Guia de Estudos - Faap
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sua população, o Estado <strong>de</strong> direito não é mais efetivo<br />
e o governo não controla mais seu próprio território.<br />
Apesar da eleição, em 2009, <strong>de</strong> um ex-membro da<br />
União das Cortes Islâmicas (UCI) como presi<strong>de</strong>nte, o<br />
embate entre a própria UCI e o Governo Transicional<br />
Fe<strong>de</strong>ral (GTF), ainda persiste.<br />
18<br />
A União das Cortes Islâmicas (UCI) constitui um conjunto<br />
<strong>de</strong> cortes seguidoras da sharia – código <strong>de</strong> leis do<br />
islamismo -, que dominou regiões diversas da Somália até<br />
o ano <strong>de</strong> 2006. A UCI instituiu-se como oposição ao po<strong>de</strong>r<br />
do Governo Transicional Fe<strong>de</strong>ral (GTF), estabelecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
2004, a partir do Quênia, visto que Mogadíscio encontrava-se<br />
dominada pela UCI. Em 2006, com o apoio <strong>de</strong> forças<br />
provenientes da Etiópia, o GTF conseguiu expulsar a UCI<br />
tanto <strong>de</strong> Mogadíscio quanto <strong>de</strong> outras regiões ocupadas<br />
pelas Cortes mais ao sul da Somália.<br />
No final <strong>de</strong> 2008, porém, o grupo islamita Al-Shabab<br />
lutou e retornou o po<strong>de</strong>r, tomando quase todo o<br />
sul da Somália.<br />
A capital é consi<strong>de</strong>rada “terra <strong>de</strong> ninguém”, repleta<br />
<strong>de</strong> milícias, gangues e conflitos armados. Como principal<br />
palco <strong>de</strong>sses conflitos, a cida<strong>de</strong> e seus civis vivem<br />
em total abandono, a falta <strong>de</strong> recursos para as pessoas<br />
é latente, e a maioria aguarda a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento<br />
para regiões vizinhas ou outros países.<br />
Relatos <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>ios, ataques militares, ofensivas<br />
com granadas, bombas espalhadas pelas ruas,<br />
frequentes em área civil, são comuns, além dos conflitos<br />
entre o Governo Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Transição e grupos<br />
rebel<strong>de</strong>s que na maioria das vezes acabam também<br />
atingindo bairros resi<strong>de</strong>nciais.<br />
A Somália não fornece aos seus cidadãos serviços<br />
públicos e sociais, não conta com nenhum sistema <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, moradia e educação, <strong>de</strong>ssa forma, a população<br />
é forçada a buscar seu bem-estar da maneira que lhe<br />
for conveniente, fazendo com que a criminalida<strong>de</strong> se<br />
<strong>de</strong>senvolva. Umas das consequências mais latentes<br />
<strong>de</strong>ssa situação é a pirataria, ação encontrada pelos somalis<br />
como uma forma <strong>de</strong> economia e sustento.<br />
Esse processo foi iniciado quando a população encontrou<br />
na pesca (quase subsistente) uma forma <strong>de</strong><br />
sobrevivência. Porém, o fato <strong>de</strong> que toda a extensão<br />
da Somália, terra e mar, sofria com a ausência <strong>de</strong> qual-<br />
VII Fórum FAAP <strong>de</strong> Discussão Estudantil - 2011<br />
quer governo, gran<strong>de</strong>s navios pesqueiros começaram a<br />
utilizar a área do mar, on<strong>de</strong> era realizada a pesca, para navegação,<br />
o que prejudicava potencialmente a ativida<strong>de</strong><br />
da população local. Então, a única solução encontrada, a<br />
princípio, para o restabelecimento da pesca por esses pescadores,<br />
foi a pirataria, sendo que esses navios pesqueiros<br />
eram sequestrados, juntamente com sua tripulação.<br />
O lucro para os somalis viria do pagamento do resgate.<br />
Contudo, a pirataria teve crescimento pujante, e hoje<br />
passou a ser <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> outros grupos da Somália,<br />
como os senhores <strong>de</strong> guerra, “que possuem o controle<br />
militar <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada região <strong>de</strong> um território, mas<br />
não possuem autorida<strong>de</strong> legal sobre a mesma”, fazendo<br />
emergir uma gran<strong>de</strong> indústria da pirataria. Um dos motivos<br />
da falta <strong>de</strong> ajuda humanitária, ou a dificulda<strong>de</strong> da<br />
mesma <strong>de</strong> chegar até o país, são os próprios piratas que<br />
se encontram na passagem dos navios <strong>de</strong> ajuda que chegariam<br />
até lá, dificultando o acesso da chegada <strong>de</strong> qualquer<br />
auxílio externo.<br />
Diante <strong>de</strong>sse cenário, pela falta <strong>de</strong> condições básicas<br />
<strong>de</strong> sobrevivência, e pelo total caos instaurado em sua<br />
capital, hoje a Somália possui por volta <strong>de</strong> 1,4 milhão <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>slocados internos, e por volta <strong>de</strong> 500.000 pessoas vivendo<br />
em outros países. Isso ocorre pelo conflito em andamento,<br />
pela violência indiscriminada e pela total falta<br />
<strong>de</strong> proteção dos direitos humanos. Os refugiados resi<strong>de</strong>m<br />
em locais <strong>de</strong>stinados a esse tipo <strong>de</strong> situação, chamados<br />
campos <strong>de</strong> refugiados, gerenciados pela própria Agência<br />
<strong>de</strong> Refugiados das Nações Unidas. Lá vivem em condições<br />
precárias, expostos a doenças, a longos períodos <strong>de</strong> seca<br />
e a falta <strong>de</strong> ajuda humanitária, que é impedida <strong>de</strong> chegar,<br />
pela insegurança causada. Assim, o refugiado permanece<br />
nesses campos até que receba abrigo por parte <strong>de</strong> algum<br />
país.<br />
Há também o problema das <strong>de</strong>portações sofridas por<br />
esses <strong>de</strong>slocados, muitos países, que a princípio concordaram<br />
em receber essas pessoas, agora os estão “<strong>de</strong>volvendo”<br />
ao seu país <strong>de</strong> origem. Esse retorno involuntário<br />
fere o princípio <strong>de</strong> non-refoulement (nenhum país que<br />
abriga refugiados ou requerentes <strong>de</strong> asilo po<strong>de</strong> “<strong>de</strong>volvê-<br />
-los” antes que tenham sua situação analisada) e coloca<br />
inúmeras vidas em risco, dada a violência latente em Mogadíscio.<br />
Define-se por <strong>de</strong>slocados internos (IDPs): pessoas <strong>de</strong>slocadas<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu próprio país que muitas vezes são<br />
erroneamente chamadas <strong>de</strong> refugiadas. Ao contrário dos