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João Cândido: A Luta pelos Direitos Humanos - DHnet

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Na falta de fotografi as<br />

recentes dos castigos<br />

corporais, a imprensa<br />

publicava antigos desenhos<br />

para abordar assunto atual.<br />

A violenta repressão contra<br />

os marujos gerou denúncias<br />

pela imprensa, que tratava<br />

abertamente do tema.<br />

foram o estopim da Revolta da Chibata) narrou quatro décadas depois ao jornal O<br />

Globo: “Eu mesmo assisti ao assassinato do cabo Medeiros, fuzilado por ordem do<br />

marechal Hermes. Depois, no Realengo, vi tombarem Canuto, Zacarias e Marinho, sob<br />

carga de fuzil”. São, pelo menos, mais quatro marujos executados.<br />

As medidas repressivas, tornadas públicas, fi zeram com que uma parte da<br />

imprensa brasileira voltasse a denunciar as violências e arbítrios como o Correio da<br />

Manhã. A revista Illustração Brasileira publicou, em dezembro de 1910, longa matéria<br />

sobre castigos corporais e torturas ao longo da história.<br />

A “ILHA DO MARTÍRIO”<br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> deixou o encouraçado Minas Gerais, após a revolta do Batalhão<br />

Naval. Ao desembarcar no Arsenal da Marinha, foi cercado por dezenas de fuzileiros<br />

armados e imediatamente preso, sob acusação de estar liderando a recente rebelião.<br />

A Ilustra Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional<br />

Detido no Quartel Central do Exército, incomunicável, passou por interrogatórios<br />

duros e afrontosos, sem tortura física.<br />

No dia 24 de dezembro, <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> viu-se conduzido à Ilha das Cobras.<br />

Sob pretexto de que todas as cadeias da cidade estavam lotadas, foi o primeiro a<br />

ser jogado numa cela solitária, encravada na rocha, úmida, de aspecto lúgubre e<br />

apertada. Apesar da denominação do local – solitária – foram a seguir colocados<br />

na “jaula” (expressão do carcereiro) mais 17 marujos. Na “solitária” ao lado fi caram<br />

outros 13 marinheiros. Ao todo, 31 detidos, despidos, num espaço onde mal cabiam<br />

duas pessoas. Eram os considerados “elementos perigosos”, no linguajar ofi cial.<br />

O comandante do Batalhão Naval, capitão-de-fragata Francisco José<br />

Marques da Rocha, simplesmente levou as chaves das “jaulas” com ele ao se retirar<br />

da guarnição à noite. Na madrugada de 25, ouviram-se gritos de desespero dos<br />

encarcerados, debaixo de um “calor sufocante”. Durante o dia, o carcereiro jogou<br />

cal sobre os detentos, a pretexto de higienizar o local. No dia 26, abriram a porta<br />

da cela e perguntaram se <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> vivia. O marujo gaúcho, com o rosto colado<br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>, com seu porte<br />

altivo, parecia conduzir os<br />

soldados que o prendiam.<br />

770 JOÃO JO CÂNDIDO A <strong>Luta</strong> <strong>pelos</strong> <strong>Direitos</strong> <strong>Humanos</strong><br />

Arquivo - Fundação Biblioteca Nacional<br />

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