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Morfologia dos dentes do bicho-preguiça de coleira ... - Biotemas

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cularmente adapta<strong>do</strong> ao exercício da função para este<br />

animal em vida livre. Neste senti<strong>do</strong>, a morfologia <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

<strong><strong>de</strong>ntes</strong> da <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong> <strong>de</strong>monstra uma relativa<br />

simplicida<strong>de</strong> em seus componentes.<br />

Ao analisarmos o <strong>de</strong>sgaste <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong>, este é<br />

marcadamente nota<strong>do</strong> na face oclusal e, particularmente<br />

na <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong>, foi fácil verificar que tal fenômeno<br />

ocorreu <strong>de</strong> forma praticamente simultânea em todas<br />

as peças, excetuan<strong>do</strong>-se o primeiro par superior.<br />

Relativamente ao número <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong>, Magitot (1877, apud<br />

Della Serra, 1965) formulou algumas leis que permitem<br />

uma análise mais aprofundada: "o número <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong> é<br />

proporcional às dimensões <strong><strong>do</strong>s</strong> maxilares, os quais <strong>de</strong>terminam<br />

a extensão atual e seu prolongamento progressivo".<br />

Estes aspectos na <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong> ficaram<br />

evi<strong><strong>de</strong>ntes</strong> quan<strong>do</strong> se observou a arcada <strong>de</strong>ntária, mediante<br />

o exame <strong>de</strong> imagens radiográficas com visão panorâmica.<br />

Outros enuncia<strong><strong>do</strong>s</strong> afirman<strong>do</strong> que "a diminuição<br />

numérica da fórmula <strong>de</strong>ntal é um fenômeno <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação<br />

da espécie ou <strong>do</strong> indivíduo, ligan<strong>do</strong>-se à seleção natural<br />

ou artificial", ou que "o aumento numérico da fórmula<br />

<strong>de</strong>ntal está na razão direta <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong><br />

da raça e proporcional à intensida<strong>de</strong> <strong>do</strong> prognatismo<br />

aci<strong>de</strong>ntal ou étnico". Com as <strong>de</strong>vidas restrições à fórmula<br />

<strong>de</strong>ntal da <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong>, aliada a uma análise<br />

da sua morfologia, esta não nos permite estabelecer uma<br />

inferiorização da espécie em relação a outros animais e<br />

a o u t r o s Bradypus. Ao contrário, evolução é sinônimo<br />

<strong>de</strong> adaptação e não <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> morfofuncional. A<br />

afirmação <strong>de</strong>stes autores antece<strong>de</strong> aos conceitos contemporâneos<br />

<strong>de</strong> plasticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> biotipos, o que significa<br />

afirmar que os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> da <strong>preguiça</strong> estão bem como estão,<br />

apesar <strong>de</strong> (Simpson, 1932) primitiva as constituições<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>nte em relação à presença <strong>de</strong> esmalte. Embora<br />

possamos concordar com os autores <strong>de</strong> que as dimensões<br />

absolutas e relativas <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong> são extremamente<br />

variáveis, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a espécie animal, segun<strong>do</strong><br />

as ida<strong>de</strong>s observadas, grau <strong>de</strong> especialização,<br />

concorrência vital e dimorfismo sexual. Até porque,<br />

mesmo sen<strong>do</strong> esta amostra pequena, alterações <strong>de</strong>ste<br />

tipo foram observadas comparan<strong>do</strong>-se como casos isola<strong><strong>do</strong>s</strong>,<br />

os animais jovens em relação aos adultos.<br />

Tecnicamente, os animais <strong>de</strong>nta<strong><strong>do</strong>s</strong> são classifica<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com seus <strong><strong>de</strong>ntes</strong> em: hipso<strong>do</strong>ntes,<br />

Estrutura <strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> <strong>bicho</strong>-<strong>preguiça</strong> <strong>de</strong> <strong>coleira</strong> (Bradypus torquatus)<br />

81<br />

braquio<strong>do</strong>ntes e homo<strong>do</strong>ntes. Genericamente, os autores<br />

consi<strong>de</strong>ram que os animais homo<strong>do</strong>ntes não exercem<br />

função mastigatória e seus <strong><strong>de</strong>ntes</strong> <strong>de</strong>stinam-se unicamente<br />

a reter a presa. O <strong>de</strong>senho <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong> da <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong><br />

permitiu inferir que isto ocorreu em<br />

parte, uma vez que as bordas cortantes da coroa <strong>de</strong>ntal<br />

da arcada superior em relação à inferior possibilitam que<br />

as folhas <strong>de</strong> vegetais fiquem presas, sejam maceradas<br />

pelas cúspi<strong>de</strong>s e acumulem resíduos e líqui<strong><strong>do</strong>s</strong> na cavida<strong>de</strong><br />

da coroa.<br />

A análise das arcadas <strong>de</strong>ntárias da <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong><strong>coleira</strong><br />

permitiu-nos reconhecer uma morfologia <strong>de</strong>ntária<br />

com forte tendência à homogeneida<strong>de</strong>, sem correlações<br />

evi<strong><strong>de</strong>ntes</strong> com funções diversificadas durante a<br />

mastigação. Estes fatos naturalmente restringem a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um confronto <strong>de</strong>stas informações com outros<br />

vertebra<strong><strong>do</strong>s</strong>, visto que a maioria <strong>de</strong>stes são<br />

hetero<strong>do</strong>ntes (Hil<strong>de</strong>brand, 1995; Di Dio, 2002).<br />

Concordamos que os hábitos alimentares inegavelmente<br />

influenciam o comportamento <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong> da <strong>preguiça</strong>,<br />

tanto na forma quanto na disposição na arcada<br />

<strong>de</strong>ntária. Rensberger (1973) referiu que padrões oclusais<br />

análogos adquiri<strong><strong>do</strong>s</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, em diferentes<br />

grupos realmente influenciam na estrutura <strong>do</strong> <strong>de</strong>nte. E a<br />

complexida<strong>de</strong> das inter-relações <strong>de</strong> pressão, movimento<br />

<strong>do</strong> alimento, espessura, morfologia <strong>de</strong>ntal e <strong>de</strong>sgaste<br />

implicam que uma estimativa precisa das funções não<br />

po<strong>de</strong> ser feita sem uma avaliação quantitativa <strong>de</strong> todas<br />

as varieda<strong>de</strong>s, que se modificam simultaneamente durante<br />

o processo <strong>de</strong> mastigação. O exame das imagens<br />

radiográficas das arcadas <strong>de</strong>ntárias <strong>do</strong> B. torquatus permite-nos<br />

concordar com estas afirmações, pois é fácil<br />

enten<strong>de</strong>r a motilida<strong>de</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong> em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> seu<br />

<strong>de</strong>sgaste.<br />

Naturalmente que a especificida<strong>de</strong> alimentar da <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong><br />

causa pouca pressão na dinâmica<br />

mastigatória. A espessura <strong>do</strong> alimento relativamente linear<br />

contribuiu para que os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> molariformes não<br />

sofressem ao longo <strong>do</strong> tempo uma pressão evolutiva para<br />

aquisição <strong>de</strong> esmalte (Hilsson, 1986; Naples, 1987 e<br />

1990) nesta espécie, manten<strong>do</strong> a estrutura <strong>de</strong> orto<strong>de</strong>ntina<br />

modificada, à qual se referiram Sasso e Serra (1965)<br />

em B. tridactylus, Naples (1987 e 1990) em B. choloepus<br />

e Frigolo (1985) em e<strong>de</strong>ntatas. Este mesmo processo<br />

Revista <strong>Biotemas</strong>, 19 (4), <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006

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