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João Cândido: A Luta pelos Direitos Humanos - DHnet

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RIO DE JANEIRO:<br />

AS VÁRIAS CIDADES<br />

O Rio de Janeiro pelo qual se moviam preferencialmente os marinheiros conspiradores ainda tinha<br />

fortes traços coloniais e africanos, sobretudo os bairros portuários de Saúde e Gamboa que, somados à<br />

área do morro da favela local e da praça Onze, formavam o que já foi chamado de Pequena África carioca.<br />

Pelas vielas tortuosas, casarios antigos, ladeiras e desvãos, havia cortiços, sobrados e construções<br />

encravadas na rocha. A região, considerada berço do samba, abrigava também os primeiros grupos de<br />

choro, ao lado do maxixe e do lundu. Os temidos capoeiras pontifi cavam por ali. Cemitérios como o dos<br />

ingleses e o dos escravos haviam caído em desuso e davam a medida de um tempo que fi cava para trás.<br />

Não longe desses locais, o Rio de Janeiro se modernizava vertiginosamente, com a abertura da<br />

larga avenida Central (hoje Rio Branco) inspirada nos bulevares franceses: prédios suntuosos estilo Belle<br />

Époque, calçadões largos e lampiões sofi sticados. Foi a era da demolição do morro do Castelo, enfi m,<br />

do “bota-abaixo” de antigas casas e vielas, com o afastamento das classes pobres do Centro da capital<br />

federal, empurradas para os morros e periferias. O ano da Revolta da Chibata foi o da inauguração de<br />

prédios monumentais e europeizados, como o da Biblioteca Nacional e do Teatro Municipal, ambos na<br />

Cinelândia que, como o nome diz, este abrigava a última palavra em tecnologia do entretenimento, o<br />

cinematógrafo.<br />

Apesar da proclamação da República, o Rio continuava a exercer, na prática, o papel de cidade<br />

imperial da nação.<br />

Uma parte do Rio de Janeiro<br />

se modernizava com rapidez:<br />

a avenida Central (Rio<br />

Branco) era exemplo nítido<br />

dessas mudanças.<br />

Marinheiros freqüentavam<br />

a parte mais tradicional da<br />

cidade, como o mercado<br />

próximo ao cais Pharoux<br />

(Praça XV).<br />

Fundação Casa de Rui Barbosa<br />

Tal Comitê congregava representantes das variadas tripulações e era<br />

chefi ado por Vitalino José Ferreira e, com ele, estavam no comando Pedro Lino dos<br />

Santos, José Eduardo de Oliveira, (Ni) Cássio de Oliveira e Manoel da Silva Lopes.<br />

Todos tripulantes do encouraçado Minas Gerais.<br />

A segunda reunião preparatória, em 23 de outubro, a única que contou com<br />

agentes de todas as guarnições rebeldes (nos demais encontros sempre um navio<br />

estava em viagem), ocorreu num dos muitos cortiços da cidade, na vila Ruy Barbosa, e<br />

se revestiu de certa solenidade: houve um juramento de que, “cobertos com a bandeira<br />

da República, fariam todo o possível para o bom cumprimento da causa”, conforme<br />

narrou <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> nas memórias publicadas na Gazeta de Notícias. O cortiço, ou<br />

casa de cômodos, era habitação típica das classes populares urbanas no século<br />

XIX e início do XX. No local da reunião “residiam muitos marinheiros, na sua quase<br />

totalidade músicos, os quais faziam parte direta do movimento”, como testemunhou<br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>. Entre os marinheiros, de fato, havia músicos exímios, como Manoel<br />

Gregório do Nascimento, e fi cou famosa a sessão de maxixe apresentada à rainha<br />

d. Amélia (esposa de d. Manuel II, último rei de Portugal), quando esta recebeu a<br />

tripulação do navio-escola Benjamin Constant que visitava Lisboa, em 1909.<br />

Marinheiros músicos<br />

participaram da Revolta da<br />

Chibata, como este grupo<br />

a bordo do encouraçado<br />

Minas Gerais.<br />

44 JOÃO CÂNDIDO A <strong>Luta</strong> <strong>pelos</strong> <strong>Direitos</strong> <strong>Humanos</strong><br />

O Malho - Fundação Biblioteca Nacional<br />

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