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Revisão: Fausto De Vito Pintura: Rempramtt (Paulo o Apóstolo ...

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Mediunidade<br />

e Apostolado<br />

<strong>Revisão</strong>: <strong>Fausto</strong> <strong>De</strong> <strong>Vito</strong><br />

<strong>Pintura</strong>: <strong>Rempramtt</strong> (<strong>Paulo</strong> o <strong>Apóstolo</strong>)<br />

Capa: Marcos Ferreira<br />

Projeto Gráfico:<br />

Editora Vitória Ltda. - Fone/Fax: (0**34) 3336-6588<br />

Av. Cel. Joaquim de Oliveira Prata, 668 - Uberaba, MG<br />

E-mail: edvitoria@mednet.com.br<br />

Baccelli, Carlos A.<br />

Mediunidade e Apostolado / Carlos A. Baccelli -Odilon Fernandes - Uberaba, MG<br />

ISBN 85-86423-24-6<br />

1. Obras psicografadas. 2. Espiritismo.


Mediunidade e Apostolado<br />

Amigo leitor:<br />

Continuando com as nossas reflexões em torno da mediunidade, buscando inspiração<br />

nas epístolas que <strong>Paulo</strong>, o inesquecível medianeiro da Boa-Nova, endereçou aos<br />

coríntios, escrevemos este livro, na expectativa de que possamos, de algum modo<br />

contribuir para a formação de sua consciência doutrinária no que se refere ao assunto.<br />

Evidentemente, não nos moveu, e nem nos move, outra intenção que não seja a de lhe<br />

sermos útil na aquisição de um conhecimento mais amplo, ofertando-lhe, da<br />

mediunidade, a visão de quem, agora, pode apreciá-la dos Dois Lados da Vida.<br />

Ressaltamos, como já o fizemos anteriormente, que longe de nós qualquer outra<br />

pretensão, posto que, com a graça de <strong>De</strong>us, somos capazes de identificar as limitações<br />

que nos dizem respeito e a nossa condição de espírito extremamente necessitado de<br />

mais luz.<br />

Augurando-lhe os melhores votos de paz e de êxito, na empreitada espiritual a que se<br />

lança, rogamos ao Senhor que o abençoe, hoje e sempre.<br />

Odilon Fernandes<br />

Uberaba-MG, 9 de novembro de 1997.


SUMÁRIO<br />

1 - POSTURA MEDIÚNICA<br />

2 - DESMISTIFICAÇÃO<br />

3 -0 SELO DO APOSTOLADO<br />

4 - TAREFAS DIVERSIFICADAS<br />

5 - MEDIUNIDADE ÚTIL<br />

6 - A UM E A OUTRO<br />

7 - COOPERAÇÃO E UNIÃO<br />

8 - MEDIUNIDADE E CONHECIMENTO<br />

9 - COM ZELO E DISCERNIMENTO<br />

10 - TRÍPLICE INCUMBÊNCIA<br />

11 - XENOGLOSSIA INÚTIL<br />

12 -"QUEFAREI, POIS?"<br />

13 - MÉDIUNS MALEDICENTES<br />

14 - NÃO É PARA OS INCRÉDULOS<br />

15 - TUDO SEJA FEITO<br />

16 - DISCIPLINA E ESPONTANEIDADE<br />

17 - TAL O MÉDIUM, TAL A MEDIUNIDADE<br />

18 - MEDIUNIDADE EM VÃO<br />

19 - Os MAIS INFELIZES<br />

20 - E NÃO É DE ADMIRAR<br />

21 - ESPÍRITO DE COMPETIÇÃO<br />

22 - MEDIUNIDADE E ALEGRIA<br />

23 - ESPINHO NA CARNE<br />

24 - SE REALMENTE<br />

25 - MÉDIUM POR QUÊ?<br />

26 - MEDIUNIDADE E DESEJO<br />

27 - CAMINHO EXCELENTE<br />

28 - AUTOCRÍTICA<br />

29 -DAR DE GRAÇA<br />

30 - COM PERSISTÊNCIA


1 - POSTURA MEDIÚNICA<br />

"Porquanto, havendo entre nós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e<br />

andais segundo o homem?"<br />

1 Coríntios, cap. 3 - v. 3<br />

Escrevendo à comunidade cristã de Corinto, <strong>Paulo</strong>, o apóstolo da gentilidade, exorta os<br />

companheiros à coerência, advertindo-os quanto à postura a ser assumida uns diante<br />

dos outros.<br />

Entre os cristãos primitivos, os antigos adversários do homem espiritual fomentavam<br />

contendas e ciúmes, qual hoje, infelizmente, ainda observamos naqueles que se fazem<br />

pregoeiros da Boa-Nova, mormente nos que vêm se dedicando ao cultivo da<br />

mediunidade.<br />

Médiuns existem que, inspirados pelo ciúme, atacam uns aos outros, qual se não<br />

estivessem se batendo pela mesma causa.<br />

Expõem-se publicamente ao ridículo, de vez que, analisados em sua conduta pelos<br />

companheiros mais experientes, não conseguem se ocultar em suas intenções<br />

personalistas...<br />

Disputam o aplauso do mundo e, sem que percebam, enfraquecem-se diante de si<br />

mesmos, perdendo contato com a simplicidade que de princípio os caracterizava...<br />

A rigor, não existe médium que seja maior ou menor, mais ou menos importante no<br />

contexto doutrinário. Todos os companheiros que se devotam à mediunidade<br />

cumprem com finalidade específica e cada um deles desempenha preponderante<br />

papel no contexto geral.<br />

São muitos os medianeiros que ao longo do seu exercício mediúnico vão se<br />

desnorteando, interessados na chamada autopromoção... Falam de si, referem-se<br />

exaustivamente às experiências que lhes dizem respeito, usam a própria imaginação<br />

em excesso, aparentam ser detentores de uma humildade que efetivamente não<br />

possuem.<br />

Esses companheiros da mediunidade aos quais nos referimos não raro assumem<br />

graves compromissos com as almas que os idolatram, respondendo, mais tarde, pela<br />

sua deformação psicológica, posto que para estas quase que assumem o papel dos<br />

deuses mitológicos.


É imprescindível que todos compreendam a falibilidade do médium e que os auxiliem<br />

no cumprimento penoso de seus deveres, mas que, a pretexto de contato com o<br />

Invisível, não os entronizem.<br />

O médium que não combate nos outros os elogios que lhe são dirigidos, termina por<br />

"intoxicar-se", passando a crer que seja o que ainda está muito longe de ser.<br />

Quase todos os medianeiros presentemente em atividade na Terra são espíritos<br />

enfermos altamente compromissados com o pretérito, principalmente pelos seus<br />

desvios no campo da sexualidade e do comércio da fé. Outrora, induziram à descrença<br />

centenas e centenas de almas que neles depositavam a sua confiança no caminho para<br />

<strong>De</strong>us. Assemelhavam-se aos doutores da lei que, segundo Jesus, "a pretexto de longas<br />

orações, devoravam as casas das viúvas"...<br />

<strong>De</strong> uma maneira geral, os irmãos menos avisados na Doutrina têm cooperado para que<br />

médiuns tenham o seu séquito de bajuladores, de vez que eles próprios igualmente se<br />

alimentam com os favores que lhes são dispensados - favores que, na maioria dos<br />

casos, escondem intenções escusas.<br />

<strong>Paulo</strong> combatia com veemência os que, no exercício do seu dom de profetizar, agiam<br />

em causa própria e faziam nascer a cizânia na comunidade dos cristãos,<br />

enfraquecendo-os do ponto de vista doutrinário e da tarefa a que deviam dar cabal<br />

cumprimento. Entre eles já existiam os que mistificavam nos interesses que lhes<br />

diziam respeito, forjavam comunicações, feito os medianeiros que, na atualidade,<br />

falam de supostas ligações suas do pretérito com este ou aquele, visivelmente<br />

interessados no presente em tirar partido das referidas ligações, que, a bem da<br />

verdade, nunca existiram.<br />

Médium sem postura mediúnica é médium que, infelizmente, não merece a<br />

credibilidade que reclama para si. É indispensável que o Movimento Espírita seja<br />

saneado no campo de atuação dos médiuns que acabam por influenciá-lo<br />

negativamente, sendo, concomitantemente, instrumentos das trevas e da luz.<br />

Que ninguém veja no medianeiro a presença do espírito benfeitor que lhe tutela o<br />

empreendimento. Porque se retrata na superfície do lago, a estrela não se abala do<br />

céu para vir engastar-se na lama...<br />

Havendo entre os médiuns ciúmes e contendas, auxiliemo-los com o necessário<br />

esclarecimento a fim de que se conscientizem da sua condição de meros serviçais, e<br />

não de expoentes do ideal que nos redime.


2 - DESMISTIFICAÇÃO<br />

"... manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está<br />

sendo revelada pelo fogo; e, qual seja a obra de cada um, o próprio fogo o provará."<br />

1 Coríntios, cap. 3 - v. 13<br />

A palavra de <strong>Paulo</strong> aos companheiros de Corinto não dá margem a dúbias<br />

interpretações: "manifesta se tornará a obra de cada um".<br />

Os devotados seareiros da mediunidade acabarão por naturalmente se impor, ao<br />

passo que àqueles que houverem trabalhado exclusivamente para si o tempo se<br />

encarregará de demonstrar os interesses pessoais que os inspiram.<br />

O joio cresce ao lado do trigo... A princípio confunde-se com o bom grão, mas, depois,<br />

termina por revelar-se, traído pela sua própria condição.<br />

A boa obra perpetua a memória do obreiro, no entanto a má obra incumbe-se de<br />

reduzi-la a pó.<br />

O fogo a que o apóstolo se refere, neste trecho de sua epístola, é o fogo cerrado das<br />

lutas em que tantos sucumbem, perdendo, não raro, a própria originalidade.<br />

Quantos companheiros da mediunidade em contato com as dificuldades a que se<br />

expõem na tarefa, se despersonalizam, desconhecendo-se eles mesmos, após alguns<br />

anos de atividade?!...<br />

Quantos os que perdem o endereço da simplicidade, quais rebentos promisssores que<br />

se frustram?! Quantos os que não mais conseguem voltar atrás, retomando o caminho<br />

do qual imperceptivelmente se desviaram?!<br />

Na Doutrina Espírita, os médiuns hão de manter-se em constante vigília para não se<br />

deixarem enredar pelos companheiros que, incensando-os, não sabem o mal que lhes<br />

fazem.<br />

É muito comum que as pessoas procurem os médiuns para, através deles, obterem os<br />

favores do Mundo Espiritual... Ledo engano! Os médiuns não podem concedê-los,<br />

posto que, na maioria das vezes, não os têm nem para si mesmos!...<br />

A única vez em que os apóstolos tentaram agradar Jesus com palavras melífluas,<br />

chamando-o "bom", foram por ele advertidos severamente.<br />

O médium que se permite envolver nas teias do elogio fácil, terminará por exaurir-se<br />

em suas forças, debatendo-se em vão para delas desprender-se... É que lhe faltará


vontade firme para assumir-se em sua condição de fragilidade, habituado que se<br />

tornou em escutar inverdades a seu próprio respeito.<br />

Os médiuns novatos carecem de olhar a mediunidade, não com os olhos de Narciso<br />

refletido na fonte... Mirem-se nos exemplos daqueles que choraram e sofreram,<br />

sofrem e choram ainda, anulando-se para que a Obra se engrandeça em suas mãos.<br />

Que não imitem ninguém, a não ser na conduta reta e no total desinteresse dos que a<br />

vida inteira se imolaram na cruz do Senhor.<br />

Que cada irmão da mediunidade siga as suas características, porquanto em cada qual a<br />

mediunidade se manifesta com as suas peculiaridades.<br />

Por deixarem de ser eles mesmos para serem os outros, muitos medianeiros perdemse<br />

na caminhada.<br />

Médium algum, portanto, nada além aspire do que ser mais que simples instrumento<br />

na orquestra que se compõe de milhares e milhares de outros, todos certamente,<br />

substituíveis nas suas funções.<br />

Não há erva daninha mais difícil de ser erradicada da personalidade do médium do que<br />

a da vaidade... Sorrateira, ela se alastra e cria raízes que, periodicamente, a fazem<br />

brotar.<br />

É importante que cada médium siga o seu estilo de trabalho, sem preocupar-se em<br />

fazer escola ou mesmo ser identificado com este ou aquele modo deste ou daquele<br />

medianeiro, seja no expressar-se ou até mesmo no trajar-se.<br />

Infelizmente, são raros os médiuns que, na Doutrina, não têm deixado se vencer pela<br />

tentação do dinheiro, que, para muitos, transformou o exercício de mediunidade em<br />

profissionalismo religioso.<br />

Combatamos com fraternidade, mas com veemência, a atitude inaceitável de quantos<br />

sensitivos, em fazendo do Espiritismo um meio de vida, desvirtuam a sua mensagem,<br />

elitizando o Movimento e influenciando negativamente os jovens, os quais assim têm<br />

da Doutrina uma visão deturpada.<br />

Acautelem-se, pois, os médiuns contra esse cadinho esfogueante das tentações que<br />

visam sempre colocá-lo em evidência. "O primeiro será o último", da palavra de Jesus,<br />

não é simples força de expressão. Quem, de fato, cultivar a evidência vaidosa, em<br />

prejuízo da humildade até anónima, em suas atividades medianímicas será<br />

rapidamente esquecido, e tão mais rapidamente esquecido quanto mais depressa<br />

tenha sido lembrado.


3 - O SELO DO APOSTOLADO<br />

"Se não sou apóstolo para outrem; certamente o sou para vós outros, porque vós sois o<br />

selo do meu apostolado no Senhor."<br />

1 Coríntios, cap. 9 - v. 2<br />

Se a mediunidade é de muitos, o apostolado é de poucos.<br />

Raros os médiuns que se desincumbem de seus deveres na mediunidade qual se<br />

estivessem cumprindo uma missão.<br />

Para a maioria, o exercício da mediunidade é penoso, porquanto está sempre a exigir<br />

continuados esforços de auto-aperfeiçoamento.<br />

Os médiuns não podem ignorar que, se a mensagem que intermediam é de autoria dos<br />

espíritos, a demonstração prática desta mesma mensagem é de sua responsabilidade.<br />

<strong>Paulo</strong> compreendeu semelhante verdade e, desde seu inesquecível encontro com o<br />

Senhor, renovou-se completamente. Não era apenas o inflamado orador da Boa-Nova,<br />

mas também o exemplo vivo do que o Evangelho pode na vida de quem se converte.<br />

Para os antigos pares no Sinédrio, poderia ser ele um homem enlouquecido, no<br />

entanto, para os que lhe testemunharam a conversão, que lentamente se<br />

fundamentaliza nas lutas do cotidiano, era ele um novo homem.<br />

O seu devotamente à causa era de tal maneira sincero, que obteve o aval daqueles<br />

mesmos que perseguira outrora.<br />

Os que se tornam adeptos da Doutrina, mormente os que abraçam a tarefa mediúnica,<br />

costumam ser incompreendidos pelos companheiros de antanho... Às vezes, dentro da<br />

própria casa, enfrentam resistência às suas novas diretrizes de fé. Costumam ser<br />

humilhados, ridicularizados... Então, quando emergem do lamaçal dos equívocos que<br />

lhes dizem respeito, no justo anseio de uma vida melhor, há quem não acredite em<br />

seus propósitos de romper com o passado.<br />

Não importa, porém. <strong>Paulo</strong> viu-se abandonado pela família e pelos amigos mais caros<br />

e, ao que consta, conseguindo ele importantes conversões para o Senhor, nunca<br />

logrou a adesão daqueles que certamente não creram em sua mudança.<br />

Isto acontece com os médiuns. Instrumentos de fé para os estranhos, para os que<br />

tiveram oportunidade de conhecê-los na intimidade, não passam de alienados.


Pelo que nos afirma o Novo Testamento, os irmãos do Senhor não criam nele; talvez<br />

justamente por isto, dos doze aos trinta anos, a Providência tenha determinado que o<br />

Mestre se afastasse do cenário social da época, para que a sua aparição, na condição<br />

de adulto, provocasse nas almas o necessário impacto.<br />

Não se entristeçam os medianeiros que não consigam junto aos seus a consideração e<br />

o acatamento que os estranhos lhes dedicam. Que perseverem no trabalho, porquanto<br />

o que outrora plasmamos nas almas a nosso respeito, apenas o tempo pode mudar.<br />

Também para alguns companheiros de ideal, <strong>Paulo</strong> necessitou provar, em décadas de<br />

sofrimento pelo Evangelho, a sinceridade de seus novos propósitos. <strong>De</strong> início, somente<br />

Barnabé lhe estendeu os braços...<br />

Mas que o médium não se preocupe com a aprovação dos homens, e nem a busque, e<br />

nem espere por ela. Antes, interesse-se pela aprovação de sua consciência em tudo<br />

quanto esteja fazendo. Não contemporize com os erros, aceitando em si o que não<br />

aceita nos outros!<br />

O apostolado mediúnico é o apostolado de quem toma aos ombros a cruz individual do<br />

testemunho, na decisão irrevogável de seguir nas pegadas do Senhor.<br />

<strong>De</strong> uma maneira geral, os médiuns ainda ignoram que a alegria íntima no atendimento<br />

às suas obrigações espirituais é o único salário a que devem aspirar. Por isto, o<br />

apostolado mediúnico é de tão poucos!... Quando percebem que mediunidade é um<br />

convite à ascese, na trilha dos heróis da renúncia e do sacrifício, os médiuns deliberam<br />

encostá-la, continuando médiuns sem vínculo com este ou aquele compromisso. Não<br />

querem deixar de ser médiuns, mas não ousam avançar na direção dos Cimos.<br />

Os Espíritos Superiores não endossam as tarefas do medianeiro que não se<br />

compromete com o apostolado da mediunidade. Aliás, pouco se têm feito presente<br />

entre os homens, por absoluta falta de quem com eles se disponha a servir. Os<br />

espíritos que com maior frequência contatam com os homens são de mediana<br />

evolução, espíritos cujas ideias e emoções estão sujeitas a variações e mudanças a que<br />

os próprios encarnados estão sujeitos.


