu fui bem atrás dela após deixar a porta para minha mãe fechar depois de termos<br />

alcançado as árvores, de forma que o rangido da porta se fechando <strong>não</strong> nos<br />

delataria antes de termos alcançado uma relativa segurança.<br />

Meu pulso batia enlouquecido em meus ouvidos enquanto eu corria, tendo o<br />

cuidado de permanecer apenas alguns passos atrás de Kaci.<br />

Teo chegou à linha de árvores <strong>primeiro</strong>, depois parou para fazer Manx ir à<br />

frente. Des então reclamou, mas foi muito surpreendido pela estrada esburacada<br />

para ficar choramingando, graças a Deus. E no momento em que ela entrou na<br />

floresta, Manx estava com sua chupeta na mão para silenciá-lo.<br />

Quando Kaci chegou às árvores, eu parei e virei-me para garantir que<br />

ningu<strong>é</strong>m tinha nos visto. Eu ainda podia ouvir meu pai gritando e ouvir o chiado<br />

ocasional da resposta de um pássaro, mas <strong>não</strong> havia ningu<strong>é</strong>m à vista. Estávamos<br />

em segurança, pelo menos at<strong>é</strong> aqui.<br />

Eu acenei para minha mãe e ela balançou a cabeça e fechou a porta de tela.<br />

Caminhei para a floresta quando ela ficou silenciosa e deixei escapar um rápido<br />

suspiro de alívio. Então me virei e corri at<strong>é</strong> alcançar os outros.<br />

— Quem <strong>é</strong> Carey Dodd? — Kaci sussurrou enquanto eu caminhava ao lado<br />

dela. Dês estava sugando pacificamente sua chupeta a nossa frente, onde Manx e<br />

Teo andavam lado a lado.<br />

— Um dos membros do Pride. — eu disse, com o cuidado de manter minha<br />

voz baixa. Nós ainda <strong>não</strong> estávamos fora de perigo. Literalmente. — Ele <strong>não</strong> <strong>é</strong> um<br />

<strong>guardião</strong>. — meu pai tinha arranjado para que ele nos pegasse a três quilômetros<br />

da fazenda, em uma estrada que cortava a floresta atrás de nossa propriedade,<br />

esperançosamente longe o suficiente para que os pássaros <strong>não</strong> pudessem ver ou<br />

ouvir o motor do carro. Dodd ia nos levar ao Henderson e ficaria como proteção<br />

adicional para Manx e Kaci. Nós <strong>não</strong> iríamos nos arriscar de forma alguma.<br />

Porque nós estávamos em forma humana (e somente eu poderia mudar<br />

meus olhos) a caminhada durou cerca de uma hora e a primeira metade foi a mais<br />

difícil at<strong>é</strong> agora. Kaci e Manx tropeçaram muitas vezes e Teo e eu lutamos para<br />

111


segurá-las, at<strong>é</strong> que finalmente Manx entregou o bebê adormecido ao gato, que era<br />

muito mais acostumado a andar pela mata no escuro.<br />

Quando estávamos longe o suficiente da casa, decidi que estava seguro o<br />

suficiente para arriscar um pouco de luz e a caminhada ficou um pouco mais <strong>fácil</strong><br />

com duas lanternas iluminando o caminho.<br />

Quando as árvores começaram a ficar mais finas, eu liguei para o celular de<br />

Dodd e o fiz ligar seu motor. Nós utilizamos o som para nos guiar nos últimos<br />

metros e ficamos aliviados por sair da floresta a menos de seis metros do veículo a<br />

nossa espera.<br />

Dodd saltou do banco do motorista da caminhonete e correu para abrir a<br />

porta traseira para Manx e Kaci. Kaci entrou <strong>primeiro</strong>, em seguida pegou o bebê<br />

enquanto Manx sentava-se no meio do assento. At<strong>é</strong> pararmos para colocar um<br />

assento de bebê para Dês, ela teria que levá-lo no colo.<br />

Teo sentou-se ao lado de Manx e fechou a porta e eu sentei-me na frente<br />

com Dodd.<br />

— Obrigado pela carona. — eu disse, colocando o cinto de segurança.<br />

— Sem problemas. — ele mudou de marcha e depois colocou o carro na<br />

estrada de forma segura. — Demos sorte por eu <strong>não</strong> estar patrulhando esta noite.<br />

Nós tivemos sorte mesmo. Caso contrário, nossa caminhada teria sido muito<br />

mais longa.<br />

Um quilômetro mais tarde, eu mudei meus olhos de novo, depois liguei para<br />

meu pai.<br />

— Ei. — eu disse quando ele respondeu. — Tudo ocorreu sem problemas.<br />

— Ótimo. Ligue ao chegar ao Henderson. Estamos reunindo armas e<br />

pretendemos fazer o <strong>primeiro</strong> ataque em cerca de uma hora.<br />

Pela primeira vez, eu <strong>não</strong> tinha ideia do que dizer. Tudo que eu podia pensar<br />

(tome cuidado, fique atento com a Mamãe) pareceu um pouco óbvio. Nada que um<br />

Alfa precisasse ouvir. Então engoli o nó na garganta do tamanho de uma uva e lhe<br />

disse a verdade: — Eu amo você, papai.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m te amo, gatinha. Cuidado com eles.<br />

— Terei. Pode dizer ao Marc que eu o amo?<br />

Ele riu, um som de verdadeira diversão quando eu realmente precisava ouvir<br />

exatamente isso.<br />

— Ele já sabe.<br />

Despedimo-nos de novo e deslizei meu telefone para meu bolso, então me<br />

virei para aceitar a roda de ferro que Manx me deu. Kaci estava sentada no meio<br />

com um martelo.<br />

112


— Ei, cuidado...<br />

— Oh merda. — Dodd pisou nos freios. A caminhonete começou a derrapar.<br />

Teo estendeu uma das mãos para proteger Manx e Des. Kaci colidiu com a traseira<br />

do assento do motorista. Eu voei para frente, então meu cinto de segurança<br />

pressionou fortemente contra meu quadril.<br />

Surpresa, eu afundei em meu assento e gritei. 15 metros à frente e<br />

aproximando-se a cada segundo, o maior Thunderbird que já vi vinha justamente<br />

sobre nós, iluminado de baixo por nossos faróis. Suas garras pegaram algo<br />

grande, escuro e obviamente pesado.<br />

Antes que Dodd pudesse mudar de direção, o pássaro abriu suas garras<br />

diretamente em cima de nós. O que quer que ele estivesse carregando bateu no<br />

capô da caminhonete.<br />

Nós todos gritamos. A caminhonete desviou. Eu me sacudia violentamente<br />

de um lado para outro enquanto Dodd tentava controlar o veículo. E eu só<br />

conseguia olhar para a enorme pedra enterrada profundamente no capô, cravando<br />

a grossa rocha que estava carregando.<br />

A caminhonete desviou para a esquerda. Dodd compensou em demasia.<br />

Desviamos para a direita e eu descansei meu braço bom contra o painel. Dodd<br />

desviou novamente. A caminhonete saiu da estrada e bateu de frente em uma<br />

árvore no início da floresta.<br />

Por um momento houve um silêncio estranho, surpreso. Então Des começou<br />

a gritar. Eu levei um segundo para avaliar minhas lesões (um caroço formava-se<br />

ao lado de minha cabeça) então virei-me para verificar os outros.<br />

— Vocês estão bem?<br />

Manx balançou a cabeça, atordoada, com uma das mãos acariciando a<br />

criança que gritava. Kaci olhou por trás da mochila em seu colo e depois de um<br />

momento de reflexão, assentiu tamb<strong>é</strong>m.<br />

— Eu acho que sim...<br />

Foi quando a porta do lado de Teo foi completamente arrancada do carro.<br />

113


Capítulo 14<br />

Kaci gritou quando uma feroz cabeça de meio pássaro apareceu onde a<br />

porta estava um momento antes. Mãos humanas anexadas a braços longos e<br />

musculosos arrastaram Teo para fora do carro e jogaram-no no chão. Manx<br />

gritava e batia no pássaro com a mão direita, enquanto sua mão esquerda<br />

segurava o bebê que chorava.<br />

O Thunderbird fazia estranhos e agressivos chiados profundamente em sua<br />

garganta de aparência humana, puxando o braço de Manx. Mas ela ainda estava<br />

presa no cinto de segurança e ele <strong>não</strong> conseguia alcançar a trava.<br />

Destravei meu cinto de segurança e então me inclinei para dar um murro no<br />

intruso com minha mão boa. Dodd tentava alcançar Manx, mas estava muito<br />

longe no assento do motorista. Eu só percebi que ele havia saído do carro quando<br />

a porta se fechou.<br />

Um segundo depois, Teo rugiu e o Thunderbird foi arrastado de volta para<br />

fora do meu alcance. Dodd empunhava uma alavanca e arreganhou os dentes<br />

para o pássaro, que rapidamente mudou pela metade no apertão de Teo. Os três<br />

caíram na grama fresca, em uma confusão violenta de grunhidos.<br />

Eu tateei para encontrar a maçaneta da porta com a mão esquerda<br />

machucada, olhando fixamente sobre o encosto de meu assento para Manx.<br />

— Você está bem?<br />

Manx <strong>não</strong> respondeu. Ela estava inclinada sobre o bebê, protegendo-o com<br />

sua própria vida. Ela ergueu suas costas. Escutei soluços e vi lágrimas, mas <strong>não</strong><br />

senti cheiro de sangue nenhum, <strong>não</strong> de Manx de qualquer forma.<br />

Então olhei para Kaci, bem a tempo de ver a jovem Tabby empurrar a porta<br />

do carro para abrir. Eu praticamente podia sentir o cheiro de seu medo.<br />

— Kaci, Não! — eu abri minha porta, mas ela <strong>não</strong> ouviu. Eu <strong>não</strong> tinha<br />

certeza de que ela pudesse me ouvir sobre o pranto de Manx, os gritos de Des e os<br />

estranhos grunhidos e chiados de Teo e do homem-pássaro. Mas isso<br />

provavelmente <strong>não</strong> teria importância mesmo se ela tivesse me ouvido. Kaci morria<br />

de medo de ser sequestrada novamente e ela <strong>não</strong> era forte o bastante para se<br />

defender.<br />

Esse era meu trabalho.<br />

114


— Fique aqui e permaneça com o sinto preso. — gritei para Manx, então me<br />

esquivei da luta a meus p<strong>é</strong>s e saí correndo atrás de Kaci, tão rápido quanto eu<br />

podia.<br />

Infelizmente, eu <strong>não</strong> conseguia me concentrar o suficiente para Mudar meus<br />

olhos enquanto estava correndo, assim uma vez que fomos al<strong>é</strong>m do tênue<br />

esplendor vermelho das luzes traseiras da caminhonete, o cabelo escuro da jovem<br />

Tabby e seu jeans desapareceram na noite. Se <strong>não</strong> fosse por sua jaqueta branca e<br />

brilhante, o bater de seus sapatos no cimento e os soluços aterrorizados atrás de<br />

mim flutuando no vento, eu teria pensado que a tinha perdido completamente.<br />

Entre no bosque! Pensei desesperadamente enquanto Kaci freneticamente<br />

lançava um p<strong>é</strong> na frente de outro. Os Thunderbirds <strong>não</strong> poderiam nos seguir por<br />

ali. Ao menos, <strong>não</strong> em sua forma de pássaro completo. Mas eu <strong>não</strong> podia permitir<br />

desperdiçar minha energia gritando algo que ela <strong>não</strong> poderia escutar de qualquer<br />

maneira. Se ela estivesse pensando claramente, teria se dirigido para as árvores<br />

em <strong>primeiro</strong> lugar e <strong>não</strong> para a estrada, boa caça para qualquer coisa que se<br />

lançasse do c<strong>é</strong>u.<br />

Então, como se meu próprio pensamento tivesse trazido isso à existência,<br />

um poderoso thwup, thwup ecoou atrás de mim.<br />

Oh, merda. Teo e Dodd haviam perdido sua luta, ou mais de um pássaro<br />

tinha vindo atrás de nós. Provavelmente ambos.<br />

Eu escavei fundo e gastei cada fagulha de energia que eu ainda tinha<br />

correndo. Meu foco permaneceu fixo nas costas de Kaci, uma sombra inversa<br />

durante a noite. Eu agitei-me para frente e agora ela estava a apenas 6 metros à<br />

frente.<br />

O som do vento batendo soava cada vez mais perto. A rajada de vento fez<br />

com que meu cabelo voasse em meu rosto. Em minha frente, Kaci tropeçou e<br />

gritou. Ela caiu a poucos metros das árvores.<br />

Ficou de p<strong>é</strong> cambaleando, mas eu estava me aproximando dela. 5 metros...<br />

Meus pulmões queimavam. Ela começou a correr de novo, mas mais devagar e<br />

mancando.<br />

4 metros... Eu estava com cãibras, mas a qualquer momento, eu a<br />

alcançaria.<br />

3 metros... Eu já estava quase a alcançando.<br />

Então o zumbido que tinha sido apenas um aviso tornou-se de repente um<br />

rugido terrível. Não podia ouvir minha respiração; só ouvia o vento ameaçador.<br />

Não pude sentir meu coração esmagado ou meu pulso apressado; só senti a<br />

corrente de ar que agora me empurrava para trás, para longe de Kaci.<br />

Fechei os olhos contra a poeira que o terrível vento soprava em mim. Uma<br />

enorme e escura sombra descia devagar, somente a alguns metros de mim. Kaci<br />

115


gritou. Seu casaco branco disparou para o ar, flutuando cada vez mais alto a cada<br />

batida poderosa das asas do pássaro. Ela chutava e os cadarços de seus tênis<br />

refletiam a pouca luz da lua disponível.<br />

— Não se mexa! — gritei, tropeçando a poucos metros dela, com medo de<br />

que sua agitação e seus giros pudessem fazer com que o pássaro a soltasse, mas<br />

ela <strong>não</strong> conseguia me ouvir. Olhei com horror para Kaci e a dor em meu peito<br />

ameaçava me engolir inteira. Eu a tinha perdido.<br />

Eu deveria proteger Kaci e a perdi. Falhei e agora ela pagaria o preço.<br />

Pouco pude ver da imprecisa noite escura com a umidade em meus olhos<br />

quando forcei minhas pernas a movimentarem-se outra vez. Eu <strong>não</strong> podia pegá-la<br />

sem minhas próprias asas; eu sabia, mas eu tinha que tentar.<br />

Eu caminhava com dificuldade, enxugando as lágrimas com a manga de<br />

meu casaco, esperando que eu <strong>não</strong> tropeçasse e machucasse mais que um braço.<br />

E que Teo e Dodd tivessem vencido sua luta. E que eles pudessem fornecer<br />

segurança para Manx e o bebê. Eu <strong>não</strong> conseguia ver se alguma dessas coisas<br />

tinha acontecido sem perder Kaci de vista. E eu <strong>não</strong> conseguia ouvir nada, nem<br />

mesmo Des gritando, por sobre o barulho de asas batendo acima e atrás de mim.<br />

Espere, asas batendo atrás de mim?<br />

Virei-me, meu coração tentando encontrar uma maneira de sair por minha<br />

garganta. Ele mergulhou no instante em que o vi, uma sombra grande e volumosa<br />

bloqueando a lua crescente e prateada. Naquele momento, o pássaro estava em<br />

todos os lugares.<br />

Era tudo que eu podia ver e tudo o que temia. Garras. Bico em forma de<br />

gancho. E, provavelmente, uma queda de 12 metros.<br />

Eu <strong>não</strong> podia ultrapassá-lo, então caí de joelhos, depois sobre meu cotovelo<br />

bom, meio convencida de que ele aterrissaria sobre mim e esmagar-me-ia. Ou<br />

deixaria outra rocha grande cair sobre mim, mas suas garras enormes e curvas<br />

estavam vazias.<br />

Coloquei minha cabeça entre meus joelhos e gritei, mas mal conseguia ouvir<br />

minha própria voz. No momento seguinte algo agarrou meus braços na parte<br />

superior, então me sacudiu violentamente. Meus ombros gritaram de dor. O<br />

mundo estava se movendo freneticamente em torno de mim e de repente o chão se<br />

foi.<br />

Apenas... desapareceu.<br />

Apertando meus olhos fechados, eu forcei-me a relaxar, com medo de que<br />

um movimento de pernas fizesse-me cair. E at<strong>é</strong> agora, a única coisa que eu tinha<br />

certeza que eu odiava mais do que voar era cair.<br />

116


Eu tivera apenas alguns segundos para adaptar-me a estar no alto quando<br />

outro chiado estridente rasgou o ar atrás de mim. Algo agarrou meu tornozelo<br />

direito no ar. O mundo desviou-se a meu redor novamente e apertei ainda mais<br />

meus olhos fechados, ainda gritando. Então eu fiquei na horizontal, minha barriga<br />

virada para o chão, minha perna esquerda e antebraços pendurados sem jeito.<br />

Depois de várias respirações profundas, que só me acalmaram o suficiente<br />

para tornar meu temor mais claro, eu forcei meus olhos a abrirem-se. Depois<br />

imediatamente os fechei de novo.<br />

Abaixo de mim, a caminhonete tinha dois tons de luz no chão: branco dos<br />

faróis e vermelho das lanternas traseiras. Eu já estava muito alto para distinguir<br />

os ocupantes, se <strong>é</strong> que eles ainda estavam lá.<br />

A floresta estendia-se por quilômetros à direita da caminhonete e nós<br />

voamos sobre ela. De minha nova perspectiva terrível, os ramos esquel<strong>é</strong>ticos que<br />

se desprendiam eram tão finos e enrolados quanto uma palha de aço à luz da lua,<br />

as árvores eram escuras manchas densas. E nesse momento, odiei meu<br />

sequestrador por transformar minha amada floresta (meu refúgio de todas as<br />

coisas humanas e artificiais) em um lugar de pesadelos.<br />

E eu gritei com vontade. Eu gritei at<strong>é</strong> que perdi minha voz. Meus braços e<br />

uma perna ficaram dormentes por serem agarrados tão fortemente. Eu sentia<br />

como se estivessem a ponto de serem arrancados de minhas juntas a qualquer<br />

segundo. Eu falava incontrolavelmente. Se estava frio no chão, estava literalmente<br />

congelando no ar e meus dedos dos p<strong>é</strong>s formigavam dolorosamente. Eu <strong>não</strong><br />

conseguia sentir minhas mãos. Eu <strong>não</strong> conseguia mover meus dedos.<br />

Após vários minutos, eu perdi. A pouca calma que eu tinha poderia <strong>não</strong><br />

sobreviver a altura de sessenta metros no ar, sem nada para me segurar. Nada<br />

mais que o chão para amortecer a queda. Não havia maneira de me salvar. Pude<br />

ver tranquilidade atrás de minha mente, mas se acovardou em um canto como<br />

uma pequena cadela, deixando que o pânico dominasse.<br />

Minha perna livre sacudia-se incontrolavelmente. Meus braços tentaram<br />

retorcer o punho do pássaro bastardo, embora uma parte de mim soubesse que<br />

isso só iria me levar à morte. Minha boca abriu-se e eu gritei de novo, mas<br />

nenhum som saiu.<br />

Eu <strong>não</strong> sobreviveria a isto. Ningu<strong>é</strong>m poderia sobreviver a tal tortura. Os<br />

gatos <strong>não</strong> voam sem aviões. Não podemos sobreviver a isso, nem fisicamente, nem<br />

psicologicamente. E pendurar-se a sessenta metros no ar era suficiente para<br />

acabar com minha sanidade mental, o que devia estar fazendo a Kaci?<br />

Kaci. Um novo pânico tomou conta de mim, estranhamente quente em<br />

minhas extremidades dormentes. Ergui a cabeça e forcei meus olhos a abrirem-se<br />

novamente, desta vez resistindo a um grito silencioso que minha garganta<br />

maltratada queria dar. Eu <strong>não</strong> podia vê-la; estava muito escuro e o vento muito<br />

117


áspero. Não podia ouvi-la; o golpe das gigantescas asas era muito alto. Então,<br />

quando meus olhos começaram a fechar-se, uma nuvem moveu-se, presenteandome<br />

com um frágil raio de luz da lua.<br />

Eu cuidadosamente torci-me para a esquerda para uma melhor<br />

visualização. A jaqueta branca e os tênis refletivos de Kaci foram às últimas coisas<br />

que eu vi antes que uma asa gigantesca caísse do lado de minha cabeça.<br />

— Faythe, acorde! — Kaci sussurrou e alguma coisa bateu em meu braço<br />

esquerdo ferozmente. — Faythe!<br />

— O quê? — gemi e virei-me na cama de molas. Meu machucado braço<br />

esquerdo desabou para o lado, mas mantive meus olhos fechados.<br />

Espere, cama de molas? Era um bom colchão e grande o suficientemente de<br />

tal forma que meu braço <strong>não</strong> deveria ficar pendurado.<br />

O alarme fez com que meu pulso disparasse. Meus olhos abriram-se quando<br />

uma enxurrada de cheiros estranhos inundou meu nariz. Carne crua, <strong>não</strong> muito<br />

fresca. E lã e aço. Pessoas. E aves. Muitas aves.<br />

Merda!<br />

Eu levantei a cabeça e olhei ao redor da pequena e suja sala, olhando tudo<br />

de uma vez. Paredes nuas e cercadas de madeira. Piso de madeira. Uma cama de<br />

solteiro com um cobertor de lã áspera e sem travesseiro. Uma janela feita de um<br />

único painel de vidro, inundando o quarto com uma luz fraca demais para ser<br />

qualquer outro horário se<strong>não</strong> o final da tarde.<br />

E Kaci, que estava enrolada a meus p<strong>é</strong>s sobre a cama.<br />

— Onde estamos? — sussurrei, quando os sons do pr<strong>é</strong>dio em torno de nós<br />

começaram a vazar. Gritos, chiados e linguagem humana. Passos pesados, luzes e<br />

afiados arranhões contra a madeira. E uma televisão. Em algum lugar, algu<strong>é</strong>m<br />

estava assistindo Looney Tunes. Aquele em que Bugs Bunny dirige a ópera. Meu<br />

episódio favorito.<br />

— Eu <strong>não</strong> sei. — os olhos castanhos de Kaci estavam dilatados pelo medo.<br />

Ela sentou-se de pernas cruzadas no cobertor de lã enrolado, as mãos cruzadas no<br />

colo.<br />

— Há quanto tempo estamos aqui? — deslizei minhas pernas pelo lado da<br />

cama para o chão, então eu me levantei com cuidado, esperando que nem o<br />

colchão, nem o chão rangessem e revelassem que estávamos acordadas.<br />

— Eu acabei de acordar. — ela sussurrou. Kaci começou a ficar de p<strong>é</strong><br />

comigo, mas uma velha mola gemeu embaixo dela e agitei uma mão, dizendo-lhe<br />

em silêncio que parasse. Depois procurei em meu bolso dianteiro por meu celular.<br />

Mas <strong>é</strong> obvio que <strong>não</strong> estava lá.<br />

— Você está com seu telefone?<br />

118


Ela sacudiu a cabeça.<br />

— Estava em minha mochila. — que ela deixara na caminhonete quando<br />

correu.<br />

Ótimo.<br />

— Você está bem? — mantive minha voz tão baixa quanto pude; sabia que<br />

ela poderia me ouvir, mas <strong>não</strong> tinha certeza sobre os Thunderbirds.<br />

Kaci encostou-se à parede e empurrou uma de suas mangas para expor a<br />

parte superior de seu braço, que estava cercada por uma única contusão<br />

profunda, mais grossa na parte da frente do que na de trás.<br />

— Somente contusões. — marcas de garras. Eu empurrei minha própria<br />

manga esquerda enquanto caminhava lentamente em direção à janela, tentando<br />

evitar os rangidos no piso de madeira, obviamente, velho.<br />

Meu braço esquerdo estava marcado de forma similar e dei-me conta pela<br />

delicadeza em meu braço direito que ficaria igual ao outro. Como tamb<strong>é</strong>m meu<br />

tornozelo direito.<br />

— Mais alguma coisa?<br />

— Tenho frio e fome.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m. — consegui chegar at<strong>é</strong> a janela sem nenhum rangido do<br />

chão e notei duas coisas imediatamente. Primeiro, ela <strong>não</strong> iria abrir. Era um único<br />

painel de vidro construído em seu lugar junto com a casa. Ou qualquer tipo de<br />

construção que estiv<strong>é</strong>ssemos.<br />

Segundo, <strong>não</strong> poderíamos escapar mesmo se pud<strong>é</strong>ssemos quebrar a janela<br />

sem chamar a atenção. Nós estávamos a centenas de metros do chão, suspensas<br />

sobre um precipício. E <strong>não</strong> havia varanda.<br />

— Droga! — eu disse com a voz mais alta do que eu esperava, embora ainda<br />

fosse um sussurro. Eu deixei minha testa cair contra o vidro e imediatamente me<br />

arrependi. Depois de meu mais recente voo, eu <strong>não</strong> estava ansiosa em ver a terra<br />

do alto nunca mais.<br />

— O quê? — Kaci sussurrou e a cama rangeu novamente quando ela se<br />

inclinou para frente.<br />

— Estamos no ninho deles. E <strong>não</strong> está construído exatamente no topo das<br />

árvores. — a janela estava exatamente em frente à única porta, então me dirigi<br />

pelo caminho ao longo da parede para o canto, então fiz uma curva, ainda<br />

segurando as tábuas de madeira. Era mais provável que o piso rangesse no meio<br />

do que ao longo das bordas.<br />

— O que você acha que eles querem?<br />

119


— Por incrível que pareça, acho que eles estavam tentando nos proteger. —<br />

da violência que haviam criado.<br />

Kaci desviou o olhar da janela para meu rosto.<br />

— Eu <strong>não</strong> me sinto muito segura.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m <strong>não</strong>. — quando cheguei à porta, inclinei-me para estudar a<br />

maçaneta. Era uma simples e antiga esfera de latão com um pequeno furo<br />

redondo no centro. O que significava que o outro lado tinha uma simples<br />

fechadura de pressão. Torci a maçaneta lentamente e ela resistiu. Estava<br />

trancada.<br />

Poderia ter forçado a fechadura com uma volta rápida, mas o pop poderia<br />

ser ouvido, e eu <strong>não</strong> queria que nossos captores soubessem que estávamos<br />

acordadas at<strong>é</strong> que nós explorássemos um pouco mais o ambiente.<br />

— Como infernos nos trouxeram aqui? — perguntei-me em voz alta, mal<br />

dizendo o som. — Não há nenhuma maneira que nos trouxessem at<strong>é</strong> aqui voando<br />

— eu <strong>não</strong> sabia exatamente onde era “aqui”, mas <strong>não</strong> conseguia me lembrar de<br />

nenhum penhasco deste tamanho nas centenas de quilômetros em torno do<br />

rancho.<br />

— Eles <strong>não</strong> fizeram isso. — Kaci disse e virei-me para vê-la torcendo a borda<br />

azul de seu cobertor. — Eu devo ter desmaiado quando nos trouxeram, mas<br />

depois eu acordei na parte de trás de um carro. Algum carro parecido com o do<br />

Jace, com um grande porta-malas. Ficamos amarradas e você ainda estava<br />

inconsciente.<br />

— Nos amarraram com cordas?<br />

Kaci assentiu.<br />

— Eram amarelas e finas.<br />

Nylon. Olhei para meu pulso esquerdo, mas <strong>não</strong> encontrei marcas. Um olhar<br />

sobre meus tornozelos <strong>não</strong> revelou qualquer marca lá tamb<strong>é</strong>m, o que significava<br />

que eles <strong>não</strong> tinham nos amarrado apertado. Caso contrário, as cordas teriam<br />

deixado marcas, at<strong>é</strong> mesmo atrav<strong>é</strong>s de nossas roupas E tínhamos acordado<br />

desamarradas, apenas trancadas em um quarto. Juntas.<br />

Eram bons sinais. Eles <strong>não</strong> nos mataram porque tinham feito uma<br />

promessa a Calvin Malone e obviamente <strong>não</strong> queriam nos ferir. Pelo menos <strong>não</strong> at<strong>é</strong><br />

que feríssemos um deles. Ou os zangássemos.<br />

E agora o quê? Planejavam terminar de sacrificar nosso Pride e depois<br />

simplesmente nos deixarem ir? Já tinham sacrificado nosso Pride?<br />

Meu pulso acelerou-se e <strong>não</strong> consegui detê-lo. O suor irrompeu em minha<br />

testa, apesar do quarto frio.<br />

120


— Faythe? O que há de errado? — Kaci aproximou-se da beira da cama e o<br />

velho colchão deixou escapar um comprido chiado metálico. Ela congelou, mas o<br />

estrago estava feito. Seus olhos arregalaram-se em pânico e seus lábios<br />

começaram a tremer.<br />

— Tudo bem... — atravessei o quarto em direção a ela, ignorando meus<br />

próprios passos agora; o ninho estava, evidentemente, muito mais conservado do<br />

que o velho mobiliário. — Precisamos conversar com eles, de qualquer maneira.<br />

Nós <strong>não</strong> faremos nenhum bem apenas ficando aqui.<br />

Kaci mordeu o lábio e piscou para conter as lágrimas.<br />

— Você tem certeza?<br />

— Totalmente. — <strong>não</strong> que nós pud<strong>é</strong>ssemos fazer algo a respeito se eu <strong>não</strong><br />

tivesse.<br />

Do hall veio um passo leve, mas obviamente humano. Kaci apertou minha<br />

mão boa e todos os músculos de seu corpo ficaram tensos.<br />

— Deveríamos mudar?<br />

— Eu acho que <strong>é</strong> um pouco tarde para isso. Al<strong>é</strong>m disso, eles poderiam ver<br />

como um ato de agressão. — os passos pararam na porta e a maçaneta girou. —<br />

Não diga nada a menos que eu lhe pergunte alguma coisa ou faça um sinal certo?<br />

Kaci assentiu enquanto a porta se abria.<br />

A mulher na porta era baixa, forte e musculosa das costelas para cima e fina<br />

na parte inferior. Ela tinha um nariz longo e fino, lábios quase inexistentes e<br />

cabelos lisos, compridos e escuros, era claramente seu melhor atrativo. Ela<br />

tamb<strong>é</strong>m estava completamente nua.<br />

Kaci corou e desviou o olhar (ela havia sido criada entre os seres humanos) e<br />

a mulher pássaro lançou um olhar curioso com a cabeça curvada antes de se<br />

concentrar em mim.<br />

— Eu sou Brynn. Sigam-me. — isso foi tudo. Sem pedir, “por favor,” sem um<br />

sorriso e sem sequer um olhar sobre o ombro para certificar-se de que nós<br />

obedeceríamos.<br />

Mas, <strong>não</strong> havia mais nada a fazer. Não sairíamos pela janela e já que nossas<br />

possibilidades provavelmente <strong>não</strong> melhorariam diante de uma sala cheia de<br />

Thunderbirds, certamente <strong>não</strong> poderiam piorar.<br />

Nosso quarto era o último de um comprido corredor do segundo andar<br />

limitado à esquerda com nada al<strong>é</strong>m de um corrimão de madeira, suavizado pelo<br />

que só poderia ser gerações de mãos sobre ele. Al<strong>é</strong>m do corrimão, o chão chegava<br />

ao fim, revelando um caimento para uma grande sala no <strong>primeiro</strong> andar onde<br />

Thunderbirds de todos os tamanhos e ambos os sexos estavam misturados e<br />

121


descansavam em vários estágios de Mudança. Devia haver cinquenta deles. E eu<br />

podia ouvir ainda mais deles se movendo por trás das muitas portas fechadas.<br />

O corredor ficava em volta de três lados da construção e os dois andares<br />

superiores eram iguais; pudemos ver corrimões idênticos no terceiro e quarto<br />

andar atrav<strong>é</strong>s da gigante abertura. A parte da frente da construção era uma s<strong>é</strong>rie<br />

de pequenos pain<strong>é</strong>is de vidros construídos na parede, formando uma gigante<br />

grade de janelas. O efeito era de um mosaico de montanhas arborizadas<br />

impressionante. E no fundo, perto do centro, havia uma só porta, a única entrada<br />

ou saída que vimos.<br />

Kaci arfou e olhei-a, então segui seu olhar para cima. Muito acima.<br />

Então arfei, tamb<strong>é</strong>m.<br />

A construção era cavernosa e poderia facilmente ter pelo menos mais três<br />

andares, embora <strong>não</strong> tivesse nenhum al<strong>é</strong>m do quarto. Em vez disso, o espaço<br />

vazio foi assinalado em forma de cruz por vigas expostas, peitoris e cantos, a<br />

maioria ocupada por um ou mais Thunderbirds. Os que estavam nas vigas<br />

estavam em sua maioria na forma de pássaro, empoleirado como melro 7 em um<br />

fio, enquanto os que descansavam em pequenos ninhos de travesseiros e<br />

cobertores sobre os muitos peitoris pareciam mais humanos.<br />

Alguns inclusive sustentavam exemplares de velhos livros cujos títulos eu<br />

<strong>não</strong> pude decifrar.<br />

Não era como nada que eu já tivesse visto antes. Este <strong>não</strong> era apenas um<br />

ninho. Era um verdadeiro viveiro.<br />

Brynn fez um barulho impaciente atrás de sua garganta e forcei-me a parar<br />

de assistir o show e dei uma cotovelada em Kaci. Então a seguimos por uma<br />

escadaria aberta para a grande sala de baixo.<br />

<strong>As</strong>sim como o nível superior, o <strong>primeiro</strong> andar estava cercado pelos três<br />

lados por uma s<strong>é</strong>rie de portas, embora estas estivessem bem mais separadas do<br />

piso.<br />

Presumi que os quartos no <strong>primeiro</strong> andar eram áreas comuns do bando,<br />

como a cozinha, sala de jantar e talvez outras áreas de descanso.<br />

Ao atravessar o centro da área aberta, olhei atrav<strong>é</strong>s de várias das portas<br />

abertas. A maioria era de quartos simples, um pouco maior do que aquele em que<br />

acordamos. Mas a porta de um quarto no canto revelou um espaço grande e<br />

brilhante cheio de brinquedos antigos (a maioria eram bonecas artesanais e<br />

esculturas em madeira) e a luz cintilante de uma TV.<br />

7 Tipo de pássaro preto cantante. http://pt.wikipedia.org/wiki/Melro-preto<br />

122


Nós tínhamos encontrado a fonte dos Looney Tunes. E com base no som de<br />

baixa qualidade, eu acho que eles usavam fitas de vídeo ao inv<strong>é</strong>s de DVDs.<br />

Meus passos se tornaram mais lentos à medida que minha curiosidade<br />

crescia e enquanto eu caminhava, eu via mais do quarto. E seus ocupantes. À<br />

primeira vista, contei meia dúzia de crianças pequenas, nenhuma delas com idade<br />

suficiente para frequentar a escola.<br />

Mas a idade <strong>não</strong> era a única coisa que mantinha essas crianças fora do<br />

sistema educacional humano.<br />

Enquanto eu os observava, um menino nu de talvez quatro anos (o mais<br />

velho na sala) empurrou um punho gordo atrav<strong>é</strong>s de uma torre de blocos de<br />

madeira pintados com cores brilhantes. A pequena menina que estava empilhando<br />

a torre (tamb<strong>é</strong>m nua, mas com fraldas de pano) franziu as sobrancelhas tão<br />

ameaçadoramente que fiquei esperando por uma explosão de chamas.<br />

Em vez disso, ela explodiu em penas.<br />

Em um movimento único e uniforme, quase rápido demais para eu<br />

entender, seus braços esticaram-se e ficaram cheios de penas.<br />

Seu cabelo foi sumindo da cabeça e seu couro cabeludo nu começou a<br />

endurecer, ruborizar e murchar como a cabeça de um abutre. Suas magras pernas<br />

murcharam at<strong>é</strong> que suas panturrilhas <strong>não</strong> passavam de robustos paus que<br />

terminavam em diminutas garras afiadas. E suas mãos fecharam-se formando<br />

pequenas, mas obviamente letais garras em suas asas.<br />

Tudo isso <strong>não</strong> demorou mais de dois segundos e pareceu completamente<br />

espontâneo. Não pude deixar de olhar.<br />

A garota pássaro abordou o menino mais velho, estalando seu novo bico<br />

contra ele e golpeando com suas garras e quando caíram, dei uma olhada nas<br />

crianças menores atrás deles. Os quatro eram um pouco menores. Bebês, a julgar<br />

por seu tamanho. E todos eles estavam mudando constantemente.<br />

Vários braços estavam emplumados, dois com mãos, um com garras. Duas<br />

cabeças estavam nuas e enrugadas, uma com um enrolado cabelo escuro e a<br />

quarta estava em um ponto intermediário, parte de uma penugem loira cor de<br />

pêssego saindo de um crânio pelado de ave quase todo transformado. Os meninos<br />

estavam em uma mudança contínua e obviamente eles <strong>não</strong> conseguiam controlar<br />

seus pequenos corpos.<br />

Não era estranho que os Thunderbirds se mantivessem afastados totalmente<br />

da sociedade humana.<br />

Fiquei olhando-os, fascinada, at<strong>é</strong> que Brynn fez outro ruído irritado em sua<br />

garganta e corri para alcançá-la e tamb<strong>é</strong>m Kaci, embora as estranhas imagens<br />

continuassem pintadas na parte de trás de minhas pálpebras.<br />

123


Mas quando Brynn parou, eu olhei para cima e todos os pensamentos de<br />

estranha mudança constante das crianças voaram para fora de minha mente.<br />

Devia ter uns trinta Thunderbirds diferentes sentados ou em p<strong>é</strong> no fundo da<br />

grande sala. E todos eles estavam nos olhando.<br />

124


Capítulo 15<br />

A fria mão de Kaci deslizou na minha. Seus lábios estavam pressionados em<br />

uma apertada e fina linha e sua mandíbula sobressaia, <strong>não</strong> com raiva, mas para<br />

manter seus dentes sem bater, como fazia às vezes quando ficava nervosa. Seu<br />

olhar aterrorizado e com os olhos muito abertos voaram de um pássaro para<br />

outro, como se estivesse procurando uma cara amiga. Mas, ela <strong>não</strong> ia encontrar<br />

nenhuma outra se<strong>não</strong> a minha. Nós estávamos “nisto” juntas, ou o que seja que<br />

“isto” fosse.<br />

— Qual <strong>é</strong> o seu nome?<br />

Minha cabeça se ergueu e olhei ao redor, esperando que algu<strong>é</strong>m desse um<br />

passo em frente ou assumisse a pergunta. Mas, ningu<strong>é</strong>m fez isso, mesmo quando<br />

fiquei de p<strong>é</strong> em silêncio durante quase um minuto. De fato, a única razão pela<br />

qual eu sabia que quem falou se dirigia a mim era que ningu<strong>é</strong>m estava olhando<br />

para Kaci.<br />

Quando <strong>não</strong> respondi, outra voz chamou de cima e eu olhei, mas outra vez<br />

falhei em descobrir quem falou.<br />

— Você <strong>é</strong> Mercedes Carreño ou Faythe Sanders?<br />

Ah, Eles sabiam que eu era uma das adultas, mas <strong>não</strong> qual.<br />

— Sou Faythe. Quem está falando? Estou ficando um pouco enjoada<br />

tentando te achar. — e honestamente, eu <strong>não</strong> estava certa de para onde eu deveria<br />

olhar. Não queria insultar ningu<strong>é</strong>m acidentalmente desviando minha atenção.<br />

— Você está falando com nosso Bando.<br />

Claro. Eu quase tinha esquecido a mentalidade do grupo, quero dizer, do<br />

Bando. Felizmente, realmente vi quem estava falando desta vez, embora ela <strong>não</strong><br />

tivesse feito nenhuma das perguntas anteriores.<br />

Outra voz falou a minha esquerda, ao longe.<br />

— Você e a gatinha serão entregues a Calvin Malone amanhã...<br />

— O que? Não! — gritei e Kaci se apertou contra mim, apavorada. — Não<br />

podem fazer isso! Vocês <strong>não</strong> tem ideia do que ele quer conosco!<br />

— Prometemos afastá-las do perigo e entregá-las para ele e <strong>não</strong> vamos voltar<br />

atrás em nossa palavra. Só estamos te permitindo viver porque nos asseguraram<br />

que você e a gatinha <strong>não</strong> estão envolvidas na morte de nosso galo.<br />

Virei-me e enfrentei um velho Thunderbird macho com feições fortes e do<br />

tipo instável e eu quase ri em voz alta no final de sua última palavra. Não <strong>é</strong><br />

engraçado! Uma parte horrorizada de mim insistia do fundo da minha cabeça.<br />

Mas era engraçado, nesse escandaloso modo que as piadas inapropriadas<br />

são sempre irresistíveis na maioria dos momentos inoportunos. O membro de seu<br />

125


Bando estava morto, eles tinham nos sequestrado e estavam tentando matar os<br />

membros restantes do nosso Pride e este idiota parecia com um testemunho de<br />

Viagra!<br />

Por um momento, eu <strong>não</strong> consegui falar por medo de explodir em risos e isso<br />

custou muito do meu autocontrole para matar o irreverente sorriso que meus<br />

lábios queriam formar. Mas, então Kaci apertou minha mão outra vez e o olhar de<br />

puro terror em seu rosto me centrou instantaneamente.<br />

Aclarei minha garganta: — Isso <strong>é</strong> verdade. Não temos nada a ver com isso,<br />

mas ningu<strong>é</strong>m em nosso Pride tem a ver. Malone só te disse que...<br />

— Não estamos interessados em discutir a morte de Finn com você...<br />

— Bem, pois deveria estar! — gritei e imediatamente lamentei quando uma<br />

s<strong>é</strong>rie de suaves sons de zumbidos e pesados golpes me disseram que mais<br />

pássaros tinham desembarcado atrás de mim nos suportes acima da minha<br />

cabeça.<br />

Meu pulso bateu rápido o suficiente para fazer a minha cabeça dar voltas e<br />

eu quase <strong>não</strong> resisti a urgência de me virar e enfrentar os novos guerreiros. Eu<br />

estava rodeada pelo inimigo e meu instinto de brigar ou lutar exigia que eu fizesse<br />

uma escolha, mas nenhuma dessas opções levava a sobrevivência, eu tinha<br />

certeza disso.<br />

— Olha, sinto muito, mas está <strong>é</strong> a verdade e <strong>é</strong> importante. Calvin Malone<br />

mentiu para vocês, por interesse próprio. Meu Pride <strong>não</strong> <strong>é</strong> responsável pela...<br />

morte de Finn. Um dos Malone <strong>é</strong>.<br />

Eu tinha esperado ser interrompida, mas podia dizer pela Mudança<br />

universal e postura inquieta, que eu tinha captado a atenção coletiva com a<br />

palavra mentiu.<br />

— Porque Malone comprometeria sua honra com uma mentira? — o orador<br />

ainda parecia c<strong>é</strong>tico, mas ele estava obviamente disposto a escutar.<br />

Meu humor brilhou instantaneamente. Eles iam me deixar falar.<br />

— Em <strong>primeiro</strong> lugar, ele <strong>não</strong> tem honra, mas tem cobiça em abundância e<br />

está faminto de poder. — muitas das expressões confusas e inquietas cabeças<br />

inclinadas acolheram a minha declaração, mas eu me apressei antes que ningu<strong>é</strong>m<br />

mais pudesse me interromper, com meu braço esquerdo ao redor de Kaci. — E em<br />

segundo, eu só lhes dei a razão de suas ganâncias pessoais.<br />

Houve um silêncio estranho enquanto os pássaros olhavam para trás e para<br />

frente e sucessivamente de um para o outro em rápidos e bruscos movimentos,<br />

claramente fazendo silêncio atrav<strong>é</strong>s de suas expressões que eu <strong>não</strong> pude<br />

interpretar. Olhei para Kaci para vê-la olhando para nossos captores com fascínio<br />

e medo e eu estava aliviada em ver o último triunfando.<br />

Uma Tabby com curiosidade suficiente para superar seu medo, conhecido<br />

como: senso comum sairia como eu e a minha <strong>não</strong> era uma vida que eu queria<br />

para Kaci. Pelo menos <strong>não</strong> at<strong>é</strong> que ela tivesse amadurecido o suficiente para<br />

equilibrar sua boca com um pouco de sabedoria. Ou ao menos experiência. Eu<br />

tinha aprendido minhas lições pelo caminho difícil, eu a salvaria disso se pudesse.<br />

126


Finalmente, olhei para cima para ver todos os pássaros me olhando e a<br />

próxima voz veio detrás de mim. <strong>As</strong>sim, me virei outra vez.<br />

— Nós ouviremos você falar desta questão, mas, <strong>não</strong> teremos tolerância para<br />

trapaças. Se você se transformar, seremos forçados a te incapacitar.<br />

— Não tem problema. — nunca me deixariam a mercê o suficiente para me<br />

“transformar” de qualquer modo. Minha Mudança completa mais rápida levou<br />

quase um minuto e mesmo que eu pudesse fazê-lo novamente, isso era tempo de<br />

sobra para eles me arrancarem membro a membro, considerando o quão<br />

incrivelmente rápido eles Mudavam de forma.<br />

Oh. E foi ai que entendi. Eles pensavam que os <strong>Werecat</strong>s podiam Mudar da<br />

mesma maneira que eles. Instantaneamente.<br />

Milagrosamente.<br />

Considerei rapidamente explicar a verdade para me fazer parecer menos<br />

ameaçadora e deixá-los tranquilos, mas no final, decidi que mais provável que me<br />

respeitassem se sentissem só um pouco ameaçados por mim. Certo? Essa<br />

abordagem geralmente funcionava com Toms, de qualquer modo...<br />

— Fale. — ordenou um pássaro fêmea mais velha, de perto da janela a<br />

minha esquerda. Então eu falei, plenamente consciente de que a segurança de<br />

meu Pride inteiro dependia de mim nesse momento. <strong>As</strong>sumindo que <strong>não</strong> era muito<br />

tarde para lhe ajudar e eu <strong>não</strong> tinha razões para acreditar que os pássaros me<br />

teriam dito isso se assim fosse. — Malone está concorrendo contra meu pai pela<br />

posição de chefe de nosso Conselho Territorial. Mas, ele <strong>não</strong> luta de forma justa.<br />

— olhei ao meu redor, tentando me assegurar de que todo mundo estava ouvindo,<br />

mas embora os rostos fossem diferentes e em vários estados de meia-Mudança,<br />

suas expressões eram todas as mesmas. Pareciam frustrados, entediados e<br />

impacientes. — De qualquer modo, segundo uma fonte, um <strong>Werecat</strong> do Pride de<br />

Malone, na semana passada um dos guardiões de Malone matou um de seus...<br />

galos, em uma disputa sobre uma caça e os direitos da alimentação.<br />

Diversas expressões endureceram e eu falei mais rápido enquanto meu<br />

pulso acelerava, eu estava desesperada para terminar antes que algu<strong>é</strong>m me<br />

cortasse.<br />

— Não estou dizendo que o seu pássaro seja necessariamente o que cometeu<br />

a falta. Nossas esp<strong>é</strong>cies têm diferentes leis e eu <strong>não</strong> estou qualificada para<br />

organizar essa questão em particular, mas o que eu tenho certeza <strong>é</strong> que quem<br />

matou Finn <strong>não</strong> pertence e nem nunca pertenceu ao meu Pride.<br />

— O que Calvin Malone espera ganhar nos enganando? — outro pássaro<br />

macho perguntou atrás de mim e desta vez <strong>não</strong> me virei. Não parecia importar a<br />

quem eu olhasse, eu estava falando para todos eles, tão desconcertante como<br />

fosse o conceito.<br />

É como o tribunal, eu disse a mim mesma, tentando me agarrar em algo<br />

familiar. Todo mundo obt<strong>é</strong>m um voto igual. Infelizmente, isso fez que a coisa toda<br />

parecesse um pouco familiar demais, a maioria do tribunal havia me querido<br />

morta.<br />

127


— Ele está conseguindo três coisas. — eu disse, lutando para projetar<br />

confiança e autoridade. — Primeiro: Kaci e eu. Ele os convenceu a nos roubar e<br />

nos levar para ele porque em nosso mundo, quem controla as Tabbies, controla os<br />

Toms. Há apenas poucas fêmeas <strong>Werecat</strong>s em idade de ter filhos em todo país e<br />

Malone quer a nós duas para nos casar com seus filhos, assim ele pode manter<br />

todo o poder em sua família. Tudo sob suas mãos. Ele tentou me forçar em um<br />

casamento que eu <strong>não</strong> queria há alguns meses, atrav<strong>é</strong>s de meios políticos e<br />

quando isso <strong>não</strong> funcionou ele recorreu à força bruta com Kaci.<br />

— Como assim? — algum pássaro anônimo disse detrás de nós e Kaci se<br />

encolheu contra o meu lado enquanto todos os olhos se voltavam para ela pela<br />

primeira vez.<br />

la.<br />

— Ele se aproximou as escondidas de nossa propriedade e tentou sequestrá-<br />

Alguns pássaros, principalmente as mulheres pareceram desgostosas, se eu<br />

estava lendo corretamente as expressões metade pássaros. Mas, a maioria parecia<br />

confusa. Eles <strong>não</strong> sabiam o suficiente sobre a nossa cultura para entender porque<br />

Malone recorreria à violência sobre uma potencial nora. Então, eu fui para o ponto<br />

número dois: — Segundo de tudo, agora ele tem vocês brigando a batalha por ele.<br />

Vocês estão enfraquecendo nossas capacidades ofensivas quando nós estamos à<br />

beira de uma luta muito bem justificada contra Malone.<br />

— Como esta luta de vocês está justificada? — uma voz excepcionalmente<br />

rouca e sem gênero perguntou atrás e a direita de mim. Fiz meus dentes rangerem<br />

para me manter sem rosnar de frustração enquanto resistia à urgência de me virar<br />

e procurar o orador outra vez.<br />

— Um de seus gatos matou o meu irmão há quase duas semanas, quando<br />

eles vieram atrás de Kaci. Malone sabe que um ataque <strong>é</strong> iminente, mas desta<br />

forma, nós estaremos menos fortes e mais fracos para a batalha. Graças a vocês,<br />

rapazes.<br />

Para meu horror, vários pássaros estavam concordando, <strong>não</strong> simplesmente<br />

com entendimento, mas sim com admiração! Eles aprovavam a estrat<strong>é</strong>gia pouco<br />

limpa de Malone! Os bastardos! Mas, at<strong>é</strong> eu tinha que concordar que era efetiva,<br />

embora inconcebível.<br />

— E em terceiro lugar, ele <strong>é</strong> desviado da culpa e das consequências da morte<br />

de Finn. O que significa que suas forças permanecem seguras da fúria de vocês,<br />

consequentemente, intacto. E, vocês <strong>não</strong> vão obter a justiça que Finn merece,<br />

porque enquanto estão lutando conosco, o que realmente o matou está<br />

literalmente lucrando com o assassinato. O Pride de Malone.<br />

Agora eles estavam franzindo o cenho...<br />

Uma garganta se aclarou a minha direita e a minha cabeça girou tão rápido<br />

que eu ouvi uma das minhas próprias v<strong>é</strong>rtebras estalar. Meu foco se prendeu em<br />

um sombrio bico enquanto Mudava quase instantaneamente para os lábios<br />

enrugados e o queixo da Thunderbird mais velha que eu havia visto.<br />

Ela tinha pena branca lisa at<strong>é</strong> a metade de suas costas e suas mãos<br />

estavam mais enrugadas do que seu rosto, mas seus olhos brilhavam com astuta<br />

inteligência.<br />

128


— Você insiste em que Calvin Malone está disposto a comprometer sua<br />

honra pelo êxito da guerra. Que evidências você pode nos dar de que vocês <strong>não</strong><br />

estão, de fato, fazendo a mesma coisa?<br />

Porque eles sempre usam o nome completo? Eles acham que era assim<br />

como os humanos se dirigiam uns aos outros? Pelos dois nomes? Ou a coisa<br />

inteira percorria junto em suas mentes como se fosse uma palavra só? Como seus<br />

próprios nomes...<br />

— Vocês estão perguntando por que deveriam acreditar em mim em vez<br />

dele? — meu coração fez um ruído surdo em meu ouvido quando ela assentiu. Eu<br />

nunca havia pronunciado um argumento mais importante do que estava prestes a<br />

lançar. Nunca antes tantas vidas haviam dependido do que eu ia dizer.<br />

Sem pressões, Faythe...<br />

— Vocês deveriam acreditar em mim porque eu estou aqui de p<strong>é</strong> sem ganhar<br />

nada com isto exceto o que tínhamos antes que Malone interferisse, a paz para<br />

montar tropas em segredo e vingar o assassinato do meu irmão. Não estou<br />

pedindo que ataquem os inimigos do Pride dele por nós ou que sequestrem e<br />

entreguem algum membro do seu Pride para nos dar margem política. Ou para<br />

deixar a justiça por vossa própria morte para lançar um ataque contra as pessoas<br />

erradas. Mas, Malone pediu tudo isso. Ele os usou. Diabos, ele provavelmente está<br />

rindo de vocês agora mesmo.<br />

Concordo, ele provavelmente estava muito ocupado tramando nossa<br />

destruição para literalmente rir sobre a lama que havia jogado nos olhos do<br />

Bando, mas meu ponto continuava. Eles tinham sido usados.<br />

E, finalmente, eles pareciam cismados.<br />

— Se você está dizendo a verdade, Calvin Malone deve pagar por seu<br />

engano. — uma voz sem corpo veio de cima.<br />

Minhas sobrancelhas se ergueram, mas <strong>não</strong> me incomodei em olhar para<br />

cima. Se eu estou dizendo a verdade?<br />

— Já <strong>não</strong> podemos mais confiar na palavra sem fundamento de um <strong>Werecat</strong>.<br />

— está declaração veio da minha esquerda, de uma jovem pássaro fêmea, cujo<br />

sombrio cenho era genuinamente assustador. — Você nos trará provas.<br />

Provas. Merda. Se eu tivesse isso, todos os nossos problemas acabariam!<br />

— Vocês <strong>não</strong> pediram provas a Malone...<br />

— Não estamos dispostos a repetir nosso erro.<br />

Outra voz rouca falou, mas eu me virei muito tarde para pegar o orador.<br />

— Nos trará evidências em dois dias.<br />

Dois dias! Olhei desesperadamente de um rosto impassível para o outro.<br />

— Meu Pride inteiro poderá estar morto então! — embora, com sorte eles<br />

levariam o contingente de Thunderbird com eles. — Vocês tem que dar um cessar<br />

fogo.<br />

129


— Não. — cortou, simples e dito pelo pássaro que havia começado todo este<br />

estranho interrogatório. — Não pararemos o ataque sem provas de que sua gente <strong>é</strong><br />

inocente.<br />

Um rosnado começou no fundo da minha garganta e me tomou um longo<br />

momento para contê-lo.<br />

— Se vocês <strong>não</strong> derem um cessar fogo, eu <strong>não</strong> tenho razões para ir buscar a<br />

vossa prova. Para quem eu voltaria para casa?<br />

Por um momento, houve um silêncio enquanto os pássaros consultavam,<br />

meneando suas cabeças umas para as outras e olhando de rosto em rosto.<br />

Finalmente pareciam alcançar um senso comum.<br />

— Pararemos o ataque contra o seu Pride at<strong>é</strong> que você volte com sua prova.<br />

Em dois dias.<br />

O alivio surgiu em mim, frio comparado com as chamas de medo e fúria<br />

martelando meu coração. Havia comprado tempo para o resto do meu Pride,<br />

assumindo que eles <strong>não</strong> haviam lançado sua defensiva já. Mas, o alivio foi<br />

efêmero.<br />

— Que tipo de prova? E como, diabos, se supões que eu vá consegui-la? Não<br />

acho que vocês tenham um carro que eu posso pegar emprestado? — de qualquer<br />

modo, eu poderia levar dois dias para descer sua maldita montanha e encontrar a<br />

forma de transporte público mais próximo.<br />

— Não. Como você conseguirá está prova <strong>não</strong> <strong>é</strong> nossa preocupação e <strong>não</strong><br />

nos importa de que forma você consiga, isso <strong>é</strong> irrefutável.<br />

Maravilhoso e assustadoramente impreciso.<br />

— Bem, eu suponho que nós deveríamos ir em frente. Estamos perdendo<br />

tempo.<br />

— A menina fica. — disse uma voz firme e profunda detrás de mim e desta<br />

vez <strong>não</strong> apenas eu me virei como virei Kaci comigo.<br />

— Não, ela volta comigo ou <strong>não</strong> irei.<br />

Uma nova voz se uniu a discussão por cima da minha cabeça novamente.<br />

— Você irá sozinha e estará de volta em dois dias, ou mataremos a menina.<br />

130


Capítulo 16<br />

Kaci choramingou e agarrou-se ao meu braço.<br />

Terror e raiva fresca dispararam atrav<strong>é</strong>s de mim, queimando o que restava<br />

dos meus nervos. Apagando a minha paciência. — Não! — gritei, e cada músculo<br />

do meu corpo rapidamente, ficou completamente tenso e eu <strong>não</strong> podia me mover.<br />

— Kaci <strong>não</strong> tem nada a ver com isto. Onde está a honra em sacrificar uma menina<br />

inocente?<br />

— A honra reside em proteger os nossos interesses e vingar nossos mortos.<br />

— anunciou uma voz sem rosto. Eu havia abandonado a busca pelos oradores. —<br />

A menina <strong>não</strong> <strong>é</strong> mais do que a sua motivação.<br />

— Mas ela <strong>é</strong> apenas uma criança! — e por uma vez, Kaci estava apavorada<br />

demais para insistir que ela já havia crescido.<br />

— Ela <strong>não</strong> <strong>é</strong> nossa filha.<br />

Meu sangue gelou, me esfriando de dentro para fora. Isso era s<strong>é</strong>rio? Eles<br />

<strong>não</strong> se preocupam com nada al<strong>é</strong>m do seu próprio povo? O que havia de bom e<br />

mau? Certo e errado? E eu havia pensado que Malone era um bastardo sem moral!<br />

Evidentemente os Thunderbirds <strong>não</strong> tinham nenhum conceito de moralidade!<br />

Mas eu sabia por Kai que eles observavam o seu próprio código de honra de<br />

maneira obsessiva, mesmo se ele <strong>não</strong> combinasse com os meus. Ou de qualquer<br />

outra pessoa. Uma vez que fiz<strong>é</strong>ssemos uma promessa, nós cumpriríamos. E<br />

estávamos comprometidos a tentar proteger as Tabbies do Pride Central-Sul...<br />

— Vocês <strong>não</strong> podem matá-la. — eu insisti em que, falando mais baixo agora,<br />

com uma tranquilidade ilusória reinterariam atrav<strong>é</strong>s de mim. Percebi a influência<br />

do meu pai em meu comportamento e voz, e isso me surpreendeu tanto quanto a<br />

determinação agora em minha coluna vertebral, fortalecendo meus nervos. Kaci<br />

dependia de mim. Todo o Pride tamb<strong>é</strong>m, embora <strong>não</strong> soubessem disso ainda. Eu<br />

<strong>não</strong> iria decepcioná-los. — Vocês juraram a Malone que manteriam nossas<br />

Tabbies seguras. Pensar em matar Kaci seria uma violação bastante hedionda<br />

dessa promessa.<br />

Houve outra longa pausa, enquanto os Thunderbirds conferiam sem<br />

palavras. <strong>As</strong> asas e penas eriçadas batendo ao meu redor conforme mais pássaros<br />

desciam de seus poleiros a<strong>é</strong>reos. E finalmente, Kaci e eu tivemos que novamente<br />

nos virar para encontrar o olhar do último orador.<br />

— Sua declaração e a declaração de Calvin Malone são mutuamente<br />

exclusivas, ambas <strong>não</strong> podem ser verdade. Portanto, concluímos que a palavra de<br />

um <strong>Werecat</strong> <strong>não</strong> pode ser aceita sem provas. Calvin Malone <strong>não</strong> forneceu<br />

nenhuma prova, portanto, o nosso voto para ele <strong>é</strong> nulo. Você e a criança estão à<br />

nossa mercê.<br />

Bem, isso sim sem dúvida <strong>é</strong> contraditório.<br />

131


O frio apareceu por todo o meu corpo e Kaci se aproximou ainda mais de<br />

mim. Eu abri a boca para argumentar com o recente anúncio aviário, mas antes<br />

que eu pudesse, outro pássaro falou.<br />

— Não queremos matar nenhuma das duas sem um motivo. Se você<br />

retornar em dois dias com a prova, conforme as instruções, nós te daremos a<br />

menina sã e salva. Se você <strong>não</strong> voltar no tempo, ou retornar sem evidências<br />

aceitáveis, a menina morrerá, e a nossa luta por vingança contra o seu povo<br />

retornará.<br />

Tomei uma profunda e silenciosa respiração, tentando absorver com calma a<br />

última reviravolta na lógica dos Thunderbird, apesar do meu temperamento e os<br />

estragos dentro de mim.<br />

— Vá agora, Faythe Sanders. Você está desperdiçando o seu tempo, o nosso,<br />

e dela. — o olhar da velha mulher pássaro balançou para Kaci, o que a fez<br />

estremecer visivelmente em meus braços. Eles <strong>não</strong> irão machucá-la se eu cumprir<br />

minha parte do trato. Ela ficará bem. A menos que algo saia errado.<br />

E se a machucarem e eu <strong>não</strong> puder evitar novamente? E se eu <strong>não</strong> puder<br />

encontrar a prova, agora que Brett morreu? E se eu for pega me esgueirando em<br />

torno do território de Malone? Kaci estaria morta antes que algu<strong>é</strong>m tenha a<br />

oportunidade de negociar por sua vida. Se isso ainda fosse mesmo uma<br />

possibilidade.<br />

E mesmo se eu fizer isso e voltar a tempo, com provas irrefutáveis, o que<br />

Kaci sofreria enquanto ela esperava? Ela <strong>não</strong> estava em nenhum perigo físico, os<br />

pássaros cumpririam com a sua palavra, a menos que eu <strong>não</strong> dê a eles motivo,<br />

mas ela já estava emocionalmente frágil. Dois dias como prisioneira de um<br />

ambiente hostil de esp<strong>é</strong>cies estrangeiras cujos membros estavam praticamente<br />

contando as horas para a sua execução, isso <strong>não</strong> faria nada por sua saúde<br />

mental. Ela tinha visto o que fizeram para Charlie e Owen, e ela tinha uma grande<br />

imaginação. Ela sabia o que aconteceria com ela se eu <strong>não</strong> fizesse isso.<br />

— Não. — minha decisão estava tomada.<br />

— O que <strong>é</strong> isso? — uma voz perguntou a minha esquerda, mas o meu olhar<br />

ficou colado ao velho pássaro.<br />

— Eu <strong>não</strong> vou deixá-la. Entregue-nos para Malone. — pelo menos ele <strong>não</strong><br />

iria nos matar, e teríamos uma chance melhor de ficar longe dele do que dos<br />

pássaros, mesmo porque Malone vive no chão.<br />

— Essa <strong>não</strong> <strong>é</strong> mais uma opção. Queremos vingança verdadeira para Finn, e<br />

você <strong>é</strong> nossa melhor esperança de encontrá-la. Nós acreditamos que você vai fazer<br />

o que for necessário para manter a menina viva. Você pode ficar ou ir, como você<br />

preferir, mas se <strong>não</strong> tivermos nenhuma prova em dois dias, a menina irá morrer.<br />

