Frankenstein de Mary Shelley e sua mensagem perene - Nepas.org.br
Frankenstein de Mary Shelley e sua mensagem perene - Nepas.org.br
Frankenstein de Mary Shelley e sua mensagem perene - Nepas.org.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Artigo <strong>de</strong> Revisão<<strong>br</strong> />
<strong>Frankenstein</strong> <strong>de</strong> <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> e <strong>sua</strong><<strong>br</strong> />
<strong>mensagem</strong> <strong>perene</strong> so<strong>br</strong>e a responsabilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
da ciência sob a luz da Bioética<<strong>br</strong> />
<strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong>’s <strong>Frankenstein</strong> and its perennial message about science responsibility<<strong>br</strong> />
un<strong>de</strong>r the light of Bioethics<<strong>br</strong> />
Resumo<<strong>br</strong> />
196 Arq Bras Ciên Saú<strong>de</strong>, Santo André, v.34, n. 3, p. 196-200, Set/Dez 2009<<strong>br</strong> />
Cristiane Regina Ruiz 1<<strong>br</strong> />
O presente artigo <strong>de</strong>monstra as reflexões filosóficas so<strong>br</strong>e a ciência e seus avanços, contidas no romance <strong>Frankenstein</strong> <strong>de</strong> <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong>, escrito em<<strong>br</strong> />
1818. O texto propõe uma discussão acerca dos avanços tecnológicos e a atitu<strong>de</strong> humana frente à ciência e tecnologia fundamentada na Bioética, com<<strong>br</strong> />
ênfase na ética da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hans Jonas e na crítica so<strong>br</strong>e o uso <strong>de</strong>smedido da tecnologia. Tece-se uma re<strong>de</strong> que se inicia pela discussão da<<strong>br</strong> />
obsessão pelo conhecimento e pelo po<strong>de</strong>r da criação até o <strong>de</strong>spertar da consciência para os efeitos funestos do ambivalente po<strong>de</strong>r tecnológico, alertando<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vigilância ética frente à tecnologia, o uso da ciência com consciência e o reconhecimento das falhas do comportamento<<strong>br</strong> />
humano por meio da reflexão e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s pautadas na responsabilida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Palavras-chave: Bioética; ética; tecnologia; <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico.<<strong>br</strong> />
Abstract<<strong>br</strong> />
This article <strong>de</strong>monstrates the philosophical reflections on science and its progress in <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong>’s novel <strong>Frankenstein</strong>, written in 1818. The text<<strong>br</strong> />
proposes a discussion about technological advances and human attitu<strong>de</strong> facing science and technology, based on Bioethics and emphasizing the<<strong>br</strong> />
ethics of responsibility of Hans Jonas and the criticism on the disproportionate use of technology. We created a network that begins by discussing the<<strong>br</strong> />
obsession with knowledge and the power of creation to the awakening of consciousness for the purpose of ambivalent technological power, warning<<strong>br</strong> />
about the need for an ethics monitoring the technology front, with the use of science and conscience recognition of the failures of human behavior<<strong>br</strong> />
through reflection and attitu<strong>de</strong>s based on responsibility.<<strong>br</strong> />
Keywords: Bioethics; ethics; technology; technological <strong>de</strong>velopment.<<strong>br</strong> />
Recebido: 17/10/2008<<strong>br</strong> />
Revisado: 29/6/2009<<strong>br</strong> />
Aprovado: 30/6/2009<<strong>br</strong> />
1 Disciplina <strong>de</strong> Bioética do Centro Universitário São Camilo (Cusc), São Paulo (SP), Brasil<<strong>br</strong> />
En<strong>de</strong>reço para correspondência: Avenida Nazareth, 1.501 – Ipiranga – CEP – São Paulo – SP – Fone: (11) 2588-4000 – E-mail: crisruiz@scamilo.edu.<strong>br</strong>
Introdução<<strong>br</strong> />
<strong>Frankenstein</strong> é talvez o primeiro e mais famoso trabalho <strong>de</strong> ficção<<strong>br</strong> />
que se volta para o mundo da ciência numa época em que os autores<<strong>br</strong> />
usavam os avanços na Medicina para imaginar práticas diabólicas ou<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>ilhantes cirurgiões que praticavam transplantes <strong>de</strong> mem<strong>br</strong>os 1-4 . A<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>a ten<strong>de</strong> a reflexões filosóficas intrincadas, influenciadas pela filiação<<strong>br</strong> />
da autora <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> e seu marido Percy <strong>Shelley</strong> – fato que a mesma<<strong>br</strong> />
