João Cândido: A Luta pelos Direitos Humanos - DHnet
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O motim dos marujos em<br />
março de 1964 contou com<br />
a presença de <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong><br />
que, nesta foto do jornal<br />
Última Hora, aparece ao lado<br />
do “cabo” Anselmo.<br />
teve seus direitos políticos cassados e não pode mais sobreviver da profi ssão de<br />
jornalista devido, principalmente, à perseguição de ofi ciais da Marinha.<br />
Sempre morando na casa nova (arejada, limpa, ordenada e com uma varanda<br />
onde gostava de fi car), em rua de terra batida, cercado de fi lhos e netos,<br />
o líder da Revolta da Chibata tornou-se evangélico e freqüentava regularmente os<br />
cultos na Igreja Metodista do Brasil, em São <strong>João</strong> de Meriti. Na mesa de cabeceira<br />
acumulavam-se livros, papéis, recortes de jornais e outros materiais que ele constantemente<br />
lia.<br />
Os pulmões, enfraquecidos pela antiga tuberculose e pelo hábito de fumar,<br />
levaram o ex-marujo a ser internado às pressas num precário hospital público. Diagnosticaram<br />
câncer em estado avançado e nesta mesma noite, 6 de dezembro de<br />
1969, falecia o Almirante Negro, aos 89 anos. Ainda assim, não deixaram seu corpo<br />
em paz. Apesar de ser uma típica “morte de causa natural”, enviaram-no para autópsia.<br />
A morte foi noticiada nos principais jornais, mas ao enterro compareceram<br />
poucas pessoas. O medo pairava no ar. Entre os presentes, familiares, o pastor Lucas<br />
Manzon da Igreja Metodista e um pequeno grupo de jornalistas dirigentes da<br />
Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como Antônio Mesplê, Gumercindo Cabral<br />
e Edmar Morel. Chovia torrencialmente, no céu espocavam relâmpagos, a lama do<br />
cemitério grudava nos sapatos, as águas encharcavam a todos. As chuvas do verão<br />
carioca, que ainda hoje paralisam a cidade, acentuavam a desolação do momento. As<br />
únicas fl ores levadas no enterro do Almirante Negro, por Aurora, esposa de Edmar,<br />
foram carregadas pelo temporal. Policiais à paisana fotografavam ostensivamente<br />
os presentes. O autor de A Revolta da Chibata pronunciou apenas uma frase à beira<br />
do túmulo: “Adeus, <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>, você dignifi cou a espécie humana”.<br />
Na varanda de sua casa nova,<br />
na Baixada Fluminense,<br />
o líder da Revolta da Chibata<br />
gostava de conversar e<br />
receber visitas.<br />
Enterro de <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong><br />
debaixo de tempestade,<br />
durante a ditadura militar. À<br />
frente, segurando o caixão,<br />
o fi lho caçula Adalberto<br />
<strong>Cândido</strong> e o jornalista<br />
Gumercindo Cabral (de paletó)<br />
e, atrás deste, parcialmente<br />
encoberto, Edmar Morel.<br />
98 JOÃO JO CÂNDIDO A <strong>Luta</strong> <strong>pelos</strong> <strong>Direitos</strong> <strong>Humanos</strong><br />
Agência O Dia<br />
Agência JB<br />
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