Merda, merda, merda!<br />

Espere um minuto... — Que tal uma troca? Kai por Kaci. Você sabia que ele<br />

foi capturado?<br />

Vários rostos meio-pássaros pareceram surpresos, e vários Mudaram para a<br />

forma humana, aparentemente apenas por essa habilidade. Mas ningu<strong>é</strong>m parecia<br />

132


particularmente chateado. — A menina <strong>não</strong> <strong>é</strong> uma ref<strong>é</strong>m. Sua libertação <strong>não</strong> <strong>é</strong><br />

negociável.<br />

— Por que <strong>não</strong>? — olhei de rosto em rosto, verdadeiramente perplexa. — E a<br />

vida dele vale menos do que a de Finn?<br />

— Claro que <strong>não</strong>. — disse um jovem com asas totalmente formadas, então<br />

um homem cujas penas tinham começado a acinzentar com a idade assumiu.<br />

— Mas Kai se ofereceu para lutar, e ele sabia dos riscos. Morrer na guerra <strong>é</strong><br />

morrer com honra. Finn foi assassinado. Sua morte deve ser vingada.<br />

Por um momento, eu só podia olhar, segurando Kaci ao meu lado. Eles<br />

estavam falando s<strong>é</strong>rio. Eles <strong>não</strong> iriam deixar Kaci sair sem prova da culpa de<br />

Malone.<br />

Como que para sublinhar esse fato, um movimento alvoroçado atraiu meu<br />

olhar para quatro dos maiores Thunderbirds enquanto eles se moviam para<br />

bloquear a porta da frente, a única saída que eu ainda via. Nenhum dos pássaros<br />

estava a mais de dois metros de distância, mas todos estavam poderosamente<br />

Mudados da cintura para cima, embora sem garras e asas.<br />

Kaci estaria morta se eu <strong>não</strong> voltasse. Ou pelo menos voltasse com reforços.<br />

Eu fiquei reta. — Quão rapidamente você pode chamar um cessar-fogo?<br />

— Nós iremos despachar um mensageiro imediatamente.<br />

— Em pessoa? — eles <strong>não</strong> podiam estar falando s<strong>é</strong>rio. — Onde está o meu<br />

celular? Algu<strong>é</strong>m poderia devolver o meu telefone.<br />

Com um braço em volta de Kaci, olhei ao redor da sala at<strong>é</strong> que um<br />

movimento chamou a minha atenção para uma mulher (em sua maior parte<br />

mulher), a única pessoa totalmente vestida na sala, al<strong>é</strong>m de mim e Kaci. Ela<br />

estava grávida, e evidentemente, a ponto de estourar.<br />

Oh, por favor, deixe que ela tenha um bebê lá dentro, e <strong>não</strong> de um ovo<br />

gigante...<br />

A mulher deslizou a mão no bolso de sua calça de maternidade e tirou o<br />

meu telefone, então se adiantou para entregá-lo a mim.<br />

— Algu<strong>é</strong>m sabe como isso funciona? — segurei o telefone na minha mão<br />

esquerda, enquanto meu braço deslizava alcançando em torno de Kaci. Alguns dos<br />

pássaros mais jovens assentiram com a cabeça, aqueles provavelmente tiveram<br />

um pouco de interação com a sociedade humana.<br />

— Ótimo. Eu vou ligar para o meu pai, ele <strong>é</strong> o nosso Alfa, o encarregado e<br />

vou informá-lo. Então ele vai jogar seu telefone para um dos seus pássaros, e eu<br />

vou dar o meu para um de vocês. Você chama um cessar-fogo, em seguida, me<br />

devolve o meu telefone. — eu <strong>não</strong> estava disposta a negociar sobre essa parte. Sem<br />

alguma forma de me comunicar com o meu Pride, eu nunca chegaria ao território<br />

Apalache em dois dias, muito menos encontraria as provas necessárias e<br />

retornaria para... onde quer que o Bando viva. — Então eu pegarei o meu<br />

caminho.<br />

— Não! — a cabeça de Kaci apareceu no canto da minha visão, sua<br />

bochecha roçando meu braço. Eu a empurrei para trás e apertei-lhe o braço,<br />

133


dizendo-lhe em silêncio para ficar quieta. Eu ia explicar tudo para ela quando<br />

tiv<strong>é</strong>ssemos um pouco de privacidade. Supondo que teríamos essa chance.<br />

— Faça a sua ligação. — uma voz atrás de mim ordenou.<br />

Eu disquei automaticamente, e meu pai respondeu ao <strong>primeiro</strong> toque. —<br />

Faythe?<br />

Eu quase chorei ao ouvir o som de sua voz, aliviada por ainda encontrá-lo<br />

vivo. Não importa quem tínhamos perdido na ofensiva, <strong>não</strong> era meu pai.<br />

— Sim, sou eu. Kaci está comigo, e nós duas estamos bem. — acrescentei<br />

antes que ele pudesse perguntar. — Por enquanto.<br />

Meu pai apenas pausou, sendo a única indicação de que ele entendeu a<br />

gravidade da nossa situação, se <strong>não</strong> os detalhes. — Onde você está?<br />

— Eu <strong>não</strong> sei. Estamos no ninho do Bando, mas eles <strong>não</strong> têm sido muito<br />

acessíveis para dar um endereço.<br />

Fechei os olhos por um instante, como quando estava relutante em olhar<br />

para os nossos captores. — Está todo mundo... bem?<br />

Meu pai sabia exatamente o que eu queria dizer. — Sem novas perdas, de<br />

ambos os lados.<br />

Minha exalação de alívio foi tão irregular, foi mais como um soluço. — Manx<br />

e Des?<br />

— Estão bem.<br />

— O tempo <strong>não</strong> espera por um Gato, Faythe Sanders. — uma intrusiva voz<br />

áspera advertiu, e um profundo rosnado baixo escorria da garganta do meu pai. —<br />

O relógio já está correndo.<br />

— Quem <strong>é</strong> esse?<br />

— Hm... estamos rodeadas por Thunderbirds. Literalmente.<br />

— O que eles querem? — couro rangeu sobre a linha, então o assoalho<br />

gemeu quando meu pai caminhava, um sinal claro de que ele estava planejando<br />

algo.<br />

— Eu vou explicar com mais detalhes quando eu tiver uma chance, mas a<br />

versão curta <strong>é</strong> esta: eles me deram dois dias para encontrar a prova de que o Pride<br />

do Malone <strong>é</strong> responsável pela morte de Finn, e quando eu voltar com a prova, eles<br />

vão deixar Kaci ir.<br />

Outro meio segundo de silêncio, mas de firmes passos pesados. — E se você<br />

<strong>não</strong> conseguir voltar a tempo?<br />

Eu <strong>não</strong> conseguiria dizer, mas para o meu pai era <strong>fácil</strong> interpretar o meu<br />

silêncio torturado. — Não... — ele sussurrou, e os passos pararam. Algo raspou o<br />

telefone, como se ele tivesse coberto o receptor, então ele estava de volta e<br />

totalmente composto. — Eles estão dispostos a negociar?<br />

— Não sobre isso. — o círculo com as expressões de pedra, me disse que o<br />

fato <strong>não</strong> havia mudado.<br />

— Você já esgotou todas as outras opções? — significando, lutar ou fugir.<br />

134


— Não há outras opções. Nenhuma em que <strong>não</strong> acabaria comigo e Kaci<br />

mortas.<br />

Meu pai suspirou. — O que você precisa?<br />

— Eu <strong>não</strong> sei ainda, mas vou te ligar quando eu estiver a caminho. Por<br />

enquanto, por<strong>é</strong>m, eu preciso que você chame Beck de volta para o jardim da<br />

frente. Então, jogue o telefone para ele. Eu negociei um cessar-fogo para os<br />

próximos dois dias.<br />

— Bom trabalho. — eu ouvi um toque de verdadeiro orgulho brilhando<br />

atrav<strong>é</strong>s do medo e da raiva na voz do meu pai.<br />

Algo raspou contra o telefone de novo, e eu estava quase certa que nenhum<br />

dos pássaros ouviu a ordem sussurrada de meu pai. — Pegue a arma e fique na<br />

porta da frente. Nós estamos indo para fora. — então ele estava de volta na linha,<br />

e seus passos pesados mudaram quando ele saiu da madeira em seu escritório<br />

para a cerâmica no corredor. Outros passos se juntaram ao seu, e eu reconheci o<br />

distinto estalido da minha mãe, bem como a pisada de Michael, idêntico ao do<br />

meu pai na cerâmica, mas mais macios, graças aos seus sapatos com solado de<br />

borracha.<br />

Mas se Marc estava lá, ele <strong>não</strong> estava andando, eu teria reconhecido os seus<br />

passos, tamb<strong>é</strong>m.<br />

Forcei para o lado a profunda angústia de medo pela ausência de Marc<br />

tocando em mim e me fazendo ouvir como o meu pai dava instruções para quem<br />

estava apoiando-o na ausência de Marc.<br />

Em seguida, a porta da frente rangeu baixinho, e meu pai saiu para a<br />

varanda de concreto. — Beck. — ele gritou. Mesmo por telefone, ouvi o sussurro<br />

do vento, a agitação de asas de pelo menos meia dúzia de pássaros que pousaram<br />

em algum lugar no meu jardim, que eu sabia quantos quilômetros de distância<br />

tinha. — Beck, o seu Bando quer falar com você.<br />

— Ok, Faythe, vou lançar-lhe o telefone.<br />

Eu assenti, mas ele <strong>não</strong> podia me ver. — Estou entregando o meu tamb<strong>é</strong>m.<br />

— olhei para um dos pássaros mais jovens que tinha alegado que poderia usar um<br />

telefone, um dos dois únicos que atualmente empunhavam mãos humanas, me<br />

assegurei da distância e em seguida lancei o telefone.<br />

Minha respiração ficou presa na minha garganta quando ele pegou, então se<br />

atrapalhou antes de apertar o controle e trazendo o telefone no ouvido. — Beck. —<br />

ele perguntou, e eu tive um momento de pânico que de repente Beck <strong>não</strong> soubesse<br />

como falar no telefone afinal.<br />

Mas, então, uma voz vagamente familiar, arranhada respondeu partindo da<br />

outra extremidade da linha. — Ike?<br />

— Sim. — o pássaro jovem olhou em volta e recebeu pequenos acenos de<br />

seus pares, em seguida, tomou uma profunda respiração e continuou. — Nós<br />

estamos chamando um cessar-fogo de 48 horas, para Faythe Sanders buscar<br />

provas da inocência do Pride dela no assassinato de Finn. Se você ainda <strong>não</strong> ouvir<br />

falar de nós em dois dias a partir de agora...<br />

135


Limpei minha garganta para interromper, e olhei para o relógio. — <strong>As</strong>...<br />

17h23min de terça-feira.<br />

— ... <strong>As</strong> 17h23min na terça-feira. — Ike repetiu, após outra rodada de<br />

acenos. — Retome o ataque.<br />

— Entendi. — foi a resposta de Beck. Ike jogou o telefone de volta para mim,<br />

e o familiar suspiro de alívio do meu pai - ou talvez de descrença - sussurrou<br />

sobre a linha. Segundos depois disso, a porta da frente fechou em outra s<strong>é</strong>rie de<br />

passos, e o vento morreu no meu ouvido.<br />

E com isso havia paz. Pelo menos temporariamente.<br />

— Ok, pai, eu tenho que ir. Mas eu vou chamá-lo da estrada. — para mais<br />

atualizações, e conselhos sobre como diabos eu devia chegar ao território de<br />

Malone por minha própria conta, sem carro e a tempo de voltar com provas que eu<br />

<strong>não</strong> tinha sequer ainda.<br />

— Não demore. — foi tudo que ele disse, mas soou muito como "eu te amo"<br />

para mim.<br />

Desliguei e deslizei meu telefone no bolso da frente antes que uma das aves<br />

pudesse exigir de volta, em seguida, apertei o meu aperto sobre Kaci e enfrentei a<br />

velha ave. — Suponho que vocês <strong>não</strong> tenham outra televisão, ou alguns jogos de<br />

vídeo ou qualquer outra coisa?<br />

Eu tive dezenas de olhares confusos, e pelo menos cinco cabeças<br />

balançando.<br />

— Sim. — livros, então. — Vocês têm livros? — eu já tinha visto vários<br />

pássaros lendo em seus poleiros acima, então eu sabia que eles tinham pelo<br />

menos alguns.<br />

— Temos centenas de livros. — disse uma voz masculina que eu decidi <strong>não</strong><br />

rastrear.<br />

— Bom. — as obras clássicas? Isso explicaria a sua afetada consciência<br />

cultural, e talvez seus formais padrões de fala. — Você poderia trazer uma boa<br />

seleção para o quarto de Kaci? Ela vai precisar de algo para manter sua mente<br />

ocupada enquanto estou fora. — eu estava disposta a lutar por isso. Se eles <strong>não</strong><br />

lhe dessem nada para distraí-la da possibilidade de sua própria morte iminente,<br />

Kaci prender-se-ia nisso, e sobre o fato de eu tê-la deixado. E isso seria uma<br />

tortura. Literalmente, em minha opinião.<br />

Para minha surpresa, meu pedido se encontrou com vários acenos.<br />

Seguimos Brynn de volta para a sala do segundo andar e eu estudei os<br />

ninhos enquanto nós avançávamos, em busca de qualquer coisa que pudesse ser<br />

útil. Outra saída. Uma arma potencial. Inferno, mesmo uma moeda de troca que<br />

eles realmente valorizassem. Não como a liberdade de um dos seus companheiros<br />

em troca de Kaci, com isso fiquei com as mãos vazias. E eu nunca poderia<br />

machucar uma criança, e se eu blefasse, perderia toda a credibilidade, que era o<br />

único bem que eu tinha aos seus olhos.<br />

Al<strong>é</strong>m disso, eles provavelmente me rasgariam muito antes que eu fizesse<br />

isso no berçário. <strong>As</strong>sumindo que eles mesmos me agarrassem e fizessem sozinhos.<br />

136


Eu tinha visto pelo garotinho como eles lutavam ferozmente mesmo quando<br />

pequenos.<br />

No quarto, Kaci e eu esperamos a saída de Brynn e do galo jovem que trouxe<br />

uma braçada de desgastados livros de bolso. Então eu fechei a porta e sentei em<br />

frente a ela na cama. Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela explodiu<br />

em lágrimas, seu peito ofegante, como se tivesse estado segurando soluços<br />

durante a maior parte do tempo.<br />

— Kaci... — comecei, me inclinando para um abraço, mas ela balançou a<br />

cabeça e enxugou as lágrimas de suas bochechas com as almofadas de ambas as<br />

mãos.<br />

— Eu sinto muito. — ela soluçou e sua respiração engatou, mas, embora<br />

com os olhos ainda marejados, <strong>não</strong> caíram mais lágrimas. — Eu sei que você tem<br />

que ir e entendo por que. E eu sei que você vai voltar por mim. Eu só... Eu <strong>não</strong><br />

quero ficar aqui sozinha.<br />

Eu quase podia ouvir o som do meu próprio coração quebrando. — Se<br />

houvesse alguma maneira que eu pudesse levá-la comigo, eu o faria. Eu lutaria<br />

contra eles, se isso <strong>não</strong> fizesse que nós duas morrêssemos. Mas eu faria.<br />

Ela assentiu com a cabeça, limpando as lágrimas <strong>não</strong> derramadas de seus<br />

olhos com a extremidade de sua camisa.<br />

— Dois dias. — eu jurei. — Eu vou estar de volta em dois dias, com<br />

qualquer prova que eles querem, ou Gatos suficientes para transformar este lugar<br />

em um grande abate de pássaros gigantes. Eu juro pela minha vida. — ela parecia<br />

c<strong>é</strong>tica, de modo que eu alterei. — Ok, juro pela vida de Marc.<br />

Ela <strong>não</strong> sorriu, mas me deu um aceno de cabeça, único e solene.<br />

— Não vai ser tão ruim assim. Basta ficar aqui e ler, e tentar esquecer todo o<br />

resto. Tenho certeza de que eles vão alimentá-la aqui, então você só tem que sair<br />

para ir ao banheiro.<br />

— <strong>As</strong>sim como da última vez.<br />

Isso me tomou um momento, então eu percebi que ela tinha estado sob uma<br />

prisão domiciliar semelhante quando nos conhecemos.<br />

— É. <strong>As</strong>sim como da última vez. Só que sem a sua execução no final. —<br />

tomara.<br />

— É. — ela piscou e enxugou mais lágrimas.<br />

— Ok, o que mais...? — fechei meus olhos, percorrendo todas as dicas<br />

possíveis e avisos que pudesse armá-la. — Hm... <strong>não</strong> Mude. Eles vão ver isso como<br />

um sinal de agressão. E se você tiver que sair desta sala, <strong>não</strong> vá perto de seus<br />

filhos. Se forem como nós, são fanaticamente superprotetores. Fora isso, basta ser<br />

você mesma e tentar relaxar.<br />

Mas a tensão na minha mandíbula e as fisgadas afiadas de dor atrav<strong>é</strong>s de<br />

minhas têmporas disse que eu precisava levar um pouco de meu próprio conselho.<br />

— Eu confio em você, Faythe. — ela piscou para mim, sua vulnerabilidade<br />

quase tão óbvia quanto a sua f<strong>é</strong> cega.<br />

137


Kaci.<br />

Outro pedaço do meu coração caiu, e realmente me machucou. — Obrigada<br />

Quando eu saí de seu quarto e fechei a porta atrás de mim, mandei uma<br />

oração fervorosa de que a sua confiança em mim <strong>não</strong> fosse extremamente<br />

equivocada. Porque, como todos os outros na minha vida, Kaci merecia algo<br />

melhor do que eu poderia lhe dar.<br />

138


Capítulo 17<br />

— Bem, então, como isso funciona? — minha voz saiu clara e forte, um<br />

pequeno milagre, considerando que na realidade escondia raiva, medo e quase<br />

pânico enquanto via o mundo do terraço que dava ao penhasco.<br />

Al<strong>é</strong>m do limite do terraço era uma queda de 60 metros, que terminava em<br />

uma estrada de cascalho com por do sol vermelho brilhante do entardecer.<br />

<strong>As</strong>sim, o terraço terminava em nada al<strong>é</strong>m de ar. Era uma queda vertical que<br />

garantia parar meu coração antes mesmo de atingir o chão. Isso me assustava<br />

tanto que eu <strong>não</strong> podia soltar o poste que segurava com a mão boa, fazendo com<br />

que meus dedos ficassem brancos em contraste com a madeira crua gasta pelo<br />

tempo.<br />

— Desça da mesma forma que subiu. — disse Brynn da minha esquerda, e<br />

se <strong>não</strong> achasse que o Thunderbird <strong>não</strong> tinha senso de humor eu poderia jurar que<br />

ela estava quase sorrindo.<br />

— Sim, bem, eu acho que eu dormi nessa parte, você vai me explicar de<br />

novo? — outro olhar sobre a borda fez meu estômago revirar. — Tem elevador, <strong>não</strong><br />

<strong>é</strong> verdade? Ou milhões de degraus escavados em um túnel na metade da<br />

montanha. Talvez sob uma escotilha na cozinha? Preferiria um enorme e escuro<br />

túnel cheio de insetos a outro voo em um Thunderbird em qualquer dia de minha<br />

vida.<br />

Desta vez, eu tinha certeza que vi Brynn sorrindo. Ria de mim por dentro.<br />

Eu sabia.<br />

— Sem elevador ou degraus, apenas Cade e Coyt. — Brynn bateu em um<br />

dos bíceps monstruosos de cada um dos pássaros enormes que estavam cada um<br />

de seu lado.<br />

Eu quase engasguei para reprimir o riso com o pensamento.<br />

— Então você <strong>é</strong> o Cade e você <strong>é</strong> o Coyt. — olhei de um impaciente e malhumorado<br />

rosto masculino para o outro, e quando ningu<strong>é</strong>m respondeu, eu dei de<br />

ombros. — Não importa, eu suponho. — depois sorri para Brynn. — Esses sim que<br />

são pássaros enormes.<br />

Ela apertou os lábios. Era muito para seu senso de humor. Mas antes que<br />

Brynn pudesse responder ou eu pudesse formular uma desculpa que soasse<br />

sincera, passos leves se arrastaram para fora, e uma pequena figura passou<br />

atrav<strong>é</strong>s da porta aberta as pernas já transformadas nas de pássaros.<br />

139


Era a garotinha que estava de falda na enfermaria, cabelo comprido e<br />

castanho que agora caía por suas costas.<br />

— Mamãe me pega! — gritou feliz e prontamente seus braços mudaram para<br />

um par de asas. Bateu as asas furiosamente, e conseguiu colocar apenas 30<br />

centímetros de distância entre seus p<strong>é</strong>s e o chão antes de começar a descer. Os<br />

olhos do Brynn se arregalaram alarmados. Seus braços foram estendidos e<br />

segurou a menina no ar antes que se aproximasse da beira do terraço, em<br />

seguida, coloco-a em seu quadril, indiferente quando o par de asas se transformou<br />

em braços humanos.<br />

Brynn era mãe! E de repente eu a vi de uma maneira completamente<br />

diferente.<br />

— Escute... — soltei o poste me arriscando que Cade ou Coyt me<br />

empurrassem do terraço e eu virei totalmente para Brynn. — Eu sei que você <strong>não</strong><br />

tem nenhuma razão para confiar em mim, mas vou tentar conseguir sua prova e<br />

vingar Finn. E voltarei pela Kaci. Mas eu preciso saber que ela ficará segura at<strong>é</strong> eu<br />

voltar. Você pode entender isso? — sorri para a menina em seu quadril e suprimi a<br />

vontade de tocar a pele macia de sua bochecha gordinha.<br />

Mesmo as mães humanas eram sensíveis sobre isso.<br />

— É a mãe da pequena Gata? — perguntou Brynn, obviamente<br />

surpreendida.<br />

— Não. — caramba, quantos anos pensa que eu tinha? — Sua mãe está...<br />

morta. Eu sou tudo que ela tem agora, ela ficará salva aqui com você?<br />

Brynn hesitou por um momento, então concordou, balançando suavemente<br />

sua filha no quadril. O bico da menina se tornou uma boca e ela colocou o dedo<br />

sobre ele. — Claro. Nós <strong>não</strong> queremos fazer mal a menina. Mas se você falhar nós<br />

cumpriremos nossa palavra.<br />

Eu balancei a cabeça insegura, isto era provavelmente o melhor que eu<br />

poderia obter. — Obrigada — depois de respirar profundamente, eu olhei para<br />

Cade, ou talvez fosse Coyt. — Eu estou pronta, rapazes. — mas na realidade<br />

estava tudo menos isso.<br />

Sem sequer ver se eles, os Thunderbirds machos, Mudaram ao mesmo tempo<br />

e levantaram voo ao mesmo tempo. Felizmente, o teto do terraço era muito alto,<br />

sem dúvida para permitir as decolagens.<br />

O bom de <strong>não</strong> levar bagagem <strong>é</strong> que você <strong>não</strong> tem nada a perder por acidente,<br />

quando um pássaro gigante desce rapidamente e agarra por seus dois braços, e<br />

então você fica pendurada sobre a terra a uma altura que nenhum gato nunca<br />

deveria experimentar.<br />

De mais de 60 metros, cairia em p<strong>é</strong>?<br />

140


— Oh merda! — gritei sem poder fechar mais minha boca e meus olhos. A<br />

terra se aproximava rapidamente de mim, e então o segundo pássaro me segurou<br />

pelos tornozelos no ar, detendo a nossa queda. Os pássaros batiam as asas em<br />

uníssono planejado um segundo antes de cair em um ângulo assustador. Três<br />

batidas de asas depois soltaram meus braços e caí os últimos metros ou algo<br />

assim, para aterrissar fortemente sobre meus p<strong>é</strong>s. Eu dobrei meus joelhos para<br />

absorver parte do impacto e para evitar cair de cara no chão, eu <strong>não</strong> podia me dar<br />

ao luxo de me amparar com meu braço ferido e machucá-lo mais.<br />

Endireitei-me no momento em que os rapazes aterrissaram em sincronia em<br />

frente a mim, e embora os dois me vissem com aparente indiferença, talvez um<br />

pouco de nojo, nenhum dos dois disse uma palavra.<br />

— Pelos deuses poderiam, por favor, calar a boca? Estou com dor de cabeça<br />

por tudo o que disseram.<br />

Eles só piscaram.<br />

Nós pousamos em um pequeno vale entre duas montanhas, colinas, de<br />

acordo comigo.<br />

Ao me virar, vi que o ninho era descendo o vale, construído na borda da<br />

união entre duas colinas. Atrás de Coyt e Cade e muito abaixo do ninho, a estrada<br />

de cascalho terminava em uma enorme pilha de rochas, obviamente caída das<br />

colinas. Ventiladas de tal forma que o caminho ao ninho fosse inacessível para os<br />

humanos. O que dificultava escolher uma direção.<br />

— E... para onde vai este caminho? — fiz um gesto em direção à estrada de<br />

cascalho que se afastava do ninho, finalmente um dos dois rapazes falou.<br />

— Norte.<br />

— Poxa, obrigada. — fechei os olhos para cobrir o sol, e eu percebi que<br />

estava praticamente cara a cara com os dois Thunderbirds, e foi o mais alto que<br />

tinha visto. — Pode pelo menos me dizer onde estamos? Como <strong>é</strong> que eu vou chegar<br />

a Apalachia se nem sequer sei que caminho pegar?<br />

— Estamos em Novo M<strong>é</strong>xico. — disse o pássaro da esquerda. Seu parceiro<br />

ainda <strong>não</strong> tinha se dado ao trabalho de mudar o seu pico. — A leste de<br />

Alamogordo.<br />

Isso sim era útil para mim. — Obrigada.<br />

— Dois dias. O pássaro me avisou. Em seguida, os dois se foram, com suas<br />

poderosas asas soprando meu cabelo no rosto.<br />

Virei-me para ver de novo, cobrindo meus olhos do sol, at<strong>é</strong> que pousaram<br />

suavemente no terraço. Não olharam para trás, e ningu<strong>é</strong>m saiu para me ver ir<br />

embora. Eu estava realmente sozinha, pela primeira vez na minha vida.<br />

Espere, isso era verdade? Enquanto estive na universidade, meu pai sempre<br />

141


tinha algu<strong>é</strong>m me vigiando, mesmo quando eu tinha sido sequestrada pelo Miguel,<br />

tinha a minha prima Abby como companhia, e o meu irmão Ryan para manipular<br />

e espiar.<br />

Agora <strong>não</strong> tinha nada, sem companhia, sem planos e sem transporte.<br />

Felizmente, tinha meu celular, e sabia que teria recepção em um lado da<br />

montanha. Quanta possibilidade tinha de que tivesse sinal na montanha tamb<strong>é</strong>m?<br />

Duas barras. Poderia ter sido pior.<br />

Caminhei enquanto discava para meu pai, ele respondeu ao <strong>primeiro</strong> toque.<br />

— Faythe?<br />

— Sim. — minhas botas rangiam no cascalho, e o rugido de meu estômago<br />

me lembrou que <strong>não</strong> tinha comido em... acho que quase quinze horas. — Estou<br />

em um caminho de cascalho em frente ao ninho, em algum lugar ao leste de<br />

Alamogordo Novo M<strong>é</strong>xico. Você tem alguma ideia de como estou longe da cidade<br />

mais próxima com alguma empresa de aluguel de carro? E eu preciso de um<br />

bilhete de avião para Kentucky. O mais perto que eu posso ficar da propriedade de<br />

Malone.<br />

— Uau, calma. — o couro rangeu quando meu pai se sentou em sua cadeira<br />

no escritório. Eu queria estar lá com ele. Eu queria estar planejando nos<br />

bastidores, em vez de subir a minha bunda feliz atrav<strong>é</strong>s do Novo M<strong>é</strong>xico, um em<br />

busca do Hertz mais próximo, para <strong>não</strong> mencionar um restaurante.<br />

Felizmente, eu tinha ido ao banheiro antes de sair de lá.<br />

— Não tenho muito tempo papai. — galhos esmagam sob os meus p<strong>é</strong>s<br />

quando pisaram em galhos caídos que haviam secado com o tempo.<br />

— Faythe <strong>não</strong> pode ir para procurar evidências da culpa de Malone em seu<br />

território.<br />

Eu chutei um pau quebrado para fora do meu caminho e pisei em uma poça<br />

de chuva no caminho — Kaci vai ser morta dentro de 48 horas, se eu <strong>não</strong> fizer<br />

isso.<br />

— Você realmente acha que matariam?<br />

— Eu <strong>não</strong> tenho nenhuma dúvida. — tirei o cabelo do meu rosto, que tinha<br />

escapado do meu rabo de cavalo. — Eles <strong>não</strong> são como nós papai, são lealmente<br />

fanáticos aos membros de seu Bando, <strong>não</strong> irão se expor pelo benefício de qualquer<br />

outra pessoa a <strong>não</strong> ser que possa beneficiá-los, <strong>não</strong> importa para eles se Kaci viva<br />

ou morra, e sabem que só têm sua palavra, eles farão isso.<br />

Sua pausa foi longa com os pensamentos que eu só poderia começar a<br />

imaginar. Ele tinha que pensar sobre todos nós. Sobre o que seria melhor para o<br />

Pride. Kaci era apenas um membro, mas era nosso e estava indefesa.<br />

142


— Bem, temos que tirá-la de lá. Se eles <strong>não</strong> vão negociar, temos de entrar<br />

pela força.<br />

Eu balancei a cabeça novamente, mesmo sabendo que ele <strong>não</strong> podia ver. —<br />

Não vai funcionar. São muitos. E se invadirmos seu lar, onde estão seus filhos,<br />

eles vão lutar ainda mais ferozmente. Infelizmente, <strong>não</strong> estão limitados pelo espaço<br />

em sua própria casa, como eles vão estar na nossa. Seu ninho <strong>é</strong> cavernoso, com<br />

espaço de sobra para voar e saltar em uma pirueta. E, de qualquer maneira, <strong>não</strong><br />

podemos ir para o lado da montanha em forma humana e felina, já que <strong>não</strong><br />

poderemos carregar armas.<br />

Um som de vidro tilintou na linha. Escocês. Um gole poderia me cair bem<br />

nesse momento. Meu pai suspirou. — Nunca disse que seria <strong>fácil</strong>, mas <strong>é</strong> melhor<br />

que enfrentar o Malone.<br />

— Eu <strong>não</strong> estou falando sobre lutar com eles, papai. Ainda <strong>não</strong>. Vou tentar<br />

na surdina. Eu estarei fora de lá antes que eles percebem que eu estou lá. —<br />

assim que eu encontrar o que estou procurando...<br />

— Não, você <strong>é</strong> um muito vulnerável.<br />

— Então me mande reforços. — eu estava em cima de um tronco podre que<br />

estava na estrada de cascalho e silenciosamente amaldiçoei que a luz do dia<br />

estava indo embora. Não seria capaz de viajar muito bem ou muito mais<br />

rapidamente em forma humana, mas se mudasse, <strong>não</strong> foi possível carregar minha<br />

roupa ou o meu telefone. E estava frio em fevereiro, apesar de que <strong>não</strong> tinha nada<br />

mais do que o meu casaco para me manter quente. — Coloque dois dos rapazes no<br />

avião. Eu esperarei. — se <strong>é</strong> que vou encontrar algum aeroporto…<br />

— Marc e Jace estão a caminho.<br />

Meu alívio inicial foi quase imediatamente ofuscado pela confusão. — Como<br />

<strong>é</strong> que você sabia para onde enviá-los?<br />

— Não sabíamos para onde vocês foram levadas, mas calculamos que foi<br />

para oeste. <strong>As</strong>sim que recebi a chamada de Mateo, enviei-os ao norte por Dallas,<br />

depois para oeste na 120. Eles estão esperando apenas nosso contato.<br />

— Eu já passei para eles o novo destino. — Michael falou de algum lugar,<br />

provavelmente da mesa do papai. — Eles vão estar aí em cerca de três horas, mas<br />

você precisa nos dar sua posição exata, para que possamos lhes dar o caminho<br />

correto.<br />

— Não tem problema. — certamente eu poderia encontrar um lugar com<br />

alguma referência, ou um sinal de trânsito, ou alguma coisa. Se algum dia eu sair<br />

da estrada de cascalho e encontrar um lugar mais habitado. — E Mateo e Manx? E<br />

Des? Eles estão bem?<br />

Por favor, por favor, por favor, permitia que eles estejam bem.<br />

143


— Eles estão muito transtornados e Carey Dodd e Mateo têm alguns<br />

arranhões, mas nenhum dano permanente. Teo diz que só foram quatro<br />

Thunderbirds. Um pegou Kaci, e dois seguiram você quando você foi atrás de Kaci.<br />

Dodd e Matt pegaram o quarto com um p<strong>é</strong> de cabra. Manx está chateada porque<br />

<strong>não</strong> fez parte da ação.<br />

— Eu aposto. — eu nunca tinha visto Manx lutar, porque ela estava grávida<br />

quando... a encontramos. Mas eu entendi a sua frustração por ter perdido a luta.<br />

Infelizmente, sem uma arma, ou garras, mesmo que ela tivesse tempo de mudar e<br />

algu<strong>é</strong>m para cuidar do bebê, havia pouco que poderia ter feito para defender-se<br />

al<strong>é</strong>m de morder algo em seu caminho.<br />

— Eles mataram o pássaro que foi deixado para trás. — meu pai estava tão<br />

orgulhoso quanto divertido. — Teo ligou para dizer o que aconteceu e Dodd<br />

chamou um caminhão de reboque para pegá-los, e uma vez que ele colocou Teo e<br />

Manx em segurança, eu os mandei de volta para pegar Marc e Jace.<br />

— Onde estão Manx e Teo agora?<br />

— Dodd os conduziu ao Henderson e ajudou Teo a se limpar e se enfaixar no<br />

hotel. Eles estão bem no momento.<br />

Graças a Deus. Eu <strong>não</strong> tenho certeza que eu poderia ter lidado com isso, se<br />

algo tivesse acontecido a Des. Ou Manx, na verdade.<br />

— Falando de hot<strong>é</strong>is... — meu pai continuou. — Não está perto de algum? —<br />

ofeguei e apertei os olhos na luz fraca. — Não a menos que a Malvada Bruxa<br />

alugue quartos na casinha de pão de gengibre. Eu estou em uma estrada de terra<br />

na floresta, ao p<strong>é</strong> de uma pequena montanha.<br />

A preocupação e a raiva engrossaram a voz do meu pai, como se ele tivesse<br />

que limpar a garganta. — Bem, qual <strong>é</strong> o seu estado? Deram-lhes alguma provisão?<br />

Revirei os olhos. — Eles nem sequer me deram uma despedida cordial.<br />

— Eu tenho a minha jaqueta de couro preta, minhas botas de caminhadas,<br />

meu celular e minha carteira. O que significa que eu tenho a minha ID e cerca de<br />

30 dólares em dinheiro, se minha memória <strong>não</strong> falha.<br />

— Nada de água? Alimento?<br />

— Somente a memória da minha última refeição. — o chili da minha mãe na<br />

noite passada.<br />

— Direi aos rapazes que parem para comprarem comida. — disse Michael ao<br />

fundo.<br />

— Você está desidratada? Ferida? — as palavras de meu pai tinham um tom<br />

de raiva agora, mas sua fúria <strong>não</strong> era dirigida a mim. Era dirigida aos<br />

Thunderbirds que tinham me deixado cair em meio ao nada sem pensar em meu<br />

bem-estar. E, provavelmente, para Malone tamb<strong>é</strong>m que foi responsável por toda<br />

144


essa bagunça em <strong>primeiro</strong> lugar.<br />

— Tenho sede, mas estou intacta. — as únicas marcas em mim, al<strong>é</strong>m de<br />

meu braço quebrado, eram contusões profundas das garras dos Thunderbird. —<br />

Eu posso lidar com uma caminhada, sabendo que algu<strong>é</strong>m vai vir em meu socorro.<br />

Este conhecimento impediu que minha raiva e frustração se tornassem<br />

desespero e pânico. A ideia de Marc e Jace presos juntos em um carro tinha feito<br />

meu estômago se revirar em um turbilhão de espanto.<br />

— Então, nós veremos depois do teste?<br />

A respiração de meu pai era pesada demais para ser chamado de um<br />

suspiro e o imaginei esfregando a testa. — Sim, mas eu preciso que todos vocês se<br />

concentrem no trabalho. Sem pequenas rixas.<br />

Fechei meus olhos quando eu senti uma pontada de medo. Se ele tivesse<br />

notado a tensão entre Marc e Jace? Marc tinha notado? — Espero <strong>não</strong> ter que te<br />

dizer que as coisas ficarão ruins se te pegarem.<br />

— Claro que <strong>não</strong>. — meu coração palpitava dolorosamente com o<br />

pensamento.<br />

Após a morte de Brett, <strong>não</strong> havia dúvida de que se Malone nos encontrasse<br />

em sua propriedade, ele executaria tanto Marc como Jace e provavelmente me<br />

faria olhar então me trancaria a chaves at<strong>é</strong> saber como me fazer cooperar. O que<br />

nunca aconteceria. Ele teria que me matar <strong>primeiro</strong>.<br />

— Bem. O resto de nós continuará treinando para a luta real e se eles<br />

pegarem você, nós colocaremos nossos planos em prática e iremos por ti.<br />

Mas nós sabíamos que quando a cavalaria chegasse, se necessário, eu<br />

poderia ser o que teria para ser salvo. — Eu devo ir. — olhei para o meu telefone.<br />

— Eu tenho menos de meia barra de carga e tenho que ser capaz de entrar em<br />

contato com os rapazes.<br />

Meu pai hesitou, e no silêncio, ouvi tudo o que ele queria dizer e tudo o que<br />

eu queria dizer. — Faythe, cuidado.<br />

— Eu terei. Eu te amo.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m te amo.<br />

Quando desliguei, o sol tinha se posto e o brilho vermelho havia<br />

desaparecido quase por completo do c<strong>é</strong>u. Eu coloquei meu telefone no meu bolso e<br />

mudei meus olhos para a forma felina. Em seguida, fechei o casaco at<strong>é</strong> o pescoço e<br />

coloquei minhas mãos em meus bolsos, onde eu tive a surpresa de encontrar<br />

minhas luvas. Se a temperatura caísse muito mais, eu poderia fazer a diferença<br />

entre congelamento e simples dormência.<br />

Eu fiquei no caminho, mas tive que superar obstáculos maiores ao longo do<br />

caminho, incluindo dois longos enferrujados veículos parados. Se os Thunderbirds<br />

145


<strong>não</strong> tinham danificado a estrada, eles certamente <strong>não</strong> tinham dado qualquer tipo<br />

de manutenção que pudessem sair dali.<br />

<strong>As</strong> próximas duas horas passaram devagar e miseravelmente. No começo eu<br />

me movi rapidamente, determinada a encontrar uma estrada, ou uma estrada que<br />

cruzava uma placa de rua ou at<strong>é</strong> mesmo uma torre de celular.<br />

Algo que eu pudesse informar aos meninos quando ligasse. Mas era oito<br />

quilômetros, o meu melhor palpite, antes de eu visse algo al<strong>é</strong>m daquela estúpida<br />

estrada de cascalho e árvores dos dois lados.<br />

Quando eu vi a torre de água se sobressaindo das árvores ao meu leste,<br />

banhada das luzes dos refletores, eu estava tremendo incontrolavelmente, batendo<br />

os dentes e os meus dedos dos p<strong>é</strong>s, o nariz e as pontas dos meus dedos estavam<br />

dormentes. Meu tempo foi reduzido de uma marcha para uma velocidade mais<br />

lenta, eu estava a poucos minutos de esfregar dois gravetos e ficar pensando sobre<br />

a possibilidade de que eu fosse uma sobrevivente selvagem naturalmente dotada.<br />

Mas a torre de água fornecia combustível e fiquei desesperada para ler as<br />

letras ao redor da torre. Obriguei as minhas pernas a moverem-se mais<br />

rapidamente, me subornando com promessas de uma xícara de chocolate e<br />

ensopado de caseiro, embora fosse mais provável que só conseguisse barras de<br />

proteína e Coca-Cola, assumindo que os rapazes iriam me encontrar. Realmente<br />

saltei quando meu celular soou e meus dedos estavam tão intumescidos que eu<br />

mal podia sentir o telefone enquanto o tirava de meu bolso.<br />

— Olá?<br />

— Faythe? — Marc disse, e senti uma sensação de alívio que se estendia em<br />

mim como a luz do sol, me esquentando de dentro para fora. — Você está bem?<br />

está?<br />

— Melhor agora. — respirei, tentando <strong>não</strong> tagarelar em seu ouvido.<br />

— Devemos estar nos aproximando. Algum dado concreto de onde você<br />

— Hum, sim. Um momento. — apertei o telefone para me assegurar que<br />

meus dedos intumescidos <strong>não</strong> o deixariam cair, então andei para frente com meu<br />

olhar fixo na torre de água at<strong>é</strong> a metade inferior das letras subiu acima das copas<br />

das árvores. — Para o norte, vejo uma torre de água que diz... Cloud... alguma<br />

coisa.<br />

— Cloudcroft. — Jace disse no fundo, e ouvi o rangido de papel mais perto<br />

ao telefone quando Marc desdobrou um mapa. — Olhe, <strong>é</strong> logo ali. — Jace disse, e<br />

escutei um bip eletrônico de sua unidade GPS. — Estamos a apenas alguns<br />

quilômetros de distância.<br />

Marc resfolegou, e mais papel rangeu quando dobrou seu mapa. — Dirija-se<br />

para a torre. Iremos para o sul daí e lhe encontraremos.<br />

146


— Apresse-se… — eu disse, mas o final da palavra foi engolida por meu<br />

bater de dentes.<br />

— Aguenta. Estamos quase aí.<br />

147


Capítulo 18<br />

O Pathfinder de Jace parou no meio da estrada de cascalho, e Marc estava<br />

fora antes que Jace pudesse desligar o motor. Ele me segurou tão apertado que eu<br />

<strong>não</strong> conseguia respirar, e as contusões sobre meus braços doíam, mas eu estava<br />

feliz em trocar minha respiração por seu calor. Para <strong>não</strong> falar de sua companhia.<br />

Jace ficou com uma mão na porta do lado do motorista, olhando para nós<br />

com uma mistura de alívio e frustração. Eu lhe dei um sorriso agridoce com os<br />

lábios dormentes, em seguida, perdi o seu olhar quando Marc me sentou e tirou<br />

sua jaqueta de couro para colocar sobre mim.<br />

— Vamos lá, vamos mantê-la aquecida. — Marc me levou para o Pathfinder<br />

por uma mão e puxou a porta aberta para mim.<br />

— É mais quente aqui. — Jace disse antes que eu pudesse subir. Eu lhe<br />

lancei um olhar de censura, mas ele me ignorou a favor de Marc. — Todas as<br />

aberturas de ar quente estão na frente.<br />

— Boa. — Marc abriu a porta da frente, e eu me vi sentada ao lado de Jace,<br />

vestida com a jaqueta de Marc, antes mesmo de eu realmente processar o que<br />

tinha acontecido. Jace ligou o motor e acionou o calor, então virou todas as<br />

aberturas em minha direção.<br />

Marc entrou e se inclinou para frente quando Jace seguiu para o lado da<br />

estreita estrada para ligar o carro. — Então, o ninho <strong>é</strong> para lá? — ele bateu na sua<br />

janela, de frente para a direção que eu tinha vindo, e eu assenti. — Quão distante?<br />

— Não tenho certeza. Talvez oito quilômetros? — minhas palavras estavam<br />

tremidas, faladas em torno de meus dentes batendo, mas ambos pareciam me<br />

entender.<br />

Jace franziu as sobrancelhas e moveu o carro de volta. — De acordo com o<br />

GPS, o caminho <strong>é</strong> um beco sem saída.<br />

Tirei minhas luvas e deixei cair no meu colo, em seguida, segurei minhas<br />

mãos na frente das aberturas.<br />

— É. Mas os becos sem saída acabam em frente ao ninho dos Thunderbirds.<br />

Jace hesitou com uma mão sobre a alavanca de câmbio. — Kaci está a<br />

apenas alguns quilômetros de distância. Nós <strong>não</strong> podemos deixá-la lá.<br />

— Você tem uma ideia melhor? — Marc <strong>não</strong> parecia exatamente hostil, mas<br />

ele definitivamente estava impaciente, e fiquei feliz de ter perdido a primeira<br />

metade da viagem, mesmo considerando o frio glacial e o voar sem avião.<br />

Jace encolheu os ombros. — Ela deve estar apavorada sozinha.<br />

— Ela está. — usei os dedos de um p<strong>é</strong> para erguer meu sapato oposto, então<br />

estiquei meus dedos congelados para a ventilação do piso. — Mas <strong>não</strong> podemos<br />

148


ecuperá-la sem qualquer prova ou uma luta, e três de nós <strong>não</strong> tem chance contra<br />

várias dezenas de Thunderbirds. Especialmente porque eles têm a vantagem de<br />

jogar em casa.<br />

A mandíbula de Jace ficou tensa e sua mão apertou o volante, mas o p<strong>é</strong><br />

ficou firme no pedal do freio.<br />

— Vamos. — Marc insistiu. — Não há nada que possamos fazer por Kaci,<br />

sem provas de que Malone <strong>é</strong> culpado, e se perdermos o nosso voo, ela estará tão<br />

viva quanto morta.<br />

— Por favor. — eu disse, quando a ordem de Marc <strong>não</strong> teve impacto sobre<br />

ele, um fato que me deixou vagamente mal em meu estômago. — Você sabe que se<br />

houvesse mais alguma coisa que pud<strong>é</strong>ssemos fazer, eu seria a primeira a sugerir<br />

isso.<br />

A mão de Jace se contraiu em torno do volante, então ele acenou com a<br />

cabeça uma vez, rapidamente, e acelerou tão forte que os cascalhos voaram atrás<br />

de nós. Eu teria voado para frente se <strong>não</strong> tivesse com o cinto de segurança. Marc<br />

bateu a testa na parte de trás da minha cabeça e soltou uma s<strong>é</strong>rie de palavrões<br />

em espanhol, muito rápido para eu entender.<br />

— Cuidado, idiota. — ele terminou por fim, olhando para Jace no espelho<br />

retrovisor. — Nós <strong>não</strong> seremos de ajuda para ela, se você nos colocar em uma<br />

vala.<br />

Jace fez uma careta, mas desacelerou para uma velocidade mais baixa. —<br />

Você está se aquecendo? — ele olhou para mim rapidamente e virou à direita na<br />

primeira rua pavimentada que eu tinha visto, perpendicular à rua privada dos<br />

Thunderbirds.<br />

— Sim. — mas meus dentes ainda estavam batendo. — Qual a distância at<strong>é</strong><br />

o posto? Estou morrendo de fome.<br />

— Nós pegamos algo. Marc, pegue o...<br />

Mas Marc já estava levantando uma saliente sacola branca de plástico sobre<br />

o banco da frente, no meu colo. — Está provavelmente frio agora, mas <strong>é</strong> melhor do<br />

que barras de chocolate e refrigerante. E ai tem um par de garrafas de Gatorade,<br />

nos seus p<strong>é</strong>s.<br />

— Obrigada, pessoal. — pelos próximos 20 minutos, eu devorei tiras de<br />

frango das lojas de conveniência, batatas, tiras fritas de mussarela e milho. Me<br />

senti como se <strong>não</strong> tivesse comido nas últimas semanas. Um metabolismo <strong>Werecat</strong><br />

funciona muito mais rápido do que de um ser humano, e se eu tivesse que Mudar,<br />

eu provavelmente teria desmaiado de fome.<br />

Quando o saco estava vazio, eu amassei e o deixei cair aos meus p<strong>é</strong>s, em<br />

seguida, peguei uma garrafa de Gatorade roxo. — Então, para onde vamos?<br />

— Roswell. — Marc se contorceu em seu assento, e seu rosto entrou em foco<br />

no meu retrovisor lateral. — Nós devemos estar lá em algumas horas. Nosso voo<br />

sai às nove e quinze.<br />

— Você está falando s<strong>é</strong>rio? Roswell tem um aeroporto?<br />

149


— Não. — Jace sorriu. — Estamos reservados no <strong>primeiro</strong> disco voador<br />

disponível. Espero que você <strong>não</strong> tenha problemas com o espaço.<br />

Eu <strong>não</strong> pude reprimir um sorriso, mas me senti bem por finalmente estar<br />

sorrindo novamente, depois de tanto medo e dor. Mesmo que as piadas fossem<br />

estúpidas, e os sorrisos fossem apenas temporários, e <strong>não</strong> conseguisse realmente<br />

esconder a raiva acumulada e crescente sede de sangue consumindo todo o<br />

interior. — Você só achou engraçado, porque você <strong>não</strong> estava no meu último voo.<br />

No que seja que vamos decolar, <strong>é</strong> melhor que tenha motores a jato. Ou pelo menos<br />

um par de h<strong>é</strong>lices.<br />

Um movimento no espelho retrovisor me chamou a atenção, e eu olhei para<br />

cima para ver Marc carrancudo para Jace. Eu virei para ele. — O que há de<br />

errado? — minha pergunta parecia de alguma forma muito banal, mas tamb<strong>é</strong>m<br />

muito complicada para ter qualquer resposta real.<br />

— Como você acha que Kaci está segura com eles? Com os pássaros?<br />

— Tendo dúvidas sobre deixá-la? — o sorriso de Jace tinha ido embora.<br />

— Não. — Marc rosnou. — Nós <strong>não</strong> tínhamos escolha. Eu só quero saber o<br />

quão ruim ela vai estar quando chegarmos lá. <strong>Ser</strong>á que ela tem algu<strong>é</strong>m para<br />

conversar? Qualquer coisa para fazer? <strong>Ser</strong>á que eles sequer sabem como alimentála?<br />

— <strong>As</strong>sumindo que nós cumpriremos o prazo, ela vai ficar bem. — eu tinha<br />

poucas dúvidas sobre isso, depois de ver Brynn com sua filha. — Eles vão manter<br />

sua palavra, a menos que eu quebre a minha. Tenho certeza que ela tem muito<br />

para ler, mas <strong>não</strong> há nada que eu possa fazer sobre a companhia. Felizmente, eles<br />

parecem inclinados a deixá-la sozinha. Eles <strong>não</strong> gostam de humanos, e tão<br />

estranho quanto parece, eles pensam em nós como praticamente humanos.<br />

— Como assim? — Jace perguntou.<br />

— Eles nos menosprezam, e <strong>não</strong> confiam em nós. Inclusive em Kaci. Mas<br />

<strong>não</strong> querem machucá-la. Ela vai ficar bem, contanto que retorne com a arma<br />

fumegante em dois dias.<br />

— E sobre a comida?<br />

— Ela <strong>é</strong> uma adolescente, e <strong>não</strong> um bebê. — Jace desviou para passar o<br />

<strong>primeiro</strong> carro que eu tinha visto desde que deixamos a estrada de cascalho. —<br />

Ela come as mesmas coisas que todo mundo.<br />

Mas eu sabia o que Marc queria dizer, Kai tinha pedido carniça. — Eu disse<br />

a eles para se assegurarem que sua comida fosse fresca e bem preparada. — na<br />

forma animal, nossos estômagos podem lidar com a carne crua, mas mesmo um<br />

Gato <strong>não</strong> vai comer carne podre. E em forma humana, Kaci <strong>não</strong> podia comer<br />

qualquer um desses.<br />

Marc assentiu, aparentemente apaziguado, e fugiu para o banco de trás do<br />

lado do motorista, para que ele pudesse me ver melhor. Ele encostou-se à janela e,<br />

quando piscou, seus olhos ficaram fechados um tempo longo demais. Ele parecia<br />

exausto, e percebi então que ele e Jace provavelmente <strong>não</strong> tinham dormido nada<br />

desde que Kaci e eu tínhamos desaparecido do mapa. Meu pai os tinha enviado<br />

150


imediatamente para o oeste, na esperança de que estaria perto o suficiente para<br />

ajudar no momento em que soubesse de nós.<br />

— Como vocês saíram. — eu perguntei.<br />

— Hein? — Jace franziu a testa para mim, e Marc piscou lentamente com<br />

incompreensão. Eles realmente precisavam dormir.<br />

— Do rancho. Como vocês saíram? Isso foi antes do cessar-fogo.<br />

— Ah. — Marc esfregou as duas mãos sobre o rosto, em seguida, piscou<br />

novamente. — Seu pai saiu pela porta da frente, novamente segurando a arma.<br />

Enquanto os pássaros foram se reunindo em torno dele, nós escapamos pela porta<br />

dos fundos e para a floresta em forma de Gato, cada um carregando uma mochila.<br />

— Por que diabos eles caíram nessa de novo? Eles acabaram de nos pegar<br />

fugindo!<br />

— Eles <strong>não</strong> caíram nessa. — Jace me deu um sorriso torto. — Foi um<br />

inferno de uma corrida, mas eles <strong>não</strong> nos seguiram para a floresta. Eu acho que<br />

eles são totalmente desamparados quando estão ligados à terra.<br />

— Bem, pelo menos agora algu<strong>é</strong>m pode sair para conseguir alimentos e<br />

suprimentos. Então, como você conseguiu o seu carro? — eu corri os dedos sobre<br />

a saliente maçaneta da porta, parei e olhei para Jace novamente. — Espere, esse<br />

<strong>não</strong> <strong>é</strong> o seu. — agora que eu estava aquecida e alimentada, eu percebi que o<br />

estofamento era cinza escuro, quando deveria ser preto.<br />

Jace sorriu novamente, impressionado. — Não. Dodd nos levou a um lugar<br />

de aluguel de carros, então levou Teo, Manx e Des para Henderson no carro de<br />

sua empresa.<br />

Não <strong>é</strong> justo. Dodd tinha dois carros, e eu <strong>não</strong> tinha sequer um. Mas,<br />

novamente, Carey Dodd tinha um bom emprego, como a maioria dos Toms, sem<br />

família para sustentar. Considerando que eu <strong>não</strong> estava sequer recebendo um<br />

salário, graças ao tribunal, que tinha me condenado culpada por infectar meu exnamorado,<br />

alguns meses antes.<br />

Oficialmente, trabalhar como um executor de graça era considerado o meu<br />

"serviço comunitário." Se fosse um trabalho que eu <strong>não</strong> gostasse, eu teria<br />

chamado isso de escravidão.<br />

— Por que você <strong>não</strong> tira um cochilo? — sugeri, alcançando para apertar a<br />

mão de Marc quando ele bocejou novamente. — Vamos acordá-lo quando chegar<br />

ao aeroporto.<br />

Marc começou a recusar, eu podia ver o inicio de uma carranca. Mas então<br />

ele desistiu e suspirou. — Você, tenha certeza que o espertinho nos manterá na<br />

estrada, em algum lugar abaixo da velocidade da luz?<br />

Eu balancei a cabeça e sorri, abstendo-me de dizer a Marc que Jace era<br />

realmente o melhor motorista. Atrás do volante, Marc fazia os Velozes e Furiosos<br />

parecer como Conduzindo Miss Daisy.<br />

Ele <strong>não</strong> pareceu convencido, mas dez minutos depois, ele começou a roncar<br />

e eu olhei para trás para encontrá-lo desmaiado contra a janela, usando uma<br />

mochila vazia como travesseiro.<br />

151


— Então, como <strong>é</strong> que você <strong>não</strong> está dormindo ao volante? — sussurrei, para<br />

<strong>não</strong> acordar Marc.<br />

Normalmente ele tinha um sono pesado, mas eu <strong>não</strong> tinha dúvida de que se<br />

ele acordasse sem aviso, seria durante uma conversa privada entre eu e Jace.<br />

— Ele dirigiu a maior parte do caminho at<strong>é</strong> aqui. — o olhar de Jace foi para<br />

o espelho retrovisor.<br />

— E você pode dormir durante o caminho?<br />

Jace encolheu os ombros. — Acho que se ele está planejando me matar, vai<br />

esperar at<strong>é</strong> que tenha justificativa suficiente para evitar a pena de morte. — ele<br />

ainda estava sorrindo, mas seus olhos <strong>não</strong> mostravam humor. — Então... quanto<br />

tempo você acha que vai ser?<br />

Minhas mãos ficaram frias apesar do aquecedor soprando a todo vapor, e eu<br />

me virei para olhar Marc novamente, para tranquilizar-me de que ele realmente<br />

estivesse dormindo. — Jace, eu <strong>não</strong> posso fazer isso agora. — minhas palavras<br />

saíram tão suaves que eu mal podia ouvi-las, mas deixaram um gosto amargo na<br />

minha língua.<br />

— Apenas me dê uma data. — ele sussurrou, parecendo estranhamente...<br />

intenso. — E eu <strong>não</strong> vou falar de novo at<strong>é</strong> então.<br />

— Você quer saber quando eu vou dizer a ele? Você está seriamente me<br />

perguntando isso agora? — nenhuma quantidade de sussurrar cauteloso poderia<br />

suavizar minha irritação. Marc estava no banco de trás!<br />

— Nunca será um bom momento para falar sobre isso, Faythe. — Jace se<br />

virou calmamente, olhando para a estrada. — Estamos prestes a nos esgueirar em<br />

território inimigo, e tão louco como isso me faz, Calvin Malone <strong>é</strong> dono de tudo que<br />

já foi do meu pai... sua esposa, bem como suas terras... isso irrita Cal mais do que<br />

saber que meu pai teve tudo isso <strong>primeiro</strong>. Ele me odeia por isso, e se ele nos<br />

encontrar, ele vai me matar. E isso pode ser mesquinho da minha parte, mas eu<br />

gostaria de saber onde estamos, antes de morrer, se <strong>é</strong> isso <strong>é</strong> o que está escrito no<br />

destino.<br />

Puxei uma respiração profunda e segurei-a, e quando isso <strong>não</strong> foi o<br />

suficiente, eu deixei-o sair devagar e puxei mais uma. Jace <strong>não</strong> estava olhando<br />

para mim. Ele <strong>não</strong> podia. Ou talvez ele <strong>não</strong> quisesse. Eu <strong>não</strong> estava sendo justa<br />

com nenhum deles, e eu sabia muito bem. O que eu <strong>não</strong> sabia era como resolver<br />

isso sem ferir algu<strong>é</strong>m. Ou, o mais provável, todos nós.<br />

Nesse momento, com Marc roncando suavemente atrás de nós, e Jace<br />

olhando para a estrada como se nada mais existisse, enquanto esperava pela<br />

minha resposta, eu gostaria de nunca tê-lo deixado me beijar e que eu nunca o<br />

beijasse de volta. Eu queria que tiv<strong>é</strong>ssemos sido fortes o suficiente para lidar com<br />

a morte de Ethan sem cairmos um no outro fisicamente. Sem nos conectar em tal<br />

nível, primário e emocional.<br />

Se eu nunca tivesse sabido o que estava faltando, com certeza isso <strong>não</strong> seria<br />

tão difícil.<br />

152


Mas esse era um desejo fútil, vale menos do que cada centavo que eu tinha<br />

perdido em fontes quando era uma criança. E mesmo se eu pudesse desfazer o<br />

que tinha feito, <strong>não</strong> estava convencida de que iria fazer qualquer diferença.<br />

Não senti algo por Jace simplesmente porque eu dormi com ele. A verdade<br />

era que eu dormi com ele porque sentia algo. Mesmo que tivesse a força de<br />

vontade para resistir ao conforto físico no frágil estado emocional, eu ainda sentia<br />

algo por Jace. E, eventualmente, alguma outra coisa aconteceria para enfraquecer<br />

a nossa força de vontade, e o resultado seria o mesmo.<br />

Só que seria infinitamente pior se tivesse acontecido depois que eu me<br />

casasse com Marc.<br />

— Faythe? — Jace praticamente soprou meu nome, e eu ouvi a borda fina<br />

de pânico em sua voz. Ele <strong>não</strong> podia interpretar meu silêncio e tinha assumido o<br />

pior cenário. — O que você está pensando?<br />

Suspirei, um som frágil, que era pouco mais do que a lâmina de ar entre<br />

meus lábios. — Eu estou pensando que eu <strong>não</strong> tenho ideia do que estou fazendo.<br />

— Então somos dois.<br />

Olhei para ele, surpresa, e ele me deu um sorriso que era quase... tímido.<br />

— O quê? Você acha que eu planejei isso? — dei de ombros, impotente, e ele<br />

se virou para a estrada. — Ok, talvez enquanto vocês estavam separados, pensei<br />

sobre isso ocasionalmente. Ou melhor, constantemente. Mas agora? Eu gosto dos<br />

meus dentes na minha boca e meu rosto intacto, obrigado. Sei o que isso significa<br />

para mim, e sei o que significa para Marc. E sei o que significa para o Pride.<br />

— Jace... — comecei, mas ele balançou a cabeça.<br />

— Deixe-me terminar.<br />

Depois de um segundo de silêncio, eu assenti hesitante.<br />

— Se eu te amo mais do que você me ama, estou mais morto do que vivo.<br />

Apesar de tudo, eu <strong>não</strong> posso voltar atrás. Não posso simplesmente me afastar de<br />

você, porque cada vez que você passa por mim sem sorrir, sem tocar minha mão,<br />

ou pelo menos fazer contato visual, parece que eu estou morrendo por dentro. E<br />

eu tenho certeza que dói mais do que o que quer que Marc possa fazer comigo. O<br />

que quer que seu pai faça. Inferno, Faythe, eu tenho certeza que nunca te tocar de<br />

novo seria pior do que a pior morte que Calvin pudesse inventar para mim.<br />

153


Capítulo 19<br />

Chegamos ao aeroporto Roswell com uma hora de antecedência, e como <strong>não</strong><br />

tínhamos bagagem para passar pela alfândega, fizemos uma viagem rápida a uma<br />

loja de presentes e compramos uma camisa extra e coisas essenciais para mim, os<br />

rapazes tinham o que precisavam em suas mochilas em seguida, escolhi um novo<br />

celular para Jace em um quiosque perto da entrada.<br />

Nosso avião saiu na hora certa, depois de uma breve escala em Dallas, nos<br />

instalamos para uma longa viagem para Lexington.<br />

O avião tinha uma fileira de três assentos em um lado do corredor, e duas<br />

do outro lado. Jace e eu estávamos sentados juntos no lado dos dois lugares, com<br />

