ENTRE O CAMPO E A CIDADE (EM FESTA ... - XII Simpurb
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RESUMO<br />
<strong>ENTRE</strong> O <strong>CAMPO</strong> E A <strong>CIDADE</strong> (<strong>EM</strong> <strong>FESTA</strong>):<br />
CONSIDERAÇÕES SOBRE DUAS CENAS URBANAS<br />
Este trabalho tem como intenção primeira discutir a articulação entre o espaço urbano e a festa,<br />
bem como as implicações oferecidas a esse diálogo pela relação cidade-campo. O<br />
questionamento sobre uma possível (re)valorização do rural na cidade contemporânea, a<br />
permanência do caráter agregador da festa e a potencialidade desta em revelar especificidades<br />
do espaço social são as principais referências que pontuam a construção das ideias levantadas.<br />
Para tal análise, duas cenas urbanas – uma ocorrida nas Minas do Setecentos e outra passada na<br />
cidade contemporânea – surgem como indutoras de reflexões iniciais e ainda como sustentação<br />
para a proposta aqui elaborada: a de uma aproximação do urbano por suas festas.<br />
Palavras-chave: Festa. Cidade. Campo. Urbano. Rural<br />
A festa, o rural e o urbano: uma aproximação<br />
Objeto de trabalhos clássicos nas Ciências Sociais, a festa apresenta uma série de<br />
aspectos já elaborados, especialmente em estudos que procuram mapear o tempo livre<br />
por meio de pesquisas de orientação etnográfica de grande valor. Dentre as matrizes<br />
teóricas mais expressivas, estão as contribuições de autores como Bakhtin (2002), no<br />
qual a ruptura com o que está instituído se da pela “carnavalização”; e ainda Huizinga<br />
(1999), com seu conceito de jogo, intrinsicamente articulado à festa e servindo de<br />
estrutura às relações sociais. Jean Duvignaud (1983) colabora com essa questão ao<br />
considerar o grande poder destruidor da festa e sua finalidade estanque em si mesma,<br />
características que, em certa medida, afastam-se das ideias de Maffesoli (1985) e sua<br />
sociologia “orgiástica”, na qual a ordem está na anomia.<br />
De todas as vertentes, contudo, a de maior repercussão talvez seja a discussão trazida<br />
por Émile Durkheim (1960), em As formas elementares da vida religiosa, publicada<br />
originalmente em 1912. Embora não desenvolva exatamente uma teoria sobre a festa, o<br />
pioneirismo da análise sobre o ritual totêmico na Austrália influenciou boa parte dos<br />
estudos posteriores. Foi a partir da ideia apresentada pelo autor que se pôde apreender a<br />
relação existente entre o rito sagrado e as festividades, ambos movidos por paixões<br />
intensas. O que marca sobremaneira a obra de Durkheim é, desse modo, sua descrição<br />
da “efervescência social”, ou seja, da participação do sujeito no processo coletivo,<br />
evocando danças, gritos, gestos violentos e cantos – elementos presentes ainda nos dias<br />
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