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BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos

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<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />

<strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong><br />

<strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

(1922/2002)<br />

Autores diversos<br />

Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Brasília – 26–4–1994<br />

Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

Coordenação:<br />

Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

Rio de Janeiro – RJ<br />

2011


INSÍGNIA DA ENTIDADE ORGANIZA<strong>DO</strong>RA DA OBRA<br />

<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong>


3 - <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

IMAGENS<br />

Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Brasília – 26–4–1994<br />

Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

Autoridades que compõem a Mesa de honra: da esquerda<br />

para a direita: FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO, presidente da<br />

Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil,<br />

em exercício; ERNESTO CAPPOZZI, chefe-de-gabinete<br />

da Presidência do Banco do Brasil, representando o<br />

presidente do Banco do Brasil; SÉRGIO PINHEIRO<br />

RODRIGUES, diretor de Recursos Tecnológicos e<br />

Materiais do Banco do Brasil; JOÃO OTÁVIO DE<br />

NORONHA, consultor jurídico do Banco do Brasil.<br />

Na tribuna, o jurista GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO,<br />

advogado-geral da União, ao tomar posse na Academia<br />

de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, presta<br />

homenagem a JOÃO NEVES DA FONTOURA, consultorjurídico<br />

do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e<br />

1953/1962)<br />

Na 2ª imagem, o acadêmico o acadêmico LUIZ AUGUSTO<br />

BECK DA SILVA felicita GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ<br />

QUINTÃO.


<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 4<br />

CPI – Brasil – Catalogação-na-fonte:<br />

<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong><br />

– <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> (1922/2002) – Autores diversos<br />

Coordenação:<br />

Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

EDIFÍCIO SEDAN – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />

Rua Senador Dantas, 105 – 22° andar<br />

CEP 20031-201 – RIO DE JANEIRO – RJ<br />

Telefone: 0 xx 21 – 3808–3195<br />

As opiniões e conceitos manifestados na obra <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong><br />

<strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> – ensaios <strong>históricos</strong><br />

(autores diversos) são de inteira responsabilidade dos<br />

autores.<br />

ISBN<br />

1. Memória institucional do Banco do Brasil<br />

2. Homenagem (elogio acadêmico) aos Advogados e Consultores<br />

Jurídicos do Banco do Brasil (1922/2002)<br />

3. Literatura brasileira 4. Brochura: 199 pp.


5 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

SUMÁRIO<br />

Prefácio<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO 7<br />

Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

(1995 a 1998, 1998 a 2001, 2004 a 2007, 2007 a 2010)<br />

1 - JOÃO NEVES DA FONTOURA<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962)<br />

Embaixador do Brasil em Portugal (1943/1945)<br />

Ministro das Relações Exteriores (1946 e 1951/1953)<br />

GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO 15<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993)<br />

Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000)<br />

Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />

2 - AFONSO PENNA JÚNIOR – Trajetória em ouro e aura<br />

Ministro de Estado da Justiça (1925/1926)<br />

Diretor da Carteira de Liquidações do Banco do Brasil (1930/1931)<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1932/1937)<br />

Imortal da Academia Brasileira de Letras<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO 34<br />

Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

(1995 / 1998 – 2001, 2004/2007, 2007/2010)<br />

3 - UM LUTA<strong>DO</strong>R HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de Aluízio Napoleão<br />

HUGO NAPOLEÃO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1943/1944)<br />

ALUÍZIO NAPOLEÃO 49<br />

Embaixador da República


<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 6<br />

5 - SÉRGIO DARCY E A ESTRELA SOLITÁRIA<br />

Presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 / 1939 e 1963)<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1962/1967)<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO 105<br />

Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

(1995 / 1998 – 2001, 2004/2007, 2007/2010)<br />

6 - MARTINS NAPOLEÃO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976)<br />

TOBIAS PINHEIRO 121<br />

Conselheiro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa<br />

7 - XAVIER DE ALBUQUERQUE e MOREIRA ALVES (homenageados)<br />

MARTINS NAPOLEÃO, Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976) 132<br />

8 - XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />

Presidente do Supremo Tribunal Federal (16/02/1981 a 21/02/1983)<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1985 / 1986)<br />

DÉCIO MIRANDA 143<br />

Ministro do Supremo Tribunal Federal<br />

9 - JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1986/1988)<br />

GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO 151<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993)<br />

Curriculum vitae – Carreira de Vida – JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />

– Sumário – Origem, descendência, complexo familiar, trajetória e atividades<br />

exercidas 154<br />

10 - GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993)<br />

Advogado–Geral da União (jul/1993 a jan-2000)<br />

Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />

LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA 164<br />

Advogado do Banco do Brasil ( AJURE – Porto Alegre – RS (1977/1992)<br />

Assessor Jurídico da Consultoria Jurídica - Banco do Brasil (1992/1994)<br />

11 - JOÂO OTÁVIO DE NORONHA<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1994/2001)<br />

Curriculum vitae 180<br />

<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Consultoria Jurídica (1922/2002) 195


7 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

PREFÁCIO<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO<br />

Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

1995 a 1998, 1998 a 2001, 2004 a 2007 e 2007 a 2010<br />

<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> –<br />

<strong>Ensaios</strong> Históricos, de autoria de escritores constantes no<br />

Sumário da presente obra, organizada pela Academia de<br />

Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, ressalta<br />

aspectos da vida e obra dos mais importantes consultores<br />

jurídicos do Banco do Brasil, desde a criação da<br />

Consultoria Jurídica, em 10/3/1922, a começar por<br />

Carvalho de Mendonça que mereceu o discurso de elogio<br />

de Hugo Napoleão (in Um lutador Hugo Napoleão e sua<br />

época, de Aluízio Napoleão – pp. 273, 274, 275).<br />

A obra encerra–se, em 02/12/2002, no percurso<br />

de 80 anos de História, com a saída de João Otávio de<br />

Noronha, consultor jurídico (1994/2001) e diretor jurídico<br />

(dez/2001 a dez/2002), a fim de assumir o cargo de<br />

ministro do Superior Tribunal de Justiça.<br />

Na esfera presidencial, juristas de expressiva<br />

notoriedade nacional conduziram os destinos do Banco<br />

do Brasil: Visconde de Jequitinhonha – Francisco Gê<br />

Acayaba de Montezuma (27/4/1866 a 13/8/1866), Afonso Penna<br />

(19/10/1895 a 14/11/1898), Ubaldino do Amaral (25/6/1909 a


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 8<br />

14/10/1910), Sá Freire (3/1/1919 a 28/7/1919), James Darcy<br />

(2/1/1925 a 16/11/1926), Henrique Carneiro Leão (25/8/1828<br />

a 3/6/1829), João Marques dos Reis (30/11/1937 a 6/11/1945)<br />

e Clemente Mariani (6/9/1954 a 14/4/1955). Destacamos<br />

os elogios proferidos no 2° Seminário Banco do Brasil e<br />

a Integração Social:<br />

“Decorridos 204 anos de seu nascimento, e 128 anos<br />

de sua morte, – Montezuma permanece vivo na memória<br />

da posteridade, principalmente no seio das instituições que<br />

criou: a Maçonaria Filosófica, e o Instituto da Ordem dos<br />

Advogados do Brasil que gerou a Ordem dos Advogados<br />

do Brasil.” (1)<br />

(...)<br />

“Entender Marques dos Reis, contudo, exige um<br />

esforço que ultrapassa os dados biográficos para<br />

mergulhar nas circunstâncias históricas. É o entendimento<br />

da conjuntura que fornece a chave para a compreensão<br />

de seus atos públicos, quer como Ministro da Viação,<br />

quer como Presidente do Banco do Brasil. Um homem não<br />

pode ser visto sem o seu tempo. E o tempo de Marques<br />

dos Reis é a era Vargas.” (2)<br />

(1) LICÍNIO LEAL BARBOSA, presidente da Academia Brasileira<br />

Maçônica de Letras – in Visconde de Jequitinhonha (Francisco Gê<br />

Acayaba de Montezuma, panegírico ao patrono Visconde de<br />

Jequitinhonha (Cadeira n° 29, da Academia de Letras dos<br />

Funcionários do Banco do Brasil).<br />

(2) MAURO OROFINO CAMPOS, diretor–presidente da Companhia<br />

Docas do Rio de Janeiro – Homenagem a João Marques dos Reis,<br />

patrono da Cadeira n° 19, da Academia de Letras dos Funcionários<br />

do Banco do Brasil – Palestra apresentada, em 07/12/1998 – 2°<br />

Seminário Banco do Brasil e a Integração Social.


9 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Por ordem cronológica dos cargos exercidos<br />

na Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, o primeiro<br />

ensaio, constante nesta obra, passa a integrar a<br />

bibliografia (obra sobre o autor) de Carvalho de Mendonça,<br />

apresentada pelo escritor Fernando Mendonça, presidente<br />

do Instituto Carvalho de Mendonça de Direito Comercial.<br />

Em seguida, o jurista Geraldo Magela da Cruz<br />

Quintão presta homenagem a João Neves da Fontoura e<br />

a José Sampaio de Lacerda, e, ao mesmo tempo, a recebe<br />

de Luiz Augusto Beck da Silva.<br />

De igual modo, o consultor jurídico Martins<br />

Napoleão homenageia os juristas Xavier de Albuquerque<br />

e Moreira Alves e é homenageado pelo escritor Tobias<br />

Pinheiro. E ainda Xavier de Albuquerque, na qualidade de<br />

presidente do Supremo Tribunal Federal, é recebido, na<br />

sessão solene de 16/02/1981, pelo ministro Décio Miranda.<br />

Os consultores jurídicos Afonso Penna Júnior e Sérgio<br />

Darcy são lembrados, em saudosa memória, pelo escritor<br />

Fernando Pinheiro.<br />

Da família Napoleão, pai e filho entram em cena.<br />

Hugo Napoleão recebe do embaixador Aluízio Napoleão<br />

palavras que o imortalizam. O Banco do Brasil e a Câmara<br />

dos Deputados, distintamente, são os cenários apresentados.<br />

Ao prestar homenagem aos consultores jurídicos<br />

do Banco do Brasil, a presente obra resgata parcialmente<br />

a memória institucional do Banco do Brasil, e evoca o<br />

passado onde se encontram os enredos que dão estímulo<br />

à dignidade do servidor e, ainda, elucidam aspectos da<br />

história da vida nacional, em decorrência da atuação<br />

política de deputados e senadores, gestão do presidente do<br />

Botafogo de Futebol e Regatas (1937/1939 e 1963), ministros<br />

de egrégios tribunais, ministros de Estado que, em épocas


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 10<br />

distintas, estiveram prestando relevantes serviços à<br />

Consultoria Jurídica do Banco do Brasil e ao País.<br />

<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> –<br />

<strong>Ensaios</strong> Históricos – não abrange a atuação atual da<br />

Diretoria Jurídica, órgão que direciona a ação do BB,<br />

nem mesmo divulga notícias de caráter exclusivo da<br />

Empresa, apenas presta um serviço de revelar ao público<br />

a importância, no cenário nacional, da vida e<br />

obra dos mais importantes consultores jurídicos que<br />

engrandeceram, engrandecem e sempre engrandecerão, pela<br />

memória, o Banco do Brasil e a Nação brasileira.<br />

É sempre questionável a indicação dos nomes<br />

exponenciais que transitaram pela área jurídica do<br />

Banco do Brasil, não pelos méritos que os qualificam,<br />

uma vez que a questão de ser mais importante está<br />

muito ligada à afinidade de cada um de nós, como<br />

em qualquer área das artes e dos costumes, além de<br />

considerar que o universo que abriga a Empresa é<br />

muito grande, mas na noite apagada, inspirados em Deus<br />

em nós, é necessário criar estrelas e inaugurar auroras.<br />

Dessa forma, excetuando-se os nomes dos<br />

nobres consultores jurídicos, cabe-nos a arriscada aventura<br />

e lídima ventura de mencionar algumas personalidades<br />

que tiveram passagem pela área jurídica do Banco do<br />

Brasil. Vale, portanto, destacar:<br />

“Filho, sobrinho, irmão e pai de diplomatas, Afonso<br />

Arinos nunca abraçou, como profissão, a carreira seguida<br />

por aqueles familiares. E foi escasso o tempo em que<br />

dividiu sua atuação fecunda entre o Ministério das Relações<br />

Exteriores, a Organização das Nações Unidas, em Nova<br />

Iorque, a Conferência do Desarmamento, em Genebra, e a


11 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Conferência Interamericana de Caracas, além da<br />

honrosa embaixada que o levou, como representante do<br />

Brasil, à abertura do Segundo Concílio Ecumênico Vaticano.<br />

Entretanto, poucos influenciaram tanto quanto ele a<br />

direção seguida pela diplomacia brasileira, sua visão do<br />

mundo e postura perante o concerto das nações.<br />

Apesar de algumas recaídas passageiras, a política externa<br />

independente, que moldou, veio para ficar.” (3)<br />

(...)<br />

“No movimento lento, com simplicidade e vivo, a música<br />

Tu e o Vento, do maestro e compositor Edino Krieger, escrita em<br />

02 de maio de 1954, em Teresópolis – RJ, traz a letra de<br />

Adelmar Tavares.<br />

Advogado do Banco do Brasil (1925/1930), Adelmar<br />

Tavares foi eleito, em 1924, para a Academia Brasileira<br />

de Letras, presidindo-a em 1948. No período 1948/1950,<br />

ocupa o cargo de presidente do Tribunal de Justiça do<br />

Estado do Rio de Janeiro.<br />

Nos idos de 1960, o poeta pernambucano, durante<br />

o 1° Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, é<br />

aclamado “o rei da trova brasileira”, até hoje insuperável,<br />

com o apoio do poeta Walter Waeny, um dos mais<br />

importantes trovadores nacionais, membro da Academia<br />

de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.” (4)<br />

(3) AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO FILHO, membro da<br />

Academia Brasileira de Letras – Afonso Arinos e a Política Externa,<br />

palestra apresentada em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do<br />

Brasil e a Integração Social.<br />

(4) FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – A presença dos funcionários do Banco do<br />

Brasil na música clássica, palestra proferida em nov/2000 –<br />

4° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social – Rio de Janeiro.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 12<br />

Justa homenagem prestada por Aimberê Araken<br />

Machado a Cláudio Pacheco:<br />

“Bem mais tarde – após o fim do ciclo dos<br />

governos militares –, na gestão do Presidente José Sarney,<br />

Cláudio Pacheco foi um dos escolhidos para formar uma<br />

Comissão Constitucional – ombreando com Rosah<br />

Russomano e Pinto Ferreira, num trabalho prévio à<br />

Assembléia Nacional Constituinte –, presidida, por feliz<br />

coincidência, pelo grande jurista e historiador mineiro<br />

Afonso Arinos de Melo Franco. (5)<br />

Camilo Nogueira da Gama, advogado da<br />

Consultoria Jurídica – Banco do Brasil (1940/1942),<br />

deputado Federal (1955/1963 e 1974/1976), senador da<br />

República (1963/1971), vice-presidente do Senado e do<br />

Congresso Nacional (1963/1967), homenageado, em 25/10/1999,<br />

pelo nobre senador Bernardo Cabral:<br />

“Faço essas observações com os olhos voltados para<br />

tantos políticos brasileiros que, ao longo de nossa trajetória<br />

como Estado Nacional, deram sua inestimável contribuição<br />

ao esforço de construção da nacionalidade, enfim, do que<br />

hoje somos. Parlamentares que souberam falar quando<br />

e como era necessário. Que tiveram a sensibilidade de<br />

compreender que, muitas vezes, o silêncio pode ser<br />

loquaz. Que foram capazes de propor medidas essenciais<br />

ao País, mesmo à custa da momentânea popularidade.<br />

(5) AIMBERÊ ARAKEN MACHA<strong>DO</strong> – Homenagem ao patrono Cláudio<br />

Pacheco, palestra proferida, em 22/04/1997, na Academia de Letras<br />

dos Funcionários do Banco do Brasil.


13 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Que foram fiéis ao ideário que abraçaram. Que tiveram a<br />

coragem cívica de resistir, não se submetendo ao arbítrio.<br />

É pensando assim que, neste momento, busco<br />

homenagear Camilo Nogueira da Gama.” (6)<br />

Doutel de Andrade (1920/1991), jornalista, ex–<br />

advogado do Banco do Brasil, e ex–deputado federal em<br />

várias legislaturas, é homenageado pela jornalista Nazareth<br />

Tunholi:<br />

“Tanto a arte de transmitir fatos políticos quanto<br />

ao próprio talento político renderam-lhe o prazer do<br />

contato com o povo e a participação nas decisões<br />

maiores do governo. Doutel de Andrade marcou<br />

profundamente, com a lucidez de seus conselhos, a<br />

sinceridade de suas reportagens, com toda a sua vibração<br />

política, as páginas da história do Brasil.” (7)<br />

O jurista João Otávio de Noronha, ministro do<br />

Superior Tribunal de Justiça, funcionário egresso do<br />

Banco do Brasil que iniciou, em 22/12/1975, carreira na<br />

Agência de Andradas – MG, apresenta-nos um curriculum<br />

vitae repleto de importantes palestras, contribuição valiosa<br />

às Ciências Jurídicas.<br />

(6) BERNAR<strong>DO</strong> CABRAL, senador da República, – O Centenário de<br />

Nogueira da Gama, palestra proferida, em 25/10/1999 – 3°<br />

Seminário Banco do Brasil e a Integração Social.<br />

(7) NAZARETH TUNHOLI – Discurso de posse na Academia de Letras<br />

dos Funcionários do Banco do Brasil (Cadeira n° 45, patronímica<br />

de Doutel de Andrade) – Sessão solene realizada, em 27/05/1994,<br />

no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro – RJ.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 14<br />

As personalidades, aqui homenageadas por<br />

escritores de reconhecida notoriedade nacional, denotam a<br />

importância e o orgulho que o Banco do Brasil expressa<br />

através de sua própria História.<br />

Regozijemo-nos todos. Os autores da obra, o<br />

Banco do Brasil e seus servidores, clientes e admiradores,<br />

a Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil,<br />

os estudiosos que pesquisam a memória nacional, e os<br />

leitores que são os primeiros a serem beneficiados.<br />

Em particular, sentimo-nos felizes não apenas<br />

pelos textos apresentados de nossa lavra, mas também pela<br />

nossa imagem (retrato) que faz parte da Iconografia da<br />

presente obra, realizada ao ensejo da solenidade da posse<br />

do jurista Geraldo Magela da Cruz Quintão, advogado–geral<br />

da União, na Academia de Letras, em 26/4/1994 – Auditório<br />

da Presidência do BB – Edifício Sede III – Brasília – DF.<br />

Ao finalizarmos a apresentação desta obra,<br />

vêm-nos à mente as palavras do jurista James Darcy,<br />

presidente do Banco do Brasil (02/01/1925 a 16/11/1926),<br />

proferidas ao ensejo das comemorações do VI Centenário<br />

da morte de Dante Alighieri, realizadas nos idos de<br />

idos de 1921, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro,<br />

na presença do presidente da República e do Corpo<br />

Diplomático na capital federal:<br />

“Não há beleza sem devotamento, consagração da vida a um<br />

fim superior.” (8)<br />

(8) JAMES DARCY, presidente do Banco do Brasil (02/01/1925<br />

a 16/11/1926) – VI Centenário da morte de Dante Alighieri –<br />

Apud Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro –<br />

p. 49 – Cadernos AAAB – Rio de Janeiro – 1955 .


