os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />
______________________________________________________________________<br />
aqui a situação mental d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong>, da qual proce<strong>de</strong> o totemismo” (RODRIGUES, 1982,<br />
173).<br />
Outro olhar importante em se <strong>de</strong>stacar é o <strong>de</strong> Nina Rodrigues como alguém que<br />
fala “<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro”, enquanto participante d<strong>os</strong> cult<strong>os</strong> religi<strong>os</strong><strong>os</strong> african<strong>os</strong>, embora o próprio<br />
autor não faça questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar isto. Como dissem<strong>os</strong> anteriormente, Nina Rodrigues<br />
foi ogã <strong>de</strong> um terreiro baia<strong>no</strong>, o Gantois. Segundo Rafael (2009) essa prática,<br />
inaugurada por Nina Rodrigues, feito ogã <strong>de</strong> Oxalá por mãe Pulquéria, também do<br />
terreiro <strong>de</strong> Gantois, viria a se tornar corrente entre <strong>os</strong> antropólog<strong>os</strong>, sobretudo após <strong>os</strong><br />
an<strong>os</strong> 40, quando aí, então, a iniciação não se justificativa apenas em term<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
"necessida<strong>de</strong>s técnicas". Roger Basti<strong>de</strong>, por exemplo, mais um que se <strong>de</strong>ixou seduzir<br />
pelo mundo d<strong>os</strong> terreir<strong>os</strong>, tor<strong>no</strong>u-se um ferrenho <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong> "uma metodologia <strong>de</strong><br />
trabalho <strong>de</strong> campo na qual o pesquisador <strong>de</strong>veria não se colocar do lado <strong>de</strong> fora da<br />
experiência social <strong>de</strong> seus pesquisad<strong>os</strong>, mas vivê-la como se f<strong>os</strong>se sua". (RAFAEL,<br />
2009).<br />
O ogã, segundo Arthur Ram<strong>os</strong> (1951, p. 283) "é uma espécie <strong>de</strong> protetor do<br />
terreiro, pessoa influente, que se submete a uma rápida iniciação e se compromete a<br />
contribuir para as <strong>de</strong>spesas do candomblé e a cumprir outras obrigações”. (RAMOS,<br />
Apud. RAFAEL, 2009). É comum encontrarm<strong>os</strong> passagens, especialmente em “O<br />
animismo fetichista d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong> bahain<strong>os</strong>” (1935) nas quais Rodrigues afirma ter<br />
contribuído com dinheiro para algumas iniciações.<br />
Em “Os african<strong>os</strong> <strong>no</strong> Brasil” (1982), Rodrigues expõe como <strong>os</strong> cult<strong>os</strong> afr<strong>os</strong><br />
sobreviveram apesar da violência d<strong>os</strong> senhores e das tentativas <strong>de</strong> conversão católicas.<br />
O culto jeje-nagô que resistiu à conversão católica a chicote nas<br />
fazendas e plantações; que sobreviveu a todas as violências d<strong>os</strong><br />
senhores <strong>de</strong> escrav<strong>os</strong>; que não se absorveu até hoje nas práticas do<br />
catolicismo d<strong>os</strong> branc<strong>os</strong>, diante <strong>de</strong> cuja resistência, po<strong>de</strong>-se dizer,<br />
capítulou o clero católico que já nem tenta converter <strong>os</strong> infiéis; em<br />
que não faz m<strong>os</strong>sa o ensi<strong>no</strong> elementar das n<strong>os</strong>sas escolas; esse culto<br />
está <strong>de</strong>stinado a resistir, por longo prazo ainda, à propaganda da<br />
imprensa como às violências da policia, pois nem uma nem outra se<br />
po<strong>de</strong> reputar mais eficaz do que todas as missões <strong>de</strong> catequese<br />
enviadas às plagas africanas. Diante das violências da polícia, as<br />
práticas negras se furtarão à publicida<strong>de</strong>: hão <strong>de</strong> refugiar-se n<strong>os</strong><br />
recess<strong>os</strong> das matas, n<strong>os</strong> recôndit<strong>os</strong> das mansardas e cortiç<strong>os</strong>; se<br />
retrairão às horas mortas da <strong>no</strong>ite; se ampararão na proteção d<strong>os</strong><br />
po<strong>de</strong>r<strong>os</strong><strong>os</strong> que buscam as orgias e <strong>de</strong>vassidões que elas lhes<br />
proporcionem; tomarão por fim as roupagens do catolicismo e da<br />
superstição ambientes. Mas essas práticas, <strong>no</strong> sentimento religi<strong>os</strong>o<br />
que as inspira, hão <strong>de</strong> persistir enquanto a lenta evolução da raça<br />
negra <strong>de</strong>ixar o negro, o negro antropológico atual. (RODRIGUES,<br />
1982, p.246).<br />
80