reitera na introdução <strong>de</strong> seu livro: “Não é <strong>de</strong> se admirar que eu, sen-<<strong>br</strong> />
do filha <strong>de</strong> duas céle<strong>br</strong>es personalida<strong>de</strong>s literárias, tivesse muito cedo<<strong>br</strong> />
inclinações para a escrita”. Ou então: “(...) os estudos, sob a forma da<<strong>br</strong> />
leitura ou das tentativas <strong>de</strong> sofisticar-me intelectualmente através do<<strong>br</strong> />
convívio com meu marido, que era bem mais culto do que eu, eram toda<<strong>br</strong> />
a ativida<strong>de</strong> literária em que eu estava envolvida”. <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> era uma<<strong>br</strong> />
mulher avançada para seu tempo, uma ouvinte <strong>de</strong>vota das conversas<<strong>br</strong> />
entre seu marido e o amigo da família, Lord Byron, costume esse que<<strong>br</strong> />
fomentou <strong>sua</strong> criativida<strong>de</strong> e culminou no surgimento do romance: “(...)<<strong>br</strong> />
ao longo <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas conversas, várias doutrinas filosóficas foram<<strong>br</strong> />
discutidas – entre outras, o princípio da vida e se havia alguma proba-<<strong>br</strong> />
bilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se chegar à <strong>sua</strong> <strong>de</strong>scoberta e divulgação” 5 .<<strong>br</strong> />
O intuito era escrever uma história <strong>de</strong> terror, assustadora ao ex-<<strong>br</strong> />
tremo e que, como diz a autora, “<strong>de</strong>ixasse o espectador com medo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
olhar ao seu redor, que lhe enregelasse o sangue e lhe acelerasse as<<strong>br</strong> />
batidas do coração”. Esse efeito <strong>de</strong> fato foi alcançado e a história se<<strong>br</strong> />
converteu numa produção cinematográfica* cuja caracterização, mais<<strong>br</strong> />
talvez do que o livro, fez com que <strong>Frankenstein</strong> se tornasse conhecido<<strong>br</strong> />
pelo público do mundo inteiro por várias décadas 4,6 . Todavia, o que nos<<strong>br</strong> />
intriga é o porquê <strong>de</strong>sse enredo se perpetuar década após década. O<<strong>br</strong> />
que há <strong>de</strong> tão mo<strong>de</strong>rno e atual nessa história que faz com que continue<<strong>br</strong> />
sendo vista, lida e comentada por todo esse tempo? Numa leitura mais<<strong>br</strong> />
aprofundada da introdução do romance, a própria <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> indica<<strong>br</strong> />
uma pista: “A invenção, precisamos humil<strong>de</strong>mente admiti-lo, não con-<<strong>br</strong> />
siste em criar a partir do nada, mas a partir do caos. A matéria-prima<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve estar, em primeiro lugar, à nossa disposição: a criativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
dar corpo à substância sem cor e sem forma, mas não é capaz <strong>de</strong> criar a<<strong>br</strong> />
substância em si”. Nesse caso, a substância <strong>de</strong> que <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> fala é<<strong>br</strong> />
da ciência e seus avanços, tema que se mantém sempre atual e que serve<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> subsídio para <strong>sua</strong> o<strong>br</strong>a. O fato <strong>de</strong> ouvir as conversas tanto so<strong>br</strong>e as<<strong>br</strong> />
técnicas científicas que eram discutidas nos séculos 17 e 18 sinalizando<<strong>br</strong> />
para a origem da ciência e experimentação, quanto so<strong>br</strong>e a construção<<strong>br</strong> />
dos fundamentos so<strong>br</strong>e os quais várias das experiências médicas sub-<<strong>br</strong> />
sequentes foram realizadas, influenciou a escritora em <strong>sua</strong> criação 7 . O<<strong>br</strong> />
motor da história é sem dúvida a <strong>de</strong>senfreada busca e ansieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> co-<<strong>br</strong> />
nhecimento do Dr. Victor <strong>Frankenstein</strong>, que <strong>de</strong> personagem principal<<strong>br</strong> />
da trama, passa a um papel secundário na mente e na concepção dos<<strong>br</strong> />
espectadores que empo<strong>de</strong>ram a criatura <strong>de</strong> uma imagem ficcional tão<<strong>br</strong> />
possante passando a chamá-lo <strong>de</strong> <strong>Frankenstein</strong>, não sendo este, no en-<<strong>br</strong> />
tanto, o nome do monstro, mas sim <strong>de</strong> seu criador 2 . O romance nos<<strong>br</strong> />
* Kenneth Branagh, director. <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong>’s <strong>Frankenstein</strong>. Tristar Pictures, 2004.<<strong>br</strong> />