Marc na nossa frente. Mas quando entramos no avião, Marc pegou o assento ao<br />

lado da janela de Jace, e apontou com um gesto brusco para o banco que ele iria<br />

ocupar.<br />

Jace fez uma careta, mas se sentou na frente sem comentários. Pelo que eu<br />

era infinitamente grata.<br />

— Então, quais são os nossos planos? — Marc perguntou uma vez que<br />

estávamos no ar, enquanto um casal de assistentes de voo começou o serviço de<br />

bebidas na parte da frente do avião.<br />

— Que tipo de evidência estamos procurando?<br />

Eu tinha considerado a ideia durante minha longa caminhada do ninho dos<br />

Thunderbirds, mas faltou dar um toque de inteligência ao ataque.<br />

— Hum... pensei que nós poderíamos encontrar as penas que Brett traria.<br />

— Por que Malone as guardaria?<br />

— Eu tenho a esperança de que ele nunca as encontrou. Brett disse que<br />

escondeu, e agora a vida do Kaci depende da esperança de que Brett morreu antes<br />

que ele as pudesse recuperar.<br />

Enquanto Marc pensava, sua expressão entrou em um ciclo, dúvida,<br />

ceticismo e medo. Provavelmente pela Kaci. Nunca o vi com medo por si mesmo,<br />

porque Marc era verdadeira e completamente altruísta. Exceto onde nosso<br />

relacionamento era afetado.<br />

Por fim, ele me encarou, apoiando-se com sua têmpora contra a parte<br />

traseira de seu assento. — Você tem alguma ideia de onde ele escondeu?<br />

— Esperava que Jace pudesse ter uma pequena ideia para compartilhar<br />

154


conosco.<br />

— O que te parece, Hammond? — Marc chutou o banco de trás do Jace.<br />

Jace caiu de costas de onde estava contra joelhos Marc.<br />

— Droga! — Marc empurrou o encosto da cabeça de Jace, mas Jace apenas<br />

sorriu para mim atrav<strong>é</strong>s da fresta entre seu assento largo e agora vazio ao lado<br />

dele.<br />

— Não sei. Sob o seu colchão? Foi lá que ele usou para esconder coisas que<br />

a mamãe <strong>não</strong> poderia encontrar. Se quiser algo mais criativo do que isso, terei que<br />

pensar. Depois da minha soneca. Com isso, ele piscou e inclinou-se contra a<br />

janela, fora de vista, sem aumentar o seu assento.<br />

— Qual diabo <strong>é</strong> o seu problema? — Marc empurrou assento Jace<br />

novamente, então se virou para mim completamente, obviamente desconfortável<br />

em suas novas instalações. — Eu juro que se <strong>não</strong> fosse um lutador muito bom, o<br />

mandaria para casa e, em seu lugar viria Vic.<br />

Vários minutos mais tarde, depois de que a aeromoça tivesse feito outra<br />

ronda, apoiei-me em Marc.<br />

— Você acha que Jace luta melhor do que Vic? — fiquei em dúvida sobre<br />

perguntar, porque Jace <strong>não</strong> estava dormindo ainda. Eu poderia dizer pela sua<br />

respiração.<br />

Mas minha curiosidade me venceu.<br />

Marc encolheu os ombros. — Ele fez um grande esforço ontem.<br />

— Você lutou contra Jace ontem? Por que <strong>não</strong> avisou?<br />

— Nós estávamos apenas treinando. Tínhamos que fazer alguma coisa<br />

enquanto esperávamos para ter noticias suas e de Kaci, e tínhamos muita energia<br />

para queimar. Era isso ou assistimos TV em um motel afastado. — eu hesitei,<br />

olhando para a fresta entre os assentos para ver se podia ver Jace. Ele estava<br />

completamente quieto. Escutando.<br />

— E ele foi bom? — Marc assentiu. — Ele me prendeu ao chão, duas vezes.<br />

Está diferente desde que Ethan morreu. Leva tudo mais a s<strong>é</strong>rio. Ele procura o<br />

sangue do Malone, e apostaria meus dentes que conseguirá.<br />

<strong>As</strong>senti com a cabeça pensativamente, e Jace relaxou. Sem dúvida, Marc<br />

estava certo em tudo, ele atribuiu as mudanças óbvias à morte de Ethan e do jogo<br />

de poder de Malone. At<strong>é</strong> agora, só perdeu um pedaço do quebra-cabeça que se<br />

tornou Jace: Eu.<br />

— Então, por que meu pai mandou Jace em vez de Vic? — Vic e Marc<br />

haviam sido parceiros há anos, e mesmo que Marc <strong>não</strong> soubesse dos detalhes, ele<br />

sabia que os sentimentos de Jace por mim ultrapassavam os de uma simples<br />

amizade.<br />

155


ele.<br />

— Porque Kaci reage melhor com ele. Eu acho que ela está apaixonada por<br />

— Sim. — sorri um pouco com isso, e eu <strong>não</strong> podia deixar de admirar.<br />

Apenas por um momento, o dia em que uma paixão inocente de uma menina era<br />

mais complicada do que a minha própria vida pessoal já foi.<br />

Mas na verdade ela <strong>não</strong> está pensando sobre isso neste momento. Por causa<br />

do Ethan e tudo o que tinha acontecido depois. Então, a respiração do Jace se<br />

igualou, e sua mão se tornou flácida em sua perna. Finalmente eu pude relaxar<br />

com Marc, confiante de que <strong>não</strong> estávamos sendo ouvidos por acidente. Não pelo<br />

Jace, de qualquer maneira. Debrucei-me sobre o ombro de Marc, e ele enrolou<br />

seus dedos ao redor de meus. Ele olhou para minha mão esquerda, e eu sabia que<br />

imaginava seu anel ali. Mas nunca de fato o tinha usado em meu dedo. Estava em<br />

uma corrente de prata em um envelope na gaveta de cima da minha cômoda.<br />

— Eu estava um pouco assustado de que as tivessem levado direto para o<br />

Malone. — Marc sussurrou, inclinando a cabeça dele contra a minha. — Eu pensei<br />

que deveríamos realizar um resgate em grande escala.<br />

— Você acha que seria tão <strong>fácil</strong>? — Marc pensou enquanto as aeromoças<br />

empurravam o carrinho mais para perto. O ruído metálico e o estalo de<br />

refrigerante sendo aberto quase abafando suas palavras. — Acredito que te pegar<br />

seria o maior erro que ele ia fazer. Provavelmente o seu <strong>primeiro</strong> erro tático real.<br />

Eu recuei e virou-me para encontrar seu olhar aquecido. — Por que isso?<br />

— Porque nada poderia fazer-nos lutar mais do que fazer você e Kaci ficarem<br />

longe dele. Eu. Seu pai. Caramba, at<strong>é</strong> Jace. Pegar você seria o último erro já<br />

cometido por Malone.<br />

Nesse momento o avião aterrissou, nos sentimos culpados de entrar a força<br />

no Pride Central-Sul, tal ofensa era punida com a expulsão e a captura imediata.<br />

Infelizmente, considerando que a invasão <strong>não</strong> <strong>é</strong> um crime punível com a<br />

morte, as consequências exatas de cada decisão eram do Alfa. E algo me dizia que<br />

Malone <strong>não</strong> seria tão misericordioso como o meu pai.<br />

Na verdade, eu <strong>não</strong> tinha dúvida de que ele iria matar Jace e Marc no ato e<br />

maquinaria um cargo mais tarde, a menos que sua mulher ou sua filha estivessem<br />

ali para objetar. E algo me dizia que Malone <strong>não</strong> se importaria de tomar nenhuma<br />

ação atenuante para me colocar sobcontrole, de forma que nenhum dano<br />

permanente ficasse a vista. Porque ele tinha planos para mim ou pelo menos para<br />

o meu dedo anelar e meu útero. O que me fazia o membro de nossa equipe com<br />

menos a perder, considerando que ele <strong>não</strong> tinha intenção de cumprir a minha<br />

sentença.<br />

Já que ainda <strong>não</strong> tinha sido oficialmente recontratado, Marc <strong>não</strong> tinha seu<br />

cartão de cr<strong>é</strong>dito, assim Jace contratou em seu nome o automóvel de aluguel. Ele<br />

156


tamb<strong>é</strong>m parecia um pouco ansioso para ter o privil<strong>é</strong>gio at<strong>é</strong> chegou ao<br />

estacionamento e Marc manteve a porta aberta para mim. Jace se queixou de ser<br />

tratado como um motorista, para que Marc se sentasse na frente com ele, para<br />

que eu pudesse descansar lá atrás.<br />

Um cochilo teria sido ótimo, mas eu senti que iríamos precisar de cada<br />

minuto das duas horas no carro para planejar os próximos passos.<br />

A sede central do Pride Apalache era ao sul do Clay County, Kentucky, a<br />

cerca de cem milhas ao sudeste do Lexington. Eram quase duas da manhã quando<br />

deixamos o aeroporto. Tínhamos gasto quase nove horas de nossas 48 horas<br />

atribuídas e a viagem de volta requereria pelo menos essa quantidade de tempo, o<br />

que nos deixava apenas trinta horas para encontrar a prova e sair do território<br />

infernal do Apalache a tempo de salvar Kaci. E isso nos deixaria com pouco tempo.<br />

Kaci estava a trinta e nove horas da morte. Estava a trinta e nove horas e um<br />

minuto de um fracasso total.<br />

Detivemo-nos por hambúrgueres no <strong>primeiro</strong> lugar de comida rápida que<br />

encontramos em toda a noite, conduzindo at<strong>é</strong> o final para evitar deixar nossos<br />

perfumes nos braceletes das portas e os assentos, ou inclusive nos demorar no ar.<br />

A última coisa que precisávamos era que um dos Toms do Malone o avisasse com<br />

antecedência antes que chegássemos a sua propriedade. <strong>As</strong> chances de que<br />

quaisquer uns de seus homens morassem no centro de Kentucky eram quase<br />

nulas, mas, considerando os riscos e a Lei de Murphy era mais uma garantia.<br />

— Então, você cresceu correndo pelos montes Apalaches? — perguntou<br />

Marc algumas milhas mais tarde, dobrando para trás o papel da embalagem de<br />

seu hambúrguer.<br />

Jace assentiu com a cabeça e deu uma mordida no hambúrguer, com uma<br />

mão segurando a parte superior do volante ligeiramente. — Tecnicamente, este <strong>é</strong> o<br />

Planalto Cumberland.<br />

— O que seja. — afrouxei o cinto de segurança e me inclinei para frente para<br />

ter certeza que eu <strong>não</strong> perderia nada. <strong>As</strong>sim como Marc, Jace falou pouco de seu<br />

passado. Eles sabiam tudo sobre a minha infância, mas eu <strong>não</strong> sabia nada sobre<br />

Marc e só sabia que o pai de Jace tinha morrido quando ele era uma criança que<br />

mal tinha começado a andar e filho único. — Você correu com seus irmãos? —<br />

certamente meio irmãos era melhor do que um irmão. — Malone deixava Melody<br />

sair para correr com os meninos?<br />

— Às vezes, muito raramente. — ele franziu a testa, e pensei que fecharia<br />

sua boca quando ele deu outra mordida grande em seu hambúrguer. Mas em<br />

seguida, engoliu em seco, e no espelho retrovisor, eu podia ver que seus olhos<br />

estavam focados mais no passado do que na estrada.<br />

— Cal <strong>não</strong> deixou Melody fazer muito coisa. Mas então, ela tinha apenas<br />

sete anos quando eu saí. Não era grande o suficiente para a Mudança, ou fazer<br />

157


algo mais que crispar os nervos.<br />

— Deixe disso, você tem sido um grande irmão mais velho. — eu lhe dei um<br />

tapinha na cabeça. Jace me lançou um olhar falso no espelho retrovisor. — Ela <strong>é</strong> a<br />

filha do Calvin. Viu The Omen, <strong>não</strong> <strong>é</strong> verdade?<br />

— Ela <strong>não</strong> pode ser tão ruim. — disse Marc, comendo seu último<br />

hambúrguer. Ela <strong>é</strong> a filha de sua mãe, tamb<strong>é</strong>m.<br />

mãe.<br />

Jace franziu a testa. — Eu espero que seja um pouco mais como a minha<br />

— Porra, eu espero que a minha mãe seja mais parecida com a minha mãe<br />

agora.<br />

Meu coração doeu por ele durante o silêncio constrangedor que se seguiu, e<br />

Marc olhou para fora de sua própria janela, perdido em pensamentos. Ele nunca<br />

falou sobre sua mãe ou o assassinato de seu pai, e nunca soube como chegar a<br />

tocar no assunto.<br />

— E seus irmãos? — perguntei finalmente, quando Jace amassou o papel do<br />

seu hambúrguer e jogou-o no chão, aos p<strong>é</strong>s do Marc, ele resmungou e <strong>não</strong> fez<br />

nenhum esforço para colocá-lo no saco de papel vazio. — Eu sei que Alex <strong>não</strong> <strong>é</strong><br />

uma joia, mas pelo menos Brett...<br />

Oops. Mas era tarde demais para retirar a menção de seu irmão<br />

assassinado, então acabei com a única coisa que parecia real e adequado.<br />

— Eu estava começando a gostar do Brett.<br />

— Sim, eu tamb<strong>é</strong>m. — Jace tomou um gole de refrigerante, em seguida,<br />

colocou o copo sobre a bebida e ligou as luzes de alerta enquanto ultrapassávamos<br />

o único outro veículo na via escura.<br />

— Eu tinha quase quatro anos quando Brett nasceu então eu estava mais<br />

perto dele do que do restante dos filhos de Cal. Seu estilo de se expressar me<br />

chamou a atenção; ele <strong>não</strong> considerava a si mesmo como sendo um deles. Eu<br />

sempre soube disso, mas ouvi-lo dizer retorcia de compaixão meu coração.<br />

— Brett e eu convivíamos muito quando <strong>é</strong>ramos pequenos. Mas os outros<br />

eram muito mais jovens do que eu. Eles passaram mais tempo com Cal e aquele<br />

desgraçado os ensinou a falar mal de meu pai - Jace parou de falar e olhou em<br />

silêncio para fora do para-brisa, e o velocímetro subiu para 85. Então ele falou de<br />

novo, tão de repente que saltei do banco de trás.<br />

— Essas colinas são a única razão pela qual sobrevivi o suficiente para que<br />

Ethan me tirasse dali. Para que seu pai me contratasse. — Jace suspirou, e Marc<br />

se separou de sua janela para observar o Jace no que só podia ser um olhar de<br />

compaixão.<br />

— Praticamente cresci na encosta da montanha. Sempre que Cal falava<br />

158


comigo e eu <strong>não</strong> podia retrucar com dele sem lhe dar um soco, só Mudava e corria<br />

para as colinas. Eu subia at<strong>é</strong> que estava cansado demais para me mover. Essas<br />

colinas salvaram minha vida. — sabendo agora o que eu sabia sobre as<br />

habilidades de luta de Jace, talvez tivesse salvado a vida de Cal.<br />

— Então, ainda conhece a área? — Marc perguntou, focando sua atenção no<br />

nosso objetivo.<br />

— Tanto como algu<strong>é</strong>m que ainda mora aqui. Melhor do que a maioria. —<br />

Jace <strong>não</strong> se gabava; ele simplesmente dizia um fato. Enviei um agradecimento<br />

silencioso a meu pai por enviá-lo. Marc e eu provavelmente teríamos perdido mais<br />

tempo procurando o caminho, estaríamos com s<strong>é</strong>rios problemas sem ele.<br />

— E sobre Brett? — inclinei-me com um cotovelo em cada um dos bancos da<br />

frente. — Onde você acha que ele poderia ter escondido essas penas? Al<strong>é</strong>m de sob<br />

o colchão?<br />

Jace hesitou, mas reconheci uma ideia em seu olhar que se encontrou com<br />

o meu no espelho. Ele <strong>não</strong> tinha certeza. De fato, ele estava tão em duvida que<br />

ainda <strong>não</strong> queria mencionar, mas por menor que seja a semente em sua mente,<br />

sua ideia era a única que tínhamos.<br />

— Jace? — questionei, e ele me olhou relutantemente à medida que nossa<br />

velocidade diminuía para oitenta.<br />

— Não vai estar lá. Desperdiçaremos horas entrando atrav<strong>é</strong>s do bosque na<br />

escuridão, costa acima todo o caminho, congelando nossos traseiros<br />

completamente, e <strong>não</strong> estará lá.<br />

— Onde? — Marc perguntou meio segundo antes que eu tivesse<br />

perguntando a mesma coisa.<br />

Jace suspirou, ainda olhando para a estrada. — Existe uma velha cabana de<br />

caçadores. Que na verdade <strong>é</strong> simplesmente uma plataforma e três paredes<br />

instáveis. Nem sei se ainda está de p<strong>é</strong>. Não tínhamos previsto que passaríamos do<br />

limite da propriedade, e do outro lado <strong>é</strong> terra pública, mas, a velha cabana de<br />

caçadores era abandonada. Brett e eu assaltávamos a torre do castelo e<br />

invadíamos o forte todo o fim de semana, na <strong>é</strong>poca ele tinha mais ou menos cinco<br />

anos de idade.<br />

— Sua mãe deixava que crianças de cinco e de nove anos vagassem pela<br />

floresta, sozinhos?<br />

Jace encolheu os ombros. — Ela <strong>não</strong> sabia. Ela estava ocupada com as<br />

crianças, e sempre aparecíamos novamente para o jantar, ela assumiu que<br />

estávamos brincando perto da linha das árvores. Parece estúpido e perigoso agora,<br />

mas antes...<br />

— Parecia divertido. — Marc disse, e sorri agradecida de que os dois<br />

pudessem ser civilizados quando realmente importava.<br />

159


— Sim, era. — Jace sorriu distante, como se só agora ele tivesse percebido a<br />

verdade em sua declaração. — Havia um velho baú de madeira lá em cima. Nós<br />

usávamos como um arsenal. Brett fez um par de pistolas de brinquedo, lembra-se<br />

dessas armas pop? E tinha essa faca retrátil de plástico. — a voz do Jace<br />

desapareceu novamente, e falei mais alto para trazê-lo de volta.<br />

— E você acha que ele poderia ter escondido as penas lá?<br />

— Não. — Jace balançou a cabeça com firmeza. — Duvido que o velho posto<br />

ainda esteja lá, e mesmo se estivesse, Brett provavelmente <strong>não</strong> pensou nisso em<br />

uma d<strong>é</strong>cada. — o tempo atual <strong>não</strong> escapou à minha atenção e, a julgar pelo olhar<br />

que Marc me lançou, tamb<strong>é</strong>m <strong>não</strong> lhe escapou.<br />

— Eu sei que <strong>não</strong> teria. Mas <strong>é</strong> o único lugar que eu posso pensar. — ele<br />

balançou a cabeça de novo. — É um total desperdício de tempo. Não estará lá.<br />

— Vale à pena tentar. — eu insisti, e Marc assentiu, embora parecesse<br />

menos convencido. Especialmente considerando que era nossa única ideia at<strong>é</strong><br />

agora. E se as plumas estiveram ali, <strong>não</strong> teríamos que ir a qualquer lugar perto do<br />

Malone ou de seus homens.<br />

— Esta <strong>é</strong> uma tentativa desesperada, Faythe. — Jace disse suavemente. Eu<br />

dei de ombros. — Esta <strong>é</strong> uma maldita tentativa desesperada.<br />

Marc franziu a testa e olhou de mim para Jace. — Você pode encontrar?<br />

— Se ele ainda estiver lá, eu posso encontrar. — uma hora e meia depois, eu<br />

estava de p<strong>é</strong> ao lado do Pathfinder, olhando para cima da colina arborizada em<br />

frente a mim. Não era uma inclinação tão alta ou tão acentuada como as<br />

montanhas de Montana, onde o Conselho Territorial tinha feito meu julgamento,<br />

mas certamente foi um treinamento comparado a floresta relativamente plana por<br />

trás do nosso rancho. Nenhum sinal do sol às 03h30min da madrugada, mas o<br />

amanhecer viria rápido, eu <strong>não</strong> tinha dúvida disso, e precisaríamos ir muito antes<br />

disso.<br />

— Preparados? — Jace fechou a porta do lado do motorista atrás de mim, e<br />

acenou com a cabeça, enquanto Marc jogava a mochila sobre um ombro.<br />

Tínhamos parado a cerca de uma hora de distância da propriedade de<br />

Malone para comprar água engarrafada e comida, e <strong>não</strong> restou outra alternativa<br />

que nos arriscar a deixar nossos aromas no posto de gasolina, esperando que<br />

nenhum dos gatos locais acordasse a essa hora.<br />

— Eu ainda acho que deveria mudar. — eu disse, franzindo a testa para<br />

Marc — Eu <strong>não</strong> sou muito boa em lutar com esse braço enfaixado caso aconteça<br />

alguma luta. — segurei meu braço com firmeza, ainda irritada porque <strong>não</strong> podia<br />

me transformar. Dirigimo-nos para a ladeira de uma montanha em forma de gato<br />

que para mim soava bastante esportivo. Meio exercício, meio jogo. Mas longas<br />

caminhadas sob duas pernas para cima soou como uma enorme dor na bunda.<br />

160


— Muito bem eu vou te fazer companhia. — Marc deu um passo para mais<br />

perto e o calor do seu corpo era maravilhoso em contraste com o frio de fevereiro,<br />

ainda mais acentuada em um lugar mais alto. Sua cabeça caiu e seus lábios<br />

encontraram o meu pescoço, logo abaixo do lado direito do meu queixo. Eu tremi<br />

de prazer, e <strong>não</strong> do frio que fazia a essa hora da manhã, passei meu braço ferido<br />

em torno de sua cintura quando sua boca foi traçado um caminho para baixo. Em<br />

seguida, ouvi o som dos passos de Jace pisando fortemente no cascalho, suspirei<br />

relutantemente me afastando de Marc, enquanto ele se esticava com irritação.<br />

— Al<strong>é</strong>m disso. — ele disse, enquanto a camisa do Jace batia no chão atrás<br />

dele. — Você pode precisar de ajuda. Não pode se dar ao luxo de cair com esse<br />

gesso. — ele começou a andar seus dedos abaixo da parte superior de meu gesso,<br />

e pela milion<strong>é</strong>sima vez, eu esperava poder sentir seu toque ali.<br />

Maldito Kevin Mitchell por fraturar meu braço! Mas Kevin já estava<br />

condenado. Ou morto, de qualquer maneira. Marc tinha certeza disso.<br />

— Talvez eu devesse ficar aqui. Vocês poderiam chegar mais rápido em<br />

forma de gato. Só os atrasarei.<br />

— Você <strong>não</strong> pode ficar aqui, porque você... — Marc começou, e quando eu fiz<br />

uma careta, Jace interrompeu.<br />

— Não nos atrasará. — ele sorriu e puxou as calças. Ele <strong>não</strong> estava usando<br />

cueca.<br />

— E eu acho que nós vamos gostar da sua companhia. — meu rosto ardia<br />

de raiva e vergonha. O que diabos ele estava fazendo?<br />

Marc se virou para Jace, irritado com a insinuação. Suas mãos fecharam em<br />

punhos, e sua mandíbula partiu como se ele fosse a gritar ou quebrar cada um de<br />

seus próprios dentes. Mas ele <strong>não</strong> fez nenhum som. E eu percebi, então, que havia<br />

pouco que ele poderia dizer, sem ter mais a atenção direta de Jace, que era a<br />

última coisa que ele queria fazer.<br />

Tecnicamente, Jace <strong>não</strong> tinha feito nada de errado. Ele teve que se despir<br />

para a mudança e na superfície, ele me fez um elogio em seu nome. Mas Marc <strong>não</strong><br />

era estúpido. Ele <strong>não</strong> podia saber at<strong>é</strong> onde as coisas tinham ido entre Jace e eu,<br />

mas ele sabia que Jace abertamente flertou e me convidou para assistir. E esse<br />

convite destacado <strong>não</strong> poderia ser atribuído a qualquer uma de nossas trag<strong>é</strong>dias<br />

recentes.<br />

— Cuidado... — Marc rosnou por fim. Jace apenas sorriu e jogou suas<br />

roupas sobre o banco de trás, sem atenção a minha súplica silenciosa com os<br />

olhos muito abertos sobre o ombro de Marc.<br />

Com raiva agora, ele bateu a porta e Jace teve que afastar sua mão<br />

rapidamente para evitar ser pego por ela. Marc me puxou para as árvores<br />

enquanto colocava a mochila no ombro.<br />

161


— Estamos indo para o sul, certo? — perguntei para Jace que estava<br />

carrancudo atrás de nós. Ele balançou a cabeça e se ajoelhou.<br />

Liderei o caminho para a floresta com Marc ao meu lado, com os sons da<br />

Mudança do Jace quase inaudíveis sobre meu próprio ruído de passos.<br />

— Nos alcance quando tiver Mudado.<br />

162


Capítulo 20<br />

Jace nos alcançou oito minutos mais tarde e sua postura dizia que estava<br />

com raiva, tão claramente quanto suas garras e dentes diziam: “Se você se<br />

aproximar, assuma o risco”.<br />

— Qual <strong>é</strong> o seu problema? — Marc se queixou enquanto Jace corria na<br />

frente, nos deixando para seguir os sons de seu avanço.<br />

— Apenas ignore-o. — considerei explicar que a transformação de Jace pós-<br />

Ethan ia mais al<strong>é</strong>m de uma determinação intransigente de ver Malone pagar. Mas,<br />

isso se aproximava muito da verdade, e eu <strong>não</strong> estava disposta a ter que mentir<br />

para Marc. Só estava mentindo por omissão porque ainda tinha que encontrar o<br />

momento no qual Jace estivesse a vários quilômetros de distância para evitar que<br />

Marc o assassinasse e quando a vida de ningu<strong>é</strong>m mais dependesse de nossa<br />

capacidade de nos concentrar no trabalho que tínhamos que cumprir. Tais<br />

momentos eram raros ultimamente. E ocultar a verdade me fazia sentir como se<br />

tivesse bebido um veneno com o efeito lento que gradualmente me comia por<br />

dentro. Começando pelo coração.<br />

Jace nos permitiu o alcançar um quarto de milhas à frente, e depois essa<br />

excursão a p<strong>é</strong> foi felizmente tranquila, se<strong>não</strong> tediosa. Ainda que Marc e eu<br />

tiv<strong>é</strong>ssemos Mudado os olhos, a viagem era difícil. Tropecei várias vezes, meu corpo<br />

humano <strong>é</strong> muito menos elegante e coordenado que minha forma de Gato, e cada<br />

vez Marc me agarrava antes que pudesse sequer apoiar um braço no chão. E eu<br />

estava muito cansada, congelada e preocupada em ferir ainda mais meu braço<br />

como para me sentir de outra maneira al<strong>é</strong>m de agradecida por sua ajuda.<br />

Em seu cr<strong>é</strong>dito, Jace nunca pareceu inseguro com relação aonde ir, ainda<br />

que <strong>não</strong> tivesse voltado a seu lugar de nascimento nem sequer uma vez nesses<br />

sete anos desde que meu pai o tinha empregado. Para mim, isso dizia que a<br />

casinha de cervo era uma parte muito mais importante de sua infância do que ele<br />

admitiria, e se era da mesma forma para Brett... então talvez teríamos sorte.<br />

Meu pulso acelerou ante o pensamento de poder submeter a Malone a<br />

justiça mediante evidências de que seu próprio filho nos tinha dado. O filho que<br />

ele tinha assassinado. A caída de Malone era iminente. Podia sentir.<br />

Depois de uma hora e meia de caminhada pelo bosque, Jace parou e moveu<br />

o rabo para chamar nossa atenção. Sua postura <strong>não</strong> estava tensa, nem<br />

demonstrava nenhuma advertência, ele simplesmente nos dizia que tínhamos<br />

chegado.<br />

Um minuto mais tarde, o bosque cedeu ante uma pequena clareira com<br />

bordas irregulares e indefinidas, como se algu<strong>é</strong>m tivesse podado umas poucas<br />

arvores só para ganhar um pouco de área para trabalho. E ali estava a casinha de<br />

cervo.<br />

163


Estava construída nos galhos de uma arvore grande e firme no lado oposto<br />

da clareira, talvez a 25 metros do chão. A madeira estava gasta pelo clima e era de<br />

aspecto áspero, e parecia cinza ainda em algumas fracas cores da minha visão de<br />

gato. Uma escada caseira se dirigia do chão at<strong>é</strong> a borda da plataforma de cima,<br />

seus degraus eram desiguais, vários dos quais balançavam frouxos num extremo.<br />

— Bem, pelo menos ainda esta de p<strong>é</strong>. — a voz de Marc soou estranha depois<br />

de uma hora de <strong>não</strong> ouvir nada mais que ramos quebrando abaixo de nossos p<strong>é</strong>s e<br />

o sussurro ocasional de alguma pequena criatura atrav<strong>é</strong>s das plantas de inverno.<br />

– Mas <strong>não</strong> há forma de saber se ira suportar nosso peso.<br />

— Eu irei. Sou a mais leve.<br />

— Não. — Marc tomou meu braço quando comecei a avançar, mas o soltou<br />

quando gemi de dor pelos machucados em forma de garra e girei pra ele com o<br />

cenho zangado.<br />

— O que acontece se isso desmoronar?<br />

Eu encolhi os ombros. — Você me pega.<br />

— E se <strong>não</strong> conseguir, você quebrará o outro braço, ou uma perna, e <strong>não</strong><br />

poderá lutar quando realmente precisarmos.<br />

— Marc, todas as vezes que cai, você nunca falhou em me pegar. — tirei<br />

meu braço de seu agarre suavemente e parei na ponta dos p<strong>é</strong>s para beijá-lo,<br />

suavemente, incomodamente ao saber que Jace nos observava. Então lhes dei as<br />

costas e encarei a casinha.<br />

Tentei o <strong>primeiro</strong> passo com um p<strong>é</strong> antes de por meu peso completamente<br />

nele. Quando me sustentou, comecei a subir. O quarto degrau estava pendurado<br />

por um prego, e o quinto diretamente <strong>não</strong> estava, e com o agarre da minha mão<br />

direita comprometida pelo gesso no meu braço, tinha medo de depender muito<br />

dele. Olhei atrás para Marc.<br />

— Pode me dar uma mão?<br />

Ele esteve atrás de mim antes que eu sequer o visse se mover, e de repente<br />

estive sentada sobre o apoio de suas mãos. Ele me levantou facilmente para frente<br />

do quinto e sexto degrau, e eu dei um passo no s<strong>é</strong>timo, a uns bons oito metros do<br />

chão.<br />

— Obrigada. — murmurei, e continuei subindo. Marc permaneceu na base<br />

da escada por precaução.<br />

O d<strong>é</strong>cimo degrau rangeu abaixo dos meus p<strong>é</strong>s, enviando uma onda de<br />

adrenalina atrav<strong>é</strong>s de mim, e o d<strong>é</strong>cimo terceiro estava podre debaixo da minha<br />

mão. O d<strong>é</strong>cimo s<strong>é</strong>timo cravou uma lasca imensa na minha palma esquerda. Mas,<br />

dois degraus depois disso, minha cabeça subiu por cima do piso de suporte, e<br />

meus olhos de gato de enfocaram facilmente no pequeno cofre no canto, graças<br />

aos últimos raios de luz das estrelas que agora estavam por trás de uma nuvem.<br />

Os <strong>primeiro</strong>s raios de luz do dia brilhariam pouco depois das 07h00min da<br />

manhã, o que nos dava menos de duas horas para conseguir o que viemos buscar,<br />

voltar ao carro, e tirar nossos traseiros de Dodge. Nenhuma pressão...<br />

164


Empurrei meu corpo pra cima com cuidado, gemendo quando meu gesso<br />

raspou o chão, ainda que <strong>não</strong> doesse. Perguntei-me se teria sentido o cheiro<br />

residual de Brett na madeira se estivesse agora na minha forma de gato.<br />

<strong>As</strong>sumindo que ele realmente tinha estado aqui onde eu estava agora, só há uns<br />

dias atrás.<br />

Jace gemeu, e Marc fez a pergunta pelos dois. — Você o vê?<br />

— Sim. Encontrei o velho cofre de madeira.<br />

Os dois exalaram em alívio a uns vinte metros abaixo.<br />

Várias madeiras do piso pareciam suspeitosamente suaves e escuras, assim<br />

que me arrastei ao redor delas, apoiando nos meus joelhos e cotovelos,<br />

permanecendo perto da borda direita. Arrastar distribuía meu peso sobre uma<br />

área maior, e os cotovelos mantinham a pressão fora do meu pulso quebrado.<br />

A caixa <strong>não</strong> era nada mais que um cubo de madeira áspero, mas podia ver<br />

como um par de crianças talvez o chamasse “cofre do tesouro”. Talvez tivessem<br />

colocado seus próprios tesouros nela.<br />

A tampa era uma simples tabua de pinho, conectada a parte de trás da<br />

caixa por um conjunto de dobradiças oxidadas, que rangiam quando eram<br />

utilizadas. Levantei a tampa lentamente com meus olhos fechados, enviando uma<br />

oração silenciosa e fervente para que Brett tivesse se lembrado deste lugar. Que<br />

tivesse pensado nele quando precisou de um lugar seguro para armazenar a<br />

evidência que poderia selar o destino de seu pai... e salvar a tantos outros.<br />

Abri os olhos. E ri em voz alta.<br />

O alívio borbulhou dentro de mim como uma fonte de alegria que <strong>não</strong> seria<br />

suprimida logo, ainda que com duas horas de viagem pela frente. Ainda sim<br />

estávamos bem avançados no território inimigo. Ainda que Kaci pudesse morrer e<br />

meu Pride fosse assassinado se fossemos descobertos.<br />

— Está ai? — Marc demandou enquanto Jace continuava gemendo<br />

suavemente, rogando por informação.<br />

— Sim. Ele inclusive colocou no plástico. — levantei a bolsa do tamanho de<br />

um galão e o segurei acima. O interior tinha duas plumas imensas, com listras<br />

com um padrão distinto de cores que eu <strong>não</strong> podia distinguir com esta luz, ainda<br />

com minha visão de gato. Mas vi as manchas escuras de sangue e pude cheira-la,<br />

inclusive quase uma semana de velha e selada dentro do plástico.<br />

Na frente da bolsa tinha uma tira branca, e Brett tinha escrito nela, com<br />

letras negras legíveis. “Plumas de Thunderbird. Sangue de Lance Pierce”.<br />

Brett, aonde quer que esteja, espero que estejas sendo mimado e consentido<br />

por isso no outro mundo. — Jace, teu irmão <strong>é</strong> um santo.<br />

Jace ressoprou, como se tivesse uma opinião diferente para agregar, mas eu<br />

só ri. E quando olhei a caixa outra vez, ri ainda mais. — Ainda estão aqui! —<br />

disse. — <strong>As</strong> armas de Brett e sua faca. Tudo ainda esta aqui! Quer que os leve<br />

tamb<strong>é</strong>m?<br />

Por um momento, só houve o silencio. Então Jace ressoprou outra vez, mas<br />

eu <strong>não</strong> podia interpretá-lo sem agregar algo de linguagem corporal que<br />

165


acompanhasse, assim que Marc o traduziu. — Acho que deseja que os deixe ai.<br />

Para Brett.<br />

Deve ter entendido bem, porque Jace <strong>não</strong> contradisse. Então fechei a caixa e<br />

deixei os brinquedos em memória de Brett, e da amizade de infância que ele e Jace<br />

tinham compartilhado uma vez. Então comecei a retroceder pelo chão com a bolsa<br />

plástica bem firme na minha mão esquerda.<br />

Estava próxima da borda quando minha calça travou em algo, e minha<br />

perna direita se negou a deslizar. Soltei a bolsa e me apoiei sobre minha mão boa<br />

para dar a volta e obter uma olhada. A barra da calça estava presa num prego que<br />

sobressaia do chão.<br />

— Merda!<br />

— O que foi? — Marc perguntou imediatamente enquanto Jace gemeu mais<br />

forte com sua pergunta.<br />

— Estou presa por um prego. Espera um segundo. Acho que posso me<br />

liberar. — empurrei lentamente para trás e sacudi o p<strong>é</strong> para tirar o prego. Quando<br />

isso <strong>não</strong> funcionou, mudei meu peso para minha mão esquerda e alcancei a mão<br />

direita pra trás, ate o prego.<br />

A casinha de cervo rangeu, e o medo acelerou o meu pulso. Minha mão<br />

passou atrav<strong>é</strong>s do piso. Raspei o braço nas bordas da madeira, levantando a<br />

manga no processo. Gritei. Meu rosto bateu contra o piso, e mordi meu lábio. O<br />

sangue derramou na minha boca.<br />

— Faythe! — Marc gritou. Jace grunhiu um som profundo e violento, e as<br />

próximas palavras de Marc foram dirigidas a ele. — Me solte! — mas Jace só<br />

grunhiu mais forte.<br />

— Estou bem. — disse, mas saiu apenas um sussurro, com minha bochecha<br />

esquerda ainda apertada contra a madeira. Ainda assim, os rapazes me ouviram.<br />

— Vou subir! — disse Marc, e o grunhido de Jace se fez mais forte.<br />

— Não! — disse, quando seu significado finalmente clareou. — Não<br />

suportará teu peso. Estou bem. Só espere eu sair deste buraco.<br />

— Me solte ou chutarei a sua cara. — disse Marc, sua voz baixa e perigosa.<br />

Jace grunhiu uma vez mais como advertência, então deve ter soltado Marc, porque<br />

ele <strong>não</strong> expressou queixa adicional. — Você consegue se levantar? — Marc me<br />

perguntou.<br />

— Sim. Isso eu espero. Dê-me um momento. — meu braço esquerdo era<br />

inútil, caindo debaixo do piso desde meu ombro. A metade mais baixa do braço<br />

estava ardendo, a dor era tão forte e extensa que eu <strong>não</strong> podia dizer exatamente<br />

onde doía.<br />

— Está sangrando. Muito. — disse Marc, e os ramos rangeram baixo suas<br />

botas quando se moveu.<br />

— Sim, percebi. Só me da um minuto, por favor. — quando só o silêncio<br />

seguiu a meu pedido, exalei e me preparei para mais dor. Só faça rápido.<br />

Deveríamos estar fora do bosque e fora da vista antes do amanhecer, e já<br />

estávamos atrasados.<br />

166


Fechei os olhos e tomei uma respiração profunda, esperando contra toda a<br />

lógica que o resto do chão me suportasse. Então, dado que <strong>não</strong> podia apoiar meu<br />

peso sobre meu braço direito, me estirei deitada sobre o chão, e girei para a<br />

esquerda.<br />

A madeira se cravou no meu braço como pequenos punhais enquanto me<br />

deslizei do buraco. Gritei outra vez. Não pude evitar.<br />

— Faythe!<br />

Fiquei de costas, respirando com dificuldade ainda que apenas tivesse me<br />

esforçado, aterrorizada de me mover por medo de que o piso debaixo de mim<br />

desmoronasse. Os passos de Marc vieram mais perto, e a madeira rangeu languida<br />

e pesada.<br />

—Droga! — sussurrou violentamente, e meus olhos se abriram de golpe.<br />

— Não o faça! — tinha quebrado o <strong>primeiro</strong> degrau da escada. A casinha de<br />

cervo <strong>não</strong> poderia suportar muito mais dano sem desmoronar, e eu<br />

desesperadamente <strong>não</strong> queria estar sobre ele quando isso acontecesse.<br />

— Desculpe. — as botas de Marc retrocederam, e eu obriguei-me a dar a<br />

volta com cuidado, evitando meu braço ferido. Queimava e se sentia frio ao mesmo<br />

tempo, e apenas podia suportar o roce da manga da jaqueta contra ele. – Você está<br />

bem?<br />

— Meu braço está bastante mal, mas <strong>não</strong> vou olhar at<strong>é</strong> que desça. — porque<br />

estava bastante certa de que se estivesse tão mal como se sentia, meu c<strong>é</strong>rebro me<br />

diria que <strong>não</strong> poderia descer sozinha.<br />

— Tenha cuidado.<br />

— Eu tenho. Olha, poderia só... <strong>não</strong> falar durante uns minutos, assim posso<br />

me concentrar? E segura isso. — sem esperar sua resposta, joguei a bolsa desde a<br />

borda da plataforma.<br />

Os passos de Marc ressoaram. — Peguei. — então se manteve silencioso.<br />

Pisquei e respirei profundamente, então me empurrei sobre meus joelhos e<br />

cotovelos, mantendo meus olhos ocupados procurando lugares mais fracos na<br />

madeira, assim <strong>não</strong> poderia olhar acidentalmente meu novo ferimento.<br />

Que estava mal. Podia saber pela força do cheiro de meu próprio sangue, e<br />

pela piscina que formava e sobre a qual estava me arrastando. Eu me sentiria<br />

tonta logo, e queria estar a salvo no solo antes que isso acontecesse.<br />

Aproximei-me lentamente at<strong>é</strong> a escada, e depois de uns poucos tensos<br />

minutos me encontrei sentada na borda da casinha. Marc parou diante da escada,<br />

com Jace a seu lado em quatro patas. Podia vê-los claramente graças a meus<br />

olhos de gato, e graças a pouca luz no c<strong>é</strong>u à medida que o amanhecer se<br />

aproximava.<br />

Droga! Já deveríamos estar a meio caminho do carro.<br />

Afastei esse pensamento e tomei outra respiração profunda pela boca. Então<br />

girei para ficar sob meu estômago e por um p<strong>é</strong> no terceiro degrau de cima. O<br />

próximo passo foi uma maldição, ainda quando tive certeza de que a madeira me<br />

167


sustentaria, porque <strong>não</strong> podia agarrar bem a escada com minha mão direita<br />

engessada, e mover os dedos ate que o braço esquerdo estalasse de dor.<br />

Um gemido escapou antes que eu o pudesse conter, e Jace fez eco de meu<br />

soluço no solo.<br />

O seguinte degrau quebrou abaixo do meu p<strong>é</strong>.<br />

Marc engasgou. Eu gritei quando meus p<strong>é</strong>s caíram, e quase me desmaio de<br />

dor no meu braço esquerdo. Segurei-me, minha vida dependendo de um debilitado<br />

agarre pela carne destroçada.<br />

— Solte-se. — disse Marc. — Se solte e eu te pego.<br />

— Não. — estava muito alto. Meu corpo se torceu, e meus p<strong>é</strong>s subiram em<br />

busca do degrau mais próximo, mas tinha estado quebrado antes de chegarmos, e<br />

o seguinte estava há mais de um metro debaixo dos meus p<strong>é</strong>s.<br />

— Faythe. Solte. — olhei a Marc, e se tivesse visto temor em seus olhos, <strong>não</strong><br />

poderia ter feito. Mas só vi confiança neles. Se ele dizia que podia me pegar, então<br />

podia. Era tão simples como isso.<br />

Meu cabelo voou atrás do meu rosto enquanto caia. Meu gesso se abriu a<br />

caminho atrav<strong>é</strong>s de dois degraus, cada impacto atingindo meu pulso quebrado.<br />

Meu p<strong>é</strong> direito bateu contra um lado da escada, e o golpe irradiou todo o caminho<br />

acima na minha perna. Então aterrissei duramente nos braços de Marc.<br />

Ele balançou pelo impacto, mas <strong>não</strong> caiu.<br />

Eu me aderi a ele e nem sequer tentei conter as lágrimas. Ao demônio com<br />

isso de ser forte. Podia ser forte e sentir dor ao mesmo tempo, verdade?<br />

Porque diabos, como doía.<br />

Marc me colocou no chão, e vi como disparava um rápido olhar ao leste. O<br />

sol sairia em uma hora, e se algu<strong>é</strong>m tivesse saído para dar uma volta cedo, meus<br />

gritos provavelmente teriam sido ouvidos.<br />

Encontrou o olhar de Jace e girou de sua cabeça para a propriedade de<br />

Malone. Jace assentiu enquanto suas orelhas giraram nessa direção, em busca de<br />

qualquer suspeito.<br />

— Me deixe ver seu braço. — Marc se ajoelhou junto a mim, e eu estava<br />

agradecida de que ele tivesse dominado a Mudança parcial. Sem ele, <strong>não</strong> poderia<br />

ter visto muito, porque sem nosso equipamento usual de emergência, <strong>não</strong><br />

tínhamos uma lanterna.<br />

Mantive o braço reto, soluçando mais enquanto tirava com cuidado a<br />

jaqueta. Olhei meu braço pela primeira vez ao mesmo tempo que ele.<br />

— Ah, merda. — sussurrou Marc, e Jace girou para olhar. Gemeu em<br />

simpatia ou em horror, mas eu estava muda. Isso <strong>não</strong> podia ser meu braço. Esse<br />

pedaço de carne destroçada pendurada pelo cotovelo <strong>não</strong> tinha nenhuma<br />

semelhança com o antebraço que tinha minutos antes. A madeira quebrada <strong>não</strong><br />

podia ter feito tanto dano. Não era possível.<br />

Uma seção rachada de piso quebrado tinha rasgado um lado do meu<br />

antebraço esquerdo, abrindo desde o pulso at<strong>é</strong> o cotovelo, aonde a manga de<br />

168


minha jaqueta tinha sido enrolada ao ser empurrada, protegendo o resto do meu<br />

braço. O músculo estava exposto, e tudo estava escorregadio com sangue.<br />

Se a madeira tivesse rasgado a parte interior do meu braço no lugar da<br />

exterior, provavelmente já teria sangrado at<strong>é</strong> morrer.<br />

Marc parou, e sua jaqueta caiu no chão. Rasgou uma manga de sua<br />

camiseta longa, então se ajoelhou outra vez e me olhou fixamente nos olhos. —<br />

Isto vai doer, mas preciso que fique em silêncio, concorda?<br />

<strong>As</strong>senti, e Jace me tocou no ombro com a parte de cima de sua cabeça, me<br />

dando consolo, e então voltou ao modo alerta.<br />

Marc envolveu o braço rapidamente e apertadamente, enquanto eu<br />

mantinha um grito preso com nada mais que a força de vontade.<br />

A dor era diferente a qualquer coisa que eu jamais tinha sentido, e <strong>não</strong><br />

podia deter as lágrimas silenciosas. Quando terminou, Marc secou meu rosto com<br />

sua outra manga. Então me ajudou a colocar a jaqueta.<br />

— Pode caminhar?<br />

— Minhas pernas estão bem.<br />

Ele me ajudou a me por de p<strong>é</strong>, e eu o permiti, porque <strong>não</strong> podia por o peso<br />

em nenhum dos meus braços. — Se começar a se sentir enjoada, me diga. Não se<br />

permita desmaiar simplesmente porque <strong>é</strong> cabeça-dura.<br />

Não discuti nada com ele.<br />

Apenas caminhei perto de meio quilometro antes que a colina pela qual<br />

descemos começasse a se inclinar por si mesma.<br />

— Marc... — minha voz foi apenas um sussurro, mas ele me escutou. Um<br />

instante mais tarde, todo o bosque se moveu enquanto ele me carregava, me<br />

segurando nos braços como se fosse um bebê.<br />

Ele deu dois passos para frente. Então tudo se tornou negro.<br />

169


Capítulo 21<br />

Um zumbido familiar, sons do trânsito e o cheiro de couro me disse que eu<br />

estava em um carro, alugado. Estávamos em Kentucky, atravessando o território<br />

de Malone. Estava sentada com a cabeça baixa e com os braços em mau estado.<br />

Não tinha palavras fortes o suficiente para descrever a dor. Ele tinha sido<br />

literalmente rasgado e tinha que ter havido dano muscular porque meus dedos<br />

<strong>não</strong> respondiam quando tentei fechá-los.<br />

Abri os olhos e o teto do carro entrou em meu foco de visão. Depois veio o<br />

rosto de Marc, me contemplando preocupadamente. Meus olhos haviam Mudado<br />

durante o meu sono? Marc se reposicionou e eu percebi que estava atravessada no<br />

banco traseiro com a cabeça em seu colo. — Hey. Como está o seu braço?<br />

— Como se o tivessem prendido em um trator. — meu braço esquerdo<br />

estava descansando em meu estômago, ardendo, latejando, queimando sem<br />

tr<strong>é</strong>gua, latejando, queimando sem tr<strong>é</strong>gua, a dor palpitando com cada batida do<br />

meu coração.<br />

— Sim, isso <strong>é</strong> o que parece.<br />

Maravilha. Pelo menos, ele <strong>não</strong> era propenso a açucarar as coisas. — Meus<br />

dedos <strong>não</strong> funcionam direito. Não posso lutar. — meus olhos se umedeceram na<br />

hora e seu rosto ficou disforme.<br />

— Nos preocuparemos com isto mais tarde.<br />

O carro virou para a direita, com Jace supostamente atrás do volante e nós<br />

passamos por um amplo edifício de tijolos, a luz do sol brilhando nas janelas. —<br />

Quanto tempo estive fora do ar?<br />

— Cerca de quarenta minutos.<br />

— Você me carregou por todo o trajeto? — perguntei e Marc apenas sorriu.<br />

Claro que ele havia feito isso. — Para onde vamos?<br />

— Vamos pegar um quarto, você precisa descansar.<br />

— Não. — tentei me sentar, mas o mundo nadou, então baixei a cabeça para<br />

o colo de Marc de novo. — Temos que ir buscar Kaci.<br />

— Nós vamos. — disse Jace do banco da frente, fora da minha visão. — Mas,<br />

nós <strong>não</strong> podemos voar at<strong>é</strong> que você esteja limpa e precisamos de um lugar privado<br />

para isso. — ele virou para a direita novamente e o carro bateu contra o pavimento<br />

em mau estado. — Não <strong>é</strong> luxuoso, mas <strong>não</strong> farão perguntas. — ele virou de novo e<br />

pisou no freio suavemente, em seguida se deslocou pelo estacionamento. — Vou<br />

pegar uma chave.<br />

— Eles sentirão o cheiro do meu sangue. — eu disse, após Jace já ter<br />

fechado a porta. — Eles provavelmente me ouviram gritar. Estarão nos<br />

procurando. Estraguei tudo, Marc.<br />

170


— Não. — ele acariciou meu cabelo e o deixou cair sobre sua perna. — Não<br />

te ouviram. Teríamos os escutado vindo atrás de nós. Estamos a, pelos menos,<br />

dois quilômetros da casa principal. E eles <strong>não</strong> vão sentir seu sangue a menos que<br />

se aproximem da cabana de caçador.<br />

Ou de qualquer lugar onde tenha gotejado no caminho de regresso at<strong>é</strong> o<br />

carro. Mas, nenhum dos dois disse isso. O fato de saber já era bastante<br />

assustador.<br />

Marc acariciou meu cabelo e eu fechei os olhos, tentando ignorar a dor do<br />

meu braço, que se recusou a se estabilizar em um pulsar tranquilo.<br />

Jace voltou minutos depois com uma antiga chave de metal para a<br />

fechadura da porta. Ele nos conduziu para a porta de trás do motel e estacionou<br />

em frente ao nosso quarto no <strong>primeiro</strong> andar, Eu podia ter caminhado, mas Marc<br />

insistiu em me carregar e eu deixei, porque fazia nós dois nos sentirmos melhor.<br />

Jace rondava Marc que cuidadosamente segurava meu braço enquanto eu me<br />

sentava na beirada da primeira cama, em seguida, abaixou minha manga<br />

ensanguentada e jogou a camiseta no saco plástico da lata de lixo que havia no<br />

banheiro.<br />

Olhei para a parede. Não queria ver meu braço na luz do dia ou at<strong>é</strong> mesmo<br />

no brilho escuro da lâmpada de cabeceira.<br />

Jace assobiou e ainda assim eu <strong>não</strong> olhei.<br />

— Bem, pelo menos já parou de sangrar na maior parte do ferimento. —<br />

disse Marc. Então eu tive que olhar.<br />

Eu me arrependi imediatamente. Meu antebraço era uma grande crosta. A<br />

ferida era facilmente de cinco centímetros de comprimento e desigual, e agora com<br />

crosta de sangue seco. Doía ver. Era insuportável mover.<br />

— Ela <strong>não</strong> pode viajar assim. — Jace disse.<br />

— Poderia se o enfaixar bem, mas ela precisará de antibióticos e pontos,<br />

uma grande quantidade de pontos. — Marc ficou de p<strong>é</strong> e Jace saltou sobre seus<br />

p<strong>é</strong>s tamb<strong>é</strong>m, já colocando as chaves do carro no bolso.<br />

— Eu irei. Faythe, você quer alguma coisa para comer enquanto estou na<br />

rua? E vai precisar de algumas roupas novas tamb<strong>é</strong>m.<br />

dela.<br />

Marc rosnou e se plantou entre Jace e a porta. — Eu irei. Sei o manequim<br />

Eu estava longe de me importar com quem ia. Não queria nada, exceto que a<br />

dor acabasse. Um fim para essa confusão toda para que pud<strong>é</strong>ssemos entregar as<br />

penas e levar Kaci para casa.<br />

Marc pegou a chave do quarto na mesa de cabeceira e se ajoelhou junto a<br />

cama, me olhando. — Estarei de volta assim que puder e então te curaremos.<br />

Faythe?<br />

Fiz meus olhos focarem e ele apertou os dedos que saiam do meu gesso.<br />

Então, ele se levantou e pegou as chaves do carro que Jace estendia para ele. —<br />

Ligue para Greg e lhe dê uma atualização. E <strong>não</strong> deixe que ela mexa o braço.<br />

— Ok.<br />

171


Surpresa pela submissa obediência de Jace, eu levantei os olhos para ver<br />

que ele olhava para Marc com uma expressão obediente de estou-no-trabalho.<br />

Marc hesitou, franzindo atesta, em seguida estendeu a mão para a maçaneta.<br />

— Hey, ela provavelmente, vai precisar de algo mais forte do que Tylenol<br />

para a dor. Tequila? — Jace sorriu sugestivamente para mim, de costas para Marc<br />

e minha pulsação disparou com a lembrança do que havia acontecido da última<br />

vez que bebi com Jace.<br />

Eu corei. — Tequila <strong>não</strong>! — as sobrancelhas de Marc se ergueram e eu<br />

tropecei com minhas próprias palavras. — Motrin 8 está bom. Preciso pensar<br />

claramente.<br />

Marc assentiu, então deslizou para fora da porta e Jace a fechou atrás dele<br />

enquanto o motor do carro voltava à vida lá fora.<br />

— Você fez isso de propósito! — olhei para Jace e ele me deu um sorriso<br />

inocente, seus olhos azuis brilharam maliciosamente.<br />

— Eu gosto do que a tequila faz com você. E o que ela faz em mim...<br />

— Não <strong>é</strong> isso. — balancei a cabeça e a nevoa de dor clareou um pouco mais.<br />

— Você se ofereceu para ir comprar os suprimentos porque sabia que isso<br />

empurraria Marc a ir. — me deixando sozinha com Jace.<br />

Jace deu de ombros e seu sorriso aumentou enquanto andava em minha<br />

direção. — Parece que você está pensando claramente. Deve estar se sentindo<br />

melhor.<br />

— Dificilmente...<br />

— De qualquer forma, ele está mais qualificado a fazer a viagem pelos<br />

suprimentos. Já que ele conhece seu manequim e tudo mais.<br />

— Quando você se tornou tão...? — Esperto? Manipulador?<br />

— A motivação adequada faz maravilhas. — Jace tirou os sapatos e se<br />

afundou no lado oposto da cama, apoiado nos travesseiros com os braços<br />

cruzados atrás da cabeça.<br />

Eu me virei de frente para ele, um movimento desconfortável sem o completo<br />

uso das minhas mãos. — Eu quero lutar.<br />

Ele encolheu os ombros. — Bem, pela primeira vez você me prendeu. Estou<br />

completamente preso.<br />

— Estou falando s<strong>é</strong>rio. — fiz uma careta e mantive o braço longe,<br />

aumentando a pontada de dor. — Eu <strong>não</strong> posso lutar assim. Diabos, eu <strong>não</strong><br />

posso pentear meu próprio cabelo.<br />

Jace se endireitou e se aproximou, todo o humor desapareceu de sua<br />

expressão. — Marc tem razão, podemos nos preocupar com isso depois. Vamos<br />

tratar de você e o m<strong>é</strong>dico fará um trabalho melhor quando chegarmos em casa.<br />

Com Kaci. O importante agora <strong>é</strong> lembrar que estamos com o que nós viemos<br />

buscar e Kaci vai ficar bem.<br />

8 Anti-inflamatório <strong>não</strong> esteroide que possui atividades analg<strong>é</strong>sica e antipir<strong>é</strong>tica.<br />

172


— Eu sei. — mesmo que eu me sentisse muito melhor quando afastássemos<br />

Kaci dos pássaros.<br />

— E, francamente, considerando quão chateados eles estão, <strong>é</strong> uma sorte que<br />

a sede de vingança dos Thunderbirds <strong>não</strong> seja desencadeada com o cheiro de<br />

sangue. — fez um gesto para o meu braço destruído, como que para dar ênfase.<br />

Jace ainda estava falando, mas eu <strong>não</strong> podia ouvi-lo por cima do ruído de<br />

alarme soando em meus ouvidos.<br />

— Droga! — comecei a bater meus punhos no colchão e parei bem a tempo,<br />

irritada mais ainda porque minha raiva <strong>não</strong> tinha jeito de sair.<br />

— O que foi? — as sobrancelhas de Jace baixaram sobre seus olhos cobalto<br />

e seu olhar foi instintivamente para a porta, sem dúvida, para ouvir intrusos. Mas,<br />

<strong>não</strong> havia ningu<strong>é</strong>m. Nós <strong>é</strong>ramos os intrusos.<br />

— <strong>As</strong> penas <strong>não</strong> são suficientes. Nunca foram. — todo o trabalho, e meu<br />

braço completamente fodido, para nada. Bom, por muito pouco, de qualquer<br />

forma.<br />

Eu me aproximei da beirada da cama sem o uso das minhas mãos e me pus<br />

a andar. — Brett era a única prova real. Seu testemunho. — passei pela mesa<br />

barata para duas pessoas e me virei de frente para a lisa parede de cor branca. —<br />

Os Thunderbirds <strong>não</strong> podem distinguir entre <strong>Werecat</strong>s por seu cheiro. <strong>As</strong> penas<br />

ajudariam o nosso Conselho a colocar as garras em Malone dentro de seu caixão,<br />

mas <strong>não</strong> farão absolutamente nada pelos pássaros. Dependíamos do testemunho<br />

contra Malone vindo de seu próprio filho e nós <strong>não</strong> o temos mais.<br />

A expressão de Jace passou de confusão para uma raiva absoluta em uma<br />

fração de segundos. — Filho da puta!<br />

Eu parei e fechei os olhos. — Temos que entrar lá de novo.<br />

— O que? Onde?<br />

— Voltar lá, Jace. — abri os olhos para vê-lo me observando com medo<br />

conflitante e antecipação. — Temos que convencer Lance Pierce a depor.<br />

— Espere, você acha que Lance vai apenas se entregar? Você acha que ele<br />

vai dizer a verdade aos Thunderbirds pela bondade que há em seu coração?<br />

Eu dei de ombros e voltei a andar. — Talvez, quando ele ouvir que eles vão<br />

matar Kaci. Que tipo de <strong>guardião</strong> deixaria uma Tabby de treze anos, morrer por<br />

algo que ele fez?<br />

Jace tirou uma cadeira da mesa e sentou nela. — O tipo de <strong>guardião</strong> que<br />

deixaria que os Thunderbirds dizimassem um Pride inteiro pela mesma razão.<br />

Covardia.<br />

Certo. Eu <strong>não</strong> podia discutir sobre isso. — Então nós o faremos depor. Que<br />

outra opção nós temos?<br />

— Faythe. — ele piscou para mim, como se eu <strong>não</strong> estivesse fazendo sentido.<br />

— Os pássaros o matarão.<br />

— Eu sei. — meu ritmo aumentou. — Eu <strong>não</strong> tenho essa parte ainda. Talvez<br />

possamos renegociar. Seu testemunho em troca de imunidade.<br />

173


— Claro. — Jace rodou os olhos enquanto eu passava por ele. — Não vão<br />

atrás dele. Você sabe, já que eles são tão cooperativos e indulgentes. — me virei<br />

para a parede para cruzar o quarto de novo, mas Jace pegou os dedos da minha<br />

mão direita e puxou suavemente para ele. — Faythe, você <strong>não</strong> quer fazer isso. —<br />

eu me coloquei de joelhos e ele me abraçou com as mãos em minha cintura<br />

enquanto eu embalava meu braço machucado. — Isto <strong>não</strong> <strong>é</strong> autodefesa e você <strong>não</strong><br />

<strong>é</strong> uma assassina.<br />

— Isto <strong>é</strong> a defesa de Kaci. Eles vão matar Lance ou Kaci. Você está<br />

realmente disposto a deixá-la morrer para salvar o Tom que começou toda essa<br />

confusão?<br />

— É lógico que <strong>não</strong>. — passou as mãos lentamente sobre a parte superior<br />

dos meus braços pelas mangas, com cuidado em minhas feridas mais profundas.<br />

— Mas tem que haver outra forma.<br />

Neguei com a cabeça e rangi os dentes, minha consciência em escrupulosa<br />

guerra com a parte fria e lógica de mim, que entendeu exatamente o que tinha que<br />

ser feito. — Não há outra forma. Se <strong>não</strong> conseguirmos provas que os Thunderbirds<br />

possam aceitar e voltarmos ao ninho nas próximas trinta e quatro horas, eles vão<br />

matar Kaci. Então, eles simplesmente virão atrás do resto de nós.<br />

Tomei uma profunda respiração, então olhei diretamente em seus olhos. —<br />

O resto de vocês. Eles me entregarão para Malone, que vai me transformar na<br />

puta de um de seus irmãos. — suas mãos caíram dos meus braços e ele se<br />

recostou na cadeira, a raiva curvando seus lábios com o mesmo pensamento. — E<br />

você sabe que eu <strong>não</strong> deixarei que isso aconteça. Terei que matar todos os<br />

bastardos que colocar uma mão em mim e então eles terão que me matar.<br />

Portanto... <strong>é</strong> Lance ou nós. E tenha em mente que ele <strong>é</strong> culpado e nós <strong>não</strong> fizemos<br />

mal algum. — aos Thunderbirds de qualquer modo.<br />

Jace suspirou e abriu a boca, mas eu continuei antes que ele pudesse falar:<br />

— Al<strong>é</strong>m do mais, <strong>não</strong> sabemos seguramente se vão matá-lo. Temos outro dia e<br />

meio para encontrar o jeito de sair disto. Mas, independente disso, precisamos de<br />

Lance.<br />

Ele cruzou os braços sobre o peito: — E como você espera encontrá-lo?<br />

Encolhi os ombros. — Nós vamos atrás dele. Esta noite. Ao anoitecer.<br />

— Faythe, isso <strong>é</strong> suicídio.<br />

Eu sei. — Só se nos pegarem.<br />

Ele balançou a cabeça, pouco convencido. — Há apenas três de nós e<br />

mesmo se o fiz<strong>é</strong>ssemos você <strong>não</strong> pode lutar com um braço destruído e o outro<br />

engessado.<br />

— Eu sei. — a menos que... a emoção vibrou em meu dedos dos p<strong>é</strong>s e mãos,<br />

de repente eu estava em uma alta possibilidade: — Acho que preciso de um<br />

banho. Um longo banho quente.<br />

O sorriso de Jace voltou e seu olhar desviou para o sul do meu rosto: —<br />

Agora você está falando...<br />

174


Corri para o banheiro e comecei a desabotoar a camisa, at<strong>é</strong> que o <strong>primeiro</strong><br />

movimento do meu braço esquerdo enviou uma pontada de dor por ele. — Hey,<br />

você pode me dar uma mão com as minhas roupas? — droga, isso <strong>não</strong> soou bem!<br />