4 - TAREFAS DIVERSIFICADAS<br />

"E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo."<br />

1 Coríntios, cap. 12 - v. 5<br />

Não há médium superior a outro médium. Os Espíritos Superiores não disputam a<br />

primazia da Verdade entre os homens.<br />

Consoante a assertiva paulina, as tarefas medianímicas, por mais diversificadas sejam,<br />

concorrem para o mesmo objetivo.<br />

Todas as fontes da Terra promanam da nascente das Alturas...<br />

A água do mar não cumpre com a finalidade do diminuto filete que, deslizando<br />

humilde entre as pedras, atende à sede do peregrino.<br />

As mãos que escrevem livros sob a inspiração do Alto talvez não sejam dotadas do<br />

dom de curar, e a palavra que arrebata multidões pode não ser aquela que toca as<br />

almas em profundidade.<br />

Na imensa gleba da Doutrina Espírita, todos os que se dispõem a cultivá-la são<br />

imprescindíveis e estão a serviço do Dispensador de todas as bênçãos.<br />

Não existe médium que seja insubstituível e nenhuma tarefa que se interrompa por<br />

falta de obreiro. Os que cuidam na Terra dos interesses do Senhor revezam-se no<br />

corpo e, quando um chega ao termo da jornada, outro logo desponta no caminho...<br />

No colegiado cristão de Corinto, um dos núcleos do Cristianismo nascente onde os<br />

dons de profetizar eram mais cultivados, disputas internas começavam a se constituir<br />

em obstáculos à livre manifestação dos espíritos... Os profetas, que eram os médiuns<br />

de antanho, qual acontece aos médiuns de agora, envaideciam-se dos próprios<br />

espíritos que por eles se manifestavam. Começava a surgir perigosa hierarquia, feito a<br />

da casta dos sacerdotes que, infelizmente, contribuiu, mais tarde, para desviar o<br />

movimento cristão de seus rumos. Sempre atento, <strong>Paulo</strong>, exímio conhecedor das<br />

fraquezas humanas, deliberou, com sua autoridade inconteste, pulverizar qualquer<br />

pretensão de superioridade espiritual entre os companheiros do Evangelho.<br />

Ninguém saberia dizer dos que, anonimamente, tombaram nos circos do martírio...<br />

Muitos que a memória da Cristandade reverencia na condição de santos não passaram<br />

de espíritos comuns que praticamente foram constrangidos ao sacrifício que não<br />

puderam evitar.


A história do Espiritismo, apesar de recente, também está repleta de heróis anónimos<br />

da mediunidade e de espíritos que, não se identificando, cooperam com Allan Kardec<br />

na obra ciclópica da Codificação.<br />

Vejamos os insofismáveis exemplos da Natureza... O verme que se arrasta nas<br />

entranhas da terra é tão útil quanto o peixe que vitaliza as águas dos rios e os pássaros<br />

que cooperam com o vento no trabalho de espalhar as sementes das mais variadas<br />

espécies...<br />

Em uma casa espírita, todo medianeiro, seja ele um lume resplandecente ou<br />

bruxuleante candeia, é importante depositário de Luz.<br />

Que os espíritas desavisados cessem, de vez, de fomentar discussões em torno de<br />

quem seria o maior no | .impo da mediunidade. Foi para pôr fim em contenda<br />

semelhante que Jesus, cingindo-se com uma toalha, lavou os pés dos apóstolos...<br />

Quem mais se aproxima daquele que mais sabe é justamente aquele que tem<br />

consciência de sua ignorância.<br />

As diferentes atividades levadas a efeito pela mediunidade formam, em seu todo, um<br />

conjunto harmonioso, e o médium, seja ele qual for, é peça importante nos<br />

mecanismos do Bem.<br />

Que os dirigentes espíritas não privilegiem ou destaquem este ou aquele medianeiro,<br />

em detrimento daquele que talvez não tenha tido ainda oportunidade de revelar o seu<br />

potencial. Não basta que a semente seja boa: é necessário que ela encontre terreno<br />

propício à germinação...<br />

Médiuns que vivem em ambiente que não lhes facilite o aprimoramento das<br />

faculdades não conseguem deslanchar na tarefa. E, depois, há ainda o egoísmo dos<br />

médiuns veteranos que, enciumados, não orientam a contento os que estejam se<br />

iniciando, qual se fossem detentores de um segredo que guardassem só para si,<br />

reeditando, no mundo, as antigas escolas de iniciação existentes no Egito e na índia.<br />

O Espiritismo não tem mistérios e os médiuns mais experimentados a ele estarão<br />

prestando relevante serviço na orientação, sem rodeios, aos companheiros que se<br />

revelam bem intencionados, em seu propósito de exercer a mediunidade.


5 - MEDIUNIDADE ÚTIL<br />

"A manifestação do espirito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso."<br />

1 Coríntios, cap. 12 - v. 7<br />

Mediunidade útil é aquela que cumpre com a sua finalidade na edificação espiritual<br />

das criaturas.<br />

Mediunidade não é uma aventura que se empreende nos caminhos do psiquismo, nem<br />

um dom para ser ostentado qual se fosse privilégio concedido a poucos. Mediunidade<br />

é instrumento de serviço, semelhante à enxada nas mãos do lavrador... Quem o<br />

possui, deve dispor-se a servir em prol da comunidade, sem preocupar-se somente em<br />

auferir-lhe os benefícios.<br />

Infelizmente, a grande maioria dos médiuns não sabe dar um direcionamento<br />

proveitoso às suas faculdades. Abraça a mediunidade à maneira de quem estivesse<br />

abraçando um fardo espinhoso e excessivamente pesado. Lamenta a sua condição de<br />

médium, estima inspirar a piedade dos outros, faz chantagem emocional, dá trabalho<br />

aos dirigentes das sessões que frequentam...<br />

Ora, a mediunidade, se de fato é, digamos, uma conquista cármica para o indivíduo,<br />

não deixa de ser também uma carta de crédito a fim de que ele amenize os seus<br />

débitos.<br />

O médium que não se preocupa em ser útil no exercício de suas funções é candidato<br />

ao desequilíbrio, atraindo para si as forças de caráter negativo que, então, passam a<br />

vampirizá-los. Os sanatórios e hospitais psiquiátricos estão repletos de médiuns que<br />

preferiram a internação ao trabalho perseverante.<br />

A inconstância do médium é um dos maiores entraves que os espíritos enfrentam, na<br />

tarefa do intercâmbio com os homens. Medianeiros existem que, por descrerem das<br />

próprias faculdades, negam aos outros o alimento da fé que, do Alto, lhes chega por<br />

seu intermédio.<br />

Quando o médium deseja, dificilmente alguém poderá ser mais útil do que ele junto<br />

àqueles que sofrem sem esperança. Polarizando as expectativas espirituais da criatura<br />

em torno de sua sobrevivência à morte do corpo, o médium poderá contribuir<br />

decisivamente para que ela dê à sua vida um sentido novo, concentrando-se no<br />

trabalho da construção íntima.


Em meio à escuridão da descrença que impera no mundo, o médium é farol que<br />

norteia quantos se interessam pelo rumo certo, livrando-os do naufrágio definitivo no<br />

oceano revolto das paixões.<br />

É compreensível, em sua condição humana, que o médium vacile, sofra o assédio da<br />

tentação, do desânimo, da falta de vontade de prosseguir... É admissível que padeça<br />

insegurança e incerteza quanto qualquer dos mortais, no entanto não se deve furtar<br />

ao serviço do consolo e do amparo aos que parecem crer mais do que ele mesmo em<br />

sua condição de medianeiro.<br />

O médium que persevera no sustento da fé aos semelhantes, esforçando-se ele<br />

próprio para manter-se de pé diante de suas dúvidas, é digno de grande respeito por<br />

parte da Espiritualidade Superior.<br />

Tomé, o apóstolo da dúvida, continuava no ministério que considerava sagrado,<br />

embora lhe faltassem elementos para inabalável convicção... Apesar de ter tocado as<br />

chagas do Cristo redivivo, é possível que tenha se questionado vez ou outra se não<br />

teria sido vitima de uma alucinação.<br />

A dúvida faz, e durante um bom tempo ainda fará, parte do quadro cármico do homem<br />

na Terra.<br />

Os médiuns não têm a obrigação de convencer quem quer que seja; têm, isto sim, o<br />

dever de ser úteis à espiritualização que cada um deverá empreender por si mesmo, à<br />

custa das dores de parto que antecedem o nascimento do homem novo.<br />

O medianeiro que se preza não deve insular-se, fugindo à casa espírita onde, com mais<br />

propriedade, é chamado ao exercício de suas funções. Ao grupo que se formar ao<br />

redor dele, necessita ser constante inspiração ao trabalho, porquanto os frutos da<br />

mediunidade são avaliados sempre pelo que ela consegue materializar no campo das<br />

boas obras.<br />

O médium não deve se prestar ao entretenimento dos que anseiam manter longas<br />

conversações com os desencarnados... Os Espíritos Superiores identificam-se pela sua<br />

capacidade de síntese com as palavras e pela sua objetividade na concretização do<br />

Bem.<br />

O médium que não encontrar meio de ser útil através da mediunidade deve procurar<br />

sê-lo de outra forma, nem que, para tanto, deva renunciar ao seu exercício, porquanto<br />

mais importante do que ser médium é ser homem de bem.<br />

Lidar com a mediunidade por vaidade pessoal é lamentável equívoco do medianeiro,<br />

que arcará com as consequências de sua imprevidência.


A finalidade precípua da mediunidade, portanto, é a de vitalizar espiritualmente as<br />

criaturas, fecundando-lhes o psiquismo, para que façam resplandecer a sua própria<br />

luz, caminhando conscientes para a sua plena integração com <strong>De</strong>us.


6 - A UM E A OUTRO<br />

"... a outro, no mesmo espirito, fé; e a outro, no mesmo espirito, dons de curar..."<br />

1 Coríntios, cap. 12 - v. 9<br />

<strong>Paulo</strong>, em sua epístola aos coríntios, revela-se profundo conhecedor da mediunidade,<br />

que, aos tempos do Evangelho nascente, era apanágio dos cristãos, os quais, em suas<br />

reuniões, recebiam a palavra daqueles que os haviam antecedido nos caminhos de<br />

Além-túmulo...<br />

Ele mesmo, portador de várias faculdades medianímicas, instruía os companheiros no<br />

exercício de teus carismas para que deles soubessem obter o máximo proveito.<br />

Afirmava que a mediunidade em si é o mesmo sentido em todos, manifestando-se,<br />

porém, em cada um de acordo com as suas possibilidades, à semelhança da luz, nos<br />

variados matizes em que se revela.<br />

Convencionou-se dar mais ênfase ao trabalho do médium escritor ou pintor; todavia,<br />

perante o Mundo Espiritual, toda mediunidade exercida com responsabilidade é<br />

igualmente valorizada; aliás, melhor que se seja anónimo médium passista no<br />

atendimento sincero às dores do próximo do que conhecido psicógrafo personalista,<br />

distante do sofrimento alheio.<br />

Precisamos, aqui, ressaltar o valor do médium que assoma à tribuna da casa espírita,<br />

detendo-se, com os seus frequentadores, na interpretação da Palavra Divina. A rigor, é<br />

ele que, com suas colocações judiciosas, abre as mentes, tornando-as mais receptivas<br />

à Verdade.<br />

Em seu abençoado apostolado, é também médium de inexcedível valor quem se<br />

consagra ao ministério da evangelização infantil, que, diga-se de passagem, está a<br />

merecer dos dirigentes espíritas maiores cuidados...<br />

Ainda, não se define o valor do medianeiro que aplica os seus talentos na orientação<br />

dos jovens, sem que, para tanto, necessite recorrer a nenhuma forma ostensiva de<br />

mediunidade, procurando unicamente influenciá-los com os seus exemplos de caráter<br />

na vivência dos postulados espíritas.<br />

Médium de múltiplas faculdades que, no entanto, não se manifestam de forma<br />

definida aos olhos deste ou daquele, é o dirigente espírita que se assoberba para que<br />

as atividades da instituição que orienta continuem sendo cumpridas, arcando, não<br />

raro, com um ónus espiritual que muitos confrades estão longe de avaliar.


É importante que o espírita, ele mesmo, valorize o trabalho que esteja sob a sua<br />

responsabilidade, sem que se deprecie em suas funções, unicamente porque não<br />

esteja no exercício específico desta ou daquela mediunidade.<br />

Se sempre se fez indispensável combater o tabu existente contra os médiuns,<br />

igualmente se faz necessário agora acabar com o tabu a favor dos médiuns, do tabu<br />

que praticamente os promove à condição de Infalíveis oráculos ou de hierofantes da<br />

Doutrina.<br />

Cooperemos com o medianeiro em luta, porque, para ele, não é nada fácil perseverar<br />

apesar de si mesmo, tendo que exercer um ministério sagrado com os pés atolados na<br />

lama... Saibamos auxiliá-lo, porquanto, sem apoio, de fato ele pouco conseguirá<br />

produzir, mas não o cerquemos com deferências que terminem por fazê-lo crer-se o<br />

que efetivamente ele não é.<br />

Conhecemos médiuns que, tidos por expoentes doMovimento, não passam de<br />

companheiros que espiritualmente oscilam entre a sombra e a luz... Capazes de<br />

grandes feitos, igualmente o são de atos medíocres. Canais receptivos da inspiração<br />

superior, por incrível que pareça, conseguem, ao mesmo tempo, ser intérpretes das<br />

paixões nas quais ainda se comprazem, servindo de "pasto" para os desencarnados<br />

que lhes vampirizam as energias.<br />

As nossas palavras não objetivam senão alertar para o estado de indigência espiritual<br />

em que os homens vivem na Terra, orbe, sem dúvida, onde se congregam espíritos que<br />

somente agora abandonam a sua condição larvária, lentamente ascendendo na<br />

direção da Luz...<br />

Sem que desejemos nos exceder em nossas considerações, interpretemos ainda a<br />

assertiva de <strong>Paulo</strong> aos coríntios no sentido de que é perfeitamente possível que um<br />

mesmo espírito opere de maneira diferente, através de instrumentos diferentes, por<br />

exemplo escrevendo por um e curando por outro, valendo-se, é claro, do polimorfismo<br />

de suas aptidões. Apenas no sentido de clarear um pouco mais o que afirmamos, é<br />

lógico que quem não consiga empreender determinada viagem de avião o faça de<br />

automóvel, de locomotiva ou de carroça, de acordo com o veículo que tenha à<br />

disposição.


7 - COOPERAÇÃO E UNIÃO<br />

"... para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com<br />

igual cuidado, em favor uns dos outros."<br />

1 Coríntios, cap. 12 - v. 25<br />

O Cristianismo nascente, de fato, deve muito a <strong>Paulo</strong>. Apesar de seu espírito<br />

indomável em defesa da Verdade, ninguém trabalhou qual ele o fez no sentido de<br />

preservar a unidade entre os cristãos, combatendo com veemência o personalismo e a<br />

inclinação à superioridade deste ou daquele grupo.<br />

Entre os espíritas e, notadamente entre os médiuns, ha que existir sempre espírito de<br />

cooperação, na Imprescindível troca de experiências, objetivando o real descimento da<br />

Doutrina.<br />

Os médiuns são chamados a dar o exemplo de entendimento entre si, porfiando na<br />

sustentação do grupo a que se vinculem, sem cultivar preferências de qualquer<br />

espécie...<br />

Infelizmente, é muito comum que determinado medianeiro torça pela queda do outro<br />

— do outro que considera um obstáculo em sua trajetória. Temos visto companheiros<br />

espíritas acusarem os demais confrades, expondo-lhes publicamente as feridas, sem a<br />

iniciativa caridosa de socorrê-los em suas dificuldades.<br />

Sem espírito de fraternidade legítima, os espíritas reeditarão os cristãos que acabaram<br />

por desviar o Cristianismo de seu objetivo, transformando-o mais em uma religião de<br />

adoração exterior do que de reforma íntima.<br />

Conforme o verbo lúcido do <strong>Apóstolo</strong> dos Gentios, que os médiuns cooperem, "com<br />

igual cuidado, em favor uns dos outros", compreendendo que são parte vital do<br />

Movimento Espírita que lhes compete incentivar em toda iniciativa nobre.<br />

Medianeiro que disputa a preferência do público espírita na atividade que exerce, seja<br />

ela de que natureza for, é medianeiro personalista a serviço da cizânia, da discórdia e<br />

da perturbação.<br />

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, não é uma doutrina de múltiplas facções.<br />

Médium algum poderá "fazer" um Espiritismo à sua maneira... Basicamente, todos os<br />

grupos espíritas têm a mesma orientação, aplicável de acordo com as suas<br />

peculiaridades, mas sem afastar-se das diretrizes kardecianas.


