Morfologia dos dentes do bicho-preguiça de coleira ... - Biotemas
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R. E. G. R. Azarias, C. E. Ambrósio, D. <strong><strong>do</strong>s</strong> S. Martins, V. L. <strong>de</strong> Oliveira, E. Benetti, J. R. Ferreira e M. A. Miglino<br />
são central, i<strong>de</strong>ntificada em to<strong><strong>do</strong>s</strong> os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> <strong>de</strong> to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />
espécimes analisa<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />
A morfologia <strong>do</strong> <strong>de</strong>nte na <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong> está<br />
fortemente relacionada aos hábitos alimentares da espécie<br />
e <strong>de</strong>monstra não existir neste animal uma especialização<br />
<strong>de</strong>ntal, pois tanto a arcada superior quanto a<br />
inferior alojam, em suas cavida<strong>de</strong>s alveolares, <strong><strong>de</strong>ntes</strong><br />
molariformes (Hil<strong>de</strong>brand, 1995) <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos semelhantes<br />
que exibem, ao <strong>de</strong>sgaste, alterações em sua coroa,<br />
tais como irregularida<strong>de</strong>s na superfície oclusal <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong><br />
<strong><strong>do</strong>s</strong> jovens em relação aos adultos. Nestes mamíferos<br />
foi possível i<strong>de</strong>ntificar a coroa clínica e a raiz. A<br />
<strong>de</strong>ntina mostrou-se sempre <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> esmalte. Para<br />
Eaton (1960), em casos raros como os Xenarthra, o esmalte<br />
po<strong>de</strong> apresentar-se parcialmente, fato não i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong><br />
em 100% das amostras estudadas. Alguns conceitos<br />
são fundamentais no que concerne aos <strong><strong>de</strong>ntes</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong><br />
vertebra<strong><strong>do</strong>s</strong> superiores. Para Grassé (1954) e Della Serra<br />
(1965), os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> po<strong>de</strong>m ser dividi<strong><strong>do</strong>s</strong> em grupos, com<br />
funções diversas, vale dizer: incisivos, para cortar; caninos,<br />
para perfurar ou <strong>de</strong>spedaçar; e os molares, para<br />
moer. Desta forma, cada espécie animal, na <strong>de</strong>pendência<br />
<strong>de</strong> seu hábito alimentar, apresenta <strong><strong>de</strong>ntes</strong> com funções<br />
mais específicas. De fato, na <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong><br />
é fácil i<strong>de</strong>ntificar este fenômeno, pois a espécie apresenta<br />
apenas <strong><strong>de</strong>ntes</strong> molariformes, que exibem um <strong>de</strong>sgaste<br />
progressivo da coroa em relação ao envelhecimento<br />
<strong>do</strong> animal.<br />
Poucos mamíferos apresentam molares tão atípicos.<br />
Até porque a <strong>preguiça</strong> <strong>de</strong>senvolveu atitu<strong>de</strong>s para a sua<br />
sobrevivência, que dispensa peças <strong>de</strong>ntais tão resistentes.<br />
Este animal vive no alto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s árvores, para<br />
fugir <strong>de</strong> preda<strong>do</strong>res. Alimenta-se <strong>de</strong> folhas jovens ou brotos<br />
porque necessita <strong>de</strong> obter água, uma vez que ele só<br />
vai ao solo para <strong>de</strong>fecar, em geral uma vez por semana, o<br />
que significa dizer que a água utilizada em seu metabolismo<br />
é retirada da vegetação (Montgomery, 1985).<br />
De acor<strong>do</strong> com Montgomery (1985), a especialização<br />
<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong> <strong>de</strong>terminou o aparecimento <strong>de</strong> outras funções,<br />
além da mastigação, tais como transporte, locomoção,<br />
<strong>de</strong>fesa e preensão. Estes aspectos pu<strong>de</strong>ram ser verifica<strong><strong>do</strong>s</strong><br />
quan<strong>do</strong> analisamos os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> na <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong>,<br />
que apresenta apenas formações molariformes, com função<br />
