ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb
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simplesmente movido pela pura diversão, pelo instante de “finalidade zero”, como bem<br />
classificou a festa Jean Duvignaud (1983).<br />
Pela televisão, o evento é bombardeado em cores vibrantes, que apresentam a todos – a<br />
quem deseja ou não tomar parte – o estilo de vestir, de pentear os cabelos, os modos e<br />
as modas que acompanham canções inspiradas por amores geralmente mal sucedidos.<br />
Também por meio das redes sociais na internet, os preparativos para a folia que se<br />
aproxima pontuam a sociabilidade inerente ao momento festivo. Da compra de<br />
ingressos à organização de caravanas para ir à festa, a “malha de relações” se constrói<br />
em um espaço “[...] onde se desenvolve a vida associativa, desfruta-se o lazer, trocam-se<br />
informações, pratica-se a devoção – onde se tece, enfim, a trama do cotidiano”<br />
(MAGNANI, 2003: 117). Ao contrário do que poderia parecer em um primeiro instante,<br />
as dinâmicas sociais não sucumbem à técnica, mas são realçadas por ela, ainda que de<br />
uma forma outra.<br />
Assim, como tantos eventos que se multiplicam por boa parte do Brasil, o Sertanejo Pop<br />
Festival de Belo Horizonte é apenas mais um fragmento que permite a aproximação de<br />
uma realidade maior. Por meio das mais distintas formas de celebração, o momento de<br />
gozo torna-se imperativo pelas cidades país afora. A festa ganha proporções<br />
surpreendentes e permanece entre as sociedades complexas, embora tenham<br />
preconizado seu fim alguns dos estudiosos mais importantes sobre o tema (CAILLOIS,<br />
1950; GIRARD, 1990). Dos carnavais fora de época em torno do axé music, aos<br />
romeiros que chegam à Basílica de Aparecida do Norte para cultuar a santa católica,<br />
passando pela louvação ao modo de vida interiorano do peão de boiadeiro em Barretos,<br />
a festa transforma o espaço urbano em palco de batalhas, espaço onde e pelo qual se luta<br />
(SOUZA, 2010).<br />
Mais que recorte revelador de um tempo dominado pela “hiperfesta”, como diria<br />
Lipovetsky (2007), o festival sertanejo parece ser ainda capaz de clarear outras cenas<br />
que surgem ao se observar com maior cuidado o calendário festivo das grandes cidades.<br />
Não são raros os exemplos de manifestações que ganham corpo nas centralidades<br />
urbanas, mas que remetem a uma vida no campo. A aparente (re)valorização do mundo<br />
rural está presente não só em festas ou exposições anuais, mas também a cada final de<br />
semana em que jovens em busca de lazer fazem lotar casas noturnas que têm como<br />
principal atrativo a música sertaneja.<br />
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