Médiuns personalistas, a serviço de espíritos personalistas, interessados em lançar a<br />

confusão entre os espíritas, têm se responsabilizado por inovações perigosas e, não<br />

satisfeitos, por métodos de trabalho que cada vez mais se distanciam da pureza<br />

primitiva da Doutrina. Caciques reencarnados ou sacerdotes numa nova roupagem<br />

física, esses medianeiros sentem-se os donos da "tribo" à qual desejam agregar<br />

outras... Donos de uma falsa humildade, afirmam que nada são, mas, no fundo,<br />

estimam ouvir os aplausos com os quais a multidão menos esclarecida costuma louválos,<br />

reforçando neles falsa concepção acerca de si mesmos.<br />

No exemplo de <strong>Paulo</strong>, quando se refere à necessidade de cooperação entre os<br />

membros do corpo, para o seu perfeito funcionamento, imaginemos o Movimento<br />

Espírita esfacelado, os centros transformados em antros de conversação doentia, de<br />

ataques sistemáticos aos irmãos da mediunidade em suas lutas, os periódicos<br />

doutrinários transformados em campo de batalha onde apenas existem feridos de<br />

parte a parte...<br />

No apostolado da mediunidade, o médium será, antes de tudo, um legionários da paz,<br />

um apagador de incêndios, um traço-de-união entre os companheiros, entre os<br />

diferentes grupos e as mais diversificadas tarefas...<br />

Será, ainda, uma voz sempre conciliadora, capaz de emudecer, se preciso for, para<br />

colocar termo à polémica insensata, defendendo a unidade da Doutrina em seu tríplice<br />

aspecto: científico, filosófico e religioso.<br />

Ao rastro dos profetas da antiguidade, o médium com espírito de apostolado não<br />

hesitará no cumprimento do dever, o qual sempre colocará acima de si mesmo,<br />

doando-se inteiramente aos propósitos de ordem superior sem imiscuir-se nas<br />

picuinhas tão ao gosto daqueles medianeiros que trabalham mais para si do que para a<br />

Causa.<br />

"Com igual cuidado" significa: com igual interesse, com igual dedicação, com igual<br />

entusiasmo... O medianeiro que, mais do que ser médium, não procurar ser cristão na<br />

mais legítima acepção da palavra não fará de sua vida um apostolado com Jesus,<br />

intermediando junto da Humanidade a mais sublime de todas as mensagens — a<br />

vivência do Evangelho!


8 - MEDIUNIDADE E CONHECIMENTO<br />

"... porque em parte conhecemos e em parte profetizamos."<br />

1 Coríntios, cap. 13 - v. 9<br />

Com o devido respeito em nossas palavras, a função do espírito não é a de substituir a<br />

ignorância do médium.<br />

Mediunidade, repetimos, é um processo de parceria.<br />

Às vezes, é o médium que é chamado a suprir a falta de conhecimento do espírito<br />

comunicante.<br />

O médium necessita estudar, informar-se, criar condições para que o espírito encontre<br />

nele o instrumento adequado.<br />

O Espírito não pode fazer nada sozinho. É indispensável que, na produção do<br />

fenómeno, seja de que natureza for, ele encontre no médium o correspondente<br />

complemento.<br />

Quando o medianeiro revela aptidão para este ou aquele tipo de mediunidade, ele<br />

carece de aprimorar-se, oferecer campo de atuação para o espírito.<br />

Constitui-se em lamentável tabu no Espiritismo o fato de que o médium pode ser<br />

analfabeto... Isto simplesmente não existe! Quase sempre, o médium sem cultura<br />

académica é detentor de valioso patrimônio cultural do passado. O espírito "extrai" do<br />

seu subconsciente os recursos de que se vale, no caso dos comunicados de natureza<br />

intelectual.<br />

Quase sempre, o médium de mais ampla produção literária é médium que lê muito —<br />

diz que não lê, imaginando assim dar maior credibilidade ao fenómeno que se<br />

processa por seu intermédio, esquecendo-se de que acaba por transformar-se em<br />

agente da mentira...<br />

Temos, por exemplo, observado no Brasil grande proliferação de médiuns consagrados<br />

à pintura... Realmente, pintores reencarnados ou em processo de desenvolvimento no<br />

campo da pintura deveriam lançar-se ao estudo da arte com as tintas, exercitando-se<br />

exaustivamente para que os espíritos dos artistas consagrados neles encontrassem a<br />

parceria adequada, mas, como não estudam, produzem telas ridículas, de sofrível<br />

valor, expondo ainda a mediunidade às críticas de seus adversários.


O mesmo ocorre na produção mediúnica do romance e da poesia, dois géneros<br />

literários que quase exigem especialização dos sensitivos que a eles se consagram...<br />

São inúmeros os trabalhos mediúnicos no setor do romance e da poesia que não<br />

resistem a uma análise... É claro que não estamos a discutir o valor da mensagem em<br />

si. Estamos nos referindo à necessidade de que os médiuns estudem, se aprofundem<br />

no conhecimento do idioma e não queiram publicar tudo o que recebam.<br />

Escrevendo aos coríntios, <strong>Paulo</strong> foi taxativo: "...em parte conhecemos e em parte<br />

profetizamos". Isto quer dizer que todo medianeiro, desde os tempos apostólicos,<br />

quando então denominados profetas, interfere, positiva ou negativamente, na<br />

qualidade do fenómeno que se produz por seu intermédio.<br />

Daí também a necessidade de o médium espiritualizar-se, adquirindo discernimento,<br />

para obter maior controle do fenômeno, sendo ele mesmo uma espécie de crivo moral<br />

para os espíritos que desejem expressar-se por suas faculdades.<br />

O médium, ainda, para escrever ou falar, pintar ou ouvir, ver ou atuar sob a ação de<br />

um espírito não precisa comportar-se de maneira febricitante. Aquele que escreve<br />

pode perfeitamente escrever como quem escreve uma carta, sem necessidade alguma<br />

de ter os olhos sempre fechados... Aquele que fala não necessita falar como quem<br />

abre a boca sem coordenação das ideias que expresse... Aquele que pinta não carece<br />

de gesticular além dos movimentos indispensáveis a quem conduz cuidadosamente a<br />

paleta...<br />

Kardec foi divinamente inspirado quando cunhou a palavra médium. Médium é<br />

intérprete, e o intérprete sempre empresta algo de sua própria emoção e inteligência<br />

ao papel que representa.<br />

Observemos as águas do rio: quanto mais desimpedido o leito por onde correm, mais<br />

tranquilamente haverão de deslizar... Assim deve ser o médium — uma espécie de<br />

leito sem incidentes, por onde se canalize com a naturalidade possível a linfa da<br />

inspiração.<br />

Portanto que o médium quebre de vez o tabu de que ele não tem necessidade alguma<br />

de preparar-se para o espírito. Aliás, é justamente isto que os espíritos das trevas<br />

querem que ele continue pensando, pois, assim, continuará indefinidamente<br />

marcando passo na mediunidade — na mediunidade que, por falta de aprimoramento<br />

dos médiuns, não deslancha.


9 - COM ZELO E DISCERNIMENTO<br />

"Segui o amor e procurai com zelo os dons espirituais..."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 1<br />

Na assertiva de <strong>Paulo</strong>, procurar com zelo os dons espirituais é interessar-se por eles e<br />

cultivá-los.<br />

Médiuns existem que não se interessam pelo aprimoramento dos próprios dons<br />

mediúnicos e não têm a mínima disposição para a disciplina que qualquer atividade<br />

espiritual requisita.<br />

Quantos, digamos, nascem médiuns e não sabem valorizar semelhante conquista,<br />

fruto das experiências vivenciadas no pretérito ou, ainda, da condição genética em que<br />

renasceram?! Quantos são médiuns desde o berço e não revelam o menor interesse<br />

pela Doutrina, chegando a ser avessos às reuniões promovidas nas casas espíritas?!...<br />

Sem dúvida, a faculdade mediúnica é também fruto de uma maturação psíquica que, a<br />

rigor, nada tem a ver com maturidade moral. Mas, assim como o fruto verde pode ser<br />

amadurecido na estufa, em muitos o processo de desenvolvimento mediúnico pode<br />

ser antecipado. Como pode ser isto?! É simples...<br />

Todos trazendo em si os germens da mediunidade, com persistência e devotamento<br />

no estudo e na auto-iluminação através da prática do bem aos semelhantes, todos os<br />

que desejarem poderão conscientemente optar pela mediunidade. Aliás, quem se faz<br />

médium costuma ser melhor instrumento do que aquele que nasce médium feito. Aqui<br />

também pode se aplicar o adágio de que a Vida concede asas a quem não sabe voar...<br />

Quantos revelam tendência natural para esta ou aquela profissão, exercendo outras<br />

completamente diferentes?! Quantos contrariam a própria vocação, por interesses<br />

económicos ou sociais?!...<br />

Há, sem dúvida, quem reencarne com determinada predisposição orgânica para a<br />

mediunidade, mas, em contrapartida, não tem interesse no cultivo dos dons<br />

espirituais. Já outros, por vezes carecem remover pesados obstáculos para se<br />

tornarem médiuns, e isto é perfeitamente compreensível.<br />

O assunto comporta abordagens diversas e exaustivas tais, que reconhecemos não<br />

podermos empreender agora.


A mediunidade pode ser comparada a flor de rara espécie que precisa ser cuidada com<br />

zelo para que sempre se conserve exuberante, sem que perca a vivacidade das pétalas<br />

e a sua fragrância característica.<br />

O médium, portanto, há de ser zeloso de seus dons medianímicos, evitando conspurcálos<br />

pela conversação menos digna, pelos pensamentos infelizes, pelas ações<br />

injustificáveis...<br />

A mediunidade também é possível de adoecer... Quando o médium se enferma do<br />

ponto de vista moral e psicológico, a mediunidade passa a requisitar tratamento e<br />

tratamento quase sempre prolongado de saneamento psíquico.<br />

Quem não zela dos olhos acaba por comprometer ao, quem não cuida dos ouvidos<br />

termina na surdez... O médium que, no dizer de <strong>Paulo</strong>, não segue o amor, procurando<br />

com zelo os dons espirituais, desequilibra-se; aparentemente, pode estar tudo bem<br />

com ele, mas, no íntimo, acha-se em situação deplorável...<br />

Na Vida Maior, temos dezenas e dezenas de hospitais especializados no tratamento<br />

dos médiuns doentes, daqueles que, na Terra ou no Além, se enfermaram.<br />

Às vezes, a mediunidade encontra o médium e ambos se desencontram, no entanto<br />

pode acontecer que seja o médium quem delibere ir ao encontro da mediunidade e,<br />

entre os dois, aconteça então abençoado consórcio.<br />

Se Allan Kardec não tivesse se interessado pelos espíritos, os espíritos não haveriam de<br />

interessar-se por ele. Outro certamente lhe tomaria o lugar na tarefa da Codificação.<br />

Que quem não queira ser médium procure, pois, ser útil de outra forma. Ninguém<br />

carece de ser médium à força. Não existe isso de médium ter que ser médium ou, caso<br />

contrário, vai parar no sanatório... É outro tabu que precisa cair. Quem não desejar<br />

exercer a mediunidade ostensiva, que a exerça nas múltiplas atividades espirituais nas<br />

quais igualmente estará cuidando da própria iluminação.<br />

Que os médiuns, portanto, cuidem de ser médiuns, mas sobretudo com zelo e<br />

discernimento.


10 - TRÍPLICE INCUMBÊNCIA<br />

"Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 3<br />

<strong>Paulo</strong> define com clareza a tarefa daquele que profetiza, ou seja, daquele que exerce a<br />

mediunidade: Edificar, exortar e consolar. A rigor, o médium não tem outra obrigação.<br />

Longe dele a pretensão de convencer, pelo fenómeno, a quem quer que seja.<br />

Na realidade, ninguém se convence antes que haja amadurecido para a Verdade.<br />

Allan Kardec não se convenceu da imortalidade, senão pelos diálogos que entabulava<br />

com os supostos mortos. Não foram os olhos que o fizeram enxergar a lógica da vida<br />

imperecível, mas, sim, a razão.<br />

A tarefa precípua do médium, portanto, não é a de fazer conversões para a Doutrina.<br />

A conversão é um acontecimento de foro íntimo e a instrumentação mediúnica não<br />

passa de simples adendo no contexto em que ela se processa...<br />

O medianeiro é chamado a edificar, a exortar e a consolar as criaturas, tríplice<br />

incumbência na qual deve procurar se haver da melhor forma possível. Este é o seu<br />

apostolado.<br />

Edificar espiritualmente os homens já não constitui, por si só, tarefa acessível a todos.<br />

É um desafio constante para o tarefeiro bem intencionado que, não raro, se aflige por<br />

aqueles que <strong>De</strong>us lhe colocou sob a tutela...<br />

Edificar significa ainda fornecer sustentação cotidiana à crença de quantos vacilam em<br />

suas lutas. Eis um dever que, para o médium, deve ser infinitamente gratificante: dar<br />

força e coragem aos que concentram todas as suas esperanças de uma vida melhor na<br />

vida de Além-Túmulo!<br />

Temos, sem dúvida, o médium em mandato sobre a Terra, aquele que vem cumprindo<br />

elevada missão de caráter geral entre os homens, mas o médium de atuação discreta,<br />

junto a este ou àquele grupo, é de suma importância, porquanto, não raro, graças a ele<br />

é que o trabalho dos companheiros se mantém.<br />

No início do Cristianismo, a de <strong>Paulo</strong> era uma voz que ecoava aos quatro cantos, mas<br />

cada comunidade cristã contava com o seu "profeta", através do qual o "Espírito<br />

Santo" a ela se dirigia em particular, incentivando os cristãos ao testemunho.


Nas celas das prisões, antecipando os martírios a que eram publicamente submetidos,<br />

vários sensitivos, tomados pelas vozes do Além, exortavam os companheiros prestes a<br />

dar a vida pelo Evangelho...<br />

O Espiritismo, em sua função eminentemente consoladora, socorre os que sofrem<br />

através da mensagem de vida eterna que veicula pelos lábios de seus "profetas", os<br />

médiuns que abraçam na mediunidade o apostolado da consolação.<br />

O Cristo não se preocupou em convencer mais do que em edificar, exortar e consolar.<br />

Que o médium se sinta sempre assim: simples instrumento do qual a Espiritualidade se<br />

serve para falar nos homens, exortando-os ao caminho do Bem!<br />

No entanto existem médiuns que consideram semelhante incumbência sem expressão.<br />

Querem ser estafetas de novas revelações, profetas de mensagens apocalípticas... Isto<br />

também é vaidade! É que eles não se contentam em ser o que são, aspirando a voos<br />

para os quais não possuem asas suficientemente fortes...<br />

Quando extrapolam, transformam-se em mensageiros de falsa sabedoria,<br />

complicando a cabeça das pessoas e desservindo a Doutrina.<br />

A tríplice incumbência de edificar, exortar e consolar é uma incumbência de luz! O<br />

médium que pode a ela se prestar, deve dirigir as mãos para o Alto e agradecer a<br />

credibilidade que lhe está sendo depositada.<br />

Porém que ninguém se esqueça: quem edifique, exorte e console aos outros, console,<br />

exorte e edifique primeiro a si.<br />

O medianeiro simples e anônimo desconhece a sua importância para os núcleos de<br />

atividades anônimas e simples que sustentam a Doutrina! Representam eles diminutos<br />

canais de irrigação, responsáveis pela fertilidade do campo da fé.<br />

Bendito o médium que, falando aos homens, edifica, exorta e consola em nome de<br />

Jesus!


11 - XENOGLOSSIA INÚTIL<br />

"...pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar<br />

para que a igreja receba edificação."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 5<br />

Os fenômenos de xenoglossia eram comuns entre os cristãos dos tempos apostólicos.<br />

Mediunizados, os profetas" falavam em outras línguas, qual aconteceu, inclusive, na<br />

festa de Pentecostes, quando, segundo se lê em Atos dos <strong>Apóstolo</strong>s, "todos foram<br />

cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito<br />

Santo lhes concedia que falassem".<br />

<strong>Paulo</strong> compreendia a quase total inutilidade de semelhantes comunicados, visto serem<br />

poucos os que podiam assimilá-los, porquanto os espíritos se expressavam em dialetos<br />

aos quais raríssimos ali presentes tinham acesso.<br />

As reuniões em que tais fenómenos ocorriam transformavam-se numa autêntica "torre<br />

de Babel", tornando a palavra de Além-Túmulo, que deveria ser de edificação para a<br />

igreja, completamente ininteligível.<br />

Com alguns medianeiros inexperientes costuma acontecer o mesmo em nossos dias...<br />

Escrevem páginas e mais páginas em língua desconhecida, sendo que, quase sempre se<br />

encontram debaixo de processo de fascinação e o que escrevem não passa de<br />

garatujas de algum espírito brincalhão, carecendo de qualquer significado literário.<br />

Fenómeno idêntico acontece com a mediunidade psicofônica. Mediunizados,<br />

sensitivos se expressam em línguas supostamente mortas, mas, na realidade, estão<br />

pronunciando termos desconexos que não têm nenhum valor para comprovação de<br />

autenticidade dos comunicados.<br />

<strong>Paulo</strong> falou de modo a não deixar evasivas: "Quem profetiza é superior ao que fala em<br />

outras línguas", ou seja, quem interpreta a mensagem ou quem decodifica a palavra,<br />

explicando-a em espírito e verdade, é profeta do esclarecimento, medianeiro da<br />

instrução, apóstolo da Verdade acessível a todos.<br />

Da lição do ex-rabino, depreendemos ainda que o médium tem o dever de manter o<br />

controle dos comunicados que acontecem por sua intermediação psíquica... Se não<br />

tiverem qualquer proveito, devem, de imediato, ser postos de lado e os espíritos que<br />

lhes sejam os autores convidados pelo próprio médium a se expressarem com maior<br />

clareza e objetividade.


