os africanos no brasil - Departamento de História - UEM
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Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />
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preferisse o catolicismo ao “maometismo”: em primeiro lugar, o islamismo era<br />
dificultado pelo <strong>de</strong>saparecimento gradual da proteção isoladora das línguas africanas,<br />
em geral sempre <strong>de</strong>sconhecidas da população crioula. Em segundo lugar, o catolicismo<br />
seria mais passível <strong>de</strong> ser aproximado das mitologias negras pouco <strong>de</strong>senvolvidas,<br />
<strong>de</strong>vido a<strong>os</strong> seus sant<strong>os</strong> e a pompa d<strong>os</strong> seus cult<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> e por último, como viviam<br />
em um ambiente católico, <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> crioul<strong>os</strong> tendiam a se dizerem católic<strong>os</strong>.<br />
Nina Rodrigues afirma que pelo men<strong>os</strong> um terço d<strong>os</strong> velh<strong>os</strong> african<strong>os</strong><br />
sobreviventes na Bahia eram mulçumis ou malês e mantinham o culto perfeitamente<br />
organizado. Havia uma autorida<strong>de</strong> central, o Imã ou Almámy, e numer<strong>os</strong><strong>os</strong> sacerdotes<br />
que <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pendiam. O Imã é chamado entre nós <strong>de</strong> Lima<strong>no</strong>, que é uma corrupção ou<br />
simples modificação <strong>de</strong> pronuncia <strong>de</strong> Almamy ou El Imámy. Os sacerdotes ou<br />
verda<strong>de</strong>ir<strong>os</strong> marabus são chamad<strong>os</strong> na Bahia <strong>de</strong> alufás. Os fiéis, segundo Nina<br />
Rodrigues, seguiam regularmente <strong>os</strong> preceit<strong>os</strong> mulçumis, mas tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> ofíci<strong>os</strong> e at<strong>os</strong><br />
religi<strong>os</strong><strong>os</strong> eram praticad<strong>os</strong> sob a maior reserva. Como protesto às violências sofridas<br />
pel<strong>os</strong> malês em 1835, nunca mais a igreja mulçumi baiana <strong>de</strong>u forma pública às suas<br />
festas.<br />
No entanto, Nina Rodrigues afirma sobre <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> islâmic<strong>os</strong>, serem tão<br />
fetichistas quanto <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> católic<strong>os</strong> ou do culto ioruba<strong>no</strong>: <strong>os</strong> malês da Bahia acham<br />
mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> fazer d<strong>os</strong> verset<strong>os</strong> do Alcorão, das águas <strong>de</strong> lavagem, das tábuas <strong>de</strong> escrita, <strong>de</strong><br />
palavras e <strong>de</strong> rezas cabalísticas, etc., outras tantas mandingas, dotadas <strong>de</strong> <strong>no</strong>táveis<br />
virtu<strong>de</strong>s miracul<strong>os</strong>as(RODRIGUES, 1982). Nina Rodrigues p<strong>os</strong>suia gran<strong>de</strong> coleção <strong>de</strong><br />
gris-gris, mandingas ou amulet<strong>os</strong> d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong> muçulmis, <strong>os</strong> quais enviou à Paris para<br />
serem traduzid<strong>os</strong>. Tratava-se <strong>de</strong> verset<strong>os</strong> do alcorão ou algumas palavras místicas,<br />
escrit<strong>os</strong> <strong>de</strong> modo simbólico ou mágico.<br />
É p<strong>os</strong>sível <strong>de</strong>tectar n<strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> invocações a Maomé e Jesus, em alguns havia a<br />
presença <strong>de</strong> sangue, o que sugere que o do<strong>no</strong> do talismã teve seu pedido atendido,<br />
outr<strong>os</strong> gris-gris ou talismãs eram <strong>de</strong>stinad<strong>os</strong> a proteger o indivíduo que o trazia. Havia<br />
muit<strong>os</strong> vers<strong>os</strong> retirad<strong>os</strong> do Corão, às vezes com ortografia incorreta ou faltando sílabas<br />
nas mesmas palavras. Nina Rodrigues concluiu que o todo <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como<br />
místico, escrito por algum marabu que há <strong>de</strong> ter vendido o seu talismã a algum pobre<br />
diabo ig<strong>no</strong>rante e fanático 12 , e escrito <strong>de</strong> modo que ele não compreenda patavina.<br />
Alguns d<strong>os</strong> versetes que Nina Rodrigues teve acesso são: “Obe<strong>de</strong>ço à or<strong>de</strong>m do senhor<br />
12 É recorrente <strong>no</strong> discurso <strong>de</strong> Nina Rodrigues, caracterizar <strong>os</strong> feiticeir<strong>os</strong> como manipuladores que se<br />
aproveitam da ingenuida<strong>de</strong> das pessoas.<br />
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