Ruiz CR<<strong>br</strong> />
mostra, em primeiro lugar, um homem se<strong>de</strong>nto <strong>de</strong> conhecimento que<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>dica <strong>sua</strong> vida a essa busca, e que ao mesmo tempo se <strong>de</strong>para com o<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>r que lhe é conferido quando se <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>e <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> tanto conhe-<<strong>br</strong> />
cimento. Em <strong>sua</strong> jornada, esquece <strong>de</strong> <strong>sua</strong> condição humana e passa a<<strong>br</strong> />
uma condição doentia <strong>de</strong> criador que não me<strong>de</strong> esforços para alcançar<<strong>br</strong> />
seus objetivos e provar <strong>sua</strong> autorida<strong>de</strong> e seu po<strong>de</strong>r. Ao concluir <strong>sua</strong><<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>a, porém, envergonha-se <strong>de</strong> seus atos e tenta se livrar da horrível<<strong>br</strong> />
criatura que resulta <strong>de</strong> <strong>sua</strong> criação. No fim, arrepen<strong>de</strong>-se totalmente e<<strong>br</strong> />
em conversa com o capitão que o salva no meio do oceano, alerta-o<<strong>br</strong> />
para os perigos da se<strong>de</strong> infindável <strong>de</strong> conhecimento e po<strong>de</strong>r que po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
levar o homem à loucura e a <strong>de</strong>sgraça. Este artigo propõe uma discus-<<strong>br</strong> />
são acerca dos avanços tecnológicos e a atitu<strong>de</strong> humana frente à ciência<<strong>br</strong> />
e tecnologia fundamentada na ética da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hans Jonas<<strong>br</strong> />
e na crítica so<strong>br</strong>e o uso <strong>de</strong>smedido da tecnologia.<<strong>br</strong> />
A obsessão pelo conhecimento<<strong>br</strong> />
“Tanto já foi feito, exclamou a alma <strong>de</strong> <strong>Frankenstein</strong> – mais, muito<<strong>br</strong> />
mais é o que alcançarei; seguindo os passos que já foram dados, serei<<strong>br</strong> />
pioneiro num outro caminho, explorarei po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>sconhecidos e reve-<<strong>br</strong> />
larei ao mundo os mais profundos mistérios da criação”.<<strong>br</strong> />
Durante <strong>sua</strong> estada na universida<strong>de</strong>, o Dr. Victor <strong>Frankenstein</strong><<strong>br</strong> />
mostra um entusiasmo na busca <strong>de</strong> novos conhecimentos que se torna<<strong>br</strong> />
doentio e obsessivo, afastando-o <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos e transformando-o<<strong>br</strong> />
num homem que vai ao extremo da loucura em nome <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s pesqui-<<strong>br</strong> />
sas. Ele reconhece a sedutora excitação da <strong>de</strong>scoberta científica 7 . Como<<strong>br</strong> />
diz Von Zuben 8 , em virtu<strong>de</strong> da tecnociência, o homem é contempla-<<strong>br</strong> />
do com superpo<strong>de</strong>res, o que lhe propicia intenso sentimento <strong>de</strong> eufo-<<strong>br</strong> />
ria pela conquista, tendo como resultado a crença ingênua <strong>de</strong> que as<<strong>br</strong> />
tecnociências resolverão todos os problemas da humanida<strong>de</strong>. Para o<<strong>br</strong> />
personagem, nada é indigno, profano, intolerável, para que seus pres-<<strong>br</strong> />
supostos sejam testados. Em nome do progresso <strong>de</strong> seu trabalho, viola<<strong>br</strong> />
túmulos, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> comer e dormir, afasta-se <strong>de</strong> seus parentes e amigos,<<strong>br</strong> />
viola regras da universida<strong>de</strong>, e consi<strong>de</strong>ra todas essas ações pertinentes<<strong>br</strong> />
para alcançar seus objetivos. “(...) eu parecia ter perdido minha alma e<<strong>br</strong> />
toda a sensibilida<strong>de</strong> ao que fosse exterior àquela busca”.<<strong>br</strong> />
Dr. Victor se torna cego e sem limites. De acordo com De La<<strong>br</strong> />
Rocque e Teixeira 2 , é essa crítica à falta <strong>de</strong> balizamento ético da ciên-<<strong>br</strong> />
cia, traduzida na ambição <strong>de</strong>smedida <strong>de</strong> conhecimento materializada<<strong>br</strong> />
no personagem o que mais chama atenção na o<strong>br</strong>a. No filme, isso fica<<strong>br</strong> />
explícito por <strong>sua</strong> pesquisa não ser submetida à comunida<strong>de</strong> científica e<<strong>br</strong> />
acadêmica, pela não-aprovação <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s idéias pelo professor que antes o<<strong>br</strong> />