Por justiça, precisamos ressaltar que um ou outro fenómeno de xenoglossia, sem<br />

dúvida, merece credibilidade, porém o que temos visto acontecer entre os médiuns<br />

sem discernimento é uma série infindável de comunicados que apenas denotam, sobre<br />

eles, uma interferência espiritual negativa.<br />

Um espírito esclarecido não se expressa por metáforas incompreensíveis, não fala ou<br />

escreve de maneira empolada e enigmática.<br />

"Seja o teu falar sim, sim; não, não", conclamou-nos Jesus.<br />

O estudo das Escrituras era incentivado por <strong>Paulo</strong> junto às comunidades cristãs, o qual,<br />

em suas cartas, primava pela interpretação da Palavra Divina, de modo que todos<br />

pudessem acolhê-la e vivenciá-la. Combatia com veemência, qual igualmente Jesus<br />

havia combatido, os doutores da lei que ludibriavam o povo, distorcendo o significado<br />

das profecias.<br />

Em nossos templos espíritas, que, de fato, são escolas da alma, a função do expositor<br />

da Doutrina é de suma importância, mais até, em muitos casos, que a do próprio<br />

medianeiro, não nos esquecendo de que o orador espírita é médium por excelência,<br />

encarregado de despertar consciências adormecidas. Preferível, em nossa casas de fé,<br />

uma reunião de estudos a uma reunião mediúnica, caso nos víssemos na iminência de<br />

escolher entre uma e outra.<br />

Atentemos também para o fato de que todo comunicado de Além-Túmulo deve ser<br />

submetido ao crivo da razão.<br />

Não é aconselhável que, a priori, se aceite esta ou aquela mensagem, unicamente<br />

porque seja de autoria deste ou daquele espírito e tenha sido recebida por este ou<br />

aquele médium. O medianeiro que ficar melindrado por semelhante providência<br />

evidenciará, por si e não pelo espírito, que os seus propósitos na mediunidade estão a<br />

carecer de maior sinceridade. Quase sempre, o médium que sistematicamente<br />

defenda o espírito que se expressa por seu intermédio está é a defender a si mesmo, e<br />

vice-versa.


12 - QUE FAREI, POIS?<br />

"Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com<br />

o espírito, mas também cantarei com a mente."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 12<br />

A indagação de <strong>Paulo</strong> é a indagação de muitos que se consagram às atividades<br />

espirituais, quando se vêem chamados a responsabilidades mais amplas.<br />

Observe-se, no entanto, que o <strong>Apóstolo</strong> da Gentilidade não permaneceu no<br />

questionamento sem resposta. Ele próprio traçou para si o caminho a ser trilhado:<br />

"Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas<br />

também cantarei com a mente".<br />

<strong>De</strong>liberara <strong>Paulo</strong> a entregar-se inteiramente, confiando-se de modo pleno às<br />

prerrogativas divinas, ao contrário de quantos hesitam ou somente parcialmente<br />

concordam em doar-se às tarefas de natureza espiritual.<br />

Encontramos muitos medianeiros assim, divididos entre o querer e o não-querer, entre<br />

o assumir e o não-assumir os deveres a que são chamados na mediunidade.<br />

Muitos entregam o corpo, raros entregam o espírito...<br />

Muitos entregam o seu tempo, raros entregam a sua vida...<br />

Os que vacilam no exercício da mediunidade, nunca conseguem ir além de suas<br />

primeiras conquistas, porquanto, para desenvolver-se, chega o instante em que a<br />

mediunidade passa a exigir mais do médium — mais do seu interesse, mais do seu<br />

esforço, mais de sua renúncia, mais de seu idealismo e mesmo até mais de sua<br />

coragem em expor-se às incompreensões, às ironias e às críticas.<br />

O medianeiro que não sabe ousar além dos primeiros passos estaciona por longo<br />

tempo nos degraus de sua ascensão de início, tornando-se improdutivo e frustrando<br />

nos amigos espirituais a expectativa pelo seu crescimento.<br />

Todo médium que aparece na Terra representa motivo de júbilo para os espíritos que,<br />

então, passam a contar com mais uma "estação repetidora" no mundo... Acontece,<br />

porém, que, na maioria das vezes, a referida "estação" revela fraco sinal, ou seja,<br />

reduzido poder de alcance na abrangência da mensagem que os desencarnados<br />

pretendem transmitir por seu intermédio...


Quantos, aflitos, não arremessam ao Alto a indagação paulina quando se vêem<br />

agraciados pelos dons mediúnicos: "Que farei, pois?". Rogavam aos Céus o talento que<br />

prometiam multiplicar em benefício dos semelhantes, mas, ao tê-lo nas mãos,<br />

recuam... Temem a responsabilidade do serviço, sentem-se por demais expostos aos<br />

olhares públicos, receiam atrapalhos em sua vida particular.<br />

Se <strong>Paulo</strong> houvesse permanecido na fase do questionamento, certamente não teria<br />

confirmado a sua condição de vaso escolhido pelo Senhor.<br />

Por este motivo e outros que não convém relacionar agora, é que não devemos<br />

incentivar demasiadamente companheiros a ingressarem na mediunidade. Precisamos<br />

orientá-los e deixar que decidam por si o melhor caminho. Isto, aliás, vale também<br />

para outros setores vocacionais das múltiplas atividades humanas.<br />

O médium que não possui vocação para a mediunidade deve ser aconselhado a<br />

desistir, procurando realizar-se espiritualmente em tarefa que concorde em executar<br />

com alegria. Repetimos: para o médium no qual a mediunidade é motivo de<br />

sofrimento, de angústia, existem outras opções para que ele se harmonize<br />

interiormente. Ninguém deve ser médium por imposição.<br />

Mediunidade é uma prova (para a grande maioria ela o é) que precisa ser cumprida<br />

com alegria.<br />

Médium algum deve ter receio de renunciar à mediunidade e perturbar-se. O que ele<br />

não pode é desertar do cultivo de si mesmo, através da vigilância de seus pensamentos<br />

e da prática sistemática do Bem... O que não lhe é aconselhável é que, deixando a<br />

mediunidade, ele corte o fio de sintonia com os Planos Superiores...<br />

Que o medianeiro compreenda que servir de intérprete a um espírito sofredor<br />

necessitado de orientação e conforto é uma bênção. Que quem não possa ser médium<br />

dos espíritos iluminados seja enfermeiro dos espíritos doentes, ofertando-lhes o<br />

psiquismo por padiola onde possam receber tratamento.<br />

Portanto aos médiuns que estejam ainda na fase da indagação — "Que farei, pois?" —<br />

solicitamos permissão para responder-lhes inspirados em <strong>Paulo</strong>: — Orem e cantem,<br />

trabalhando sempre!...


13 - MÉDIUNS MALEDICENTES<br />

"Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malicia, sim, sede crianças; quanto ao juízo,<br />

sede homens amadurecidos."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 20<br />

Porque Jesus recomendou que os seus seguidores fossem mansos qual as pombas e<br />

prudentes feito as serpentes, há quem procure justificar-se na malícia que adota em<br />

seu relacionamento com o próximo.<br />

Infelizmente, nem os médiuns escapam à malícia que, dizem, assumem por<br />

necessidade de autodefesa contra as arremetidas de quantos conspiram contra os<br />

seus ideais de trabalho.<br />

É claro que os medianeiros carecem de precaver--se e saber que estão lidando com<br />

todos os tipos de interesse, inclusive aqueles afetos ao personalismo, à inveja, ao<br />

ciúme... Muitos dos que combatem a mediunidade não o fazem por idealismo sincero<br />

e, não raro, combatendo a mediunidade, ao médium é que desejam combater.<br />

Em sã consciência, não podemos desaprovar a atitude vigilante dos médiuns zelosos<br />

das tarefas espirituais pelas quais respondem... Intenções menos dignas estão<br />

constantemente a rondar-lhes os passos, ansiando por enredá-los em suas teias<br />

escuras e comprometer-lhes as atividades.<br />

Todavia, entre a malícia necessária e a maledicência em que ela pode transformar-se,<br />

subtraindo do médium a necessária espontaneidade no trato com as pessoas, a<br />

distância é imensa.<br />

O médium demasiadamente malicioso e que se gaba de ser ladino acaba por iniciar-se<br />

na maledicência, não mais imprimindo confiança naquilo que faz e representa. Se<br />

dialoga com alguém, está sempre atormentado pelas possíveis intenções escusas do<br />

interlocutor e, o que pior, quase sempre está articulando ideias que objetivam<br />

exclusivamente o atendimento de suas aspirações de caráter pessoal.<br />

Quando o médium perde o vínculo com a simplicidade e ele próprio passa a descrer de<br />

sua sinceridade na tarefa, é tempo de indispensável pausa para que ele repense as<br />

suas atitudes.<br />

Os médiuns que extrapolam os cuidados da vigilância e se tornam maliciosos, sem que<br />

percebam, passam a refletir no próprio semblante uma aura maledicente que,<br />

imperceptivelmente, gera a antipatia naqueles que o rodeiam. Sabe-se que, com ele,<br />

se pode ir até a determinado ponto, mas não além...


O medianeiro carecia mesmo de ser, na maioria das vezes, um charco de onde reponta<br />

o lírio imaculado... Somente assim, atolado na lama, ele seria capaz de compreender<br />

aqueles que se lhe assemelham nas imperfeições e mazelas e sentir-se tocado de<br />

misericórdia por quantos com ele se nivelam nas lutas que ainda não superou.<br />

O juízo que <strong>Paulo</strong> recomenda aos cristãos de Corinto, não se refere exclusivamente ao<br />

fato de se ter cabeça... O ex-rabino também os advertia quanto ao julgamento<br />

precipitado das atitudes alheias, aconselhando-lhes a ponderação que é apanágio<br />

apenas dos homens amadurecidos.<br />

No apostolado mediúnico, o médium que sabe mais é aquele que sabe que quem age<br />

com o coração sempre triunfa, embora transitoriamente possa expor--se a inúmeros<br />

dissabores.<br />

O médium que age com total isenção de ânimo, que nada malícia, que prefere ser<br />

enganado a enganar, que não abusa da confiança alheia e não subtrai a fé de ninguém<br />

através dos desmandos cujo direito de converter arroga para si, sob o beneplácito do<br />

tempo, sai vencedor de todo e qualquer embate.<br />

Ao contrário, o médium que se julga em condições de calçar "salto alto", ou cujos<br />

desequilíbrios emocionais os espíritos estão sempre olhando e que, em hipótese<br />

alguma, se justificam decepciona e é decepcionado, porquanto os espíritos, por mais<br />

estima tenham por ele, evidentemente têm mais afazeres que suportar um médium<br />

emotivamente imprevisível.<br />

A mediunidade não confere a médium algum o direito de extrapolar. Antes, exige-lhe<br />

discernimento e equilíbrio no exercício de suas funções, pois mediunidade leviana é<br />

ladeira derrapante na qual fatalmente o médium terminará, com várias fraturas<br />

expostas reclamando delicadas intervenções de reajuste, com direito a muletas para<br />

que reaprenda a andar...


14 - NÃO É PARA OS INCRÉDULOS<br />

"... mas a profecia não é para os incrédulos, e, sim, para os que crêem."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 22<br />

A mediunidade não é, necessariamente, um instrumento de convicção para os<br />

incrédulos.<br />

Os argumentos dos cépticos são inesgotáveis e, para o que não crê, sempre se fará<br />

possível os questionamentos, mesmo diante das mais claras evidências.<br />

Tomé não se contentou com a visão do Cristo redivivo: pediu-lhe permissão para<br />

tocar-lhe as chagas a fim de convencer-se da realidade.<br />

A mediunidade, por um longo tempo ainda, sofrerá o escárnio de quantos se<br />

acomodam na situação espiritual em que se encontram, "mais por interesse do que<br />

por convicção"...<br />

Para que Sir William Crookes aceitasse o fato da sobrevivência da alma, foi preciso que<br />

o espírito Katie King, através da médium Florence Cook, se materializasse diante de<br />

seus olhos de investigador, durante três anos consecutivos.<br />

Charles Richet, o fundador da Metapsíquica, apenas se curvou ante a verdade<br />

imortalista quando ele próprio se encontrava agonizante, no limiar da dimensão etérea<br />

que tateara no curso de sua profícua existência...<br />

Equivocam-se os espíritos que pretendem convencer pelo fenómeno e enganam-se os<br />

médiuns que têm a pretensão de converter os incrédulos através do que logram<br />

produzir na mediunidade.<br />

<strong>Paulo</strong>, alcançando semelhante realidade, escreveu aos cristãos de Corinto que "a<br />

profecia não é para os incrédulos, e, sim, para os que crêem". Portanto que eles não<br />

perdessem tempo tentando incutir a fé nas almas cristalizadas na descrença... Para<br />

elas, a profecia, ou seja, a mediunidade não deveria passar de subsídio para que se<br />

rendessem aos alvitres da razão.<br />

Existem médiuns que, na tentativa de impressionar os cépticos, extrapolam e, indo<br />

além de suas atribuições, cooperam ainda mais para o fortalecimento da dúvida...<br />

Empenham-se em conquistar adeptos importantes para a Doutrina, esquecidos de que<br />

"muitos são os chamados e poucos os escolhidos"...


Agem sem nenhum bom senso os dirigentes de reuniões mediúnicas que nelas<br />

admitem os que não têm maior conhecimento doutrinário e sequer adeptos do<br />

Espiritismo se consideram. Numa reunião mediúnica privativa, apenas devem ser<br />

admitidos espíritas já com alguma vivência e perfeitamente entrosados nas atividades<br />

da Doutrina.<br />

Os Espíritos Superiores sabem que a convicção é processo afeto a cada alma e o que<br />

para uma é motivo de crença, para outra é de negação.<br />

Que os medianeiros não se desalentem perante os que, a princípio, não aceitem a sua<br />

atuação-, que perseverem em suas atividades medianímicas, sem buscarem aprovação<br />

outra que não seja a da consciência tranquila pelo cumprimento do dever.<br />

Se a dúvida parte dos próprios companheiros de ideal, é uma razão a mais para que os<br />

médiuns questionados não desertem de suas obrigações, fornecendo-lhes, com o aval<br />

do tempo, um atestado de convicção pessoal naquilo que o Mundo Maior produz por<br />

seu intermédio, na tentativa de acordar os homens para as realidades do espírito.<br />

Segundo <strong>Paulo</strong>, a "profecia" ainda não é para os "profetas" incrédulos, o que significa<br />

dizer: a mediunidade não é para os médiuns descrentes!<br />

O médium que não atuar com a mínima convicção necessária não conseguirá incutir fé<br />

em ninguém; ao contrário, terminará, inclusive, por destruir o embrião da crença nos<br />

corações...<br />

Se o médium não confia, se questiona em excesso à ação dos espíritos através de si, se<br />

vacila com frequência, se se sente incapaz de servir na edificação das almas, é melhor<br />

que desista de ser médium.<br />

É evidente que não se espera do médium uma fé cega, mas também nem uma<br />

descrença sistemática. Para utilizarem o médium como instrumento, os espíritos<br />

necessitam de sua colaboração consciente, lúcida, consentida...<br />

No apostolado da mediunidade não há lugar para dúvidas infindáveis, porquanto o<br />

serviço a ser feito exige ação que protela, sine die, as questões que costumam<br />

imobilizar os braços de quem não sabe colocar o bem dos semelhantes acima de<br />

qualquer incerteza de caráter pessoal.


15 - TUDO SEJA FEITO<br />

"Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este traz<br />

revelação, aquele outro língua e ainda outro interpretação. Seja tudo feito para<br />

edificação."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 26<br />

<strong>Paulo</strong> recomendava que os cristãos, ao se reunirem, primassem pela edificação<br />

espiritual, cada um emprestando, para tanto, a colaboração de seus dons, sem que<br />

ninguém se preocupasse em sobrepujar os demais.<br />

"Um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outro língua e ainda outro<br />

interpretação"...<br />

No templo espírita, todos os companheiros dedicados à tarefa cooperam, de igual<br />

forma, no fortalecimento recíproco da fé... Este transmite o passe, aquele psicografa,<br />

outro incorpora... Há quem cuide da exposição doutrinária, quem se mantenha atento<br />

à porta, quem oriente as crianças, quem distribua o panfleto doutrinário, quem<br />

dialogue com os neófitos, quem prime pela limpeza do recinto...<br />

Bastará, no entanto, que o personalismo deste ou daquele se exacerbe, para que a<br />

descrença apareça, comprometendo o equilíbrio do grupo e interferindo no resultado<br />

final.<br />

Será suficiente que a vaidade fale mais alto naquele que anseia por concentrar<br />

atenções, reclamando para si todos os olhares e aplausos, para que a obra, como um<br />

todo, sofra as consequências.<br />

Naqueles que compreendem o verdadeiro espírito da Doutrina, não há competição de<br />

influência... Entendendo os seus compromissos diante dos erros do pretérito, buscam<br />

trabalhar sem imposições, colocando a união acima das querelas oriundas dos<br />

conflitos de opinião.<br />

Os espíritos se distribuem entre os médiuns de acordo com as suas tendências... Este<br />

quer escrever, aquele deseja falar, outro anseia pintar... Muitos procuram vincular-se<br />

ao campo da cura, à desobsessão, ao socorro anónimo aos encarnados...<br />

Nem todos os espíritos, porém, têm atribuições na Terra. A maioria se sente<br />

requisitada pelas atividades da Vida Espiritual e não dispõe de recursos, nem de tempo<br />

para as tarefas da Crosta. Por assim dizer, entre eles e os encarnados romperam-se os<br />

fios que os prendiam, dado, em muitas circunstâncias, serem bastante ténues os laços<br />

que os juntavam.


Enganam-se quantos imaginam que a vida no Mundo Espiritual exista exclusivamente<br />

em função da vida na Terra. <strong>De</strong> uma maneira geral, para os desencarnados a existência<br />

física simboliza o passado e o que eles desejam é avançar na direção do porvir —<br />

representado pelas dimensões espirituais que ainda não atingiram.<br />

Apenas permanecem vinculadas à vida no mundo os espíritos que aí assumiram graves<br />

compromissos ou que elegeram o intercâmbio com os encarnados por tarefa<br />

prioritária em suas aspirações redentoras.<br />

A multidão dos espíritos que povoa as regiões espirituais próximas ao planeta não sabe<br />

o que nele se passa, não tem acesso a informações, é, por assim dizer, acometida de<br />

um esquecimento semelhante àquele que acomete os espíritos quando reencarnam. É<br />

por este motivo, entre tantos outros, que o contato com os espíritos desencarnados,<br />

mormente com aqueles que deixaram o corpo há mais tempo, não é tarefa fácil para<br />

os homens. Torna-se, por vezes, extremamente penoso localizar-lhes o paradeiro na<br />

Vida Espiritual, levando-se ainda em conta que a maioria se vinculou a novas situações<br />

afetivas e morais.<br />

Porém, qual nos recomenda o grande Converso de Damasco, seja como for, tudo seja<br />

feito para a edificação de todos.<br />

Em nossos conclaves doutrinários e nos simpósios organizados em nome do<br />

Espiritismo, principalmente naqueles aos quais tem acesso o grande público,<br />

esmeremo-nos na simplicidade, combatendo toda e qualquer formalidade que não se<br />

coadune com a grandeza espiritual de nossos postulados na revivescência do<br />

Evangelho.<br />

Que os médiuns sopesem o seu poder de influência no ânimo dos companheiros para,<br />

de certa forma, interferirem positivamente na condução das tarefas nas quais são<br />

chamados a participar com a força de seu idealismo.<br />

O apostolado da mediunidade reclama dos médiuns imparcialidade em todos os<br />

sentidos, para que efetivamente sejam os medianeiros do Cristo na concretização da<br />

Nova Era.


