João Cândido: A Luta pelos Direitos Humanos - DHnet
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Nilo Peçanha, presidente<br />
da República, recebeu<br />
<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> cordialmente<br />
seis meses antes da<br />
rebelião, mas não se dispôs<br />
a acabar com a chibata na<br />
Marinha brasileira.<br />
“O primeiro grãozinho foi na organização dos comitês,<br />
já com título de comitês revolucionários. A intenção<br />
era aquela, logo que tivéssemos o elemento inicial para<br />
impormos às autoridades, a revolta teria que vir.”<br />
(<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>, depoimento ao Museu de Imagem e do Som)<br />
Em cada guarnição a conspiração tinha dinâmicas próprias: os encontros<br />
ocorriam de modo informal ou em comitês clandestinos e locais variados. Reuniam-se<br />
entre si e com integrantes dos demais navios, mas em pequeno número. A partir daí,<br />
as informações circulavam entre os marujos que não compareciam aos encontros. As<br />
tripulações remetidas para ocupar as novas embarcações fabricadas na Inglaterra<br />
formaram a base principal do movimento. O levante esboçou-se com fi rmeza na<br />
tripulação do cruzador-ligeiro Bahia, onde estavam Francisco Dias Martins, Ricardo<br />
Freitas e Adalberto Ribas, homens brancos e com bom domínio da cultura letrada:<br />
o primeiro era cearense de família com alguns recursos e, o outro, posteriormente<br />
se tornaria professor. Dias Martins costuma ser apontado como mentor intelectual<br />
do movimento. No Bahia estava também Marcelino Rodrigues de Menezes, o último<br />
marujo a receber chibatadas na Marinha brasileira. Os integrantes do Minas Gerais,<br />
entre os quais <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>, eram mais numerosos e, ao retornarem primeiro ao<br />
Brasil vindos da Inglaterra, deram os passos iniciais na organização do levante.<br />
A guarnição do São Paulo mostrou-se aguerrida, e nela estavam o alagoano<br />
Manoel Gregório do Nascimento e o baiano André Avelino de Santana, ambos negros.<br />
Já os tripulantes do Deodoro eram bem politizados e consideravam os conspiradores<br />
como membros de uma Divisão Revolucionária, entre os quais, o marujo José Alves<br />
de Souza.<br />
Não havia ofi ciais envolvidos: apenas marinheiros, cabos e sargentos.<br />
A hierarquia no interior do levante não seguiria a mesma lógica da hierarquia<br />
institucional. A estada na Inglaterra, seja pelo menor controle exercido sobre os<br />
marujos, seja pelo exemplo de conquista de direitos, estimulou o desenrolar do<br />
projeto. Foi o período da conspiração que se estendeu na volta ao Brasil.<br />
A organização, propriamente, da revolta efetivou-se em três encontros<br />
preparatórios em 12 de setembro, 23 e 25 de outubro de 1910, no chamado Comitê<br />
Revolucionário que se formou “com todo sigilo, sem que as autoridades pudessem<br />
saber”, como narrou <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>, reunindo-se cada vez num ponto diferente: na Vila<br />
Ruy Barbosa, situada na rua dos Inválidos, 71, no Centro do Rio de Janeiro e, ainda, na<br />
rua do Livramento e no bar Jogo de Bola, que fi cavam nos bairros próximos ao porto,<br />
como Saúde e Gamboa.<br />
Os marujos do recémconstruído<br />
encouraçado<br />
São Paulo formaram uma<br />
das principais bases da<br />
Revolta da Chibata.<br />
442 JOÃO JO CÂNDIDO A <strong>Luta</strong> <strong>pelos</strong> <strong>Direitos</strong> <strong>Humanos</strong><br />
Acervo Marco Morel<br />
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