Tarde demais... ele estava na porta antes que eu pudesse pensar em uma<br />

maneira de despachá-lo graciosamente.<br />

— Jace, eu sei que isto <strong>é</strong> estranho, mas...<br />

— Não <strong>é</strong> estranho, Faythe. — ele se sentou na borda da banheira na minha<br />

frente e seu sorriso tinha desaparecido, substituído por um calor tão intenso em<br />

seus olhos que tirou a respiração, queimando meu íntimo.<br />

Engoli em seco e forcei as palavras certas para fora. — Quero dizer... <strong>não</strong><br />

estou tentando arrancar suas calças.<br />

— Você <strong>não</strong> tem que tentar... — suas mãos se ergueram lentamente para os<br />

botões da minha blusa e sua respiração seguinte foi irregular. Seu olhar seguiu<br />

seus dedos a medida que abriam caminho pela frente da minha camisa. Sua mão<br />

roçou meu estômago nu e eu prendi a respiração. Facilitou a saída da camisa dos<br />

meus ombros e do gesso, então tirou a manga esquerda e deixou cair a lateral<br />

longe do meu último machucado. Em seguida, levou a mão para o fecho frontal do<br />

meu sutiã. Apesar da minha dor constante, meu pulso martelava em resposta.<br />

Isto <strong>não</strong> vai funcionar.<br />

— Jace. — levantei seu queixo com a mão direita engessada at<strong>é</strong> que seu<br />

olhar ardente queimou sobre o meu e suas mãos desapareceram. — Dói mover<br />

meu braço e meus dedos <strong>não</strong> estão funcionando muito bem. Eu só preciso de<br />

ajuda. Isso <strong>é</strong> tudo. Ok?<br />

— Sim. Não tem problema. — mas ele se mexeu desconfortável e eu olhei<br />

para baixo para encontrar um proeminente volume na parte da frente de sua calça<br />

jeans.<br />

Uh – oh. — Tem certeza?<br />

— Ok, talvez um pequeno problema. — sorriu. — Mas <strong>não</strong> tão pequeno...<br />

Abafei um gemido frustrado. Este <strong>não</strong> era o momento e nem o lugar, <strong>não</strong><br />

importava quão bom fosse suas mãos em mim. — Jace...<br />

— Não posso evitar. — ele deu de ombros, sem a mínima vergonha, embora<br />

eu facilmente pudesse ter me afundado em um buraco no chão. — Você está<br />

seminua.<br />

— Você já me viu nua, um milhão de vezes. — minha voz saiu rouca. —<br />

Droga.<br />

— Não <strong>é</strong> a mais mesma coisa.<br />

E de repente, eu estava feliz que <strong>não</strong> fosse ele que estivesse se despindo.<br />

Porque ele tinha razão.<br />

— Tudo bem. Não importa. Posso fazer isso sozinha. Desculpe. — minhas<br />

bochechas ardiam e eu me virei e fiz uma careta quando tentei alcançar o botão<br />

das minhas calças.<br />

175


— Não, espere. — ele respirou fundo e me puxou delicadamente em direção<br />

e ele pelo meu cotovelo direito, logo acima do meu gesso. — Estou bem.<br />

— Tem certeza? — perguntei novamente e desta vez ele assentiu com<br />

confiança. Eu tinha minhas dúvidas, mas podia fingir, se pudesse. — Tudo bem.<br />

Vamos apenas acabar com isto.<br />

— Não <strong>é</strong> o que eu normalmente gosto de ouvir enquanto dispo uma<br />

mulher... — ele sorria de novo e eu exalei de alívio. Podia lidar com um Jace<br />

brincalhão.<br />

Ele desabotoou a calça rapidamente e eu mordi os lábios para conter um<br />

gemido quando ele os empurrou lentamente por meus quadris, me tocando o<br />

menos possível. Sua tentativa de ajuda casta era mais como uma provocação<br />

criminosa.<br />

Meus jeans caíram aos meus p<strong>é</strong>s e eu saí deles. Jace se jogou para trás com<br />

uma mão na torneira. — Quão quente você quer?<br />

Girei os olhos e sorri, tentando quebrar a tensão. — Não tem nada que você<br />

diga que soe inocente?<br />

Ele me devolveu o sorriso. — Não se eu puder evitar.<br />

— Eu preciso muito quente.<br />

Ele se virou para a água, testou com a mão, depois ajustou a temperatura e<br />

deixou escorrer. — Então... o que estamos fazendo, exatamente? Sei que você está<br />

coberta de sangue, mas assumo que isto <strong>é</strong> por alguma coisa mais do que higiene?<br />

— Sim. — agarrei o gesso. — Estamos molhando esta merda para poder<br />

cortá-lo.<br />

— Faythe...<br />

Mas, eu o interrompi, desejando que <strong>não</strong> estivesse prejudicando por cruzar<br />

os braços debaixo do meu sutiã. — Vou ter que Mudar para sarar isto, de qualquer<br />

modo. — levantei meu latejante, ardente braço esquerdo. — Então, por isso, faz<br />

sentido eu curar ambos de uma vez; certo? — ele começou a falar de novo, outra<br />

vez eu me apressei a interrompê-lo. — E, <strong>não</strong> me diga que eu <strong>não</strong> deveria Mudar.<br />

Não ficarei para trás e vocês rapazes, vão precisar saber que eu posso cuidar de<br />

mim mesma quando formos atrás de Lance. De outra forma, eu serei uma<br />

distração e um obstáculo. Vou fazer isto, <strong>não</strong> importa o que você diga.<br />

Seu sorriso tinha voltado: — Eu ia dizer que você <strong>é</strong> brilhante.<br />

— Eu... — pisquei. — Verdade?<br />

— Sim. Se eu soubesse como tirar a maldita coisa, eu teria sugerido antes<br />

de você subir naquele lugar e quase se matar.<br />

— Ah! — bem, isso foi uma surpresa agradável.<br />

— Mas, você sabe que vai ter que Mudar várias vezes, certo? Tipo, uma<br />

dúzia ou mais. E que vai doer como o inferno, supondo que funcione at<strong>é</strong> mesmo<br />

com um gesso quebrado.<br />

176


Ele falou por experiência própria. Mas se ele podia suportar a dor, então eu<br />

tamb<strong>é</strong>m. — Eu sei. Vamos acabar com isso! E ei... você sabe que Marc vai ficar<br />

louco, <strong>não</strong> <strong>é</strong>?<br />

Jace encolheu os ombros: — Ele ficará com raiva de mim.<br />

Eu ri. — Sim, de mim tamb<strong>é</strong>m. Ajude-me. — virei de costas para ele e<br />

agarrei o fecho frontal do meu sutiã com minha mão direita, depois deixei que ele<br />

deslizasse com cuidado sobre ambos os braços. Então, usei a mesma mão para<br />

empurrar para baixo um lado de cada vez da minha calcinha preta, que caiu no<br />

chão.<br />

A banheira estava cheia apenas dois centímetros, mas eu entrei de qualquer<br />

forma, porque isso era melhor do que ali de p<strong>é</strong> nua enquanto ele tentava e <strong>não</strong><br />

conseguia parar de me olhar.<br />

A água quente pareceu muito confortável em minhas pernas, mas eu tive<br />

que escorregar para baixo para submergir o gesso enquanto a água corria.<br />

Coloquei meu braço esquerdo com cuidado sobre a beira da banheira e olhei como<br />

Jace se acomodou no assento sanitário fechado, com um tornozelo cruzado sobre<br />

o joelho oposto, estilo homem.<br />

— Há quanto tempo Marc saiu? — eu agitava meu gesso na água e movia os<br />

dedos dos p<strong>é</strong>s no fluxo da torneira.<br />

Jace olhou seu relógio. — Cerca de vinte minutos. Quanto tempo você acha<br />

que ele vai demorar?<br />

— Normalmente, eu diria em torno de uma hora, mas ele se apressará. É<br />

possível que tenhamos outra meia hora. — eu agitava o braço mais rápido,<br />

esperando que a banheira enchesse. — Acho que estaremos muitos mais felizes se<br />

eu estiver fora deste gesso e da banheira antes que ele volte.<br />

— Nada a discutir. — Jace franziu o cenho. — Não <strong>é</strong> que eu <strong>não</strong> possa<br />

agarrá-lo. Isto simplesmente <strong>não</strong> <strong>é</strong> realmente...<br />

— Eu sei. E eu <strong>não</strong> quero que você o agarre. Ou vice versa. É por isso que<br />

eu preciso que isto funcione rápido. — mexi os dedos, tentando jogar o máximo de<br />

água no gesso, para acelerar o processo.<br />

— Seu novo celular tem internet, n<strong>é</strong>?<br />

— Sim, por quê?<br />

— Você pode descobrir quanto tempo ele vai demorar a voltar ao Novo<br />

M<strong>é</strong>xico daqui? — porque simplesmente <strong>não</strong> podíamos nocautear Lance e arrastálo<br />

no avião.<br />

Jace pegou seu celular do bolso e passou os cinco minutos seguintes<br />

teclando com os polegares.<br />

— Merda. — ele olhou para cima e a má noticia era evidente em sua<br />

expressão. — Vinte e três horas se dirigirmos direto. O que podemos fazer se<br />

dirigirmos em turnos, mas...<br />

— Mas isso significa que <strong>não</strong> podemos esperar at<strong>é</strong> o anoitecer para ir atrás<br />

de Lance.<br />

177


Ele balançou a cabeça. — Não se quisermos chegar a tempo de Kaci ainda<br />

estar respirando.<br />

Fechei os olhos e apoiei a cabeça contra a borda da banheira já que a água<br />

batia no meu umbigo. — Ok, então nós iremos assim que eu estiver curada. — ou<br />

ao menos suficientemente curada. — Mas, nós teremos que pegar Lance sozinho.<br />

Não podemos pegar todos de uma vez.<br />

— Sim. Vamos pensar em alguma coisa. — começou a guardar seu celular,<br />

mas eu balancei a cabeça.<br />

— Devemos ligar para o meu pai. Eu falo com ele, se quiser. Provavelmente<br />

ele vai ficar louco tamb<strong>é</strong>m, mas eu posso te deixar fora dessa. Não vou dizer que<br />

você me ajudou.<br />

Jace balançou a cabeça e seu olhar segurou o meu com um peso<br />

substancial. Uma determinação que eu quase <strong>não</strong> reconhecia nele. — Estou nesta<br />

com você, Faythe. O caminho todo. Está <strong>é</strong> a única opção que temos. Ele vai ver<br />

isso. E se ele <strong>não</strong> o fizer... — Jace encolheu os ombros e sorriu de novo. — Nós<br />

dois estaremos em apuros.<br />

Meu coração batia com tanta força que doía. Não era para ele ser assim.<br />

Não era para Jace ser assim... maravilhoso. Afastar-me dele <strong>não</strong> deveria ser tão<br />

difícil...<br />

Estava começando a pensar que deixá-lo seria como renunciar ao ar e eu já<br />

me sentia como se <strong>não</strong> pudesse respirar.<br />

— Tudo bem. Ligue para ele.<br />

178


Capítulo 22<br />

Jace discou e agitei a água com meu gesso. Quando meu pai atendeu, girei a<br />

torneira com meu p<strong>é</strong>. A banheira <strong>não</strong> era tão profunda como gostaria, mas cobria<br />

meu braço, e queria ser capaz de ouvir ambos os lados da conversa.<br />

— Oi, Greg, sou eu.<br />

— Jace? Tem uma atualização?<br />

— Sim. Estamos em um motel a uns vinte minutos de... da casa de Cal. — o<br />

qual uma vez foi a casa de Jace. — Encontramos as penas, então todos estão bem,<br />

e <strong>não</strong> há maneira que o Conselho seja capaz de discutir com a evidência. Mas...<br />

<strong>não</strong> acreditamos que seja o suficiente para convencer aos Thunderbirds. Eles <strong>não</strong><br />

podem distinguir aos <strong>Werecat</strong>s pelo cheiro.<br />

Meu pai suspirou obviamente frustrado. — Tenho tido pensamentos<br />

similares. — depois, mais distante. — Michael, escutou isso?<br />

— Sim. Deixe-me pensar por um minuto. Chegarei a algo.<br />

— Temos uma ideia. — Jace me lançou um olhar e sorriu de modo<br />

tranquilizador. — Queremos ir atrás de Lance.<br />

— Ir atrás dele? — os passos do meu pai cessaram, e eu facilmente podia<br />

imaginar seu cenho franzindo ceticamente.<br />

— Traga-o. Levaremos aos Thunderbirds.<br />

— Entendido. — houve certo momento de fechado silêncio, mas pela água<br />

rugindo ao redor e com esperança dentro do meu gesso. — Ponha Marc no<br />

telefone.<br />

Jace se sentou na borda da banheira, e minha mão esquerda roçou sua<br />

coxa. — Ele saiu por suprimentos de <strong>primeiro</strong>s socorros.<br />

— Quem está ferido? — a voz do meu pai se elevou, e o distante raspar da<br />

caneta de Michael contra o papel fez uma pausa.<br />

— É somente um arranhão papai. — disse, sabendo que ele me escutaria. —<br />

Meu braço passou atrav<strong>é</strong>s de uma tabua podre da cabana de caça onde<br />

encontramos as penas.<br />

O longo suspiro do meu pai era mais uma súplica de paciência. — Jace, <strong>é</strong><br />

somente um arranhão?<br />

Jace deu de ombros e articulou uma desculpa silenciosa, depois respondeu.<br />

— Realmente <strong>é</strong> mais como um rasgo. Na longitude do seu braço.<br />

Levantei meu braço direito da água para deixá-lo longe, mas eu <strong>não</strong><br />

esperava menos. Se ele houvesse mentido ao nosso Alfa, eu teria perdido o<br />

respeito por ele.<br />

179


— Coloque Faythe no telefone.<br />

— Um momento. — Jace cobriu o bocal e se ajoelhou próximo a banheira.<br />

— Pode segurá-lo?<br />

Não comodamente. Mas se fizesse que Jace segurasse o telefone, meu pai se<br />

concentraria no quão ruim <strong>é</strong> a ferida, o que poderia evitar uma vez que tenha<br />

sarado. — Coloque no viva voz.<br />

Jace levantou uma sobrancelha, mas assentiu, colocando o telefone na<br />

pequena bancada do banheiro.<br />

— Posso escutá-lo papai. Pode falar.<br />

— Porque estou no viva-voz?<br />

— Porque estou na banheira. Não quero deixar o telefone de Jace cair na<br />

água. — foi à verdade. Somente <strong>não</strong> toda.<br />

— E está na banheira por que...?<br />

— Descobri que são úteis para se manter limpa. — tecnicamente era uma<br />

mentira...<br />

Michael bufou, mas meu pai estava muito menos divertido. — Faythe...<br />

— Bem. Tenho que Mudar para sarar o corte do meu braço esquerdo, e <strong>não</strong><br />

posso fazer com um gesso. Então curarei ambos os braços com uma Mudança. —<br />

ou talvez mais de uma dúzia de Mudanças. — Estou molhando meu gesso para<br />

que possa cortá-lo.<br />

— De alguma forma <strong>não</strong> acredito que o Dr. Carver aprove seu tempo ou seus<br />

m<strong>é</strong>todos. — soava cansado, mas de bom humor, o qual provavelmente se devia<br />

inteiramente ao fato de que já <strong>não</strong> estava sendo atacado por Thunderbirds.<br />

— Eu sei, e desejaria que o Dr. estivesse aqui. — assim eu <strong>não</strong> estaria me<br />

banhando nua em frente a Jace, enquanto estou no telefone com meu pai e meu<br />

irmão. Nossa conversa tinha redefinido completamente a palavra incômoda, e <strong>não</strong><br />

tínhamos chegado a parte difícil ainda. — Mas, Carver <strong>não</strong> está aqui, e estamos<br />

em um horário bastante tenso. E nós precisamos dos três em bom estado de<br />

funcionamento, por isso estou fazendo o que deve ser feito. — hesitei e respirei<br />

fundo. — Algo disso <strong>é</strong> um problema?<br />

Meu pai suspirou de novo, e quase podia vê-lo com o cenho franzido<br />

enquanto debatia as possíveis respostas.<br />

— Tudo isso <strong>é</strong> um grande problema Faythe. Está no meio do território<br />

inimigo, ferida, e muito longe de mim para ajudar. Você está nada mais que a um<br />

golpe da sorte longe de ser apanhada, e se isso ocorrer teríamos que ir em grande<br />

escala contra Malone no dia seguinte, porque quando os Thunderbirds entenderem<br />

que você <strong>não</strong> vai voltar, eles lançarão de novo sua ofensiva, e <strong>não</strong> teremos mão de<br />

obra para lutar. Estou esquecendo algo?<br />

— Hum... estamos bastante seguros que se nos apanharem, executarão a<br />

Marc e a Jace em sinal de transgressão. E os Thunderbirds matarão Kaci.<br />

voz.<br />

— E então... — Michael disse com nenhum rastro de humor deixado em sua<br />

180


Dei uma profunda respiração e a sustentei durante uma contagem de cinco.<br />

— Já entendi papai. Temos recriado a missão impossível e se tem uma ideia<br />

melhor, sou toda ouvidos. — mas desde que estou sentada, ou encostada, em uma<br />

banheira de água quente... — Nossas opções são bastante limitadas, e nosso<br />

tempo está se acabando.<br />

Couro rangeu quando meu pai se sentou em sua cadeira favorita. — Está<br />

esquecendo-se de mencionar uma maneira mais <strong>fácil</strong> com que tudo isso poderia<br />

ser feito? Seja seu gesso ou a descoberta de uma evidência melhor?<br />

Wow, uma <strong>fácil</strong>. — Não que eu saiba. Acredite ou <strong>não</strong>, <strong>não</strong> tento fazer as<br />

coisas pelo caminho difícil. — somente funciona dessa maneira a maior parte do<br />

tempo. — Não sei o que mais podemos fazer para conseguir provas, exceto<br />

convencer Malone a confessar, ou outro de seus homens desertarem. E <strong>não</strong> vejo<br />

nenhuma delas acontecendo nessa d<strong>é</strong>cada, muito menos nas próximas horas.<br />

— Ainda dispõe de quase um dia e meio. — podia praticamente escutar o<br />

cenho franzido na voz do meu papai.<br />

— Não se eles vão dirigir. — Michael obviamente tinha adivinhado o resto do<br />

meu plano. — Não <strong>é</strong> como se pudessem empurrar Lance em uma mala e fazer o<br />

check-in no aeroporto com sua outra bagagem.<br />

— Não <strong>é</strong> que <strong>não</strong> estejamos tentados... — Jace me sorriu da borda da<br />

banheira.<br />

— Muito bem, então precisam mover-se rapidamente. Presumo que <strong>não</strong> está<br />

esperando que Lance simplesmente seja voluntário dos seus serviços.<br />

Forcei um sorriso. — Estamos antecipando mais problemas que esse.<br />

— E está pronta para usar a persuasão agressiva?<br />

Exalei lentamente e expressei minha resposta com cuidado, esperando<br />

esconder meu incômodo sobre dar a um <strong>Werecat</strong> para a execução, mesmo que isto<br />

fosse minha própria proposta de operação. — Com sua permissão, vamos usar a<br />

menor quantidade de força necessária para realizar o trabalho.<br />

A hesitação do meu pai naquele momento foi breve. — Já que <strong>não</strong> vejo<br />

nenhuma outra opção, tem minha permissão. Mas, Faythe, você pensou bem?<br />

Está falando de pegar um Gato de Pride de sua própria casa, contra sua vontade.<br />

Não há maneira de fazer isso sem que ningu<strong>é</strong>m note, e mesmo se escaparem<br />

ilesos, logo que averiguem o que aconteceu, cada Tom no território dos Apalaches,<br />

estará atrás de vocês três. E <strong>não</strong> há maneira de que possa conseguir que se<br />

salvem a tempo.<br />

— Eu sei. — apoiei a cabeça no encosto da banheira e fiquei olhando os<br />

azulejos do teto sujos de espuma.<br />

— Não resolvemos tudo isso ainda.<br />

— E depois está à beira de uma crise política. — Michael disse. Sobre a<br />

linha, uma porta se fechou, cortando o ruído de fundo dele que tinha apenas me<br />

fixado antes. O escritório estava fora do alcance de espiões, e meu pai e meu irmão<br />

eram presumivelmente os únicos na sala. — Estamos falando do irmão de Parker.<br />

O filho de Pierce Jerold. Sobre a neutralidade restante de Blackwelll... — graças a<br />

Deus foi ali quando Brett nos deu a primícia completa sobre seu pai... Pierce <strong>é</strong><br />

181


agora o voto decisivo. Se devolvermos seu filho durante o voo. Podemos quase<br />

esquecê-lo, colocando-se do lado de papai contra Malone para Presidente do<br />

Conselho.<br />

— Mas, acaso isso importa? — a água do meu banho estava esfriando, e eu<br />

queria desesperadamente esquentá-la. Mas todos precisavam escutar uns aos<br />

outros com clareza. O lado positivo, minha pele fria estava me ajudando a distrairme<br />

da agonia que meu braço esquerdo produzia. — Estamos falando de guerra<br />

civil Michael. A votação <strong>é</strong> discutível nesse ponto. Qualquer um que ganhe a luta<br />

será Presidente do Conselho. Se sobrar um Conselho para se dirigir depois. —<br />

supondo que ficava algo reconhecível da nossa cultura uma vez que o sangue<br />

tinha empapado nosso solo.<br />

Michael gemeu com impaciência. — Mas, quem você acha que vai ganhar a<br />

guerra, se uma parte tem mais aliados que a outra?<br />

Merda. Meus olhos fecharam ante seu ponto. — Muito bem, então quando<br />

entregarmos Lance, Pierce poderá dar sua mão de obra para Malone, o que<br />

significa que terá um contingente maior do que nós teríamos.<br />

— Não há possibilidade disso. — Michael insistiu.<br />

— Claro que sim. — coloquei os olhos em branco. Michael era sempre a voz<br />

da fatalidade, mas era somente a metade dos fatos. — Porque Pierce ficará contra<br />

nós por entregar Lance, quando Lance efetivamente condenou todo o nosso Pride.<br />

Incluindo uma muito indefesa Tabby e seus próprios irmãos? Porque estaria do<br />

lado de Lance e Malone sobre Parker e nós? Sobretudo tendo em conta quantas<br />

pessoas morreriam menos se os Thunderbirds souberem quem realmente matou<br />

Finn?<br />

Michael começou a responder, mas Jace falou em voz baixa. — De verdade<br />

acredita que Calvin vá dizer a Pierce a verdade sobre porque entregamos Lance ao<br />

Bando?<br />

Merda! Minha cabeça dava voltas com os detalhes, ou talvez com a perda de<br />

sangue, e se ficava difícil conter todos os fatos em minha mente. — Claro que <strong>não</strong>.<br />

Malone nos acusará de tentar salvar a nós mesmos voltando o trovão contra ele.<br />

Que <strong>é</strong> exatamente o mesmo que ele fez a nós. — deixei cair minha cabeça contra a<br />

borda da banheira de novo, e apertei os dentes at<strong>é</strong> que me doeu a mandíbula. —<br />

Mas isso <strong>não</strong> muda nada. Se apresentarmos Lance, Pierce lutará com Malone<br />

contra nós. Mas se <strong>não</strong> o fazemos, <strong>não</strong> haverá suficiente de nós para lutar contra<br />

Malone em absoluto. E perdemos Kaci.<br />

Sentei-me e abri os olhos, feliz de encontrar o olhar de Jace fixamente<br />

enfocado no meu. — E papai, eu <strong>não</strong> estou disposta a perder Kaci.<br />

— Isso <strong>é</strong> o que eu esperava ouvir. — meu pai disse, e sua declaração estava<br />

carregada de audácia. Parecia quase tão aliviado quanto preocupado. — Está <strong>é</strong><br />

uma missão difícil Faythe, mas <strong>é</strong> sua missão, a sua, de Marc e Jace, e preciso de<br />

todos seguros. Acredito que está fazendo o correto, mas eu <strong>não</strong> vou lhes pedir que<br />

sequestrem um Gato de Pride e o entreguem a morte se <strong>não</strong> está de acordo.<br />

Hesitei, e a mão de Jace envolveu-se ao redor dos dedos da minha mão<br />

esquerda. Apertou com suavidade e sorriu. Ele teve minha resposta, <strong>não</strong> importa o<br />

que. — Muito bem. Vamos fazê-lo. <strong>As</strong>sumindo que Marc esteja conosco.<br />

182


— Ele estará. — meu pai disse. — Sempre estará contigo Faythe.<br />

— Eu sei. — tirei meu olhar do de Jace, <strong>não</strong> pude evitar, embora sua mão<br />

estivesse ainda quente na minha.<br />

— Está bem, vou retirar seus bilhetes de avião e verei se tem algo que possa<br />

fazer para ajudar-lhes a sair do território uma vez que tenham a Lance.<br />

— Obrigada papai.<br />

— Tenha cuidado e me mantenha em dia.<br />

— O farei.<br />

Jace desligou e abriu a torneira para esquentar a água. Quinze minutos<br />

mais tarde, meu gesso estava bastante mole para dobrá-lo com minha mão nua,<br />

então Jace tirou um par de tesouras da sala principal. Eram velhas e <strong>não</strong><br />

esterilizadas, nem afiadas, mas era isso ou roer a maldita coisa fora com meus<br />

próprios dentes.<br />

Jace tirou a camisa e a jogou sobre o chão do quarto para <strong>não</strong> molhar,<br />

depois me ajudou a dar a volta para olhar o lado da banheira. Apoiei meu gesso na<br />

borda. Punho a punho com o braço esquerdo ferido.<br />

— Tentarei <strong>não</strong> mover seu braço, mas o osso <strong>não</strong> está totalmente curado,<br />

então isso pode doer. — disse.<br />

— Não importa. — <strong>não</strong> poderia doer mais que o outro. E se pudesse, eu <strong>não</strong><br />

queria saber de antemão. — Apenas faça.<br />

Suas sobrancelhas se levantaram e uma comissura da sua boca se arqueou.<br />

— Uma vez mais, <strong>não</strong> são minhas palavras favoritas para escutar de uma mulher<br />

nua. — sorri agradecida pela aparente capacidade sem esforço de Jace para<br />

quebrar a tensão. Não <strong>é</strong> que ele sempre empregava essa habilidade especial para<br />

minha satisfação — ... Bom, aqui vai.<br />

Ele começou a cortar o gesso no final do meu cotovelo. A lâmina de aço<br />

inferior estava fria enquanto deslizava sobre a pele da minha tíbia, o recheio e o<br />

gesso empapados, firme, mas flexível. Jace apertou as lâminas juntas e os<br />

músculos se moveram em meu braço nu, o que obrigou a tesoura a cortar atrav<strong>é</strong>s<br />

do gesso. Eu contive a respiração, esperando a dor, mas ele era muito cuidadoso e<br />

<strong>não</strong> senti nada.<br />

Vários minutos mais tarde enfim, a tesoura cortou o último centímetro de<br />

gesso justamente debaixo dos meus nódulos. — Já está quase feito. — Jace<br />

deslizou a lâmina ao lado do meu dedo polegar para o último corte, e um segundo<br />

depois tinha terminado. Movi o polegar quando ele tirou com cuidado meu gesso<br />

aberto atrav<strong>é</strong>s da nova divisão pelo meio. — Muito bem, levanta o braço.<br />

Levantei, de novo preparada para a dor que nunca chegou, e ele deslizou<br />

suavemente o molde pela minha mão, onde o gesso ficou dividido em dois, mas<br />

<strong>não</strong> realmente estendido. — Wow, eu pareço... enrugada. — da água claro. Minhas<br />

mãos e p<strong>é</strong>s estavam enrugados tamb<strong>é</strong>m. Fora isso, meu braço rec<strong>é</strong>m-exposto <strong>não</strong><br />

parecia muito diferente do resto de mim. Eu <strong>não</strong> tinha usado o gesso bastante<br />

tempo para conseguir uma linha bronzeada. Não tomamos muito sol em fevereiro<br />

e eu <strong>não</strong> podia dizer atrav<strong>é</strong>s de uma olhada, que tinha estado quebrado. Ou que<br />

ainda poderia estar.<br />

183


— Dói? — Jace perguntou.<br />

Sorri. — Não são minhas palavras favoritas para escutar de um homem<br />

quando estou nua. — <strong>não</strong> pude evitar. Fazíamos inocentes paqueras desde que<br />

tinha quatorze anos, e somente porque a parte “inocente” já <strong>não</strong> <strong>é</strong> uma aplicação<br />

estrita, <strong>não</strong> significa que o hábito estava morto.<br />

Seus olhos azuis brilhavam enquanto colocava o gesso molhado no chão. —<br />

Suponho que isso quer dizer <strong>não</strong>?<br />

— O que está acostumado a escutar, obviamente, de mulheres nuas...?<br />

— Oh, agora está jogando sujo.<br />

Meu sorriso se ampliou, e meu olhar o seguiu enquanto ele se jogou para<br />

trás para colocar as tesouras na pia.<br />

— Estou tentando...<br />

Os dedos de Jace deslizaram por uma mecha de cabelo em minhas costas e<br />

a água quente. — Cuidado, ou eu poderia dizer que preciso de um banho tamb<strong>é</strong>m.<br />

— Precisaria muito mais que isso para limpá-la.<br />

— Sim? O que você sugere?<br />

— Uma barra de sabão para a boca, e uma esponja de três metros para o<br />

resto de você.<br />

— Três metros? — Jace me olhou com um brilho travesso. — Lisonjeia-me,<br />

mas <strong>não</strong> muito.<br />

Ainda estávamos rindo quando a porta do hotel se abriu.<br />

— Merda! — sussurrei, e Jace levantou-se tão rápido que pensei que<br />

escorregaria sobre o piso molhado. O coração batia tão forte que jurei que a água<br />

do banho ondeava a cada batida. Eu <strong>não</strong> tinha escutado o carro parar. Ou melhor,<br />

eu tinha. Vários tinham ido e vindo desde que Marc tinha ido, e eu tinha deixado<br />

de prestar atenção.<br />

— Faythe? — Marc chamou enquanto fechava a porta, e o plástico se<br />

enrugou quando ele largou o que seja que tinha comprado na loja.<br />

Jace se manteve firme no meio do chão, de frente a sala principal, mas o<br />

pulso corria quase tão rápido como o meu. Fiz uma virada na banheira e a água<br />

derramou-se ao meu redor. A dor atravessou meu pulso quebrado, evidentemente,<br />

agarrei rapidamente uma toalha do suporte e coloquei na banheira para cobrir a<br />

mim mesma. No entanto, eu <strong>não</strong> poderia ter explicado racionalmente o porquê.<br />

Marc tinha me visto nua. Jace tinha me visto nua. A metade do Pride do<br />

Central Sul tinha me visto nua. E <strong>não</strong> estávamos fazendo nada de mal. Mas eu<br />

<strong>não</strong> queria que Marc me visse nua com Jace, porque tínhamos feito algo<br />

equivocado uma vez e a culpa que carregávamos por transformar esse momento<br />

torpe em um drama, o qual nunca tinha visto na televisão durante o dia.<br />

Devido ao que <strong>não</strong> parecia como se tiv<strong>é</strong>ssemos feito nada mal. Os passos de<br />

Marc ecoaram lentamente no banheiro, e eu quase pude cheirar sua suspeita.<br />

Nenhum dos dois tinha respondido, eu, por exemplo, <strong>não</strong> tinha a menor ideia do<br />

184


que dizer, e ele tinha escutado tanto eu amaldiçoar quanto o bater da água. E,<br />

provavelmente, nossos pulsos rápidos.<br />

Entrou na porta com minha camiseta amassada, jogada em um canto e a de<br />

Jace no outro, e a raiva apoderou-se da sua expressão mais rápido do que podia<br />

formar palavras para explicar. Não percebeu que Jace ainda usava calças. Não viu<br />

o gesso quebrado no chão, ou as tesouras na pia. Marc nos deu um olhar, eu nua<br />

e molhada na banheira, apoiada atrás de Jace para <strong>não</strong> ser vista, e os pedaços de<br />

ouro em seus olhos castanhos brilhavam com fúria e a amarga traição.<br />

— Que diabos acham que estão fazendo?<br />

185


Capítulo 23<br />

— Marc... — eu disse, e seus olhos cintilaram na minha direção. Ele pegou a<br />

toalha molhada pressionada contra o meu peito, apesar da dor do meu braço<br />

esquerdo, e a escuridão em sua expressão eu quase podia ver as bordas dos olhos<br />

dele emanando um brilho ao contrário.<br />

— Comece a falar, Faythe. — ele rosnou da entrada da porta.<br />

Jace se zangou. — Deixa-a em paz. Ela <strong>não</strong> fez nada errado.<br />

Marc deixou cair minha camiseta e seu punho bateu na mandíbula do Jace.<br />

Jace cambaleou e seu telefone caiu na pia.<br />

— Parem! — a água derramou em torno de mim enquanto eu tentava ficar<br />

em p<strong>é</strong> apoiando-me na minha mão esquerda. Mas a dor foi demais, e eu caí de<br />

volta na banheira. Mais água espirrou no chão.<br />

Marc passou por Jace, seus olhos saindo faíscas de chamas de raiva, e se<br />

inclinou para mim.<br />

— Não toque nela! — Jace esfregou o queixo, suas sobrancelhas arqueadas<br />

para baixo, e deu um passo deliberado em nossa direção. — Você <strong>não</strong> vai colocar<br />

as mãos nela at<strong>é</strong> que tenha se acalmado.<br />

Marc congelou. Então ele se endireitou lentamente e encontrou o olhar de<br />

Jace, olhando com surpresa e raiva. — Eu nunca a machucaria. Você sabe disso.<br />

— ele curvou-se novamente para me ajudar, e Jace grunhiu.<br />

A advertência era muito genuína, para <strong>não</strong> ser de verdade.<br />

<strong>As</strong>sustada, olhei para Jace e notei que seus olhos e caninos tinham<br />

mudado.<br />

Oh, merda. Eu quase podia saborear a sua sede de sangue, de preferência<br />

atraídos pela violência de Marc, e em Jace a enorme necessidade de me proteger. A<br />

menos que o acalmássemos, ele ficaria procurando uma razão para atacar Marc.<br />

— Saia, Jace. — Marc ordenou. Ele manteve a voz calma e as suas mãos à<br />

vista. Com Jace tão perto de perder o controle e prestes a Mudar, ele tinha uma<br />

vantagem óbvia e perigosa. Se ele atacasse, Marc se defenderia, e teríamos sangue<br />

de ambos os lados.<br />

— Jace... — eu disse suavemente, e seus olhos de gato flutuaram em minha<br />

direção. — Controle-se. Ele só vai me ajudar a levantar. Eu preciso de ajuda.<br />

— Se suas mãos apenas tremerem em torno de seu braço. — ele rosnou. —<br />

Eu vou matá-lo.<br />

Merda. Um toque de pânico tomou conta de cada fio do meu cabelo e do<br />

meu corpo.<br />

186


Os olhos de Marc estavam arregalados, at<strong>é</strong> mesmo suas sobrancelhas se<br />

aprofundaram denotando confusão. Ele girou lentamente para me olhar, porque<br />

movimentos repentinos era uma má ideia. — Faythe…?<br />

Mas eu <strong>não</strong> conseguia desviar o olhar de Jace. Não at<strong>é</strong> que ele tivesse se<br />

acalmado. — Não Jace, você tem que reprimir. Eu sei que você está tentando me<br />

proteger, mas isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> o que eu preciso agora. O que eu preciso <strong>é</strong> sair da<br />

banheira. Por favor. Mude agora. — Jace olhou de mim para Marc, e seu foco<br />

estava lá, mas ele continuou a falar. — Não at<strong>é</strong> que ele vá embora.<br />

— Porra! Jace me escute. Marc <strong>não</strong> vai me machucar. Vai me ajudar a me<br />

levantar. Quero que reverta sua Mudança. Agora.<br />

Insegurança passou pelo seu rosto. — Você tem certeza?<br />

— Sim. — balancei a cabeça para afirmar a minha segurança. Ele respirou<br />

fundo, e fechou os olhos, uma grande prova de confiança dele. Marc e eu <strong>não</strong><br />

tínhamos nos movido. Um minuto depois, Jace abriu os olhos, e eles eram<br />

humanos, novamente. — Obrigada. — eu estava orgulhosa de como eu soava<br />

calma.<br />

Os Toms então se entreolharam cautelosamente. Nos últimos três minutos,<br />

tudo tinha mudado entre eles. Jace nunca tinha se imposto ao Marc antes. Marc<br />

nunca o tinha considerado uma s<strong>é</strong>ria ameaça antes. Agora tudo era diferente, e eu<br />

sabia que, em uma parte profunda e escura de mim que <strong>não</strong> havia mais volta a<br />

partir de hoje. Nós tínhamos mudado para melhor, nós três.<br />

— Eu vou ajudá-la. — disse Marc, explicando-se ao Jace, como nunca tinha<br />

feito antes.<br />

Jace <strong>não</strong> respondeu, nem se moveu para se retirar, mas seus olhos viajaram<br />

para mim, as sobrancelhas erguidas em uma pergunta. Eu balancei a cabeça, ele<br />

franziu a testa, mas recuou.<br />

Marc respirou lentamente, obviamente tentando <strong>não</strong> parecer muito aliviado.<br />

Ele se abaixou para me levantar, cuidadoso com os hematomas em forma de<br />

garra de meus braços. Seus olhos estavam cheios de perguntas, mas só pude<br />

pestanejar em resposta. Não tinha ideia do que dizer.<br />

Humilhada na minha própria dependência e vulnerabilidade, enrubesci<br />

quando levantei minhas mãos para o alto, para que Marc pudesse colocar uma<br />

toalha seca em torno de mim. Então eu deixei ele me ajudar a sair da banheira<br />

cuja água tinha esfriado.<br />

Ele se ajoelhou para retirar o plugue da banheira, a cautela ainda presente<br />

em cada movimento. — Bem, todos preparados para discutir isto, racionalmente?<br />

Jace ficou em silêncio, o punho cerrado, então eu disse. — Sim. Mas,<br />

podemos fazer isso enquanto trabalha no meu braço? Não temos muito tempo.<br />

Os olhos de Marc se estreitaram. — Por que <strong>não</strong>?<br />

Eu suspirei e olhei por cima do ombro de Jace. — Você pode nos dar alguns<br />

minutos? Talvez encontrar uma máquina de caf<strong>é</strong>? Eu realmente preciso de<br />

cafeína.<br />

— Eu tenho uma Coca. — disse Marc, sempre útil.<br />

187


Eu o ignorei. — Um pouco de gelo, então? Por favor?<br />

Os olhos geralmente cobalto de Jace escureceram at<strong>é</strong> ficarem quase pretos.<br />

— Você quer ficar sozinha com ele?<br />

— Por que <strong>não</strong>? — Marc estava com raiva, sua voz assumiu um tom muito<br />

perigoso.<br />

— Porque você entrou aqui lançando golpes.<br />

— Para você, <strong>não</strong> para ela.<br />

Revirei os olhos. — Eu estou me afogando em testosterona aqui, meninos. —<br />

e tamb<strong>é</strong>m congelando. — Marc está tudo bem agora. Certo? — dei-lhe um olhar de<br />

expectativa, e ele concordou.<br />

— Mas poderia <strong>não</strong> estar em um minuto. — Jace insistiu, me dando um<br />

olhar significativo. Eu recebi a mensagem: este era um momento tão bom quanto<br />

qualquer outro para fazer a nossa confissão e deixar tudo em pratos limpos.<br />

Mas eu <strong>não</strong> estava de acordo. Nenhum deles me machucaria, mas,<br />

definitivamente feririam um ao outro se estivessem no mesmo quarto quando<br />

dissesse ao Marc o que tinha acontecido.<br />

— Que diabos quer dizer com isso? — perguntou Marc.<br />

— Nada. — lancei ao Jace um olhar irritado de censura sobre o ombro de<br />

Marc. — Ele acha que você está muito nervoso.<br />

— Porque ele veio balançando para cima de mim. — Marc começou a<br />

discutir, mas eu o cortei com veemência. — Jace, por favor, traga-nos um pouco<br />

de gelo. E eu posso querer tomar um pouco de tequila, depois de tudo isso. — para<br />

aliviar a dor em meus braços, e relaxar para a próxima Mudança. E para relaxar<br />

os nervos, que parecia como se estivessem prestes a entrar em curto circuito e<br />

lavar a minha mente com eles.<br />

— Bem. Estarei de volta em quinze minutos. — Jace violentamente pegou<br />

sua camisa do chão, onde Marc havia jogado e colocou-a por sua cabeça em uma<br />

s<strong>é</strong>rie de puxões furiosos, e saiu como uma flecha pela porta. Sem as chaves do<br />

carro. Evidentemente, havia uma loja de bebidas a uma curta distância do motel,<br />

<strong>não</strong> era nenhuma surpresa, considerando o pouco que eu tinha visto do bairro.<br />

Quando o barulho dos passos de Jace havia desaparecido, Marc atravessou<br />

a sala e colocou a corrente na porta.<br />

Eu me afundei na cama, desejando que pudesse apertar a toalha enrolada<br />

no meu peito, ou talvez secar meu cabelo, sem agravar a dor em meus braços. —<br />

Isso só vai provocar mais a ira dele. — eu disse.<br />

— Você pode notar o quanto eu me importo com isso. — Marc falou.<br />

Obviamente já <strong>não</strong> sentia a necessidade de ser civilizado, particularmente agora<br />

que <strong>não</strong> estava em perigo de atrair a latente e persistente ansiedade de sangue de<br />

Jace.<br />

Eu suspirei. — Marc, por favor. Nós <strong>não</strong> temos tempo para isso. Você está<br />

realmente exagerando. — desta vez... meus braços estavam me matando, mas eu<br />

<strong>não</strong> iria usar a dor como uma desculpa para evitar o assunto. Isso seria como<br />

usar o decote para me livrar de uma multa de trânsito.<br />

188


— Bem. O que aconteceu?<br />

— Nada. — eu me forcei a segurar seu olhar. — Eu <strong>não</strong> posso usar as<br />

minhas mãos, merda, então ele estava me ajudando.<br />

Cala a boca. Você parece culpada quando começa a xingar...<br />

— Isso <strong>não</strong> soa como ajudar, Faythe. Não minta. Que diabos aconteceu<br />

aqui?<br />

Eu respirei fundo e soltei um silencioso, obrigada. Pela frase<br />

abençoadamente simples. — Nós estávamos flertando. Brincando, como<br />

costumávamos fazer. Não foi nada, Marc.<br />

— OH, sim? — ele pegou com um puxão as três bolsas de plástico da mesa.<br />

— Então por que ele está agindo como... como se fosse o seu maldito parceiro<br />

romântico? — ele fez um gesto furioso para a porta fechada com a mão livre. —<br />

Essa <strong>não</strong> era a reação de um bom amigo. Nem mesmo era a reação de um pobre<br />

idiota com uma paixonite. Ele está agindo... com possessividade.<br />

— Não. — balancei minha cabeça. — Não. Ele <strong>não</strong> está agindo com<br />

possessividade, ele está agindo de forma protetora. Porque você veio zangado. Ele <strong>é</strong><br />

um <strong>guardião</strong>. Parte de seu trabalho <strong>é</strong> me proteger, e ele pensou que você ia me<br />

machucar.<br />

— Só porque ele <strong>não</strong> está pensando racionalmente. Porque ele acha que você<br />

<strong>é</strong> dele. Se <strong>não</strong> aqui... — Marc atingiu sua têmpora. — Então aqui. — ele apontou<br />

para o peito com força suficiente para deixar um hematoma, e eu estremeci.<br />

— Ele sempre foi meu protetor. Todos vocês foram. Que diabos, ele entrou<br />

na frente de uma bala por mim, Marc. Não há diferença nisso. — isso era verdade,<br />

mas <strong>não</strong> fez nada para aliviar a culpa tão espessa e pesada que eu quase <strong>não</strong><br />

conseguia respirar.<br />

— Para o inferno com isso. — ele largou os sacos sobre a colcha junto a<br />

mim. — Ele nunca tentou te defender de mim antes.<br />

— Talvez porque ele nunca pensou que precisasse antes.<br />

Marc recuou como se eu o tivesse batido, e me enchi de vergonha. — Sinto<br />

muito. Não quis dizer isso.<br />

Nenhum dos dois falou por um momento, e Marc começou a tirar as<br />

compras dos sacos. Duas garrafas de água oxigenada, um kit de sutura, gaze<br />

est<strong>é</strong>ril, esparadrapo, um novo par de jeans, uma camiseta de mangas compridas e<br />

roupas íntimas. Ele, finalmente se sentou na cama, dobrando o jeans enquanto eu<br />

me sentava com minhas mãos inúteis em meu colo.<br />

— Ele <strong>não</strong> está bem, Faythe. Ele tem estado assim desde que Ethan morreu.<br />

Está agindo tamb<strong>é</strong>m com possessivamente com a Tabby do Pride... — eu abri<br />

minha boca para objetar, ele sabia o quanto eu odiava quando ele se referia a ela<br />

dessa forma, mas ele falou antes, tentando esclarecer o seu ponto de vista. — Ele<br />

está resistindo a ordens, desafiando seus superiores, eriçando as autoridades...<br />

São somente as suas ordens, eu pensei em dizer, você, como seu superior, e<br />

sua autoridade. Jace <strong>não</strong> apresenta qualquer uma destas reações ao meu pai. Mas<br />

eu <strong>não</strong> podia, at<strong>é</strong> que eu estivesse pronta para contar o resto.<br />

189


— Ele está agindo como... — Marc, em seguida, olhou para cima e deixou a<br />

mão na minha perna para se certificar de que tinha toda a minha atenção —<br />

Faythe, ele está agindo como um provocador. — ele hesitou, e eu sabia o que<br />

estava por vir. Eu balancei minha cabeça com veemência, mas ele disse de<br />

qualquer forma. — Ele <strong>não</strong> pode ficar aqui. Logo que isso tudo termine, Jace tem<br />

que ir embora.<br />

— Não. Não, Marc ele <strong>não</strong> tem nenhum lugar para ir. — assim como você.<br />

— Faythe, <strong>não</strong> funcionará. <strong>Ser</strong>á assim. — ele estendeu os braços para cobrir<br />

toda a horrível confrontação. — Todos os dias. Você sabe disso. E finalmente ele<br />

vai desafiar.<br />

Eu balancei minha cabeça de novo, insistente. — Jace nunca iria desafiar<br />

meu pai. — Marc encolheu os ombros.<br />

— Claro que <strong>não</strong>. Não há nenhuma razão para isso. Quando seu pai<br />

perceber como ele <strong>não</strong> <strong>é</strong> mais o que precisamos, ele o demitirá, porque<br />

diferentemente de Malone, ele tem verdadeiramente os melhores interesses de seu<br />

Pride em seu coração. Mas Jace me desafiará, por eu ser o mais antigo entre os<br />

guardiões. Em seu coração, ele vê a si mesmo como um oponente, e <strong>não</strong> consegue<br />

evitar. Não gosta de se submeter a minha autoridade, e isso <strong>não</strong> pode funcionar<br />

bem em longo prazo. Ele me desafiará. E terei que matá-lo.<br />

Meu pulso batia tão forte que a sala se tornou cinza em torno de mim por<br />

um longo tempo. Eu <strong>não</strong> conseguia respirar.<br />

— Isso <strong>é</strong> ridículo. — eu me levantei e caminhei para longe dele, escondendo<br />

minha angústia à medida que andava, balançando meus braços rigidamente ao<br />

meu lado, apesar da dor. — Isto aqui <strong>não</strong> <strong>é</strong> uma selva. Somos um pouco mais<br />

civilizados, caso <strong>não</strong> tenha notado.<br />

Vi o reflexo de Marc encolhendo os ombros no espelho imundo sobre a<br />

barata cômoda. — Isso <strong>não</strong> quer dizer que possa ser amanhã. Ele vai resistir tanto<br />

quanto pode, mas Faythe, ele <strong>é</strong> um candidato s<strong>é</strong>rio a oponente agora, e um dia ele<br />

vai me desafiar. — ele hesitou e olhou para baixo, confuso. — Eu <strong>não</strong> posso<br />

acreditar que <strong>não</strong> tenha percebido isso antes. Greg tamb<strong>é</strong>m <strong>não</strong>, se<strong>não</strong> ele teria<br />

me dito. Nunca levamos a s<strong>é</strong>rio.<br />

— Bem, <strong>é</strong> s<strong>é</strong>rio agora. — dei as costas para Marc e comecei a me apoiar com<br />

as palmas das minhas mãos contra a parte superior da cômoda, mas eu logo parei<br />

com uma queimação em ambos os braços. — Mesmo se você estiver certo, você<br />

<strong>não</strong> tem que matá-lo.<br />

— Faythe. — Marc se levantou, e quando eu encontrei seu olhar no espelho,<br />

vi que seus olhos estavam cheios de simpatia. A ironia dele sentindo compaixão<br />

por mim e Jace quase me fez chorar. — Você o viu. — ele fez um gesto vago em<br />

direção ao banheiro. — Ele <strong>não</strong> vai recuar, e eu <strong>não</strong> posso tamb<strong>é</strong>m.<br />

— Eu <strong>não</strong> posso me casar com você e compartilhar a liderança do Pride<br />

contigo e depois esperar que algum <strong>guardião</strong> me desafie e ganhe a liderança. Isso<br />

daria a cada Alfa um chip em seus ombros para qualquer um reclamar. “Não sou<br />

material para Alfa”.<br />

190


Merda. Fechei meus olhos e deixei minha cabeça cair em um nervosismo tão<br />

profundo que era quase um sonho de terror. Se ele e Jace brigassem, por qualquer<br />

razão, só um deles sairia caminhando. E eu honestamente <strong>não</strong> tinha nem ideia de<br />

quem seria.<br />

Virei-me, desejando desesperadamente o uso de minhas mãos. — Podemos<br />

fazer isso agora? — levantei meu braço esquerdo para o alto.<br />

Marc piscou surpreso com a minha mudança repentina de assunto. — Ele<br />

estará de volta em um minuto, e nós vamos ter que lhe dizer alguma coisa.<br />

— Ainda <strong>não</strong>, Marc. — levantei a trava da porta, e então cruzei na frente<br />

dele e fui ao banheiro. — Precisamos conversar com meu pai em <strong>primeiro</strong> lugar, e<br />

<strong>não</strong> temos tempo para explicar tudo isso at<strong>é</strong> que Kaci esteja salva. Agora, você<br />

pode me ajudar, ou eu tenho que colocar água oxigenada no meu braço rasgado<br />

com o meu pulso quebrado?<br />

Marc rosnou e pegou o kit de sutura, e depois foi para o banheiro. — Tudo<br />

bem. Mas nós ainda <strong>não</strong> terminamos de falar sobre isso.<br />

— Fale enquanto costura. — sentei-me no vaso sanitário fechado e me<br />

inclinei para frente com meu braço esquerdo em cima da pia, e meu braço direito<br />

quebrado em meu colo.<br />

Ele mudou o kit de braço e deixou uma toalha limpa na parte inferior da pia<br />

do toalete, em seguida, deixou tudo encima dela. — De qualquer forma, por que<br />

diabos você tirou o gesso?<br />

— Porque eu <strong>não</strong> posso Mudar para cicatrizar mais rápido com o gesso e<br />

vocês dois <strong>não</strong> podem lutar adequadamente enquanto estiverem tomando conta de<br />

mim. Eu preciso ser capaz de cuidar de mim mesma, e eu posso curar os dois<br />

braços ao mesmo tempo. — a censura em seu rosto expressou sua desaprovação<br />

mais claramente do que as palavras jamais poderiam fazer. — Não comece. Meu<br />

pai já sabe e está tudo bem com isso. — principalmente porque <strong>não</strong> havia escolha.<br />

Marc franziu a testa. — Você tem alguma ideia do quanto isso vai doer?<br />

Eu revirei os olhos e olhei para ele. — O que eu sou agora, delicada? Eu<br />

posso suportar isso. Basta fazê-lo.<br />

Marc encolheu os ombros e tirou o rotulo de uma garrafa que <strong>não</strong> reconheci.<br />

— O que <strong>é</strong> isso?<br />

— Uma solução est<strong>é</strong>ril para limpar a ferida. O que, no seu caso, <strong>é</strong> a metade<br />

do seu braço. — ele abriu a tampa e se inclinou para uma melhor visualização<br />

enquanto lançava o <strong>primeiro</strong> jorro na minha ferida aberta.<br />

Eu assobiei e cerrei os dentes. — Fale comigo. Por favor.<br />

Marc franziu a testa, e <strong>não</strong> olhou para cima. — Honestamente, você <strong>não</strong> vai<br />

querer ouvir o que tenho a dizer agora, Faythe.<br />

Eu idem. Respirei com frustração. — Você sabe que ele <strong>não</strong> sabe nada sobre<br />

isso, certo? — engoli um gemido e desviei o olhar do meu braço. — Eu juro que<br />

Jace <strong>não</strong> sabe. Ele <strong>não</strong> quer desafiá-lo conscientemente. — por você ser o <strong>guardião</strong><br />

mais antigo, por qualquer outra coisa, ou por mim tamb<strong>é</strong>m. Embora eu estivesse<br />

191


começando a duvidar de sua afirmação de que ele estava disposto a compartilhar.<br />

— Ele <strong>não</strong> entende o que está acontecendo. Ele <strong>não</strong> planejou isso.<br />

Nem eu.<br />

Marc continuou jogando o líquido, enquanto eu tentava <strong>não</strong> me contorcer. —<br />

Bem, isso explica por que nenhum de nós viu isto acontecer. Mas <strong>não</strong> demorará<br />

muito tempo para entender. Eu só gostaria de saber o que poderia ter sido o<br />

estopim. A morte de Ethan foi um choque, mas ainda assim...<br />

Encolhi os ombros, meu coração batendo alto. — Eles eram os melhores<br />

amigos desde que tinham cinco anos. Eles fizeram tudo juntos. At<strong>é</strong> que um deles<br />

morreu, Jace estava contente de fazer o que quer que seja que Ethan desejasse.<br />

Chutar a bunda dos tipos ruins, perseguir saias e ir a festas. Mas agora tudo se<br />

foi. Agora esse Pride <strong>é</strong> toda a sua vida, e eu acho que ele quer de volta tudo isso.<br />

Mesmo <strong>não</strong> sabendo o que está fazendo. E quando você estava desaparecido ele<br />

gostou de ficar em seu lugar o que provavelmente surpreendeu a si mesmo. Não <strong>é</strong><br />

surpresa nenhuma que ele <strong>não</strong> queira sair de lá.<br />

Marc fez um som evasivo. — Você acha que seu pai notou a mudança nele?<br />

— Algumas coisas, sim. — se Jace <strong>não</strong> fosse o melhor para o trabalho, meu<br />

pai teria enviado alguma outra pessoa, sem se importar a proximidade dele e de<br />

Kaci.<br />

— Sei. — mas ele <strong>não</strong> olhou para mim, at<strong>é</strong> que terminou com o meu braço.<br />

— Ok, terminamos com esta parte. O passo seguinte <strong>é</strong> a água oxigenada.<br />

— Que alegria.<br />

— Esta parte <strong>não</strong> <strong>é</strong> opcional. A menos que você queira morrer de infecção.<br />

— Eu sei. Só termine logo com isto.<br />

Ele pegou um frasco redondo e marrom e tirou a tampa, em seguida, com<br />

uma mão firme segurou meu braço esquerdo, logo acima do cotovelo, para mantêlo<br />

quieto. Fechei os olhos. Ele derramou o líquido. O fogo queimou meu braço.<br />

— Filho da puta! — gritei. Então, cerrei meus dentes com tanta força que<br />

meu maxilar doeu. Olhei para a parede, tentando contar as flores acima do vaso<br />

sanitário. Mas, só contei at<strong>é</strong> quatro antes que as chamas se tornassem terríveis.<br />

— Eu <strong>não</strong> deveria estar inconsciente para isto? — Marc riu e jogou mais líquido na<br />

minha ferida aberta, e ouvi o barulho da porta da frente se abrindo. — Jace! —<br />

chamei. — Traga a tequila! E um baralho, se você trouxe um. — ouvi o barulho de<br />

um saco de papel sendo amassado e Jace sorrindo. Graças a Deus ele ficou<br />

surpreso com a minha dor e, obviamente, com um humor melhor. Jace entrou<br />

pela porta, segurando uma garrafa, seu olhar pousou rapidamente em Marc, que<br />

<strong>não</strong> olhou de volta, uma sombra de raiva passou pelo seu rosto.<br />

Depois encontrou novamente meu olhar e levantou uma sobrancelha<br />

perguntando. Você lhe contou? Dei com a cabeça um curto e cortante meneio, e<br />

depois lancei meu cabelo sobre um ombro para disfarçar o movimento.<br />

Você acha que você estaria aí se eu tivesse dito? Eu respondi com o olhar.<br />

Realmente <strong>não</strong> era o momento de nossa confissão. Kaci <strong>não</strong> podia pagar por nós<br />

<strong>não</strong> estarmos focados no trabalho.<br />

192


Jace franziu a testa. — Espere um minuto. — ele deixou a garrafa e foi para<br />

o quarto, voltou com um copo de plástico embrulhado em celofane da bandeja da<br />

minigeladeira. Ele abriu a garrafa e derramou o liquido no copo at<strong>é</strong> que ele<br />

estivesse quase cheio, depois começou a me estender o copo, at<strong>é</strong> que ambos<br />

percebemos que eu <strong>não</strong> podia segurá-lo.<br />

— Sinto muito. Tome aqui.<br />

Jace levou o copo at<strong>é</strong> meus lábios e engoli convulsivamente, at<strong>é</strong> que as<br />

chamas na minha garganta se juntaram àquelas em meus braços.<br />

— Terminou? — Marc balançou a cabeça e tampou a primeira garrafa, agora<br />

vazia. — Ainda está borbulhando. Se tivermos sorte, isso irá manter o seu braço<br />

sem infecções, e dará tempo de a levarmos ao m<strong>é</strong>dico.<br />

A próxima garrafa <strong>não</strong> tornou melhor, mesmo com duas doses de tequila e<br />

uma lata de refrigerante. Mas, no momento em que ele puxou o kit de sutura, eu<br />

estava me sentindo muito bem, apesar do braço. Marc pegou a agulha, e Jace<br />

jogou mais álcool no copo. — Já <strong>é</strong> suficiente, zurramato 9 ! Marc rebateu, com um<br />

olhar para o copo de plástico. Ela <strong>não</strong> vai poder Mudar se <strong>não</strong> conseguir se<br />

concentrar.<br />

Jace ignorou e levou o copo aos meus lábios. — Ela vai ficar bem no<br />

momento em que você acabar com isso. — ele disse enquanto eu engolia a bebida.<br />

Marc deu-lhe um olhar fulminante, mas manteve sua boca fechada.<br />

Tivemos que ir para o quarto para dar os pontos, e cada um tomou um dos<br />

meus braços acima do cotovelo, eu sentia o quarto se inclinando. <strong>As</strong>sim como a<br />

cama. Tombei em cima da colcha fina e minha toalha se abriu exibindo meu<br />

quadril esquerdo e a coxa.<br />

Comecei a fechá-lo, quando lembrei que <strong>não</strong> podia usar meus braços, ainda.<br />

<strong>As</strong>sim, deixei aberto mesmo. Ningu<strong>é</strong>m parecia se importar.<br />

Marc estirou meu braço esquerdo em outra toalha limpa. Eu <strong>não</strong> conseguia<br />

mais senti-lo, eu estava começando a me perguntar se ele tinha cortado ele fora.<br />

— Faythe, eu preciso que você fique quieta.<br />

Eu estava me movendo? — E eu preciso que você <strong>não</strong> o mate. — minha<br />

cabeça rolou no colchão e senti que Jace estava estranhamente inclinado no meu<br />

outro lado, embora ele estivesse sentado no colchão ao meu lado. — E que você<br />

<strong>não</strong> o mate.<br />

— Droga... — sussurrou Marc. — Faythe, você está bêbada. Só se cale e se<br />

mantenha quieta.<br />

— Não fale assim com ela. — Jace falou escorregando para mais perto da<br />

minha cabeça.<br />

— Quanta bebida você deu a ela?<br />

— Apenas o suficiente para que ela <strong>não</strong> sinta dor.<br />

9 Se refere a algo inábil, desajeitado, sem graça, de pouca compreensão.<br />

193


— É serio. — insisti levantando a cabeça para olhar para Marc. — Vocês<br />

devem ser amigos. Vocês têm muito em comum.<br />

Dessa vez foi Jace quem praguejou, e Marc olhou para cima de forma<br />

cortante.<br />

— Ele está certo, Faythe. — Jace deslizou para fora da cama e ficou de<br />

joelhos no chão, me olhando a centímetros de distância. Ele estava tentando me<br />

dizer algo, mas seus olhos <strong>não</strong> correspondiam as suas palavras. — Durma.<br />

Quando você acordar, você estará suturada e pronta para a Mudança.<br />

Tentei dormir, mas meus braços <strong>não</strong> estavam tão adormecidos como eu<br />

pensei, e a agulha doía.<br />

— <strong>Ser</strong>á que eu serei capaz de lutar quando isso acabar? — perguntei,<br />

virando a cabeça para enfrentar Marc novamente.<br />

— Sim será. Você só precisa de tempo para descansar e se curar, mesmo<br />

após a Mudança.<br />

Jace fez um ruído descontente no fundo da sua garganta. — Ela tem apenas<br />

três horas.<br />

Marc franziu o cenho e olhou para cima desde os cuidadosos pontos que ele<br />

estava costurando em uma linha irregular e depois para baixo, para o meu braço.<br />

— Por quê?<br />

— Oops. — eu ri, e Marc imobilizou meu braço com uma mão para me<br />

manter quieta. — Esqueci-me de contar essa parte.<br />

194


Capítulo 24<br />

— De que diabos ela está falando? — Marc exclamou, olhando atrav<strong>é</strong>s de<br />

mim para Jace.<br />

— Costure enquanto fala. — eu insisti, e quando Marc <strong>não</strong> fez nenhum<br />

movimento para retomar o que estava fazendo, eu tentei socá-lo com minha mão<br />

livre.<br />

Mas Jace colocou meu braço sobre o colchão, e deixei de resistir quando a<br />

dor disparou sobre meu pulso quebrado.<br />

— Você vai se machucar, Faythe. — Jace disse massageando contente meu<br />

ombro e encarando Marc.<br />

— <strong>Ser</strong>ia mais <strong>fácil</strong> argumentar com ela se <strong>não</strong> a tivesse embebedado. —<br />

respondeu Marc bruscamente.<br />

— Nunca foi <strong>fácil</strong> argumentar com ela. — Jace sorriu para mim. Então, ele<br />

encontrou o olhar de Marc e franziu as sobrancelhas. — Eu odeio vê-la sofrer.<br />

— E você acha que eu gosto?<br />

— Eu <strong>não</strong> sei do que você gosta.<br />

— Calem a boca! — eu ri e virei minha cabeça para olhar de um para outro.<br />

— Eu sei do que vocês tanto gostam.<br />

— Merda! — Jace levantou os braços no ar, depois olhou para mim<br />

desesperadamente at<strong>é</strong> Marc agarrou meu queixo e virou meu rosto em sua<br />

direção.<br />

— O que significa isso?<br />

Eu ri de novo, mas de repente eu estava chorando, e <strong>não</strong> sei por que isso<br />

aconteceu.<br />

— Deixe-a. — Jace resmungou. — Ela <strong>não</strong> sabe o que está dizendo.<br />

— Sim, eu sei. — sacudi com força meu queixo da mão de Marc, desejando<br />

poder apagar as estúpidas lágrimas que escoriam pelos lados do meu rosto. — Os<br />

dois me querem, embora eu <strong>não</strong> consiga saber por que, no momento.<br />

Marc relaxou, e Jace suspirou lentamente de alívio. O que eles pensavam<br />

que eu ia dizer? Estava bêbada, mas, <strong>não</strong> era estúpida!<br />

— Ok, agora que você disse, por favor, fique quieta e deixe Marc acabar a<br />

sutura.<br />

Jace ficou rígido a minha direita.<br />

Outra pontada de dor atravessou meu braço, e eu mordi meu lábio.<br />

195


— Isso nunca foi exatamente top secret. — disse Marc, enquanto o fio<br />

atravessava minha carne. — Todo mundo conhece o pequeno amor do Jace.<br />

Jace ficou rígido a minha direita.<br />

— Nem todo mundo… — eu estava horrorizada de escutar a mim mesma<br />

dizer isso. Jace havia me dado uma porra de uma tequila ou um soro da verdade?<br />