16 - DISCIPLINA E ESPONTANEIDADE<br />

"Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém,<br />

vier a revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - vv. 29 e 30<br />

É impressionante a riqueza de detalhes com que <strong>Paulo</strong> aborda a questão da<br />

mediunidade em suas epístolas aos coríntios. Falando a respeito da disciplina<br />

mediúnica entre os detentores do dom de profetizar, o apóstolo não deixa de<br />

mencionar a importância da espontaneidade com que o Mundo Espiritual, por vezes,<br />

se manifesta na "revelação a outrem que esteja assentado"...<br />

Isto significa que nem sempre a Verdade é veiculada através de medianeiros<br />

consagrados que, eventualmente, podem não ser os canais ideais para que<br />

determinadas manifestações aconteçam.<br />

Muitos sensitivos, com o passar do tempo, perdem a espontaneidade que precisa ser<br />

cultivada como um dos atributos essenciais da mediunidade. Não raro, o medianeiro<br />

enquadra-se excessivamente nas concepções que assimila, fechando "ramais" de<br />

sintonia com o Plano Superior... Quando os espíritos carecem de falar do que<br />

habitualmente não falam, recorrem a médiuns que tiram do anonimato, quase sempre<br />

provocando a ciumeira dos médiuns que não foram escolhidos como instrumentos das<br />

referidas revelações.<br />

Entre os medianeiros mais vividos, infelizmente é comum a reação negativa contra os<br />

médiuns novatos pelos quais se sentem ameaçados em seu prestígio e influência.<br />

Antevendo os amplos caminhos da mediunidade, <strong>Paulo</strong> recomenda que, quando "vier<br />

a revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro", ou seja, compreenda o<br />

médium que ele não é senhor dos espíritos e que ele não possui a primazia absoluta da<br />

Verdade.<br />

Quando o medianeiro cumpre a sua tarefa, permitindo-se envaidecer pelo que teve<br />

oportunidade de realizar, a Espiritualidade o desativa; ele continua médium e, pelos<br />

bons serviços prestados, prossegue na divulgação dos postulados que auxiliou a<br />

impulsionar, mas os espíritos que cuidam do progresso da Humanidade transferem-se<br />

de "domicílio mediúnico", passando a residir com o sensitivo que temporariamente<br />

lhes atenda os propósitos de, gradativamente, fazer luz sobre as trevas da ignorância<br />

humana.


Médiuns existem que, sorrateiramente, fazem campanhas contra outros que<br />

despontam, na falsa ilusão de que seriam eles os eternos eleitos da Espiritualidade.<br />

Esse processo que descrevemos, acontecendo naturalmente em todas as áreas do<br />

saber, não poderia poupar a mediunidade... Se as ideias se renovam, os médiuns que<br />

as expressam igualmente se renovam. Se os pesquisadores não se sucedessem uns aos<br />

outros, a investigação da Verdade permaneceria estanque.<br />

Aos médiuns que cooperaram com Kardec na Codificação, outros se sucederam e vêm<br />

cumprindo admiravelmente o seu papel, mas, dentro do dinamismo natural da<br />

Doutrina, novos médiuns surgirão no próximo milénio e, dentro desse engenhoso<br />

processo de revezamento, haverão de descortinar novos rumos à Terceira Revelação.<br />

A Verdade será sempre a Verdade, mas os seus arautos haverão de se substituírem,<br />

sem que a tarefa confiada a um comprometa a tarefa confiada a outro, dentro das<br />

possibilidades de realização deste ou daquele.<br />

É importante que, no apostolado da mediunidade, o sensitivo mais experiente saiba<br />

incentivar os companheiros iniciantes, mormente quando neles detectem as condições<br />

imprescindíveis para que o Plano Espiritual realize um bom trabalho.<br />

<strong>Paulo</strong>, em sua recomendação, expressa-se com a veemência que o caracterizava:<br />

"...cale-se o primeiro"!... Extremamente difícil que o médium se desapegue de si<br />

mesmo e abra espaço para este ou aquele companheiro de mediunidade. Quase<br />

sempre, o interesse pessoal fala mais alto e o sensitivo perde excelente oportunidade<br />

para coroar a sua atividade na condição de mecenas dos que, queira ou não, haverão<br />

de substituí-lo no púlpito ou na imprensa, no livro ou na influência doutrinária que de<br />

si supunha eterna...<br />

<strong>De</strong> mente aberta e sempre receptiva, que os médiuns atentem, em silêncio e sem se<br />

apropriarem do que não lhes pertence, para as revelações que, à semelhança de<br />

orquídeas raras, floresçam espontaneamente nos lábios dos amigos que nunca<br />

ousaram se levantar em promoção de si mesmos...<br />

Entre os médiuns, qual também entre os espíritos, existem aqueles que furtam ideias<br />

uns dos outros, assumindo a paternidade ilícita dos "filhos" que não foram gerados em<br />

suas entranhas.


17 - TAL O MÉDIUM, TAL A MEDIUNIDADE<br />

"Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas."<br />

1 Coríntios, cap. 14 - v. 32<br />

A afirmativa de <strong>Paulo</strong> é de uma profundidade admirável. Em poucas palavras, ele<br />

define bem o papel dos médiuns nas comunicações: "Os espíritos dos profetas estão<br />

sujeitos aos próprios profetas".<br />

Sem rodeios, o <strong>Apóstolo</strong> quis dizer que o médium atrai os espíritos com os quais se<br />

afiniza e que, de certa forma, os espíritos que por ele se expressam se lhe submetem...<br />

Se lhe submetem ao quê?! — muitos formulariam a indagação. Sem a pretensão de<br />

uma resposta definitiva, redarguiríamos: se lhe submetem aos conhecimentos, se lhe<br />

submetem aos sentimentos, se lhe submetem aos propósitos, se lhe submetem ao<br />

modo de ser, se lhe submetem ao ânimo, se lhe submetem à vontade...<br />

É claro que os espíritos que não aceitam tal ou qual médium, procuram outro e... se<br />

lhe submetem. A recíproca igualmente é válida: o médium também está sujeito aos<br />

espíritos que por ele se expressam... Sujeito às suas intenções, sujeito aos seus<br />

anseios, sujeito à sua condição espiritual...<br />

Vejamos que a responsabilidade do medianeiro no intercâmbio entre as duas<br />

dimensões é fundamental. O médium pode, e, infelizmente, isso é o que quase sempre<br />

acontece, distorcer a opinião do espírito, alterar o seu parecer, mudar o teor de suas<br />

palavras, forçar a sua interpretação... Têm razão os que dizem que, em determinados<br />

médiuns, fica difícil separar o que pertence a eles do que pertence aos espíritos, mas<br />

semelhante colocação nem sempre evidencia a fidelidade do médium em relação ao<br />

espírito comunicante.<br />

É comum que médiuns, a fim de verem acatadas as opiniões que lhes são próprias, as<br />

atribuam aos espíritos, transferindo-lhes a paternidade de suas ideias.<br />

Sabendo que "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas", notemos<br />

que a personalidade do médium retrata a personalidade dos espíritos que com ele se<br />

dispõem a trabalhar, porquanto espíritos humildes não se sujeitarão a médiuns<br />

arrogantes... Embora a sua humildade, deixarão que os medianeiros arrogantes se lhe<br />

tornem instrumentos menos presunçosos e, portanto, um tanto mais maleáveis ao<br />

espírito da mensagem que desejam transmitir.<br />

Observemos, ainda, que a personalidade do médium pode acabar interferindo na<br />

personalidade dos espíritos, assim como a convivência de uma pessoa com outra pode


influenciá-la. O médium despojado de qualquer interesse pessoal estabelecerá sintonia<br />

com espíritos de bom senso, espíritos conscientes de suas limitações e que não<br />

hesitarão em declinar seus equívocos.<br />

Mas avancemos um tanto além em nossas considerações, a respeito das sábias<br />

anotações de <strong>Paulo</strong> no capítulo em foco. O médium, como médium, pode ser<br />

excelente instrumento, mas não tendo bom caráter, os espíritos bem intencionados o<br />

deixarão entregue às experiências que lhe dizem respeito. Ele, o médium, poderá até<br />

prosseguir desenvolvendo considerável tarefa, pois, em seu tempo de convivência com<br />

os espíritos, terá algo aprendido com eles; todavia, se assim podemos nos expressar,<br />

sempre estará "faltando espírito" naquilo que faz.<br />

Portanto, para os espíritos, é preferível um médium que seja menos médium do que<br />

um que o seja em excesso mas sem o mínimo discernimento.<br />

Em mediunidade, o caráter do médium chega a ser mais importante que a<br />

mediunidade em si.<br />

A formação do médium é de importância fundamental para os espíritos. Muitos<br />

espíritos desistem do contato com os homens, porque não encontram sensitivos<br />

capazes de interpretá-los na integralidade de suas emoções... O autor de uma peça<br />

teatral anseia por um ator que consiga ser ele próprio em cena.<br />

Nem sempre o que um espírito diz através de um médium é como ele gostaria de tê-lo<br />

dito e, quase sempre, é necessário que ele se contente com a "filtragem psíquica" que<br />

obteve. É preciso cautela com o médium que, à miúde, afirma que tal ou qual espírito<br />

está dizendo isto ou aquilo e cuidado redobrado com o "espírito" que,<br />

frequentemente, se imiscui nos comezinhos assuntos do cotidiano das pessoas.<br />

Sintetizando: a alma do médium atrai o espírito com o qual se compraz e por ele deixase<br />

empolgar nos interesses que lhes são comuns. Tal o médium, tal a mediunidade...


18 - MEDIUNIDADE EM VÃO<br />

"Mas, pela graça de <strong>De</strong>us, sou o que sou, e a sua graça, que me foi concedida, não se<br />

tornou vã; antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça<br />

de <strong>De</strong>us comigo."<br />

1 Coríntios, cap. 15 - v. 10<br />

É evidente que nada existe ou acontece em vão. Tudo obedece a um propósito, que<br />

muita vez nos escapa à análise imediata.<br />

<strong>Paulo</strong>, escrevendo aos coríntios, afirma que a graça que lhe foi concedida "não se<br />

tornou vã", ou seja, nele, a visão do Cristo redivivo, antecendo-lhe os méritos que mais<br />

tarde conquistaria, frutificou de maneira prodigiosa, induzindo-o a trabalhar "muito<br />

mais do que todos eles", os cristãos dos primeiros dias, muitos dos quais, apesar de<br />

seu contato direto com o Senhor, quase nada operaram pela causa do Evangelho.<br />

No entanto <strong>Paulo</strong> não se atribui qualquer mérito pelo esforço valioso que empreendia;<br />

antes, debitava à graça de <strong>De</strong>us consigo tudo quanto realizava no bem...<br />

Transportando a lição para o campo da mediunidade, notamos que, infelizmente, a<br />

faculdade mediúnica em muitos medianeiros se assemelha à figueira estéril.<br />

Contam-se aos milhares os que clamam aos Céus por determinadas concessões que,<br />

quando alcançadas, se lhes revelam não serem exatamente o que esperavam.<br />

Quantos imaginam na mediunidade privilégio de natureza pessoal, olvidando que<br />

qualquer dom medianímico é sinónimo de trabalho em prol dos semelhantes?!<br />

Quantos aspiram à mediunidade para o seu próprio deleite, recusando-se, todavia, ao<br />

serviço da fé em benefício do próximo?!<br />

Quantos médiuns não sabem ser úteis, vendo enormes obstáculos em diminutos<br />

entraves do cotidiano?!<br />

Quantos outros não possuem a necessária determinação e a indispensável disciplina<br />

que caracterizam as atividades de natureza espiritual?!<br />

E ainda quantos outros portadores de faculdades sensitivas excelentes que parecem<br />

amarrados aos invisíveis cordéis da apatia e do comodismo, da descrença em si<br />

mesmos e da debilidade que não logram superar?!...<br />

Visitado pela revelação divina às portas de Damasco, o futuro <strong>Apóstolo</strong> dos Gentios<br />

colocou-se, de imediato, a serviço do Mestre, trabalhando a vida inteira, "mais do que


todos", para valorizar a bênção que lhe fora outorgada. Certamente, reconhecendo-se<br />

esmagado pela sublimidade do fenómeno que protagonizara, <strong>Paulo</strong> lutou para<br />

superar-se e não permitir que os Céus nele investissem inutilmente.<br />

Médiuns existem que, unicamente por serem médiuns, impõem condições de<br />

trabalho, formulam exigências descabidas, reivindicam deferências e privilégios,<br />

querem ser distinguidos dos demais companheiros... Não colocam "a mão na massa",<br />

não arregaçam as mangas, não sujam os pés, não vertem o suor do tarefeiro comum.<br />

Anseiam pelo tratamento dispensado aos oráculos e hierofantes, sacerdotes e<br />

pitonisas, esquecidos de que o médium é chamado, em qualquer circunstância, a dar<br />

exemplo de simplicidade, qual o fez Jesus quando, cingindo-se com uma toalha, lavou<br />

os pés dos discípulos...<br />

O médium que não age é comparável ao homem da parábola que enterrou o seu<br />

talento...<br />

Quem se sentir apreciado por este ou aquele dom mediúnico deixe de vez tanta dúvida<br />

e tanto questionamento que, na maioria, é o disfarce da má vontade e da falta do<br />

desejo sincero de servir.<br />

Em circunstância nenhuma acredite ser o que não é. <strong>Paulo</strong>, que era o que era, pela<br />

graça de <strong>De</strong>us foi o que foi, ou seja: apesar de suas limitações humanas, fez-se<br />

apóstolo do Evangelho, sendo ele mesmo um dos maiores exemplos do poder<br />

transformador da Boa-Nova sobre as criaturas.<br />

Que quem não se sinta digno de ser médium, esforce-se para sê-lo, invés de preferir<br />

renunciar ao exercício da mediunidade a ter que abrir mão de alguns dos seus<br />

caprichos... Se a mediunidade procura o homem e o encontra na condição em que ele<br />

se apresenta, é porque o aceita sem exigências de qualquer espécie.<br />

Para que, no médium, a mediunidade não se torne vã, ele necessita trabalhar "muito<br />

mais do que todos eles", os críticos, os que nele não acreditam, os invejosos, os<br />

ciumentos... Trabalhar, é bom que se diga, sem espírito de competição. Trabalhar à<br />

feição de alguém que recebeu régio salário antes do serviço executado e que, por isso<br />

mesmo, se sente na obrigação de não falhar.<br />

Que ninguém amargue, mais tarde, a dura decepção de ter sido um médium que<br />

frustrou as expectativas da Vida a seu respeito, uma espécie de semente que não<br />

floresceu...


19 - OS MAIS INFELIZES<br />

"Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes<br />

de todos os homens."<br />

1 Coríntios, cap. 15 - v. 19<br />

<strong>De</strong> todos os homens, os mais infelizes são, sem dúvida, aqueles que descrêem;<br />

todavia, entre os que descrêem das realidades da Vida Imperecível, os mais desditosos<br />

são os que lidam com ela, qual os religiosos de todas as procedências que demonstram<br />

uma fé fragilizada.<br />

Pode parecer que não, mas medianeiros existem que vivem em permanente clima de<br />

dúvida quanto às verdades que eles próprios anunciam no que diz respeito à<br />

imortalidade.<br />

Levados a proclamar que a vida no corpo é estágio transitório para a alma em<br />

aprendizado, apegam-se à vida material, qual se nela todas as suas esperanças se<br />

resumissem.<br />

Exteriormente, denotam ser possuidores de fé inabalável, mas, internamente,<br />

revelam-se débeis em suas decisões de renúncia aos prazeres que passam... Sustentam<br />

a crença alheia, motivando os homens a uma vida melhor, no entanto sentem-se<br />

desamparados na intimidade de si mesmos, amargando, em silêncio, terrível provação.<br />

São eles os medianeiros que possuem suficiente fé para os outros, mas não a têm para<br />

consumo próprio nas lutas que faceiam no mundo.<br />

Compreendemos que a fé seja uma conquista individual em que todos,<br />

indistintamente, devem se empenhar, mesmo os médiuns que, em sua maioria, foram,<br />

no pretérito, adversários da crença, surripiando a esperança dos corações que<br />

procuravam por <strong>De</strong>us... Foram ainda, certamente, sacerdotes interesseiros que da<br />

religião faziam meio de vida, malbaratando em si os dons espirituais que<br />

conspurcavam...<br />

Renascendo na condição de paladinos da sobrevivência da alma ao decesso do corpo<br />

físico, esses medianeiros, agora empenhados na reconstrução da fé em si mesmos,<br />

angustiam-se nos sucessivos deslizes a que se entregam, à semelhança do sedento<br />

que, batendo os pés, não se percebesse a poluir a linfa cristalina destinada a lhe saciar<br />

a sede...<br />

São muitos assim os médiuns que se dividem entre a crença e a descrença, o esplendor<br />

e a sombra. Caso possuíssem a fé do tamanho de um grão de mostarda, seriam


capazes de prodígios muito maiores do que aqueles que, eventualmente conseguem<br />

produzir. Mas, porque vacilam, porque não possuem a necessária determinação,<br />

conseguem tão somente ser os intérpretes deste ou daquele pequeno lampejo da<br />

fantástica luminosidade do Mais Alto... Não raro, ao longo de todo o seu exercício,<br />

logram apenas um ou outro feito mediúnico de vulto, fato isolado que, infelizmente,<br />

não mais se repete por seu intermédio, mas o suficiente para incentivá-los a prosseguir<br />

na jornada.<br />

Infeliz do médium que não crê! Qual pássaro que não acredita na força das próprias<br />

asas, não conseguirá voar além das adjacências do ninho para respirar o ar puro das<br />

alturas...<br />

Infeliz do médium que, na palavra do <strong>Apóstolo</strong>, sua esperança no Cristo se limitar<br />

apenas a esta vida! Encarcerado na cela que forjou para si, carregará sempre consigo o<br />

espinho da insatisfação e do desassossego, ansiando por tocar a realidade que parece<br />

fugir ao seu contato... Réprobo da fé, a custo caminhará adiante, como se de todos os<br />

fardos que lhe pesassem nos ombros nenhum fosse maior do que aquele que, para os<br />

outros, é símbolo de libertação e vida!<br />

É natural que, em seu atual estágio evolutivo, o médium claudique em relação à<br />

própria crença, todavia não há motivos para que vacile quanto aos propósitos que o<br />

levam a movimentar-se no caminho da mediunidade consagrada ao bem dos<br />

semelhantes. A árvore doente que produz alguns frutos é de utilidade incontestável e<br />

ninguém seria louco de decepar-lhe o tronco...<br />

Que o sensitivo prossiga em sua tarefa de auxílio, esquecido de si mesmo, cumprindo<br />

com o dever que lhe compete na edificação espiritual dos semelhantes. Um dia, a fé<br />

que não possui haverá de brilhar, inalterável, em seu espírito, porquanto a<br />

Misericórdia Divina, em dele se compadecendo, descerrar-lhe-á, em definitivo, os<br />

portais de luz da crença inabalável.<br />

Não se contesta o médium que de si mesmo descrê na condição de instrumento dos<br />

espíritos, mas não se pode deixar de contestar o medianeiro que se recusa a admitir os<br />

frutos que, através dos recursos que lhe dizem respeito, a Espiritualidade produz em<br />

benefício dos famintos da Terra!


