os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
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Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />
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perseguem com lanças, fingindo feri-l<strong>os</strong>.” “Na dança venatória d<strong>os</strong><br />
cafres kusás, um homem toma na boca um punhado <strong>de</strong> ervas e anda<br />
<strong>de</strong> quatro patas para imitar a caça, ao passo que <strong>os</strong> caçadores soltam o<br />
grito <strong>de</strong> caça e o atacam à lança até que ele finja cair morto.” Cert<strong>os</strong><br />
negr<strong>os</strong> da África equatorial oci<strong>de</strong>ntal fazem a mímica <strong>de</strong> uma caça <strong>de</strong><br />
gorila antes DA caça real e o homem, que faz <strong>de</strong> gorila, finge <strong>de</strong>ixarse<br />
matar. (FRAZER, Apud.RODRIGUES, 1982, p.178).<br />
Nina Rodrigues afirma não importar aqui a distinção que Frazer estabelece entre<br />
as danças totêmicas, as da iniciação da puberda<strong>de</strong> e as danças <strong>de</strong> caça, pois em todas<br />
domina a mesma situação mental: pois as danças d<strong>os</strong> caçadores p<strong>os</strong>suem uma intenção<br />
propiciatória que <strong>de</strong>nuncia a crença <strong>no</strong> parentesco, superiorida<strong>de</strong> ou inteligência do<br />
animal.<br />
É natural que, nas suas revelações entre nós, tod<strong>os</strong> estes estad<strong>os</strong><br />
mentais se associem para a transmissão atávica a<strong>os</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes d<strong>os</strong><br />
selvagens e bárbar<strong>os</strong>. Seria, <strong>de</strong> fato, erro manifesto acreditar que,<br />
nestas sobrevivências, se p<strong>os</strong>sa encontrar a verda<strong>de</strong>ira instituição<br />
totêmica e não, simplesmente, em festas populares <strong>brasil</strong>eiras,<br />
manifestações equivalentes do mesmo estado mental ancestral. É<br />
ainda por esse motivo que não n<strong>os</strong> preocupa a discriminação das<br />
diversas varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> totens, p<strong>os</strong>to que já tenham<strong>os</strong> m<strong>os</strong>trado<br />
algures que o tabu ou proibição religi<strong>os</strong>a <strong>de</strong> comer a carne <strong>de</strong> cert<strong>os</strong><br />
animais, imp<strong>os</strong>ta às confrarias <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>os</strong> orixás ioruban<strong>os</strong>, tem<br />
manifesta procedência <strong>de</strong> um remoto totemismo religi<strong>os</strong>o. Há, na<br />
n<strong>os</strong>sa população inculta, práticas correntes que, originando-se<br />
evi<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>stas idéias, já <strong>de</strong> muito per<strong>de</strong>ram, todavia, a<br />
lembrança da sua conexão e só se conservam pela tradição local e o<br />
exemplo. Está neste caso o c<strong>os</strong>tume <strong>de</strong> usar <strong>de</strong>ntes pontiagud<strong>os</strong> como<br />
<strong>de</strong> cert<strong>os</strong> animais, <strong>os</strong> chamad<strong>os</strong> <strong>de</strong>ntes limad<strong>os</strong>, mas que são, <strong>de</strong> fato,<br />
cortad<strong>os</strong> a navalha ou a faca. Mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> et<strong>no</strong>gráfic<strong>os</strong><br />
m<strong>os</strong>traram que este c<strong>os</strong>tume é extremamente generalizado por todo o<br />
mundo, e se inspira claramente em uma idéia totêmica. A intenção<br />
<strong>de</strong>liberada <strong>de</strong> imitar assim cert<strong>os</strong> animais é ainda hoje conservada em<br />
alguns pov<strong>os</strong> negr<strong>os</strong>. “Os manganijas”, escreve Frazer, “limam <strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> modo a se parecerem com o gato ou o crocodilo.”<br />
(RODRIGUES, 1982, p. 178-179).<br />
Segundo Rodrigues não é só a intenção totêmica que encontram<strong>os</strong> como legado<br />
africa<strong>no</strong> nas n<strong>os</strong>sas festas populares. O fenôme<strong>no</strong> psicológico toma aqui duas feições<br />
distintas: ou a festa <strong>brasil</strong>eira é a ocasião <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras práticas africanas que - <strong>os</strong><br />
negr<strong>os</strong> adicionam a ela como suas equivalentes; ou essas práticas já se revelam<br />
incorpora das ou integradas às n<strong>os</strong>sas festas como simples tradição ou lembrança.<br />
Rodrigues explica que na primeira hipótese, trata-se <strong>de</strong> manifestações <strong>de</strong> uma<br />
crença, <strong>de</strong> uma prática, c<strong>os</strong>tume ou festa africana, atualmente ainda viva entre nós; na<br />
segunda, da tradição ou recordação <strong>de</strong> sentiment<strong>os</strong> que só existiram em ativida<strong>de</strong> n<strong>os</strong><br />
seus maiores. Há, também, cas<strong>os</strong> intermediári<strong>os</strong> ou <strong>de</strong> transição: a “usança africana”<br />
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