Ele apertou meu cotovelo, desesperado para que eu calasse a boca e sorriu<br />

com simpatia. — Eu sei. É a tequila. — Marc olhou <strong>primeiro</strong> para mim, depois<br />

para um confuso Jace. Como se <strong>não</strong> tivesse sentido o que eu dizia!<br />

— Não se lembra do que aconteceu da última vez que bebi tequila demais?<br />

Porra! Ok, talvez eu estivesse bêbada e estúpida…<br />

Marc riu, Jace congelou, at<strong>é</strong> que Marc ficou novamente focado na agulha.<br />

— Deus, essa noite <strong>é</strong> um inferno!<br />

Jace olhou para mim com um olhar severo, e de repente me lembrei de que<br />

a tequila tinha dado a ambos uma nova chance de voltar à minha vida... E com<br />

esta conclusão, eu prometi manter minha boca fechada at<strong>é</strong> o álcool sair do meu<br />

sistema.<br />

Felizmente sem a minha própria voz para me manter acordada, eu adormeci,<br />

apesar do formigamento e da repetida dor no meu braço esquerdo. Algum tempo<br />

depois, acordei na cama do motel, ainda envolvida na toalha.<br />

Meu braço esquerdo estava enfaixado com gaze est<strong>é</strong>ril, que soltou um odor<br />

químico estranho. Meu braço direito estava nu e deitado sobre o colchão. Eu<br />

estava irritada, com dor de garganta, e dolorosamente sóbria. E só. Ou assim eu<br />

pensei at<strong>é</strong> que ouvi o murmúrio de vozes masculinas perto da janela onde duas<br />

silhuetas familiares estavam lado a lado.<br />

— Merda Jace, isto <strong>é</strong> um suicídio. De forma alguma conseguiremos sair do<br />

território com Lance...<br />

— Se <strong>não</strong> tentarmos, estaremos mortos. O mesmo acontecerá com Kaci. E<br />

Calvin vai acabar com Faythe.<br />

— Ele fará, se isso der errado. — rosnou Marc.<br />

A sombra de Jace encolheu atrás das cortinas. — Ela está disposta a<br />

aproveitar essa oportunidade por Kaci. Por todos nós.<br />

— Claro que sim. Ela <strong>não</strong> tem consciência de sua própria mortalidade.<br />

Virei-me e movi meu cotovelo direito com cuidado para <strong>não</strong> tocar minha mão<br />

ou meu pulso na cama. A toalha escorregou at<strong>é</strong> a metade dos meus seios.<br />

— Sim, Ela tem. — Jace parecia irritado, mas ele estava se segurando. —<br />

Ela <strong>é</strong> valente, mas <strong>não</strong> imprudente. Simplesmente valoriza mais a vida dos outros<br />

do que a sua própria. Esta <strong>é</strong> uma característica de Alfa.<br />

— Você acha que eu <strong>não</strong> sei disso? — Marc parou, e eu praticamente podia<br />

ouvi-lo contar at<strong>é</strong> dez em sua mente. — Porra! — quando isso acabar, precisamos<br />

ter uma conversa s<strong>é</strong>ria...<br />

196


— Ei! — chamei-os, sabendo que me ouviriam e Marc iria calar a boca. <strong>Ser</strong>á<br />

que eu iria passar o resto da minha vida no meio desses dois? A porta se abriu e<br />

Jace deixou que Marc fosse o <strong>primeiro</strong> a atravessar a porta. Eu dei-lhe um olhar<br />

irritado. Marc <strong>não</strong> suportaria grande parte disso, se Jace <strong>não</strong> entendesse pelo que<br />

ele estava passando...<br />

— Por quanto tempo eu dormi? — o relógio marcava 9h34min da manhã<br />

certamente, mas <strong>não</strong> tenho nem ideia de quanto tempo tinha ficado desfalecida.<br />

— Menos de uma hora. — Marc disse, e deu um profundo suspiro de alívio.<br />

— Bem. Jace o colocou a par do plano?<br />

Ele endureceu o cenho e sentou-se no lado oposto da minha cama. — Você<br />

quer dizer essa tentativa lenta de suicídio? Sim, eu sei o básico. Entramos na<br />

propriedade de Malone, entramos na casa de hóspedes, e de alguma forma tiramos<br />

Lance sem alertar ningu<strong>é</strong>m. Então corremos de volta para nossas vidas.<br />

Eu fiz uma careta. — Tem uma ideia melhor?<br />

— Infelizmente, <strong>não</strong>.<br />

— Então, vamos olhar o meu braço. Eu preciso começar a Mudar.<br />

— Ela vai precisar de comida. — Marc se moveu rapidamente e segurou meu<br />

braço em sua direção. — E nós provavelmente tamb<strong>é</strong>m deveríamos comer. — ele<br />

olhou para Jace, que, obviamente, sabia o que era esperado dele. Mas Jace <strong>não</strong> se<br />

atreveu a se oferecer.<br />

Fechei os olhos, contei at<strong>é</strong> cinco, então encontrei os olhos irritados de Jace.<br />

— Jace, você se importaria de ir comprar comida?<br />

Ele balançou a cabeça rigidamente. — O que você quer?<br />

— Hambúrguer está bom. Três para mim, e alguns chips. E o que vocês<br />

quiserem.<br />

— Traga quatro para ela. — Marc balançou a cabeça quando eu comecei a<br />

protestar. — Você vai precisar. E provavelmente mais ainda. Você vai ter que<br />

Mudar pelo menos meia dúzia de vezes durante as próximas duas horas, e você<br />

precisa comer e descansar o máximo que conseguir, ou vai desmaiar, mais uma<br />

vez. E mesmo que você pareça curada, provavelmente <strong>não</strong> estará cem por cento, o<br />

que significa que você vai lutar apenas como um último recurso. Entendeu?<br />

Comecei a protestar então tive uma vívida imagem mental de meu pulso<br />

quebrando novamente ao lançar meu <strong>primeiro</strong> soco. O que provavelmente poderia<br />

fazer com que fossemos pegos, e nos matassem. — Entendi. Agora, você pode tirar<br />

isso? Eu me sinto como uma múmia.<br />

— Volto logo. — disse Jace, e desta vez pegou as chaves do carro antes de<br />

sair pela porta.<br />

Marc desenrolou a gaze do meu braço suavemente, eu <strong>não</strong> ousava olhar at<strong>é</strong><br />

que ele estivesse completamente sem nada.<br />

— Oh, merda! — sussurrei. Parecia mais o monstro de Frankenstein do que<br />

a múmia. Tudo que eu precisava agora era de um raio que me atravessasse o<br />

pescoço...<br />

197


Marc acariciou minhas costas, e eu me inclinei para trás em suas mãos. —<br />

Desculpe-me, eu <strong>não</strong> consigo pensar... claramente. — felizmente eu <strong>não</strong> ficaria<br />

com uma dor muscular permanente, mas com uma boa cicatriz.<br />

Sim, eu ficaria com uma. Uma ferida, muito irregular corria por quase todo<br />

o comprimento do meu braço, minha maltratada pele mantida junta com fios de<br />

sutura e uma oração. Quando eu segurei o braço paralelo ao chão, a nova ferida<br />

parecia um batimento cardíaco irregular em um monitor de hospital. Ou uma<br />

montanha formada por sangue seco.<br />

Dei de ombros e pisquei para conter as lágrimas. — Não devem achar que os<br />

guardiões devem ter uma pele suave, certo? Não se preocupe. Eu duvido que o Dr.<br />

Carver poderia ter feito melhor. Al<strong>é</strong>m disso, dá um ar agressivo, <strong>não</strong> <strong>é</strong> verdade? —<br />

forcei um sorriso triste. Marc se voltou para mim.<br />

— Sem dúvida.<br />

— Imagine. Minha cicatriz mais evidente <strong>é</strong> por eu ter caído em um buraco de<br />

cervo, e <strong>não</strong> brigando contra algum feroz inimigo.<br />

Marc riu. — Pois nós inventaremos uma história. Você estava defendendo<br />

um grupo de órfãos inocentes de algum psicopata com um tubo de aço quebrado.<br />

Ele bateu em seu braço, justamente, antes que você chutasse o seu traseiro para o<br />

seu quarto acolchoado. — ele sorriu e pequenas bolinhas douradas cintilaram em<br />

seus olhos.<br />

Meu coração se derreteu. — Eu te amo. — eu me aproximei dele e o beijei.<br />

Ele sorriu. — Eu sei.<br />

— Eu quero Mudar pelo menos uma vez antes de Jace retornar. Você pode<br />

me ajudar?<br />

— Claro. — Marc pegou meu cotovelo para que eu mantivesse o equilíbrio<br />

quando me ajoelhei no tapete áspero. Segurando o fôlego, eu puxei meu braço<br />

esquerdo suturado ao peito e com um puxão me livrei da toalha. Ela caiu sobre o<br />

tapete, e Marc a pegou.<br />

Meu braço doía, mas <strong>não</strong> como tinha doído antes. Fechar a ferida tinha<br />

ajudado, pelo menos um pouco.<br />

Tomando cuidado com meu pulso quebrado, esfreguei os dedos de minha<br />

mão direita gentilmente atrav<strong>é</strong>s das suturas. Sentia meu braço esquerdo<br />

paralisado, com apenas um eco da dor que eu havia sentido. E o odor químico era<br />

mais forte de perto.<br />

— Que cheiro <strong>é</strong> esse no meu braço?<br />

— Benzocaína — disse Marc. — É um anest<strong>é</strong>sico comum. Normalmente <strong>não</strong><br />

se deveria usar em uma área tão extensa, ou em uma ferida aberta. Mas<br />

tecnicamente a sua está fechada agora, e pensei que Mudar poderia ser mais <strong>fácil</strong><br />

desta forma. Passa a dor da sua pele, mas <strong>não</strong> afetará seus músculos ou<br />

movimentos.<br />

— Obrigada.<br />

— Agradeça ao Jace. Ele conseguiu na loja ao lado.<br />

198


— OH.<br />

— Ok, eu estou pronta, exceto que <strong>não</strong> consigo suportar qualquer peso no<br />

meu pulso quebrado. Merda. Sugestões?<br />

— Deite-se de lado. — disse Marc encolhendo os ombros. — É<br />

constrangedor, mas vai funcionar. Eu tive que fazer isso após quebrar o braço<br />

anos atrás. Claro que, <strong>primeiro</strong> usei gesso durante três semanas...<br />

Olhei para ele com surpresa. — Você quebrou o seu braço?<br />

— Foi na caçada a um idiota enquanto Vic e eu estávamos tentando<br />

encurralá-lo. Você estava na faculdade.<br />

Eu tinha ido para a faculdade por cinco anos e raramente ligava para casa.<br />

E quando ligava, <strong>não</strong> perguntava pelo Marc porque <strong>não</strong> queria lhe dar esperança.<br />

Acreditava que já tinha terminado com o Pride, que me graduaria, conseguiria um<br />

trabalho no mundo humano e viveria uma vida normal. Parece que existem<br />

diferentes tipos de definições de normal, e agora eu <strong>não</strong> posso imaginar viver em<br />

um mundo onde a rotina diária <strong>não</strong> inclui pequenos espancamentos e esmagar<br />

algumas cabeças.<br />

— Você devolveu? — eu perguntei, e Marc sorriu.<br />

— Com o meu outro punho. Eu lhe quebrei o queixo.<br />

— Não duvido! — sorri, e sua mão pousou no meu cotovelo, me ajudando a<br />

me colocar no chão. Coloquei-me sobre meu lado direito e fixei a vista na porta do<br />

banheiro enquanto Marc se afastava me dando espaço.<br />

Não havia Mudado desde a noite em que Kevin Mitchell tinha quebrado meu<br />

braço quase duas semanas atrás, assim eu me sentia vencida.<br />

Felizmente, ainda <strong>não</strong> tinha chegado ao ponto de que nenhuma Mudança<br />

poderia prejudicar a minha saúde.<br />

Fechei os olhos e descansei a cabeça no chão, inspirei pelo nariz, e<br />

imediatamente me arrependi. Odiava Mudar em lugares fechados, e especialmente<br />

odiava Mudar em mot<strong>é</strong>is. Em vez de cheiro de pinho, vento e água refrescante, que<br />

eu utilizava para que meu corpo usasse como um sinal para iniciar o processo de<br />

Mudança, havia cheiro de produtos químicos de limpeza, e todos os odores<br />

desagradáveis que eu <strong>não</strong> tinha como deixar para lá. Fumaça de cigarro, comida<br />

estragada, e fluídos corporais que nem queria imaginar.<br />

<strong>As</strong> molas rangeram quando Marc se sentou em uma das camas, e resisti ao<br />

impulso de olhá-lo. Pela primeira vez desde que eu me lembrava, eu <strong>não</strong> queria<br />

Mudar, porque eu sabia que ia doer. E tinha que Mudar várias vezes.<br />

Eu nunca considerei o quão necessário era o desejo de Mudar para o<br />

processo em si, at<strong>é</strong> que finalmente eu encontrei a falta de desejo. Eu suspirei de<br />

frustração.<br />

— O que está acontecendo? — Marc perguntou, e respondi sem olhar para<br />

ele, tentando manter um mínimo de distrações.<br />

— Eu estou realmente temendo a dor. Isso me faz soar como uma covarde?<br />

199


Ele riu. — Isso faz você soar como um <strong>guardião</strong>. Ningu<strong>é</strong>m consideraria<br />

Mudar com um pulso quebrado e trinta e sete pontos e um enorme corte no outro<br />

braço.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m <strong>não</strong> gostaria de considerar essa ideia.<br />

— Ok, então pense nisso... — Marc saiu da cama e sento-se ao meu lado no<br />

chão. Ele começou a acariciar minhas costas, eu comecei a relaxar quase<br />

instantaneamente. Ele sempre teve esse efeito em mim, quando <strong>não</strong> estávamos<br />

gritando um com o outro. — Se você <strong>não</strong> Mudar, <strong>não</strong> podemos ir pegar o Lance, e<br />

Kaci vai morrer.<br />

Olhei para ele com horror, esperando a frase terminar, mas nunca chegou a<br />

acontecer. — Eu estava brincando. Sim. Sem pressão.<br />

Marc se sobressaltou. — Abordagem errada?<br />

Eu balancei minha cabeça e meu cabelo raspou o tapete. — Não, só<br />

prejudicial.<br />

— Bem. Eu tenho outra. — ele disse agora sorrindo. — Se você <strong>não</strong> Mudar,<br />

você <strong>não</strong> poderá chutar nenhuma bunda do Pride Apalaches. Que tal isso?<br />

— Melhor... — sorri. — Diga isso de novo.<br />

— Mude, e poderá chutar at<strong>é</strong> se fartar de todos os homens do Malone que<br />

cruzarem seu caminho.<br />

Meu sorriso se tornou uma careta de dor. A Mudança tinha começado.<br />

Marc se virou enquanto a primeira onda de agonia descia pela minha<br />

espinha e pelos meus braços e pernas. Meus quadris se convulsionaram, e acabei<br />

me deitado no chão em um ataque de dor, incapaz de falar.<br />

Eu <strong>não</strong> conseguia pensar. Nunca tinha Mudado de lado, e fiquei surpresa do<br />

quanto o processo era diferente sem o peso das partes que estavam Mudando.<br />

Minhas pernas caíram no meu estômago. Meus braços estavam cruzados<br />

sobre o peito, e um som gutural inarticulado de agonia estourou da minha<br />

garganta. Isso <strong>não</strong> era apenas pela dor da Mudança. A dor era agonizante.<br />

Meu corpo estava dilacerado de dor, todas as articulações e ligamentos<br />

Mudaram no processo, embora de uma nova forma, iriam se curar mais rápido do<br />

que fazer a transição. Mas acrescentando à dor típica do processo, meu radio<br />

quebrado estava sendo esticado e encolhido. Os ossos dos braços e pulsos se<br />

estreitando e alongando, enquanto se realocavam. Era uma dor que nunca senti<br />

antes, incluindo o corte do meu outro braço.<br />

Evidentemente dez dias com um gesso <strong>não</strong> eram suficientes para curar um<br />

braço quebrado. Esperemos que meia dúzia de Mudanças seja…<br />

Meus dentes estavam cerrados at<strong>é</strong> que eu forcei meu queixo a relaxar, com<br />

medo de que se quebrassem. Tentei conviver com a dor, deixar que a Mudança<br />

escolhesse o melhor caminho atrav<strong>é</strong>s de mim, como eu aprendi há mais de uma<br />

d<strong>é</strong>cada. Mas a agonia dos meus braços, particularmente o direito, era<br />

insuportável, e eu me encontrei resistindo a Mudança do meu pulso quebrado,<br />

enquanto o resto continuava o processo.<br />

200


Minhas costas se curvaram. Minhas rótulas rangeram movendo-se para fora<br />

e para dentro de suas conexões. Eu gemi quando minha p<strong>é</strong>lvis se contorceu para<br />

acomodar a posição de um quadrúpede.<br />

Minha boca se abriu como de costume quando a Mudança fluiu atrav<strong>é</strong>s de<br />

minha cabeça, criando novos orifícios em meu rosto. Reorganizando os meus olhos<br />

para uma visão de predador. Prendi a respiração quando meu maxilar ondulou<br />

com o alongamento dos meus retos dentes humanos em dentes mais largos e<br />

pontiagudos. Centenas de minúsculas pontas brotaram em uma onda atrav<strong>é</strong>s da<br />

minha língua, arqueando-se para minha garganta, para assim poderem lamber o<br />

osso e limpar todo o tecido comestível.<br />

Durante vários minutos, meu corpo foi contorcido e remontado, mas as<br />

dores familiares das articulações e reestruturação dos músculos nunca eclipsaram<br />

a intensa agonia do meu braço direito. No final, as solas dos meus p<strong>é</strong>s e a palma<br />

da minha mão esquerda tornaram-se mais grossas e se avolumaram para formar<br />

patas acolchoadas. Minhas unhas foram alongadas e endurecidas em garras<br />

afiadas.<br />

Mas meu teimoso pulso direito permaneceu quase humano. Ele estava na<br />

metade da transformação sem os pelos ainda.<br />

— Acabe com isso, Faythe... — Marc murmurou, tomando o cuidado de ficar<br />

longe. Era muito perigoso no início da Mudança ele ficar muito perto, ainda mais<br />

agora que eu tinha três pares de caninos e garras fatais. Se eu perdesse o controle<br />

e ele estivesse no caminho, <strong>não</strong> haveria desafio. — Deixe que ela venha. Você <strong>não</strong><br />

pode desistir, <strong>não</strong> deixe de Mudar seu braço.<br />

— Eu sei. — gemi. — Mas <strong>não</strong> entendo porque <strong>não</strong> demonstrou qualquer<br />

sinal de Mudança!<br />

— Você realmente quer lançar todos seus ganchos com a canhota? Não seria<br />

mais satisfatório lançar os resistentes filhos de puta de cabeça com seu punho<br />

direito? Não poderá fazer at<strong>é</strong> que você tenha se curado. Deixe que se cure Faythe.<br />

— Rrrrrrggggghhhhh! — fechei meus olhos, esticando minha nova formada<br />

mandíbula, e mentalmente empurrando a Mudança para o meu braço.<br />

A dor explodiu em meu pulso. <strong>As</strong> duas metades do meu osso se torceram at<strong>é</strong><br />

ficarem em seu lugar, e voltei a gritar uma inarticulada expressão de pura tortura.<br />

Ao longe, ouvi a porta sendo aberta, e uma linha fina luz foi desviada para<br />

minha forma intermediária.<br />

— Shhh! — Jace sussurrou quando ele fechou e trancou a porta. Eu senti<br />

um aroma de molho, e meu estômago felino protestou. — Faythe, você tem que se<br />

manter sobcontrole, ou algu<strong>é</strong>m vai chamar a polícia. Parece que você está dando à<br />

luz!<br />

Bastardo insensível. Ele provavelmente nunca sentiu uma dor como essa.<br />

Eu <strong>não</strong> podia. Ele nunca Mudou at<strong>é</strong> que tivesse tido várias semanas para se<br />

recuperar dos ossos quebrados.<br />

No fundo, eu sabia que Jace tinha razão. Eu sabia que estava sendo<br />

irracional. Mas naquele momento, pouco me importava. Eu só queria acabar com<br />

a dor.<br />

201


— Você está quase lá. — Marc disse. — Falta apenas uma pata. Vamos lá...<br />

Eu respirei profundamente, e de novo foquei na Mudança em minha mão<br />

direita. Meus dedos encurtaram, a palma da minha mão foi estendida. A agonia do<br />

meu novo braço se espalhou.<br />

No instante em que minha palma se formou, minha pele começou a pinicar e<br />

arder em todos os lugares. A pelagem brotou como uma onda pelas minhas costas,<br />

crescendo rapidamente para cobrir o resto de meu corpo. E finalmente, como uma<br />

esp<strong>é</strong>cie de bônus para a minha Mudança, a irregular linha de cabelo cobriu<br />

minhas patas dianteiras. O corte em meu braço esquerdo ardia como um inferno<br />

enquanto um novo cabelo brotava para cobrir minhas novas suturas e a cicatriz<br />

que estava se formando.<br />

Então, tudo terminou.<br />

Fiquei ali ofegante diante do meu milagre fisiológico, e os dois homens<br />

olhando para mim. Marc se sentou no chão há alguns metros de distancia, e Jace<br />

se abaixou a poucos metros. — Jesus! Finalmente. — disse Jace, fixando nos<br />

meus olhos. — Eu <strong>não</strong> posso acreditar que ela fez isso.<br />

— Eu posso. — Marc sorriu. — Nunca duvidei disso.<br />

— Eu sei o quanto dói depois de seis semanas. — disse Jace. Ele tinha feito<br />

isso quando Marc lhe deu a surra da sua vida por deixar suas chaves à vista, que<br />

usei para fugir do rancho. Jace caminhou lentamente e acariciou meus pelos e os<br />

bigodes da minha bochecha direita. — Você <strong>é</strong> incrível, Faythe. Não conheço<br />

ningu<strong>é</strong>m que se atreveu a tentar isso.<br />

Eu bufei. Então, lambi sua mão.<br />

— Eu concordo. — Marc acariciou todo o comprimento do meu torso novo<br />

compacto e poderoso. — Agora, Mude novamente para que possamos comer.<br />

202


Capítulo 25<br />

A Mudança de volta doeu como o diabo, mas foi um pouco mais rápido. E<br />

quando fiquei de p<strong>é</strong>, nua e completamente humana, podia dizer que havia uma<br />

pequena diferença em meu braço quebrado. Ainda doía como o inferno mexê-lo,<br />

então me mantive tão quieta quanto possível.<br />

Felizmente, o corte em meu braço esquerdo tinha fechado. Estava vermelho,<br />

inchado e sensível, ainda tinha uma ferida, ainda estava sem cicatrizar, mas já<br />

<strong>não</strong> sangrava e <strong>não</strong> doía tanto. Depois de mais algumas Mudanças, Marc poderia<br />

tirar os pontos.<br />

Tão logo me coloquei de p<strong>é</strong>, agarrei minha toalha e a estreitei contra meu<br />

peito. Nunca havia me incomodado em ficar nua antes, os <strong>Werecat</strong>s tinham que se<br />

despir antes de Mudar, mas como já havíamos estabelecido, tudo havia mudado.<br />

Marc sempre tinha calor em seus olhos quando me olhava e eu <strong>não</strong> queria correr o<br />

risco de que Jace tivesse uma atitude parecida diante dele. Ou de mim.<br />

Infelizmente, com meu pulso ainda com uma dor importante, muito mais do<br />

que quando fui imobilizada no gesso, tive que deixar que Marc me envolvesse em<br />

minha toalha. Ainda <strong>não</strong> podia comer com a minha mão direita, mas isso <strong>não</strong> me<br />

impediu de devorar várias salsichas, ovos, pãezinhos de queijo e duas caixas de<br />

tortas no tempo de cinco minutos. Acontece que hambúrgueres são difíceis de<br />

encontrar antes das dez da manhã.<br />

— O que <strong>é</strong> isso? — perguntei entre um pedaço e outro, apontando com a<br />

cabeça para uma sacola de loja de comestíveis na cama distante.<br />

Jace engoliu um gole de seu copo. — Fita de tecido para Lance, comprada a<br />

caminho da Burger King. Tamb<strong>é</strong>m comprei uma faixa para o seu pulso, para o<br />

caso de você <strong>não</strong> ter tempo de se curar completamente, o que <strong>é</strong> uma grande<br />

possibilidade.<br />

— Bom jeito de pensar em ambos. — eu <strong>não</strong> podia deixar de sorrir.<br />

— Então, falemos dos detalhes. — Marc tomou um grande gole de seu<br />

refrigerante, o colocou sobre o chão e voltou sua atenção em mim à medida que eu<br />

engolia a última mordida de meu pãozinho. — Quando você estiver saudável<br />

novamente, vamos nos mover furtivamente sob o abrigo na luz do dia e fazer um<br />

rápido “agarrar-fugir”?<br />

203


Jace bufou. — Você faz isso parecer sujo. É uma operação secreta e <strong>não</strong><br />

uma rapidinha 10 no banheiro público.<br />

Desejei desesperadamente que ele <strong>não</strong> tivesse dito “rapidinha” e banheiro na<br />

mesma frase. Não quando Marc estava bastante desconfiado pela remoção do meu<br />

gesso no banheiro naquele dia mais cedo.<br />

— Meu ponto. — Marc continuou, segurando uma torta no alto. — É que<br />

precisamos saber mais do que uma pequena carícia antes de entrarmos.<br />

<strong>As</strong>sim que ouviu “pequena caricia”, Jace riu outra vez e engasgou com um<br />

gole de seu refrigerante.<br />

Marc olhou-o furiosamente e eu lhe dei um cenho franzido. Eu queria que<br />

tiv<strong>é</strong>ssemos tido tempo para um caf<strong>é</strong> da manhã agradável, temperado com piadas<br />

sexuais estúpidas, mas de alguma forma, nunca pensei em encontrar tempo para<br />

esses prazeres simples.<br />

— Está bem, olha. — Jace colocou sua torta na caixa e encontrou meu olhar<br />

atrav<strong>é</strong>s da mesa.<br />

Ele ficou s<strong>é</strong>rio e na verdade a mudança foi algo para admirar. Estava<br />

fascinada pelo fato de que ele pudesse ser como Ethan em um momento, generoso<br />

e relaxado, todas as despreocupadas piadas irritantes que tanto agradam Marc.<br />

Tão dedicado, decidido e... formidável. — Acho que sei como me enfiar na casa de<br />

hóspedes de Cal e acho que posso colocar Lance fora de combate sem deixar<br />

algu<strong>é</strong>m desconfiado ou <strong>não</strong> muito desconfiado, de qualquer forma.<br />

Ergui minhas sobrancelhas e Marc meneou a cabeça para que ele<br />

continuasse: — Pois bem, minha mãe me implorava que voltasse para casa outro<br />

dia. Depois que Brett morreu. Eu disse, “infernos <strong>não</strong>”, por razões óbvias. Mas, e<br />

se eu mudei de ideia? — seus olhos azuis brilharam com a possibilidade. — E se<br />

acontecer de eu vir para a cidade esperando um encontro tranquilo com a minha<br />

mãe, mas eu <strong>não</strong> quis aparecer sem telefonar <strong>primeiro</strong>?<br />

Algo murchou profundamente dentro de mim. Um tipo de horrível tensão,<br />

uma profunda inquietação sobre nossa óbvia e inquietante falta de plano.<br />

— Jace, isso <strong>é</strong> brilhante! — amassei minha embalagem com uma mão e a<br />

joguei no lixo do lado do sanitário, ignorando a pontada e a sensação arrepiante<br />

de torção em meu corte metade curado.<br />

Marc se sentou em silêncio por um momento, obviamente ponderando sobre<br />

a ideia: — Você acha que acreditarão nisso?<br />

10 Relação sexual rápida.<br />

204


— Cal? — Jace fez a careta usual em resposta ao nome de seu padrasto. —<br />

Provavelmente <strong>não</strong>, mas minha mãe sim e se estou aqui por seu convite, <strong>não</strong><br />

entrarei a força. Ele <strong>não</strong> terá uma desculpa para me matar.<br />

Remexi o gelo em meu copo com o palito. — Pelo menos at<strong>é</strong> que ele possa<br />

bolar alguma falsa acusação.<br />

— Não acho que ficarei lá por muito tempo. Acho que irei para casa, terei<br />

uma reunião rápida e dolorosa com a minha família, então encontrarei alguma<br />

desculpa para me encontrar com Lance a sós, o suficiente para colocá-lo fora de<br />

combate e fazer o “agarrar-fugir” de Marc. — disse Jace com um sorriso e Marc<br />

ignorou a referência. — Posso at<strong>é</strong> convencê-lo a ir a alguma parte comigo<br />

voluntariamente. Nesse caso, todos nós entramos no “agarrar-fugir”. É mais<br />

divertido em grupo, certo?<br />

Desta vez seu sorriso estava totalmente em minha direção e eu <strong>não</strong> pude<br />

resistir de bater nas costas dele, apenas porque seu plano era verdadeiramente<br />

bom. Muito melhor que a minha ideia de “entrar furtivamente atrav<strong>é</strong>s da floresta,<br />

criar uma distração, agarrar o culpado em grupo e correr”. Com a de Jace era<br />

muito menos provável que nos pegassem. Ou pelo menos o mais provável para nos<br />

dar uma vantagem. Com sorte teríamos uma hora ou mais antes que algu<strong>é</strong>m<br />

percebesse que Jace e Lance estavam perdidos, muito tarde.<br />

Finalmente, Marc assentiu e nenhum de nós perdeu a ascensão apreciativa<br />

de sua sobrancelha esquerda. — Bem, parece um bom plano.<br />

Decidimos que eu deveria Mudar e voltar à forma de Gato mais uma vez<br />

antes que Jace telefonasse para a mãe, porque <strong>não</strong> havia jeito de disfarçar os sons<br />

do processo e se ela me ouvisse, nosso plano estaria acabado antes mesmo que<br />

tivesse começado.<br />

O segundo par de Mudanças custou um pouco menos de esforço, mas<br />

apenas porque minha refeição recente havia me dado mais energia. Meu braço<br />

direito ainda doía como se estivesse sendo torturado para obter informações, mas<br />

quando me sentei novamente em forma humana, meu braço esquerdo havia se<br />

curado restando uma cicatriz grossa, mas que parecia fresca e rosada, ele teria<br />

levado vários dias para se curar sozinho.<br />

Convenci Marc de que me tirasse os pontos enquanto Jace telefonava para a<br />

mãe, para economizar tempo.<br />

— Jace? — a voz de Patrícia Malone subiu para um assovio de cachorro pela<br />

surpresa. Evidentemente seu filho <strong>não</strong> telefonava muito frequentemente.<br />

— Sim mamãe, sou eu. — Jace cruzou o banheiro e estava sentado sobre o<br />

assento do vaso sanitário fechado, mas deixou a porta aberta. Ele <strong>não</strong> podia nos<br />

impedir de ouvir casualmente, mas podia querer ao menos a ilusão de privacidade.<br />

Eu só podia imaginar quão incômodo deve ser a conversa para ele.<br />

205


— É você? O que aconteceu?<br />

Marc usou uma pequena tesoura para cortar o <strong>primeiro</strong> ponto, depois o<br />

puxou pela minha pele com pinça. Pareceu estranho, mas <strong>não</strong> doeu, Com sorte,<br />

eu recobraria o uso completo do meu braço esquerdo.<br />

— Nada. Bem, Brett está morto. — Jace se inclinou para frente com seus<br />

cotovelos em seus joelhos e cravou os olhos na parede do banheiro. — Você ainda<br />

quer que eu volte para casa para o enterro?<br />

— Claro. Você virá, por favor? Significaria muito para... Melody.<br />

Jace suspirou e eu ouvi renúncia verdadeira no som. Eu <strong>não</strong> podia imaginar<br />

quão nervoso ele devia estar. Nem podia imaginar ter um padrasto que me odiasse<br />

e lamentasse abertamente <strong>não</strong> ter me matado quando era um Gatinho.<br />

— Cal está de acordo com isto? Você perguntou a ele?<br />

— Não seja ridículo, Jace. — respondeu Patrícia. — Não preciso perguntar a<br />

ele se meu próprio filho pode voltar para casa. Você sempre <strong>é</strong> bem vindo aqui.<br />

Quando pode vir?<br />

Jace ergueu a cabeça e encontrou o meu olhar enquanto Marc arrancava o<br />

terceiro ponto. <strong>As</strong>senti com a cabeça, era o melhor que eu podia fazer para dizerlhe<br />

que podia voltar atrás se quisesse. Podíamos encontrar outra forma. Ele negou<br />

com a cabeça, Jace estava completamente comprometido. — Já estou aqui.<br />

Patrícia Malone explodiu em lágrimas aliviadas e oprimidas e Jace deslizou<br />

uma mão sobre os olhos para esconder as lágrimas que <strong>não</strong> quis que víssemos.<br />

Marc se ocupou do quarto ponto, mas eu podia dizer por sua determinação em<br />

<strong>não</strong> olhar para cima e pelo fato de que ele beliscou minha pele junto com o fio, que<br />

ele tamb<strong>é</strong>m estava ouvindo e que ele <strong>não</strong> estava indiferente.<br />

— Onde? — Patrícia perguntou, quando conseguiu se controlar. — Onde<br />

você está?<br />

— Estou perto. Simplesmente... queria ter certeza de que Cal estivesse de<br />

acordo antes de ir te visitar.<br />

Sua mãe estalou a língua. — Eu te disse que ele está bem com isso.<br />

— Não. — Jace enxugou as lágrimas e olhou para o vazio. — Você <strong>não</strong> o fez.<br />

Não quero piorar as coisas.<br />

Ele dizia a verdade, mas tamb<strong>é</strong>m frisava isso perfeitamente. Malone ficaria<br />

menos desconfiado se em <strong>primeiro</strong> lugar soubesse que Jace <strong>não</strong> tinha muita<br />

vontade de vir. E <strong>não</strong> doeria se pensasse que seu enteado tinha medo dele. Malone<br />

<strong>não</strong> podia saber da ameaça que Jace havia se transformado ou nunca baixaria a<br />

guarda o suficiente para deixar Jace longe de sua vista.<br />

— Você <strong>não</strong> o fará. Volte para casa, Jace.<br />

206


Jace abaixou a cabeça, escondendo a maior parte de seu rosto atrás de sua<br />

mão e do telefone. — Estarei aí em uma hora.<br />

Sentou-se no banheiro por vários minutos depois do telefonema e depois<br />

fechou a porta e eu ouvi água escorrendo do chuveiro. Ouvi-o chorar suavemente,<br />

embora <strong>não</strong> tivesse certeza.<br />

— Ele ficará bem. — Marc sussurrou enquanto a água corria. — Cumprirá<br />

com seu trabalho, agora melhor do que nunca.<br />

— Eu sei.<br />

Marc estava trabalhando no último ponto de minha cicatriz quando a porta<br />

do banheiro finalmente se abriu. Jace saiu limpo com uma troca de roupas de sua<br />

bagagem, levando sua expressão de negócios, completamente sem emoção. Foi a<br />

forma que eu soube que ele estava nervoso e ansioso e temendo cada segundo da<br />

tarefa mais pessoal que jamais havia aceitado.<br />

— Quanto tempo você levará para chegar lá? — havia dormido a maior parte<br />

da viagem ao motel, portanto eu <strong>não</strong> tinha ideia de quão distante estávamos da<br />

base de operações de Malone.<br />

— Aproximadamente quinze minutos.<br />

O que queria dizer <strong>é</strong> que ele teria que sair em questão de quarenta minutos.<br />

— Este tempo <strong>não</strong> <strong>é</strong> suficiente. Não posso Mudar tantas vezes para curar antes<br />

deste momento.<br />

— Eu sei, mas <strong>não</strong> posso apenas chegar de repente e pedir a Lance que<br />

entre no carro. Tenho que ficar um pouco de tempo lá. Falar com a minha mãe.<br />

Lidar com Cal. Devo deixar que todo mundo pense que estou realmente lá por<br />

causa de Brett.<br />

Comecei a protestar, mas Marc foi mais rápido. — Você tem razão, mas só<br />

temos um carro. — olhou para o meu braço, depois focou a atenção em Jace. —<br />

Você usará outro, um sem o sangue de Faythe no assento de trás. Nós nos<br />

encontraremos lá fora uma vez que ela esteja bem para ir.<br />

— Precisamos deixar a cidade às quatro e trinta; para nos assegurarmos de<br />

conseguir chegar ao Ninho a tempo. — disse. — Isso nos dá uma hora para<br />

paradas para ir ao banheiro e isso <strong>é</strong> consideravelmente muito apertado.<br />

Jace olhou o relógio. Faltavam cinco minutos para o meio dia. — Nosso<br />

objetivo <strong>é</strong> quatro horas, para a fuga. — disse e seus olhos se estreitaram com<br />

preocupação enquanto seu olhar pousava em mim. — Você pode estar pronta<br />

então?<br />

— Certamente espero que sim. — eu podia pensar em pouquíssimas coisas<br />

que queria fazer menos do que passar as próximas horas Mudando com um braço<br />

quebrado. — Onde devemos nos encontrar?<br />

207


— Na cabana de caçador.<br />

Franzi o cenho para o fato de que era muito arriscado. — O que acontece se<br />

já encontraram nossos cheiros lá?<br />

— Então já estamos ferrados. — Marc respondeu e Jace assentiu<br />

sombriamente.<br />

Engoli em seco e minha garganta parecia grossa. — Tudo bem. Então tudo o<br />

que precisamos <strong>é</strong> de um carro.<br />

— Vi uma locadora cerca de um quarto de milha a leste daqui. — disse<br />

Marc. — Tinham vários furgões e SUVs no estacionamento.<br />

Provavelmente você possa conseguir alguma com vidros escurecidos e<br />

bastante espaço atrás.<br />

Jace concordou. — Caminhar <strong>é</strong> um pouco arriscado, mas considerando que<br />

todo mundo já sabe que vou para a cidade agora, todos eles provavelmente<br />

permanecerão na casa, esperando ver a cabeça de Cal explodir ou esperando vê-lo<br />

me matar.<br />

Fiz uma careta e Jace negou com a cabeça. — Estou brincando. Ele <strong>não</strong> me<br />

mataria. — levantei as sobrancelhas e ele encolheu os ombros. — Está bem, ele<br />

me mataria completamente. Mas <strong>não</strong> diante de mamãe. Eu me manterei perto dela<br />

at<strong>é</strong> que eu esteja pronto para levar Lance para fora.<br />

— E se Lance <strong>não</strong> for?<br />

Jace deu de ombros outra vez. — Ele o fará e se tentar recusar, eu o<br />

chamarei de lado e direi que tenho uma mensagem particular de Parker. Ele irá<br />

querer ouvir isso, ou porque ele ainda dá a mínima para o irmão ou porque verá<br />

Parker como uma forma de pegar informação do inimigo.<br />

Marc cruzou ambos os braços no peito: — E se algo sair errado?<br />

A mandíbula de Jace apertou: — Plano B. Lutar muito e correr como o<br />

inferno.<br />

Meu estomago se revirou e contorceu. Se algo saísse errado, <strong>não</strong> sairíamos<br />

vivos. Não tinha duvidas disso. Marc e Jace morreriam. Kaci morreria. E se eu <strong>não</strong><br />

pudesse escapar, eventualmente teria que fazê-los me matar. Se minhas escolhas<br />

fossem a morte ou Calvin Malone, eu escolheria a morte.<br />

Mudei para a forma de Gato mais duas vezes antes que Jace saísse e<br />

durante minha última Mudança, Marc entrou no banheiro e fechou a porta para<br />

telefonar para a loja de aluguel de automóveis enquanto Jace ainda estava ali para<br />

me observar Mudar, para o caso.<br />

Depois da minha quarta Mudança, a dor em meu braço direito havia<br />

diminuído de filho-da-puta-está-me-rasgando-outra-vez para dói-como-o-inferno.<br />

208


Eu estava no chão, nua, suada e ofegante, como meus olhos fechados, contando<br />

meus próprios batimentos cardíacos em um esforço para desacelerá-lo.<br />

— Você está bem? — Jace se ajoelhou no chão ao meu lado e passou uma<br />

mão suavemente em meus ombros. Foi um gesto casual e um que qualquer um<br />

dos meus parceiros guardiões teria feito em seu lugar, comigo deitada ali com dor<br />

óbvia e cansaço excessivo. Mas, seu toque fez com que minha pele aquecida<br />

ficasse arrepiada e meu coração batesse a toda velocidade apesar das minhas<br />

melhores tentativas de acalmá-lo.<br />

— Fisicamente? Sim. Provavelmente, exceto pelo fato que eu <strong>não</strong> quero me<br />

mexer. Nunca mais.<br />

Ele riu e sua voz ficou profunda e melancólica. — Você <strong>é</strong> incrível, Faythe.<br />

Virei minha cabeça o suficiente para prestar atenção nele. — Quem diz isso<br />

<strong>é</strong> o homem que está prestes a entrar na toca do leão armado com nada exceto<br />

esperança.<br />

— E f<strong>é</strong>. — algo sobre a maneira como ele disse, me fez pensar se ele tinha<br />

soletrado com “Y” 11 em sua cabeça. — Como eu poderia estar com medo de<br />

enfrentar Cal quando você enfrentou um grupo inteiro de Thunderbirds com nada<br />

al<strong>é</strong>m de um celular? E veja o que você está fazendo consigo mesma para salvar<br />

Kaci.<br />

— Não. — neguei com a cabeça. — Eu a levei a isso. Eu tenho que tirá-la<br />

disso.<br />

— Você estava tentando afastá-la de Calvin.<br />

— Sim, que correu bem.<br />

— Vai funcionar. — insistiu enquanto a voz de Marc ecoava no pequeno<br />

banheiro enquanto falava sobre os termos com o atendente da locadora de carros.<br />

— Nós conseguiremos.<br />

Sentei-me e ele envolveu a toalha ao meu redor. Estava cansada de usar<br />

algodão branco, mas <strong>não</strong> vi utilidade em usar a única muda de roupa limpa que<br />

eu tinha quando ia suar mais uma vez com as próximas Mudanças.<br />

Quando Marc saiu do banheiro, eu já estava sentada na mesa com um copo<br />

plástico com água gelada. — Consegui um Explorer 2006 para você. Com vidros<br />

escuros. Eles colocaram a rede de carga de graça.<br />

Jace concordou com a cabeça. — Isso deve servir. <strong>Ser</strong>á mais rápido que um<br />

furgão. — virou-se em minha direção. — Eu já vou. Deseje-me sorte.<br />

11 Jogo de palavras = No original <strong>é</strong> faith e o nome da protagonista <strong>é</strong> Faythe.<br />

209


Meu coração agitou-se com medo por ele quando afastei minha cadeira com<br />

um empurrão. Cruzei o quarto em vários passos e fiquei na ponta dos p<strong>é</strong>s para<br />

um abraço, segurando a toalha entre nós antes que pudesse se soltar.<br />

— Por favor, seja cuidadoso. — sussurrei enquanto sua bochecha áspera<br />

roçava na minha. — A morte de Ethan <strong>é</strong> tudo o que eu posso aguentar.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m. — ele me abraçou tão forte que doeu, mas eu <strong>não</strong> me<br />

queixei. Alguma parte de mim sabia que tinha uma boa possibilidade de nunca<br />

mais ver Jace novamente.<br />

Eu o soltei e apertei a toalha. Jace olhou para Marc sobre a minha cabeça e<br />

eu segui seu olhar. A mandíbula de Marc estava apertada, em uma posição tensa.<br />

Mas, suas mãos pendiam soltas em seu lado. Ele <strong>não</strong> gostou do abraço, mas <strong>não</strong><br />

ia nos negar um adeus. Não sob essas circunstâncias. Não que ele pudesse ter<br />

impedido.<br />

— Jogue com inteligência, Hammond. — disse Marc finalmente.<br />

Jace concordou e manteve seu olhar. — Cuide dela. — nenhum deles me<br />

olhou, estavam muito ocupados encarando um ao outro, se observando<br />

mutuamente. Ou talvez, advertindo-se.<br />

— Você sabe que eu vou. Se ela me deixar.<br />

Jace riu rapidamente, depois me olhou com uma mão na maçaneta da<br />

porta. — Deixe.<br />

Concordei com a cabeça e então ele se foi.<br />

<strong>As</strong> lágrimas caíram dos meus olhos e um enorme nó se formou em minha<br />

garganta.<br />

— Coma alguma coisa. — disse Marc e eu percebi que ainda observava a<br />

porta.<br />

Comecei a discutir, eu me sentia mais enjoada pelo esforço excessivo do que<br />

faminta, mas percebi que acabava de dizer que deixaria que ele cuidasse de mim.<br />

Portanto sentei-me à mesa enquanto ele preparava outro pão. Não havia forno de<br />

micro-ondas, então comi frio, enquanto Marc evitava meus olhos do outro lado da<br />

mesa.<br />

— Marc? — perguntei quando acabei, enrolando o papel torpemente em uma<br />

mão. Seu silêncio <strong>não</strong> podia ser bom.<br />

Ele finalmente olhou para cima, me observando igualmente com medo, raiva<br />

e tristeza. — Ele te ama.<br />

Fechei os olhos e contei at<strong>é</strong> cinco, então me forcei a abri-los novamente,<br />

obrigando-me a olhar para ele.<br />

— Eu sei.<br />

210


Marc balançou a cabeça, as sobrancelhas desenhadas para baixo. — Quero<br />

dizer, ele realmente ama você. Não <strong>é</strong> apenas a necessidade instintiva de possuir<br />

uma Tabby, agora que ele está chegando a seu potencial. Ele está apaixonado por<br />

você.<br />

— Eu sei. — minha garganta quis se fechar com minha respiração seguinte.<br />

— Por favor, você pode parar de repetir isso.<br />

— Quando você ia me contar?<br />

Meu coração doeu. Meus olhos ardiam com lágrimas que <strong>não</strong> saiam. Minha<br />

garganta queimou por segurar as palavras que precisavam ser ditas. — O que eu<br />

devo dizer? Você já sabia. Você deu uma boa surra nele por isso.<br />

— Não. — ele ficou em p<strong>é</strong> e se afastou de mim at<strong>é</strong> chegar à parede, então se<br />

virou bruscamente, a raiva estava atrás das nuances de ouro em seus olhos. — Eu<br />

lhe dei uma boa surra por andar sem cuidado. Foi culpa dele que Miguel tenha te<br />

capturado.<br />

Eu poderia passar o dia argumentando sobre isso, mas honestamente,<br />

íamos discutir at<strong>é</strong> morrer, portanto, eu me calei.<br />

— Eu sabia que ele tinha uma queda. Uma paixonite de um menino<br />

estúpido pelo inalcançável. Mas isto <strong>é</strong> diferente, Faythe. Isto <strong>é</strong> perigoso. —<br />

esfregou a testa como se afastasse uma dor de cabeça. — Seu pai sabe disso? — e<br />

mesmo antes que eu pudesse responder. — Ele sabe. — balancei a cabeça, mas<br />

Marc me ignorou. — Por isso ele o enviou. Enviou a nós dois. Ele sabe que<br />

morreríamos para te proteger.<br />

— Eu <strong>não</strong> quero isso. — minhas lágrimas finalmente transbordaram e eu<br />

limpei minhas bochechas com meu braço esquerdo cheio de cicatrizes.<br />

Marc me observou e eu vi o momento preciso quando sua expressão tornouse<br />

ilegível. Ele havia me ignorado e o quarto estava mais frio com seu silêncio.<br />

Nós <strong>não</strong> podíamos continuar assim. Eu tinha que lhe dizer assim que Kaci<br />

estivesse a salvo, presumindo que nós sobreviveríamos ao próximo dia...<br />

211


Capítulo 26<br />

O sol estava quente, mas o vento do norte era frio e amargo, mesmo em uma<br />

curta caminhada at<strong>é</strong> o carro alugado. Durante minha última Mudança, Marc tinha<br />

limpado o sangue da minha jaqueta para que o cheiro <strong>não</strong> atraísse alguma<br />

atenção indesejada, mas isso deixou minha manga úmida e meu braço frio.<br />

Enquanto Marc dirigia, meus pensamentos corriam, rondando os riscos que<br />

estávamos assumindo como urubus ao redor de uma caça fresca. Se algu<strong>é</strong>m nos<br />

visse, estávamos mortos. Nós estávamos bem dentro do território inimigo, e ambos<br />

os lados há muito tempo havia abandonado qualquer pretensão de política<br />

educada ou boas maneiras. A mãe de Jace parecia ser a única que continuava<br />

apegada a essas frágeis garantias, e eu acho que isso era apenas o produto de sua<br />

própria negação. Ela <strong>não</strong> podia acreditar que seu marido iria ordenar a um de<br />

seus filhos para matar o outro. E se ela <strong>não</strong> conseguia encarar a verdade sobre a<br />

morte de Brett, <strong>não</strong> poderia entender o que Jace estava arriscando vindo visitá-la.<br />

Mesmo que ele <strong>não</strong> estivesse realmente fazendo uma visita social.<br />

Eu segurei a mochila de Marc no meu colo, tocando fita adesiva de Jace pela<br />

espessura do material. Eu já estava usando a braçadeira no meu pulso direito, e<br />

cheirava como ele, só porque ele tinha levado para fora o embrulho para mim. O<br />

resto do carro cheirava como Marc, e como os traços invisíveis do meu próprio<br />

sangue, ainda persistente no banco de trás.<br />

Nenhum de nós falou. Nós dois já dissemos tanto, e a confissão que ainda<br />

guardo <strong>é</strong> tão incrivelmente horrível que eu mal consigo compreender as<br />

consequências de expressar isso. No entanto, manter o meu segredo era<br />

insuportável. Ele se transformou em ácido no estômago e foi certamente me<br />

consumindo de dentro para fora.<br />

<strong>Ser</strong>á que Jace sente o mesmo? Ele deve. Ele queria que eu contasse a Marc<br />

desde começo, estava esperando que eu encontrasse o momento e lugar certo.<br />

Mas <strong>não</strong> houve tempo certo, e certamente nenhum lugar certo. Tão mal<br />

quanto dói para manter a calma, eu estava começando a acreditar que nunca<br />

poderia dizer a Marc o que tinha acontecido. Não porque ele pode me deixar. Não<br />

porque ele provavelmente me odiaria. Nem mesmo por causa do que ele faria com<br />

o Pride.<br />

Se eu dissesse a Marc, ele e Jace lutariam, e um deles iria morrer.<br />

Minha mente se recusou a ir al<strong>é</strong>m dessa certeza. Eu <strong>não</strong> poderia considerar<br />

a ideia de um "depois", e nem tinha certeza de que haveria um. <strong>As</strong>sim, a confissão<br />

212


permaneceu como uma pesada nuvem escura no horizonte da minha mente, um<br />

objetivo distante, eu estava com medo de que eu nunca poderia realmente lidar.<br />

Quando entramos na estrada velha que tínhamos viajado na noite anterior,<br />

Marc ligou o rádio, em vez de falar comigo. Encolhi os ombros para fora da minha<br />

jaqueta e tirei minha braçadeira, então olhei pela janela enquanto eu me<br />

concentrava em Mudar apenas o meu braço direito.<br />

No motel, eu tinha Mudado e voltado para forma humana quatro vezes, para<br />

um total de oito Mudanças. <strong>As</strong> quatro primeiras foram as experiências físicas mais<br />

dolorosas que eu já tive na minha vida, mas depois disso, a dor começou a<br />

diminuir, at<strong>é</strong> com a última transformação quase me senti normal novamente.<br />

O corte no meu braço esquerdo estava completamente curado, e a irregular,<br />

alta e longa cicatriz poderia facilmente ter um mês de idade. Não havia mais dor, e<br />

eu recuperara todo o controle muscular, com exceção de uma irritante e<br />

esperançosamente, fraqueza inconsequente no meu dedo mindinho. Ele estendeu<br />

um pouco agora, quando eu formei um punho, mas <strong>não</strong> parece prejudicar a<br />

atividade normal. Que tinha sido o meu maior medo, a possível perda de função<br />

ou flexibilidade na minha mão esquerda e que parecia provável, no início, quando<br />

eu <strong>não</strong> conseguia fazer meus dedos obedecerem às ordens do meu c<strong>é</strong>rebro. Mas no<br />

fim, eu era ao mesmo tempo agradecida e aliviada por ter evitado uma catástrofe.<br />

Sem trocadilhos.<br />

Meu braço direito <strong>é</strong> outra história. Após oito Mudanças, já <strong>não</strong> machucava<br />

ao mover minha mão e eu tinha recuperado a maior parte da flexibilidade no meu<br />

pulso. Mas a lesão ainda se sentia muito frágil, e eu estava com medo que o uso<br />

excessivo, ou mesmo uso em curto prazo pode levar a um mais rigoroso - e<br />

possivelmente, dano permanente.<br />

— O que você está fazendo? — Marc olhou para o meu braço, e sua<br />

pergunta quebrou a minha concentração. Minha palma encurtada e os meus<br />

dedos alongados. Pelo nunca teve a chance de brotar.<br />

— Só estou tentando estar pronta. — eu <strong>não</strong> conseguia afastar a sensação<br />

de que algo iria dar errado no plano de Jace, e se isso acontecesse, todos nós<br />

precisávamos ser capaz de lutar.<br />

Marc suspirou, e eu tive o impulso irresistível de tocar sua mandíbula. Ele<br />

<strong>não</strong> tinha feito a barba em um par de dias, e a barba em seu rosto tinha<br />

ultrapassado a fase dolorosa, áspera e deslizou para macia e sexy. — Vamos<br />

esquecer isso, por agora, está bem? — rle disse, e eu percebi que nós estávamos<br />

falando sobre Jace novamente. Sobre o nosso pequeno problema, e a necessidade<br />

desesperada de algum tipo de resolução. Do tipo que <strong>não</strong> deixaria ningu<strong>é</strong>m morto.<br />

Ou mesmo abandonado, de preferência.<br />

— Tudo bem. — eu concordei, porque realmente <strong>não</strong> havia outra opção.<br />

213


Marc assentiu decisivamente. — Vamos cavar merda emocional dele depois<br />

de tudo isso acabar. Por agora, vamos apenas se concentrar em obter o trabalho<br />

feito. Essa <strong>é</strong> a única maneira que nós vamos ser capazes de se concentrar. Certo?<br />

— Certo. — eu me tornei um papagaio. Eu quase pedi a Polly por um<br />

biscoito.<br />

— Eu sei que isso <strong>não</strong> pode ser <strong>fácil</strong> para você, tamb<strong>é</strong>m. — admitiu Marc, e<br />

seu tom razoável me fez querer chorar. — Ele se colocou em uma posição difícil.<br />

Expor todos nós ali, realmente. Não que ele queria...<br />

— Eu pensei que <strong>não</strong> iríamos falar sobre isso.<br />

— Sim. — Marc entrelaçou os dedos atrav<strong>é</strong>s da minha no console central. —<br />

Sinto muito.<br />

Não era completamente três da tarde, Marc estacionou o SUV alugado em<br />

uma trilha de terra cheia de mato que terminava várias centenas de metros dentro<br />

da floresta, cerca de um quarto de milha de onde tinha estacionado na noite<br />

anterior.<br />

— Talvez devêssemos mudar. — pisei no chão da floresta e minhas botas de<br />

caminhada quebraram várias pinhas pequenas. — Se isso der errado, nós vamos<br />

precisar de garras.<br />

Marc balançou a cabeça, em seguida, bebeu o último gole de seu caf<strong>é</strong>, me<br />

olhando do outro lado do veículo. — É preciso conservar a sua energia, e você deve<br />

tentar manter seu peso at<strong>é</strong> que o pulso esteja totalmente curado. Al<strong>é</strong>m disso, se<br />

nada der errado, Jace pode precisar de mãos extras para ajudar com Lance.<br />

— Ok, você Muda e eu vou ficar assim. O melhor dos dois mundos.<br />

Ele <strong>não</strong> podia discutir com isso. Marc se despiu e me entregou suas roupas,<br />

em seguida, caiu de joelhos nas folhas de pinho. Cavei no bolso da calça dele as<br />

chaves do carro, então enfiei as roupas na mochila que ele tinha abastecido com<br />

garrafas de água e barras de lanche, e tranquei o carro.<br />

Quando ele Mudou, Marc esfregou todo o comprimento de seu corpo contra a<br />

minha perna, e eu deixei meu rastro da mão por sua pelugem, todo o caminho at<strong>é</strong><br />

a ponta de sua cauda. Ele ronronou ruidosamente, então caminhou para dentro<br />

da floresta, esperando que eu o seguisse.<br />

— Espere. É cedo. Vamos dar uma olhada no conjunto antes de irmos para<br />

a cabana de veado. — embora, o termo conjunto foi um pouco lisonjeiro para a<br />

coleção de edifícios do Malone.<br />

Marc balançou a cabeça com firmeza e continuou andando.<br />

— Nós <strong>não</strong> seremos pegos. Eu só quero chegar perto o suficiente para ter<br />

certeza de que ele <strong>não</strong> está em nenhum problema. Eu preciso de seus olhos e<br />

ouvidos. Vamos.<br />

214


Marc se recusou a voltar, então eu fui para o oeste sem ele. Antes que eu<br />

pudesse contar at<strong>é</strong> cinco, ele xingou, então correu atrás de mim tão<br />

silenciosamente que eu nunca teria sabido que ele estava lá, se eu <strong>não</strong> tivesse<br />

ouvido por ele. Agulhas de pinheiro <strong>não</strong> esmigalham como folhas mortas.<br />

Marc choramingou quando ele chegou perto de mim, e eu entendi o ponto<br />

principal, se<strong>não</strong> os detalhes. — Eu vou ter cuidado. E obrigada. Eu me sinto<br />

horrível enviá-lo lá sozinho, sem apoio. Não <strong>é</strong> assim que nós trabalhamos.<br />

Depois disso, nós caminhamos em silêncio, por cautela neste momento, ao<br />

inv<strong>é</strong>s de desconforto. Eu cocei sua cabeça e corri os dedos pelas costas sempre<br />

que a oportunidade se apresentou, e ele esfregou contra mim quase tão<br />

frequentemente. Era um silêncio muito mais agradável do que o do carro.<br />

Nós tínhamos ido a menos de uma milha e meia, quando Marc ficou de<br />

repente imóvel, mas seus ouvidos giraram em direção ao norte. Eu congelei,<br />

seguindo sua liderança, apesar de ainda <strong>não</strong> poder ouvir o que o colocou em<br />

estado de alerta.<br />

Ele sacudiu a cabeça na direção em que as orelhas estavam apontando, e<br />

fomos assim, lentamente, para ter certeza de que <strong>não</strong> faríamos nenhum barulho.<br />

Tínhamos apenas ido a algumas centenas de metros quando a calma da tarde foi<br />

quebrada pela conversão inconfundível de uma pá no solo, seguido imediatamente<br />

pelo baque surdo de sujeira a ser atirada para o chão.<br />

Eu conhecia que aqueles sons. Inferno, eu tinha feito esses sons. Algu<strong>é</strong>m<br />

estava cavando um buraco. Nunca um bom sinal.<br />

Eu comecei a avançar novamente e Marc entrou na minha frente,<br />

bloqueando o meu caminho, uma ordem clara para eu ficar para trás. — Inferno.<br />

— eu sussurrei, e empurrei-o firmemente para fora do caminho. Mas antes que eu<br />

pudesse dar o próximo passo, uma voz saída pelo bosque, seguida de outro<br />

punhado de terra bater no chão.<br />

— Isso <strong>é</strong> profundo o suficiente. Não <strong>é</strong> como se o filho da puta vai se<br />

desenterrar.<br />

— Cal disse seis p<strong>é</strong>s. — uma segunda voz, muito mais profunda respondeu,<br />

e eu <strong>não</strong> conhecia o tom. Malone havia contratado executores novos.<br />

— Ele nunca vai saber. — disse a primeira voz, e Marc deu um passo<br />

cuidadoso, silencioso frente. — Não <strong>é</strong> como se ele vai sair e enterrar o corpo ele<br />

mesmo.<br />

— Se ele vier aqui, você vai ser o próximo no chão, Jess. — disse Garganta<br />

Profunda.<br />

Segui Marc, pisando com cuidado onde ele já havia passado e prestando<br />

atenção em galhos e pinhas que quebraram ao irmos embora. Quem diabos eles<br />

215


estavam enterrando? Não Brett. Certamente sua mãe iria exigir um funeral<br />

apropriado para seu segundo filho.<br />

— Eu <strong>não</strong> entendo por que ele continua matando seus próprios filhos. —<br />

disse Jess, som metálico, como se ele deixasse cair a pá em cima de algo.<br />

Malone havia matado outro de seus filhos? Não Alex. Ele era muito leal a<br />

seu pai. Como uma esp<strong>é</strong>cie de soldado-robô 12 , marchando sem qualquer<br />

pensamento para as ordens executadas.<br />

Marc estava uma extensão de corpo inteiro antes de mim agora, mas eu<br />

ainda estava me movendo para frente, a minha atenção dividida entre a conversa<br />

ouvida e cada elemento da natureza com o potencial de fazer barulho debaixo do<br />

meu p<strong>é</strong>. Era muitoooooo mais <strong>fácil</strong> de ser furtivo em forma de gato.<br />

— Jace <strong>não</strong> <strong>é</strong> seu. — disse Garganta Profunda, e eu congelei com um p<strong>é</strong><br />

ainda no ar.<br />

Nããão. A dor atravessou meu peito, comprimindo-o, como se meu coração<br />

<strong>não</strong> tinha mais espaço para bater. Eu <strong>não</strong> conseguia respirar. Não podia ver al<strong>é</strong>m<br />

da dor que consumia e a negação.<br />

— Ele <strong>é</strong> de Patti, de seu <strong>primeiro</strong> marido. — Garganta Profunda continuou<br />

enquanto meus olhos fechavam, lágrimas negando uma saída. Chorar <strong>não</strong><br />

ajudaria. Raiva faria. — Jason Hammond.<br />

— O que aconteceu com ele? Para Cal pegá-lo, tamb<strong>é</strong>m?<br />

A cauda de Marc se contraiu, retomando a minha atenção, e eu percebi que<br />

<strong>não</strong> tinha se movido desde que eu tinha ouvido o nome de Jace.<br />

Eles mataram Jace.<br />

Uma tempestade de fúria rolou sobre mim, encharcando-me com ódio. Eu<br />

mataria todos os bastardos envolvidos. Incluindo Calvin Malone.<br />

— Nah. — Garganta Profunda disse enquanto avançava para frente, a raiva<br />

corria em minhas veias, mais quente do que sangue, mais potente do que a<br />

adrenalina. — Ele saiu para a rua com seus executores e foi morto no trabalho.<br />

Cal estava lá. Ele tinha que dizer a Patti.<br />

Malone tinha sido um dos executores do pai de Jace? Se isso fosse verdade,<br />

quais eram as chances de que o acidente de Jason Hammond foi realmente um<br />

acidente?<br />

Jess bufou. — Hammond deve ter sido um idiota, assim como seu filho.<br />

Como se algu<strong>é</strong>m acredita que Jace está aqui para o funeral. — o braço direito de<br />

