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132 A encruzilhada política paraguaia Processo de médio e longo prazos. Modificar um sistema político não é uma tarefa simples nem que se possa realizar em tempo breve. Deve ter os olhos postos, pelo menos, nas duas próximas décadas, para permitir que se incorporem novos paradigmas de relacionamento político e se ponham em prática políticas de Estado, que só darão resultado em médio e longo prazos. Capacidade de resolver conflitos. A experiência nos diz que as iniciativas que têm reunido grupos de poder distintos só sobreviveram até as suas primeiras dissidências. Deve-se estar consciente de que elas sempre existirão, independentemente da vontade dos participantes e da delicadeza com que se conduzam os relacionamentos entre eles. É preciso estabelecer mecanismos de decisão e de solução de divergências e conflitos, e mesmo procedimentos de saída, para o caso de um eventual rompimento irreconciliável. É necessário, sobretudo, criar as condições iniciais para um projeto político renovador. Um processo só pode ser bem sucedido se, desde o início, se criam as condições para que possa ter êxito. Lançar-se a um projeto complexo com objetivos pouco claros, com decisão insuficiente, sem a convicção e o comprometimento necessários, com empenho meramente eleitoral, com forças políticas e sociais anárquicas e sem vocação de poder, é lançar-se a um processo sem possibilidade de êxito. O êxito é uma necessidade. Um projeto que vise a criar uma nova cultura política, um novo modelo de gestão política, não deve terminar em fracasso. Se essa iniciativa renovadora terminar em fracasso no exercício do poder, o país ficará sem opções por longo período de tempo. Definitivamente, o Paraguai do começo do século XXI encontra-se diante de uma encruzilhada: continuar com o modelo político atual ou criar um novo, sustentado por valores e princípios democráticos, que vão muito além da insuficiente democracia formal que até hoje temos sido capazes de produzir. A adesão real e ativa ao conceito do uso do poder em benefício do povo e o respeito – além dos aspectos formais – pela institucionalidade da república devem ser as bases dessa nova cultura política, que terá de se inserir num povo que, até hoje, não conheceu muito mais que caudilhos que ordenam e vassalos que obedecem. 132 DIPLOMACIA, ESTRATÉGIA E POLÍTICA – ABRIL/JUNHO 2006

Conclusão DIPLOMACIA, ESTRATÉGIA E POLÍTICA – ABRIL/JUNHO 2006 Pedro Fadul “O atual modelo político paraguaio está agonizando, mas o novo modelo e aqueles que liderarão esse processo ainda não acabaram de surgir” A construção de um novo modelo político paraguaio por meio da criação de uma verdadeira alternativa “de poder”, e não apenas de uma alternativa “para o poder” atual, é o desafio do presente para aqueles que estão convencidos da caducidade do perverso modelo atual – um modelo sustentado por um partido que absorveu o Estado e o colocou a seu serviço, utilizando como instrumentos as prebendas, a corrupção e o clientelismo políticos. Esse modelo está agonizando, mas aquele que deverá substituí-lo ainda não está pronto. Até hoje a tarefa de construção de uma alternativa para o modelo atual continua pendente, apesar da longa ansiedade por mudar este degradante estado de coisas que o país vive – um estado de coisas hoje consolidado, depois de meio século de nefastos governos de um único signo. A constatação dessa situação, entretanto, não permitiu, até hoje, construir as bases suscetíveis de dar alguma possibilidade de êxito a um projeto alternativo. Cair na armadilha de buscar o poder por meio de um projeto cujo único objetivo seja meramente eleitoral é expor-se a repetir as experiências de maus governos no país e na região ou os fracassos eleitorais que apenas conseguiram afastar as expectativas da possibilidade de sua realização. A tarefa de construir a “Alternativa de Poder”, tantas vezes declamada, que possa instalar um novo “Modelo Político”, continua pendente. Os conteúdos dos dois conceitos até hoje não foram definidos com clareza bastante e, por isso, deve-se iniciar a tarefa com sua definição clara. Uma iniciativa conjunta pode encurtar o caminho para esse desafio, desde que se lhe dêem as bases expostas acima. Enquanto isso não se der, a construção da Alternativa de Poder ficará nas mãos de cada grupo ou partido político de maneira individual, situação que lhe diminuirá, sem dúvida, as possibilidades de êxito. DEP Tradução: Luiz A. P. Souto Maior Revisão: Regina Furquim 133

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A encruzilhada política paraguaia<br />

Processo de médio e longo prazos. Modificar um sistema político não é<br />

uma tarefa simples nem que se possa realizar em tempo breve. Deve ter os olhos<br />

postos, pelo menos, nas duas próximas décadas, para permitir que se incorporem<br />

novos paradigmas de relacionamento político e se ponham em prática políticas<br />

de Estado, que só darão resultado em médio e longo prazos.<br />

Capacidade de resolver conflitos. A experiência nos diz que as iniciativas<br />

que têm reunido grupos de poder distintos só sobreviveram até as suas primeiras<br />

dissidências. Deve-se estar consciente de que elas sempre existirão,<br />

independentemente da vontade dos participantes e da delicadeza com que se<br />

conduzam os relacionamentos entre eles. É preciso estabelecer mecanismos de<br />

decisão e de solução de divergências e conflitos, e mesmo procedimentos de<br />

saída, para o caso de um eventual rompimento irreconciliável.<br />

É necessário, sobretudo, criar as condições iniciais para um projeto político<br />

renovador. Um processo só pode ser bem sucedido se, desde o início, se criam<br />

as condições para que possa ter êxito. Lançar-se a um projeto complexo com<br />

objetivos pouco claros, com decisão insuficiente, sem a convicção e o<br />

comprometimento necessários, com empenho meramente eleitoral, com forças<br />

políticas e sociais anárquicas e sem vocação de poder, é lançar-se a um processo<br />

sem possibilidade de êxito.<br />

O êxito é uma necessidade. Um projeto que vise a criar uma nova cultura<br />

política, um novo modelo de gestão política, não deve terminar em fracasso. Se<br />

essa iniciativa renovadora terminar em fracasso no exercício do poder, o país<br />

ficará sem opções por longo período de tempo.<br />

Definitivamente, o Paraguai do começo do século XXI encontra-se diante<br />

de uma encruzilhada: continuar com o modelo político atual ou criar um novo,<br />

sustentado por valores e princípios democráticos, que vão muito além da insuficiente<br />

democracia formal que até hoje temos sido capazes de produzir. A adesão real e<br />

ativa ao conceito do uso do poder em benefício do povo e o respeito – além dos<br />

aspectos formais – pela institucionalidade da república devem ser as bases dessa<br />

nova cultura política, que terá de se inserir num povo que, até hoje, não conheceu<br />

muito mais que caudilhos que ordenam e vassalos que obedecem.<br />

132 DIPLOMACIA, ESTRATÉGIA E POLÍTICA – ABRIL/JUNHO 2006

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