15 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

1<br />

JOÃO NEVES DA FONTOURA<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962)<br />

Embaixador do Brasil em Portugal (1943 a 1945)<br />

Ministro das Relações Exteriores (1946 e 1951/ 1953)<br />

GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993)<br />

Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000)<br />

Ministro de Estado da Defesa (de 24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />

Texto do discurso de posse do acadêmico Geraldo Magela<br />

da Cruz Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves da<br />

Fontoura) na Academia de Letras dos Funcionários do Banco<br />

do Brasil, em solenidade realizada em 26/4/1994 – Auditório da<br />

Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF.<br />

“As pessoas não morrem, ficam encantadas”.<br />

Ouso tomar de empréstimo de Guimarães Rosa suas<br />

palavras finais do discurso de homenagem a João Neves<br />

da Fontoura, ao sucedê-lo na Cadeira n° 20, da


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 16<br />

Academia Brasileira de Letras. E esse encantamento pôde<br />

sentir, viver, um jovem acadêmico de Direito, em fins da<br />

década de 1950, ao ingressar nos recintos da então<br />

Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, ainda na Rua 1°<br />

de Março, no Rio de Janeiro; e mais intenso no Gabinete<br />

do Consultor, antes ocupado pelo próprio Neves da<br />

Fontoura. Sua memória, seus traços, suas idéias, seus<br />

conselhos, seus pareceres, a tudo impregnavam, faziam-se<br />

presentes nas coisas, objetos, móveis clássicos, em<br />

seu famoso bureau de trabalho, nos livros de doutrina<br />

circundantes da sala. É que dele muito ouvira falar: de<br />

leituras, do respeito conquistado no Banco pelas suas<br />

opiniões.<br />

Corre o tempo, por obra do destino torno-me um<br />

de seus sucessores como Consultor Jurídico do Banco<br />

do Brasil, e, agora, reacende-me a emoção do estudante,<br />

ao penetrar na sua vida e obra, para falar-vos sobre<br />

sua fulgurante figura humana, eis que patrono da<br />

Cadeira n° 20 desta novel Academia de Letras, para<br />

a qual fui eleito em deferência honrosa, muito superior<br />

a meus eventuais méritos.<br />

Dele posso dizer o que ele próprio afirmara de<br />

Ruy Barbosa, na Conferência pronunciada em 1949, no<br />

Palácio do Itamarati, ponto alto das homenagens pelo<br />

centenário de nascimento do inigualável advogado.<br />

“... O que me incumbe hoje aqui não é<br />

propriamente o esforço de alcançar as medidas gigantescas<br />

da sua complexa figura, nem a impossível empresa<br />

de abarcar em alguns traços fugitivos à unidade e<br />

o esplendor de sua fama no parlamento, no fôro, na<br />

imprensa, no livro, na política, no governo, na Academia,


17 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

na praça pública ou no plenário internacional. Em suma:<br />

todo um mundo de criação de valores jurídicos, políticos<br />

ou literários.” (JOÃO NEVES DA FONTOURA – Rui Barbosa,<br />

Orador – pp. 3/4 – MRE – Divisão Cultural – 1949).<br />

Em João Neves coincidiam, convergiam essas<br />

qualidades e faculdades, sobrelevando-se, como em Ruy,<br />

a de orador, com o acréscimo de revolucionário, peleador<br />

das causas liberais, cívicas e democráticas.<br />

Como Ruy, “a tribuna é o seu destino, a sua<br />

fatalidade, o altar de sua fé” (Ibidem, p. 5).<br />

De Guimarães Rosa, seu magistral perfil: ... “seus<br />

discursos “liberais” – rota de obrigação – trem e incessar<br />

de lumes. Neles podia-se experimentar não apenas a<br />

comensura de facúndia e talento: mas coragem, de cor,<br />

ânimo, de alma.” [JOÃO GUIMARÃES ROSA – Discurso de<br />

homenagem – p. 136 – Recepção na ABL].<br />

Veio João Neves da seiva prodigiosa das<br />

terras gaúchas, de uma geração de filhos ilustres,<br />

influenciadores e condutores dos acontecimentos que<br />

antecederam e se seguiram à Revolução de 1930, tendo<br />

como seus companheiros, entre outros, Getúlio Vargas,<br />

Flores da Cunha, Joaquim Maurício Cardoso, Lindolfo<br />

Collor, Raul Pilla, Oswaldo Aranha, seguidores do ideário<br />

republicano de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.<br />

Nascido em Cachoeira do Sul, em 16 de<br />

novembro de 1888, filho do coronel Isidoro Neves da<br />

Fontoura e de dona Adalgisa Godói da Fontoura, desde<br />

cedo viveu e respirou política, sendo seu pai prócer<br />

político local, castilhista e de estreitas ligações com Borges<br />

de Medeiros. Terminado o colégio com os jesuítas de São<br />

Leopoldo, ingressou em 1905 na Faculdade de Direito de


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 18<br />

Porto Alegre, centro de fermentação de idéias, e aonde<br />

acorriam os jovens em busca de aprendizado para o<br />

exercício de futuras lideranças. Vocacionado, deixa-se<br />

envolver, e em 1907, engaja-se na atividade política,<br />

organizando um movimento de estudantes em apoio a<br />

Borges de Medeiros, então sucessor de Júlio de Castilhos,<br />

na direção do Partido Republicano.<br />

Chamados de “Jovens Turcos”, formam o Bloco<br />

Acadêmico, por iniciativa dele, João Neves, de Jacinto<br />

Godoy e de Joaquim Maurício Cardoso, com as adesões<br />

posteriores de Firmino Paim Filho e de Getúlio Vargas,<br />

entre outros, além de cadetes da recém-criada Escola de<br />

Guerra, como Eurico Gaspar Dutra, Pedro Aurélio de<br />

Goís Monteiro e Salvador César Obino; todos mais<br />

tarde renomados na vida política nacional e no<br />

Exército, respectivamente. (Regina da Cruz Moreira/<br />

Dlora Flaksman – Dicionário Histórico-Biográfico – 1930/1983 –<br />

pp. 13/14).<br />

De orientação positivista, o PRR (Partido<br />

Republicano Rio-Grandense), velava pela preparação de<br />

seus quadros de futuros líderes, incentivando vocações,<br />

criando-lhe condições para o aprendizado da militância<br />

política, a par de dar-lhes destaque político, mas<br />

forjando-os dentro de uma rigidez partidária.<br />

Pois bem: assim com os outros, também com<br />

o jovem João Neves. Em 1909, ainda quintanista de<br />

Direito, é nomeado 2° Promotor Público de Porto Alegre,<br />

sucedendo a Getúlio Vargas, eleito Deputado à Assembléia<br />

de Representantes, desse modo nomeada a Assembléia<br />

pela Constituição Estadual de fundo e forma calcada<br />

na doutrina positivista.


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Conclui em 1909, com brilhantismo, o curso de<br />

Direito, e, já consagrado, é eleito orador da turma. Mas<br />

entre a Capital, mesmo em cargo público de relevância,<br />

e sua Cachoeira do Sul, ouviu a vocação política e a<br />

tradição de retorno dos formandos às origens, pesando<br />

mais o conselho profético de seu orientador, Borges de<br />

Medeiros.<br />

Em 1910, retorna à terra natal. Por dezessete<br />

anos, banca de advogado, lides forenses, faina jornalística<br />

e lutas políticas locais, cuja liderança conquista após<br />

a renúncia de seu pai à Intendência em 1912. Líder<br />

prestigiado, como previra Borges de Medeiros, é eleito<br />

Deputado à Assembleia de Representantes pelo PRR, em<br />

1921, depois Intendente Municipal.<br />

Marasmo político. Assembléia desinteressada, sem<br />

debates. Sem oposição até 1921, João Neves da Fontoura<br />

sucede a Getúlio Vargas na coordenação da bancada. A<br />

campanha pela sucessão de Epitácio Pessoa agita o<br />

ambiente político do Estado.<br />

O candidato oficial era Arthur Bernardes,<br />

imposto pela política dos governadores, sob a hegemonia<br />

de Minas e São Paulo, opuseram-se Rio de Janeiro,<br />

Pernambuco e Bahia, unidos à atitude rebelde do Rio<br />

Grande do Sul, sob o nome de Reação Republicana,<br />

com a candidatura de Nilo Peçanha.<br />

Nessa ocasião, João Neves, em nome da<br />

Assembléia, ao saudar o presidente Borges de Medeiros,<br />

relata o Prof. Hélgio Trindade, antecipa sua postura<br />

radicalizada posterior e revela uma nova atitude da<br />

geração mais jovem de líderes republicanos contrária ao<br />

sistema e métodos de escolha do candidato a Presidente<br />

da República pelas oligarquias republicanas.


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 20<br />

A derrota do candidato oposicionista da Reação<br />

Republicana abriu fendas na unidade interna do PRR,<br />

fragilizou a nova reeleição de Borges de Medeiros, em<br />

1923, sucessivamente no governo por mais de duas<br />

décadas, e reacendeu a flama revolucionária dos gaúchos<br />

a partir da região da fronteira, hostilidades somente<br />

cessadas com o histórico acordo de Pedras Altas, cujo<br />

comando maior era a expressa “proibição das reeleições<br />

nos cargos executivos...”<br />

Sem dúvida, um capítulo épico da história<br />

política do Rio Grande, quando a Oposição conquistava seu<br />

espaço político, mas também permitia o rejuvenescimento<br />

interno do partido situacionista, com novos postulantes<br />

aos cargos executivos. Daí, Getúlio Vargas e João Neves,<br />

serem escolhidos e eleitos em meados de 1927, novos<br />

Presidentes e Vice-Presidentes do Estado.<br />

Passo seguinte, foi sua candidatura, em outubro<br />

de 1927, à Câmara Federal, respaldada na fama de<br />

ser o “Primus inter pares na arte difícil da oratória<br />

política, que já lhe granjeou fulgentes lauréis...”, na<br />

apresentação feita por Borges de Medeiros no ritual da<br />

consulta às bases do Partido.<br />

Chega à Câmara Federal, em julho de 1928,<br />

ainda sem espaço no cenário nacional. Ambienta-se com<br />

facilidade. Atua como líder da Bancada Gaúcha, e logo<br />

suas qualidades de tribuno são postas à prova, estreando<br />

como orador oficial da comemoração alusiva ao centenário<br />

de paz com a Argentina.<br />

Confirma-se a fama de orador eloqüente, de<br />

palavra fácil e fluente. Homenageado com um banquete no<br />

Jockey Club do Rio de Janeiro, responde à saudação do<br />

líder da maioria, Manoel Vilaboim, realçando o espírito de


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luta dos republicanos rio-grandenses, sua lealdade aos<br />

