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João Cândido: A Luta pelos Direitos Humanos - DHnet

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<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong><br />

carregando cestos<br />

de peixe em 1937:<br />

durante quatro décadas<br />

sustentou a numerosa<br />

família com escasso<br />

dinheiro, através da<br />

pesca artesanal.<br />

Foto dir. pescadores,<br />

biscateiros e marinheiros<br />

freqüentavam o cais<br />

Pharoux (Praça XV, Rio de<br />

Janeiro, RJ).<br />

O trabalho excessivo e pesado na carga acabou por prejudicar sua saúde e<br />

teve que baixar hospital. Sem esquecer que, em todos esses empregos, foi demitido<br />

por pressão de ofi ciais da Marinha sobre os patrões. A perseguição continuava,<br />

implacável. Sua esposa faleceu em 1917, quatro anos depois do casamento.<br />

Então, em 1919, juntando o dinheiro que restava, comprou o modesto caíque<br />

Três Marias para pescar na praia de Santa Luzia, Centro do Rio de Janeiro, e vender os<br />

peixes em cestos perto dali, no mercado do cais Pharoux (Praça XV). Em condição de<br />

pobreza, mas perto dos elementos entre os quais fi cava mais à vontade (cais, navios,<br />

marinheiros, o mar) e no meio de sua gente, viveu por quatro décadas, sem salário<br />

fi xo e garantias sociais, como os demais pescadores pobres em todo o Brasil.<br />

Arquivo - Fundação Biblioteca Nacional<br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> vivia com sua segunda esposa, Maria Dolores Vidal, com quem<br />

fi cou durante oito anos e teve quatro fi lhos, entre os quais Zeelândia <strong>Cândido</strong>, que<br />

se tornaria uma das principais defensoras da memória do pai. Maria Dolores era uma<br />

mulher bonita, fi lha de português com uma mulata, e teve fi m trágico. Aos 26 anos,<br />

em 1928, ela suicidou-se ateando fogo ao corpo. Fato que trouxe de volta o nome<br />

do ex-marujo aos jornais. A fi lha mais velha desse casamento, Nauça, morreria do<br />

mesmo modo e no mesmo local que a mãe, exatos dez anos depois. No enterro de<br />

Maria Dolores, <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> recebeu homenagens de um grupo de jovens marujos<br />

que sequer conhecia: fardados, trouxeram coroa de fl ores e carregaram o caixão em<br />

passo marcial. Um dos marinheiros adiantou-se e lhe disse: “A sua história fi cou na<br />

Arquivo Nacional<br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> em 1957, aos 77 anos, quando ainda vendia<br />

peixes no cais, ladeado por dois fi scais da Inspeção<br />

Sanitária que queriam aparecer com ele na foto.<br />

“E daí para cá, caí na penúria, no<br />

ódio. Passei a viver na vida civil. Muito<br />

perseguido pela Marinha.”<br />

(<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> em depoimento ao Museu da<br />

Imagem e do Som)<br />

882 JOÃO JO CÂNDIDO A <strong>Luta</strong> <strong>pelos</strong> <strong>Direitos</strong> <strong>Humanos</strong><br />

Revista Semana - Fundação Biblioteca Nacional<br />

Acervo Adalberto <strong>Cândido</strong> (Candinho)<br />

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