Cal <strong>é</strong> um espião de merda.<br />

12 No texto está wind-up soldier, e wind-up significa fim ou desfecho, então pelo contexto achei melhor<br />

soldado-robô.<br />

216


vivo?<br />

Espere! Jace está aqui para o funeral? Isso significava que Jace ainda estava<br />

Caminhei cuidadosamente at<strong>é</strong> chegar a Marc, depois estendi a mão para<br />

apertar seu ombro. Ele acenou com a cabeça. Ele pegou, tamb<strong>é</strong>m.<br />

— O que Cal vai dizer a Patti? Ela está chateada, mas ela <strong>não</strong> <strong>é</strong> estúpida.<br />

Ela vai perceber outro filho morrendo, e a coincidência <strong>não</strong> vai cobrir isso.<br />

Houve um flash de movimento entre os ramos, em seguida, a rachadura de<br />

plástico quando Garganta Profunda abriu o que parecia uma garrafa de água. —<br />

Jace <strong>não</strong> vai morrer. Ele vai desaparecer, e ela vai assumir que ele voltou para o<br />

seu Pride. — nós avançamos mais para frente e agora nós estávamos perto o<br />

bastante para ouvi-lo tomando um gole de sua garrafa. — Vamos. — Garganta<br />

Profunda disse, e eu peguei outro vislumbre de movimento entre dois pinheiros de<br />

espessura. Eu me abaixei, esperando que ele <strong>não</strong> tivesse nos visto. Garganta<br />

Profunda era um Tom baixo e musculoso em seus trinta anos. — Se nos<br />

apressarmos, podemos ainda assistir. Eles <strong>não</strong> serão capazes de fazer isso at<strong>é</strong><br />

afastá-lo de Patti.<br />

Outra coisa caiu no chão, e Marc olhou para mim. Eu balancei a cabeça e<br />

levantei três dedos, depois baixou o terceiro, iniciando uma contagem regressiva<br />

em silêncio.<br />

Jess e seu parceiro entraram em plena vista entre duas árvores. Jess era<br />

mais alto e bem constituído, como a maioria dos executores, mas <strong>não</strong> tão forte<br />

como Garganta Profunda, que bebeu da sua garrafa de água enquanto<br />

caminhavam.<br />

A cauda de Marc se contraiu em silêncio. Deixei cair o segundo dedo.<br />

Meu pulso disparou em antecipação. Deixei cair o último dedo.<br />

Meu coração bateu mais uma vez. Então saltei entre as árvores.<br />

Marc pousou <strong>primeiro</strong>, dois p<strong>é</strong>s do Tom menor, mais forte. Os dois homens<br />

se viraram, e Garganta Profunda baixou a garrafa, surpreso. Marc estava sobre ele<br />

em um instante.<br />

Eu balancei meu punho esquerdo no momento em que pousei. Minha<br />

pancada bateu na mandíbula de Jess. Sua cabeça virou. Dei um golpe inferior, e<br />

enterrei o meu punho em seu intestino.<br />

Jess grunhiu, mas seu soco de retorno voou rápido e baixo. Seu punho<br />

bateu no lado esquerdo da minha caixa torácica. Minha respiração irrompeu<br />

minha garganta e meus p<strong>é</strong>s realmente deixaram o chão.<br />

Eu caí de bunda em uma pilha de agulhas de pinheiro. Jess caiu em cima<br />

de mim. Eu joguei outra esquerda em suas costelas. Seu próximo golpe atingiu o<br />

lado da minha cabeça, e tudo ficou nebuloso. Cores desbotadas. Seu rosto borrado<br />

217


sobre a minha. Empurrei contra seu peito com o braço bom, mas Jess apenas riu.<br />

— Bem, quem diabos <strong>é</strong> você?<br />

Minha cabeça girava, em seguida, rolou para o lado. Marc estava lá, o rabo<br />

balançando furiosamente a vários metros de distância. Mas ele <strong>não</strong> podia me ver,<br />

ele estava apoiando o grandalhão em uma árvore. Eu estava por minha conta.<br />

— Qual <strong>é</strong> o seu nome, gatinha? — Jess olhou de soslaio para mim,<br />

prendendo-me com todo o seu peso sobre meus quadris e restringindo meu peito.<br />

Mexam-se! Mandei meus braços, mas eles eram lentos para obedecer a<br />

mensagem do meu lento c<strong>é</strong>rebro.<br />

— Seu idiota, essa <strong>é</strong> Faythe Sanders. — Garganta Profunda disse, e o rosnar<br />

de Marc se aprofundou. Agulhas de pinheiro sussurraram, movido pelo varrer<br />

furioso de sua cauda. — Quem mais poderia ser?<br />

Ha! Eu tinha uma reputação. Que você vai perder consideravelmente e<br />

rapidamente se você <strong>não</strong> tirar a sua bunda no chão!<br />

— Saia. — sussurrei, com o pouco fôlego que eu tinha recuperado. Quando<br />

Jess riu novamente, eu chupava mais ar. — Sai de cima de mim!<br />

— Palavras desagradáveis de uma boca bonita. — Jess correu um dedo<br />

sobre meu lábio inferior e eu virei para ele, com a mão esquerda. Meu punho<br />

bateu em suas costelas, e ele resmungou novamente. Seu sorriso desapareceu. Ele<br />

pegou meu punho no ar e puxou-a sobre minha cabeça, enquanto eu puxei contra<br />

ele. Meu punho direito seguiu, e o bracelete foi de pouca ajuda. Dor atravessou<br />

meu braço quando eu tentei deixá-lo livre. Um segundo depois, meus dois pulsos<br />

estavam presos ao chão em seu punho esquerdo.<br />

O rosnado de Marc cresceu mais alto, mas Jess ignorou e olhou por cima do<br />

ombro para o seu parceiro. — Eu devo ter feito algo certo em outra vida, agora <strong>é</strong><br />

um universo de mulheres se lançando para mim. — sua mão livre arrastou at<strong>é</strong> a<br />

minha cintura e sobre o meu peito esquerdo.<br />

— Toque-me novamente e eu vou quebrar a sua cara de merda. — cuspi,<br />

adrenalina chamuscando em cada nervo do meu corpo.<br />

Agulhas de pinheiro farfalharam à minha direita, e o Garganta Profunda<br />

gemeu. — Merda, Jess, Calvin tem planos para ela, e eles <strong>não</strong> incluem seus<br />

filhotes bastardos. Nocauteia-a e me dê uma mão aqui.<br />

Jess franziu a testa, e seu polegar esfregava sobre meu mamilo.<br />

— Filho da puta. — cuspi. Fúria rugiu atrav<strong>é</strong>s de mim, e com o meu piscar<br />

seguinte, minha visão Mudou. A floresta desapareceu em tons suaves de verde e<br />

marrom, mas Jess <strong>não</strong> percebeu. Ele riu de novo e inclinou-se para a direita,<br />

procurando por algo. Quando ele se levantou de meus quadris, eu joguei o meu<br />

218


joelho direito tão duro quanto eu poderia. Minha rótula bateu atrav<strong>é</strong>s dos tecidos<br />

moles e no osso abaixo.<br />

Jess uivou e caiu de lado, agarrando suas partes em ruínas e gritando um<br />

fluxo inventivo de palavrões.<br />

Rolei de joelhos, em seguida, pulei de p<strong>é</strong>. Puxei minha perna direita para<br />

trás, em seguida, deixei voar. Meu p<strong>é</strong> bateu na têmpora de Jess. Seus olhos se<br />

fecharam, e sua cabeça rolou para o lado. Suas mãos passaram de sua virilha<br />

para um falso mancar e ficou meio enrolado no chão.<br />

Aguardei um momento para ter certeza de que ele ainda estava respirando,<br />

então me voltei para Marc e o Tom forte, que ele havia encurralado nos galhos de<br />

um pinheiro amplo. Caminhei para ele, sentindo-me mais felina que humana com<br />

os meus olhos de gato. — Qual <strong>é</strong> o seu nome? — perguntei, e fiquei surpresa ao<br />

ouvir a minha voz sair em meio a um grunhido. Evidentemente, meus olhos <strong>não</strong><br />

eram a única parte que tinham Mudado.<br />

Eu passei minha língua sobre os dentes da frente e descobri que haviam<br />

Mudado tamb<strong>é</strong>m. Conveniente. E eu mal os senti nesse momento.<br />

A presa de Marc permaneceu em silêncio.<br />

Eu caí em um agachamento ágil e peguei um grande ramo com a mão<br />

esquerda. O chão estava cheio deles, provavelmente vítimas da tempestade de gelo<br />

recente. Quando me levantei, o olhar de Garganta Profunda me seguiu. — Última<br />

chance. Quem diabos <strong>é</strong> você?<br />

Seu foco mudou de mim para Marc, que rosnou, então de volta para mim.<br />

Mas sua boca permaneceu fechada.<br />

Eu dei de ombros. — Sua escolha. — balancei o ramo em seu ombro com as<br />

duas mãos, meu braço esquerdo carregando a maioria da força. Garganta<br />

Profunda trouxe seu braço para cima em autodefesa. A extremidade mais grossa<br />

do ramo bateu em seu braço com força suficiente para quebrar o galho. E sua<br />

ulna 13 .<br />

O Tom gritou uma vez, então cortou o som com uma exibição de força de<br />

vontade que eu <strong>não</strong> poderia deixar de admirar. Seu braço inchou quase que<br />

instantaneamente. Eu engoli o meu horror e observei os danos com uma reserva<br />

de desapego. Seu braço parecia... dobrado. E <strong>não</strong> ao nível da articulação.<br />

— Seu nome. — eu disse calmamente, enquanto ele olhava para mim<br />

crescendo medo e raiva.<br />

— Gary Rogers.<br />

13 Ulna: Se vc <strong>é</strong> como eu que <strong>não</strong> sabe o que <strong>é</strong> isso, o pai do burro disse que <strong>é</strong> o cúbito, <strong>não</strong> isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> um<br />

palavrão, só uma forma bonita de dizer cotovelo.<br />

219


Bom menino. Ele entregou ambos os nomes de uma vez.<br />

— Gary, Jace ainda está vivo?<br />

— Eu <strong>não</strong> sei. — disse ele. Ajoelhei-me para pegar outro galho grosso, e ele<br />

correu. — Realmente. Eles estão esperando at<strong>é</strong> sua mãe sair do alcance da voz.<br />

Ele ainda pode ficar bem.<br />

— Onde ele está?<br />

Gary encolheu os ombros. — Ele pode estar em qualquer lugar. — levantei<br />

um novo ramo. — Mas Cal <strong>não</strong> vai deixá-lo dormir na casa principal. Ele<br />

provavelmente está no anexo em volta.<br />

— Obrigada, Gary. — ergui o galho e girei antes que ele pudesse protestar. O<br />

ramo bateu em sua cabeça. Gary caiu no chão.<br />

Olhei para Marc e soltei o ramo. — Deixe-me amarrá-los, então nós vamos.<br />

— nós <strong>não</strong> podíamos permitir que eles acordassem e alertassem o resto do seu<br />

Pride, e eu <strong>não</strong> ia matar qualquer um deles agora que já <strong>não</strong> eram um ameaça<br />

imediata.<br />

A mochila de Marc jazia no chão, onde eu tinha deixado cair durante meu<br />

salto para a clareira, e eu procurei por ela e pela fita adesiva. Marc vigiava Jess<br />

enquanto colei a boca de Gary e amarrei seus tornozelos, movendo-me<br />

desajeitadamente para poupar meu pulso direito. Então eu rolei por cima dele e<br />

amarrei seus pulsos atrás das costas, tomando nenhum cuidado especial com o<br />

braço quebrado.<br />

Jess obteve o mesmo tratamento, mas quando me levantei para enfiar a fita<br />

de volta na bolsa, Marc cutucou o Tom inconsciente com seu nariz e gemia.<br />

— Ele <strong>é</strong> frio. — eu disse, fechando a bolsa. — Vamos.<br />

Mas Marc apenas cheirou as mãos de Jess, em seguida, olhou para cima e<br />

apontou o focinho no meu peito.<br />

Revirei os olhos, finalmente entendendo a questão. — Sim, o filho da puta<br />

me apalpou. Mas eu quebrei suas bolas. Eu diria que estamos quites.<br />

Marc balançou a cabeça e continuou a cheirar as mãos do Tom, então<br />

choramingou para mim um pouco mais.<br />

Eu expirei lentamente, afundando medo por mim em sua insistência. Ele<br />

<strong>não</strong> sairia at<strong>é</strong> que eu disse isso.<br />

— Tocou meu mamilo esquerdo com o polegar. Mas ele <strong>é</strong> pago por...<br />

Marc balançou a cabeça novamente, depois se inclinou com a boca aberta.<br />

Um instante depois, algo estalou, e o cheiro de sangue fresco inundou a clareira.<br />

O corpo de Jess estremeceu e seus olhos se abriram, em seguida, ele começou a se<br />

debater e gemer por trás da mordaça da fita adesiva.<br />

220


Marc recuou e algo pequeno e vermelho caiu de sua boca em uma cama de<br />

agulhas de pinheiro, agora manchada de sangue. Ele passou a língua farpada<br />

<strong>primeiro</strong> sobre um lado de seu focinho e depois o outro para limpá-lo, olhando<br />

perversamente satisfeito. Olhei para as mãos de Jess e náuseas rolaram em cima<br />

de mim.<br />

Sua mão direita estava derramando sangue do coto sangrento que tinha sido<br />

o seu polegar.<br />

221


Capítulo 27<br />

Antes de sair para a claridade, enfaixei o polegar de Jess com uma tira de<br />

sua camisa rasgada e fita adesiva, apalpei os Toms procurando algo útil. Peguei<br />

um canivete do bolso de Gary e em seguida peguei os celulares dos bolsos deles e<br />

verifiquei suas mensagens de texto. Gary <strong>não</strong> tinha nenhuma. Se houve uma<br />

mensagem enviada <strong>não</strong> encontrei sinais disso. Eu deixei cair o telefone no chão e o<br />

pisoteei at<strong>é</strong> ficar em pedaços, para que ele <strong>não</strong> pudesse usá-lo contra nós quando<br />

acordasse.<br />

Jess, no entanto, tinha uma quantidade ilimitada de mensagens.<br />

Soava engraçado, considerando que agora teria de enviar mensagens de<br />

texto com uma mão.<br />

Marc se queixou de que eu estivesse escrevendo, ignorando a dor residual<br />

no pulso direito. Pelo menos eu ainda tinha dois polegares. Tinha muitas<br />

mensagens de Lance. Eu me perguntei se eles cuidaram de Jace.<br />

A resposta veio um minuto depois. Ainda <strong>não</strong>. Em breve.<br />

Eu li para Marc, depois escrevi algo mais. Ainda escavando. Espere por nós.<br />

A segunda resposta de Lance foi com a mesma rapidez. Não há promessas.<br />

— Ele ainda está vivo, mas <strong>não</strong> será por muito tempo. Vem. — deslizei o<br />

telefone de Jess para o meu bolso esquerdo e comecei a caminhar por entre as<br />

árvores com Marc atrás de mim. Movendo-nos o mais silenciosamente possível,<br />

mas <strong>não</strong> escutamos nem cheiramos nenhum outro membro do Pride dos<br />

Apalaches. A uma milha e meia da prematura sepultura do Jace, o som do motor<br />

de um carro nos advertiu de que nos aproximávamos da casa.<br />

Nós nos movemos mais lentamente e nos voltamos para o rugido do motor,<br />

<strong>primeiro</strong> roncou e depois morreu. Minutos depois, a folhagem sempre verde<br />

começou a reduzir e apareceu uma linha de teto simples, preta e coberto com<br />

telhas.<br />

— Aí está. — sussurrei, caindo de cócoras, Marc ficou em silêncio ao meu<br />

lado. Alguns passos depois, o complexo apareceu à vista.<br />

E realmente complexa era a única palavra para descrever a propriedade do<br />

Malone.<br />

Eu sabia do pouco que Jace havia dito a respeito de sua infância que<br />

quando seu pai era vivo, os guardiões do Pride tinham vivido em um celeiro atrás<br />

da casa principal. Mas depois da ascensão do Malone ao status de Alfa, o celeiro<br />

tinha caído no esquecimento e teve que ser derrubado oito anos depois. Como o<br />

dinheiro era escasso no território, para substituir o celeiro Malone tinha comprado<br />

um par de grandes casas móveis e as tinha fixado de forma permanente na terra<br />

com tijolo at<strong>é</strong> a parte inferior das janelas.<br />

222


O resultado <strong>não</strong> era tradicional e eu tinha escutado questionarem<br />

abertamente a longevidade da moradia. Mas a vantagem para nós era evidente. <strong>As</strong><br />

dependências de trás estavam quase completamente a salvo da casa principal pelo<br />

meio. Se Jace estivesse no último quarto, poderíamos ser capaz de alcançá-lo sem<br />

alertar o resto do Pride.<br />

De onde estávamos, perto da linha de árvores, pudemos ver os três edifícios<br />

ao lado. — Devemos nos aproximar diretamente por trás do edifício. — sussurrei<br />

levantei o olhar para descobrir que Marc já estava em movimento. Corri atrás dele,<br />

com cuidado para evitar pisar em algo que pudesse ranger sob minhas botas, e<br />

caminhamos um quarto do caminho ao redor da propriedade.<br />

O edifício principal tinha quase desaparecido atrás das dobradiças do<br />

reboque traseiro quando dobradiças chiaram de repente e a seguir uma porta se<br />

fechou. Eu congelei, com Marc ao meu lado.<br />

— ... Achei que você poderia querer fazer algo especial esta noite. Você sabe,<br />

com Jace em casa.<br />

— Bem, eu realmente <strong>não</strong> tinha pensado sobre isso, mas ele sempre gosta<br />

de ensopado. E talvez eu pudesse fazer um pouco de pão de batata para<br />

acompanhar.<br />

Meu coração doía com a voz familiar. Patrícia Malone. Um momento depois,<br />

ela apareceu no meio dos dois últimos edifícios, indo para o pátio da casa<br />

principal. Ela estava de costas para nós, mas mesmo por trás eu podia ver que ela<br />

continuava tão magra quanto eu me lembrava, seu cabelo castanho agora sulcado<br />

de cinza.<br />

Alex Malone a guiou gentil, mas firmemente por um braço, incentivando e<br />

fazendo sugestões para o jantar de boas-vindas de Jace.<br />

— Merda, eles vão se livrar de Patti. — Marc sussurrou e gemeu.<br />

Observamos quando os Malones rodearam o edifício do meio e<br />

desapareceram de vista, virando-se para a porta de trás da casa principal. —<br />

Vamos.<br />

A partir da borda da floresta na parte de trás da propriedade podíamos ver<br />

atrav<strong>é</strong>s das janelas do edifício. Infelizmente, duas delas estavam cobertas por<br />

cortinas surradas, mas, sobretudo opacas e a terceira tinha um ponto cego graças<br />

a um conjunto de persianas brancas. Mas outras duas estavam descobertas e, por<br />

algum golpe de sorte, podíamos dar uma olhada na cozinha e na sala de estar.<br />

Eu estava começando a desejar que nós houv<strong>é</strong>ssemos trazido binóculos<br />

quando um borrão de movimento me chamou a atenção na mais alta das duas<br />

janelas, e vi Jace sentado em um sofá na sala de estar. Ele parecia exausto, tenso<br />

e nervoso.<br />

Tirei meu telefone do bolso e comecei a teclar. Marc olhou por cima do meu<br />

ombro, lendo tudo.<br />

Eles pensam que você <strong>é</strong> um espião. Estamos na parte de trás. Você pode nos<br />

ver pela janela.<br />

Enviei a mensagem e um instante depois Jace se sentou reto no sofá e se<br />

inclinou para frente para pegar seu telefone no bolso traseiro. Abriu-o com um<br />

223


puxão e ficou rígido, foi precisamente por isso que <strong>não</strong> tinha enviado uma<br />

mensagem antes. Não queria que tivesse essa reação at<strong>é</strong> que estiv<strong>é</strong>ssemos<br />

suficientemente perto para ajudá-lo.<br />

Mas logo a postura do Jace relaxou, e ele fechou seu telefone sem olhar para<br />

a janela. Ele disse alguma coisa para algu<strong>é</strong>m do outro lado da sala e, embora eu<br />

<strong>não</strong> pudesse ler seus lábios de longe, provavelmente <strong>não</strong> poderia ter lido de<br />

qualquer maneira, o que quer que seja que ele disse evidentemente <strong>não</strong> levantou<br />

suspeitas em quem estivesse na sala. Jace se inclinou para frente e bebeu de uma<br />

lata que estava em cima da mesa, então disse alguma coisa para algu<strong>é</strong>m que eu<br />

<strong>não</strong> podia ver. E quando ningu<strong>é</strong>m foi atacado nos próximos dois minutos, a minha<br />

atenção começou a vagar. — Olhe. — assinalei e o olhar de Marc seguiu meu dedo<br />

para os quatro carros alinhados um ao lado do outro próximo ao último edifício. O<br />

terceiro era do Jace, mas <strong>não</strong> reconheci os outros.<br />

Provavelmente havia muitos mais carros estacionados em frente ao edifício<br />

principal, mas por enquanto <strong>não</strong> havia nada que pud<strong>é</strong>ssemos fazer a respeito sem<br />

deixar que nos capturassem, mas ainda podia ser capaz de desativar os outros<br />

três com um mínimo risco.<br />

O nariz do Marc bateu contra meu braço assim que comecei a vasculhar a<br />

mochila do Gary em busca de uma navalha. — Já volto. — sussurrei para ele com<br />

minha mão fechada ao redor do aço frio. Coloquei a mochila no chão, junto ao<br />

Marc e abri o portão quando ele começou a rosnar suavemente, me advertindo<br />

para que <strong>não</strong> fizesse nada estúpido.<br />

— Estou realmente nos dando um bom começo. — sussurrei. — Fique aqui.<br />

Estarei de volta logo.<br />

O rosnado do Marc cresceu assim que comecei a avançar e depois mudou<br />

para um zumbido furioso quando rompi a linha das árvores e corri agachada para<br />

o <strong>primeiro</strong> carro. Mas ele <strong>não</strong> continuou. Tão preocupado estava que eu assumisse<br />

esse risco, ele sabia que se me capturassem <strong>não</strong> me fariam mal, mas eu precisava<br />

dele para ajudar a mim e a Jace a sairmos daqui. E se Marc tamb<strong>é</strong>m fosse<br />

capturado, então estaríamos ferrados.<br />

Meu pulso batia no mesmo compasso das minhas pernas ao cruzar os nove<br />

metros do bosque at<strong>é</strong> o <strong>primeiro</strong> carro. Respirando pesadamente, mais pelos<br />

nervos do que pelo esforço, deslizei at<strong>é</strong> o chão com as costas contra a lateral do<br />

automóvel e esperei vários segundos para ver se tinha sido vista. O cascalho era<br />

afiado e frio, a brisa fria ardeu em minhas bochechas. O motor fez um clique em<br />

minhas costas enquanto esfriava. Este era o automóvel que tinha nos conduzido à<br />

propriedade.<br />

Quando ningu<strong>é</strong>m gritou nem veio para fora depois de vinte segundos,<br />

levantei-me sobre meus joelhos e empurrei a lâmina da faca de Gary na parede do<br />

pneu dianteiro direito. Então o tirei e fiz um segundo corte sobre o <strong>primeiro</strong>,<br />

formando um X. O ar sibilou da borracha e eu pulei. Minha ideia brilhante soou<br />

muito forte no silêncio imediato...<br />

A adrenalina corria solta e me apressei para ir para a parte traseira do carro<br />

e esvaziei outro pneu, então me movi rapidamente para o bosque outra vez e cortei<br />

o pneu dianteiro esquerdo em meu caminho para fila seguinte.<br />

224


Saltei sobre o automóvel alugado do Jace e passei a desativar os outros dois<br />

carros o mais rápido e silenciosamente possível. Quando terminei, sentei a menos<br />

de dois metros do final do último edifício. A uns vinte metros das escadas de atrás.<br />

Eu olhei para a floresta, meu coração batendo forte, meu nariz escorrendo e<br />

dormente pelo frio. Marc <strong>não</strong> estava na minha linha de visão, mas eu sabia que<br />

estava assistindo. Esperando. Olhei para as escadas, eu estiquei o pescoço para<br />

ver a janela a cinco metros de distância. Poderia entrar se Jace precisasse. Juntos<br />

poderíamos lutar com qualquer outro que estivesse com ele, nocautear Lance, e<br />

levá-lo pela porta de trás e depois para a floresta.<br />

Mas, e se Lance <strong>não</strong> estivesse lá? Talvez por isso Jace <strong>não</strong> tivesse feito seu<br />

movimento ainda. Se eu entrasse e Lance <strong>não</strong> estivesse, tudo estaria arruinado.<br />

Marc diria que esperasse. Que voltasse para a floresta com ele para ver e<br />

escutar. Meu pai diria o mesmo.<br />

Então, esperaria.<br />

Com frio, eu me agachei no cascalho, em seguida, corri agachada passando<br />

os <strong>primeiro</strong>s dois carros.<br />

Estava a ponto de desligar o carro alugado quando passos golpearam<br />

rapidamente o cascalho atrás de mim. Algu<strong>é</strong>m estava correndo, vinha rodeando o<br />

<strong>primeiro</strong> edifício para a casa principal.<br />

Caí de joelhos no cascalho e em um momento de ansiedade estava certa de<br />

que minha chegada tinha sido percebida. Então me dei conta de que as pedras<br />

continuavam rangendo. Os passos vinham do caminho de cascalho e tinham<br />

coberto o meu próprio ruído.<br />

Meu pulso estava batendo com força, eu me levantei e olhei com cuidado<br />

para frente do segundo carro a tempo de ver Alex Malone passar atrás da linha de<br />

veículos se dirigindo para frente do último edifício. Sua mandíbula estava tensa,<br />

sua boca apertada em uma linha reta e sombria. Ele era um homem com uma<br />

missão.<br />

Ele tinha vindo para matar Jace.<br />

Merda. <strong>As</strong> dobradiças rangeram, em seguida, a porta da frente do reboque<br />

se fechou. Girei no cascalho para dar de frente com Marc, minhas costas contra o<br />

para-choque dianteiro do automóvel alugado. Eu estava feliz de que nenhuma das<br />

janelas que estavam em frente à fila de carros estivesse aberta, agitei uma mão<br />

freneticamente. Não podia dizer se Marc me via, mas eu tinha certeza de que ouviu<br />

Alex se aproximar, as orelhas de gato eram muito melhores do que as minhas<br />

humanas.<br />

Com a esperança de que ele continuasse olhando, apontei para a porta<br />

traseira do reboque em um movimento exagerado e depois caminhei agachada em<br />

frente aos dois <strong>primeiro</strong>s carros at<strong>é</strong> que cheguei à esquina do edifício. Agora fora<br />

da vista do resto do complexo, coloquei-me contra a parede, procurando qualquer<br />

sinal do Marc na floresta enquanto escutava as vozes abafadas no trailer atrás de<br />

mim.<br />

Desesperada por informações, caminhei ao longo da parede, o tijolo bateu<br />

contra minha jaqueta, e lá de dentro as vozes indistintas se tornaram mais claras<br />

225


a cada passo. Eu estava perto da primeira janela descoberta, meu coração batendo<br />

em um fren<strong>é</strong>tico ritmo staccato 14 contra o meu esterno.<br />

<strong>As</strong> janelas estavam fechadas devido ao frio do inverno e tinha trabalhado ao<br />

meu favor quando estava caminhando sobre o cascalho, mas agora as janelas<br />

fechadas eram um inconveniente para que eu pudesse escutar claramente.<br />

— ...você acha que somos estúpidos? — Alex falou e meu pulso acelerado<br />

bombeou sangue atrav<strong>é</strong>s de meu corpo tão rapidamente que minha visão de gato<br />

começou a escurecer nas bordas.<br />

A resposta do Jace foi muito baixa e calma para que eu pudesse ouvi-la e de<br />

repente estava contente por ter lhe enviado a mensagens antes. Caso contrário, ele<br />

teria ficado surpreso com a acusação de seu meio-irmão.<br />

— Mamãe pode acreditar nisso, mas eu <strong>não</strong> sou tão... ingênuo. Não pode<br />

pensar realmente que você poderia vir aqui para espionar para os Sanders e<br />

depois sair daqui com o seu rosto intacto. Certo? Ou vivo.<br />

— Alex? — Jace soou cauteloso, em seguida, houve uma batida sólida por<br />

trás de minha cabeça como algo batendo contra a parede. Jace reclamou.<br />

— Levante-o. — ordenou Alex.<br />

A adrenalina disparou em minhas veias. Esse era meu sinal.<br />

Olhei para a linha de árvores assim que Marc saiu da floresta e estendi a<br />

palma da mão, pedindo-lhe que esperasse em silêncio. Se eu pudesse conseguir<br />

tirar o Jace sem revelar a presença do Marc, eu o faria. Al<strong>é</strong>m disso, teríamos uma<br />

melhor chance com ele como respaldo atacando de surpresa, se eles <strong>não</strong><br />

soubessem que estava aqui e então <strong>não</strong> poderiam se defender dele.<br />

Marc sacudiu a cabeça e, embora eu <strong>não</strong> conseguisse ouvi-lo, tinha certeza<br />

de que estava rosnando baixinho. Insistente, eu acenei de novo e ele finalmente,<br />

concordou. Mas eu sabia que, ao <strong>primeiro</strong> sinal ou som de problemas, ele estaria<br />

atrás de mim.<br />

E eu contava com isso.<br />

Ainda segurando o canivete, corri pelas escadas, abri a porta de atrás e, em<br />

seguida, entrei em uma pequena cozinha com armários e paredes.<br />

Na sala ao lado, a minha interrupção surpreendeu Alex com um martelo<br />

erguido, pronto para atacar. Jace estava ajoelhado sobre o tapete gasto, seus<br />

pulsos amarrados atrás das costas, o lado direito de sua cabeça inchada e roxa.<br />

Seus olhos estavam desfocados, e ele <strong>não</strong> parecia perceber que eu estava lá. Em<br />

um segundo Alex entrou em estado de choque, Jace começou a se inclinar para a<br />

direita como uma árvore abatida.<br />

Eu levei meio segundo para absorver o que eu vi. Então deixei cair o<br />

canivete em cima do balcão e saltei pela cozinha. Eu pulei para fora da<br />

extremidade da barra com as duas mãos, mas meu braço esquerdo levou a pior<br />

parte de meu peso. Enquanto que eu deslizava pela sala, o meu p<strong>é</strong> direito bateu<br />

14 Tom musical que encurta a nota sobre o seu valor original.<br />

226


na lateral de sua cabeça, em vez de seu braço. Ele se estendeu pelo do sofá,<br />

inconsciente.<br />

<strong>As</strong>sustado, Alex saltou para trás, o martelo caiu ao lado dele.<br />

— Jace? — ajoelhei-me ao lado dele, com um olho em Alex, desejando de<br />

repente ter mantido o canivete. A cabeça de Jace estava inchada da orelha at<strong>é</strong> o<br />

final do cabelo e a pele escurecia a cada segundo. Eu <strong>não</strong> poderia dizer se ele<br />

tinha algum osso quebrado, ele foi severamente espancado.<br />

Ele começou a cair outra vez, e o deslizei contra uma poltrona, <strong>não</strong> era uma<br />

tarefa <strong>fácil</strong> com seus tornozelos amarrados, esperava que ele voltasse a si<br />

rapidamente. Se tivesse sido golpeado com o martelo, o crânio teria cedido e <strong>não</strong><br />

seria só uma concussão. Ele deve ter sido espancado. Ou golpeado com o p<strong>é</strong>. De<br />

qualquer maneira, ele ficaria bem.<br />

Ele tinha que ficar.<br />

Levantei-me lentamente, de frente para Alex e seu martelo com nada mais<br />

que meus punhos. Dobrar meus dedos de volta gerou dor atrav<strong>é</strong>s do meu pulso<br />

direito, graças ao meu voo.<br />

— Não <strong>é</strong> espionagem, Alex. — tentei parecer calma e confiante, mas eu<br />

estava desarmada e em território inimigo.<br />

— Sim, e você <strong>é</strong> a prova disso, <strong>não</strong>? — zombou Alex. — Você <strong>não</strong> está<br />

espionando a favor de seu pai?<br />

— Eu estou aqui para dar apoio moral. — dei um passo para o lado,<br />

deixando o centro da sua atenção para Jace, enquanto procurava uma maneira de<br />

chegar at<strong>é</strong> o canivete que havia deixado no balcão.<br />

— Ele <strong>não</strong> queria vir aqui sozinho. Justamente para caso isto acontecesse.<br />

— fiz um gesto para toda a sala com o meu braço direito, contente que minha<br />

jaqueta escondesse meu pulso e minha fraqueza.<br />

— E você foi esse apoio? <strong>Ser</strong>á que você se escondeu no porta-malas?<br />

Mas, antes que eu pudesse responder, Jace se moveu a minha direita,<br />

esfregando-a cabeça com cautela.<br />

— Faythe? O que diabos você está fazendo aqui?<br />

Grandioso. Não eram as notícias de primeira capa.<br />

— Te resgatando. — sussurrei, entrando pela porta de atrás aberta.<br />

Alex riu e gesticulou com o martelo. — E fazendo um bom trabalho. Agora,<br />

se você se sentar enquanto eu chamo meu pai, eu prometo que <strong>não</strong> vou te<br />

machucar. Meu pai vai ficará quase tão feliz em ver você quanto eu.<br />

Eu levantei uma sobrancelha. — Por que você <strong>não</strong> se senta e cala a boca, eu<br />

prometo que <strong>não</strong> vou chutar o seu rosto no meu caminho para fora daqui.<br />

Alex olhou para a minha esquerda. Um borrão em movimento correu para<br />

mim a partir de uma porta aberta. Mal tive tempo para respirar. A dor tomou<br />

conta do meu pescoço. Meu corpo bateu contra a parede. A dor explodiu em<br />

minha cabeça. O ar em meus pulmões explodiu em um pico de violência.<br />

227


Eu <strong>não</strong> conseguia respirar com a pressão de uma mão em torno de minha<br />

garganta, me empurrando contra a parede. Meus p<strong>é</strong>s balançando acima do piso.<br />

Minha cabeça estava girando. O rosto embaçado na minha frente eu <strong>não</strong> podia ver<br />

com clareza.<br />

Sem ar, <strong>não</strong> foi possível identificar o cheiro do meu atacante.<br />

O arranhei com minhas unhas. Minha boca tentava inutilmente absorver o<br />

ar. Eu chutei sem rumo, minhas botas baterem nas pernas e nas costas, sem<br />

sucesso. Minha visão estava embaçada e escura.<br />

Minha garganta estava grossa e inútil. Meus ouvidos latejavam. A pressão<br />

em minha cabeça me fez sentir uma sensação enorme de inutilidade.<br />

— Ei, Faythe, <strong>é</strong> bom te ver. — a voz era vagamente familiar, e reajustando<br />

uma amargura mental chamada lembranças, desfocada pela dor e a ira. Rodei os<br />

olhos para cima e os forcei a concentrar-se no loiro cuja enorme mão apertava<br />

minha garganta.<br />

Eu o conhecia. Como o conhecia? Sem mais oxigênio, <strong>não</strong> podia me lembrar<br />

da sua cara ou lembrar seu nome.<br />

— Porra, Dean, deixe-a respirar. — disse Alex. — É a minha futura esposa<br />

que você está sufocando.<br />

A mão em volta do meu pescoço afrouxou, e eu dei várias respirações curtas<br />

e agudas. Mas ainda pairava acima do piso devido ao aperto no meu pescoço.<br />

Mesmo assim peguei seus dedos, tentando tirá-los de minha garganta. — Ela <strong>não</strong><br />

<strong>é</strong> sua esposa, ainda <strong>não</strong>...!<br />

Dean desviou para mim, e seus olhos caíram no meu pescoço. Eu podia ver<br />

sua mão direita para baixo da minha camisa.<br />

— Não. — ofeguei, lutando por abrir a boca, apesar da pressão de seu<br />

punho em minha mandíbula.<br />

— De qualquer forma, eu acho que essa gatinha em particular <strong>é</strong> mais do que<br />

você pode manipular. — Dean continuava, ainda olhando para os meus seios. —<br />

Ela <strong>é</strong> um inferno com seu gancho de esquerda.<br />

E de repente eu me lembrei. Do valentão alto com o cabelo quase branco de<br />

tão loiro e mais músculos do que c<strong>é</strong>rebro. Colin Dean. A importação Canadense de<br />

idiotas que eu tinha nocauteado a fim de salvar Brett Malone em Montana durante<br />

meu julgamento.<br />

— Abaixe ela. — Alex resmungou. Dean deu de ombros, depois me depositou<br />

no chão, com a mão ainda ao redor de meu pescoço. E contra a parede, apesar de<br />

meus dedos nos seus querendo me soltar.<br />

Eu joguei meu joelho direito, mas ele foi evitado facilmente com sua mão<br />

livre. — Você vai me fazer tornar isso difícil, certo? — ele disse. O brilho nos olhos<br />

era exatamente o que eu queria.<br />

— Desde quando você está trabalhando para o Malone? — engoli em seco.<br />

Dean sorriu. — Há cerca de um mês.<br />

228


Malone estava recrutando de fora do país. O desgraçado estava desenhando<br />

partes neutras em nossa guerra civil. Isso <strong>não</strong> poderia acabar bem.<br />

— Deixe-a ir. — Jace ordenou do chão onde ele tinha caído. Seus olhos<br />

estavam claros, ele estava de volta para nós, graças a Deus. Mas onde diabos<br />

estava Marc?<br />

Dean riu, e Jace grunhiu at<strong>é</strong> que Alex chutou suas costelas. Jace grunhiu e<br />

tentou dar a volta ao redor de sua nova lesão, mas com suas pernas amarradas, o<br />

melhor que ele podia fazer era puxar os joelhos para se segurar.<br />

Tentei gritar para Jace parar, mas meu esforço acabou em uma tosse<br />

estrangulada. Eu <strong>não</strong> estava absorvendo ar suficiente para gritar.<br />

— Deixe a pobre menina respirar. — Alex ordenou e Dean afrouxou<br />

ligeiramente sua mão em volta do meu pescoço. Seu sangue era pegajoso sob as<br />

minhas unhas, agora eu podia respirar novamente.<br />

Mas eu só olhei para Alex. — Se você o tocar de novo, e eu lhe mato. — jurei,<br />

ainda tentando de me soltar do Dean. <strong>As</strong> sobrancelhas do Alex se levantaram.<br />

— Quer me matar por Jace? — ele veio at<strong>é</strong> mim e Jace grunhiu de novo.<br />

Alex olhou de mim para ele, então, virou-se para mim, e quando me<br />

ruborizei, seus olhos se estreitaram com a compreensão súbita. Ele se ajoelhou e<br />

olhou para o irmão pegou um punhado do cabelo dele e depois se inclinou e<br />

sussurrou em seu ouvido. — Você estava brincando com minha futura esposa?<br />

A mandíbula de Jace se projetou furiosamente, mas ele só podia se retorcer<br />

inutilmente sem o uso das mãos ou os p<strong>é</strong>s. Eu lutei muito contra Dean, lançando<br />

pontap<strong>é</strong>s e arranhões, mas mantive minha boca fechada por medo de<br />

testemunhar contra mim mesma. Marc estava, provavelmente, lá fora, esperando o<br />

momento certo para saltar sobre a porta aberta.<br />

Alex olhou para mim. — Não acho que isso que eles querem dizer com toda a<br />

família.<br />

Ele se virou para Jace. — Você sabe que eu vou te matar, filho da puta,<br />

enquanto você ainda está sangrando, certo? Como meu pai teria matado você. Eu<br />

acho que a honra <strong>é</strong> toda minha agora... — Alex puxou o martelo sobre a cabeça<br />

com as duas mãos.<br />

— Não! — soltei a mão do Dean e fechei meu punho esquerdo em suas<br />

costelas.<br />

Ele grunhiu e piscou, e então prendeu meu braço na parede acima da minha<br />

cabeça com sua mão livre. — Alex, <strong>não</strong>! Por favor. — supliquei, piscando as<br />

lágrimas de desespero de meus olhos para que eu pudesse me concentrar nele.<br />

Alex me olhou. Algo se moveu aos seus p<strong>é</strong>s. Olhei para baixo para ver a mão<br />

direita do Jace atrás de suas costas. Ele agarrou seu tornozelo e puxou seu irmão.<br />

Alex bateu no chão duro atordoado. Jace rolou de joelhos e inclinou-se<br />

sobre uma faca que estava a sua esquerda. Ele endireitou-se e um momento<br />

depois, com a faca na mão dobrada. Alex jogou o martelo. Jace bloqueou com o<br />

antebraço seu irmão. O martelo bateu no chão.<br />

229


O metal fez um barulho. Jace se lançou ao redor de seu irmão, ainda de<br />

cócoras. Ele pressionou o canivete na garganta de Alex, e Alex congelou. —<br />

Levante-se devagar. — sussurrou, e se levantaram ao mesmo tempo.<br />

A mão esquerda de Jace era agora uma pata peluda. Ele tinha cortado a<br />

corda com a sua garra, t<strong>é</strong>cnica que foi descoberta apenas duas semanas antes.<br />

Alex estava com as mãos soltas ao lado do corpo, os olhos arregalados e com<br />

raiva. Com a faca de Jace, ele estaria morto. Jace colocou seu irmão de lado, e<br />

todos nós podíamos ver um ao outro.<br />

— Deixe-a ir, ou eu vou te matar! — Jace disse, e meu pulso bateu forte. Ele<br />

mataria. Eu pude ver isso em seus olhos.<br />

— Deixa-o ir. — respondeu Dean. — Ou eu vou matá-la. — ele poderia<br />

quebrar o meu pescoço com um aperto de seu punho enorme.<br />

— Se você matá-la e eu vou colocar os seus ossos na varanda de um<br />

carrilhão de vento. Se Alex <strong>não</strong> o fizer <strong>primeiro</strong>.<br />

— Corte. — Alex ordenou, e eu <strong>não</strong> tinha certeza se tinha ouvido certo. No<br />

entanto, Dean <strong>não</strong> hesitou.<br />

Sem perder o controle sobre o meu pescoço, deixou cair o braço e pegou o<br />

canivete de Gary no balcão onde ela tinha caído.<br />

Eu dei outro soco que mal tocou nele. Um instante depois, o canivete estava<br />

contra a minha bochecha esquerda, bem na frente do meu ouvido.<br />

Pânico tomou conta de mim, e eu congelei. — Deixe o ir, ou eu juro que vou<br />

cortá-la.<br />

— Dean olhou para mim, os olhos brilhantes com antecipação.<br />

— Vocês precisam dela. Não vão matá-la. — Jace insistiu, mas eu sabia que<br />

sim. Em Montana, Dean tinha sido abatido fisicamente, acabou sendo um covarde<br />

e mentiroso. Ele foi enviado para casa com vergonha, e estava ansioso por outra<br />

luta.<br />

— Faça isso. — disse Alex, e meu coração tentou libertar meu peito. — Não <strong>é</strong><br />

do seu rosto que eu preciso.<br />

Dean sorriu para mim. Meu sangue correu tão rápido que eu me senti tonta.<br />

Eu <strong>não</strong> conseguia respirar, mas eu poderia fazê-lo. — Lembre-se de meu gancho<br />

de esquerda?<br />

— Ele apertou, e afundou a lâmina afiada atrav<strong>é</strong>s da minha pele.<br />

230


Capítulo 28<br />

— Peça-me para parar. — sussurrou Dean, a ponta da faca espetando a<br />

minha bochecha. — Suplique-me, e eu pararei.<br />

Minhas mãos se fecharam em punhos dos meus lados. Eu queria gritar.<br />

Queria socá-lo. Queria arrancar-lhe os olhos com os meus dedos. Mas, eu temia<br />

me mover, com medo de colocar a lâmina mais profundamente. E eu <strong>não</strong><br />

suplicaria. Por minha vida? Talvez. Pela vida de mais algu<strong>é</strong>m? Definitivamente.<br />

Mas <strong>não</strong> para evitar uma pequena, incomoda e feia cicatriz. Não para satisfazer a<br />

sede de poder de algum psicopata vingativo.<br />

Então Dean arrastou a lâmina atrav<strong>é</strong>s da minha pele. Prendi a respiração e<br />

lutei para <strong>não</strong> fechar os olhos. Para <strong>não</strong> parecer fraca. Ele cortou lentamente,<br />

traçando a linha do osso da minha bochecha, e eu fiquei congelada, gritando por<br />

dentro. A dor era menor em comparação ao corte irregular em meu braço, mas<br />

meus olhos lacrimejaram imediatamente. <strong>As</strong> lágrimas escorriam pela minha nova<br />

ferida, o sangue descendo pelo meu rosto, pingando pelo meu queixo. Eu podia<br />

sentir o cheiro. Eu podia vê-lo, uma n<strong>é</strong>voa vermelha escuro no canto inferior<br />

esquerdo da minha visão.<br />

— Pare. — a fúria na voz de Jace era tão sombria quanto o futuro de Dean,<br />

tão escuro quanto a minha própria raiva. Dean parou, mas <strong>não</strong> afastou a lâmina<br />

da minha pele. — Solte Alex e fique de joelhos. Quanto mais você esperar, mais eu<br />

corto.<br />

— Não. — sussurrei, movendo apenas os lábios. Se Jace soltar o irmão, Alex<br />

o mataria. Sem hesitar. Sem complacente tortura. Sem monólogo de menino mau.<br />

Apenas um único e fatal golpe na cabeça.<br />

Eu perderia a ele e a Kaci. — Não, Jace.<br />

Marc, onde diabos você está?<br />

Virei os olhos para Jace, e vi seu rosto se contorcer em agonia, como se,<br />

literalmente partilhasse a minha dor, assim como a minha raiva. A ponta da sua<br />

faca tinha pressionado uma ondulação no pescoço de Alex, mas <strong>não</strong> havia rasgado<br />

a pele ainda. Respirando fundo e trêmulo, mas manteve-se firme, seguindo a<br />

minha ordem.<br />

Então Dean cortou um pouco mais. Lentamente.<br />

Um gemido felino vazou pela minha garganta. Meus punhos se fecharam<br />

ainda mais apertados. Eu <strong>não</strong> estava preocupada com a ferida, eles <strong>não</strong> estavam<br />

realmente tentando me machucar.<br />

Eu admito: eu estava puta com a cicatriz.<br />

Nós podemos curar feridas rapidamente, mas <strong>não</strong> podemos excluí-las, de<br />

modo que tudo o que Dean fizesse no meu rosto, seria permanente. O muito<br />

231


astardo estava esculpindo a sua marca em mim, e isso estaria ali sempre que eu<br />

olhasse no espelho ou tocasse em minha face. Para o resto da minha vida, cada<br />

vez eu visse o meu rosto, pensaria em Colin Dean, e no que Alex havia dito que<br />

faria comigo. Toda vez que Jace me visse, ele lembraria.<br />

<strong>As</strong>sim como Marc o faria.<br />

Quando me ouviu gemer, Jace estremeceu. — Largue a faca agora. — ele<br />

rosnou, e meus olhos rolaram para a direita para trazer Alex e ele de volta ao foco.<br />

— Ou eu juro que vou matá-lo.<br />

Dean deu de ombros, e a lâmina afundou um pouco mais enquanto<br />

arrastava lentamente para o canto da minha boca.<br />

— Você o mata, e eu a garota. Depois de ter rasgado a outra bochecha.<br />

Alex gemeu em protesto, mas ningu<strong>é</strong>m lhe deu atenção.<br />

— O que você acha, Gatinha? — continuou Dean. — O que você acha de<br />

uma pequena e linda flor deste lado? Ou... talvez minhas iniciais? <strong>As</strong>sim, <strong>não</strong><br />

importa para quem você abra as pernas, um olhar em seu rosto e saberá que eu já<br />

estive lá.<br />

— Nunca vai acontecer... — eu sussurrei atrav<strong>é</strong>s dos meus dentes<br />

apertados, tentando <strong>não</strong> mexer a minha bochecha. A raiva fez estrago em mim,<br />

quente, pesada e completamente impotente. Mas <strong>não</strong> havia nada que eu pudesse<br />

fazer sem torná-la pior. Eu <strong>não</strong> podia Mudar meus dentes ou minhas mãos sem<br />

que ele percebesse. Eu precisava de uma abertura. Algo para distraí-lo o suficiente<br />

para que eu pudesse fazer um movimento.<br />

— Nunca diga nunca... — finalmente, a ponta da faca alcançou o canto da<br />

minha boca, e Dean afastou a lâmina do meu rosto. Encaixei a minha mandíbula<br />

firmemente, lutando para segurar as lágrimas. Mas elas viriam de qualquer<br />

maneira, e eu me permiti um inconsolável e raivoso soluço. Estava feito. Não<br />

importava o que aconteceria a seguir – mesmo que eu o matasse com minha<br />

respiração seguinte – a marca de Dean estaria sempre lá.<br />

— Pronto para soltá-lo? — as palavras de Dean eram para Jace, mas seu<br />

psicótico e malicioso olhar nunca me deixou, e sua faca pairou perto do meu<br />

pescoço. Quando <strong>não</strong> houve resposta, ele levantou a lâmina novamente e deslizou,<br />

o frio e úmido de sangue aço na parte da frente da minha camiseta, entre meus<br />

seios.<br />

— Não. — sussurrei consciente de que a faca estava agora centímetros do<br />

meu coração.<br />

— Dean... — Alex advertiu. — O rosto.<br />

Neste momento Jace grunhiu. — Corte-a de novo e eu vou matar você. Se<br />

ela <strong>não</strong> fizer isso <strong>primeiro</strong>.<br />

Dean sorriu. Um rápido golpe para baixo rasgou minha camiseta justamente<br />

ao meio. A lâmina se prendeu na frente do meu sutiã, que caiu tamb<strong>é</strong>m, e eu<br />

estava exposta do pescoço at<strong>é</strong> o umbigo.<br />

— Talvez seu rosto <strong>não</strong> seja tudo o que deveríamos decorar. Estou pensando<br />

em círculos concêntricos... — arrastou a ponta da lâmina ligeiramente acima da<br />

232


curva do meu seio esquerdo sem romper a pele. Meu pulso batia com força, e a<br />

raiva queimava como o calor de uma fogueira. Eu estava preparada para a ajuda<br />

agora. Olhei de novo para Jace e pisquei, implorando-lhe silenciosamente que<br />

fizesse alguma coisa. O que fosse para manter Dean sem cortar meu peito.<br />

Qualquer coisa, menos soltar Alex.<br />

— O que foi Jace? — Dean zombou, e a minha pele se arrepiou quando ele<br />

rasgou a metade esquerda da minha camiseta com o dedo mindinho. — Você <strong>não</strong><br />

vai amá-la depois da nossa pequena mudança de imagem?<br />

Jace engoliu em seco e olhou para a ponta da lâmina que se arrastava<br />

suavemente por meu mamilo esquerdo. Ele estava com medo de piorar a situação.<br />

Medo de que qualquer movimento de sua parte fizesse que Dean me cortasse<br />

novamente e deixar sua marca em outros lugares. Eu tinha medo da mesma coisa.<br />

Terror em respirar fundo por medo de empurrar a lâmina atrav<strong>é</strong>s da minha<br />

própria pele. Mas eu <strong>não</strong> seria a porra da almofada deste monstro!<br />

— Seu filho da puta. — sussurrei. Respirei superficialmente atrav<strong>é</strong>s da<br />

minha garganta ainda meio apertada. — Que diabos têm de errado com você?<br />

— É isso que eu ia te perguntar. — Dean ronronou, arrastando o verso da<br />

lâmina pela curva do meu seio. — Por que você dá para um Extraviado, fica<br />

disponível para o enteado de Malone, mas eu recebo um enorme “nunca”? Parece<br />

que eu sou o único que você <strong>não</strong> está estreitando entre as suas pernas nestes<br />

dias.<br />

O rosnado de Jace retumbou pela sala em um rápido crescendo. Afastou<br />

sua própria faca e empurrou Alex para frente com o joelho. Alex grunhiu em<br />

surpresa, e Dean virou-se para o som, colocando a lâmina para dentro a uma<br />

polegada da minha pele no processo, dando-me a melhor oportunidade que íamos<br />

conseguir.<br />

Eu agarrei o punho de Dean que ainda segurava a faca e o torci com toda a<br />

força da minha raiva. Empurrei a mão dele longe de mim. Forte. A lâmina<br />

escorregou em seu peito, descendo em seu lado esquerdo. Ela deslizou entre as<br />

últimas duas costelas, sem encontrar a resistência dos ossos.<br />

Os olhos de Dean se arregalaram. Sua boca se abriu. Sua mão esquerda<br />

caiu do meu pescoço para pegar a faca. O sangue embebeu sua camisa, gotejando<br />

em seu cinto.<br />

Respirei fundo, então o empurrei com ambas as mãos. Dean cambaleou<br />

para trás e tropeçou na perna de Lance. Ele caiu em seu quadril, ainda segurando<br />

o cabo da faca, olhou para mim em estado de choque, obviamente, com medo de<br />

remover a faca.<br />

— Faça alguma coisa com ele. — fiz uma careta com a dor que fisgou em<br />

meu rosto quando falei, então balancei a cabeça para Alex enquanto colocava a<br />

metade da minha camiseta rasgada sobre a outra, então as coloquei no jeans para<br />

mantê-las fechadas. Principalmente.<br />

— Sugestões? — Jace agarrou seu meio-irmão pelo pescoço com a sua agora<br />

humana mão esquerda e o virou de tal forma que eles ficaram de frente, com a<br />

lâmina pressionada contra a garganta de Alex mais uma vez. — Eu deveria matá-<br />

233


lo. Ele ia acabar comigo, e depois... — seus olhos se estreitaram para os restos de<br />

minha camiseta, e a raiva brilhou em seus brilhantes olhos azuis.<br />

— Ele ia tentar. — peguei uma lista telefônica de três polegadas de<br />

espessura, da beira da estante e em seguida fui pisando duro pelo chão, meus<br />

passos fazendo o pr<strong>é</strong>dio todo tremer. Segurei com ambas as mãos apesar da dor<br />

do meu braço. O livro atingiu a cabeça de Alex.<br />

Jace o soltou, e as pernas de Alex se dobraram debaixo dele. Ele estava<br />

atordoado, mas <strong>não</strong> inconsciente, então eu agachei ao lado dele e agarrei seu<br />

queixo, forçando-o a me encarar enquanto Jace estava sobre ele com a faca,<br />

apenas no caso.<br />

— Eu nunca me casarei com você. Nunca farei sexo com você<br />

voluntariamente. E o dia que me tocar sem permissão, será o dia em que você<br />

engolirá seus próprios testículos. Entendeu? — Alex apertou os dentes e me olhou.<br />

Mas, <strong>não</strong> respondeu. — Estúpido teimoso filho da puta. Se você continuar<br />

seguindo o exemplo do seu pai, vai morrer como ele. Eu provavelmente deveria<br />

matá-lo agora, para me salvar do problema de chutar o seu traseiro depois. — mas<br />

eu <strong>não</strong> podia matar algu<strong>é</strong>m que <strong>não</strong> estava ameaçando a vida de algu<strong>é</strong>m<br />

ativamente. Eu era o “cara” bom, e já era duro o suficiente algumas vezes me<br />

lembrar de <strong>não</strong> tornar cinza a “área assassina”. Então me levantei e chutei-lhe a<br />

cabeça, suavizando o golpe no último segundo para me certificar de que ele<br />

sobreviveria.<br />

Seus olhos se fecharam, sua cabeça rolou para um lado e sua mandíbula se<br />

afrouxou. Mas ele ainda estava respirando.<br />

Ótimo.<br />

Agora que o momento tinha acabado e eu tinha sobrevivido, principalmente<br />

intacta, minhas dores e aflições estavam começando a aparecer. Meu pulso direito<br />

doía repentinamente e meu rosto ardia como se eu tivesse sido esfolada viva,<br />

graças à faca que eu havia trazido para a festa e o sal das minhas próprias<br />

lágrimas.<br />

Peguei um rolo de fita ligeiramente usado do topo de uma pequena mesa de<br />

centro e atirei-a para Jace. — Amarre-os?<br />

Na cozinha, peguei o último rolo de papel toalha do balcão e me abaixei para<br />

olhar o meu rosto na torradeira amassada e cheia de gordura. Engoli um gemido,<br />

e pisquei para afastar as lágrimas.<br />

O corte era longo e reto, e estava tudo manchado de sangue sob ele,<br />

incluindo o meu pescoço e o colarinho da minha camiseta inútil. Molhei a toalha<br />

de papel na pia e cuidadosamente limpei a maior parte do sangue, contente de ver<br />

que ele tinha estancado. Então me ajoelhei para dar uma olhada embaixo da pia<br />

procurando outro rolo, que seria útil na estrada. Em vez disso, eu encontrei uma<br />

pequena caixa sem tampa que guardava várias seringas de tranquilizantes.<br />

Ponto. Coloquei as quatro no bolso da minha jaqueta.<br />

Na sala, encontrei Jace encima de seu rec<strong>é</strong>m-amarrado irmão, me olhando<br />

cuidadosamente, sua expressão era uma mistura de simpatia e dolorosa culpa. Eu<br />

conhecia esse olhar. Ele se sentia responsável por minha bochecha, porque ele<br />

234


<strong>não</strong> tinha sido capaz de fazer Dean parar de me cortar. Eu me senti da mesma<br />

forma sobre a violação da minha prima Abby, embora eu nem sequer estivesse lá<br />

quando aconteceu. E foi ainda pior quando deixei Kaci com os Thunderbirds, mas<br />

eu <strong>não</strong> tive outra opção.<br />

— Eu estou bem. — insisti antes que Jace pudesse perguntar. Ele <strong>não</strong><br />

parecia convencido, mas sabia que era melhor <strong>não</strong> discutir.<br />

Virei-me para inspecionar o cômodo. Alex e Lance estavam inconscientes,<br />

com as mãos e os p<strong>é</strong>s amarrados com fita adesiva. Colin Dean estava sangrando<br />

por todo o tapete, encostado na parte da frente do sofá, seu rosto estava pálido<br />

pela perda de sangue, e seus olhos vidrados.<br />

— Você pode pegar o carro alugado enquanto eu encontro Marc? —<br />

perguntei para Jace. Eu <strong>não</strong> podia arriscar que algu<strong>é</strong>m no pr<strong>é</strong>dio principal me<br />

visse, e eu estava preocupada com Marc. Se ele pudesse ter nos ajudado, teria<br />

feito, especialmente quando Dean estava cortando meu rosto.<br />

A menos que ele tivesse ouvido demais.<br />

Se ele soubesse que eu tinha dormido com Jace, nos abandonaria? Deixaria<br />

que matassem Jace e me entregassem a Malone? Teria permitido Dean me cortar?<br />

Não. Eu balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos e<br />

questionamentos que eu <strong>não</strong> estava pronta para enfrentar. Jace puxou as chaves<br />

do carro de seu bolso, mas no momento que me virei para segui-lo atrav<strong>é</strong>s da<br />

porta aberta da cozinha, um pequeno flash de luz me chamou a atenção para<br />

Dean, onde ele ainda estava sentado com uma das mãos sobre o cabo da faca que<br />

saia de seu peito. O flash tinha vindo de sua outra mão.<br />

Que diabos?<br />

Apertando os olhos, eu me aproximei, e Dean tentou deslizar a mão sob a<br />

sua coxa esquerda. Mas eu o tinha visto segurando: seu celular aberto e pronto<br />

para chamar.<br />

— Boa tentativa. — andei mais rápido do que ele poderia reagir e quebrei<br />

três de seus dedos junto com o telefone.<br />

Dean uivou de dor, e eu segurei minha mão aberta para Jace. Ele lançou o<br />

rolo de fita, e depois foi direto para o carro. Peguei um pedaço de fita e coloquei na<br />

boca de Dean, em seguida, o empurrei para um lado ignorando seu mudo gemido<br />

de dor e as mãos amarradas atrás das costas.<br />

Com Dean silenciado e imobilizado, fui para a cozinha e quase saltei fora da<br />

minha pele quando Marc entrou pela porta aberta, vestindo apenas calças de<br />

brim, da mochila que havia deixado na floresta.<br />

— Porra, você me assustou para caralho!<br />

— Boca suja! — Marc atravessou o trailer em um instante, sobrancelha<br />

desenhada para baixo, o olhar sobre o meu novo corte. — O que diabos aconteceu<br />

com seu rosto? — ele pegou meu queixo e inclinou suavemente meu rosto para a<br />

luz. — É reta e limpa. Superficial, mas vai deixar uma cicatriz.<br />

— Eu estou bem. O que aconteceu com você? — ele estava sangrando por<br />

um corte de quatro centímetros do lado esquerdo de sua caixa torácica.<br />

235


— Encontrei outro homem de Malone na floresta. O bastardo tinha uma<br />

faca. Agora eu tenho a faca. — bateu no bolso direito, onde o contorno da lâmina<br />

se destacava em seu quadril. — Sua vez. — ele olhou para meu rosto.<br />

lo.<br />

Evitei seu olhar. — Não importa. É apenas um estúpido corte.<br />

— Faythe, <strong>é</strong> a merda do seu rosto. Alex fez isso? Desgraçado! Eu vou matá-<br />

Eu agarrei o braço dele, e antes que ele pudesse se libertar, Dean começou a<br />

se afastar de nós no chão, estupidamente chamando a atenção de Marc — Esse<br />

<strong>é</strong>...? Colin Dean? — livrou-se do meu aperto e caiu de cócoras ao lado de Dean. —<br />

Você fez isso? É por isso que ela te esfaqueou? — bateu no cabo da faca, e Dean<br />

gemeu miseravelmente. — Faythe fez isso, n<strong>é</strong>?<br />

Dean sugava o ar pelo nariz tão rápido que eu pensei que ele ia<br />

hiperventilar.<br />

— Seu merda, você a cortou? — Marc exigiu. — Por quê? Simplesmente por<br />

fazer?<br />

— Ele a marcou. — Jace disse, e eu dei uma olhada para vê-lo em p<strong>é</strong> na<br />

entrada, olhando para os três tipos miseráveis. — Ele deixou a porra da marca<br />

dele no rosto dela.<br />

Marc ficou furioso. Seu punho voou antes que eu pudesse detê-lo. Seu<br />

<strong>primeiro</strong> soco quebrou o nariz de Dean, jorrando sangue por toda parte. Dean<br />

sufocou.<br />

— Como diabos presume-se que ele vá respirar agora? — exigi, tentando<br />

manter o sangrento canadense de lado para evitar que ele engasgasse com seu<br />

próprio sangue.<br />

— Ele <strong>não</strong> vai. — o próximo golpe quebrou pelo menos duas costelas.<br />