princípios democráticos, em uma antecipação de sua<br />

estratégia de luta nas questões políticas, a partir de 1929.<br />

(...)<br />

Dá João Neves início, nos fins de 1928, aos<br />

conchavos políticos, visando a sucessão presidencial, como<br />

elo de ligação da Chefia do Partido (PRR), do Governo<br />

Estadual Rio-Grandense e dos interlocutores nacionais.<br />

Em pertinaz e paciente atividade, conduz a tessitura da<br />

Aliança Liberal, trama a Revolução de 30, e destaca-se<br />

como articulador político, tribuno parlamentar no cenário<br />

federal e orador de massa.<br />

Diante da obstinada insistência de Washington<br />

Luís em indicar candidato paulista à sua sucessão,<br />

rompendo a velha aliança do “café com leite”, e do<br />

conseqüente veto de Minas à candidatura de Júlio<br />

Prestes, nasceu, pelas mãos de João Neves e de seu<br />

tino político, a candidatura alternativa de Getúlio Vargas,<br />

como resultado dos entendimentos entre Minas e Rio<br />

Grande. Sua grande habilidade política revelou-se ao<br />

conduzir o processo de mediação em nível nacional,<br />

ao mesmo tempo, mantendo um diálogo constante com<br />

Borges de Medeiros e Getúlio Vargas, para romper-lhes<br />

as hesitações e ceticismo, como narra Hélgio Trindade<br />

(Perfis Parlamentares – 8 – Idem – p. 30).<br />

Ciente por Antônio Carlos de que o Presidente<br />

manteria Júlio Prestes, e assim os mineiros marchariam<br />

com o Rio Grande, detendo São Paulo, apressa-se em<br />

corajosa decisão pessoal, em assinar um pacto secreto<br />

com Minas, em 17/06/29, o chamado Pacto do Hotel Glória,<br />

subscrito por João Neves, pelo Rio Grande, e por Francisco<br />

Campos, por Minas, embora ainda sujeito à ratificação


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 22<br />

de Borges de Medeiros, e cujos termos centrais previam<br />

que: “... se o Presidente aceitasse um mineiro para<br />

sucedê-lo, o PPR apoiaria o candidato; se não Minas<br />

apoiaria Getúlio Vargas ou Borges de Medeiros.” (JOSEPH<br />

LOVE, O Regionalismo Gaúcho – pp. 234/5 – Ed. 1975).<br />

Prenunciava João Neves, como estrategista, que a balança<br />

penderia para o Rio Grande do Sul, como aconteceu.<br />

Minas lançou Getúlio Vargas, o candidato contra o<br />

oficialismo.<br />

As articulações políticas, além de secretas,<br />

tiveram que ser conduzidas de forma cautelosa, superando<br />

dificuldades de toda ordem dentro do próprio partido –<br />

PRR, vencendo as hesitações e harmonizando divergências.<br />

Antônio Carlos, Presidente de Minas, preterido à sucessão<br />

de Washington Luís, ressalta a inegável habilidade de<br />

João Neves:<br />

“... ao lado da atividade tribunícia, coube-lhe em<br />

todos os momentos agir no meio subterrâneo da política...<br />

Nesse oculto, mas importante setor das campanhas políticas,<br />

ninguém sobrepujou a João Neves na segurança e da<br />

estratégia e na habilidade da tática.” (ANTÔNIO CARLOS –<br />

in JOÃO NEVES DA FONTOURA – A Jornada Liberal –<br />

Vol. I, p. 2 – Ed. Globo – 1932).<br />

Vencidas as negociações, lançada a Aliança<br />

Liberal, o articulador político cede espaço ao tribuno, ao<br />

orador de estilo vibrante e arrebatado, uma constante na<br />

atuação de João Neves, nos debates candentes na Câmara<br />

dos Deputados, nos comícios da Aliança Liberal, na jornada<br />

cívica por São Paulo, em 1932, no seu retorno, após o<br />

exílio, à tribuna parlamentar nos idos de 1935 a 1937.


23 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Para Antônio Carlos, seus discursos eram<br />

“modelos de extraordinária eloquência, alto pensamento,<br />

ardor cívico, força e persuasão e extrema fulguração<br />

verbal.” (Ibidem).<br />

Para Mem de Sá, foi João Neves “um dos<br />

maiores oradores da história parlamentar do Brasil, e no<br />

Rio Grande do Sul se pode dizer que ele foi o terceiro<br />

na ordem cronológica, depois de Gaspar Martins, no<br />

Império, e Pedro Moacir, na primeira década da<br />

República.” (MEM DE SÁ – Necrológio – O Globo – Rio de<br />

Janeiro – 2/4/1963).<br />

João Neves, sabendo-se orador eloqüente e<br />

arrebatado, traça um paralelismo entre eloqüência e<br />

retórica, na conferência pelo centenário de Ruy Barbosa,<br />

em 1948. (...)<br />

E, como manifesto prazer, lembrou que nem<br />

Cícero fez, como Ruy Barbosa, distinção tão perfeita<br />

entre a Eloqüência e a Retórica, ao falar no Instituto<br />

dos Advogados do Brasil.<br />

E João Neves soube ser eloquente. Seu período<br />

inexcedível deu-se entre 1929 e 1930, na campanha da<br />

Aliança Liberal, tanto na tribuna, como nos comícios<br />

oposicionistas. Seu estilo arrebatado e vibrante deu-se<br />

mostra já no discurso de defesa da candidatura de<br />

Getúlio Vargas à sucessão de Washington Luís, marco<br />

inicial da campanha da Aliança Liberal e sinal de<br />

rompimento com o governo, quando seu verbo vibrante<br />

fulgurou, em discurso entremeado de hipérboles e<br />

antonomásias.<br />

Eleva-se o tom dos discursos, na antevéspera<br />

das eleições. O ideário revolucionário da Aliança<br />

Liberal, – eleições livres, voto secreto, autonomia dos


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 24<br />

estados, guerra ao poder pessoal do oficialismo, adoção<br />

das práticas democráticas, – tem em João Neves da<br />

Fontoura o porta-voz mais radical. Em Recife, no Teatro<br />

Santa Isabel, em janeiro de 1930, arrebata-se, e conclama<br />

os pernambucanos: ... “Ou nos abrem as urnas para<br />

votarmos livremente, sem coação nem suborno, e<br />

proscrevem a ata falsa, ou, então, brasileiros, de armas<br />

na mão para a democracia e os direitos do povo.”<br />

(HÉLIO SILVA – 1930 – A Revolução Traída – Rio –<br />

Civilização Brasileira, 1966, pp. 39/41).<br />

Ferem-se as eleições. Vence o situacionismo.<br />

Elegeu-se Júlio Prestes. O poder oligárquico não se rende.<br />

Mantém-se a eleição a bico de pena. Onde o civismo<br />

das multidões das praças públicas? Cinde-se a Aliança<br />

Liberal. Uns acomodam-se, aceitam o resultado. O Partido<br />

Republicano Rio-Grandense debate-se em crise interna.<br />

Oswaldo Aranha e João Neves pela organização de um<br />

levante armado. “O prélio terrível das armas” prenunciado.<br />

Borges de Medeiros dava por encerrada a tarefa da<br />

coalizão. A crise torna-se aguda. João Neves retorna à<br />

Câmara, em maio de 1930, reconduzido à liderança<br />

dos republicanos, cumprindo-se as regras do Heptálogo de<br />

Irapuãzinho. Comanda a luta parlamentar contra o não<br />

reconhecimento dos deputados aliancistas eleitos pela<br />

Paraíba e por Minas. Denuncia fraude nas eleições. A<br />

essa altura, já falava abertamente nos preparativos de<br />

um movimento armado. A Frente Única dos Gaúchos<br />

extingue-se. Em julho, João Pessoa é assassinado em<br />

Recife. Intervenção na Paraíba. O que faltava para<br />

novamente reagrupar as forças de oposição a Washington<br />

Luís. João Neves no centro das articulações: no Rio<br />

Grande, em Minas e São Paulo. Em agosto, Borges de<br />

Medeiros decide-se pelo apoio ao movimento. Eclode a


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Revolução em 3 de outubro. João Neves na sua<br />

Cachoeira do Sul. Coopta as unidades militares federais<br />

da cidade. Rebelam-se em 4 de outubro.<br />

Getúlio Vargas assume o comando revolucionário.<br />

Primeiro descontentamento de João Neves. Como Vice-<br />

Presidente do Estado, cabia-lhe substituir Getúlio Vargas.<br />

Esse designa Oswaldo Aranha, então Secretário do Interior.<br />

Com justo melindre, João Neves embarca com as tropas<br />

revolucionárias, e, por decoro, renuncia à Vice-Presidência<br />

do Estado. Resiste aos apelos de Oswaldo Aranha, que<br />

lhe oferece o comando da coluna do litoral.<br />

Exemplo de homem de brio, de caráter retilíneo.<br />

Segunda divergência com Getúlio Vargas. A<br />

nomeação do interventor em São Paulo, em plena<br />

revolução. João Neves, com os paulistas, queria Francisco<br />

Morato, líder do Partido Democrático, aliado da primeira<br />

hora dos gaúchos e mineiros desde a campanha da<br />

Aliança Liberal e da revolução triunfante. Getúlio Vargas<br />

escolhe João Alberto, delegado militar em São Paulo.<br />

Desagrado profundo dos paulistas.<br />

Vitoriosa a Revolução, seu pregador e líder, João<br />

Neves, desaparece do proscênio político. Recusa qualquer<br />

função ou cargo no Governo Provisório, seja o Ministério<br />

da Justiça, ou o retorno ao Rio Grande do Sul, como<br />

seu Governador. Desilusão? Melindre? De seu íntimo só o<br />

conhecimento. Sua voz, suas palavras ainda ecoavam no<br />

País. Vencedor seu ideal liberal? Algo prenunciava para<br />

João Neves que a revolução teria dinâmica própria.<br />

Dissolvido o Congresso pelo Governo Provisório, sem<br />

mandato, o destino traz João Neves para o Banco do<br />

Brasil, como seu Consultor Jurídico, em feliz sucessão<br />

de Carvalho de Mendonça, o maior comercialista brasileiro.


