14.04.2013 Views

os africanos no brasil - Departamento de História - UEM

os africanos no brasil - Departamento de História - UEM

os africanos no brasil - Departamento de História - UEM

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong> das Religiões. ANPUH, A<strong>no</strong> III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983-2850<br />

http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artig<strong>os</strong><br />

______________________________________________________________________<br />

transmissão, pela herança, <strong>de</strong> certas qualida<strong>de</strong>s d<strong>os</strong> antepassad<strong>os</strong>,<br />

saltando uma ou algumas gerações. A sobrevivência é um fenôme<strong>no</strong><br />

antes do domínio social, e se distingue do primeiro pela continuida<strong>de</strong><br />

que ele pressupõe: representa <strong>os</strong> resquíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> temperament<strong>os</strong> ou<br />

qualida<strong>de</strong>s morais, que se acham ou se <strong>de</strong>vem supor em via <strong>de</strong><br />

extinção gradual, mas que continuam a viver ao lado, ou associad<strong>os</strong><br />

a<strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> hábit<strong>os</strong>, às <strong>no</strong>vas aquisições morais ou intelectuais.<br />

(RODRIGUES, 1982, p.272-273).<br />

Rodrigues consi<strong>de</strong>ra a reversão atávica uma modalida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>generação<br />

psíquica, da a<strong>no</strong>rmalida<strong>de</strong> orgânica que, quando corporizada na inadaptação do<br />

indivíduo à or<strong>de</strong>m social adotada pela geração a que ele pertence, ou, quando se<br />

corporizou na inadaptação às condições existenciais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, que é a sua,<br />

constitui a criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong>rmal ou ordinária.<br />

A sobrevivência criminal é, ao contrário, um caso especial <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong>,<br />

aquele que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> étnica, resultante da coexistência, numa<br />

mesma socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> pov<strong>os</strong> ou raças em fases diversas <strong>de</strong> evolução moral e jurídica, <strong>de</strong><br />

sorte que aquilo que ainda não é imoral nem antijurídico para uns, réus já <strong>de</strong>ve sê-lo<br />

para outr<strong>os</strong>. Des<strong>de</strong> 1894 que Rodrigues insiste <strong>no</strong> contingente que prestam à<br />

criminalida<strong>de</strong> <strong>brasil</strong>eira muit<strong>os</strong> at<strong>os</strong> antijurídic<strong>os</strong> d<strong>os</strong> representantes das “raças<br />

inferiores”, negra e - <strong>os</strong> quais, contrári<strong>os</strong> à or<strong>de</strong>m social estabelecida <strong>no</strong> país pel<strong>os</strong><br />

branc<strong>os</strong>, são, todavia, perfeitamente lícit<strong>os</strong>, morais e jurídic<strong>os</strong>, consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> do ponto<br />

<strong>de</strong> vista a que pertencem <strong>os</strong> que <strong>os</strong> praticam. Na sua forma, esses at<strong>os</strong> proce<strong>de</strong>m, uns do<br />

estágio da sua evolução jurídica, proce<strong>de</strong>m outr<strong>os</strong> do das suas crenças religi<strong>os</strong>as.<br />

(RODRIGUES, 1982).<br />

Rodrigues enten<strong>de</strong> que a persistência das idéias do talião (sofrer pela parte que<br />

pecou) explica um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> crimes da população negra e mestiça. Rodrigues<br />

cita quatro cas<strong>os</strong>, o primeiro referente à um meni<strong>no</strong> a quem a sua avó meteu ambas as<br />

mã<strong>os</strong> em uma panela d‟água fervendo, para puni-lo <strong>de</strong> haver furtado comida <strong>de</strong> uma<br />

marmita colocada <strong>no</strong> fogão. O segundo sobre uma menina a quem a amante <strong>de</strong> seu pai<br />

meteu igualmente as mã<strong>os</strong> em água fervendo, para puni-la <strong>de</strong> ter roubado. A<br />

queimadura causou a morte <strong>de</strong>sta criança. O terceiro caso é sobre a mão <strong>de</strong> um negro,<br />

cortada pelo mesmo motivo. E por último, uma criancinha <strong>de</strong> dois an<strong>os</strong>, cuja avó,<br />

africana, lhe aplicou sobre <strong>os</strong> lábi<strong>os</strong> uma colher <strong>de</strong> metal muito quente, a fim <strong>de</strong> puni-la,<br />

pela queimadura da boca, da indiscrição infantil <strong>de</strong> ter dito a um cobrador, <strong>de</strong> quem se<br />

ocultava a velha, que esta se achava em casa. (RODRIGUES, 1982).<br />

85

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!