os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
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Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />
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misericordi<strong>os</strong>o”, “Ali, Gabriel, Maomé, J<strong>os</strong>é, Ismael, Salomão, Moises, Davi, Jesus”,<br />
“À boa inteligência d<strong>os</strong> Coraixitas”, “Em <strong>no</strong>me <strong>de</strong> Deus clemente e misericordi<strong>os</strong>o”, e<br />
“Deus me basta. Não há outro Deus senão ele.”.<br />
Para Nina Rodrigues, o curi<strong>os</strong>o processo <strong>de</strong> reforçar-se o efeito moral ou<br />
espiritual das orações pelo efeito moral da sua ingestão é um atestado da<br />
imp<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> em que se acham <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> <strong>de</strong> dispensar as práticas fetichistas. Este<br />
processo consiste em se escrever orações em tábuas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira apropriadas, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
tê-las escrit<strong>os</strong> vinte vezes, na ultima lavar a tabua para que o crente beba esta água tida<br />
por miracul<strong>os</strong>a. Dessa forma, o corpo se fechava a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> malefíci<strong>os</strong> - essa<br />
preocupação eterna do temor da feitiçaria, que domina e subjuga o negro.<br />
Exp<strong>os</strong>ta a visão e <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Nina Rodrigues, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> atentar à fala <strong>de</strong> La<br />
Rochefoucauld sobre que nem o sol nem a morte po<strong>de</strong>m ser olhad<strong>os</strong> <strong>de</strong> frente, <strong>de</strong> lá pra<br />
cá, observa Morin (1997), a ciência lançou inúmer<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> ao sol, mas permaneceu<br />
intimidada com a morte.<br />
O homem não viu que ao fixar o olhar a morte, estava fixando o olhar em si<br />
mesmo; e não viu que sua atitu<strong>de</strong> primordial não era a morte, mas a sua atitu<strong>de</strong> em face<br />
da morte. É preciso inverter a ótica, bater nas portas do homem antes <strong>de</strong> bater nas portas<br />
da morte. (MORIN, 1997). É em virtu<strong>de</strong> disto, que buscarem<strong>os</strong> nas práticas vividas pelo<br />
homo religi<strong>os</strong>us africa<strong>no</strong>, evi<strong>de</strong>nciar suas representações <strong>de</strong> morte.<br />
Partindo da relação espécie-indivíduo-socieda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> dizer que a espécie se<br />
auto-protege ao fazer morrer naturalmente seus indivídu<strong>os</strong>, ela salvaguarda seu próprio<br />
rejuvenescimento e também se protege da morte perigo ou agressão, graças a todo um<br />
sistema <strong>de</strong> instinto <strong>de</strong> proteção. No interior da espécie reina um tabu <strong>de</strong> proteção “<strong>os</strong><br />
lob<strong>os</strong> não se <strong>de</strong>voram”. Na medida em que a morte significa uma perda <strong>de</strong><br />
individualida<strong>de</strong>, uma cegueira animal à morte, é uma cegueira à individualida<strong>de</strong>.<br />
(MORIN, 1997).<br />
É a individualida<strong>de</strong> humana que se m<strong>os</strong>tra lúcida diante <strong>de</strong> sua morte; tentando<br />
negá-la elabora o mito da imortalida<strong>de</strong>. A consciência da morte não é algo inato e sim o<br />
produto <strong>de</strong> uma consciência que capta o real. A morte humana é um conhecimento do<br />
indivíduo. (MORIN, 1997).<br />
Justamente por seu conhecimento da morte ser exterior e não inato que o homem<br />
é sempre surpreendido pela morte. Freud explica que sempre insistim<strong>os</strong> <strong>no</strong> caráter<br />
oci<strong>de</strong>ntal da morte. Mais importante que isto é o assombro sempre <strong>no</strong>vo provocado pela<br />
consciência da inelutabilida<strong>de</strong> da morte. A afirmação do indivíduo em relação à morte<br />
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