os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
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Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />
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Nesse ponto, discordam<strong>os</strong> <strong>de</strong> Reis que exige <strong>de</strong> um autor do século uma p<strong>os</strong>tura<br />
contrária à sua forma <strong>de</strong> análise. Nina Rodrigues não crê que o negro africa<strong>no</strong> lute pelo<br />
fim da escravidão, ao contrário, ele a vê como uma prática instituída pelo próprio<br />
africa<strong>no</strong>. Na introdução <strong>de</strong> “Os african<strong>os</strong> <strong>no</strong> Brasil”, Nina Rodrigues afirma que com o<br />
fim da escravidão, uma questão <strong>de</strong> honra e pudor nacional foi revestida <strong>de</strong> <strong>no</strong>bres<br />
sentiment<strong>os</strong> humanitári<strong>os</strong>: emprestou-se a organização psíquica d<strong>os</strong> branc<strong>os</strong> a<strong>os</strong> negr<strong>os</strong>,<br />
tornando-o agora vitima <strong>de</strong> injustiça social.<br />
No entanto o autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que à esse exagero, a <strong>História</strong> m<strong>os</strong>tra a escravidão<br />
como um estágio fatal da civilização d<strong>os</strong> pov<strong>os</strong>. Exemplo disto é a África, on<strong>de</strong> a<br />
intervenção d<strong>os</strong> pov<strong>os</strong> europeus não conseguiu sequer diminuir a escravidão, pois <strong>os</strong><br />
negr<strong>os</strong> e mestiç<strong>os</strong> livres ou escravizad<strong>os</strong> continuaram a adquirir e a p<strong>os</strong>suir escrav<strong>os</strong>. O<br />
sentimento <strong>de</strong> simpatia e pieda<strong>de</strong> atribuiu ao negro qualida<strong>de</strong>s que ele não tinha e não<br />
po<strong>de</strong>ria ter. A exaltação sentimental não dava tempo para raciocinar: neste meio tempo<br />
operava-se <strong>no</strong> Brasil, a extinção da escravidão.(RODRIGUES, 1982).<br />
Retornando a n<strong>os</strong>sa idéia principal, n<strong>os</strong>sa constatação é <strong>de</strong> que, por <strong>de</strong>ter o perfil<br />
<strong>de</strong> homo religi<strong>os</strong>us, a religi<strong>os</strong>ida<strong>de</strong> estrutura-se enquanto um horizonte p<strong>os</strong>sível e<br />
direcionador na representação coletiva que <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> p<strong>os</strong>suíam. Porém, não seria<br />
correto dizer que <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> se entregam à p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morte durante as tentativas<br />
<strong>de</strong> rebelião, mas ao contrário, entregam-se a um heroísmo <strong>de</strong>smedido em função d<strong>os</strong><br />
aparat<strong>os</strong> mágic<strong>os</strong> que carregam consigo. Essa visão que para n<strong>os</strong> se constitui enquanto<br />
um universo representativo das crenças africana, para Nina Rodrigues, constitui-se<br />
enquanto um universo co<strong>no</strong>tativo do fetichismo negro.<br />
Enten<strong>de</strong>m<strong>os</strong> que a preocupação <strong>de</strong> Nina Rodrigues (1982) ao tratar do que ele<br />
chama <strong>de</strong> “maometismo” entre <strong>os</strong> african<strong>os</strong> é estabelecer até que ponto <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> seriam<br />
capazes <strong>de</strong> seguir uma religião mo<strong>no</strong>teísta, o autor enten<strong>de</strong> o “islamismo negro” como<br />
uma religião sincrética 13 , que conta a presença “fetichista”. Para Nina Rodrigues isto<br />
<strong>de</strong>monstraria, mais uma dificulda<strong>de</strong> por parte d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong> em ascen<strong>de</strong>rem na hierarquia<br />
social, <strong>no</strong> quesito intelecto religi<strong>os</strong>o. Embora, Rodrigues (1982) manifeste certa<br />
admiração em relação ao que consi<strong>de</strong>ra como um “maometismo puro” o autor não<br />
<strong>de</strong>fine que p<strong>os</strong>ição ele ocuparia na escala da evolução religi<strong>os</strong>a.<br />
13 Sobre a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> sincretismo em Nina Rodrigues, ver SERAFIM, ibid, p. 135-142.<br />
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