Guia de Estudos - Faap

intervenções resultem numa rápida reconciliação dos
combates e na reconstrução das sociedades civis, este
acarretará num processo delicado e demorado, de forma
a transformar a estrutura do país.
Vários acadêmicos argumentam que, quando um
Estado não está no comando da gestão de um país,
ele se torna uma terra sem leis e acaba por gerar criminosos,
como é o caso dos piratas que se encontram
na Somália nos dias de hoje. Contudo, a Somália não
foi sempre um sinônimo de violência, pobreza, fome
e miséria. Conhecida como o Chifre da África, rica em
ouro, óleos exóticos, madeiras raras e marfim, era considerada
pelos antigos egípcios uma região de alto valor.
A homogeneidade encontrada hoje tanto política
quanto social dentro do país acaba por dificultar ao
invés de ajudar a situação do mesmo. Diferentemente
de outras nações, que até os dias de hoje lutam para
reconciliar diferentes culturas, religiões e tradições, a
Somália é cultural, linguistica, e religiosamente homogênea.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha
e a Itália lutavam pelo controle da região do Chifre
da África. A Grã-Bretanha saiu vitoriosa com o término
da guerra e a Somalilândia italiana, fração do terrirório
somali, se transformou em um território unido sob o
controle da Itália.
No ano de 1960, foi conquistada a independência
da Somália, formando a República Nova da Somália.
Contudo, a independência política não acarretou em
paz na região. As superpotências, que viam a região
do Chifre da África como uma importante área estratégica
na época da Guerra Fria, não pararam de armar
essa região, o que acarretou milhares de mortes em
todo o continente. Somado a isso, rivalidades de uma
sociedade divida em clãs e corrupção formaram a receita
perfeita para sua dissolução política. A corrupção
alcançava níveis sem precedentes, a base fundamental
da política havia sido transformada em clãs, a
legitimidade do governo estava corrompida e as instituições
e agentes visivelmente desgastados.
Ao final dos anos 1970, a Somália se tornou palco
de enormes disputas étnicas pelo controle do Estado.
A situação teve uma piora no fim do anos 1980, quando
o país passou a enfrentar uma grave crise institucional
fazendo finalmente com que o Estado perdesse
o monopólio sobre a governança de seu território. A
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VII Fórum FAAP de Discussão Estudantil - 2011
situação se agrava com o fim da Guerra Fria, quando os
EUA passam a não ter mais interesse na região, uma vez
que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)
se encontrava dissolvida e a região africana seria deixada
de lado.
Após a derrota da Somália para a Etiópia numa disputa
de territórios na região de Ogaden (Guerra de Ogaden
-1977-1978), o país entra em crise, e com o visível
aumento do desagrado da população em relação ao
governo opressor de Sied-Barre, já se podia ver o início
de um conflito civil. De fato, em 1986, Barre já iniciava
ofensivas contra os movimentos opositores; no mesmo
ano a Guerra Civil se concretiza e, em 1992, Barre deixa
o poder.
As políticas adotadas por Siad-Barre, que resultaram
em um governo opressivo e ditatorial que explorava a
população, extorquindo seus recursos naturais e massacrando
milhares, acarretaram a situação atual do país,
em que o crime interno passou a ser um problema internacional,
por ser um “criadouro” e local de manutenção
de ameaças, principalmente oriundas das atividades
dos piratas.
O fato de ter se tornado um problema mundial não
é nenhuma surpresa, uma vez que o Estado conta com
uma ausência total de opções econômicas praticáveis,
os civis se encontram fortemente armados e é uma terra
sem leis onde acaba por prevalecer a violência aleatória
e os ataques dos clãs baseados nas milícias. Um relatório
escrito pelo Banco Mundial no ano de 2005 coloca que
o governo de Barre foi seguido não por um governo de
reconciliação, mas por um período em que a anarquia
se prolongou de forma violenta e com guerras.
Desde a queda de Barre em 1991 a única fonte de
estabilidade relativa na Somália nos dias atuais é a República
da Somalilândia, um território que se declarou
independente após a derrocada do presidente; território
esse que é pacífico, possui uma constituição e uma
democracia, porém, até os dias de hoje, não é reconhecido
como independente por quaisquer organismos internacionais
ou Estado da comunidade internacional.
Houve, logo após a saída de Siad Barre, uma rápida
intervenção (1992-1995) do CSNU, que aprovou uma resolução
autorizando uma missão de paz, com objetivos
humanitários, liderada pelos Estados Unidos da América.
Entre abril de 1992 e março de 1993, a região foi pal-