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 26<br />

O Promotor Público de Porto Alegre e o advogado influente<br />

de Cachoeira do Sul assentam banca no Rio de Janeiro.<br />

“Seu prestígio moral, de vencedor sem espólio<br />

castrense”, na feliz expressão de Hélgio Trindade,<br />

leva-o a procurar influir nos destinos da Revolução,<br />

exigindo coerência com sua pregação, seu ideário liberal.<br />

Não tarda o conflito com a nova ordem, inspirada no<br />

tenentismo e nas idéias do ministro da Justiça, Oswaldo<br />

Aranha: direção nacional e centralizada, crescimento e<br />

consolidação do Poder Federal, sepultado o princípio<br />

federativo de autonomia dos Estados. Desaparece o “antigo<br />

federalismo sob o comando de economia paulista.”<br />

João Neves clama por definição ideológica. Concentra-se o<br />

poder do Governo Provisório, pelo Decreto de novembro de<br />

1930, atribuindo-se os Poderes Executivos e Legislativos,<br />

com a costumeira promessa... “até que uma Assembleia<br />

Constituinte eleita estabelecesse a nova organização<br />

constitucional do País...”<br />

São Paulo lidera, os revolucionários da Oposição<br />

no Rio Grande já reclamam e exigem a imediata<br />

convocação da Assembléia Constituinte. Retorno às idéias<br />

liberais, cumprimento das promessas de campanha. Os<br />

antiliberais, das correntes do tenentismo, do Clube 3 de<br />

Outubro, já querem o continuísmo, a manutenção do<br />

Governo Provisório. João Neves indigna-se com o que ele<br />

dizia ser a traição aos ideais políticos da Aliança Liberal.<br />

Os tenentes viam no ventre da Revolução a gestação<br />

de mutações no campo econômico e social, também<br />

reclamados pelo País.<br />

(...)<br />

Mesmo assim, obstinado, João Neves articula.<br />

Reaproxima as forças políticas gaúchas. Recebe de Raul


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Pilla o mandato de “ser perante os brasileiros campeão<br />

da Lei contra o Arbítrio, do Direito contra a força, da<br />

ordem civil contra a erupção militarista nos domínios da<br />

política. “A crise aguça-se. O jornal Diário Carioca, firme<br />

oposição, é invadido e empastelado por elementos militares.<br />

Demite-se o ministro da Justiça, Maurício Cardoso.<br />

Segue-o João Neves, dizendo-se moralmente obrigado a<br />

demitir-se de suas funções de Consultor Jurídico do<br />

Banco do Brasil. Retornam ambos ao Rio Grande do Sul,<br />

em março de 1932. Os gaúchos rompem com Getúlio<br />

Vargas. João Neves, uma vez mais, na oposição, busca<br />

nova aliança entre os partidos do Rio Grande, São Paulo<br />

e Minas, para constranger a ditadura e consultar a<br />

Nação em comícios próximos e livres. Pacto político com<br />

São Paulo, cujo termo final seria a posse do primeiro<br />

Governo Constitucional.<br />

(...)<br />

Explode a revolução de 1932 em São Paulo, em<br />

9 de julho. É a saga paulista do constitucionalismo. João<br />

Neves, destemido, voa clandestinamente para São Paulo.<br />

Lá, seu verbo incendeia o Estado, já tocado pela<br />

pregação revolucionária e patriótica de Guilherme de<br />

Almeida, Roberto Moreira e outros.<br />

(...)<br />

A revolução é vencida. É abatido o ideal<br />

constitucionalista. Exílio para seus chefes e comandantes<br />

em Portugal. João Neves, Raul Pilla, Batista Luzardo e<br />

outros buscam o exílio na Argentina.<br />

(...)<br />

Exílio. Dois longos anos. Em 1934, anistiado,<br />

retorna à Pátria. A ideia-força da Aliança Liberal e


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 28<br />

da Revolução de 1932, pela democracia. Assembleia<br />

Constituinte, nova ordem jurídica respaldada em estado<br />

de direito, apossara-se das mentes e consciências.<br />

Respirava-se uma atmosfera de democratização. Getúlio<br />

Vargas é eleito presidente constitucional. Em julho<br />

de 1934 é proclamada a nova Constituição. Ideal<br />

conquistado, lança-se João Neves candidato à Câmara<br />

pela Frente Única dos Gaúchos. Eleito, consolida a<br />

união das oposições sob o nome de “Oposições Coligadas”,<br />

junto com Borges de Medeiros, Arthur Bernardes e<br />

Octávio Mangabeira. Retorna à Liderança da Minoria<br />

Parlamentar. Novamente ressoa nos recintos do Palácio<br />

Tiradentes a voz ardorosa do gaúcho liberal, do magistral<br />

tribuno. Era a “Voz das Oposições Brasileiras”. Era maio<br />

de 1935. Reencontra-se com a tribuna parlamentar, em<br />

libelo vigoroso contra a ação governamental de Vargas,<br />

“ditadura sem rumos”, bradava. Deplora e chora o<br />

fracasso dos ideais de 1930, para ele ainda não atingidos<br />

plenamente.<br />

(...)<br />

Os ideais liberais sempre: nos discursos, nos<br />

debates do parlamento, ao largo do entrechoque das<br />

ideias, radicais de direita da Aliança Integralista Brasileira<br />

e da esquerda da Aliança Nacional Libertadora. Reage<br />

contra o Estado de Sítio, de novembro de 1935, após a<br />

Intentona Comunista, denunciando o perigo do poder<br />

indiscriminado, concedido ao Executivo.<br />

(...)<br />

Fiel a seus princípios, rebela-se contra a prisão<br />

de quatro deputados e um senador: Domingos Velasco,<br />

Abguar Bastos, João Mangabeira e Octávio da Silveira,<br />

e Abel Chermont. Condenados à prisão pelo Tribunal


29 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

de Segurança Nacional, João Mangabeira e Octávio<br />

da Silveira, têm eles João Neves a defender-lhes a<br />

liberdade perante o Supremo Tribunal Militar, qualificando<br />

de bárbaras as sentenças condenatórias.<br />

Sua postura vigilante e crítica do Governo<br />

mantiveram-se mesmo com a suspensão das garantias<br />

constitucionais da imunidade parlamentar. Em 1937, a<br />

campanha sucessória presidencial eleva os debates políticos<br />

e, uma vez mais, aguça a crise.<br />

(...)<br />

Proclama que o Rio Grande do Sul não pleiteia<br />

uma terceira presidência, e, com o Partido Republicano<br />

Rio-Grandense, alia-se à candidatura de José Américo de<br />

Almeida contra a de Armando Sales de Oliveira, lançada<br />

pelo Partido Constitucionalista de São Paulo, de cunho<br />

oposicionista. Singular, dessa vez as contingências políticas<br />

levaram João Neves a marchar com uma candidatura<br />

apoiada pelo situacionismo. Mas os extremismos ameaçavam<br />

o regime, amedrontavam a Nação. Pede o Governo a<br />

decretação do estado de guerra.<br />

(...)<br />

Democrata, cioso da importância do parlamento<br />

para a existência do regime democrático, apela para que<br />

o estado de guerra suspenda apenas certas garantias e<br />

não atinja os direitos. E, ante a prova de confiança<br />

dada pela Câmara ao Executivo e às Forças Armadas,<br />

que também fossem respeitados na integridade os<br />

mandatos parlamentares. Não por eles, mas pela estrutura<br />

democrática.<br />

(...)


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 30<br />

Ao final, pressentindo a gravidade da concessão,<br />

suas inevitáveis conseqüências no amanhã, escora-se em<br />

Ruy Barbosa, para condicionar seu voto às mesmas<br />

ressalvas do voto de Ruy em 1904, quando a revolta da<br />

Armada.<br />

(...)<br />

Ledo engano. Vão os apelos e exortações. Vargas<br />

tinha outros desígnios. Em 10 de novembro de 1937,<br />

instaura o Estado Novo, suspende as eleições presidenciais,<br />

fecha o Congresso, extingue os partidos políticos. É o<br />

autoritarismo imperante.<br />

Frusta-se o sonho liberal. Recolhe-se João Neves<br />

na Consultoria Jurídica do Banco do Brasil. O jovem<br />

Promotor de monografias sobre o “Sigilo Profissional”,<br />

de 1909, em plena liberdade do exercício das profissões,<br />

dogma da doutrina de Augusto Comte, ressurge no<br />

jurista de escol. Além de tribuno, advogado de foro,<br />

dos embates forenses, do contraditório, acostumado a<br />

argumentar para convencer, seus pareceres, na linha<br />

aristotélica do raciocínio, tinham feição e forma de<br />

arrazoados, com forte respaldo na lei e na doutrina,<br />

sobretudo estrangeira.<br />

(...)<br />

Outra questão: dissentiam-se os advogados do<br />

Banco sobre o direito de retenção convencional, de uso<br />

constante do Banco em seus contratos de mútuo com<br />

garantia pignoratícia, João Neves havia concordado com<br />

a glosa dessa cláusula, feita por outro advogado, Dr.<br />

Aluízio Távora, nomeando-a de incabível e contrária ao<br />

direito. Tinha ele a seu favor Afonso Fraga e Carvalho<br />

Santos. Retorna a questão a ser estudada na COJUR


31 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

pelos não menos ilustres advogados, Edmundo Mello<br />

Costa e Camilo Nogueira da Gama, com o apoio de<br />

Martins Napoleão. João Neves revê sua posição e<br />

citando Rippert, para quem ”Dans un monde qui change,<br />

il n'est pas admissible qu'il y ait des verités éternelles”,<br />

passa a admitir, nos contratos do Banco, a cláusula<br />

convencionando a retenção, desde que a coisa se<br />

encontre em poder do retentor. Só pode reter quem<br />

detém [JOÃO NEVES DA FONTOURA – Parecer n° 412].<br />

Pareceres sem conta, despachos de orientação,<br />

de aprovação, formam hoje repositório de doutrina da<br />

Consultoria Jurídica do Banco.<br />

O tempo retempera e amaina paixões,<br />

ressentimentos, melindres. Até entre os altaneiros gaúchos.<br />

(...)<br />

E João Neves reconcilia-se. Em 1940, missão<br />

diplomática em Havana, como delegado do Brasil à<br />

Conferência e embaixador especial do Brasil nas posses<br />

dos presidentes do Panamá e Cuba. Em 1942, a invasão<br />

alemã impediu-o de assumir a Embaixada do Brasil em<br />

Paris. Embaixador em Portugal de 1943 a 1945. Ministro<br />

das Relações Exteriores em 1946, no governo Dutra,<br />

quando chefiou a Delegação do Brasil à Conferência de<br />

Paz em Paris. Pela segunda vez, ministro das Relações<br />

Exteriores, no segundo governo Vargas, de 1951 a 1953,<br />

com inúmeras missões no exterior.<br />

Jornalista também foi, desde redator de O<br />

Debate e de O Rio Grande de sua Cachoeira do Sul,<br />

desde 1910, até sua coluna diária em O Globo. O mesmo<br />

estilo do orador.


