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João Cândido: A Luta pelos Direitos Humanos - DHnet

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JOÃO CÂNDIDO<br />

E AS LETRAS<br />

São comuns referências a <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> como iletrado: analfabeto, semi-analfabeto, entre<br />

outros. Seja do ponto de vista conservador, para desqualifi cá-lo, seja, ao contrário, para valorizar<br />

a autenticidade de sua condição popular. Quanto à alfabetização, pode-se dizer: era um leitor<br />

constante que sabia escrever (embora pouco à vontade). O marujo gaúcho falava bem espanhol e<br />

grego, além de ter noções de inglês e francês. O escritor <strong>João</strong> do Rio, depois de entrevistá-lo, fi cou<br />

impressionado: “É um homem imensamente inteligente, com uma inteligência muito superior à de<br />

vários sujeitos que passam por notabilidade”.<br />

As supostas provas de seu analfabetismo são discutíveis. O fato de ser pobre e negro<br />

no período Pós-Abolição não o coloca automaticamente na condição de analfabeto, o que seria<br />

repetição de surrados preconceitos. Quanto a ter assinado a rogo seu interrogatório no Conselho de<br />

Guerra ou ter ditado suas memórias no Hospital dos Alienados, são gestos que indicam situações<br />

de estresse combinadas com difi culdades motoras, pois a falangeta (conhecida hoje por falange<br />

distal) de seu dedo indicador direito fora decepada durante o serviço na Marinha. O jornalista Edmar<br />

Morel testemunhou que a caligrafi a do marujo era ruim e que o trauma no dedo o atrapalhava. Mas<br />

ainda assim, <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> participou ao lado do escritor de várias noites de lançamento e um de<br />

seus autógrafos está guardado na Fundação Biblioteca Nacional. Há diversos registros de que <strong>João</strong><br />

<strong>Cândido</strong> escreveu bilhetes e cartas e não consta que tenha pedido ajuda para tal atividade.<br />

Quanto à leitura, as referências são numerosas: desde a foto em que aparece lendo o<br />

decreto de anistia no Diário Ofi cial, durante a revolta, até as anotações de sua fi cha no Hospital dos<br />

Alienados sobre a leitura de jornais, hábito, aliás, que manteria nos últimos anos de vida, quando lia<br />

diariamente, na Baixada Fluminense, o Correio da Manhã. Em sua mesa de cabeceira sempre havia<br />

livros, em geral emprestados por amigos: romances policiais, a Bíblia, obras sobre nacionalismo.<br />

É possível verifi car também que <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> estava sempre ciente de tudo que se<br />

escrevia sobre ele, posicionando-se a respeito. Esteve na redação da Gazeta de Notícias, em 1913,<br />

para fazer uma correção na publicação de suas memórias, do mesmo modo que em entrevista ao<br />

jornal O Dia, em 1959, criticaria com clareza, autores como Vivaldo Coaracy e o almirante Luis<br />

Autran de Alencastro Graça que investiam contra ele. Ao mesmo tempo, considerava o livro A<br />

Revolta da Chibata como “minha história”. Salienta-se, ainda, que nenhum de seus fi lhos fi cou<br />

sem alfabetização, como assinalou a fi lha Zeelândia. <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> estava longe, portanto, de ser<br />

analfabeto, ou “semi-analfabeto”(sic).<br />

Assinatura de<br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong><br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> lia com lampião de querosene:<br />

não havia luz elétrica em sua casa.<br />

90 JOÃO JO CÂNDIDO A <strong>Luta</strong> <strong>pelos</strong> <strong>Direitos</strong> <strong>Humanos</strong><br />

Arquivo - Fundação Biblioteca Nacional<br />

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