incentivava, e pelo segredo que o mesmo tem so<strong>br</strong>e seu estudo, ao invés<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> compartilhá-lo com os <strong>de</strong>mais. Esses pontos são exemplos <strong>de</strong> como<<strong>br</strong> />
<strong>sua</strong> pesquisa estava em total <strong>de</strong>sacordo com a ética, sendo o tempo todo<<strong>br</strong> />
regida pela ambição <strong>de</strong> glória pessoal. A contenção do conhecimento<<strong>br</strong> />
e <strong>sua</strong> exclusão <strong>de</strong> um fórum social on<strong>de</strong> os prós e os contras po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
ser discutidos e refletidos não é uma imagem totalmente fictícia. Para<<strong>br</strong> />
Arq Bras Ciên Saú<strong>de</strong>, Santo André, v.34, n. 3, p. 196-200, Set/Dez 2009<<strong>br</strong> />
197
<strong>Frankenstein</strong> <strong>de</strong> <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> e a responsabilida<strong>de</strong> da ciência<<strong>br</strong> />
Morin 9 , mesmo hoje há um <strong>de</strong>stroçar do processo do saber/po<strong>de</strong>r que<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> conduzir, se não for combatido no interior das próprias ciências, a<<strong>br</strong> />
um saber que não tenha o propósito <strong>de</strong> ser pensado, refletido, meditado<<strong>br</strong> />
e discutido por seres humanos para esclarecer <strong>sua</strong> visão <strong>de</strong> mundo e<<strong>br</strong> />
<strong>sua</strong> ação no mundo, mas produzido para ser armazenado em bancos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> dados e manipulado por po<strong>de</strong>res anônimos. Essa percepção acerca<<strong>br</strong> />
da ciência não traz benefícios para a socieda<strong>de</strong>, tornando a ciência e a<<strong>br</strong> />
tecnologia egocêntricas, como a ciência do Dr. Victor <strong>Frankenstein</strong>.<<strong>br</strong> />
De acordo com <strong>de</strong> La Rocque e Teixeira 2 , seria a boa ciência uma<<strong>br</strong> />
forma <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>marcada por valores éticos que garantiriam<<strong>br</strong> />
a segurança da socieda<strong>de</strong> frente a possíveis perigos advindos <strong>de</strong>ssa ati-<<strong>br</strong> />
vida<strong>de</strong>. Por ignorar esses limites, Dr. Victor cai em <strong>de</strong>sgraça. Portanto,<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>-se dizer que o po<strong>de</strong>r, ao se tornar auto suficiente, propicia que<<strong>br</strong> />
aquilo que seria uma promessa <strong>de</strong> futuro melhor se reverta em ameaça,<<strong>br</strong> />
e <strong>sua</strong> perspectiva <strong>de</strong> salvação em apocalipse 10 . A tecnologia que não é<<strong>br</strong> />
usada a serviço da humanida<strong>de</strong>, mas sim para o propósito <strong>de</strong> uma pes-<<strong>br</strong> />
soa, não é eticamente válida. Como citam <strong>de</strong> La Rocque e Teixeira 2 , a<<strong>br</strong> />
estória se relaciona aos limites éticos da ciência e ao perigo que algumas<<strong>br</strong> />
pesquisas po<strong>de</strong>m legar à socieda<strong>de</strong>, visto que as inovações e avanços<<strong>br</strong> />
por elas conseguidos são cele<strong>br</strong>ados como proezas espetaculares, mas<<strong>br</strong> />
ao mesmo tempo, po<strong>de</strong>m se converter em fonte <strong>de</strong> temor e apreensão 8 .<<strong>br</strong> />
Há o exemplo dos avanços tecnológicos na área da estética, no qual<<strong>br</strong> />
hoje se encontram cirurgiões especialistas em mo<strong>de</strong>los jovens entre 13<<strong>br</strong> />
e 15 anos, <strong>de</strong>butantes trocando a festa pela colocação <strong>de</strong> próteses <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
silicone ou lipoaspiração, mo<strong>de</strong>los mirins com menos <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> ida-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> sendo submetidas a <strong>br</strong>onzeamento artificial, clareamento <strong>de</strong>ntário,<<strong>br</strong> />
tratamentos <strong>de</strong> pele para participação em concursos <strong>de</strong> beleza, entre<<strong>br</strong> />
tantos outros exemplos que nos fazem questionar a positivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses<<strong>br</strong> />
métodos e indagar a partir <strong>de</strong> que ponto os mesmos se tornam violência<<strong>br</strong> />
ao corpo.<<strong>br</strong> />
A consciência <strong>de</strong>spertada<<strong>br</strong> />
“Eu <strong>de</strong>sejava atingir meu objetivo com um fervor sem limites;<<strong>br</strong> />
agora, porém que havia terminado, a beleza do sonho <strong>de</strong>sapareceu;<<strong>br</strong> />
