14.04.2013 Views

ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb

ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb

ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

atuais, tanto em um culto sincrético e urbano, a exemplo da umbanda, como em um<br />

baile funk da periferia carioca.<br />

É diante dessa constatação que, para a construção das argumentações desenvolvidas<br />

aqui, parte-se do pressuposto que a festa é reveladora de permanências essenciais à sua<br />

natureza. O momento de fruição se configura como lugar de trocas e dimensão cultural<br />

da vida coletiva. Essa hipótese norteia a intenção primeira deste trabalho, uma tentativa<br />

de compreender em que medida o instante de gozo se articula com o espaço social no<br />

qual se realiza. As possíveis relações entre a festa e o urbano, bem como as implicações<br />

que o diálogo entre cidade e campo insere nessa discussão, são os questionamentos que<br />

organizam as ideias aqui lançadas. Em tom ensaístico, o trabalho não busca encontrar<br />

conclusões – nem poderia ter tal pretensão, devido à complexidade do tema esboçado –,<br />

mas apenas suscitar o debate sobre a festa, o rural e o urbano.<br />

É importante ressaltar ainda que o urbano ao qual se remete não pode ser compreendido<br />

como simples dimensão física ou referência a certo nível de concentração demográfica.<br />

É, antes, fenômeno dado por seus signos, como já destacou Lefebvre (2008: 109), “[...]<br />

os signos da reunião: as coisas que permitem a reunião [...]”. Esse urbano expresso no<br />

modo de vida e revelado por uma abordagem qualitativa é o que permite compreender<br />

seu interlocutor: o rural, seja nas festas barrocas das Minas precocemente urbanizadas<br />

por conta do ouro, seja na louvação da vida do campo revisitada pelas festas sertanejas<br />

do século XXI. Aliás, essas são as duas cenas distintas que se pretende descortinar,<br />

chamando a atenção para as suas festas, seus campos, suas cidades. O que são capazes<br />

de dizer?<br />

Cena 01: A festa como expressão do urbano em seu tempo<br />

Em sua segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais, Auguste de Saint-Hilaire<br />

registrava importantes transformações ocorridas na região do ouro na virada do século<br />

XVIII para o XIX. Como observa o narrador, em 1822, as lavras já não são tantas como<br />

antes e o cultivo da terra, a criação de gado e porcos tornavam-se a principal fonte de<br />

renda dos habitantes. Em seus relatos, o viajante francês descreve o arraial de Aiuruoca<br />

como uma nucleação de expressiva área rural, assim como quase todas as aglomerações<br />

das Minas àquela época. As cerca de 80 casas distribuídas ao longo de três ruas<br />

permanecem pouco habitadas nos dias úteis, “[...] senão por mercadores, operários e<br />

3

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!