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ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb

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prostitutas. Mas, aos domingos e dias de festa, [o arraial] torna-se um lugar de reunião<br />

para todos os cultivadores da comarca” (SAINT-HILLAIRE, 1938: 102).<br />

A leitura das constatações de Saint-Hilaire fornece pelo menos duas questões<br />

fundamentais. A primeira, como já esboçado logo de início, refere-se às alterações<br />

econômicas e seus rebatimentos no espaço social. O conjunto urbano composto de<br />

cidades, vilas e arraiais que se organizaram em torno da mineração via emergir, ou<br />

melhor, fortalecer, no início do século XIX, um mundo rural até então ofuscado pelo<br />

poderio do ouro. Um segundo apontamento trazido pelo relato do viajante, e que será<br />

bastante útil à frente, é dado pela permanência do tempo livre – e do momento festivo<br />

que ele estabelece –, como indutor da urbanidade, motivo pelo qual os homens se<br />

congregam na centralidade urbana e fazem dela um verdadeiro espaço de trocas. São<br />

esses dias regados a gozo e fruição que permitem à cidade servir-se como lócus<br />

privilegiado da festa, ainda que esta tenha no campo a sua gênese (LEFEBVRE, 1991).<br />

Após um período de interiorização e intenso fortalecimento da rede urbana brasileira,<br />

dado pela descoberta do ouro, a capitania de Minas Gerais sofria, à época descrita por<br />

Saint-Hilaire, um processo de ruralização. Como observa Cunha (2009), ao contrário do<br />

Setecentos, quando a concentração de serviços, processos e ideias definia a vida nos<br />

núcleos fundados por conta da atividade mineradora, o momento posterior foi pautado<br />

por uma ruptura com o urbano e uma desarticulação desse universo cultural. Embora<br />

tenha ocorrido uma multiplicação das nucleações citadinas, as vilas e os arraiais que se<br />

formaram no século XIX funcionavam como entrepostos para a produção do campo e<br />

pouco criaram condições para uma vida urbana efetiva.<br />

Contudo, é importante destacar que o arrefecimento da mineração não significou uma<br />

decadência econômica, como pode parecer de início. Tampouco o declínio da atividade<br />

aurífera e a ruralização da qual se fala diz respeito ao surgimento de um mundo rural<br />

completamente novo, como se este não existisse já nas primeiras décadas de ocupação<br />

do território nas Minas. Afinal, ainda no século XVIII, a atividade de extração do ouro<br />

“[...] vai logo demandar fluxos de abastecimento para as pessoas que primeiro ocuparam<br />

a região e que estavam naturalmente voltadas para a mineração. É nesse sentido que o<br />

espaço urbano vai criando o espaço rural” (CUNHA, 2009: 65).<br />

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