meu coração se encheu <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgosto e senti um horror <strong>de</strong> tirar o fôlego.<<strong>br</strong> />
Incapaz <strong>de</strong> suportar o aspecto do ser que criara, corri para fora dali e<<strong>br</strong> />
fiquei durante um bom tempo perambulando em meu quarto, incapaz<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> apaziguar minha mente e dormir.”<<strong>br</strong> />
A tecnologia é ambivalente e se no momento em que atingimos<<strong>br</strong> />
ou realizamos aquilo que era projetado, <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>imos e reconhecemos<<strong>br</strong> />
que não se trata do almejado, a frustração é a primeira sensação a se<<strong>br</strong> />
manifestar. No caso do Dr. Victor, é o horror, e não a frustração, que se<<strong>br</strong> />
manifesta; <strong>sua</strong> criação, fruto da tecnolatria, revela ao personagem, em<<strong>br</strong> />
estado mais lúcido, o extremo perigo que ele representa a si mesmo. A<<strong>br</strong> />
técnica aqui representa o perigo: a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se libertar dos<<strong>br</strong> />
limites da essência humana, da condição humana 8 .<<strong>br</strong> />
“Será que alguém além <strong>de</strong> mim, o criador, na verda<strong>de</strong> acredita-<<strong>br</strong> />
ria, a menos que seus sentidos o convencessem, na existência do mo-<<strong>br</strong> />
198 Arq Bras Ciên Saú<strong>de</strong>, Santo André, v.34, n. 3, p. 196-200, Set/Dez 2009<<strong>br</strong> />
numento vivo da presunção e da impru<strong>de</strong>nte ignorância que eu soltara<<strong>br</strong> />
no mundo?”<<strong>br</strong> />
De acordo com Von Zuben 8 , a realida<strong>de</strong> tecnocientífica, na <strong>sua</strong><<strong>br</strong> />
essência – embora sendo reconhecida como uma criação do engenho<<strong>br</strong> />
humano – po<strong>de</strong> produzir um abalo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ontológica à existência<<strong>br</strong> />
dos homens. Em outros termos, o ser humano, tal como foi concebido<<strong>br</strong> />
até hoje, é colocado integralmente em questão.<<strong>br</strong> />
“Agora tudo estava arruinado; em vez daquela serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cons-<<strong>br</strong> />
ciência que me permitia olhar para o passado satisfeito comigo mesmo,<<strong>br</strong> />
e daí obter a promessa <strong>de</strong> novas esperanças, o remorso e o sentimento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> culpa haviam se apo<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> mim, e me impeliam a um inferno <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
torturas tão intensas que nenhuma língua po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>screver”.<<strong>br</strong> />
Com a o<strong>br</strong>a completa, Dr. Victor pô<strong>de</strong> perceber seu erro em não<<strong>br</strong> />
refletir, durante todo o processo <strong>de</strong> criação, a falta <strong>de</strong> uma vigilância<<strong>br</strong> />
ética, num re<strong>de</strong>moinho <strong>de</strong> avanços tecnológicos que distanciou a apli-<<strong>br</strong> />
cação das técnicas do pensamento ético, fazendo com que o homo faber<<strong>br</strong> />
subjugue o homo sapiens. Ao torna-se criador, Dr. Victor se esqueceu<<strong>br</strong> />
que também era criatura e que convivia numa socieda<strong>de</strong> com normas<<strong>br</strong> />
morais previamente estabelecidas, criando seu próprio e egocêntrico<<strong>br</strong> />
mundo, on<strong>de</strong> o que quer que fosse feito teria a justificativa científica,<<strong>br</strong> />
não importando os valores humanos em questão.<<strong>br</strong> />
Essa constatação das incríveis transformações que ocorrem à <strong>sua</strong><<strong>br</strong> />
volta faz com que Dr. Victor sinta que a maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação seja<<strong>br</strong> />
acompanhada por um ofuscamento incompreensível <strong>de</strong> <strong>sua</strong> capacida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar os fins <strong>de</strong>ssa ação. Ele compreen<strong>de</strong> os efeitos funestos e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>strutivos <strong>de</strong> <strong>sua</strong> ação, sentindo-se estranho no mundo, e encontran-<<strong>br</strong> />
do-se à mercê <strong>de</strong> forças que o suplantam e cujo domínio lhe escapa<<strong>br</strong> />
das mãos 8 . É nesse momento que ele busca se redimir do que fez, ten-<<strong>br</strong> />
tando <strong>de</strong>struir <strong>sua</strong> criação como se esse fosse o caminho para a paz. É<<strong>br</strong> />
perceptível no filme essa tensão e esse dilema do Dr. Victor quando o<<strong>br</strong> />