— Marc! — eu me virei. — Você o está matando.<br />

— É isso mesmo.<br />

— Não. — empurrei-o para trás e estremeci com a dor no meu pulso. — Ele<br />

<strong>não</strong> vale a pena. Não por vingança. — morte, vingamos com morte. Mas eu já<br />

tinha cortado Dean, pior do que ele tinha me cortado.<br />

Jace se ajoelhou e pegou Lance, balançando o Gato inconsciente no ombro.<br />

—Temos que ir. — sua voz estava tranquila. Tranquila demais.<br />

Marc virou-se para ele, seus olhos brilhando de fúria, as pupilas estavam<br />

muito grandes para ser plenamente humanas. — Onde diabos você estava quando<br />

ele a cortou? — ele pisou violentamente no chão, mas Jace manteve-se firme. Ele<br />

parecia totalmente culpado, mas a tensão em seu braço direito mostrava que<br />

estava pronto para se defender, mesmo com uma só mão.<br />

Marc puxou o punho para trás e eu corri por toda a sala. — O que você tem<br />

de tão bom, se <strong>não</strong> pode protegê-la? — joguei-me entre eles e empurrei Marc com<br />

a minha mão esquerda.<br />

— Basta! Jace <strong>é</strong> a única razão de Dean <strong>não</strong> ter esculpido suas iniciais no<br />

meu peito. E <strong>não</strong> temos tempo para esta merda! — Marc piscou os olhos e se<br />

236


obrigou a se concentrar. Quando ele baixou a braço, Jace exalou lentamente e se<br />

virou para a porta, carregando Lance.<br />

— Ajude-me a fechar tudo. Kaci está esperando.<br />

Marc piscou novamente. Suas narinas queimando quando tentou controlar<br />

sua raiva. Então ele se virou e foi para frente do trailer onde trancou a porta, em<br />

seguida, começou a cobrir as janelas.<br />

Derrubei Dean novamente, dando a ele, pelo menos, uma possibilidade de<br />

lutar para respirar, mas o nariz era uma causa perdida. Estava inchado e ainda<br />

pingando sangue. Ele borbulhava e borbulhava com cada respiração. — Não faça<br />

eu me arrepender disso. — eu disse, depois tirei a fita da sua boca. Dean<br />

balbuciou e cuspiu seu próprio sangue, rolou os olhos para me ver com o olhar<br />

ardendo de ódio.<br />

— Marc sabe? — eu congelei, senti meu coração batendo na garganta. Marc<br />

cobriu a última janela e levantou uma sobrancelha em sinal de interrogação. Eu<br />

balancei minha cabeça. Eu era como um cervo que havia sido congelado pelas<br />

luzes, podia ver o desastre vindo, mas <strong>não</strong> poderia impedi-lo. Eu <strong>não</strong> podia fugir.<br />

Jace estava indo para as escadas, mas parou na cozinha, impedido pela súbita e<br />

óbvia tensão. — O quê? — Dean riu, então tossiu mais sangue. — Ele <strong>não</strong> brigaria<br />

por você se soubesse que está transando com Jace...<br />

Marc ficou estático como uma pedra. Seu olhar me queimou, me implorando<br />

para negar aquilo. Explicar. Para dizer alguma coisa para aliviar a dor e a traição<br />

em seus olhos. Mas eu <strong>não</strong> podia mentir.<br />

Eu <strong>não</strong> o faria.<br />

Meu coração se partiu em pedaços e minha próxima respiração ficou presa<br />

na minha garganta, se recusando a sair. Meus olhos lacrimejaram,<br />

misericordiosamente obscurecendo a sua dor. No entanto, ele ainda estava<br />

respirando. Marc olhou para mim, e então para Jace, depois para mim novamente.<br />

Suas mãos caíram fechadas em punhos em seus lados. Ele andou antes de mim.<br />

— Vamos.<br />

— Marc... — eu corri atrás dele, mas ele me empurrou para longe antes que<br />

pudesse tocá-lo e o meu mundo caiu sobre mim, me esmagando. Com seus olhos<br />

voltados para a porta, pensei que ele iria direto pela cozinha, mas no último<br />

segundo ele se virou e enterrou o punho no estômago de Jace.<br />

O ar saiu dos pulmões de Jace. Ele voou para trás e bateu nos gabinetes<br />

que restavam na cozinha. Seu cotovelo passou por uma porta de madeira e bateu<br />

no chão, forte o suficiente para ecoar pelo trailer.<br />

Os olhos de Marc se viraram para mim tão frios que eu comecei a tremer. —<br />

Kaci está esperando. — então, saiu pela porta.<br />

Jace se arrastou em seus p<strong>é</strong>s, franzindo a testa. — Eu merecia isso, mas<br />

<strong>não</strong> aguentarei mais nada dele. — e com isso, eu perdi a batalha contra as<br />

lágrimas. — Vai ficar tudo bem. — Jace tentou me abraçar, mas eu me coloquei<br />

fora de seu alcance.<br />

— Não. Não vai.<br />

237


Ele segurou o meu olhar, ele <strong>não</strong> me deixaria chafurdar. — Não será mais o<br />

mesmo, mas vai ficar bem.<br />

Eu só podia balançar a cabeça e ir para o carro. — Vou fechar tudo. Logo<br />

estarei lá. — disse ele.<br />

— Marc já... — eu estava no degrau, quando ouvi um estalido metálico<br />

familiar.<br />

Não...<br />

Enquanto Marc fechava a porta traseira, bloqueando Lance de vista, eu corri<br />

de volta pela cozinha. Jace estava ajoelhado ao lado do Dean que ainda respirava<br />

pesadamente atrav<strong>é</strong>s de suas bolhas de sangue. — Se você a tocar de novo, nem<br />

ela e nem Marc terão a chance de matá-lo.<br />

Eu tomei fôlego para dizer o seu nome, para parar qualquer coisa que viesse<br />

a acontecer, mas eu estava muito lenta.<br />

Jace empurrou uma faca de lâmina dobrável atrav<strong>é</strong>s da bochecha esquerda<br />

exposta de Dean e puxou-a, cortando at<strong>é</strong> o canto da sua boca.<br />

Dean gritou e uivou violentamente, e desta vez o som era forte. Todos<br />

podiam ouvi-lo.<br />

Jace estremeceu quando me viu olhando para ele, em choque. Então correu,<br />

atravessou a sala e pegou o meu braço. — Vamos.<br />

Marc estava voltando da floresta com uma mochila que havia recuperado,<br />

mas quando nos viu chegando e ouviu os gritos de Dean, correu de volta para o<br />

carro e abriu a porta da frente para mim, mas em vez de dar a volta para o banco<br />

do motorista, ele subiu atrás, sem uma palavra. Ele <strong>não</strong> queria se sentar comigo.<br />

Jace deslizou para o banco da frente e ligou o motor, em seguida, bateu no<br />

cambio e colocou-o no automático. — Onde você estacionou? — ele pisou fundo e<br />

deu a volta ao redor do pr<strong>é</strong>dio muito rapidamente.<br />

— O caminho onde estávamos ontem. — Marc colocou o cinto e agarrou a<br />

maçaneta da porta enquanto eu me esforçava para afivelar meu próprio cinto.<br />

O carro derrapou no cascalho, então rodou e foi quando a porta de trás do<br />

pr<strong>é</strong>dio do meio se abriu. Outro dos capangas de Malone desceu as escadas<br />

correndo e olhou para nós por um momento. Isso foi tudo o que ele precisou para<br />

reconhecer a mim e a Marc. Ele gritou algo que eu <strong>não</strong> podia ouvir com o ruído do<br />

motor, então caminhou rapidamente para a fileira de carros que eu havia<br />

sabotado.<br />

Os pneus do nosso carro derraparam no cascalho e o carro seguiu em<br />

frente. Mais guardiões deixaram o pr<strong>é</strong>dio do meio e eu <strong>não</strong> reconheci a maioria<br />

deles. Como Malone os havia contratado?<br />

Passamos o edifício e, em seguida, a casa principal e fomos para a entrada<br />

de concreto. Com meu cinto de segurança agora solto, virei para olhar pela janela<br />

lateral enquanto nós nos dirigíamos rapidamente para a estrada. A porta da frente<br />

da casa principal se abriu e Malone apareceu na pitoresca varanda, seguido por<br />

Patrícia Malone, claramente soluçando.<br />

Jace nunca olhou para trás.<br />

238


— Eu desativei os carros atrás do pr<strong>é</strong>dio, mas <strong>não</strong> consegui chegar a<br />

nenhum deles. — eu disse, apontando para os três veículos adicionais<br />

estacionados em frente da casa principal.<br />

Jace encolheu os ombros. — Não nos pegarão. — ele virou muito rápido<br />

para a estrada e o carro foi para o lado, mas depois corrigiu o veiculo e se afastou<br />

da casa. Eu olhei para ver que, pelo menos at<strong>é</strong> agora, <strong>não</strong> estávamos sendo<br />

seguidos.<br />

Malone enviaria os seus capangas atrás de nós, mas eu esperava que os<br />

pneus que foram esvaziados fossem deles e que levasse alguns minutos para se<br />

reagruparem.<br />

Olhei pela janela, para as árvores enquanto nos afastávamos. A luz do pôr<br />

do sol entre elas me cegava.<br />

Pensamentos caiam uns sobre os outros em minha mente, mas eu <strong>não</strong> podia<br />

me concentrar em nenhum deles, eram mais como fundo estático que cacofonia<br />

real. Estava longe de ser capaz de pensar racionalmente, atordoada demais para<br />

me concentrar em algo.<br />

Em questão de minutos, tudo tinha mudado para pior. Meus dias de me<br />

misturar com a multidão haviam terminado e eu teria sorte se algum dia Marc<br />

falasse comigo de novo. E teria que acontecer um milagre para evitar que ele<br />

matasse Jace no momento em que tivesse tempo de se entregar a sua raiva.<br />

Dois longos e tensos minutos depois, viramos da rua de Malone para a<br />

estrada estreita e mal conservada que atravessava o bosque e para o lado mais<br />

próximo do colina. — Cerca de um quilômetro e um quarto. — disse Marc. — Em<br />

uma trilha de mato a sua direita.<br />

Jace balançou a cabeça, satisfeito.<br />

— O que você fez com Dean? — Marc perguntou e eu me contorci no meu<br />

lugar para olhar para ambos, chocada novamente pelo inchaço arroxeado que<br />

estava invadindo o lado direito da cabeça de Jace.<br />

Ele hesitou como se estivesse considerando sua resposta. Finalmente,<br />

respirou alto. — Vamos apenas dizer que Colin Dean e o Coringa têm agora mais<br />

do que uma ligeira semelhança.<br />

Marc assentiu fortemente, então olhou para a janela.<br />

Tentei encontrar seus olhos, mas ele <strong>não</strong> desviou o olhar, embora a tensão<br />

em sua posição dissesse que ele sabia que eu o estava observando.<br />

Alguns minutos mais tarde, viramos à direita e saímos em uma parada atrás<br />

da caminhonete Pathfinder alugada. Descemos do carro e eu passei todas as<br />

nossas coisas enquanto Marc colocava o resto de suas roupas e Jace acomodava<br />

Lance no compartimento de carga, ainda amarrado e inconsciente, mas<br />

respirando. Aplicamos nele uma injeção com um dos tranquilizantes para mantêlo<br />

quieto. Em seguida, demos marcha r<strong>é</strong> e voltamos para a estrada, desta vez com<br />

Marc no comando e eu no banco do passageiro.<br />

Enquanto entravamos na estrada, tentei tocar seu braço, mas ele se afastou<br />

de mim e o meu coração se partiu novamente. E a culpa parecia sal esfregado na<br />

239


ferida. — Vamos conversar sobre isso? — perguntei, e Jace ainda estava no banco<br />

de trás.<br />

— Não. — mas um segundo depois, Marc bateu com o punho no volante,<br />

deixando um amassado substancial e uma mancha de sangue.<br />

— Foda-se! Vocês dois tinham que escolher este momento?<br />

Engoli em seco, estremecendo por causa da minha garganta ferida e me<br />

abstive de lembrá-lo que Dean foi o único que tinha escolhido este momento.<br />

Marc olhou em direção ao para-brisa por vários minutos, suas mãos<br />

seguravam o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.<br />

Olhei para o meu colo, eu tinha um nó no estômago, sentia uma imensa e<br />

oca dor no coração. Eu <strong>não</strong> sabia o que dizer. Não sabia se havia algo que eu<br />

pudesse fazer para melhorar. Ou pelo menos <strong>não</strong> piorar.<br />

Marc finalmente olhou para o espelho retrovisor e eu me contorci para ver<br />

Jace devolvendo seu olhar.<br />

— Você vai sair daqui assim que cruzarmos a fronteira. — Marc rosnou com<br />

os dentes cerrados. — Se você tiver sorte, vou parar o carro. Quero você fora da<br />

fazenda no momento em que voltar com Kaci.<br />

— Não... — eu comecei, mas Jace falou ao mesmo tempo, com a voz calma e<br />

firme.<br />

— Isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> decisão sua.<br />

Marc rosnou novamente e enfiou a mão no bolso. — Bem. — ele largou o<br />

telefone no meu colo. — Vamos telefonar para o seu pai. Vamos ver o que ele diz.<br />

— Marc, por favor, <strong>não</strong> faça isso. — limpei as lágrimas dos olhos com a<br />

manga do casaco, hesitante pela queimação no meu rosto. — Não coloque os<br />

outros nisso. Não agora. Pense no bem do Pride.<br />

— É nisso que você está pensando? — reclamou e o velocímetro subiu para<br />

85. — Está pensando no bem de Pride enquanto transa com ele?<br />

Olhei para Jace e o carro deu uma guinada para frente mais uma vez, a ira<br />

de Marc afetou diretamente o peso do seu p<strong>é</strong> direito. — Não <strong>é</strong> assim. — eu disse<br />

finalmente. — Foi apenas uma vez.<br />

— Eu sabia que havia algo diferente. — ele bateu no volante e um novo<br />

inchaço apareceu, com ainda mais sangue. — Mas eu nunca pensei que você iria<br />

tão longe... — Marc rangeu os dentes tão forte que eu podia ouvir mesmo com o<br />

ruído da estrada, e fiquei com vergonha. — O que Dean disse?<br />

Jace bufou e os pneus rangeram sob as mãos de Marc.<br />

— Alex fez uma conjectura.<br />

— E agora todo mundo vai saber. — Marc cuspiu.<br />

Senti meu rosto corar. Ele estava certo. Malone usaria minha infidelidade<br />

contra o meu pai e contra todo o nosso Pride.<br />

— Marc, me desculpe...<br />

240


— Poupe-me. — ele retrucou. — Vamos nos concentrar em trazer Kaci de<br />

volta, mas depois nós vamos lidar com isso. — olhou pelo retrovisor novamente e<br />

Jace acenou com a cabeça firmemente.<br />

— Olhe para frente.<br />

241


Capítulo 29<br />

Conduzimos em um miserável silêncio por volta de duas horas, exaustos,<br />

zangados e tensos al<strong>é</strong>m das palavras. E dizer que eu tenho menos do que a dor<br />

física seria pouco.<br />

O corte profundo no lado esquerdo do Marc era desagradável. Não tão largo<br />

e profundo como tinha sido do meu braço, mas muito pior do que minha<br />

bochecha.<br />

A cabeça de Jace ainda estava inchada e descolorida e ele se movia com<br />

rigidez, tentando economizar suas costelas de movimentos desnecessários.<br />

Eu me voltava para checar a dilatação de suas pupilas a cada quinze<br />

minutos mais ou menos. Tamb<strong>é</strong>m mantive a música e minha janela abaixada,<br />

esperando que o frio e o ruído o mantivessem acordado at<strong>é</strong> que tivesse certeza de<br />

que ele <strong>não</strong> tinha uma concussão.<br />

Apesar de nossas lesões - ou talvez por causa delas, <strong>não</strong> me sinto segura o<br />

suficiente para parar e comprar material de <strong>primeiro</strong>s socorros at<strong>é</strong> que estejamos<br />

a mais de cem quilômetros da propriedade de Malone. E mesmo assim, ainda<br />

estávamos em dúvida se parávamos, porque ainda estávamos no coração do<br />

território inimigo e porque nenhum de nós estava exatamente apresentável.<br />

No final, decidimos que Jace deveria fazer a compra, porque com a viseira de<br />

sua boina torcida para cobrir o lado de sua cabeça, ele era o que estava menos<br />

provável a chamar a atenção de pessoas que poderiam ligar para as autoridades. A<br />

ferida de Marc tinha sangrado atrav<strong>é</strong>s de sua camisa, e eu tinha um rosto cortado,<br />

um top rasgado, e dedos em forma de hematomas ao redor do pescoço. Se<br />

fossemos vistos, a preocupação de algum tipo estranho poderia terminar em uma<br />

chamada para o 911.<br />

Mas isso era apenas uma parte disto. Marc e eu precisávamos de tempo<br />

para conversamos. Sozinhos.<br />

Ele estacionou perto da parte de trás do estacionamento de um Wal-Mart<br />

quando o sol começou a sair, e eu escrevi uma lista em um pedaço de papel que<br />

encontrei no porta-luvas.<br />

<strong>As</strong>sim que Jace se foi, Marc virou-se para mim. — Você deveria ter me<br />

deixado matá-lo.<br />

No começo eu pensei que ele estava se referindo a Jace. Mas, então, os olhos<br />

de Marc passaram para a minha bochecha, e eu entendi. Ele estava se referindo a<br />

Dean.<br />

Percorri o corte com um dedo cuidadosamente. A dor havia diminuído um<br />

pouco, mas a minha raiva <strong>não</strong>. — Talvez. Mas acredito que ele sofrerá mais agora.<br />

— Se eu vê-lo de novo, eu vou matá-lo.<br />

242


Muito cansada para discutir, eu deixei minha mão cair no meu colo. —<br />

Chega. — com sorte, a próxima vez que víssemos o Dean seria durante uma<br />

guerra em grande escala. Sua morte seria justificada. — Se eu <strong>não</strong> matá-lo<br />

<strong>primeiro</strong>.<br />

Depois de mais um momento de silêncio, Marc olhou para o banco de trás<br />

vazio. — Você sabe como <strong>é</strong> duro para eu estar no mesmo carro que ele. Cada<br />

instinto que tenho está me dizendo que eu tenho que matá-lo.<br />

Claramente, tínhamos passado ao Jace.<br />

— Eu sei. — meu coração se sentia tão ferido quanto minha garganta. E<br />

quanto a mim?<br />

— Eu estou tentando realmente <strong>não</strong> te odiar agora mesmo, Faythe.<br />

— Então por que você fez isso? — seus dentes rangeram de forma audível.<br />

Só... por quê?<br />

Eu tentei falar e em vez disso me engasguei com um soluço. Não havia uma<br />

resposta simples. Não havia nenhuma razão lógica. Jace e eu tínhamos nos<br />

conectado em um momento de dor insuportável, e ningu<strong>é</strong>m ficou mais surpresa do<br />

que eu ao descobrir que a ligação ia al<strong>é</strong>m do físico.<br />

— Você o ama? — Marc perguntou, cada dura palavra saindo como se<br />

tivesse sido amordaçado com elas.<br />

Obriguei-me a olhar para ele. Para lhe dar contato visual, pelo menos. —<br />

Sim. — e essa realidade fez girar a minha cabeça violentamente. — Eu <strong>não</strong> quero,<br />

mas eu amo.<br />

Marc caiu contra a porta, como se tivessem lhe dado um soco, e a dor no<br />

meu peito se tornou mais profunda.<br />

— Eu <strong>não</strong> queria que isso acontecesse. Nada disto. — eu <strong>não</strong> queria dar<br />

desculpas, ele merecia mais do que isso, mas ele obviamente queria uma<br />

explicação.<br />

— Você se foi, e Ethan tinha acabado de morrer. Seu sangue ainda estava<br />

molhado no sofá. E todos nós estávamos tão magoados. Jace estava tão mal<br />

quanto o resto de nós. Talvez pior, porque ele <strong>não</strong> tinha ningu<strong>é</strong>m a quem se voltar,<br />

e desta vez, eu tamb<strong>é</strong>m <strong>não</strong>. Todo mundo estava lidando com isso de forma<br />

diferente, e eu <strong>não</strong> sabia o que fazer.<br />

Parei para dar um profundo suspiro, e para organizar meus pensamentos.<br />

<strong>As</strong> palavras <strong>não</strong> estavam chegando rapidamente ou facilmente, mas eram a<br />

verdade, e isso parecia ser mais importante para Marc do que minha desculpa.<br />

Mesmo que <strong>não</strong> tornasse as coisas melhores.<br />

— Eu fui ver como ele estava. — eu <strong>não</strong> conseguia dizer o nome de Jace.<br />

Não agora. Não para Marc. — Ele tinha sido ferido na luta, e estava trancado na<br />

casa de hóspedes, sozinho. Ele já estava bebendo, e eu bebi um pouco de bebida<br />

tamb<strong>é</strong>m. Eu queria fazer a dor ir embora, só por um tempo.<br />

Lágrimas silenciosas se formaram em meus olhos e eu as afastei, na<br />

esperança de que Marc <strong>não</strong> tivesse visto.<br />

243


— Então ele te embebeda, e você simplesmente caiu em cima dele? — Marc<br />

cuspiu, e eu estremeci com veneno em sua voz, mesmo sabendo que eu merecia.<br />

— Melhor <strong>não</strong> deixar que esse segredo se espalhe, ou cada Tom no país se<br />

apresentará na entrada de minha casa com uma garrafa e um preservativo.<br />

Eu balancei minha cabeça lentamente, ofegante. — Não foi assim, eu juro.<br />

Ele disse que me amava. Ele disse que precisava de mim, e eu... eu cometi um<br />

erro. Dormir com Jace foi um erro. Eu sei disso, e eu <strong>não</strong> posso te dizer como<br />

estou arrependida. Eu gostaria de poder voltar atrás. Mas eu estaria mentindo se<br />

eu dissesse que <strong>não</strong> significou nada. Significou. E significa. Nós mudamos e isso<br />

me fez enfrentar a verdade sobre... sobre como me sinto a respeito dele.<br />

— Você o ama. — desta vez <strong>não</strong> era uma pergunta. Sua voz estava<br />

desprovida de emoções, como se tivessem matado a parte que era responsável pelo<br />

lado emocional de sua voz.<br />

Só pude apenas acenar miseravelmente.<br />

— Você ainda me ama?<br />

— Sim! Desesperadamente. — eu disse, esperando que a verdade da minha<br />

afirmação brilhasse em meus olhos. Esperando que pudesse vê-la na quase<br />

escuridão. — Eu sei que eu estraguei tudo, e sinceramente <strong>não</strong> sei para onde ir a<br />

partir daqui. Mas eu <strong>não</strong> quero te perder.<br />

Seus olhos ficaram vidrados de raiva. — Então você tem que fazer uma<br />

escolha. Sou eu ou ele, Faythe. Uma vez que isto termine, ele e eu <strong>não</strong> podemos<br />

existir no mesmo Pride. Não contigo. Mataríamos um ao outro.<br />

— Eu sei. — tinha sabido isso o tempo todo, mas isso <strong>não</strong> tornava a escolha<br />

mais <strong>fácil</strong>.<br />

— Não faça disso uma decisão política. — disse Marc, e at<strong>é</strong> mesmo na<br />

penumbra do estacionamento, eu podia ver o que lhe custou dizer isso. — Eu sou<br />

a melhor opção para ajudar a liderar o Pride, quando essa hora chegar, mas eu<br />

estaria mentindo se dissesse que <strong>não</strong> me importava. A verdade <strong>é</strong> que você<br />

aprendeu muito este ano. Com o resto dos rapazes nas suas costas e seu pai como<br />

um conselheiro, você pode executar as coisas muito bem por si mesma. Então,<br />

você deve ouvir a si mesma e o seu coração neste momento.<br />

Olhei assombrada para o Marc. — S<strong>é</strong>rio? — tinha esperado que tentasse<br />

atirar toda a merda no Jace, ou pelo menos exercer uma pressão mais forte para<br />

expulsá-lo.<br />

Ele olhou para baixo, e quando olhou para cima novamente, o dourado em<br />

seus olhos brilhava friamente.<br />

— Não estou sendo generoso. Não tenho isso em mim agora mesmo. Eu <strong>não</strong><br />

posso suportar o pensamento de viver o resto de minha vida sem você, inclusive<br />

depois de tudo isto. Mas seria pior despertar contigo a cada manhã pelo resto de<br />

minha vida, sabendo que você lamenta sua decisão. Sabendo que você se<br />

conformou comigo.<br />

— Eu <strong>não</strong>... — comecei, mas Marc me cortou com um olhar tão feroz que eu<br />

perdi a minha respiração. Seus olhos tinham mudado.<br />

— Não acabei. — grunhiu, algo havia mudado em sua garganta tamb<strong>é</strong>m.<br />

244


— Se eu vê-lo te tocar novamente antes de você tomar sua decisão, eu vou<br />

quebrar todos os ossos do seu maldito corpo. Ou morrer tentando. Eu juro que<br />

vou.<br />

Eu acreditei nele. E seriam mais dois fora de serviço, porque eu <strong>não</strong> era a<br />

única que havia crescido. Jace <strong>não</strong> era mais o <strong>guardião</strong> abaixo de Marc, pois ele<br />

tinha sido expulso no último verão.<br />

Antes que eu pudesse descobrir como responder, Jace bateu no para-brisa,<br />

e em seguida, entrou no carro com três sacos cheios de compras. Ele tinha estado<br />

fora apenas quinze minutos, mas, aparentemente, havia comprado à loja inteira.<br />

Incluindo o delivery, com base no aroma que estava saindo de um dos sacos.<br />

Ele lançou um olhar exagerado por trás da cabeça de Marc, em seguida,<br />

lançou-me um olhar interrogativo, me perguntando em silêncio como foi. Eu só<br />

podia encolher os ombros. Todos nós estávamos ainda respirando, e no momento,<br />

isso era tudo o que podia pedir.<br />

Marc se dirigiu para a parte de atrás do edifício e estacionou atrás de uma<br />

lixeira, trabalhamos rapidamente, escondidos temporalmente do resto do mundo.<br />

Cada tubo de pomada e água oxigenada que eles compartilharam vinha<br />

atrav<strong>é</strong>s de mim. Eu tinha medo de deixá-los ter contato direto. O gatilho do Jace<br />

era só ligeiramente menos suscetível que o do Marc, e cada olhar que ele<br />

disparava para mim era intenso. Procurando.<br />

Tinha medo de que Marc tivesse me convencido a me livrar dele e estava<br />

preparado para lutar contra a decisão.<br />

Jace limpou o sangue de suas próprias unhas, enquanto eu limpava a ferida<br />

na lateral do corpo de Marc. Provavelmente ele precisasse de pontos, mas como<br />

tínhamos pressa e meu trabalho com a agulha deixava muito a desejar, ele se<br />

conformou com três Steri-Strips 15 , creme antibiótico, todo coberto com um<br />

quadrado de gaze est<strong>é</strong>ril.<br />

Eu o ajudei a colocar uma camiseta negra, e depois tentei <strong>não</strong> me contorcer<br />

enquanto ele limpava o corte da minha bochecha. Era reto, limpo e superficial, por<br />

isso <strong>não</strong> havia necessidade de pontos, mas certamente deixaria uma cicatriz fina.<br />

Deixei minha bochecha descoberta, porque uma atadura teria chamado mais a<br />

atenção sobre ela.<br />

Quando estávamos vestidos, enfaixados e tão limpos como pudemos<br />

conseguir sem uma ducha, Marc nos tirou do estacionamento, e Jace repartiu o<br />

frango frito, as batatas fritas, e as garrafas de água enquanto eu ligava para meu<br />

pai para lhe dar uma atualização. Nós concordamos em deixar de fora nossas<br />

questões pessoais, para evitar sobrecarregar o nosso Alfa, ele já tinha em suas<br />

mãos muitos problemas para resolver.<br />

— Alô? Faythe?<br />

— Sim, sou eu. — disse com a boca cheia da minha primeira mordida de<br />

frango. Eu estava com fome, e mastigar com o lado direito da boca era a única<br />

concessão que estava disposta a fazer pela dor em minha bochecha.<br />

15 Suturas adesivas esterilizadas.<br />

245


— Temos o Lance, estamos a umas cem milhas a oeste da propriedade do<br />

Malone.<br />

O suspiro de alívio do meu pai revelou a verdade: ele <strong>não</strong> esperava uma boa<br />

notícia. Seus passos ecoaram pelo chão do escritório. — Perspectivas?<br />

— Estamos bem at<strong>é</strong> agora, mas <strong>não</strong> estamos fora de perigo ainda.<br />

— Como está Lance?<br />

— Inconsciente, mas respirando. Estou cruzando os dedos contra danos<br />

cerebrais. Precisamos dele saudável e consistente para depor antes de sua<br />

execução.<br />

— Perda de sangue?<br />

— Não. — engoli o meu bocado de frango antes de responder. — Foi<br />

golpeado com botas ao lado da cabeça e tranquilizantes. Malone realmente <strong>não</strong><br />

deveria deixar seringas cheias por aí.<br />

— Mmm. Baixas?<br />

— Nenhuma. — disse Marc do assento do motorista. E parecia<br />

decididamente infeliz com esse detalhe particular.<br />

<strong>As</strong> molas rangeram quando meu pai se afundou na cadeira atrás de sua<br />

mesa. — Entraram no coração do território do Malone e pegaram um de seus<br />

guardas, sem uma única baixa?<br />

— Não por falta de tentativa. — Marc murmurou, sacudindo o indicador<br />

esquerdo.<br />

Eu bebia da minha garrafa de água. — Tivemos sorte.<br />

— Não desconfie da sua capacidade. — falou meu pai, e eu quase desmaiei<br />

de choque. Ele <strong>não</strong> distribuía elogios à toa. — Lesões?<br />

— Do seu lado? Cinco Toms amarrados e amordaçados. Testículos<br />

arruinados...<br />

Meu pai quase engasgou. — Eu suponho que seria coisa sua?<br />

Dei de ombros, embora ele <strong>não</strong> pudesse me ver. — Ele me tocou. Enfim,<br />

testículos arruinados, dois narizes quebrados, diversas contusões, um bochecha<br />

cortada, uma facada no peito, <strong>não</strong> se preocupe, viverá e um polegar amputado.<br />

Outro momento de silêncio. — Quem? Eu gostaria de saber?<br />

— Esse fui eu. — Marc resmungou - ele a tocou.<br />

— Ah. E vocês três? Estão todos bem?<br />

Eu respondi com outro frango frito a meio caminho da minha boca. — Marc<br />

tem um corte na lateral do corpo, mas nada que um Steri-Strips <strong>não</strong> resolva.<br />

— Jace quase teve seu crânio esmagado. Estou alerta para sinais de<br />

inflamação e concussão.<br />

— Eu estou bem, Greg. — Jace insistiu colocando uma batata frita inteira<br />

na boca.<br />

— Faythe e você?<br />

246


Eu hesitei, e provavelmente <strong>não</strong> responderia, se eu <strong>não</strong> tivesse certeza de<br />

que um dos dois rapazes teria respondido por mim se eu ficasse em silêncio. — Eu<br />

me cortei. No rosto.<br />

— Quão s<strong>é</strong>rio <strong>é</strong>? — perguntou meu pai sem perder um batimento do<br />

coração.<br />

Desta vez Marc falou para mim. — Colin Dean a marcou da maçã do rosto<br />

ao canto da boca.<br />

Silêncio. Silêncio horrível e pesado, esperando minha resposta.<br />

— Então. Você está bem?<br />

— Estou bem. É um corte superficial. Uma vez curada, a cicatriz será fina.<br />

— O bastardo fez de propósito. — repetiu Marc, e meu pai <strong>não</strong> fez<br />

comentários sobre seu uso de palavrões na frente do Alfa, <strong>não</strong> havia clima para<br />

isso.<br />

A cadeira rangeu, e o som de papel sendo manuseado na mesa de meu pai<br />

pode ser ouvido. — O que Dean estava fazendo no território Apalache?<br />

— Trabalhando de <strong>guardião</strong> para Malone. — aproveitei a oportunidade para<br />

mudar de assunto. — E ele <strong>não</strong> <strong>é</strong> o único. Malone fez muitas contratações, e eu<br />

<strong>não</strong> reconheci a maioria dos rostos. O que significa que eles vieram de territórios<br />

com o qual tivemos pouco contato, ou ele esteve recrutando da fronteira norte, em<br />

áreas com sotaque ligeiramente indistinguíveis. Mas, com base no seu odor,<br />

nenhum era Extraviado.<br />

— Bem, eu gostaria de poder dizer que isso <strong>é</strong> inesperado, mas, sinceramente<br />

<strong>é</strong> o movimento mais previsível que ele fez at<strong>é</strong> agora.<br />

Jace respirou fundo e falou. — Dean vai ser um problema, Greg.<br />

Eu me virei para ele, pedindo-lhe com meus olhos para manter sua boca<br />

fechada. Mas ele <strong>não</strong> queria encontrar meu olhar. Nem considerou importante<br />

esconder alguma coisa do seu Alfa. Pelo menos alguma coisa, que envolvesse<br />

dormir com a filha do Alfa.<br />

— Como assim?<br />

Jace suspirou e seguiu em frente, olhando para suas mãos em seu colo. —<br />

Ele foi para casa em Montana em desgraça. Seu pai disse ao Conselho canadense<br />

que ele tinha sido exposto como um covarde. Que uma Tabby ganhou dele e foi<br />

pego em uma mentira. Dean culpa Faythe por tudo. Ele a cortou com a intenção<br />

de humilhá-la. — tomou fôlego e continuou, enquanto eu cerrei os dentes com a<br />

memória. — Quando ele se recuperar, estará com mais raiva ainda. Talvez ainda<br />

mais.<br />

— Por que <strong>não</strong> o mataram? — meu pai estava claramente falando com Marc<br />

e Jace.<br />

Ambos olharam para mim em busca de uma resposta, e eu abaixei os olhos.<br />

— Eu <strong>não</strong> teria deixado. Depois que ele provou o sabor de sua própria faca, <strong>não</strong><br />

era uma ameaça para ningu<strong>é</strong>m. — fisicamente, pelo menos. Sua boca tinha feito<br />

muito estragos...<br />

247


— Sua própria existência <strong>é</strong> uma ameaça para você. — o meu pai insistiu.<br />

Fechei os olhos e deixei cair à cabeça contra o encosto do banco. Eu estava sendo<br />

repreendida por <strong>não</strong> matar ningu<strong>é</strong>m? — Faythe, ser um líder significa tomar<br />

decisões difíceis. Muitas vezes. Você acha que pode dominar Dean novamente e<br />

você pode estar certa. Mas e se <strong>não</strong> estiver... seria devastador para o Pride todo.<br />

Sem mencionar a você pessoalmente.<br />

— Nós <strong>não</strong> estamos tendo essa conversa...<br />

— Às vezes, uma pessoa tem de morrer para preservar o bem maior.<br />

Eu abri meus olhos só para colocá-los em branco novamente, depois de a<br />

minha paciência ter chegado ao fim. — Você acha que eu <strong>não</strong> sei? Foi minha<br />

decisão entregar Lance Pierce para ser executado. Estou muito familiarizada com o<br />

conceito do bem maior, obrigada.<br />

— Bem. Se você estiver em uma situação como esta novamente, eu espero<br />

que você elimine a ameaça. Ou pelo menos deixe um dos meninos fazerem.<br />

— Isso <strong>não</strong> <strong>é</strong> necessário. — meus dentes batiam tão alto que eu tinha<br />

certeza de que ele poderia ouvi-los. — Eu posso excluir minhas próprias ameaças.<br />

Meu pai suspirou lentamente. — Faythe... <strong>é</strong> defesa própria, porque ele vai<br />

atacar se for dada a oportunidade.<br />

— Ele ainda a tem. Mas eu <strong>não</strong> deixarei.<br />

— Eu sei. — disse ele, e eu podia praticamente ouvir o sorriso em sua voz.<br />

Meu pai estava convencido de que eu faria o que me foi dito. E eu faria. Mas o<br />

caso caiu em minha consciência como uma pedra no fundo do rio.<br />

— Ligue-me quando vocês chegarem perto do ninho.<br />

— Tudo bem. — levantei a minha mão para conter um bocejo.<br />

Meu pai suspirou. — Rapazes se assegurarem de que ela descanse.<br />

— Sem problemas. — disse Marc, embora estivesse tão cansado quanto eu.<br />

Ou ainda mais.<br />

Meia hora depois, Lance acordou, sua consciência anunciado por uma s<strong>é</strong>rie<br />

de grunhidos e pontap<strong>é</strong>s contra a lateral da van. Jace levantou uma sobrancelha<br />

em um divertimento cruel, depois se recostou no banco para olhar no bagageiro.<br />

— Ei. — me contorci no banco para ver, e Marc <strong>não</strong> deixou de olhar no espelho<br />

retrovisor at<strong>é</strong> que lhe dei uma palmada no ombro e assinalei o para-brisa. Ele já<br />

era perigoso o suficiente com os olhos na estrada.<br />

Jace olhou para mim e encolhi os ombros, por isso ele se inclinou sobre<br />

Lance, então surgiu um momento depois com uma tira de fita adesiva.<br />

— Onde estou? — perguntou Lance. — Que diabos você pensa que está<br />

fazendo?<br />

— Equilibrando a balança da justiça. — disse Jace, com seu habitual sorriso<br />

ausente.<br />

— O que significa isso?<br />

248


Fechei os olhos preparando a mim mesma, então retirei meu cinto de<br />

segurança e fui para a parte de trás, onde me inclinei junto a Jace tentando<br />

manter o lado esquerdo do meu rosto o mais longe do nosso prisioneiro. — Ei,<br />

Lance.<br />

— Faythe? — era evidente que <strong>não</strong> se lembrava do meu impressionante<br />

chute no seu crânio.<br />

— Sim, escute eu vou direto ao ponto. — porque eu tinha que ter certeza. Eu<br />

estava perfeitamente disposta a entregá-lo para os Thunderbirds para salvar a vida<br />

de Kaci, mas precisava saber se era realmente culpado, para minha própria paz de<br />

espírito. Mas a paz <strong>não</strong> parecia possível após a semana que tivemos. — Parker<br />

está preocupado com você. Brett nos disse que você foi à pessoa que matou o<br />

Thunderbird, e Parker está com medo de que, se a verdade vier à tona, Malone irá<br />

atirá-lo sob as rodas da maquinaria política para se salvar. Então, nós estamos<br />

aqui em nome do meu pai para lhe dar abrigo.<br />

— Refúgio? Você está falando s<strong>é</strong>rio? — sua carranca era de ceticismo.<br />

— Sim. Desculpe pelo sequestro... mmm... agarrá-lo. Não pensamos que<br />

Malone te deixaria simplesmente sair.<br />

Lance negou com a cabeça, o cabelo roçando contra o tapete do carro. — Ele<br />

<strong>não</strong> teria deixado.<br />

— Então, você apenas tem que esclarecer alguns pontos, para podermos<br />

deixar você ir. — sorri, esperando que ele pudesse ver a minha expressão amigável<br />

e reconfortante a luz do dia desaparecendo, mas <strong>não</strong> o novo corte no meu rosto,<br />

que doía com cada palavra que eu dizia.<br />

— Tudo bem... — ele hesitava em confiar em mim, e <strong>não</strong> podia culpá-lo. Mas<br />

eu encontrei uma alternativa muito melhor para convencê-lo do que Jace.<br />

— Foi você quem matou o Thunderbird? Ouvimos dizer que foi totalmente<br />

justificado. Ele estava tentando pegar sua caça?<br />

— Sim. — o rosto de Lance se iluminou, e seu alívio era evidente, mesmo na<br />

luz fraca. — Era minha caça. Qualquer outra pessoa teria feito o mesmo.<br />

Eu sorri de volta e acenei com a cabeça como uma boneca bobble-head 16 . —<br />

Então você o matou?<br />

— Sim, mas isso foi...<br />

— Muito bem, obrigada. — eu me virei para Jace. — Coloque a fita adesiva<br />

de volta.<br />

— O que? Não! — Lance gritou e retomou sua luta. Mas como ele <strong>não</strong> podia<br />

Mudar parcialmente e eu certamente nunca iria ensiná-lo, <strong>não</strong> havia forma de que<br />

pudesse arrancar a fita adesiva de seus pulsos.<br />

— OK. — Jace procurou no saco aos seus p<strong>é</strong>s e pegou um rolo de fita.<br />

16 Bonecas que só mexem a cabeça, aqui no Brasil os bonecos de cachorrinhos são mais comuns e muito<br />

usados em carros.<br />

249


— Para onde diabos nós vamos? — Lance perguntou quando voltei para o<br />

meu lugar.<br />

Jace se inclinou para manter Lance imóvel tempo suficiente para cobrir sua<br />

boca com a fita. — Ao Novo M<strong>é</strong>xico. — nosso prisioneiro lutou mais ainda, na<br />

verdade balançou o carro algumas vezes quando chutou. — Oh. Não se preocupe.<br />

— disse Jace, sorrindo friamente. — Tenho certeza que você vai ter a oportunidade<br />

de advogar seu caso com os Thunderbirds.<br />

Jace se sentou no banco da frente novamente, e todos nós tentamos ignorar<br />

o barulho desesperado na parte de trás. Após 10 minutos de ouvirmos o Lance<br />

implorando sem palavras, Marc ligou o rádio, e Guns N’Roses falou ao nosso<br />

passageiro que vivesse e se deixasse morrer.<br />

Se ele recebeu a mensagem, eu <strong>não</strong> ouvi nenhum sinal.<br />

Os rapazes insistiram em dirigir na primeira parte da viagem para que eu<br />

pudesse dormir, mas eu estava relutante em deixar os dois acordados ao mesmo<br />

tempo. Infelizmente, meu corpo exausto venceu esta batalha particular de<br />

vontades e dormi quatro horas seguidas.<br />

Depois de Mudar, Marc cochilava, enquanto Jace dirigia, e eu Mudei pelo<br />

braço direito rangendo os dentes de dor, at<strong>é</strong> que <strong>não</strong> restasse mais dor em minha<br />

forma humana.<br />

Uma hora mais tarde, quando Jace tinha certeza de que Marc estava<br />

dormindo, ele olhou para mim de lado, enquanto eu estudava concentrada a onda<br />

de cabelo em meu cotovelo.<br />

— O que aconteceu com Marc? — sussurrou.<br />

Eu olhei para o banco de trás antes de responder. Marc estava realmente<br />

adormecido, eu sabia. — Ele disse que eu tenho de escolher um de vocês. — vários<br />

minutos depois de silêncio tenso, ele sussurrou novamente. — Então... o que você<br />

vai fazer?<br />

Eu só podia encolher os ombros. — Não sei. — eu <strong>não</strong> tinha ningu<strong>é</strong>m com<br />

quem conversar sobre esta situação. Todas as pessoas que eu normalmente teria<br />

ido em busca de conselho, estavam ocupadas dirigindo seu Pride, morrendo de<br />

vontade de matar outro homem, ou morto. Como eu poderia me sentir tão sozinha<br />

quando eu nunca parecia ter nenhuma privacidade?<br />

Depois de 22 horas, duas doses de tranquilizantes para Lance, quatro idas<br />

ao banheiro, e quatro revezamentos de diferentes motoristas para podermos<br />

descansar e dormir. Marc me despertou, eu estava cochilando no banco do<br />

passageiro da frente.<br />

Sentei-me, esfregando os olhos, e apontei para o sol estava descendo do c<strong>é</strong>u.<br />

Outra vez. — Que horas são?<br />

— Quatro e quarto. Estamos pertos, somente a meia hora de distância de<br />

onde a pegamos.<br />

A salvos em caso de algum desastre, e contando a parte que teríamos que<br />

caminhar, isso significava que tínhamos chegado com menos de 15 minutos<br />

adiantados.<br />

250


Lance dormia devido a sua última injeção e Jace roncava ligeiramente no<br />

banco do meio. — Quer que ligue para meu pai?<br />

Ele assentiu com frieza. Eu esperava que ele estivesse um pouco mais<br />

acessível com o tempo, mas at<strong>é</strong> agora <strong>não</strong> demonstrou sinais de descongelamento.<br />

Liguei para o meu pai e dei-lhe uma atualização, com a promessa de ligar<br />

assim que pegássemos Kaci. Ele jurou que estaria ali com um telefone para<br />

informar ao Beck e esperava que o Bando se satisfizesse com as provas que<br />

havíamos trazido.<br />

— Faythe, você está bem? — perguntou meu pai, depois que os detalhes<br />

foram elaborados.<br />

— Tudo bem. — tecnicamente, isso era verdade. Não havia nada de errado<br />

comigo fisicamente. Mas ele sabia que havia algo que eu <strong>não</strong> estava dizendo.<br />

Eu estava com medo de contar ao meu pai, quase tanto como temia dizer a<br />

Marc.<br />

Jace acordou enquanto eu estava ao telefone, e quando desliguei me deu<br />

duas garrafas de Coca-Cola e quatro barras de proteínas, era nosso jantar<br />

improvisado que ele tinha comprado na nossa última parada.<br />

Comemos em silêncio, e meus nervos me consumiam tanto como eu<br />

consumia minha comida.<br />

Estávamos chegando. Restava esperar que os Thunderbirds aceitassem<br />

nossa prova ou <strong>não</strong>, e <strong>não</strong> havia nada que eu pudesse fazer a respeito sobre essa<br />

decisão. Kaci viveria ou <strong>não</strong>, e <strong>não</strong> havia nada que eu pudesse fazer a respeito,<br />

tamb<strong>é</strong>m. Mas estava disposta a morrer tentando.<br />

Vinte minutos mais tarde, Marc virou à direita na estrada de cascalho<br />

estreito que levava ao ninho. Depois de três quilômetros, encontramos os<br />

<strong>primeiro</strong>s obstáculos, pedras enormes bloqueando a estrada, em um arranjo<br />

aleatório que eu tinha certeza de que os Thunderbirds tinham feito pessoalmente.<br />

Tivemos que deixar o carro e andar o resto do caminho.<br />

Lance piscou com os últimos raios de sol quando abrimos a porta do<br />

bagageiro e imediatamente começou a lutar.<br />

— Cala a boca. — ordenou Marc, e arrastou-o para fora, o agarrando por<br />

baixo dos braços.<br />

Lance tropeçou num <strong>primeiro</strong> momento, e dançava com vontade de fazer<br />

suas necessidades, o que <strong>não</strong> era uma surpresa, considerando que <strong>não</strong> tinha tido<br />

uma pausa para ir ao banheiro em quase doze horas, os meninos estavam<br />

montando guarda quando ele apontou para um lado da estrada.<br />

— Eu tenho que fazer xixi. — Lance disse e acenou com a cabeça<br />

freneticamente. Jace desviou o olhar e Marc amaldiçoou rapidamente em<br />

espanhol.<br />

Eles <strong>não</strong> estavam dispostos a liberar as mãos do prisioneiro, mas nenhum<br />

dos meninos queria ajudá-lo com suas calças. Aparentemente foram molhadas na<br />

última vez.<br />

Revirei os olhos. — Tudo bem. Eu vou ajudar.<br />

251


Marc rosnou. — Eu vou. — puxou Lance para um lado da estrada, Jace e eu<br />

olhamos para o chão quando Lance fez suas necessidades. Então, começamos a<br />

andar.<br />

A estranha e a silenciosa caminhada de dois quilômetros levou quase meia<br />

hora, inclusive conosco empurrando o Lance ao longo do caminho quando ele<br />

começou a se arrastar.<br />

Ele estava relutante em chegar ao local de sua execução.<br />

O sol estava baixo no horizonte quando o ninho ficou à vista, Jace parou,<br />

olhando para cima com o rosto protegido da luz com uma mão. — Uau. Como<br />

diabos vamos chegar lá?<br />

— Não vamos. — segui o seu olhar, impressionada de novo pelo enclave da<br />

montanha dos Thunderbirds. — Esse <strong>é</strong> o ponto.<br />

Quando estávamos perto da base do penhasco, olhando quase diretamente<br />

para cima, a porta se abriu, e quatro Thunderbirds humanos, vieram para a<br />

varanda olhando para nós. Algum sinal invisível e inaudível foi dado, e um por um<br />

saltou da borda da varanda, desdobrando as enormes asas, como anjos escuros.<br />

Eles aterrissaram na nossa frente com uma rajada enorme de vento e o<br />

ritmo estrondoso de pena contra o ar. Eu <strong>não</strong> estava familiariza com dois dos<br />

pássaros, mas reconheci Cade e Coyt.<br />

Como da última vez, os pássaros ficaram em silêncio, por isso me adiantei<br />

arrastando Lance pelo braço. Ele plantou os p<strong>é</strong>s no chão, recusando-se a se mover<br />

então eu tive literalmente que arrastá-lo pelo chão. Como se sua força significasse<br />

algo em longo prazo.<br />

— Aqui está a prova, na hora certa. — eu o empurrei para frente. O<br />

Thunderbird o olhou com uma malícia tão profunda e fria que senti arrepios só de<br />

olhar em seus olhos. — Agora traga Kaci para baixo.<br />

Cade ou talvez Coyt balançou a cabeça. — Você deve apresentar as suas<br />

provas.<br />

Bufei em aborrecimento, mas sabia que realmente <strong>não</strong> tinha escolha. —<br />

Tudo bem. Mas você vai precisar de mais pássaros. — fiz um gesto para as minhas<br />

costas, onde Marc e Jace foram apresentados como meu apoio silencioso.<br />

Coyt ou talvez Cade balançou a cabeça. — Só você e sua prova. Seus<br />

homens vão ficar aqui.<br />

252


Capítulo 30<br />

— Demônios, de nenhuma maneira. — as palavras de Marc eram mais um<br />

grunhido do que uma voz. — Aonde ela for eu irei.<br />

Os Thunderbirds nem sequer lhe dedicaram um olhar. — Se você estiver<br />

pronta...? — o pássaro mais próximo fez um gesto com uma asa–garra at<strong>é</strong> o alto<br />

ninho acima da gente.<br />

— Sim, só um segundo. — me girei para Marc e Jace, plenamente consciente<br />

de que dava as costas a eles, os Thunderbirds poderiam me rasgar em duas antes<br />

que soubesse que o golpe se aproximava. Ao meu lado, Lance observou tudo com<br />

olhos amplos e aterrorizados, puxando com tanta força a fita que rodeava seus<br />

pulsos que os músculos se destacavam em seus braços, inclusive por debaixo da<br />

sua camiseta de manga comprida.<br />

A fita adesiva era a mais assombrosa substância conhecida pelo homem —<br />

ou Metamorfos — mas inclusive ela se gastaria com o tempo. Se planejassem tê-lo<br />

por muito tempo antes de... lidar com ele, os pássaros teriam que voltar a atá-lo<br />

logo.<br />

— Faythe, <strong>não</strong> pode estar falando s<strong>é</strong>rio. — sibilou Marc, me puxando para<br />

longe dos pássaros, mais próxima dele e de Jace. — O que os irá deter de matar a<br />

você e a Kaci uma vez que estejam ali em cima?<br />

— Nós <strong>não</strong> faremos mal a ela ou a sua Gatinha se Faythe Sanders fez o que<br />

pedimos. — um deles, Coyt ou Cade, disse, dirigindo-se a Marc pela primeira vez.<br />

Ele levantou a vista, logo sua atenção se voltou a mim, seu cenho franzido<br />

permanentemente instalado no seu lugar.<br />

— Isso <strong>é</strong> o que os deterá. — fiz um gesto aos pássaros, para incluir a<br />

declaração de suas intenções. — Trouxe o que eles queriam, e <strong>não</strong> vão retirar sua<br />

palavra. E de todas as formas, <strong>não</strong> há nada que nenhum dos dois possa fazer se<br />

simplesmente se arrastarem para lá. São ao menos cinquenta Thunderbirds<br />

maduros ali, Marc. Estamos em seu território. A melhor maneira para que todos<br />

saíssemos daqui vivos <strong>é</strong> jogar com suas regras.<br />

— Ela está certa. — disse Jace antes que Marc pudesse objetar. — <strong>Ser</strong>á pior<br />

para todos se eles se sentirem ameaçados em sua própria casa.<br />

Marc o ignorou. Ele estava ocupado me olhando com uma intensa<br />

combinação de frustração e medo. — Continua indo a lugares aonde <strong>não</strong> posso te<br />

proteger.<br />

Pisquei surpresa. — Sim, continuo. Mas continuo voltando. — deixei que<br />

minha mão passasse por sua deliciosa e escura barba rasa no queixo. — Este <strong>é</strong> o<br />

meu trabalho, Marc, e juro que farei tudo o que possa para tirar a mim e a Kaci<br />

fora dali rapidamente e ilesas. — olhei a Jace para incluí-lo no que estava dizendo.<br />

253


— Mas escuta, inclusive se eles <strong>não</strong> enviam a ningu<strong>é</strong>m aqui embaixo com<br />

você, vão estar te observando, e o alcance de sua visão <strong>é</strong> incrível. Se vocês garotos<br />

começam a discutir ou criar problemas vão descer aqui e terminar com vocês e<br />

<strong>não</strong> há nada que eu posso fazer para detê-los. <strong>As</strong>sim, preciso que prometam que<br />

só estarão aqui e esperarão tranquilamente. Todo o resto que precisar ser dito ou<br />

feito trataremos mais tarde, de acordo?<br />

— Como se tiv<strong>é</strong>ssemos opção. — Marc resmungou, enquanto Jace assentia<br />

em silêncio, com os punhos apertados do lado do corpo como única indicação de<br />

que ele estava tão infeliz sobre essa situação como Marc estava.<br />

— Obrigada. — voltei-me e levantei um dedo por mais um minuto para os<br />

pássaros, então encarei a Lance, que parecia como se estivesse a ponto de ser<br />

lançado a um vulcão. Não tive dúvidas de que se ele pensasse que tinha uma<br />

oportunidade de escapar, já teria desaparecido no bosque. — Se eu retirar a fita de<br />

sua boca, poderia se manter quieto e me escutar?<br />

Ele concordou vacilante e decidi que valia a pena correr o risco. Estava a<br />

ponto de entregá-lo a morte. Com certeza ao menos podia lhe dizer como tinha<br />

chegado ali e pedir sua cooperação.<br />

Desprendi um canto da fita sobre seus lábios, logo, cuidadosamente, tirei do<br />

resto at<strong>é</strong> que saísse. Afortunadamente para Lance, e o pouco de barba que tinha<br />

crescido no seu queixo e bochecha nas ultimas 24hs, remover a fita adesiva <strong>não</strong><br />

dói tanto quanto retirar um banda id, eu podia dar f<strong>é</strong> nisso.<br />

— Certo, <strong>primeiro</strong> de tudo, eu realmente sinto a forma em que isto<br />

aconteceu, mas quero que saiba que <strong>não</strong> tínhamos outra opção. Você<br />

praticamente selou seu próprio destino quando matou Finn. Sabia que esse era o<br />

nome do Thunderbird?<br />

Lance negou com a cabeça, e seu olhar passou de mim aos pássaros que<br />

agora o rodeavam se caso ele tentasse correr, a Marc e Jace, aos bosques, ao<br />

ninho, logo finalmente voltou a mim. Estava claramente aterrorizado.<br />

— Bom, pois <strong>é</strong>. At<strong>é</strong> agora tem agido como um total punk sem espinhas, ao<br />

longo desse assunto. Mas agora tem uma oportunidade de agir como um homem.<br />

Para representar a tua honrável esp<strong>é</strong>cie e fazer o correto.<br />

Ele começou a abrir a boca, possivelmente para fazer uma pergunta, mas<br />

neguei com a cabeça e demandei.<br />

— Os Thunderbird têm Kaci Dillon acima, no ninho, e se <strong>não</strong> te entrego a<br />

eles, a matarão. E você sabe muito bem que ela <strong>não</strong> tem nada a ver com isso. Você<br />

agiu, obviamente disposto a deixar que um Pride inteiro cheio de Toms morresse<br />

pelo seu erro, e na minha opinião, se marginou com essa atitude moralmente<br />

repressiva. Mas, está disposto a deixar que assassinem a uma Tabby inocente? A<br />

uma menina? Ou pensa se redimir e me ajudar a salvar sua vida?<br />

Se Lance tinha um orgulho de <strong>guardião</strong>, qualquer vestígio de moralidade e<br />

altruísmo ainda se aferraria ao cadáver petrificado de sua honra, e esperava que<br />

nenhum desaparecesse. A maioria dos Toms tinha enraizado flexibilidade para<br />

com as crianças, o futuro da nossa esp<strong>é</strong>cie. E todos tinham prometido cumprir os<br />

juramentos necessários para proteger a Tabby de seu Pride.<br />

254


A verdade era que eu o trocaria por Kaci independentemente se ele fizesse<br />

seu trabalho ou <strong>não</strong>. Mas pensei que tinha o direito de se redimir antes de morrer.<br />

Lance piscou, logo olhou aos Thunderbirds expectantes antes de voltar a me<br />

olhar. — O que tenho que fazer?<br />

Um suspiro de alívio se construiu dentro de mim, mas o engoli, <strong>não</strong><br />

querendo que visse a pouca f<strong>é</strong> que tinha nele, e para minha surpresa pela<br />

possibilidade de que pudesse cooperar. Eu duvidava de que lutasse quando se<br />

percebesse que ao fazê-lo <strong>não</strong> iria salvar milagrosamente sua vida.<br />

— Tudo o que tem que fazer <strong>é</strong> dizer a verdade. E em minha opinião pessoal,<br />

eu devo oferecer uma sincera desculpa e tentar explicar a diferença entre nossa<br />

cultura e a sua. Se jogue por sua misericórdia.<br />

Pensei nas possibilidades de que dita súplica realmente salvasse sua vida,<br />

mas suas possibilidades eram tão escassas como <strong>não</strong> há oportunidades no<br />

inferno, mas lhe daria algo em que se concentrar, aparte de sua própria morte<br />

eminente. E a distração era tudo o que eu tinha para lhe oferecer.<br />

— E se isso <strong>não</strong> funcionar, tem duas opções. Pode ir como um maldito<br />

cachorro queixoso que Malone te considera. Ele obviamente <strong>não</strong> pensa que você <strong>é</strong><br />

um homem que <strong>não</strong> diria a verdade, ou pode se manter forte at<strong>é</strong> o final. Morrer<br />

com dignidade.<br />

Lance engoliu densamente, logo assentiu vacilante, sustentando meu olhar<br />

como se necessitasse me ouvir dizer algo. Para realmente crer em algo. — Faythe...<br />

<strong>não</strong> foi minha ideia. Realmente <strong>não</strong> tive opção. Era estar de acordo com Calvin ou<br />

ser liquidado... bom, como aconteceu com Brett. Se ele fez isso ao seu próprio<br />

filho, o que teria feito a mim, se tivesse tentado lutar contra ele?<br />

— Ningu<strong>é</strong>m disse que ser <strong>guardião</strong> fosse <strong>fácil</strong>, Lance. — nem a vida, para o<br />

acaso. — Às vezes tem que fazer uma escolha difícil, sabendo que talvez seja<br />

assassinado. Desta vez escolheu a incorreta. — ainda que, curiosamente, o<br />

resultado deu no mesmo. Tudo o que tinha ganhado foi uma semana extra<br />

embaixo da tirania de Malone.<br />

Coyt.<br />

Eu teria escolhido a morte nesse dia.<br />

— Acredito que estamos prontos. — disse, me voltando para Cade. Ou talvez<br />

Os pássaros assentiram junto, e com um poderoso, quase simultâneos bater<br />

de suas enormes asas, estávamos no ar, quase fazendo voar meus p<strong>é</strong>s no<br />

processo. Lance se balançou para trás e Jace o empurrou para frente. Um instante<br />

depois, um dos dois <strong>não</strong> familiares Thunderbirds lhe agarrou os braços, os pulsos<br />

continuavam amarrados nas costas, e tão logo balançavam no ar, o segundo<br />

pássaro o pegou pelos tornozelos.<br />

Lance gritou enquanto se elevou no ar de cabeça pra baixo. Seus olhos<br />

estavam muito abertos, observando a terra voar por debaixo dele at<strong>é</strong> que o vento<br />

se tornou muito forte e teve que fechar os olhos.<br />

Olhei para cima justo quando Cade - ou talvez Coyt - agitou as asas sobre<br />

mim, agitando meu cabelo em nós que talvez nunca pudesse desfazer. Fios<br />

açoitavam minha testa e ficavam presos na minha boca, meu fôlego era roubado<br />

255


pela explosão de ar sobre meu rosto. Mas fiquei ali e levantei os braços, pronta<br />

para uma viagem que nunca esperava voltar a repetir, uma vez que tiv<strong>é</strong>ssemos a<br />

Kaci.<br />

O <strong>primeiro</strong> pássaro me tomou justo de baixo dos meus ombros, apertando<br />

suas garras em piedade. Mas desta vez, encontrei a pressão dolorosamente<br />

reconfortante; com certeza um agarre fraco aumentaria minhas chances de cair<br />

para a morte. Quando estava a vinte metros no ar, o segundo pássaro voou para<br />

agarrar minhas canelas. Logo, com uma prática facilidade, os dois pássaros<br />

sincronizaram o bater de suas asas, incrível, considerando sua mútua<br />

proximidade, e nos elevamos de maneira constante para o ninho, oscilando a uma<br />

batida de coração entre cada poderosa asa para ser substituída pela seguinte.<br />

Arrisquei um simples olhar para o chão, com largas mechas de cabelo negro<br />

batendo ao redor do meu rosto, e vi a Marc e a Jace de p<strong>é</strong>, me olhando lado a lado,<br />

com uma mão protegendo os olhos do resplandecer carmesim do sol poente. Desde<br />

tão alto, as diferenças entre eles eram quase impossíveis de encontrar. Eram dois<br />

corpos anônimos no solo, impotentes ao ver como eu me afastava voando deles.<br />

Cade e Coyt me deixaram cair sobre o terraço com um golpe seco que me<br />

sacudiu e me lembrou de estar de cócoras sobre o piso, um pouco assustada pelas<br />

rachaduras que vi entre eles, em tão estreita inspeção, at<strong>é</strong> que aterrissaram em<br />

ambos os lados, em silêncio ate o último bater de suas asas contra o ar.<br />

— Que demônios? — Lance gritou, e permaneci ai para encontrá-lo de<br />

costas, e suas mãos atadas, pressionando contra a parede frontal do ninho. Ele<br />

me olhou, com os braços tremendo e o rosto pálido. — Poderia ter me advertido...<br />

— Sobre a viagem at<strong>é</strong> aqui em cima? Sim, a primeira vez e terrível. —<br />

lamentei as palavras antes inclusive de que a ultima saísse de meus lábios; a<br />

primeira vez de Lance seria a última.<br />

Frustrada, comecei a caminhar e passei frente a ele at<strong>é</strong> a porta da frente,<br />

al<strong>é</strong>m das dezenas de Thunderbirds que esperavam por nós, em diversos graus de<br />

forma humana. Quando Lance <strong>não</strong> me seguiu, me voltei para ele. — Tem duas<br />

opções... ir para dentro... — fiz um gesto at<strong>é</strong> a porta aberta. — Ou ir para baixo,<br />

da maneira mais difícil. Qual será? — ele hesitou, e logo suspirou. –—Dignidade,<br />

Lance.<br />

Ele deu um fugaz aterrorizado olhar para o chão abaixo, então levantou os<br />

ombros e caminhou junto a mim em direção ao enorme salão principal do ninho,<br />

onde parou, aparentemente congelado três passos mais al<strong>é</strong>m da porta.<br />

