14.04.2013 Views

os africanos no brasil - Departamento de História - UEM

os africanos no brasil - Departamento de História - UEM

os africanos no brasil - Departamento de História - UEM

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />

http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />

______________________________________________________________________<br />

era difundida em todas as regiões <strong>de</strong> Angola. Essas bolsas eram constituídas <strong>de</strong><br />

element<strong>os</strong> roubad<strong>os</strong> da religião católica, sejam sant<strong>os</strong>, orações, pedras <strong>de</strong> altar, etc.<br />

Mary Del Priori (2006) expressa que o africa<strong>no</strong> minimiza a existência a morte,<br />

faz <strong>de</strong>la um imaginário que interrompe provisoriamente a existência da singularida<strong>de</strong> do<br />

ser; ele a transforma em aci<strong>de</strong>nte que só atinge provisoriamente a existência individual,<br />

poupando a espécie social. Tanto n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>de</strong>scrit<strong>os</strong> por Nina Rodrigues, como na fala<br />

<strong>de</strong> Pantoja, o <strong>de</strong>tentor da mandinga está associado a um guerreiro, a alguém que se<br />

expõe às lutas corporais constantemente, que corre perig<strong>os</strong>.<br />

Um africa<strong>no</strong> conseguia galgar nas tropas lusas como pertencente ao<br />

batalhão d<strong>os</strong> „guerras pretas‟ – cuja maioria eram forças africanas<br />

„aliadas‟ obrigadas a guerrear ao lado das tropas lusas. Assim,<br />

Vicente era um mbundu, um forro, um soldado do batalhão d<strong>os</strong><br />

„guerras pretas‟, ai seu confronto constante com militares branc<strong>os</strong>,<br />

d<strong>os</strong> quais seu „corpo fechado‟ o protegia – ele <strong>de</strong>screve sempre como<br />

„as estocadas com branc<strong>os</strong>‟. Os „guerras pretas‟ eram tratad<strong>os</strong> como<br />

escrav<strong>os</strong> – seus soberan<strong>os</strong> eram consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> vassal<strong>os</strong> do rei<br />

português – e não recebiam sold<strong>os</strong> nem roupas como uniformes.<br />

(PANTOJA, 2006, p.26).<br />

Mais vale arriscar a própria vida do que viver mal (MORIN, 1997); essa<br />

percepção po<strong>de</strong> sem dan<strong>os</strong>, perpassar a atitu<strong>de</strong> africana diante da vida e do risco <strong>de</strong><br />

morte. Morin (1997) explica que o assassinato que parece contradizer o horror da morte<br />

é tão universal quanto este horror. É um dado huma<strong>no</strong> porque o homem é o único<br />

animal a matar seu semelhante sem necessida<strong>de</strong> vital. É um dado huma<strong>no</strong> universal<br />

porque se manifesta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pré-história e se penetra durante a história como lei<br />

(castigo), encorajado pela lei (guerra) ou inimigo da lei (crime).<br />

A face negativa do assassinato n<strong>os</strong> revela um encarniçamento, ou um ódio, ou<br />

um sadismo, ou <strong>de</strong>sprezo, ou volúpia <strong>de</strong> matar que nada foi capaz <strong>de</strong> reter. A face<br />

p<strong>os</strong>itiva é a volúpia, o <strong>de</strong>sprezo, o sadismo, o encarniçamento, o ódio que traduzem uma<br />

liberação anárquica das pulsões da individualida<strong>de</strong>, em <strong>de</strong>trimento d<strong>os</strong> interesses da<br />

espécie. Um processo fundamental da afirmação da individualida<strong>de</strong> se manifesta através<br />

do “<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> matar” as individualida<strong>de</strong>s que entram em conflito com a sua. (MORIN,<br />

1997).<br />

Mas para matar é preciso correr o risco <strong>de</strong> morte. O risco <strong>de</strong> morte não é apenas<br />

social, diz respeito também a<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> valores, <strong>os</strong> quais valem mais do que nós mesm<strong>os</strong><br />

e compensam o risco <strong>de</strong> morte. A inadaptação a escravidão ou a forma em que a relação<br />

senhor/escravo se estrutura torna-se <strong>no</strong>rteador das atitu<strong>de</strong>s impensadas em face do risco<br />

100

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!