ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb
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Desse modo, se a festa surge como possível território fértil para o fortalecimento de<br />
ruralidades em pleno espaço urbano, torna-se oportuno levantar aqui algumas questões.<br />
Que rural é esse que pouco diz sobre a vida simples entre a plantação e o gado, seja nas<br />
letras entoadas, seja na indumentária requintada, um tanto distante da imagem rotineira<br />
que se tem do homem acostumado com a lida na roça? Por que essa ruralidade parece<br />
tão descolada da prática cotidiana desses jovens urbanos, tanto aqueles que estão na<br />
plateia como os que sobem ao palco de chapéu e bota de couro? Em que noção de rural<br />
estão alicerçadas tais manifestações culturais populares que envolvem milhares de<br />
pessoas, seja nos festivais de São Paulo e Belo Horizonte, na grande Festa do Peão<br />
Boiadeiro de Barretos ou nos bares que oferecem a festa sertaneja em seu cardápio<br />
semanal?<br />
A reflexão sobre esses questionamentos parece ser apenas possível a partir de uma<br />
análise do urbano contemporâneo. Afinal, enquanto nas primeiras décadas do século<br />
XX, o país era caracterizado por uma sociedade rural, que tinha o campo como lugar de<br />
produção econômica e reprodução da força de trabalho, transformações ocorridas ao<br />
longo dos anos seguintes mudaram brutalmente a distribuição populacional no Brasil. A<br />
atratividade migratória exercida pelos grandes centros urbanos fez com que o país<br />
chegasse ao ano de 2010 com 84,4% de sua população residindo em cidades.<br />
Comparados ao levantamento censitário de 1960, quando 54,9% dos habitantes estavam<br />
no campo, os dados revelam uma expressiva mobilidade espacial no período, fator que<br />
vem se alterando nas últimas décadas. Como mostram estudos do Instituto Brasileiro de<br />
Geografia e Estatística (IBGE), as principais correntes migratórias perderam força desde<br />
os anos 1980 e é considerável o movimento de retorno às regiões de origem (IBGE,<br />
2011).<br />
É diante de tal cenário que se vê emergir interpretações como a de Veiga (2003), que, ao<br />
clamar por políticas de desenvolvimento rural, classifica como “anacrônica” e<br />
“obsoleta” a metodologia baseada na legislação brasileira e utilizada para definir o grau<br />
de urbanização do país. Segundo ele, as relações cidade-campo, de fato, “[...] mudaram<br />
radicalmente na segunda metade do século passado. Mas não foram mudanças que<br />
reduziram o contraste entre ambas [...]” (VEIGA, 2003: 95), o que pode ser percebido<br />
pelo elevado número de municípios de pequena densidade populacional e baixos índices<br />
de desenvolvimento, equivocadamente considerados urbanos de acordo com o autor.<br />
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