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 32<br />

Escritor, ei-lo em A Jornada Liberal (1930, 2<br />

volumes); Por São Paulo e pelo Brasil (Discursos), 1932;<br />

Acuso (libelo político) 1933; Dois perfis – Silveira Martins e<br />

Coelho Neto (ensaios - 1938); Três Orações Acadêmicas - 1943;<br />

Orações Dispersas – 1944; Palavras aos Portugueses – 1945;<br />

A serviço do Itamarati – 1948 – Ruy Barbosa - Orador - 1949:<br />

Poeira das Palavras - 1953; Feitos e Figuras (ensaios –<br />

1959); Uma figura da República – Serzedelo Correia (1959);<br />

Memórias: 1° vol. Borges de Medeiros e seu tempo (1958); –<br />

2° vol.. Aliança Liberal e a Revolução de 1930 (1963).<br />

Acadêmico, da Academia Brasileira de Letras,<br />

em 1936; da Academia Rio-Grandense de Letras; da<br />

Academia de Letras do Uruguai; da Academia de Ciências<br />

de Lisboa; e da Academia Portuguesa de História.<br />

Eis João Neves no plano da história. Como<br />

afirmara ele de Ruy Barbosa, também me é “impossível<br />

empresa abarcar em alguns traços fugitivos da unidade<br />

e o esplendor de sua fama no parlamento, no fôro, na<br />

imprensa, no livro, na política, no governo, na Academia,<br />

na praça pública ou no plenário internacional.”<br />

Senhores acadêmicos, dou por findo este<br />

cometimento prazeroso, cívico, que é penetrar nos fastos<br />

de nossa história, dado-me por vós ao empossardes-me<br />

na Cadeira n° 20, desta Academia, patronímica de João<br />

Neves da Fontoura.<br />

Esta Casa, celeiro de homens públicos, forjadora<br />

de caráter, à qual doei 38 anos de vida, amor de paixão,<br />

não me surpreende. Às portas de tornar-se bicentenária<br />

instituição, sempre incentivadora de ideias, de iniciativas,<br />

de vocações, de ações como esta, criação da Academia<br />

de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.


33 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Agradeço as generosas palavras do ilustre<br />

confrade e Diretor Cultural, Dr. Luiz Augusto Beck da<br />

Silva, com as quais me recebeis nesta Academia. Sei<br />

quanto fraterno e profícuo será meu convívio pessoal e<br />

literário convosco. Relevai-me; mais terei de receber do<br />

que haver de dar-vos.<br />

Senhores, João Neves, colheu-o a morte em<br />

março de 1963.<br />

Para nós, permanece Consultor Jurídico do<br />

Banco. Para o Brasil, insuperável tribuno.<br />

Remanesce o encantamento.<br />

Tenho dito.


AFONSO PENNA JÚNIOR<br />

– Trajetória em ouro e aura<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1932/1937)<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO<br />

Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

1995 / 1998 – 2001 e 2004/2007 – 2010<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 34<br />

Filho de Afonso Augusto Moreira Penna e<br />

Maria Guilhermina de Oliveira Penna, o imortal Affonso<br />

Augusto Moreira Penna Júnior nasceu em Santa<br />

Bárbara (MG), em 25 de dezembro de 1879, e encerrou<br />

suas atividades no plano físico, no dia 12 de abril de<br />

1968, na cidade do Rio de Janeiro. Seu pai, Afonso<br />

Penna, presidiu os destinos do Banco do Brasil<br />

(1895/1898), depois os da República (1906/1909).


35 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Afonso Penna Júnior é o patrono da Cadeira<br />

n° 1 da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do<br />

Brasil. Em épocas distintas, exerceu no Banco do Brasil<br />

os cargos de diretor da Carteira de Liquidações (1930/1931)<br />

consultor jurídico (1932/1937), e consultor jurídico da<br />

SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito (1948/<br />

1951).<br />

Foto n° 1 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Presidência – 14/9/1931 – Diretoria do<br />

Banco do Brasil: sentados, AFONSO PENNA JÚNIOR, PEDRO<br />

LUÍS CORRÊA E CASTRO (presidente interino – 5/9/1931 a<br />

14/9/1931), MÁRIO BRANT; em pé, ILDEFONSO SIMÕES LOPES,<br />

JOSÉ MENDES DE OLIVEIRA CASTRO, FRANCISCO LEONAR<strong>DO</strong><br />

TRUDA e FRANCISCO ALVES <strong>DO</strong>S SANTOS FILHO. – Retrato<br />

original (dimensão: 22,5 x 16,5 cm) – Doação: Maria Lúcia<br />

Affonso Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior, em<br />

23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. – Acervo: Academia de<br />

Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />

Vale ressaltar que essa imagem é o retrato em<br />

grupo mais importante do Banco do Brasil, no qual<br />

aparece o funcionário no exercício do cargo de presidente<br />

do Banco do Brasil, sem precedentes. O acervo, custodiado<br />

pela Academia, abrange 300 fotos de presidentes do Banco<br />

do Brasil, em épocas distintas, de igual importância,<br />

mas ser ter esta singularidade dos idos de 1931.<br />

Foto n° 2 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – PRESI/COJUR – Ano de 1933 –<br />

AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico do Banco do Brasil<br />

(1932/1937), com 1 livro na mão esquerda, e, com a direita faz<br />

gestos de preleção. – Retrato original (dimensão: 13 x 18 cm) –<br />

Doação: Maria Lúcia Affonso Penna Gubert, neta de Afonso<br />

Penna Júnior, em 23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. –<br />

Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />

Foto n° 3 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – PRESI/COJUR – Ano de 1933 –<br />

AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico do Banco do Brasil<br />

(1932/1937), no “bureau” de trabalho, atende ao telefone. –<br />

Retrato original (dimensão: 13 x 18 cm) – Idem, idem.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 36<br />

Foto n° 4 – PALÁCIO <strong>DO</strong> CATETE – Rio de Janeiro – 1948 – Ao centro<br />

AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico da SUMOC –<br />

Superintendência da Moeda e do Crédito (1948/1951). é recebido<br />

pelo marechal EURICO GASPAR DUTRA, presidente da República.<br />

– Retrato original (dimensão: 18,5 x 12 cm). – Doação:<br />

Maria Lúcia Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior, em<br />

23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. Acervo custodiado<br />

pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />

Na esfera acadêmica, foi membro das seguintes<br />

instituições culturais:<br />

membro da Academia Mineira de Letras (Cadeira n°<br />

40, patronímica de Visconde de Caeté);<br />

membro da Academia Brasileira de Letras (Cadeira<br />

n° 7, patronímica de Castro Alves).<br />

Incorporado à Biblioteca Affonso Penna Júnior<br />

do Ministério da Justiça, em Brasília - DF, o volumoso<br />

acervo de obras literárias de Affonso Penna Júnior,<br />

constituído de 18.000 títulos, contendo livros de direito,<br />

finanças, política e economia, foi adquirido por aquele<br />

Ministério, na gestão do ministro Alfredo Buzaid.<br />

Em 27 de março de 1925, ao ser recebido<br />

por Dilermando Cruz na Academia Mineira de Letras,<br />

Afonso Penna Júnior ocupa a Cadeira n° 40, patronímica<br />

de Visconde de Caeté, e ouve seus próprios versos:<br />

“Se na matéria inerte uma alma existe;<br />

Se tudo que nos cerca, pensa e sente;<br />

E pode a pedra bruta, como a gente;<br />

Sofrer ou rir, estar alegre ou triste;” (9)<br />

(9) AFONSO PENNA JÚNIOR -- Apud Discurso de recepção do<br />

acadêmico Dilermando Cruz ao Sr. Afonso Penna Júnior –<br />

Revista da Academia Mineira de Letras – p. 50 – Vol. IV – Belo<br />

Horizonte – Imprensa Oficial – Belo Horizonte – MG – 1926.


37 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Nos idos de 1948, Afonso Penna Júnior,<br />

seguindo a trajetória percorrida por Euclides da Cunha<br />

e Afrânio Peixoto, ingressa na Academia Brasileira de<br />

Letras para ocupar a Cadeira n° 7, patronímica de<br />

Castro Alves. A recepção é de Alceu Amoroso Lima.<br />

No discurso, o orador enaltece as qualidades<br />

nobres do jurista mineiro, despertadas no Colégio do<br />

Caraça, e enfatizou as montanhas caladas de Minas,<br />

onde “nos leva, de tempos em tempos, uma necessidade<br />

invencível de retemperar o ânimo,...” (10)<br />

À consagrada autora de Floradas na Serra, Dinah<br />

Silveira de Queiroz, coube a gloriosa missão de anunciar<br />

a imortalidade de Afonso Penna Júnior, ao tomar posse<br />

na Cadeira n° 7, na Academia Brasileira de Letras,<br />

fazendo referência ao tempo em que viveu Afonso Penna<br />

Júnior, e, com singularidade, destacou a importância dos<br />

juristas na literatura, desde aquela época: “... pois a<br />

grande sementeira dos professores e das obras de direito<br />

estava a produzir seus frutos mais importantes.” (11)<br />

O imortal Alberto Venâncio Filho que nos deu a<br />

honra de assistir, em 7/12/1998, ao II Seminário Banco<br />

do Brasil e a Integração Social, conduzido pelo escritor<br />

Fernando Pinheiro, redigiu o prefácio da obra A Arte de<br />

Furtar e o seu autor, de Afonso Pena Júnior, 1° volume –<br />

2ª edição, publicada pela ABL, ano 2001, e escreveu<br />

anteriormente a matéria Quem furtou a arte de furtar?:<br />

(10) ALCEU AMOROSO LIMA – Discursos Acadêmicos (1948/1959) –<br />

Discurso de recepção – Revista da Academia Brasileira de Letras –<br />

13° volume (p. 57) – Rio de Janeiro – 1961.<br />

(11) DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ – Discursos Acadêmicos (1980/<br />