voltada à moagem <strong>do</strong> alimento. Grassé (1954) e Della<br />
Revista <strong>Biotemas</strong>, 19 (4), <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006<br />
Serra (1965) concordam que os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> são freqüentemente<br />
<strong>de</strong>fini<strong><strong>do</strong>s</strong> como "órgãos ou massa dura, <strong>de</strong> teci<strong><strong>do</strong>s</strong><br />
calcifica<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>de</strong> coloração esbranquiçada, situa<strong><strong>do</strong>s</strong> na cavida<strong>de</strong><br />
bucal e coloca<strong><strong>do</strong>s</strong> sobre os maxilares, on<strong>de</strong> se dispõem<br />
em fileiras". Como é fácil verificar, este conceito é<br />
genérico e, se assim concebi<strong>do</strong>, não se afasta das observações<br />
realizadas nesta pesquisa. Continuan<strong>do</strong> as colocações,<br />
os autores relatam que os histologistas consi<strong>de</strong>ram o <strong>de</strong>nte<br />
como um órgão composto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntina, polpa e teci<strong><strong>do</strong>s</strong> acessórios<br />
como o esmalte e o cemento, já os embriologistas<br />
<strong>de</strong>finem o <strong>de</strong>nte como um órgão pertencente ao grupo das<br />
produções <strong>de</strong> aperfeiçoamento e <strong>de</strong>pen<strong><strong>de</strong>ntes</strong> <strong>de</strong> to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />
teci<strong><strong>do</strong>s</strong> que constituem as maxilas. Entretanto, para os zoólogos<br />
e filósofos naturalistas, os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> são órgãos <strong>de</strong> combate,<br />
ataque ou <strong>de</strong>fesa, concorren<strong>do</strong> para a conservação e<br />
perpetuação da espécie. Estas vertentes <strong>de</strong> interpretação<br />
servem para <strong>de</strong>monstrar que o B. torquatus é um mo<strong>de</strong>lo<br />
biológico muito particular que merece ser preserva<strong>do</strong>, necessitan<strong>do</strong><br />
para tanto <strong>de</strong> estu<strong><strong>do</strong>s</strong> especiais em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
características inerentes à espécie.<br />
Conforme Grassé (1954), Della Serra (1965),<br />
Hil<strong>de</strong>brand (1995) e Ma<strong>de</strong>ira (1996 e 2001), na concepção<br />
atual, o <strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como parte <strong>de</strong><br />
um conjunto muito importante e complexo, o aparelho<br />
mastiga<strong>do</strong>r, cujas <strong>de</strong>mais partes estão representadas<br />
pelos ossos maxilares e mandíbula, músculos da<br />
mastigação, língua, glândulas salivares, vasos e nervos.<br />
Em relação à <strong>preguiça</strong>-<strong>de</strong>-<strong>coleira</strong>, embora a literatura<br />
especializada seja pouco específica nestes particulares,<br />
os resulta<strong><strong>do</strong>s</strong> ora observa<strong><strong>do</strong>s</strong> permitem-nos imaginar uma<br />
convergência com estas alusões. Relativamente ao número<br />
<strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>ntes</strong>, os autores informaram que existe uma<br />
variabilida<strong>de</strong> entre espécies, afirman<strong>do</strong> que os <strong><strong>de</strong>ntes</strong><br />
são mais simples nos animais inferiores. Ainda estes<br />
autores afirmam que os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> ten<strong>de</strong>m a diminuir em<br />
número, tornan<strong>do</strong>-se mais complexos quanto mais complica<strong>do</strong><br />
for o organismo <strong>do</strong> animal. Alusões estas que<br />
nos permitem refletir sobre a posição da família<br />
Bradypodidae na escala zoológica. O esta<strong>do</strong> atual da<br />
arte nos permite consi<strong>de</strong>rar que simplicida<strong>de</strong> ou complexida<strong>de</strong><br />
morfológica não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> evolução e sim<br />
<strong>de</strong> adaptação <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho estrutural à forma. Isto significa<br />
dizer que os <strong><strong>de</strong>ntes</strong> molariformes da <strong>preguiça</strong> se<br />
mantiveram neste estágio porque ele é próprio e parti-