mesmo se encontra com a criatura e <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>e que a mesma po<strong>de</strong> falar,<<strong>br</strong> />
que se sente só e quer uma companheira para seguir em terras longín-<<strong>br</strong> />
quas. O diálogo entre criador e criatura <strong>de</strong>monstra o duelo que se trava<<strong>br</strong> />
na mente do Dr. Victor ao perceber <strong>sua</strong> responsabilida<strong>de</strong> so<strong>br</strong>e aquela<<strong>br</strong> />
criatura, o sofrimento a ela causado por <strong>sua</strong>s mãos e o dilema entre<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>struí-lo ou ajudá-lo. Por outro lado, o fato <strong>de</strong> concordar em criar<<strong>br</strong> />
uma companheira para ele o leva a mais um dilema, orquestrado agora<<strong>br</strong> />
por <strong>sua</strong> consciência <strong>de</strong>sperta; a atitu<strong>de</strong> que fez falta antes <strong>de</strong> <strong>sua</strong> criação,<<strong>br</strong> />
agora transborda em <strong>sua</strong> mente e o personagem passa a refletir so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
todas as possibilida<strong>de</strong>s do que po<strong>de</strong>ria vir a acontecer se outra criação<<strong>br</strong> />
fosse posta neste mundo. Ele pesa os prós e os contras, tenta vislum<strong>br</strong>ar<<strong>br</strong> />
o que seria o futuro com duas criaturas semi-humanas vagando por<<strong>br</strong> />
entre os homens, e então <strong>de</strong>siste <strong>de</strong> criá-la. Aqui, o homem pru<strong>de</strong>nte,<<strong>br</strong> />
o homo sapiens, consegue <strong>de</strong>staque em relação ao homo faber. Para Da-<<strong>br</strong> />
vies 7 , é nesse momento em que se reconhecem no Dr. Victor evidências<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> valores morais.<<strong>br</strong> />
“Lem<strong>br</strong>e-se <strong>de</strong> que me fez mais po<strong>de</strong>roso do que você próprio;<<strong>br</strong> />
minha estatura é mais elevada do que a <strong>sua</strong>, e minhas juntas são mais<<strong>br</strong> />
elásticas.”
A cena do confronto entre o criador e a criatura <strong>de</strong>monstra clara-<<strong>br</strong> />
mente o espanto do Dr. Victor quando fica cara a cara com <strong>sua</strong> criação,<<strong>br</strong> />
percebendo a enormida<strong>de</strong> do monstro e <strong>sua</strong> fraqueza perante aquele<<strong>br</strong> />
colosso. Isso mostra o quanto o po<strong>de</strong>r do produto da ciência e da tecno-<<strong>br</strong> />
logia po<strong>de</strong>m se tornar-se maiores que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> quem o cria. Mostra<<strong>br</strong> />
também como é fácil per<strong>de</strong>r o controle so<strong>br</strong>e o que foi criado ou ficar<<strong>br</strong> />
paralisado frente aos dilemas gerados pelo seu uso in<strong>de</strong>vido. De acordo<<strong>br</strong> />
com Davies 7 , Dr. Victor apren<strong>de</strong> como po<strong>de</strong> ser perigosa a aquisição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
conhecimentos científicos. A consciência <strong>de</strong>ssa fragilida<strong>de</strong> do homem<<strong>br</strong> />
como homo faber não é percebida até que a o<strong>br</strong>a é concluída. Posterior-<<strong>br</strong> />
mente é que a socieda<strong>de</strong> ou a humanida<strong>de</strong> começa a perceber os efeitos<<strong>br</strong> />
nocivos e funestos <strong>de</strong> muitas tecnologias e a sofrer as consequências,<<strong>br</strong> />
enquanto os criadores tentam <strong>de</strong>sesperadamente domar <strong>sua</strong> criação.<<strong>br</strong> />
Basta recordar que a mesma energia nuclear que é hoje utilizada na<<strong>br</strong> />
radioterapia para a cura do câncer foi a mesma que dizimou milhares<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> pessoas em Hiroshima e Nagasaki 11 . É nesse panorama que se chama<<strong>br</strong> />
a atenção para a responsabilida<strong>de</strong> tão urgente, como diz Edgar Morin 9 :<<strong>br</strong> />
“A questão da responsabilida<strong>de</strong> do investigador perante a socieda<strong>de</strong> é,<<strong>br</strong> />
portanto, uma tragédia histórica, e seu terrível atraso em relação á ur-<<strong>br</strong> />
gência torna-a ainda mais urgente.”<<strong>br</strong> />
O alerta so<strong>br</strong>e a responsabilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Em 1979, o filósofo alemão Hans Jonas, escreve <strong>sua</strong> o<strong>br</strong>a O prin-<<strong>br</strong> />
cipio responsabilida<strong>de</strong>: ensaio <strong>de</strong> uma ética para a civilização tecnológica,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>monstrando que os perigos da ciência sem consciência não estão ape-<<strong>br</strong> />