1984) – Discurso de posse – Revista da Academia Brasileira de<br />

Letras – Volume XXIV – p. 47 – Rio de Janeiro – 1985.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 38<br />

“Em 1946, Afonso Pena Júnior, ampliando os argumentos de<br />

Solidonio Leite, publicou em 2 volumes, pela Livraria José<br />

Olímpio, o livro A Arte de Furtar e seu Autor, em que reafirma a<br />

comprovação da autoria de Antônio de Souza Macedo, com a mais<br />

completa crítica de atribuição.” (12)<br />

Afonso Penna Júnior e João Neves da Fontoura<br />

possuíram em comum a honra de terem sido consultores<br />

jurídicos do Banco do Brasil e, em épocas distintas,<br />

ministros de Estado e membros da ABL – Academia<br />

Brasileira de Letras, hoje patronos da Academia de Letras<br />

dos Funcionários do Banco do Brasil. Ainda com vínculo<br />

histórico com o BB, os imortais da ABL, Afonso Arinos<br />

de Melo Franco, autor da História do Banco do Brasil<br />

(vol. I) e Adelmar Tavares, um dos mais importantes<br />

trovadores do Brasil.<br />

Primeira quinzena de abril de 1968. O luto<br />

encobre as Américas. Nos Estados Unidos é assassinado<br />

Martin Luther King, orador eloquente, líder pacifista,<br />

prêmio Nobel da Paz; no Brasil, Assis Chateaubriand,<br />

o grande capitão, recebe em todo o País homenagens<br />

derradeiras de autoridades civis e eclesiásticas, com<br />

notícias divulgadas pela rede dos Diários Associados<br />

que ele fundou e dirigiu. Encerrava-se um ciclo da<br />

imprensa brasileira.<br />

(12) ALBERTO VENÂNCIO FILHO – Quem furtou a arte de furtar?,<br />

matéria publicada na Coluna Opinião, p. 9, do Jornal do Brasil,<br />

edição de 12 de dezembro de 2000,


39 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Nesse clima de homenagens póstumas, Afonso<br />

Penna Júnior entra em cena para sentir a transcendência<br />

da matéria, em nível mais sutil e etéreo, onde se<br />

deslinda a verdadeira vida que não conhece a morte.<br />

Amado uma vez mais no Salão Nobre dos Poetas Românticos<br />

da Academia Brasileira de Letras, onde sua roupagem<br />

física estava sendo velada para o adeus de mãos frias.<br />

Estavam presentes as seguintes: autoridades:<br />

Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores, Negrão<br />

de Lima, governador do Estado da Guanabara, ministro<br />

Luiz Galloti, presidente do Supremo Tribunal Federal,<br />

Thomaz Leonárdos, presidente do Instituto dos Advogados<br />

Brasileiros; Enéas Martins Júnior, presidente do Instituto<br />

Histórico Geográfico Brasileiro, Austregésilo de Athayde,<br />

presidente da Academia Brasileira de Letras, e ainda os<br />

imortais Afonso Arinos, Josué Montello, Clementino Fraga,<br />

Barbosa Lima Sobrinho, Mário Palmério, Levy Carneiro,<br />

Rodrigo Octávio Filho e Marques Rebelo.<br />

Ao fazer a cobertura da homenagem póstuma,<br />

o Jornal do Commercio comenta:<br />

“Velando o corpo num coro de preces, a viúva do renomado<br />

jurista, D. Marieta Penna e os sete filhos do casal rodeados<br />

pelos dezesseis netos e bisnetos, foram acompanhados em sua<br />

dor pelo advogado Sobral Pinto que foi seu amigo e colega de<br />

profissão, e segundo suas palavras, pronunciadas à beira do<br />

túmulo, um humanista, poeta e sobretudo dedicado a causa<br />

pública.” (13)<br />

(13) JORNAL <strong>DO</strong> COMMERCIO, Rio de Janeiro, sábado, 13, e domingo,<br />

14 de abril de 1968.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 40<br />

Além da numerosa presença de amigos e<br />

familiares, o imortal Afonso Penna Júnior recebeu,<br />

naquela oportunidade, conforme menciona o Jornal do<br />

Commercio a visita de seu sobrinho, Irineu Penna,<br />

monge do Mosteiro de São Bento.<br />

Na referida matéria do matutino carioca foi<br />

divulgado que o religioso proferiu uma prece, junto ao<br />

mausoléu da ABL, no Cemitério de São João Batista.<br />

Em seguida, usaram da palavra os Srs. Enéas Martins,<br />

presidente do IHGB e Sobral Pinto, presidente da OAB.<br />

Momentos difíceis aqueles. A nação americana<br />

chora a morte de seu líder pacifista, o pastor batista<br />

Martin Luther King, e ao mesmo tempo sofre com a<br />

guerra do Vietnã. No meio dessa turbulência social, o<br />

presidente Lindon Johnson descansa, no fim–de–semana,<br />

em sua fazenda do Texas, preparando-se para viajar a<br />

Honolulu, Havaí, onde na terça-feira seguinte estava<br />

marcada uma reunião com o presidente da Coréia do Sul.<br />

Apesar de não termos a capacidade de poder<br />

avaliar a extensão e a grandeza de uma prece fervorosa,<br />

sentimos que essa onda benéfica que se irradiou no<br />

espaço, oriunda das homenagens póstumas de Assis<br />

Chateaubriand e de Afonso Penna Júnior, certamente<br />

cobriu os céus dos Estados Unidos e se acercou da<br />

fazenda texana, onde o presidente Johnson pensava nas<br />

primeiras discussões de paz com o presidente da Coréia<br />

do Sul, Park Chung Hee, com o objetivo de acabar com<br />

a guerra no Vietnã, apesar do crescimento dos gastos<br />

militares dos EUA subirem de 50 para 70 bilhões de<br />

dólares, de 1964 a 1967.<br />

Não é apenas a morte que se anuncia, pois<br />

num nível superior de consciência ela não existe, mas


41 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

também a esperança de vida no corpo físico que se<br />

sente gasto e doente. No mesmo dia corria a notícia<br />

da chegada do médico sul-africano Christian Barnard, o<br />

primeiro cirurgião do mundo a fazer um transplante<br />

de coração.<br />

Os jornais locais divulgam matéria sobre a<br />

vinda de Barnard à cidade do Rio de Janeiro, onde será<br />

homenageado, com o título de Cidadão Carioca, pela<br />

Assembleia Legislativa da Guanabara. Em homenagem<br />

posterior, um banquete oferecido pelo restaurante da<br />

Revista Manchete, em Parada de Lucas, subúrbio carioca.<br />

No clima acadêmico, as homenagens corriam<br />

por conta do centenário do escritor Nestor Vítor e do<br />

maestro e compositor Francisco Braga. Três dias após<br />

a morte de Afonso Penna Júnior, a Orquestra Sinfônica<br />

Brasileira inaugura a série de concertos de assinatura<br />

com o maestro Eleazar de Carvalho, dirigindo a Nona<br />

Sinfonia de Beethoven, com a participação do Coro do<br />

Theatro Municipal do Rio de Janeiro.<br />

Dias antes da inauguração da série de concertos<br />

de assinatura, na mesma semana da morte de nosso<br />

homenageado, o maestro Eleazar de Carvalho regeu a<br />

OSB, apresentando a Paixão segundo São Mateus, de<br />

Bach, a obra–prima do compositor alemão e uma das<br />

mais belas de toda a história da música, criando um<br />

clima de elevada espiritualidade que certamente envolveu,<br />

nos campos material e espiritual, todos aqueles que<br />

estavam ligados, por afinidade, à beleza transcendente.<br />

Considerando que a cura é manifestada pela<br />

luz, som e cor, sugerimos para o deleite dos leitores<br />

manter um clima de elevada espiritualidade ouvindo, na<br />

Internet – YouTube, trechos da referida obra musical:


