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João Cândido: A Luta pelos Direitos Humanos - DHnet

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Edmar Morel e <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong><br />

lançam a 2ª edição de A<br />

Revolta da Chibata, durante<br />

o IV Festival do Escritor<br />

Brasileiro. Nesta noite o<br />

marujo foi cumprimentado<br />

pela nata da intelectualidade,<br />

como Jorge Amado, Clarice<br />

Lispector, Vinicius de Morais,<br />

Rubem Braga e Manuel<br />

Bandeira, entre outros.<br />

O então jovem Silvio Tendler, sonhando em iniciar a carreira de cineasta, resolveu<br />

fazer seu primeiro trabalho, um fi lme sobre <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>. Filmou várias cenas<br />

do ex-marujo na casa nova, mas sem som. Esse material, escondido para evitar a<br />

repressão após o golpe militar, acabaria destruído.<br />

A segunda edição de A Revolta da Chibata ocorreu em 1963, em pleno governo<br />

<strong>João</strong> Goulart, do qual Edmar Morel integrava o segundo escalão, como assessor<br />

de imprensa de dois ministérios, Saúde e Obras Públicas. O autor também, por essa<br />

época, estava à frente do jornal O Semanário, pertencente a Oswaldo Costa e que<br />

reunia intelectuais nacionalistas de esquerda, em geral não-marxistas, como Barbosa<br />

Lima Sobrinho, Josué de Castro, Francisco Julião (das Ligas Camponesas), Osny<br />

Duarte Pereira, Gondim da Fonseca, Joel Silveira, entre outros.<br />

A nova edição foi lançada – mais uma vez com a presença de autor e personagem<br />

– no IV Festival do Escritor Brasileiro, evento precursor da Bienal do Livro,<br />

no Museu de Arte Moderna carioca. Ao lançamento compareceu grupo ruidoso e empolgado<br />

de jovens marinheiros fardados que, cantando o Cisne Branco, jogaram seus<br />

gorros para o alto gritando o nome de <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong>. À frente desses rapazes vinha o<br />

marinheiro de 1ª classe (“promovido” a cabo pela imprensa) José Anselmo dos Santos,<br />

que aparecia como liderança emergente dos movimentos sociais. Como a noite<br />

de autógrafos foi até tarde, <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> resolveu pernoitar perto dali, no Centro da<br />

Arquivo - Fundação Biblioteca Nacional<br />

cidade, mas passou por dez hotéis e em todos recusaram-no, sob pretexto de que<br />

não havia vaga. O impiedoso racismo continuava presente na sociedade brasileira.<br />

Depois das tentativas, foi aceito no pequeno hotel Globo, na rua Riachuelo.<br />

A reunião ocorrida no Sindicato dos Metalúrgicos, nos idos de março de 1964,<br />

logo se tornou sublevação, com os marujos desafi ando a ofi cialidade da Marinha e<br />

retomando algumas demandas da rebelião de 1910, como melhoria da alimentação e<br />

dos soldos. <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> foi convocado e compareceu, saudado como herói e símbolo<br />

<strong>pelos</strong> novos rebeldes. O “cabo” Anselmo, entusiasmado, brandia a recente edição<br />

de A Revolta da Chibata. Isso no dia 25 de março. O velho marujo saiu do encontro<br />

com sensação de contrariedade e desabafou: “Revolta de marinheiro só dá certo no<br />

mar”. A manifestação dos marinheiros foi um dos pretextos para o golpe militar, sob<br />

o conhecido argumento de quebra da hierarquia. Hoje em dia é fartamente provado<br />

que o “cabo” Anselmo revelou-se como agente infi ltrado dos órgãos de repressão<br />

brasileiros e até da CIA. Embora ainda reste a polêmica em defi nir se tal condição<br />

ocorreu antes ou depois do golpe de 1964.<br />

Vários marinheiros, sobretudo os mais politizados e ligados à Associação de<br />

Marinheiros e Fuzileiros Navais, visitaram <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> entre 1962 e 1964: a entidade<br />

chegou a pagar-lhe mensalmente um auxílio, suspenso com o golpe civil-militar,<br />

já que a maioria dos integrantes foi presa e expulsa da Marinha.<br />

Com a ditadura implantada, o nome <strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> não fi cou mais em evidência,<br />

ao contrário, era perigoso mencioná-lo. Tanto que ele concederia de forma<br />

clandestina o depoimento ao Museu da Imagem e do Som, em 1968. Edmar Morel<br />

<strong>João</strong> <strong>Cândido</strong> acena para<br />

marinheiros que se rebelaram<br />

em 25 de março de 1964. No<br />

fundo, à esquerda, sorridente,<br />

o “cabo” Anselmo. Por trás<br />

do ex-marujo, a bandeira do<br />

Sindicato dos Metalúrgicos.<br />

96 JOÃO JO CÂNDIDO A <strong>Luta</strong> <strong>pelos</strong> <strong>Direitos</strong> <strong>Humanos</strong><br />

Agência JB<br />

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