nas nos sonhos e na criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong>, mas sim no meio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
nossa socieda<strong>de</strong>. Cerca <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong>pois, o texto <strong>de</strong> Hans Jonas,<<strong>br</strong> />
atualíssimo, serve aqui <strong>de</strong> suporte para a discussão da responsabilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
na pesquisa científica.<<strong>br</strong> />
No romance, Dr. Victor, ao ser resgatado por um navio, conhece<<strong>br</strong> />
o capitão Robert Walton, que viaja pelos oceanos gelados também em<<strong>br</strong> />
busca <strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong> glória. Ao perceber essa tendência, Dr.<<strong>br</strong> />
Victor é veemente em <strong>sua</strong> fala: “Não hei <strong>de</strong> conduzi-lo, in<strong>de</strong>feso e apai-<<strong>br</strong> />
xonado, exatamente como eu era então, a <strong>sua</strong> <strong>de</strong>struição e inevitável<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sgraça. Aprenda comigo – se não com meus preceitos, ao menos com<<strong>br</strong> />
o meu exemplo – o quão perigosa é a aquisição <strong>de</strong> conhecimento...”<<strong>br</strong> />
Nesse momento, em que já tem consciência <strong>de</strong> seus atos e já sofreu<<strong>br</strong> />
as consequências <strong>de</strong> <strong>sua</strong> ânsia <strong>de</strong>smedida, o Dr. Victor tem condições <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
perceber que os novos tipos e limites do agir exigem uma ética <strong>de</strong> previ-<<strong>br</strong> />
são e responsabilida<strong>de</strong> compatíveis com esses limites, que seja tão nova<<strong>br</strong> />
Referências<<strong>br</strong> />
1. Glicenstein J. Allotransplantation, literature and movie. Ann Chir Plast<<strong>br</strong> />
Esthet 2007;52(5):509-12.<<strong>br</strong> />
2. <strong>de</strong> La Rocque L; Teixeira LA. <strong>Frankenstein</strong>, <strong>de</strong> <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> e Drácula, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Bram Stoker: gênero e ciência na literatura. Hist Cienc Sau<strong>de</strong> Manguinhos<<strong>br</strong> />
2001;8(1):10-34.<<strong>br</strong> />
Ruiz CR<<strong>br</strong> />
quanto as situações com as quais tem que lidar. Ora, já que a ética tem a<<strong>br</strong> />
ver com o agir, a consequência lógica disso é que a natureza modificada<<strong>br</strong> />
do agir humano também imponha uma modificação na ética 12 . É por<<strong>br</strong> />
esse motivo que Dr. Victor alerta o capitão so<strong>br</strong>e uma reflexão mais<<strong>br</strong> />
profunda so<strong>br</strong>e seu modo <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> pensar o conhecimento humano.<<strong>br</strong> />
Ele prevê que o capitão po<strong>de</strong> seguir o mesmo caminho tortuoso que ele<<strong>br</strong> />
próprio seguiu e tenta <strong>de</strong>sesperadamente traçar um outro caminho para<<strong>br</strong> />
o personagem, evitando que o mesmo caia em tentação como ele.<<strong>br</strong> />
“Não sei se o relato dos meus <strong>de</strong>sastres lhe será útil, mas, quando<<strong>br</strong> />
penso que o senhor está trilhando o mesmo caminho, expondo-se aos<<strong>br</strong> />
mesmos perigos que fizeram <strong>de</strong> mim o que sou, imagino que possa <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
duzir do meu relato a moral a<strong>de</strong>quada: aquela que possa mostrar-lhe a<<strong>br</strong> />
direção, se for bem sucedido em seu empreendimento, e consolá-lo se<<strong>br</strong> />
falhar”.<<strong>br</strong> />
É claro que nem tudo é previsível e que, <strong>de</strong> acordo com Jonas 12 ,<<strong>br</strong> />
“na questão do cálculo prévio so<strong>br</strong>e progressos futuros, ingressa-se<<strong>br</strong> />
forçosamente em uma zona <strong>de</strong> penum<strong>br</strong>a, na qual não se po<strong>de</strong>m traçar<<strong>br</strong> />
claramente as fronteiras do que é lícito fazer, ou seja, so<strong>br</strong>e o que se<<strong>br</strong> />
assume responsabilida<strong>de</strong>”. Porém, é possível minimizar os riscos e as<<strong>br</strong> />
consequências incluindo a reflexão so<strong>br</strong>e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ética<<strong>br</strong> />
da preservação e da proteção, e não só uma ética do progresso e do<<strong>br</strong> />
aperfeiçoamento.<<strong>br</strong> />
Ao pensar no futuro, é preciso pensar no coletivo, <strong>de</strong>ixando o an-<<strong>br</strong> />
tropocentrismo <strong>de</strong> lado e se preocupando com o todo. Para Jonas 12 , o<<strong>br</strong> />