20 - E NÃO É DE ADMIRAR<br />

"E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz."<br />

2 Coríntios, cap. 11 -v. 20<br />

<strong>De</strong> fato, não é de admirar que o apostolado da mediunidade esteja repleto de<br />

dificuldades.<br />

O médium bem intencionado enfrentará os mais diversos obstáculos para cumprir com<br />

a tarefa que lhe foi confiada, desde aqueles que dizem respeito às suas próprias<br />

mazelas aos que encontre, propositadamente ou não, colocados no caminho que<br />

percorre.<br />

Os homens e os espíritos pelejarão para desviá-lo da trajetória, comprometendo-lhe o<br />

esforço...<br />

Tentações de múltiplos aspectos, convites e acenos, ocasiões e oportunidades lhe<br />

aparecerão com frequência inexplicável para que deserte de seus compromissos...<br />

Conforme a palavra de <strong>Paulo</strong>, "o próprio Satanás se transforma em anjo de luz" no<br />

intuito de perdê-lo, confundir-lhe o discernimento, comprometer-lhe a obra...<br />

Na jornada que empreende, não é de admirar que as forcas do mal conspirem contra<br />

as suas atividades, planejando com meticulosidade a sua queda.<br />

Farão surgir em sua vida instrumentos de perdição, almas que, sem que igualmente<br />

percebam, agem por intérpretes das trevas, insinuando-se desta ou daquela forma<br />

junto a ele...<br />

Os instrumentos aos quais nos referimos assumem-lhe o controle e praticamente<br />

passam a tê-lo nas mãos, chantageando-o em benefício de seus interesses inferiores.<br />

<strong>De</strong> tal maneira conseguem enredá-lo, que praticamente se lhe torna impossível o<br />

desligamento, constituindo-se semelhante situação para ele em prova da existência<br />

inteira.<br />

Incompreendido por quantos o observam no contraste de luz e sombra, o médium fiel<br />

ao seu apostolado carregará consigo, em silêncio, o drama oculto de suas dores,<br />

imitando o destino da ostra que, em suas entranhas, suportando sofrimentos<br />

inomináveis vindos do grão de areia, produz a pérola preciosa...


E não é de admirar que seja este o elevado preço que tenha que pagar pelos seus<br />

muitos equívocos no pretérito, quando, certamente, menosprezou a chance de servir<br />

sem tantos empecilhos aos propósitos do Bem.<br />

É natural, portanto, que a sua estrada esteja crivada de espinhos — espinhos que<br />

inutilmente tentará afastar, porquanto um haverá de se suceder ao outro, como<br />

sempre a lembrá-lo de sua insignificância e fragilidade.<br />

Bendito, porém, o médium que mesmo assim persevera, consciente de sua<br />

humanidade, embora lidando com o que é divino!<br />

Abençoado o medianeiro que se vale de tantas lutas e conflitos para não se permitir<br />

envaidecer e, de cerviz curvada, prosseguir trabalhando pela elevação espiritual das<br />

criaturas!...<br />

<strong>Paulo</strong> conhecia de perto a perseguição do Invisível aos seareiros do Evangelho,<br />

porquanto a ela nem o próprio Cristo se furtara. Sabia quão penoso e difícil seria para<br />

o médium continuar sob as arremetidas do mal... Compreendia, porém, que não lhe<br />

haveriam de sobrar alternativas, de vez que, caso recuasse, mais tarde se sentiria<br />

compelido a retomar a tarefa em circunstâncias mais embaraçosas.<br />

Que o médium, portanto, não espere facilidades. Esteja sempre preparado para<br />

receber os ataques que o experimentarão em todos os flancos de sua personalidade,<br />

como se estivesse a descobrir-lhe o ponto vulnerável.<br />

A senda do apostolado mediúnico, semelhante à do Calvário, é íngreme... Médium<br />

algum passará por ela isento do lenho do testemunho aos ombros e cercado pelos<br />

apupos da turba enfurecida... E não é de admirar que, ao topo da monte, ou seja, ao<br />

termo da jornada, tenha por companheiros os malfeitores que secundavam o Cristo no<br />

momento supremo.<br />

Quantos médiuns, meu <strong>De</strong>us, vivem e servem atados à cruz do dever, vertendo<br />

lágrimas que ninguém conhece! Quantos se consomem na fogueira das próprias<br />

aflições, imolando-se devagarinho pela vitória do ideal, transformando-se em tochas<br />

vivas do amor com que se consagram a Jesus!...<br />

E não é de admirar que, para eles próprios, a sua vida seja um mistério, pois,<br />

conhecendo-se qual se conhecem, não sabem dizer como foram e como são capazes<br />

de fazer o que fazem — sombras humanas refletindo na Terra a luz sublime da<br />

imortalidade!


21 - ESPÍRITO DE COMPETIÇÃO<br />

"Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente: a preocupação com<br />

todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se<br />

escandaliza, que eu não me inflame?"<br />

2 Coríntios, cap. 11 - vv. 28 e 29<br />

Lendo e refletindo sobre as palavras de <strong>Paulo</strong> aos coríntios, não há como não se<br />

emocionar, observando o carinhoso zelo do <strong>Apóstolo</strong> para com os núcleos do<br />

Cristianismo nascente.<br />

Solidário, ele se preocupava com os companheiros de ideal nas atividades que<br />

empreendiam em seus agrupamentos. A sua preocupação não se concentrava apenas<br />

na sua tarefa em si. Ela tinha um caráter abrangente, evidenciando o espírito de<br />

unidade pelo qual haveria de pugnar a vida inteira...<br />

Nele, não prevalecia a tendência competitiva que, infelizmente, às vezes se percebe<br />

entre os amigos da Doutrina Espírita escravizados a uma visão particularista das<br />

realidades da vida de Além-Túmulo.<br />

A preocupação de <strong>Paulo</strong> com as igrejas nascentes deveria, na atualidade, inspirar os<br />

espíritas sinceramente interessados na propagação do ideal que abraçaram, apoiando<br />

toda e qualquer iniciativa nobre levada a efeito por este ou por aquele grupo.<br />

Todavia o espírito de competição que impera entre os militantes espíritas que ainda<br />

não conseguiram assimilar o verdadeiro espírito da Doutrina é tão arraigado e<br />

negativo, que muitos, inconscientemente, chegam a torcer pela ruína das tarefas que<br />

não lhes nasceram do cérebro ou nas quais não estejam diretamente envolvidos.<br />

Esqueceram-se, se é que se lembraram um dia, do que escreveu o apóstolo da<br />

integração da Boa-Nova junto aos gentios que os próprios cristãos marginalizavam:<br />

"Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça?"<br />

Quantos medianeiros disputam, não raro dentro da mesma equipe, a primazia da<br />

revelação espiritual?! E quantos outros, veladamente, tecem críticas aos companheiros<br />

que com eles ombreiam, olvidando que as trevas não precisam se preocupar em<br />

destruir aqueles que mutuamente se destroem?... Aliás, o Cristo já nos havia advertido<br />

sobre a questão da "casa subdividida"... Impossível que ela conseguisse se manter de<br />

pé!<br />

É necessário que entre os médiuns haja uma ética que lhes possibilite preservar intacta<br />

a imagem da Doutrina acima daquela que lhes reflete a face...


Medianeiros existem que não hesitam em comprometer o Espiritismo perante a<br />

opinião pública, desde que os seus rivais sejam enlameados. Esses equivocados<br />

confrades assemelham-se a quantos somente conseguem se promover à custa da<br />

infelicidade alheia, já que lhes falecem méritos pessoais para tanto. Apontam erros na<br />

ânsia de desviarem atenções de sobre si...<br />

Cada núcleo espírita é uma célula importante no organismo da Doutrina e não há uma<br />

só que adoecendo não lhe comprometa o equilíbrio.<br />

Cada cristão que negava a fé arrastava outros consigo em sua derrocada moral...<br />

Todo médium que de uma forma ou de outra se exponha ao sarcasmo dos inimigos do<br />

ideal espírita, carece ser socorrido, amparado, fortalecido, e não vilipendiado e<br />

esquecido pelos que simplesmente proclamam, citando a lei do carma, que ele está<br />

tendo o que faz por merecer, quando, desde épocas imemoriais, está escrito:<br />

"Misericórdia quero, e não sacrifício"...<br />

Se a própria lei de causa e efeito é condescendente para com os seus transgressores,<br />

por que os espíritas não haveriam de ser mais fraternos com os companheiros,<br />

preocupando-se com a Doutrina como um todo e não apenas com o que acontece no<br />

quintal de suas atividades?!<br />

Francamente, fica muito difícil entender tanto contraste entre os que trazem o<br />

Evangelho em uma mão e o azorrague na outra, repartindo pão com os famintos e<br />

palavras maledicentes com os confrades que trazem à mostra as suas feridas.<br />

Exaustivamente, <strong>Paulo</strong> escrevia aos grupos do Cristianismo primitivo, muitos dos quais<br />

ele próprio fundara, exortando-os ao congraçamento e à união. Percorria as cidades,<br />

falando de paz e indulgência, compreensão e apoio recíproco aos adeptos da Boa-Nova<br />

que, por si sós, já tinham problemas de sobra para enfrentar com os que moviam<br />

sangrentas perseguições contra os seguidores do Caminho.<br />

"Além das coisas exteriores — escreve <strong>Paulo</strong> —, há o que pesa sobre mim<br />

diariamente"... Será que algum médium invés de preocupar-se com a sua<br />

mediunidade, tem se preocupado com a Doutrina em si, perguntando-se de que forma<br />

lhe ser mais útil?!...<br />

No apostolado da mediunidade, a Doutrina está acima do médium que, no exercício de<br />

suas funções medianímicas, coloca Jesus além de si mesmo.


22 - MEDIUNIDADE E ALEGRIA<br />

"<strong>De</strong> tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas minhas fraquezas."<br />

2 Coríntios, cap. 12 - v. 5<br />

Para o médium, a consciência de suas limitações é o antídoto contra a vaidade que, a<br />

pouco e pouco, lhe mina as forças no serviço do bem.<br />

Compreendendo semelhante realidade, <strong>Paulo</strong> não superestimava os seus valores,<br />

consciente das fraquezas que o caracterizavam em suas lutas. Não superestimava e<br />

não se permitia superestimar por quem quer que fosse, combatendo com veemência<br />

toda e qualquer inclinação à idolatria de que se visse alvo.<br />

O <strong>Apóstolo</strong>, segundo suas palavras, permitia-se tão somente glorificar-se pelo fato de<br />

que, apesar de suas imperfeições, conseguia ser útil aos propósitos divinos. A<br />

autoglorificação a que se refere é a alegria interior que naturalmente experimenta<br />

quem se sente admitido nos serviços do Senhor, é o júbilo espiritual que toma conta<br />

da alma do pecador que não se vê desprezado em suas fraquezas.<br />

Essa alegria interior do médium é, por assim dizer, a alma de sua tarefa. Nada de<br />

tristeza estampada na face, qual se o exercício da mediunidade lhe fosse inarredável<br />

dever que se sentisse constrangido a cumprir.<br />

O médium sem alegria não comunica esperança aos corações desalentados e transmite<br />

aos outros a falsa impressão de que a lida espiritual da mediunidade é incompatível<br />

com a espontaneidade das emoções.<br />

<strong>Paulo</strong> padecia dificuldades indefiníveis e muitas vezes o pranto lhe banhava as faces<br />

marcadas pela dor, mas para ele igualmente existiam os momentos de sadia<br />

descontração, porque, acima de tudo, a mensagem do Evangelho é de otimismo e não<br />

de abatimento.<br />

A cruz não pode ser um símbolo permanente de tristeza!...<br />

Não foram e não são fiéis os historiadores que conceberam para os cristãos dos<br />

tempos apostólicos uma vida plena de amarguras e aflições. É evidente que, durante<br />

trezentos anos, os adeptos da Boa-Nova experimentaram no corpo e na alma os<br />

tormentos mais cruéis, mas, quando falavam do Cristo, o semblante se lhes iluminava<br />

e suas almas entoavam hinos diante da morte por condenação...<br />

Ser médium não é ser sinónimo de alma depressiva, incapaz de sorrir com os amigos<br />

ou de ser hilário diante do próprio sofrimento. Os Espíritos Superiores vivem num


clima de êxtase espiritual onde a melancolia não tem lugar e sabem tratar os assuntos<br />

sérios com humor elevado.<br />

A Natureza é o retrato da face feliz do Criador! <strong>De</strong>us não é <strong>De</strong>us da tristeza, mas da<br />

alegria que nada tem a ver com a alegria transitória que se motiva nas coisas<br />

perecíveis.<br />

No apostolado da mediunidade, é importante que o médium seja alegre, modificando<br />

nos homens a errónea concepção de que uma vida consagrada à espiritualidade seja<br />

uma vida condenada à tristeza, qual se a alegria fosse algo meramente humano.<br />

É claro que a alegria a que nos referimos não é a alegria oriunda do prazer, tão fugaz<br />

quanto a causa que a motivou. Reportamo-nos à alegria que se entranhe na alma,<br />

àquela que perdura mesmo quando não mais exista o seu móvel. Essa alegria não se<br />

identifica com o sorriso de ironia e de sarcasmo, tão ao gosto dos espíritos que se<br />

habituaram a trocar dos semelhantes.<br />

Que o médium saiba ser alegre, que saiba sorrir, ser espontâneo, ser descontraído<br />

quando oportuno e necessário, porquanto intermediar alegria entre os homens é<br />

prerrogativa de poucos.<br />

Até pouco tempo, a imagem que possuíamos do Céu era quase tão triste quanto a do<br />

Inferno...<br />

Que os médiuns se rejubilem no trabalho do bem, glorificando o Senhor pela bênção<br />

que lhes é concedida.<br />

Se a prece deve ser recolhimento, não deve ser tristeza. O filho quando conversa com<br />

o pai nem sempre o faz com lágrimas nos olhos...<br />

Que, em sua fraqueza, o médium louve a Misericórdia Infinita do Criador que lhe<br />

oferece a bendita oportunidade de crescer, colocando-lhe nas mãos a charrua com<br />

que, resolvendo a terra de si mesmo, faz com que nela desabrochem as sementes do<br />

homem novo em primavera eterna!


23 - ESPINHO NA CARNE<br />

"E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um<br />

espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me<br />

exalte."<br />

2 Coríntios, cap. 12 - v. 7<br />

O <strong>Apóstolo</strong> é claro ao confessar-se atormentado por um espinho na carne, para que<br />

não se ensoberbecesse com a grandeza das revelações...<br />

A que "espinho" <strong>Paulo</strong> estaria se referindo? Certamente ao remorso que<br />

experimentava por ter sido ele um dos responsáveis pelas perseguições movidas<br />

contra os adeptos do Cristianismo, certamente às tentações de ordem afetiva que<br />

sofria em sua condição de homem do mundo, certamente a um conflito psicológico<br />

que não lhe concedia tréguas no apostolado do Bem...<br />

Seja qual for a natureza do "espinho" que interpretava por "mensageiro de Satanás", a<br />

realidade é que o ex-doutor de Tarso reconhecia a sua conveniência, admitindo que,<br />

graças a ele, é que não se permitia exaltar pela sua condição de vaso escolhido pelo<br />

Senhor.<br />

<strong>Paulo</strong> se sentia "esbofeteado" pelo "espinho" encarregado de, constantemente,<br />

recordá-lo de sua fragilidade, imunizando-o contra o personalismo que, onde aparece,<br />

arrasa com as melhores intenções de serviço e elevação.<br />

Observemos então que, o "mensageiro de Satanás" transfigura-se em agente da<br />

Sabedoria Divina que, do mal aparente faz nascer o bem, mostrando que tudo<br />

concorre para a sublimação da Vida.<br />

Felizes, assim, os medianeiros que trabalham sob a permanente ação de "um espinho<br />

na carne", incentivando-os à exaustiva procura da paz no dever corretamente<br />

cumprido...<br />

Felizes os médiuns que servem movidos por dores desconhecidas do grande público,<br />

suportando sozinhos o guante da provação que não lhes permite afastar-se da tarefa,<br />

sob pena de dores maiores ainda...<br />

Felizes os sensitivos que são "esbofeteados" no cotidiano pela crítica e pela calúnia,<br />

pelo escárnio e pela maledicência, que para eles funcionam à semelhança de<br />

anticorpos contra o desequilíbrio que lhes poderia advir, em face da grandeza das<br />

revelações que intermediam...