Sei como se sentia. Antes do voo, Lance só tinha visto um Thunderbird e<br />

aquele pobre pássaro estava sozinho quando Lance se lançou sobre ele antes que<br />

tivesse oportunidade de levantar voo. E agora estávamos enfrentando a mais ou<br />

menos cinquenta de seus amigos mais próximos, algo muito mais representativo, e<br />

intimidante, que uma simples população de Thunderbirds e sua tendência a se<br />

reunir.<br />

E para vingar aos seus a todo o custo.<br />

Quando Lance <strong>não</strong> se moveu vários segundos depois, lhe dei um fraco<br />

empurrão e ele caminhou para frente lentamente, tentando captar tudo de uma<br />

vez, seus olhos sempre brilhantes pelo esforço.<br />

256


Antes que pudesse fazer uma melhor avaliação ou me dirigir a qualquer das<br />

dezenas de aves que agora nos olhavam, uma porta rangeu se abrindo e olhei para<br />

cima para ver a Kaci saindo, exposta desde o segundo andar. — Faythe! — gritou,<br />

e estava correndo inclusive antes que a única silaba de meu nome se perdesse no<br />

silencio.<br />

Correu ao longo do corredor e deu uma volta na esquina, esquivando com<br />

agilidade aos dois Thunderbirds plenamente humanos no seu caminho, e seus<br />

passos galoparam nas escadas como um touro que vai investir em algo. Mas ela<br />

era todo sorriso quando voou pela enorme sala e a meus braços abertos.<br />

— Você veio! — Kaci enterrou o rosto cheio de lágrimas no ombro da minha<br />

jaqueta de couro.<br />

— Você diz como se tivesse alguma dúvida. — puxei-a para trás para dar<br />

uma boa olhada. Fora seu soluçante vermelho rosto e uma palidez qualquer ela<br />

parecia estar... bem. O qual apoiava minha teoria de que os pássaros mantinham<br />

sua palavra, sempre e quando mantiv<strong>é</strong>ssemos a nossa. — Você está bem?<br />

— Sim. — Kaci limpou as frescas lágrimas de seu rosto com uma manga de<br />

sua camisa, a mesma que estava usando desde o dia em que fomos capturadas.<br />

— Só estou pronta para voltar pra casa. — logo ela piscou e franziu o cenho,<br />

olhando para a minha bochecha. — O que aconteceu com seu rosto?<br />

— Estou bem. Apenas dói. Só uma lembrança de um velho amigo.<br />

Seu cenho se aprofundou e sua mão se elevou como se fosse tocar a crosta,<br />

mas ela pensou melhor e apertou as mãos juntas. — É uma brincadeira, certo?<br />

Uma brincadeira de muito mau gosto. — Tudo bem, ele <strong>não</strong> era meu amigo.<br />

Era mais como um inimigo mortal. Agora, de todas as formas.<br />

— Você o matou? – Kaci perguntou e agora foi minha vez de franzir o cenho.<br />

— Lógico que <strong>não</strong>! — embora, aparentemente, estava sozinha quanto a<br />

acreditar que era correto deixá-lo viver. — Mas, ele vai ter bastante dor por um<br />

longo tempo.<br />

— Bom. — Kaci olhou a multidão de Thunderbirds que nos observavam de<br />

perto. Escutando. Esperando. — Podemos ir para casa agora? — sussurrou ela.<br />

— Venha aqui. — gritou uma voz estridente e desigual em respeito a sua<br />

idade, chamando nossa atenção para o outro extremo da sala, onde havia me<br />

dirigido da última vez a uma multidão menor.<br />

— Em um minuto. — sussurrei a Kaci, e movi Lance para frente. Ele foi<br />

lentamente, ainda erguido, mas me olhando como se fosse sua tábua de salvação.<br />

Uma verdadeira e latente ironia. Como ele poderia me olhar assim, como se<br />

supostamente eu fosse salvá-lo quando na verdade ia intercambiá-lo?<br />

Talvez devesse tê-lo nocauteado.<br />

— Quem <strong>é</strong> esse? — Kaci o olhou abertamente.<br />

— Este <strong>é</strong> Lance Pierce. — disse, e ele prendeu e manteve o olhar em Kaci<br />

como se sua curiosidade <strong>não</strong> pudesse ser negada. Talvez quisesse saber por quem<br />

iria trocar sua vida. Ou talvez, como a maioria dos Toms, ele <strong>não</strong> podia voltar seu<br />

257


olhar a uma jovem Tabby, o tesouro dos guardiões, e de fato, de todos os Toms, a<br />

quem os ensinava desde a infância a proteger.<br />

Os olhos de Kaci se ampliaram e ela se aproximou a mim no momento que o<br />

circulo de pássaros que nos rodeava ficou mais estrito, nos pastoreando para o<br />

final da sala. — O irmão de Parker?<br />

— Sim. — o chão da enorme sala estava cheio de pássaros agora, e apenas<br />

se via um pedaço de piso vazio, mas para o circulo de 5 metros que nos rodeava,<br />

nos mostravam no centro de sua enervante atenção. — Ele matou a Finn. — um<br />

só olhar confirmou minha suspeita: os quartos e as prateleiras tinham sido<br />

abandonados. Todo mundo queria participar.<br />

— O que vai acontecer com ele?<br />

Engoli, logo me endireitei, tentando me distanciar emocionalmente – e Kaci –<br />

do que aconteceria a seguir. Esperava que fosse depois que fossemos embora. —<br />

Isso <strong>não</strong> depende de nós.<br />

— Faythe Sanders? — uma voz atrás da gente nos chamou desta vez e gireime,<br />

mas era muito tarde para identificar o orador. E assim começava...<br />

— Sim?<br />

— Apresente sua evidência para satisfazer o Bando e você e sua Gatinha<br />

poderão ir. — vi ao orador desta vez, um homem com a aparência mais<br />

humanizada, com só um pequeno indicio de um bico na protuberância de seu<br />

nariz.<br />

— Com certeza, <strong>não</strong> tem problema. — engoli fortemente e puxei Kaci mais<br />

perto. Soava muito <strong>fácil</strong>. Como exatamente eles definiam “satisfazer”?<br />

— Este <strong>é</strong> Lance Pierce. — fiz um gesto para ele com uma mão, mas ele nem<br />

sequer deu um olhar para mim, depois de que evidentemente decidiu que eu era o<br />

inimigo. Igual a todos. Mas ele <strong>não</strong> tinha aonde ir. Respirei fortemente e olhei<br />

fixamente para frente, evitando olhar a qualquer pássaro em particular, posto que<br />

eu estava falando com todos de uma vez. E porque estava longe de estar cômoda<br />

com minha decisão. Com o que tinha que fazer para sair viva dali, levando a Kaci<br />

comigo.<br />

— Lance matou o seu pássaro. Finn.<br />

258


Capítulo 31<br />

A reação da multidão foi imediata e aterrorizante. Cada pássaro na sala<br />

parecia repentinamente inchar, como se todos juntos pudessem sugar o ar da<br />

sala, sufocando o resto de nós. Por<strong>é</strong>m, o ar <strong>não</strong> foi à causa da alteração.<br />

Foi as penas.<br />

De repente todo mundo, menos nós três tinha penas. E garras. E garras nas<br />

asas. E a maioria tinha afiados e curvados bicos. Tudo no espaço de uma única<br />

respiração.<br />

Lance respirou assustado e saltou para trás. Penas farfalharam atrás dele e<br />

ele se virou e se virou novamente. Nunca tinha visto aviário, a mágica Mudança, e<br />

eu só podia imaginar o quão terrível devia ser ver o espetáculo pela primeira vez,<br />

ampliado cinco dezenas. Um galo se aproximou perto o suficiente para usar suas<br />

garras para cortar a fita das mãos de Lance.<br />

Finalmente, Lance exalou e fez um visível esforço para recuperar a calma.<br />

— Você vai falar por si mesmo? — perguntou uma Thunderbird idosa, uma<br />

de apenas meia dúzia que ainda ostentava uma boca humana. Seus brilhantes<br />

olhos frios de pássaro caíram sobre Lance.<br />

— Eu vou. — ele disse, e eu me virei para olhar para ele, surpresa com a<br />

força de sua voz. Fiquei ainda mais surpresa com sua postura firma, e olhar direto<br />

para o último pássaro que tinha falado. Ele tinha levado meu conselho a<br />

s<strong>é</strong>rio. Nunca acabam as surpresas?<br />

— Hey, Lance, apenas PTI (Para Tua Informação). — eu disse, e quando sua<br />

cabeça estava voltada para mim, eu vi que o medo havia sido enterrado atrás de<br />

seus olhos, e substituído por uma raiva quente, madura, pronta para estourar por<br />

ele como fruto podre por meio de sua própria pele.<br />

Oh, merda. Esse era um olhar perigoso. Um que dizia que ele sabia que ia<br />

morrer, mas <strong>não</strong> tornaria isso <strong>fácil</strong>.<br />

Lance <strong>não</strong> estava tranquilo, estava contido. E com muito esforço,<br />

certamente. Qualquer semelhança com seu irmão que eu tinha visto nele tinha<br />

desaparecido. Parker <strong>não</strong> era capaz de muita raiva.<br />

Mas, Parker <strong>não</strong> era capaz de deixar um Pride inteiro de pessoas inocentes,<br />

incluindo seu próprio irmão, pagar por seus erros.<br />

— Sim? — Lance levantou uma sobrancelha analisadora para mim.<br />

— Você deve saber que eles <strong>não</strong> têm Alfa. — eu disse cautelosamente, me<br />

movendo sutilmente para ficar na frente de Kaci. — Independentemente de quem<br />

fala com você, você está realmente falando a todos eles, por isso <strong>não</strong> aja como de<br />

costume.<br />

259


Lance assentiu secamente, em seguida, virou-se para o pássaro que tinha se<br />

dirigido a ele, me despedindo com aparente facilidade, embora eu achasse muito<br />

mais difícil de retribuir.<br />

— O único direito que você tem dentro do nosso ninho <strong>é</strong> o direito de falar em<br />

sua própria defesa. Sucintamente. — disse outro pássaro, este um homem mais<br />

jovem cujas garras clicavam mais e mais no chão, como um metrônomo contando<br />

os últimos segundos da vida de Lance. — O que você diz?<br />

Lance inalou, e então começou a falar, olhando de um para o outro pássaro<br />

que ainda tinha algumas características humanas. Ele sequer olhou para aqueles<br />

que tinham Mudado completamente, como se para mantê-los fora de vista, ele<br />

poderia realmente colocá-los fora da mente.<br />

— Na semana passada, eu matei um Thunderbird em uma disputa sobre<br />

uma refeição. Segundo a lei <strong>Werecat</strong>, deveria ter sido minha decisão querer ou <strong>não</strong><br />

compartilhar minha refeição e eu nunca ofereci... uma parte da minha caça para<br />

Finn. Pela nossa lei, minhas ações são justificadas, mas eu entendo que os seus<br />

costumes são diferentes. Eu quebrei uma das suas regras, e tudo o que posso<br />

fazer <strong>é</strong> pedir misericórdia e alegar ignorância de suas leis. Eu juro que <strong>não</strong> tinha<br />

ideia de que nossas culturas diferiam de formas tão dramática.<br />

— Sua cultura <strong>é</strong> irrelevante aqui. — disse outro dos pássaros, enquanto a<br />

mulher ao lado dele estalava o bico de novo e de novo. — Suas leis são apenas<br />

palavras caindo em ouvidos surdos. Você matou um dos nossos no seu próprio<br />

território, e ignorância das nossas práticas <strong>não</strong> <strong>é</strong> desculpa.<br />

Eu sabia pelo pouco que tinha falado com Kai que os Thunderbirds estavam<br />

cientes dos limites territoriais das outras esp<strong>é</strong>cies, embora apenas para evitar<br />

encontros desnecessários.<br />

— Eu <strong>não</strong> o teria matado se <strong>não</strong> ele tivesse lutado de volta! — Lance<br />

retrucou, gesticulando com raiva com o punho, e um alarme soou em minha<br />

cabeça.<br />

voz.<br />

Cale-se! O grito silencioso ecoou na minha cabeça, mas eu <strong>não</strong> podia dar-lhe<br />

Não era minha obrigação defendê-lo, <strong>não</strong> só porque nós compartilhamos<br />

uma esp<strong>é</strong>cie. Lance estava errado, tanto pelo crime quanto por deixar Malone nos<br />

acusar. Pessoas morreram por causa dele.<br />

— Você pretende sugerir que o assassinato de Finn foi culpa dele mesmo? —<br />

perguntou uma mulher jovem, seus olhos castanhos queimando em fúria. — Que<br />

se ele tivesse se submetido a práticas estranhas de um intruso em sua própria<br />

terra, ele ainda estaria vivo?<br />

— Pode ser. — disse um pássaro idoso do sexo masculino, cuja cabeça tinha<br />

começado a ter penas cinzentas. — Mas nenhum de nós iria se rebaixar por mais<br />

alguns anos na terra. Quão boa <strong>é</strong> a vida se a vive em desonra?<br />

Lance <strong>não</strong> tinha resposta para isso. Ele tinha exatamente o que os<br />

Thunderbirds <strong>não</strong> podiam suportar: ele sacrificou sua honra por sua vida. Pior, ele<br />

tinha deixado que os outros pagassem por seus crimes.<br />

260


Uma pequena mulher se adiantou em garras pequenas e afiadas,<br />

movimentos de pássaros a cada passo. — Você tem alguma coisa a dizer sobre si<br />

mesmo?<br />

Lance hesitou, com as mãos cruzadas nas costas. — Só que eu estou<br />

realmente arrependido pelo que eu fiz para Finn e pelo que eu permiti que<br />

acontecesse com o Pride Sul Central. Eles são totalmente inocentes.<br />

Minha respiração foi tão desigual e sincera que ecoou no silêncio. Kaci<br />

apertou minha mão, e eu sabia sem olhar que ela estava sorrindo para mim. A<br />

maior parte da tensão havia saído de sua postura com a admissão de Lance.<br />

O pequeno pássaro fêmea se virou para mim. — Faythe Sanders, você e sua<br />

Gatinha podem ir. Coyt e Cade irão levá-las para baixo.<br />

— Obrigada. — olhei para Lance e então me virei para a porta. Mas o aperto<br />

de Kaci na minha mão me fez parar abruptamente.<br />

— E ele? — ela acenou para Lance.<br />

— Isso está fora de nossas mãos, Kaci. — eu disse, puxando-a para frente.<br />

— Venha.<br />

Ela balançou a cabeça e manteve-se firme. — Mas nós <strong>não</strong> podemos deixálo.<br />

O que eles vão fazer com ele?<br />

— Você deve ouvir a sua mãe. — Brynn disse, e eu olhei para cima para vêla<br />

em p<strong>é</strong> na beira da multidão, com sua filha sempre grudada em seu quadril. —<br />

Lance Pierce está condenado à morte por seus crimes, e você <strong>não</strong> quer ver isso.<br />

Ela estava tentando ajudar, eu percebi. Ela considerava Kaci minha filha,<br />

embora <strong>não</strong> biologicamente, e ela estava tentando ajudar, de uma mãe para<br />

outra. Infelizmente, fora do aviário gigante, dizer a uma criança que algu<strong>é</strong>m está<br />

prestes a ser executado <strong>não</strong> <strong>é</strong> uma boa maneira de acalmar a está criança.<br />

— O quê? — Kaci deu um guincho digno de um pássaro. — Eles vão matálo,<br />

Faythe. Você tem que ajudar.<br />

Eu a puxei para mim e dei-lhe um olhar severo. — Kaci, <strong>não</strong> há nada que eu<br />

possa fazer por Lance. Nós todos temos que pagar por nossos erros, e Lance<br />

cometeu um grande.<br />

— Eu tamb<strong>é</strong>m! — ela olhou para ele e depois para mim. — Eu errei<br />

muito. Pessoas morreram, mas ningu<strong>é</strong>m me matou, porque eu <strong>não</strong> sabia o que<br />

estava fazendo. Foi isso o que você disse. Você disse que eu <strong>não</strong> era realmente<br />

culpada se <strong>não</strong> sabia o que estava fazendo. E ele <strong>não</strong> sabia o que estava fazendo,<br />

tamb<strong>é</strong>m. Você o ouviu. Ele <strong>não</strong> sabia da lei Thunderbird, então <strong>é</strong> inocente, certo?<br />

Eu balancei a cabeça lentamente e fechei os olhos, tentando descobrir como<br />

explicar isso. — Não <strong>é</strong> o mesmo, Kaci. Lance... Vou explicar mais tarde,<br />

ok? Quando chegarmos em casa. Venha. — virei-me para a porta, e novamente ela<br />

se recusou a se mover.<br />

— Não. Você tem que ajudá-lo, Faythe. Esse <strong>é</strong> o seu trabalho. Nós <strong>não</strong><br />

podemos deixá-lo aqui.<br />

Meu coração doeu por ela, e por minha própria relutância em entregar um<br />

companheiro <strong>Werecat</strong> para ser executado. Mas eu tinha tomado a minha decisão e<br />

261


era tarde demais para mudar de ideia. — Kaci, meu trabalho era protegê-la, e eu<br />

fiz isso. Temos que ir. Marc e Jace estão nos esperando lá fora.<br />

Mas ela apenas balançou a cabeça e virou-se para Brynn. — Como?<br />

— Como o quê? — Brynn perguntou e bebê pássaro em seu colo mudou o<br />

nariz e a boca para um pequeno e afiado bico e começou a morder o braço de sua<br />

mãe, em uma tentativa de liberdade.<br />

— Como ele vai morrer? — Kaci ficou ereta e alta, como se esperasse uma<br />

informação desagradável. Informação que eu <strong>não</strong> queria que ela tivesse mesmo eu<br />

<strong>não</strong> sabendo exatamente o que era.<br />

— Ele vai ser comido, <strong>é</strong> claro. — distraída, Brynn continha com dificuldade<br />

sua filha no chão enquanto falava, e claramente <strong>não</strong> tinha nenhuma ideia do efeito<br />

que suas palavras teriam em Kaci. — Consumido pela família de sua vítima.<br />

Oh, inferno...<br />

Os olhos de Kaci se arregalaram e sua boca abria e fechava, como se a sua<br />

resposta tinha sido roubada pelo horror. — Vocês vão comê-lo?<br />

Tal sentença era incomum entre os <strong>Werecat</strong>s. Os devoradores de homens<br />

estavam entre os mais odiados de nossos criminosos, e os mais severamente<br />

punidos antes de serem executados. E a ideia foi de especial horror para Kaci,<br />

porque alguns meses antes; faminta e fora de sua mente, ela havia comido<br />

parcialmente um caçador que ela havia matado enquanto estava presa na forma<br />

de gato.<br />

Nada do que Brynn pudesse ter dito a teria incomodado mais.<br />

Ficamos todos olhando para Kaci, eu preocupada, tentando levá-la at<strong>é</strong> a<br />

porta, os pássaros com curiosidade distante. Obviamente eles <strong>não</strong> conseguiam<br />

entender sua reação. Mas tão focados como estávamos na jovem Gata quase<br />

hist<strong>é</strong>rica que ningu<strong>é</strong>m prestou muita atenção ao bebê de Brynn, correndo de<br />

pássaro para pássaro, como se ela estivesse brincando em uma grande floresta.<br />

Ningu<strong>é</strong>m prestou atenção at<strong>é</strong> que ela começou gritou.<br />

Cada cabeça na sala virou e Brynn engasgou em horror. — Wren!<br />

Lance estava no centro do círculo, segurando a criança pela cintura<br />

atualmente humana, suas pernas finas e garras balançando, segurando seu<br />

pescoço com sua mão grande. — Prometa que vai me deixar ir, ou eu vou matála.<br />

Eu juro que vou fazer isso.<br />

— Lance... — eu o adverti, enquanto todos os pássaros que tinham mantido<br />

uma s<strong>é</strong>rie de características humanas Mudaram completamente para pássaro e a<br />

multidão inteira pressionou sutilmente agressiva em direção a ele. — Você <strong>não</strong><br />

quer fazer isso. Esta <strong>não</strong> <strong>é</strong> a maneira de colocá-los em uma boa posição.<br />

— Eles <strong>não</strong> têm uma boa posição! — ele retrucou, me olhando brevemente<br />

antes de voltar sua atenção para os pássaros que apresentavam a ameaça mais<br />

imediata. — Estou falando s<strong>é</strong>rio. Para trás ou eu arranco seu braço direito. — sua<br />

mão deslizou do pescoço para o cotovelo de Wren, e a criança riu como se ele lhe<br />

fizesse cócegas. Então, como em resposta ao seu toque, seus braços Mudaram<br />

para pequenas e lindas asas emplumadas.<br />

262


Lance estremeceu pela surpresa e deixou o braço cair, em seguida, agarrou<br />

o pescoço de novo antes que algu<strong>é</strong>m tivesse a chance de fazer um movimento para<br />

a criança. Por pura sorte desajeitada, ele tinha conseguido colocá-la de costas<br />

para ele, e todas as suas partes mais perigosas, como o bico e as garras, estavam<br />

de costas. Poderia segurá-la por um bom tempo, se fosse necessário.<br />

Kaci fez um barulho estranho e eu a olhei de soslaio para vê-la olhando para<br />

Lance com horror e fúria. Ela parecia desapontada e eu me senti quase tão mal<br />

por ela como pela criança que Lance tinha como ref<strong>é</strong>m.<br />

Wren começou a lutar, obviamente cansada de qualquer brincadeira que<br />

estavam brincando. Ela bateu suas asas, mas <strong>não</strong> conseguiu chegar para trás o<br />

suficiente para incomodar Lance. Quando isso <strong>não</strong> funcionou, ela fechou os olhos<br />

em concentração, e uma asa passou quase que instantaneamente para um braço<br />

gordinho, embora o outro permanecesse obstinadamente com penas.<br />

Wren se agitou em um fluxo inarticulado de palavras sem sentido e<br />

grasnados, e os agitou incompatíveis no ar.<br />

— Lance, o que você vai conseguir com isso? — mantive a calma, esperando<br />

falar com ele racionalmente.<br />

— Sobreviver. — Lance cuspiu, me olhando brevemente. Então, seu foco<br />

passou de Thunderbird a Thunderbird, embora ainda falasse comigo. — Vocês<br />

disseram que havia honra em sua palavra, então eu vou soltá-la se me<br />

prometerem que me deixarão ir.<br />

Eu comecei a lhe dizer que <strong>não</strong> funcionava assim. Que eles <strong>não</strong> iam sentir<br />

nenhuma obrigação de fazer uma promessa para algu<strong>é</strong>m que já havia<br />

demonstrado vergonha por si mesmo. Eles haviam quebrado a promessa de<br />

Malone por essa mesma razão. Mas então eu percebi que explicar só iria piorar as<br />

coisas. Deixaria Lance mais desesperado. Em vez disso eu me virei para<br />

Brynn. Ou, para o pássaro que eu pensei que fosse Brynn. Era difícil saber<br />

quando ningu<strong>é</strong>m tinha um rosto humano.<br />

— Brynn, prometa. — mas o pássaro bateu seu bico pontudo, terrivelmente<br />

perto do meu braço. Acho que <strong>é</strong> um <strong>não</strong>. — Apenas prometa que o deixara ir e ele<br />

colocará sua filha no chão. — Depois, podem matá-lo quando estiver livre. Acho<br />

que nem mesmo Kaci se oporia agora, depois de vê-lo ameaçar matar uma<br />

pequena criança.<br />

— Não. — disse uma voz vinda de vários metros à minha direita, e me virei<br />

para encontrar a cara de Brynn olhando para mim, apontando em um corpo de<br />

pássaro, sua postura irritada e agressiva. Droga. Pássaro errado. Encolhi os<br />

ombros em modo de desculpa, para a mulher que eu tinha abordado por engano e<br />

me virei para Brynn, tentando transmitir a importância do que eu estava dizendo<br />

com um intenso contato visual. Mas se ela entendeu minha mensagem, <strong>não</strong> vi<br />

nenhum sinal. — Nós <strong>não</strong> vamos dar a nossa palavra de honra para um homem<br />

com tão pouca honra. Isto envergonharia todos nós. De que serviria as nossas<br />

vidas se a nossa palavra <strong>não</strong> tem valor?<br />

Droga! Ela estava falando s<strong>é</strong>rio? Ela deixaria seu filho morrer antes de<br />

manchar sua reputação?<br />

263


Lance virou-se para a porta então eu o vi de perfil, e seus dedos se<br />

apertaram em torno da garganta da criança. Wren gritou e procurou por sua mãe,<br />

mas o braço de Lance estava fechado em sua cintura. — Deixe-me ir ou eu a mato.<br />

— disse para os dois pássaros que bloqueavam seu caminho. — Não tenho nada a<br />

perder se vou morrer de qualquer jeito, certo? — seus olhos brilhavam com pânico<br />

e se eu <strong>não</strong> o conhecesse melhor, eu poderia jurar que ele estava febril. Ele havia<br />

realmente perdido.<br />

<strong>As</strong> três aves diretamente em frente a ele, olharam ao redor e para o Bando<br />

em busca de um consenso, e embora eu <strong>não</strong> pudesse ler a linguagem corporal e os<br />

olhares silenciosos, a decisão estava nítida. Os dois machos foram para a<br />

esquerda e a fêmea para a direita. O caminho para porta principal estava<br />

desimpedida e cerca de dez metros.<br />

— Vocês devem saber que, como esp<strong>é</strong>cie, somos muito rápidos. — Lance<br />

arrastou os p<strong>é</strong>s lentamente, olhando da cara de um pássaro para outro pássaro.<br />

Quando garras bateram no chão atrás dele, ele olhou pelo ombro sem afrouxar o<br />

controle sobre o bebê. — Podem vir e provavelmente me matar, mas <strong>não</strong> antes de<br />

eu quebrar o pescoço dele.<br />

Vários dos Thunderbirds me olharam, provavelmente para demonstrar sua<br />

afirmação, e eu só pude concordar. Os reflexos felinos são fenomenais e os de<br />

Lance, provavelmente, um pouco melhor do que da maioria, considerando que ele<br />

tinha matado um Thunderbird adulto, sozinho, com apenas um arranhão para<br />

provar.<br />

Os pássaros arrastaram os p<strong>é</strong>s em uníssono, balançando a cabeça,<br />

cacarejando e ficando agressivos, mas ningu<strong>é</strong>m se aproximou muito dele.<br />

— Lance? — eu disse, anunciando minha presença quando me aproximei<br />

dele com cuidado, Kaci segurando minha mão esquerda. — O que você está<br />

fazendo? Você <strong>não</strong> pode sair. Não tem para onde ir.<br />

Ele <strong>não</strong> respondeu, nem se virou, e eu tinha quase certeza que ele <strong>não</strong> sabia<br />

qual seria seu próximo movimento. Voava seguindo seus instintos, e como<br />

literalmente <strong>não</strong> podia voar, <strong>não</strong> havia uma forma adequada de acabar este<br />

confronto.<br />

Lance estava a cinco metros da varanda agora, e Wren lutava<br />

seriamente. Ele estava com o rosto vermelho, seus gritos marcados por um<br />

guincho ocasional e o choro aviário de alta frequência.<br />

— Lance, deixa a criança no chão. Não machucaria uma criança. O que<br />

aconteceu com Finn foi... um acidente. — escolhi minhas palavras com cuidado,<br />

com medo que se eu me colocasse do seu lado para falar com ele para deixar a<br />

criança ir, os cinquenta Thunderbirds atrás de mim poderiam me pegar com<br />

minhas palavras. Eles <strong>não</strong> parecem compreender a arte da manipulação. — Mas<br />

você <strong>não</strong> <strong>é</strong> um assassino de bebês. Não será capaz de viver consigo mesmo se você<br />

fizer isto.<br />

Ele ficou rígido, e a criança gritou quando seu braço se apertou ao redor de<br />

sua cintura. — Eu <strong>não</strong> vou viver de qualquer jeito.<br />

264


— Ela <strong>é</strong> um bebê! — Kaci exclamou, e me olhou com surpresa. — Como você<br />

pode matá-la? Não importa o que mais você tenha feito, <strong>não</strong> machuca bebês.<br />

Apenas os monstros matam crianças.<br />

Apertei sua mão, tão horrorizada quanto ela. O que havia acontecido com o<br />

irmão mais novo de Parker? Malone tinha corrompido todos os que tinham tido<br />

contato com ele? Ou Lance poderia estar verdadeiramente morto de medo? Poderia<br />

o simples medo transformar um ordinário, por<strong>é</strong>m fraco homem em um monstro?<br />

Lance entrou pela porta aberta e sobre a borda. Kaci e eu o seguimos, e ela<br />

soltou a minha mão para empurrá-la de volta para a parede da frente, pouco<br />

disposta a ir perto da borda.<br />

Quatro Thunderbirds nos seguiram, incluindo Brynn, Cade e Coyt, e dezenas<br />

mais nos observavam atrav<strong>é</strong>s da porta e das grandes janelas, suas garras<br />

arranhando o chão.<br />

Prendi a respiração quando Lance se aproximou da borda, e finalmente para<br />

um p<strong>é</strong> no extremo do fim da varanda, virou-se e se dirigiu aos três que haviam<br />

vindo conosco. — Levem-me. Levem-me e prometam que me deixarão ir, e eu vou<br />

devolver o bebê. Eu juro.<br />

Desta vez, os pássaros <strong>não</strong> tinham que consultar. Foi Brynn quem<br />

respondeu, procurando por seu bebê, agora com braços humanos. — Não vai sair<br />

com vida do nosso território, e se matar meu bebê, verá como vamos comer partes<br />

do seu corpo por vários dias. Sua morte será tão lenta e dolorosa que você vai<br />

implorar para que chegue rápido.<br />

Lance a olhou boquiaberto, os olhos vidrados em estado de choque, o<br />

ombros caídos sob o peso do inevitável. Então, antes que eu pudesse processar a<br />

repentina recuperação, os cantos de sua boca subiram em uma forma louca, deu<br />

um passo para trás e saiu pela varanda, ainda com a criança.<br />

265


Capítulo 32<br />

— Não! — Brynn se lançou da varanda, fazendo suas asas crescer no ar.<br />

Instantes depois, uma violenta rajada soprou meu cabelo sobre meu rosto e<br />

carne com penas bateu no meu braço com tanta força que eu empurrada dois<br />

passos para frente. Cade, ou talvez Coyt, mergulhou da beira da varanda.<br />

Eu me segurei ao poste de apoio da varanda e olhei para baixo. Cade, em<br />

seu salto, alcançou Brynn e sua trêmula agitação. Jogou-se sobre Lance e Wren<br />

antes que eu pudesse piscar duas vezes. Com as garras estendidas, segurou Lance<br />

por ambos os ombros e estendeu as asas para desacelerar sua descida.<br />

Mas era tarde demais, e Lance era muito pesado.<br />

Cade foi desequilibrado pelo peso repentino que levava e virou à esquerda,<br />

lutando para subir com sua carga. Em seguida, tentou se estabilizar e bateu as<br />

asas como louco em direção à linha de árvore. Outra virada repentina evitou que<br />

Cade e sua carga batessem contra as árvores, mas parou seu progresso difícil. A<br />

poucos metros do chão, deu um último e poderoso bater de suas asas, e ele e sua<br />

carga subiram cambaleantes. Então, quando eles começaram a cair, ele se virou<br />

para um dos lados, usando uma enorme asa para proteger Lance, e, portanto<br />

Wren, do solo que logo se encontraria com eles.<br />

O trio aterrissou com força, e mesmo de 200 p<strong>é</strong>s de altura, ouvi o abafado<br />

ruído do impacto e o grito de agonia de Cade. Ele estava ferido, pouco ferido, mas<br />

graças ao seu sacrifício, seus passageiros involuntários estavam bem.<br />

Lance levantou-se e empurrou o corpo do pássaro, ganhando outro terrível<br />

grasnado de Cade. <strong>As</strong>sim, enquanto Brynn aterrissava a trinta metros de lá, Lance<br />

pisou sobre a imensa e quebrado asa e correu para a floresta, com Wren ainda nos<br />

braços e gritando com a cabeça meio-humana.<br />

Merda! A floresta era o nosso quintal, e eu presumia que, como os<br />

Thunderbirds <strong>não</strong> podem voar em espaço tão limitados, então <strong>não</strong> passavam muito<br />

tempo na floresta, mesmo em sua forma humana. Brynn nunca pegaria Lance e<br />

nem o faria qualquer um da meia dúzia de outros pássaros que passaram por mim<br />

a toda a velocidade e saltaram da borda da varanda.<br />

Embaixo, Marc e Jace alternavam o olhar de nós lá em cima e a procissão de<br />

pássaros que pulavam, mas eu <strong>não</strong> podia ver suas expressões com a fraca luz e de<br />

tal distância. No entanto, nenhum deles parecia ansioso para entrar na floresta<br />

com os poucos pássaros que Mudavam e correram nus para a floresta. Não que eu<br />

pudesse culpá-los. Eles <strong>não</strong> tinham a menor ideia do que havia acontecido.<br />

266


— Ei! — peguei a asa do pássaro que passou mais perto de mim antes que<br />

ele pudesse saltar da varanda, e quase ganho uma mordida na minha mão quando<br />

ele se virou e bateu seu bico para mim. Então, ele mergulhou da varanda, subindo<br />

para a linha de imensas árvores, com as asas estendidas.<br />

Fren<strong>é</strong>tica, me virei, ainda segurando o poste, e vi Kaci apertada contra a<br />

frente do pr<strong>é</strong>dio, com os olhos cheios de terror enquanto pássaro atrás de pássaro<br />

se jogava ao seu lado. Ao seu lado de p<strong>é</strong>, estava um pássaro macho familiar, nu e<br />

em sua forma quase completamente humana. — Coyt! — tive que gritar para ser<br />

ouvida sobre o barulho ensurdecedor de asas, mas o pássaro olhou para mim. Eu<br />

<strong>não</strong> tinha a menos ideia de por que ele <strong>não</strong> havia se juntado à procissão, e <strong>não</strong><br />

havia tempo para lhe perguntar. — Leve-me para baixo. Por favor!<br />

Ele balançou a cabeça, e eu percebi que estava nos protegendo. E, de<br />

repente eu pensei que talvez eles <strong>não</strong> nos deixassem ir se Lance <strong>não</strong> fosse<br />

capturado. De alguma forma, eu tinha certeza que, se a minha prova fosse embora<br />

junto com um Thunderbird bebê, isso <strong>não</strong> cumpriria a minha parte do acordo.<br />

Abri caminho atrav<strong>é</strong>s dos pássaros que ainda esperavam para decolar, e<br />

coloquei uma mão no ombro de Kaci para confortá-la, enquanto olhava para<br />

Coyt. — Leve-me para baixo. Vocês nunca vão encontrar Lance na floresta, mas eu<br />

posso fazê-lo. Eu posso trazer Wren.<br />

Coyt hesitou, olhando ao redor como se estivesse procurando um consenso<br />

antes de tomar uma decisão, sozinho. Mas restava menos de uma dúzia de<br />

pássaros adultos na varanda, e ainda menos do que isso do lado de dentro e<br />

nenhum deles prestava atenção em nós.<br />

Revirei os olhos e peguei-lhe o braço para chamar sua atenção. — Quer ter<br />

Wren de volta? Desça-me.<br />

Por fim, ele concordou. Sem uma palavra, Coyt me pegou pelo braço<br />

esquerdo e me empurrou para a beira da varanda. — Espere! — eu gritei enquanto<br />

sua mão se transformava em uma garra e as penas brotavam de seus braços. —<br />

Ela tamb<strong>é</strong>m! Algu<strong>é</strong>m a leve para os... meus homens.<br />

Coyt olhou para Kaci, que agora estava nos olhando com horror, congelada<br />

com o choque e medo. Sem dúvida, ela havia esperado um resgate mais pacífico e<br />

tranquilo, mas eu <strong>não</strong> iria deixá-la no ninho esperando por um transporte mais<br />

confortável.<br />

Coyt chamou o pássaro mais próximo, e sua voz foi estridente quando falou<br />

enquanto apontava para Kaci. — Desça a Gatinha.<br />

O outro pássaro assentiu abruptamente e pisou forte na extremidade<br />

distante da longa varanda, onde havia espaço suficiente para estender suas asas,<br />

literalmente. Então ele se levantou no ar, bem ali na varanda, subindo quase at<strong>é</strong> o<br />

teto com três golpes poderosos de suas asas.<br />

267


Ele mergulhou e se dirigiu para Kaci, mas ela se encolheu, afastando-se de<br />

suas garras, recuando para a porta.<br />

— Kaci! Ele vai te levar para Marc e Jace. Vamos!<br />

Ela respirou fundo, em seguida, balançou a cabeça e deu um passo adiante,<br />

baseando sua confiança em nada mais do que o fato de que eu tinha pedido que<br />

para ela fizesse algo. Acreditando que eu nunca permitiria que ela se machucasse.<br />

O pássaro agarrou Kaci pelos braços e jogaram-se, os dois, da varanda. Kaci<br />

gritou por todo o caminho at<strong>é</strong> o chão.<br />

Eu <strong>não</strong> esperei para vê-los pousar. Em vez disso, virei-me para Coyt. — Há<br />

mais uma coisa: os Gatos caçam principalmente pela audição, por isso <strong>não</strong><br />

poderei encontrá-los com todo o Bando correndo pela floresta. Preciso que você<br />

ordene a retirada para que eu possa ouvir Lance e Wren.<br />

Ele franziu a testa. — Nós <strong>não</strong> vamos parar de procurar a filha de Brynn.<br />

Dei de ombros e olhei para ele, tentando transmitir competência e confiança<br />

em meus olhos. — Bem, então <strong>não</strong> a encontrará. Eu sou sua melhor chance em<br />

ter Wren de volta viva, portanto ou chame para uma retirada ou comecem a<br />

preparar outro funeral. O que será?<br />

O cenho de Coyt se aprofundou ainda mais enquanto considerava. Levou<br />

três longos segundos - mais-perdido - at<strong>é</strong> que se decidiu. — Eu os chamarei.<br />

— Ótimo. — levantei meus braços, me preparando para o voo. — Você pode<br />

me descer, sozinho? — perguntei, lembrando-me de que antes tinha requerido<br />

dois pássaros para equilibrar meu peso de forma segura.<br />

Coyt deu de ombros e levantou voo. — Descer <strong>é</strong> mais <strong>fácil</strong> do que subir.<br />

Não inspira a minha confiança exatamente...<br />

Mas antes que eu pudesse protestar, ele se levantou no ar e pegou meus<br />

braços com suas garras. Um instante depois nós estávamos no ar, com o meu<br />

cabelo girando em torno do meu rosto e pescoço, meus braços machucados por<br />

seu violento agarre.<br />

Nós caímos mais do que voamos, e Coyt usou suas enormes asas como um<br />

planador, retardando nossa descida e indo em direção a linha das árvores. Vários<br />

assustadores segundos depois, me deixou cair a dois p<strong>é</strong>s do chão, em seguida,<br />

bateu no chão atrás de mim, já meio humano. Olhei para trás para ver Kaci<br />

segurando-se fortemente em Jace no meio da estrada, e Marc correndo em minha<br />

direção, iluminado pelos últimos raios do sol. Pode ser que ele estivesse furioso<br />

comigo, mas <strong>não</strong> permitiria que eu me embrenhasse na floresta sozinha.<br />

Agachei-me na frente das árvores e virei bruscamente para a esquerda da<br />

formação que os pássaros em sua forma meio-humana usavam para evitar ser<br />

pisoteada. Minha roupa bateu no chão, e eu tremi, a nudez em fevereiro <strong>é</strong><br />

268


aramente divertida, então eu caí no chão de quatro, feliz por ter usado o tempo<br />

para conseguir que meu braço direito sarasse completamente. Eu estava na<br />

metade de minha Mudança, gemendo pela dor nas articulações, quando Marc caiu<br />

no chão ao meu lado, já nu.<br />

Eu sou mais rápida em minha Mudança do que ele e eu já tinha uma<br />

vantagem, então quando eu estava na minha forma completamente felina,<br />

esfreguei meu rosto ao seu lado em sinal de saudação, em seguida, pulei para<br />

dentro da floresta, procurando o som de passos apressados ou o choro de Wren.<br />

Infelizmente, a floresta estava cheia de passos. Os pássaros meio humanos<br />

corriam por toda a floresta em torno de mim, e eu <strong>não</strong> podia distinguir os passos<br />

uns dos outros. E se Wren chorasse ou gritasse por sua mãe, eu <strong>não</strong> poderia ouvir<br />

sobre o tumulto.<br />

Porra, Coyt! Sentei-me na estrada e me preparei para dar um rugido tão alto<br />

quanto pude, quando um horrível grito rasgou a noite. Minhas orelhas felinas<br />

eram muito mais sensíveis do que na versão humana, de modo que o chamado de<br />

Coyt aos seus pássaros era como unhas arranhando o quadro negro da minha<br />

sanidade. Choramingando, abaixei a cabeça no chão e as cobri com as minhas<br />

patas at<strong>é</strong> o som parou.<br />

Quando eu endireitei, os passos ainda estavam lá, mas agora andavam na<br />

direção oposta ao caminho onde Jace esperava juntamente com Kaci.<br />

Quando a maioria dos pássaros se foi, eu me aventurei adiante no silêncio,<br />

atenta a qualquer movimento ao meu redor. O sol finalmente tinha se escondido<br />

sob o horizonte durante a minha descida, mas a luz residual refletindo no c<strong>é</strong>u era<br />

mais que suficiente para que eu pudesse ver em minha forma de Gato.<br />

Enquanto andava, classificava cada som que meus ouvidos pegavam. Alguns<br />

pequenos animais correndo no meio do mato. Um coelho? Eles <strong>não</strong> hibernam. O<br />

zumbido do vento por entre os galhos esquel<strong>é</strong>ticos das árvores nuas espalhadas<br />

entre os pinheiros. A conversa distante e o guincho de dúzias de Thunderbirds<br />

irritados se afastando.<br />

Marc juntou-se a minha busca alguns minutos mais tarde, avançando ainda<br />

mais do verdadeiro silêncio sobre o meu próprio ritmo. Juntos, andamos e<br />

ouvimos.<br />

Eu estava prestes a apontar-lhe outra direção - poderíamos cobrir mais<br />

terreno se nos separássemos, quando um grasnado de pássaro perfurou meu<br />

c<strong>é</strong>rebro. Congelei e Marc enrijeceu ao meu lado. O grasnado era muito forte para<br />

ter vindo dos pássaros reunido na estrada fora da floresta.<br />

Wren. Tinha que ser ela, a <strong>não</strong> ser que algum dos Thunderbirds <strong>não</strong> tivesse<br />

escutado o chamado de Coyt.<br />

269


Gemi baixinho, em seguida, joguei minha cabeça na direção de onde vinha o<br />

som. Marc assentiu, e nós andamos juntos.<br />

Dois minutos depois, o grito de uma criança humana veio da mesma<br />

direção, seguido pelo som característico de um galho quebrando sob a pisada de<br />

algu<strong>é</strong>m. Lance estava muito ocupado tentando manter Wren em seus braços para<br />

se preocupar em se mover silenciosamente. Ia conseguir ser pego. Se a tivesse<br />

deixado ir, talvez ele pudesse ter fugido.<br />

Um quarto de milha mais a frente, eu vi um movimento entre duas árvores e<br />

congelei. Marc tamb<strong>é</strong>m viu tamb<strong>é</strong>m. Jogou a cabeça para a direita, e eu assenti.<br />

Nós nos separaríamos e nos aproximaríamos dele de duas direções<br />

opostas. Ele foi para a esquerda, e eu para a direita.<br />

Escolhi o meu caminho em silêncio, atrav<strong>é</strong>s de grupos de arbustos e altos<br />

pinheiros verdes, evitando as árvores secas porque a falta de folhagem me deixaria<br />

exposta e porque os galhos caídos quebrariam sob minhas patas.<br />

Lance passou pela parte rasteira 15 p<strong>é</strong>s adiante, lutando para manter o<br />

controle sobre a pequena chorosa que se contorcia para bicá-lo em um minuto, em<br />

seguida se jogava para enredar seus dedos humanos no cabelo dele. <strong>As</strong>sustada e<br />

irritada, a pequena soltou um grasnado destruidor de tímpanos, sem abrir mão do<br />

cabelo. Ele se sacudiu em surpresa, e ela conseguiu arrancar-lhe dois punhados<br />

grandes de cabelo escuro.<br />

Lance gritou de dor e parou para reposicionar a criança. Ele tentou<br />

cantarolar por quase um minuto enquanto andava, e quando isso <strong>não</strong> a acalmou,<br />

ele começou a gritar. — Cale-se! Apenas cale-se por um minuto, fecha seu maldito<br />

bico!<br />

Um rosnado começou a se formar na minha garganta, e eu lutei para engolilo<br />

para <strong>não</strong> me expor, embora eu tivesse s<strong>é</strong>rias dúvidas de que ele pudesse me<br />

ouvir sobre os gritos de Wren e dos seus próprios.<br />

Eu me mantive em movimento, seguindo Lance sem ser vista, à espera que<br />

Marc estivesse em seu lugar, sabendo que o caminho que ele havia tomado era o<br />

mais longo e tortuoso. E, finalmente vislumbrei um movimento al<strong>é</strong>m de Lance. Foi<br />

apenas uma sombra em alguns ramos altamente carregados de pinhas, mas foi o<br />

suficiente. Marc estava em posição.<br />

Eu estava me preparando para dar o bote quando me ocorreu que, na minha<br />

forma de Gato, <strong>não</strong> havia maneira de segurar o bebê, mesmo se ele a entregasse<br />

para mim voluntariamente. Droga!<br />

Mais do que frustrada e sem outras opções, eu me afastei tão<br />

silenciosamente quanto pude e eu me abaixei sob os galhos de um pinheiro para<br />

forçar uma das Mudanças mais rápidas que eu já tinha feito, com Marc para<br />

270


seguir Lance na minha ausência. Eles realmente <strong>não</strong> poderiam avançar muito em<br />

menos de um minuto. Não com uma criança gritando e lutando para se soltar.<br />

Plenamente humana, amaldiçoei silenciosamente enquanto saia de sob a<br />

árvore, me apoiando em minhas mãos e joelhos, arranhando a minha indefesa<br />

pele humana com galhos e espinhos. Meu cabelo ficou preso nos espinhos de<br />

pinho sobre a minha cabeça, e os meus dedos afundaram em folhas quebradiças.<br />

Quando me levantei, nua, eu <strong>não</strong> conseguia parar de tremer de frio, e tive<br />

que cerrar os dentes para evitar que batessem. Estremecendo cada vez que um<br />

espinho cravava no meu p<strong>é</strong> ou um ramo batia em meu torso nu, comecei a seguir<br />

o caminho de Lance, a quem eu ainda conseguia ouvir lutando contra Wren.<br />

Minutos mais tarde, eu tive Lance à vista e depois de alguns segundos de<br />

busca, localizei Marc na folhagem por trás dele. Ainda bem que eu deixei meus<br />

olhos em forma de Gato. O silêncio e o curioso ângulo da cabeça de Marc<br />

mostravam sua confusão e frustração sobre a minha Mudança, mas <strong>não</strong> havia<br />

nada que ele pudesse fazer sobre o assunto. Nada, exceto apoiar-me.<br />

Lance parou novamente para impulsionar Wren mais alto em seu quadril,<br />

sempre com o rosto longe de seu corpo. Ela estava claramente mais pesada depois<br />

de uma caminhada de meio quilômetro atrav<strong>é</strong>s da floresta do que quando tinha<br />

carregado pela primeira vez. Ela lutou e conseguiu agarrar o dedo indicador em<br />

seu bico enquanto ele ajustava seu aperto.<br />

— Droga! — Lance gritou. Sangue jorrava de seu dedo, perfumando os<br />

odores mais suaves da floresta morta no inverno. — Não se mexa! — ele gritou,<br />

tentando mudá-la de um braço para outro.<br />

Hora de se mover. Muito em breve, ou ele a deixaria cair e ela fugiria para a<br />

floresta, ou ele perderia a paciência.<br />

Eu respirei fundo e sai de trás da árvore que me escondia de vista. — Dáme<br />

o bebê, Lance.<br />

Ele abriu a boca e me olhou na escuridão, sem o benefício dos olhos<br />

Mudados. Um movimento atrás de Lance me disse que Marc estava lá, mas ficaria<br />

fora de vista no caso de precisarmos do elemento surpresa. — Faythe? — Lance<br />

perguntou, ainda entrecerrando olhos.<br />

— Quem mais? — eu me aproximei e seus olhos só se arregalaram<br />

brevemente quando ele percebeu que eu estava nua. — Dê-me, para que eu possa<br />

levá-la de volta com sua mãe. Você já <strong>não</strong> precisa dela. Por que <strong>não</strong> a solta?<br />

— Você <strong>não</strong> entende. Vão me caçar, <strong>não</strong> importa para onde eu vá. Esta<br />

pequena máquina de merda <strong>é</strong> a única coisa que vai impedi-los de me matar<br />

quando me encontrarem.<br />

271


— Tudo bem. — balancei a cabeça. — Mas eles nem sequer estão te<br />

procurando. Eu disse a eles que o levaria de volta, e todo mundo está esperando<br />

por nós na estrada. Dê ela para mim, e você poderá correr muito mais rápido.<br />

Suas sobrancelhas se ergueram, e ele reposicionou o bebê que ainda se<br />

contorcia em seu quadril. — Você vai me deixar ir?<br />

Eu dei de ombros. — Eu <strong>não</strong> me importo se você for pego ou <strong>não</strong>, uma vez<br />

que já <strong>não</strong> nos culpam de matar Finn.<br />

— Não vão ficar furiosos se você me deixar ir?<br />

— Provavelmente. Mas como você supõe que eu te persiga e leve a Wren de<br />

volta para sua família?<br />

Ele começou a relaxar, a tensão saindo de suas feições quando<br />

compreendeu a verdade das minhas palavras. — Então eu vou entregá-la para<br />

você, e você só... me deixará ir?<br />

Eu balancei a cabeça. — Eu <strong>não</strong> vou nem tentar pegar você.<br />

Lance pensou sobre isso. Ele sabia que <strong>não</strong> iria longe com uma criança no<br />

colo. E se os pássaros o pegassem nunca lhe dariam a chance que eu estava<br />

oferecendo. Por fim, ele concordou. — Aqui. — estendeu a menina que segurava<br />

com ambas as mãos, e eu dei um passo adiante para pegá-la, meu coração<br />

batendo fortemente em um súbito ataque de nervos. Ela <strong>não</strong> me conhecia melhor<br />

do que o conhecia. Se tentasse bicar meus olhos por todo o caminho de volta para<br />

o ninho?<br />

— Wren? — estiquei uma mão lentamente. — Quer voltar para a sua<br />

mamãe?<br />

— Maaamãe? — ela disse alegremente, seus olhos úmidos se<br />

arregalaram. Ela parou de lutar pela primeira vez desde que Lance a tinha<br />

capturado.<br />

— Sim. Vamos encontrar sua mamãe. — peguei a criança, e ela me deixou<br />

puxá-la para perto, apesar de seus pequenos braços Mudados para asas cobertas<br />

com finas penas. — Vamos te levar para casa. — Dei um passo para trás, ainda<br />

olhando para Lance, só no caso. — Obrigada.<br />

Ele acenou com a cabeça. Então ele se virou e saiu correndo.<br />

Lance deu apenas alguns passos antes que uma mancha escura voasse das<br />

sombras. Marc aterrissou sobre ele em meio salto e eles se estatelaram no chão,<br />

com Marc em cima.<br />

Wren gritou de terror, e eu a abracei para consolá-la, tentando ignorar as<br />

frias e afiadas garras presas na minha pele nua.<br />

Note mental: Bebês pássaros? Não abrace.<br />

272


— Você prometeu! — Lance gritou quando as mandíbulas de Marc se<br />

apoderaram da parte atrás do crânio do Tom.<br />

— Eu disse que eu <strong>não</strong> tentaria pegar você. Eu nunca disse nada sobre<br />

Marc. — baixei o olhar para ele, surpresa pela pouca compaixão que eu sentia.<br />

Marc gemeu para a minha questão, e eu segurei o bebê mais perto,<br />

passando a mão no cabelo que atualmente fluía da cabeça de Wren. — Vire-o.<br />

Marc jogou-se para fora de Lance, mas ele manteve seu focinho perto o<br />

suficiente para arrancar a garganta do outro Tom, a qualquer momento. Lance<br />

virou-se devagar e olhou para mim enquanto eu me aproximava. Wren começou a<br />

se debater quando viu Lance, então parei a vários metros de distância, <strong>não</strong><br />

querendo traumatizá-la mais.<br />

— Lance Pierce, você matou três pessoas. — eu disse, surpresa em como<br />

minha voz soou forte.<br />

— O quê? — ele começou a protestar, mas mudou de ideia quando Marc<br />

rosnou a centímetros de sua garganta.<br />

— Finn foi apenas o <strong>primeiro</strong>. — eu continuei. — Ao permitir que Malone<br />

nos culpasse por sua morte, você tamb<strong>é</strong>m matou Charlie Eames e Jake Taylor. E<br />

feriu seriamente meu irmão Owen e meu primo Lucas. Você ocasionou que Kaci e<br />

eu fossemos sequestradas por Thunderbirds, e que quase a matassem. E você<br />

sequestrou uma criança e ameaçou matá-la em uma tentativa desprezível e<br />

covarde de preservar a sua própria vida.<br />

Lance estava em silêncio agora. Ele <strong>não</strong> podia discutir com a verdade.<br />

— Os Thunderbirds estão exigindo a sua vida. Eles querem te comer vivo,<br />

como vingança por você ter matado Finn. Mas se eu te entregar para eles, Jake e<br />

Charlie <strong>não</strong> teriam justiça. <strong>As</strong>sim, você pode considerar isso como uma morte<br />

misericordiosa. — com isso, assenti firmemente para Marc.<br />

Marc meneou a cabeça para mim. “Você tem certeza?”<br />

Pensei no meu pai me dizendo que os líderes têm que tomar decisões<br />

difíceis. Pensei em Kaci, e a pessoa que eu teria que ser para realmente ter o poder<br />

de protegê-la. Se eu fizesse essa escolha, nunca poderia voltar atrás. Nunca<br />

poderia ser apenas uma Tabby, ou at<strong>é</strong> mesmo apenas uma guardiã que esperava<br />

fazer o que eu estava dizendo. Os Alfas ordenam execuções, e dar tal ordem era<br />

tão bom quanto declarar a minha intenção de algum dia disputar, pacificamente,<br />

a Liderança do Pride.<br />

A aceitação de Marc a essa ordem seria uma promessa de apoio a minha<br />

posição.<br />

Eu tomei uma respiração profunda. — Faça.<br />

273


Os olhos de Lance arregalaram-se tanto que eu pensei que iam explodir das<br />

órbitas.<br />

Marc investiu contra sua garganta.<br />

Tudo acabou em um instante. A morte de Lance foi rápida, o que foi mais do<br />

que os Thunderbirds teriam feito por ele.<br />

Wren fez um estranho e satisfeito som de cacarejar no meu ouvido, onde sua<br />

cabeça repousava em meu ombro. Ela estava olhando. E estava completamente<br />

despreocupada com o derramamento de sangue.<br />

Vinte minutos mais tarde, saímos pela linha das árvores em uma estrada<br />

cheia de Thunderbirds dando voltas em vários estágios de meia Mudança.<br />

Eu estava congelando, literalmente tremendo de frio, mas eles tinham se<br />

amontoado para se aquecerem. A corrente de tensão e raiva era tão palpável que<br />

eu quase podia sentir o gosto. At<strong>é</strong> o <strong>primeiro</strong> olho redondo e brilhante de pássaro<br />

nos viu.<br />

— Wren! — Brynn gritou e correu pela estrada. No momento em que a<br />

menina ouviu a voz de sua mãe, começou a se debater seriamente, e eu a coloquei<br />

cuidadosamente no chão. Wren cambaleou at<strong>é</strong> a sua mãe em uma garra e um p<strong>é</strong><br />

humano corpulento, batendo suas asas como meio-formadas como se fosse<br />

decolar a qualquer momento.<br />

Brynn pegou sua filha e a embalou, cantarolando uma familiar e desafinada<br />

música. Aparentemente o consolo transcende as esp<strong>é</strong>cies. Atrás de mim, Marc<br />

estava carregando o corpo de Lance no ombro. Seguiu-me para o centro do círculo<br />

formado pelos pássaros. Brynn estava diante de nós, ainda balançando a exausta<br />

filha.<br />

Marc se inclinou e deixou Lance de bruços no chão. Suas costas nuas<br />

estavam manchadas com o sangue do Tom morto. Lance olhava sem ver o c<strong>é</strong>u<br />

estrelado, enquanto cerca de cinquenta Thunderbirds baixaram o olhar para<br />

ele. Embora eles observassem, nós rapidamente nos vestimos com as roupas que<br />

tínhamos recolhido na floresta a caminho de volta, ansiosos para estar aquecidos<br />

novamente.<br />

— Ele está morto. — disse um galo jovem, enquanto eu fechava meus jeans,<br />

obviamente falando pelo grupo todo.<br />

<strong>As</strong>senti. — Sim, mas sua filha <strong>não</strong> está. Nós <strong>não</strong> poderíamos trazê-lo vivo,<br />

mas o corpo <strong>é</strong> de vocês para disporem dele como quiserem. — por mais que eu<br />

odiasse entregar-lhes o corpo e pensar que eles o consumiriam me deixasse<br />

doente, esta era a única correção que eu poderia pensar que, na verdade poderia<br />

ajudar a satisfazer os Thunderbirds e nos tirar de lá intactos. — Suponho que <strong>é</strong><br />

prova suficiente de que nós <strong>não</strong> matamos Finn.<br />

274


— Claro. — Brynn interveio neste momento.<br />

Tão aliviada que mal podia respirar, eu me virei para olhar sobre as cabeças<br />

dos pássaros ao nosso redor. A quinze metros de distância, Kaci estava<br />

pressionado ao lado de Jace, seu braço ao redor dos ombros dela. Ela tremia de<br />

frio, e provavelmente de medo, mas no momento em que nos viu, endireitou-se<br />

determinada a demonstrar sua força.<br />

— Eu fiz a minha parte. — puxei meu celular do bolso e me virei para<br />

Brynn. — Chame o resto dos seus pássaros.<br />

Ela assentiu com a cabeça, e eu abri meu telefone, discando<br />

automaticamente para o meu pai.<br />

Ele respondeu ao <strong>primeiro</strong> toque. — Faythe? — ele disse, com muita tensão<br />

em sua voz.<br />

— Sim. Estamos com Kaci e vamos para casa.<br />

— Graças a Deus. — ao fundo eu ouvi gritos masculinos e um enorme<br />

suspiro de alívio da minha mãe.<br />

— Você pode jogar o telefone para Beck?<br />

— Só um minuto. — meu pai parecia exausto, e eu me perguntava se ele<br />

havia dormido um pouco, desde que nós saímos.<br />

Joguei meu telefone para Brynn e quando a voz de Beck entrou na linha, ela<br />

lhe disse que executassem uma retirada total. Quando meu pai voltou, se<br />

comprometeu a entregar Kai para seus companheiros de Bando imediatamente.<br />

No momento em que eu coloquei meu celular no bolso, dois dos maiores<br />

Thunderbirds já estavam carregando o corpo de Lance para o ninho. Eu balancei a<br />

cabeça uma vez para Brynn, em um sinal múltiplo de Obrigada e Adeus, e me virei<br />

para ir embora. Então sua mão tocou no meu braço nu.<br />

Virei-me para encontrá-la me olhando do modo mais próximo de amizade<br />

que eu tinha visto em algu<strong>é</strong>m de sua esp<strong>é</strong>cie. — Estamos em dívida com você, pelo<br />

retorno da minha filha. — disse ela. — E nós gostaríamos de te pagar o mais<br />

rápido possível.<br />

O sentimento era mais como um "prefiro <strong>não</strong> estar em dívida" que um<br />

“Obrigado, como nós podemos retribuir”. Ainda assim, era melhor do que um<br />

repentino chute nos jogando pela porta e uma queda livre de duzentos metros.<br />

— Hum... tudo bem. — dizer obrigado parecia ao mesmo tempo trivial e<br />

inadequado. — Eu vou deixar você saber se... surgir algo. — mas uma ideia já<br />

estava começando a se formar. Tão frios e cru<strong>é</strong>is como eram - ou talvez devido a<br />

estas mesmas qualidades - os Thunderbirds seriam um adversário formidável na<br />

guerra. Meu Pride já havia visto isso em primeira mão, e eu tinha poucas dúvidas<br />

275


de que meu pai estaria tão ansioso quanto eu em virar a mesa proverbialmente<br />

sobre Malone.<br />

Eu ainda estava desfrutando dessa possibilidade quando envolvi Kaci em<br />

meus braços um minuto depois.<br />

Ela me abraçou fortemente, e só me soltou tempo suficiente para eu colocar<br />

minha jaqueta. Exausta, forcei um sorriso para o benefício de Kaci, tentando<br />

ignorar a forma como Marc e Jace saiam um do caminho do outro, ainda assim<br />

ficando perto de mim. Depois deslizei um braço ao redor dos ombros de Kaci.<br />

— Podemos ir para casa agora? — ela perguntou, olhando para mim com<br />

exaustão e inquietante alívio. Nenhuma de nós realmente se sentiria segura at<strong>é</strong><br />

que estiv<strong>é</strong>ssemos longe dos Thunderbirds e de sua prisão no c<strong>é</strong>u.<br />

— Absolutamente. — voltaríamos para casa, embora apenas o tempo<br />

suficiente para descansar e planejar nosso ataque completo. Porque, se as penas<br />

encharcadas de sangue de um Thunderbird assassinado <strong>não</strong> fossem suficientes<br />

para convencer os outros Alfas de que Calvin Malone deve ser removido do poder,<br />

estaríamos dispostos a fazê-lo da forma difícil.<br />

E, às vezes, a maneira difícil <strong>é</strong> a única maneira de fazê-lo.<br />

Fim...<br />

Continua em ALPHA<br />

276


Alpha<br />

O inescrupuloso novo Presidente do Conselho acusou Jace,<br />

Marc e eu de arrombamento, sequestro, assassinato e traição.<br />

Sim, estivemos bastante ocupados. Mas, <strong>é</strong> o momento de<br />

fazer justiça com as nossas próprias mãos. Nós temos que<br />

vingar a morte do meu irmão e remover a podridão existente<br />

no coração do Conselho.<br />

Não vai ser <strong>fácil</strong> e a perda parece inevitável, mas eu me<br />

comprometi a proteger o meu Pride, <strong>não</strong> importa do que. Com<br />

um objetivo sobre minhas costas e Marc ao meu lado,<br />

liderarei o confronto final, que poderá mudar tudo, para<br />

sempre.<br />

SEXTO E ÚLTIMO LIVRO DA SÉRIE WERECATS<br />

277


Sobre a autora<br />

Rachel Vincent reside em San Antonio. Tem formação em inglês e<br />

uma imaginação muito ativa, constantemente encontra a<br />

última maneira para ser mais prática. Ela compartilha seu<br />

escritorio com seus gatos pretos e fãs número 1 (Kaci e Nyx). Rachel<br />

<strong>é</strong> a maior do que parece - s<strong>é</strong>rio - e mais jovem do que se sente, mas<br />

está convencida de que por cada dia que ela passa escrevendo, um<br />

dia a mais será acrescentado em sua vida.<br />

278


Tradução<br />

Hay<br />

Rai L.<br />

Juliana N.<br />

Catty<br />

ÉriKa<br />

Cassie<br />

Juliana J.<br />

Lud<br />

Lyla<br />

Revisão Inicial<br />

Jeane<br />

Revisão Final<br />

Paula D.<br />

Formatação<br />

Hay<br />

279


280

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