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ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb

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Assim, é diante desse contexto, que se estabelece a relação cidade-campo nas Minas,<br />

com sua urbanidade precoce em relação às demais regiões do país, definindo novos<br />

costumes e mentalidades, outros padrões de sociabilidade, enfim, um estado precursor<br />

de modernidade (PAULA, 2000). Parece pertinente considerar, desse modo, que tal<br />

precoce urbanização das Minas é, desde o seu nascedouro, marcada por uma articulação<br />

entre a cidade e o campo bastante complexa e impossível de ser observada a partir de<br />

uma ótica linear em que um elemento precede o outro no tempo, ou ainda, como dois<br />

polos opostos no espaço.<br />

É também essa urbanidade singular, em que o urbano não antecede o rural exatamente,<br />

mas o conforma, que pode ser observada em manifestações culturais do barroco<br />

mineiro, como a Procissão do Triunfo Eucarístico, a festa de transladação do Santíssimo<br />

Sacramento da Igreja do Rosário para o novo templo de Nossa Senhora do Pilar, em<br />

Ouro Preto. Assistido pelos habitantes da então Vila Rica, em 1733, o suntuoso cortejo<br />

foi narrado com detalhes por Simão Ferreira Machado em seu livro publicado, em<br />

Lisboa, no ano seguinte. Como descreve o autor, os preparativos para a grande<br />

procissão já anunciavam ao povo a magnitude da festa. Vários eventos ocorreram entre<br />

os dias três de abril e 24 de maio, dia da transferência do Santíssimo de uma igreja para<br />

a outra: “muitas danças e máscaras ricamente vestidas”, servindo aos olhos um<br />

“agradável espetáculo” (MACHADO, 1938: 999).<br />

Em síntese, o Triunfo Eucarístico pode ser interpretado como a articulação entre um<br />

sofisticado estilo urbano de vida – alcançado graças à prosperidade econômica das<br />

Minas – e o domínio da Igreja Católica e do Estado absolutista português. É a festa em<br />

seu diálogo com o poder instituído, permitindo ritualizar a relação cotidiana que se dá<br />

entre a massa e a autoridade que a governa. A rua, a praça, enfim, a cidade é tomada<br />

pelo povo, mas não como acontece usualmente no dia-a-dia, durante as tarefas que<br />

todos necessitam exercer para sua sobrevivência. No momento da festa, a massa se<br />

transforma em um grupo, com história e identidade territorial em comum. Trata-se de<br />

uma espécie de dramatização, meio pelo qual, segundo Da Matta (1983), é possível<br />

tomar consciência do mundo e dar sentido a ele. Uma ação aparentemente banal da vida<br />

cotidiana é destacada e adquire importante significado, “[...] permitindo situar,<br />

dramaticamente e lado a lado, quem sabe e quem não sabe, quem tem e quem não tem,<br />

quem está em contato com os poderes do alto e quem se situa longe deles” (DA<br />

MATTA, 1983: 26).<br />

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