Felizes os intérpretes da Vida Maior que, conscientes de sua insignificância, se<br />

preservam contra o personalismo, exortando-se através do próprio sofrimento íntimo<br />

a prosseguirem na condição de simples instrumentos da Vontade de <strong>De</strong>us...<br />

Quem lida com o que é divino, sem o necessário discernimento, corre o risco de<br />

deslumbrar-se e, consequentemente, de enlouquecer.<br />

Extasiada pelo fogo, a falena não hesita em incinerar as próprias asas em suas chamas.<br />

Os astronautas norte-americanos que pisaram o solo lunar entregaram-se, depois, a<br />

uma vida de excessivo misticismo.<br />

Quem não esteja preparado para a mediunidade pode imaginar que tenha à sua<br />

disposição um parque de diversões.<br />

Por isto, a Espiritualidade age sempre com prudência no que tange às revelações<br />

destinadas aos homens.<br />

Não se lamentem, pois, os médiuns, perguntando-se por que os espíritos não os<br />

poupam desta ou daquela dor, isentando-os dos problemas comuns a todos os que<br />

respiram na psicosfera do planeta...<br />

Não se queixem do "espinho" que, às vezes, os dilacera dentro de casa, no ambiente<br />

de trabalho profissional ou mesmo no grupo de atividades espíritas.<br />

Esses "espinhos" parecem, não são "mensageiros de Satanás" como acreditava <strong>Paulo</strong>.<br />

Antes, são enviados de <strong>De</strong>us para que os médiuns não se esqueçam de sua condição<br />

de espíritos devedores, distantes de quaisquer privilégios.<br />

Médium algum, em tarefa apostolar na Terra, vive sem o benefício de "um espinho na<br />

carne", invisível força propulsora do seu trabalho, oculta vergasta que o faz seguir<br />

adiante, anónimo pelourinho que não lhe permite a deserção dos compromissos<br />

assumidos...<br />

<strong>Paulo</strong> é incisivo: "... foi-me posto um espinho..." Isto significa dizer que <strong>De</strong>us, em<br />

muitos casos, manda cravar um espinho na carne do médium, espinho que haverá de<br />

acompanhá-lo por toda a vida, à feição de um calvário particular, norteando-o na<br />

afanosa busca de sua libertação.<br />

Bem-aventurados, pois, os médiuns que, sob o "espinho" que os aflige, trazem, no<br />

corpo e na alma, o selo do apostolado da mediunidade!


24 - SE REALMENTE<br />

"Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou<br />

não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados."<br />

2 Coríntios, cap. 13 - v. 5<br />

A indagação de <strong>Paulo</strong> em sua segunda carta aos coríntios é contundente: "Ou não<br />

reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados".<br />

Muitos medianeiros não têm a coragem de questionar-se quanto à sinceridade de seus<br />

propósitos na fé, porque temem a resposta...<br />

Não se animam a enfrentar-se numa auto-análise, de vez que conhecem, de antemão,<br />

qual seria a conclusão a respeito deles mesmos...<br />

Fogem de examinar-se, certos de que semelhante providência os obrigaria à mudança,<br />

reclamando maior transparência de suas atitudes no trato com a mediunidade.<br />

"Provai-vos a vós mesmos", exorta o <strong>Apóstolo</strong> a quantos militam na seara da crença,<br />

observando se realmente cumprem com os postulados que anunciam aos outros...<br />

Se realmente se encontram imbuídos das intenções nobres e dignas que caracterizam<br />

o obreiro fiel...<br />

Se realmente estão a serviço da Causa ou são meros parasitas do ideal que abraçaram<br />

por conveniência...<br />

Interessante que, pelas anotações de <strong>Paulo</strong>, depreendemos que a reprovação a que<br />

ele se refere ocorre a nível de consciência. Não é o Senhor que, envergando a toga de<br />

juiz, reprova os que deliberaram acompanhá-lo, mas são os próprios seguidores do<br />

Mestre que se auto-recriminam por intentarem fazê-lo sem transformações essenciais<br />

na personalidade, qual se lhes fosse possível acomodar a situação entre o anseio de<br />

viver a vida do mundo e o desejo de ascender ao Reino dos Céus.<br />

Torna-se imprescindível que, na lida com a mediunidade, o medianeiro meça o seu<br />

grau de sinceridade, procurando ter o mínimo de coerência. Se concluir que os seus<br />

interesses não estão muito bem definidos ou que ainda não tenha alcançado o<br />

significado profundo de exercer a mediunidade na Doutrina Espírita, que revive o<br />

Evangelho de Jesus para a Humanidade, é melhor que ele então renuncie à sua<br />

condição de médium.


Quantos espiritualmente se complicam porque não sabem o que fazer com o talento<br />

que têm nas mãos?! Quantos médiuns acabam por se envolverem em situações<br />

delicadas, unicamente por não possuírem o bom senso de se manterem no<br />

anonimato?!... Querem se projetar e, de fato, terminam se projetando... a si mesmos<br />

no solo da frustração, de vez que não souberam avaliar a força das próprias pernas nas<br />

passadas largas para as quais não estavam habilitados.<br />

<strong>De</strong> que maneira o médium reconhecerá Jesus Cristo em si?! Ele saberá. Esta questão<br />

não poderá ser respondida por ninguém, a não ser pelo medianeiro, o qual não<br />

conseguirá iludir-se a seu próprio respeito...<br />

Existem médiuns que esperam de outros a confirmação de seus dotes medianímicos<br />

nas tarefas que cumprem. <strong>De</strong> fato, medianeiros mais experimentados poderão opinar<br />

a respeito das faculdades deste ou daquele companheiro que as possui, mas nada<br />

poderão falar no que tange às intenções e ao idealismo desses confrades que,<br />

somente através do tempo, poderão dizer a que vieram...<br />

Nada fala melhor e mais alto do medianeiro do que o trabalho que ele executa, da<br />

forma com que ele o executa, porque, em mediunidade não basta trabalhar: é<br />

indispensável servir!<br />

A faculdade mediúnica em si pouco significa, quando não convenientemente<br />

direcionada. Aliás, o Mundo Espiritual tem conseguido mais junto a médiuns<br />

considerados limitados, mas de extrema boa vontade, do que com médiuns<br />

portentosos com os quais não se pode contar, a não ser vez ou outra.<br />

Perquira-se, então, o médium e descubra o móvel de suas verdadeiras intenções na<br />

Doutrina. Estará querendo ganhar dinheiro? procurar status? meio de vida?<br />

sobrevivência? profissionalismo religioso? promoção pessoal?!...<br />

Sobretudo, vigie-se para não perder a fé no emaranhado das ambições nas quais, não<br />

raro, pode passar a movimentar-se, mormente das ambições de ordem afetiva,<br />

porque, por incrível que pareça, muitos médiuns chegam a usar a mediunidade para,<br />

inclusive, efetivar conquistas amorosas!<br />

Vigie-se para não ser pedra-de-tropeço quando deveria ser degrau no caminho de<br />

quantos anseiam por ascender aos Paramos de Luz.


25 - MÉDIUM POR QUÊ?<br />

"Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor, e a nós<br />

mesmos como vossos servos por amor a Jesus."<br />

2 Coríntios, cap. 4 - v. 5<br />

<strong>Paulo</strong> foi ferrenho no combate ao personalismo. Graças à sua postura de ex-doutor da<br />

lei que a tudo renunciou para viver com o Cristo na condição de humilde tecelão, o<br />

Cristianismo, nos seus primeiros séculos, manteve-se fiel às origens. Ele não media<br />

esforços para que os cristãos não se permitissem envaidecer, já que o povo judeu<br />

revelava certa tendência ao orgulho de raça, considerando-se a nação eleita entre os<br />

demais.<br />

Foi principalmente para combater a síndrome de povo escolhido, que <strong>Paulo</strong> pregou o<br />

Evangelho aos gentios, mostrando a universalidade dos ensinos de Jesus.<br />

Ser cristão, à época do Cristianismo nascente, era expor a vida, renunciar à uma<br />

existência pacata no aconchego da família, posto que os adeptos do Nazareno eram<br />

caçados à semelhança de animais que, quando encontrados, eram sumariamente<br />

executados. Neles, no entanto, o ideal falava mais alto e não hesitavam em perder a<br />

vida por amor a Jesus Cristo.<br />

O médium é o cristão ousado da atualidade, que não se furta ao testemunho. <strong>De</strong> certa<br />

forma ainda combatido em suas convicções, ele deve guardar a consciência de que<br />

está a serviço de uma causa superior às suas aspirações de ordem pessoal.<br />

Indague-se o motivo de estar se consagrando à mediunidade. Afinal de contas,<br />

médium por quê?... O que estará ele buscando na condição de intermediário entre os<br />

Dois Planos de Vida?! É possível que nem ele mesmo consiga apreender a razão de ter<br />

renascido com o compromisso da mediunidade... É suficiente, no entanto, que saiba<br />

que a mediunidade lhe foi concedida por instrumento de trabalho na tarefa de<br />

cooperar com Jesus na formação de uma nova mentalidade entre os homens.<br />

Médium por quê?!... Por que a Vida o tenha agraciado com um dom que negou a<br />

outros?! Por que teve o privilégio de renascer dentro de uma conjuntura biológica e<br />

psíquica que lhe facilitou o desenvolvimento da sensibilidade que, em milhares,<br />

permanece embotada?! Ou por que algo deva construir com as prerrogativas de que<br />

dispõe, cooperando para que continue a ecoar no mundo o grito da imortalidade,<br />

despertando as consciências que dormem o sono milenar da indiferença quanto ao seu<br />

futuro espiritual?!...


Médium por quê?!... Para receber elogios, comendas, títulos e ovações, alimentando a<br />

própria vaidade no desastre que é a ilusão que o homem sustenta a respeito de si?!<br />

Para ser um ente diferenciado ou para tentar fazer a diferença em favor do Evangelho<br />

do Cristo, que luta há vinte séculos contra os interesses imediatistas da<br />

Humanidade?!...<br />

Bem-aventurado o médium que não se prega a si mesmo, ou seja, que não se promove<br />

às custas do que deve promover em seu trabalho, que se coloca na condição de servo<br />

do Senhor, apagando-se para que, finalmente, Ele resplandeça.<br />

O médium que trabalha sem o pensamento de simplicidade e de total despojamento<br />

que caracteriza os que se encontram no apostolado mediúnico com Jesus, complica-se<br />

em breve tempo, porque passa a atrair companhias espirituais personalistas que, em<br />

verdade, são as mais difíceis de serem descartadas.<br />

Pregando a Jesus Cristo, por outro lado o médium não tem nada a temer, porque,<br />

propagandista da Luz, estabelece contato com os Planos Superiores e, embora não<br />

consiga se desvencilhar de imediato das próprias sombras, transforme-se em "espelho<br />

refletor" das claridades celestes.<br />

O serviço do médium que prega a Jesus identifica-se pela luz espiritual que emana, ao<br />

passo que o médium interessado em pregar-se a si mesmo, por mais faça, através do<br />

"espelho" embaçado pelo personalismo, anulará toda a luminosidade e todo o brilho<br />

da tarefa que é a usina geradora de toda a luz.<br />

No apostolado de mediunidade, o seareiro espírita cujo propósito for reto deixará<br />

transparecer do seu esforço o esplendor que, suavemente, atrai as almas para as<br />

fulgurantes bênçãos de um Novo Dia!


26 - MEDIUNIDADE E DESEJO<br />

"Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir..."<br />

1 Coríntios, 14 - v. 12<br />

Segundo <strong>Paulo</strong>, os dons espirituais, e entre eles a mediunidade, podem ser desejados,<br />

ou seja, podem ser buscados com um propósito definido.<br />

Existem aqueles que já nascem médiuns — efetuaram semelhante conquista em<br />

pregressas experiências, trilharam os caminhos que os conduziram à conquista das<br />

faculdades medianímicas...<br />

Existem aqueles que, em renascendo no mundo, tomando contato com a Doutrina<br />

Espírita, anseiam pela mediunidade, querem se tornar ainda mais úteis aos<br />

semelhantes na condição de médiuns, admiram em outros a sensibilidade mediúnica e<br />

se propõem a desenvolvê-la...<br />

A prática nos ensina que a conquista dos dons espirituais é possível àquele que a isto<br />

se consagra com determinação.<br />

Muitos que, digamos, nascem médiuns feitos, não valorizam os seus talentos<br />

espirituais quanto aqueles que necessitam se esforçar para adquiri-los.<br />

Quantos médiuns espontâneos nada querem com a mediunidade, alternando<br />

cumprimento com deserção ao dever, ao longo de sua peregrinação pelas casas<br />

espíritas?!...<br />

E quantos outros promovem o parto de si mesmos, esfalfando-se em demorados e<br />

persistentes exercícios mediúnicos até que, por fim, logrem o desabrochar desta ou<br />

daquela faculdade psíquica?!...<br />

<strong>Paulo</strong> é incisivo: "... visto que desejais dons espirituais, procurai progredir..."<br />

O apóstolo evidencia, em suas palavras de iniciado cristão, que é possível caminhar ao<br />

encontro, progredir na direção, crescer na meta...<br />

A mediunidade pode ser comparada a uma semente que, em determinado instante,<br />

eclode... Esta eclosão pode dar-se agora, desde, é claro, que as condições sejam<br />

propícias — é resultado de um processo de maturação psíquica que pode se antecipar<br />

com base no empenho e no interesse, no desejo e na vontade.<br />

Aliás, os médiuns que se fazem médiuns habitualmente se tornam mais úteis à<br />

Doutrina do que aqueles que, desde o berço, são médiuns mas crescem sem nenhuma


formação doutrinária. Não estudam, não trabalham, não cooperam... São os exemplos<br />

vivos daqueles que "enterram os seus talentos", sem a preocupação de multiplicá-los<br />

em seu próprio benefício.<br />

Para muitos, a hora da mediunidade pode ser agora, desde que, evidentemente, não<br />

extrapolem o que se refere à espontaneidade, forçando em excesso as portas que lhes<br />

conferirão acesso aos dons espirituais. Estamos nos referindo, em nossas colocações<br />

neste capítulo, à importância de o candidato ao desenvolvimento mediúnico se<br />

devotar para consegui-lo e não pretendendo induzir à mediunidade quem não esteja<br />

preparando para tanto.<br />

Ninguém deve "arrombar" a porta da sua sensibilidade psíquica, mas a ninguém<br />

igualmente é vedado "bater" à porta, e "bater" com certa insistência na expectativa de<br />

que, finalmente, ela se lhe abra.<br />

Por outro lado, não se pode ignorar a grave responsabilidade que assume quem logra a<br />

conquista do que <strong>Paulo</strong> chama "dons espirituais"... Às vezes, quer--se, sem saber o que<br />

se quer e para que se quer!... A mediunidade, sempre, deve ser um instrumento de<br />

trabalho colocado a serviço dos semelhantes, atuando na gleba das almas para o<br />

plantio do Senhor...<br />

Mediunidade não é, evidentemente, uma faculdade para uso exclusivo do médium. O<br />

médium, por assim dizer, passa a ser patrimônio público, quase que privado de sua<br />

vida pessoal. Pelo menos, assim o é para quem abraça a mediunidade qual a um<br />

apostolado!<br />

O salário do médium será apenas o do dever cumprido, o da alegria permanente por<br />

estar, com Jesus, na parceria consciente da construção de um mundo melhor. <strong>De</strong>sista<br />

de louvores e reconhecimento que, caso recebesse, haveriam de impedi-lo de<br />

produzir, bloqueando as suas faculdades receptivas, levando-o à fascinação que o<br />

induziria a iludir-se a seu próprio respeito.<br />

Agradeça o medianeiro a realidade dura de suas lutas, que não lhe permitem afastarse<br />

da Verdade no caminho dos dons espirituais que persegue, com o propósito de<br />

ascender e redimir-se.


27 - CAMINHO EXCELENTE<br />

"E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente."<br />

1 Coríntios, 13 - v. 1<br />

O caminho excelente a que o <strong>Apóstolo</strong> se refere é o do amor!... Sem dúvida, o dom da<br />

caridade é superior a todos os demais que, em suma, apenas existem em função do<br />

bem.<br />

É possível que, no início do Cristianismo, os núcleos nascentes sofressem com as<br />

disputas intestinas de seus membros, que talvez tenham chegado a disputar entre si a<br />

primazia dos dons espirituais... Havia, sim, uma peleja acerca de quem seria o maior no<br />

Reino dos Céus. A mãe dos filhos de Zebedeu chegou a solicitar ao Senhor que os seus<br />

dois filhos se assentassem, um à sua direita e outro à sua esquerda...<br />

Em sua carta aos coríntios, <strong>Paulo</strong> coloca o amor acima do dom de profetizar, da língua<br />

dos homens e dos anjos, de toda a ciência... Ele enfatiza o valor espiritual do homem,<br />

do que ele vale por si mesmo, intrinsecamente, sem depender deste ou daquele dom<br />

que, em última análise, é neutro, quanto neutro é, por exemplo, o sentido da fala.<br />

A mediunidade pode ser utilizada para objetivos escusos, qual a observamos no campo<br />

da curiosidade doentia ou da especulação sem proveito. Quantos medianeiros são<br />

passivos instrumentos das sombras?! Quantos formam, com os desencarnados,<br />

verdadeiras quadrilhas no comércio da fé?!...<br />

<strong>Paulo</strong>, certamente inspirado por Jesus, através de seus intérpretes junto dos homens,<br />

destacou a excelência do amor, qual se quisesse dizer que era preferível nenhuma<br />

mediunidade ostensiva a uma única atitude de amor na prática da solidariedade... Ou<br />

seja, tornando o nosso raciocínio mais claro: preferível que o homem não exerça a<br />

mediunidade, mas que exerça a caridade, porque, sem dúvida, não há faculdade mais<br />

sublime do que intermediar o Bem entre as criaturas. Aliás, a mediunidade, seja ela<br />

qual for, só existe, repetimos, em função do bem que pode fazer!<br />

A mão que auxilia com os parcos recursos que estende de si mesma ao necessitado é<br />

mais pródiga do que aquela que mais não faz senão canalizar donativos provindos de<br />

outrem...<br />

As sábias colocações e advertências do <strong>Apóstolo</strong> aos coríntios pacificou os ânimos dos<br />

que se exaltavam, crendo-se privilegiados por seus dons de profetizar que, se<br />

realmente eram e são importantes, nunca excederam ou excederão o valor de uma<br />

única virtude posta em prática por quem quer que seja.