futuro da humanida<strong>de</strong> é o primeiro <strong>de</strong>ver do comportamento coletivo<<strong>br</strong> />
humano na ida<strong>de</strong> da civilização técnica, que se tornou ‘todo-po<strong>de</strong>rosa’<<strong>br</strong> />
no que tange ao seu potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição. Para tanto, o elo entre a<<strong>br</strong> />
responsabilida<strong>de</strong> e a solicitu<strong>de</strong>, a proporcionalida<strong>de</strong> inversa entre o<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>r e o <strong>de</strong>ver, a ausência da correlação entre direitos e <strong>de</strong>veres e a<<strong>br</strong> />
presença in<strong>de</strong>lével pela existência são aspectos da ética jonasiana que<<strong>br</strong> />
intervém diretamente na socieda<strong>de</strong> atual 10 .<<strong>br</strong> />
Conclui-se, assim, que a saída para o homem atual é o reconhe-<<strong>br</strong> />
cimento <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s falhas <strong>de</strong> comportamento por meio da reeducação, da<<strong>br</strong> />
reflexão e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s conscientes que possam minimizar o hiato entre<<strong>br</strong> />
a força <strong>de</strong> previsão e o po<strong>de</strong>r do agir, evitando os efeitos negativos da<<strong>br</strong> />
tecnologia e da ciência so<strong>br</strong>e a humanida<strong>de</strong>. Fica claro, neste encerra-<<strong>br</strong> />
mento, que <strong>Frankenstein</strong> é um ícone da saga prometeica, que <strong>de</strong>ixa <strong>sua</strong><<strong>br</strong> />
marca pelo tempo. É uma <strong>mensagem</strong> <strong>perene</strong> do que Jonas 12 nomeia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
‘heurística do temor’, em que “somente a previsível <strong>de</strong>sfiguração do<<strong>br</strong> />
homem nos ajuda a alcançar aquele conceito <strong>de</strong> homem que há <strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
preservado <strong>de</strong> tais perigos.”<<strong>br</strong> />
3. Kaplan PW. Mind, <strong>br</strong>ain, body, and soul: a review of electrophysiological<<strong>br</strong> />
un<strong>de</strong>rcurrents for Dr. <strong>Frankenstein</strong>. J Clin Neurophysiol 2004;21(4):<<strong>br</strong> />
301-4.<<strong>br</strong> />
4. Netto SP. <strong>Frankenstein</strong> no laboratório mental. Rev Problemas Brasileiros<<strong>br</strong> />
1997;(322):25-33. Disponível em: http://www.sesc-sp.com/sesc/<<strong>br</strong> />
Arq Bras Ciên Saú<strong>de</strong>, Santo André, v.34, n. 3, p. 196-200, Set/Dez 2009<<strong>br</strong> />
199
<strong>Frankenstein</strong> <strong>de</strong> <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong> e a responsabilida<strong>de</strong> da ciência<<strong>br</strong> />
revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=22&<strong>br</strong>eadcrumb=1&Artigo_<<strong>br</strong> />
ID=19&IDCategoria=294&reftype=1<<strong>br</strong> />
5. <strong>Shelley</strong> M. <strong>Frankenstein</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ediouro; 2001.<<strong>br</strong> />
6. Carter R. <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong>’s nigthmare (1797-1851): <strong>Frankenstein</strong>, her life,<<strong>br</strong> />
literary legacy, and last illness. World J Surg 1999;23(11):1195-201.<<strong>br</strong> />
7. Davies H. Can <strong>Mary</strong> <strong>Shelley</strong>’s <strong>Frankenstein</strong> be read as an early research<<strong>br</strong> />
ethics text? Med Humanit 2004;30(1):32-5.<<strong>br</strong> />
8. Von Zuben NA. Bioética e tecnociências: a saga <strong>de</strong> Prometeu e a esperança<<strong>br</strong> />
paradoxal. São Paulo: Edusc; 2006.<<strong>br</strong> />
200 Arq Bras Ciên Saú<strong>de</strong>, Santo André, v.34, n. 3, p. 196-200, Set/Dez 2009<<strong>br</strong> />
9. Morin E. Ciência com consciência. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil;<<strong>br</strong> />
2002.<<strong>br</strong> />
10. Fonseca FO. Hans Jonas: (bio)ética e crítica à tecnociência. Recife: Editora<<strong>br</strong> />
Universitária da UFPE; 2007.<<strong>br</strong> />
11. Ruiz CR, Tittanegro GR. Tecnologia e responsabilida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Hans Jonas. In: Ruiz CR, Tittanegro GR, <strong>org</strong>anizadoras. Bioética: uma<<strong>br</strong> />
diversida<strong>de</strong> temática. São Caetano do Sul: Difusão Editora; 2007.<<strong>br</strong> />
p. 61-77.<<strong>br</strong> />
12. Jonas H. O princípio responsabilida<strong>de</strong>: ensaio <strong>de</strong> uma ética pra a civilização<<strong>br</strong> />
tecnológica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Contraponto; 2006.