os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
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Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />
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<strong>de</strong> morte. Porém, não se ia à batalha convencido <strong>de</strong> que iria morrer, havia todo um<br />
aparato mágico - i<strong>de</strong>ntificado por Nina Rodrigues como características fetichistas – que<br />
afastava a morte. (MORIN, 1997).<br />
Nesse sentido, a religião ganharia uma força explicativa quase cega na<br />
interpretação que o padre Etienne Brazil fez da revolta <strong>de</strong> 1835. No entanto, Brazil<br />
abandonaria qualquer esforço por um julgamento equilibrado d<strong>os</strong> fat<strong>os</strong>. Ele consi<strong>de</strong>rava<br />
o Islã, a religião mais infame brotada do cérebro huma<strong>no</strong>, e a revolta é <strong>de</strong>scrita como<br />
um “diabólico pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> carnificina” <strong>de</strong>rivado da religião. Brazil via a revolta como uma<br />
guerra santa para exterminar <strong>os</strong> impur<strong>os</strong>. Era uma revolta anticristã. (Apud. REIS,<br />
1988). Reis (1988) explica que o extremado ressentimento que permeia a obra <strong>de</strong> Brazil<br />
<strong>de</strong>ve-se em fato à sua trajetória. Como armênio e i<strong>de</strong>ólogo do cristianismo ele execrava<br />
duplamente <strong>os</strong> mulçuman<strong>os</strong>, <strong>de</strong>vido a<strong>os</strong> massacres por eles perpetrad<strong>os</strong> contra <strong>os</strong><br />
cristã<strong>os</strong> <strong>de</strong> seu país.<br />
Ao contrário <strong>de</strong> Etienne Brazil, Nina Rodrigues, que escreve anteriormente,<br />
consi<strong>de</strong>rava o Islã uma forma superior <strong>de</strong> religi<strong>os</strong>ida<strong>de</strong> e por isso apenas parcialmente<br />
acessível à inferior inteligência d<strong>os</strong> african<strong>os</strong>. Apenas o islã sincrético e <strong>de</strong>sfigurado<br />
pelo fetichismo, estaria ao alcance <strong>de</strong>les, embora não <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>. Os african<strong>os</strong> sudaneses<br />
tid<strong>os</strong> como superiores se adaptavam mais facilmente ao Islã. (REIS, 1988).<br />
Embora Nina Rodrigues consi<strong>de</strong>re <strong>os</strong> african<strong>os</strong> <strong>de</strong>spreparad<strong>os</strong> para o Islamismo,<br />
ele utilizou, embora timidamente um elemento islâmico para explicar as revoltas<br />
baianas: a jihad, <strong>de</strong>scrita em sua obra como guerra santa contra <strong>os</strong> infiéis e pagã<strong>os</strong>. Mas<br />
Nina não propõe que as revoltas f<strong>os</strong>sem uma simples repetição das guerras santas<br />
africanas, <strong>no</strong> máximo um “pálido esboço”. (REIS, 1988). O termo maometan<strong>os</strong><br />
utilizado por Nina Rodrigues também acaba por assumir um tom pejorativo, uma vez<br />
que busca instaurar estrutura fechada <strong>de</strong> percepção: se o cristão é o que crê em cristo;<br />
aquele que crê em Maomé, é simplesmente o maometa<strong>no</strong>.<br />
Segundo Reis (1988), o <strong>de</strong>senraizamento africa<strong>no</strong> cativo e sujeito à escravidão<br />
aparecem como dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> na tese <strong>de</strong> Nina Rodrigues. Ele não aprofunda sua<br />
idéia <strong>de</strong> que a religião islâmica teria representado para o africa<strong>no</strong> escravizado um<br />
mecanismo <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> coletiva e <strong>de</strong> resistência a<strong>os</strong> maus trat<strong>os</strong>. Nina Rodrigues<br />
também <strong>de</strong>spreza o papel da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica nas rebeliões baianas. Não percebe que,<br />
<strong>de</strong> acordo com Reis (1988), <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> revoltas do período, muitas po<strong>de</strong>m ter<br />
resultado diretamente <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> vida e trabalh<strong>os</strong> inaceitáveis para <strong>os</strong> escrav<strong>os</strong>.<br />
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