Foram os arroubos de amor que fizeram com que o Evangelho triunfasse das<br />

perseguições sofridas ao longo dos séculos! Graças à exemplificação dos profetas, mais<br />

do que à revelação das profecias, que a Boa-Nova foi se impondo às almas!...<br />

Se o Espiritismo muito deve à mediunidade, deve muito mais à caridade, que é o<br />

"espírito" da Doutrina.<br />

Antes, pois, de aspirarem à mediunidade, devem os médiuns ansiar pela bondade que<br />

os haverá de converter em apóstolos.<br />

Mediunidade sem bondade é flor sem perfume, dia sem sol, festa sem alegria...<br />

Infelizmente, são inúmeros os medianeiros que, da casa espírita, nada mais conhecem<br />

além da sala de reuniões mediúnicas... Não participam de outras atividades que lhes<br />

fujam ao interesse pessoal, não sabem, inclusive, das dificuldades financeiras da<br />

instituição, não se envolvem nas tarefas assistenciais... Estão sempre questionando,<br />

discordando, polemizando... Querem, se possível fora, ser médiuns sem ser espíritas<br />

ou, por outra, ser espíritas sem ser cristãos!<br />

A mediunidade, reafirmamos o que dissemos alhures, não isenta o médium do suor<br />

que deve verter objetivando o próprio progresso. Não é um passaporte para o Céu: é<br />

uma credencial de trabalho.<br />

A mediunidade não justifica, no médium, os seus equívocos, os seus achaques, as suas<br />

crises de personalismo, os absurdos que possa vir a cometer...<br />

Que os espíritas cogitem, pois, de preferência, ao caminho da mediunidade, que, não<br />

raro, lhes consome tantas energias e tanto tempo-, o caminho da caridade, onde, sem<br />

dúvida, haverão de produzir os mais positivos fenómenos para a consolidação da fé<br />

nos corações; que interpretem, diretamente, sem necessidade de nenhum<br />

intermediário, a vontade de <strong>De</strong>us através das boas obras que lhes nasçam das mãos<br />

empenhadas em servir... Eis o caminho excelente, o caminho que <strong>Paulo</strong> também se<br />

preocupou em trilhar, mais que a qualquer um outro!<br />

O Sermão da Montanha foi seguido pelo episódio da multiplicação dos pães com que<br />

Jesus atendeu à fome do povo — teoria e prática que se aliaram, sublimes, para que a<br />

Luz brilhasse para sempre.


28 - AUTOCRÍTICA<br />

"Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados."<br />

1 Coríntios, cap. 11 -v. 31<br />

Sem dúvida, o médium desprovido de autocrítica sempre estará mais exposto à crítica<br />

alheia.<br />

O medianeiro carece saber que a faculdade mediúnica, sua ou de outrem, se submete<br />

a progressivo desenvolvimento, estando, assim, sujeito, com os espíritos que se<br />

comunicam por seu intermédio, a constante mudança no que se refere, é claro, a<br />

determinados pontos de vista e até postura mediúnica.<br />

O médium que estaciona no aprendizado torna-se obstáculo para os espíritos que<br />

anseiam por avançar. Precisamos deixar consignado que os habitantes do Invisível<br />

também se submetem à lei do aperfeiçoamento e é natural que, escrevendo hoje ou<br />

falando agora por determinado medianeiro sobre este ou aquele assunto, queiram,<br />

amanhã ou depois, rever a sua opinião.<br />

A não ser o Amor e a Verdade, nada é definitivo entre os homens no mundo. Tudo se<br />

condiciona ao processo de aperfeiçoamento que lhe diz respeito.<br />

Para melhor servir, o medianeiro, portanto, há de adequar-se, transformando-se em<br />

melhor "forma" para os espíritos...<br />

Médiuns existem que param no tempo, não acompanhando sequer o dinamismo da<br />

Doutrina.<br />

Se o Espiritismo não é uma filosofia estanque, a mediunidade igualmente não deve sêlo,<br />

e o médium conscientizado de seus deveres procura se preparar para que a<br />

Espiritualidade sempre encontre nele melhor Instrumento. Dificilmente, por exemplo,<br />

Einstein se expressaria, para falar de Física, através de médium inculto; a lógica nos<br />

ensina — e, em mediunidade, a lógica é fundamental — que ele haveria de procurar o<br />

sensitivo que se afinizasse com as suas ideias e teorias...<br />

Médium algum, por mais experimentado, consegue ser médium de todo e qualquer<br />

espírito. Um literato desencarnado, se não conseguir sintonia com um médium que<br />

algo conheça de literatura, correrá o risco de ser chamado "embusteiro"... Por um<br />

Instrumento inabilitado, o espírito de exímio cirurgião parecerá um neófito com o<br />

bisturi nas mãos... Artistas do pincel domiciliados no Mais Além não conseguirão mais<br />

que primitivos traços de pintura na tela, através de sensitivos que não se esmeram no<br />

estudo da arte de manejar os pincéis e do estilo que lhes seja peculiar...


Infelizmente, muito do que os médiuns obtêm, os espíritos, seus supostos autores, não<br />

assinariam... O que acontece, não raro, é uma apropriação indébita por parte do<br />

médium ao nome dos espíritos que, no máximo, podem envolver o medianeiro,<br />

inspirando-o na consecução desta ou daquela obra, na expectativa de que ele tome a<br />

iniciativa de buscar, com o tempo, uma sintonia mais apurada.<br />

O médium em apostolado não receia a crítica, porque está em permanente autocrítica,<br />

avaliando-se, ele mesmo, quanto ao seu aproveitamento na mediunidade...<br />

Compreende as suas limitações e esforça-se no sentido de superá-las, de forma<br />

alguma desprezando as observações que lhe são feitas, às vezes até publicamente.<br />

O "se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados", da palavra de <strong>Paulo</strong> aos<br />

coríntios, significa: se atentássemos mais para nós do que para os outros, corrigiríamos<br />

em nós o que não está correto, antes que os outros tivessem tempo de observar-nos<br />

em nossas deficiências.<br />

Quantos médiuns, movidos pelo ciúme e pelo espírito de competição, fazem<br />

insinuações maledicentes a respeito de companheiros que estão trabalhando com a<br />

melhor intenção?!...<br />

Quem, por outro lado, não quiser ser alvo de crítica, não faça nada, cruze os braços e<br />

entregue-se de vez ao comodismo. Até os dias de hoje, o próprio Cristo submete-se às<br />

severas críticas dos opositores de suas ideias... O medianeiro que esteja atrás de<br />

unanimidade está atrás de uma utopia!<br />

O importante é que, de consciência tranquila, cada sensitivo procure cumprir com o<br />

seu dever. Quem se permita esmorecer, ante a crítica, evidentemente não está<br />

preparado para ser médium e o melhor que tem a fazer é atuar onde não tenha que se<br />

expor tanto... Não é por semelhante causa que muitos evitam assumir a sua condição<br />

de médiuns?!...<br />

Agora, no que tange ao preparo mediúnico, realmente a maioria dos medianeiros<br />

deixa a desejar... E são tão personalistas, que tomam a crítica endereçada aos espíritos<br />

que se manifestam por seu intermédio como se a eles próprio estivesse sendo feita.


29 - DAR DE GRAÇA<br />

"... e em tudo me guardei, e me guardarei, de vos ser pesado."<br />

2 Coríntios, 11 -v. 9<br />

Existem médiuns que efetivamente nada cobram, mas acabam por ser pesados aos<br />

companheiros...<br />

<strong>Paulo</strong> foi claro quando escreveu afirmando aos coríntios que não era pesado a<br />

ninguém, ou seja, que vivia às suas próprias expensas, do seu trabalho, do seu suor, e<br />

que não mercadejava com os dons espirituais.<br />

O inolvidável apóstolo nunca explorou os amigos em suas andanças pelo Evangelho...<br />

Exercia a profissão de tecelão e, ainda, angariava recursos que remetia a Jerusalém,<br />

onde a igreja lutava com sérias dificuldades para sobreviver... Muitas vezes, chegava a<br />

alimentar-se de maneira precária para não ser um peso à bolsa de seu anfitrião.<br />

Quantos medianeiros na atualidade fazem uma série de exigências para trabalhar,<br />

comparecendo, por exemplo, a um congresso ou a uma simples reunião espírita. E não<br />

estamos falando apenas de exigência financeira, direta ou indireta, pois deles existem<br />

que chegam a reclamar tratamento diferenciado, melindrando-se quando são tratados<br />

como pessoas comuns.<br />

O "dai de graça" deve ser aplicado num sentido muito mais amplo... Não se refere<br />

exclusivamente a dinheiro...<br />

O apostolado mediúnico não se coaduna com qualquer tipo de imposição por parte do<br />

médium que, em tudo, procura facilitar a tarefa dos confrades que, por exemplo, o<br />

recepcionam para esta ou aquela atividade.<br />

Alguns sensitivos, inclusive, carecem ser "vigiados" para que não cometam asneiras...<br />

Por onde passam, acabam deixando uma impressão mais negativa que positiva.<br />

Os companheiros espíritas deveriam começar a fazer certas observações, no sentido<br />

de não apoiar o que pode acabar virando profissionalismo religioso — uma prática<br />

completamente estranha ao espírito da Doutrina.<br />

Alguns médiuns chegam a valer-se de sua capacidade de envolvimento afetivo, do<br />

magnetismo que lhes é peculiar, para se insinuarem junto às almas carentes,<br />

objetivando alguma outra espécie de "ganho"...


O médium espírita nunca deve se prevalecer de sua condição de médium em sua vida<br />

particular. Respeitemos a sua condição, seja ela qual for, porque a vida pessoal de<br />

alguém somente a ela deve dizer respeito, mas não compactuemos com qualquer tipo<br />

de distorção, mormente com a que possa vir comprometer a Doutrina.<br />

Comprometer-se o médium no exercício da mediunidade seria, no dizer evangélico,<br />

"pecar contra o Espírito Santo", sem dúvida num dos maiores equívocos que o espírito<br />

poderia cometer em sua romagem na Terra. Jesus repeliu com veemência esse tipo de<br />

atentado espiritual, na vulgarização do que deve ser tratado com o máximo respeito.<br />

Porque têm perdido a fé em si mesmos, muitos médiuns têm continuado médiuns<br />

apenas por conveniência pessoal, porque, em suma, não saberiam fazer outra coisa e<br />

também porque nada lhes massageia tanto o "ego"... Aliás, é o próprio tipo de vida<br />

que levam que termina por lhes roubar a fé; medem os outros por si mesmos e<br />

acreditam que os demais companheiros de mediunidade sejam desonestos... A bem<br />

da verdade, não há outra justificativa para o embate, sem escrúpulos, em que chegam<br />

a se envolver uns com os outros qual estivessem disputando espaços estratégicos,<br />

palmo a palmo.<br />

Que o médium fuja de todo e qualquer interesse pessoal na mediunidade "enquanto a<br />

oportunidade lhe sorri", porquanto, depois de se permitir envolver, dificilmente se<br />

livrará do hábito lamentável adquirido, não raro mais penoso do que o vício das drogas<br />

para ser extirpado.<br />

Estas nossas considerações poderão soar estranhas aos ouvidos deste ou daquele, mas<br />

não poderíamos deixar de efetuá-las, pois o desastre que se prenuncia para quem<br />

abuse da mediunidade, explorando os semelhantes, é terrível.<br />

Que o médium se guarde de ser pesado, não só ao bolso, como também à alma dos<br />

companheiros, não os aborrecendo e nem os entristecendo... Não imponham outras<br />

condições para atuar na mediunidade, que não sejam as prescritas pelo bom senso,<br />

dentro das reais necessidades para que a tarefa seja uma luz para todos!


30 - COM PERSISTÊNCIA<br />

"Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a<br />

persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos."<br />

2 Coríntios, 12-v. 12<br />

Nem todo apóstolo nasce apóstolo, nem todo médium nasce com tarefa definida.<br />

<strong>Paulo</strong> não fora apóstolo, mas, "com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes<br />

miraculosos", tornou-se um dos maiores dentre os que se destacaram no apostolado<br />

cristão.<br />

Assim como muitos médiuns recuam diante do chamamento a responsabilidades mais<br />

amplas, outros, por méritos indiscutíveis, são, digamos, nomeados pela Espiritualidade<br />

Superior para cumprir com esta ou aquela atividade mediúnica de relevância...<br />

Contam-se aos milhares os espíritos que, em reencarnando, fracassam na missão que<br />

haviam pleiteado. Os que não fracassam de todo, acabam enveredando por sinuosos<br />

caminhos, faltando com a palavra empenhada ao compromisso.<br />

Outros, uma minoria, tornam-se na Terra mesmo dignos da credibilidade do Mundo<br />

Espiritual que, então, passa a secundar-lhes os esforços, improvisando tarefas que,<br />

para muitos, são adredemente delineados antes de seu regresso ao corpo.<br />

Concordamos em que <strong>Paulo</strong> tenha sido um espírito altamente qualificado para a<br />

missão que desempenhou, todavia não podemos concluir, pelo seu pretérito, que ele<br />

já tenha renascido com as "credenciais do apostolado".<br />

Digamos que, escolhido pelo Senhor, <strong>Paulo</strong> não fez ouvidos moucos ao divino convite,<br />

mas não se isentou do calvário que o esperava nos testemunhos em que deveria se<br />

fazer cada vez mais digno das expectativas do Mestre.<br />

O medianeiro, pela sua constância e sincero desprendimento, pode atrair para si o<br />

interesse da Vida Maior, que, então, investirá em suas possibilidades espirituais,<br />

consoante a assertiva evangélica: "Ao que tem, mais se lhe dará"...<br />

Assim como muitos médiuns, conforme no-lo diz Allan Kardec, podem ter as suas<br />

atividades suspensas, não mais contando, temporária ou definitivamente, com a<br />

retaguarda do Mundo Espiritual, outros podem tê-las referendadas ou, ainda,<br />

outorgadas, desde, é claro, que façam jus.


<strong>Paulo</strong> teve que provar à comunidade dos cristãos que realmente havia mudado... Para<br />

que fosse aceito, as credenciais do apostolado tiveram que por ele ser apresentadas<br />

por seus feitos e por sinais que, inclusive, passou a exibir no próprio corpo pelas<br />

inúmeras flagelações sofridas. Enquanto tal não aconteceu, os cristãos não lhe<br />

conferiram à palavra qualquer autoridade moral, apesar de seu vasto conhecimento da<br />

lei.<br />

A Espiritualidade Maior tem recursos para suscitar medianeiros entre os homens, ou<br />

seja, para subtraí-los ao anonimato e transferir às suas mãos a missão que outros<br />

conspurcaram.<br />

Maria de Magdala, por exemplo, era um espírito comum, uma irmã cativa da obsessão<br />

e, com certeza, do seu próprio carma; todavia, em tendo a oportunidade que obteve<br />

junto ao Cristo, modificou-se completamente, transformando-se, de fato, num dos<br />

mais belos exemplos de apostolado... Quantos, em contato com Jesus, não souberam<br />

aproveitar o sublime ensejo, qual os nove leprosos que, uma vez curados, sequer<br />

voltaram para agradecer-lhe?!<br />

Todos têm o instante decisivo de sua redenção... É em um certo momento que a<br />

semente começa a germinar e que a flor exala o seu perfume.<br />

Médiuns comuns, espíritos comuns que são, podem fazer de seu singelo trabalho um<br />

apostolado de amor aos semelhantes, crescendo por seus méritos e, não raro, em uma<br />

única existência lograr avançar o que não avançaram em muitas outras.<br />

Neste sentido, diríamos que certos tarefeiros da mediunidade são candidatos ao<br />

serviço apostólico, mas não que já estejam a desempenhá-lo no mundo; estão a<br />

caminho, no entanto, evidentemente, lhes falta muito a caminhar...<br />

As credenciais do apostolado hão de ser apresentadas exaustivamente, "com<br />

persistência", e não uma ou outra vez... Mandato mediúnico é, sem dúvida,<br />

prerrogativa de poucos e, dentre estes poucos, pouquíssimos conseguem levar adiante<br />

a sua missão sem distorcê-la, ante o assédio das tentações que se fazem sentir com<br />

todo o seu rigor sobre aquele que pode influenciar muitas almas.<br />

As credenciais do apostolado mediúnico são apresentadas, no dizer de <strong>Paulo</strong>, "no meio<br />

de vós", no burburinho das lutas humanas, na linha de fogo das dificuldades,<br />

publicamente, e não no insulamento, distante do perigo, no silêncio dos escritórios ou<br />

no comodismo das salas com ar condicionado.<br />

Sobretudo, as credenciais do médium em apostolado serão apresentados pela sua<br />

perseverança no Bem em todos os instantes de sua Vida.<br />

Fim do Livro

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