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 42<br />

Compositor Música Intérprete<br />

Bach Erbarme dich Eula Beal<br />

Bach O Haupt voll Blut und Wunden Holland Boys Choir<br />

Bach St Matthew Passion, Final Chorus Dan–Olof<br />

É oportuno salientar que a ária para soprano,<br />

Erbarme dich, possui várias interpretações, dentre as quais<br />

destacamos a de Christa Ludwig, Giada Amparan, Lena<br />

Belkina, Kathleen Ferrier, Marilyn Horne, Júlia Hamari,<br />

Olga Pyatigorskaya, entre outras. No entanto, a nossa<br />

preferência recai na voz de Eula Beal, conduzida pelo<br />

maestro Antal Dorati, regente da Symphony Orchesta,<br />

Hollywood, com a participação de Yehudi Menuhim, violino<br />

solo.<br />

Na política, sob o regime militar, era a<br />

discussão da portaria do ministro da Justiça proibindo<br />

a ação dos políticos cassados e a manifestação<br />

da Frente Ampla, liderada pelo ex–governador da<br />

Guanabara, Carlos Lacerda, político que se notabilizou<br />

como orador de massas populares.<br />

Com vínculo histórico com o Banco do Brasil,<br />

patrono da Cadeira n° 42, da Academia de Letras dos<br />

Funcionários do Banco do Brasil, Afonso Arinos, dentro<br />

do tempo que marca as homenagens póstumas prestadas<br />

a Afonso Penna Júnior é manchete na coluna Situação<br />

política, do Jornal do Commercio que destaca em primeira<br />

linha: Arinos: parlamentarismo.<br />

Afonso Penna Júnior legou-nos um exemplo<br />

vivo de amor à causa pública. Dentre seus inúmeros<br />

feitos, destacamos o cargo de procurador–geral do TSE –<br />

Tribunal Superior Eleitoral, ao ensejo da promulgação,


43 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

em novembro de 1932, do Código Eleitoral. Foi ele,<br />

portanto, um dos criadores da Justiça Eleitoral no Brasil.<br />

Depois de ter assumido a Pasta da Justiça (1925/<br />

1926), Afonso Penna Júnior sucedeu, em 25/4/1932, a<br />

João Neves da Fontoura no cargo de consultor jurídico<br />

do Banco do Brasil (1932/1937), à época o mais<br />

elevado cargo jurídico da Empresa. A veracidade da<br />

notícia, ampla e anteriormente divulgada, é amparada por<br />

iconografia em nosso poder, onde Afonso Penna Júnior<br />

atende ao telefone (1ª imagem) e profere preleção na<br />

Consultoria Jurídica do Banco do Brasil (2ª imagem),<br />

conforme vimos anteriormente.<br />

Em 2001, com as modificações da estrutura de<br />

cargos comissionados do Banco do Brasil, essa função<br />

permaneceu em vigor, mas foi criado a de Diretor<br />

Jurídico, ambos ocupados pelo jurista João Otávio de<br />

Noronha, atualmente, ministro do Superior Tribunal de<br />

Justiça, membro efetivo da Academia de Letras dos<br />

Funcionários do Banco do Brasil (Cadeira n° 53, patronímica<br />

de Mário Brant).<br />

É oportuno ressaltar que, quando aquela douta<br />

Instituição foi criada em 19/8/1982, o primeiro nome a<br />

compor a honrosa Galeria de Patronos recaiu na amada<br />

lembrança de Afonso Penna Júnior.<br />

Apresentando a trajetória fulgurante de nosso<br />

homenageado, vale destacar que, no Prefácio da obra<br />

Banco do Brasil – Pareceres, de Afonso Penna Júnior, o<br />

advogado Odilon Braga redigiu, na década de 1930, as<br />

seguintes considerações elucidativas:<br />

“Prosseguindo na impressão de seus pareceres de<br />

maior interesse prático e doutrinário, iniciativa de João<br />

Neves da Fontoura, que presentemente a ocupa com


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 44<br />

o mesmo lustre de que ela sempre se revestiu, a<br />

Consultoria Jurídica estampa, neste tomo, os valiosíssimos<br />

trabalhos de Affonso Penna Júnior que a exerceu de<br />

25 de abril de 1932 a 2 de dezembro de 1937.<br />

No primeiro volume desta série, tivemos o ensejo<br />

de perfilar, em grandes linhas, a insigne figura projetada<br />

de José Xavier Carvalho de Mendonça no majestoso<br />

cenário do nosso Direito. Cabe-nos, desta feita, delinear,<br />

a traços largos, a proteiforme expressão pessoal do<br />

incomparável jurista a que tocou a grave, delicada<br />

responsabilidade de orientar a ação do Banco, em uma<br />

das quadras mais difíceis e movimentadas da história<br />

econômica e política da República.”<br />

(...)<br />

“Depois de 1930, começa o Banco a utilizar-se dos<br />

tesouros de sua sabedoria e de sua prudência, por via<br />

não só da Carteira de Liquidações, para a qual fôra<br />

nomeado Diretor, mas igualmente das sessões de Diretoria,<br />

a que pôde levar o valioso concurso de suas luzes.<br />

Pois bem, foi após essa longa, variada e rica<br />

experiência de advogado, professor de Direito, homem<br />

de Estado, Diretor da Carteira de Liquidações que lhe coube,<br />

como Consultor Jurídico, desempenhar-se da tarefa de<br />

colaborar na construção do nosso direito positivo, a partir<br />

de uma de suas estruturas angulares, daquela que se<br />

alicerça na Economia nacional e serve de guia e modelo<br />

para todo o sistema bancário do País.<br />

Dos pareceres que se vão ler, fácil será deduzir<br />

o traço distintivo da época e do homem de que se<br />

originaram.<br />

Se em Carvalho de Mendonça nos foi lícito evidenciar<br />

a índole conservadora e a riqueza de ilustração doutrinária,


45 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

em Affonso Penna Júnior havemos de dar realce primordial<br />

ao ágil temperamento do homme de loi formado nas<br />

contínuas e ásperas pelejas da advocacia, nas amplas<br />

considerações críticas do exercício da cátedra, e nos<br />

excitantes embates da política, setores esses nos quais<br />

o Direito, sem embargo da serena permanência dos<br />

“princípios”, reflete as mutações impostas por irresistíveis<br />

realidades que lhe ativam a circulação vital e lhe<br />

apressam o progressivo evoluir de adaptação ao incessante<br />

variar da vida social.<br />

Sem dúvida, no decurso da prolongada ação<br />

consultiva de Carvalho de Mendonça, ao Banco do Brasil<br />

não faltaram crises, algumas de extrema severidade. O<br />

certo, porém, é que foram de fundo puramente financeiro<br />

e econômico, de mínima repercussão sobre o direito a<br />

aplicar. Este, no seu tempo, se bem que acusando já forte<br />

pressão das tendências socialistas do mundo moderno,<br />

conservava-se fiel à inspiração liberal que tornara possível<br />

a pesquisa científica dos seus elementos anatômicos<br />

e de sua intrincada fisiologia. A índole conservadora de<br />

Carvalho de Mendonça emergia, por conseguinte, dos<br />

seus profundos estudos de uma doutrina e de uma<br />

jurisprudência de demorada e progressiva elaboração, que<br />

ele próprio deveria consolidar e modernizar na imponente<br />

sistematização do Tratado de Direito Comercial Brasileiro.<br />

Chamado a tratar sobre relações jurídicas ordinárias<br />

e de pequena variação, à luz de um direito estável, quer<br />

na ordem pública, quer na ordem privada, pôde ele dar<br />

aos seus curtos e incisivos pareceres, escritos para o Banco,<br />

a feição dogmática autoritária que apresentam, realmente<br />

proveitosa aos agentes administrativos a que se destinavam.<br />

Bem diversa foi a missão reservada a Affonso Penna<br />

Júnior. Este, ao assumir a direção da Consultoria,<br />

encontrava derrubados muitos dos padrões da ordem


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 46<br />

jurídica preexistente, inclusive o seu padrão fundamental<br />

– a Constituição da República. Recebeu-a precisamente<br />

no momento em que o Banco necessitava de um jurista<br />

de têmpera nova, forjada nas tormentas dos tribunais<br />

e dos negócios públicos, capazes de acudir aos apuros<br />

de uma crise geral, financeira, econômica e sobretudo<br />

constitucional, de caráter agudo, íntimo e difuso,<br />

rompente das circunstâncias determinantes da Revolução<br />

de 30 e de sua implantação, crise, além do mais, paralela<br />

à violenta transformação econômica e social de todo o<br />

Ocidente.” (14)<br />

Em seu longo Prefácio sobre a obra Banco do<br />

Brasil – Pareceres, de Affonso Penna Júnior, prossegue<br />

Odilon Braga:<br />

“Dos trabalhos constantes deste volume, fácil será extrair a<br />

convicção da justeza de nossas asserções, se bem que em<br />

muitos outros, infelizmente não publicados por seu caráter<br />

reservado, poderiam ter confirmação ainda mais convincente.<br />

São, pelo comum, obras de fino lavor, cuja leitura ilustra e<br />

seduz”. (15)<br />

A seguir, o apresentador da obra enumera os<br />

principais temas abordados:<br />

(14, 15) ODILON BRAGA Apud Prefácio da obra Banco do Brasil –<br />

Pareceres, de Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. – Rio<br />

de Janeiro – 1941.


47 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

A seguir, o apresentador da obra enumera os<br />

principais temas abordados:<br />

“Isenção tributária dos títulos de empréstimos dos<br />

Estados; validade do pagamento de cheque extorquido;<br />

isenção de impostos de que goza o Banco do Brasil;<br />

juros e comissões dos descontos bancários em face da Lei<br />

da Usura; quota de previdência de bancários; conversão<br />

de faltas em férias; conceituação dos “casos omissos” da<br />

Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil;<br />

novação dos débitos cambiais; e, finalmente, ao formalismo<br />

dos títulos de Armazéns Gerais.” (16)<br />

O jurista Odilon Braga finaliza o Prefácio:<br />

“Em suma: a publicação dos seus pareceres<br />

constitui, de modo geral, valiosíssima contribuição para o<br />

aperfeiçoamento das atividades do Banco do Brasil, mas<br />

de maneira muito especial será de enorme valia para o<br />

resguardo e para a defesa dos seus interesses por parte<br />

dos que servimos na Consultoria e no Contencioso, desta<br />

Capital e dos Estados. Assinala-se, por derradeiro, como<br />

testemunho da referência por todos nós devida ao<br />

Mestre que nos fascinou pelo esplendor de sua aprimorada<br />

inteligência e nos fez cativos do seu convívio pela<br />

fidalguia das maneiras e pela grandeza do coração”. (17)<br />

Ao ensejo do transcurso do 80° aniversário de<br />

Afonso Penna, muitas foram as homenagens recebidas.<br />

Destacamos as palavras de Austregésilo de Athayde,<br />

saudoso presidente da Academia Brasileira de Letras,<br />

(16, 17) ODILON BRAGA Apud Prefácio da obra Banco do Brasil –<br />

Pareceres, de Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. –<br />

Rio de Janeiro – 1941.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 48<br />

na crônica intitulada Mestre Affonso, aos oitenta, na<br />

qual ressalta as qualidades nobres do Mestre Affonso<br />

espelhadas na “ sabedoria do varão probo”, e “o artista<br />

que tem vivido do encantamento da beleza”. O doutor<br />

Athayde acrescenta ainda “o inigualável manejador do<br />

idioma” escrevendo e falando no “mais puro e melhor<br />

quilate”. (18)<br />

Afonso Penna Júnior trazia o dom de conviver,<br />

um jeito manero e mineiro de prosear, alegre e brincalhão.<br />

Vale ressaltar duas frases proferidas por ele:<br />

“Azeite demais apaga a candeia”, referindo-se à<br />

sobriedade no estilo de escrever, frase divulgada no<br />

discurso de posse de Hermes Lima na Academia Brasileira<br />

de Letras – Discursos Acadêmicos – ABL – 20° vol. – p. 22;<br />

“A oratória dele é uma chapadão sem pouso” –<br />

expressão destinada ao orador que demorava a<br />

encerrar o discurso na tribuna, mencionada por Josué<br />

Montello na crônica No centenário de Afonso Pena Júnior.<br />

Encerrando a nossa participação, evocamos os<br />

versos drummonianos que agradecem a Afonso Penna<br />

Júnior pelo muito que ele tem dado ao mundo em<br />

pensamento e arte, no meio da confusão das coisas,<br />

“restaura pelo reto juízo aquela ordem ditada por Minerva<br />

em ouro e aura.” (19)<br />

(18) AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE – in<br />

(19) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE –<br />

09 de janeiro de 1963.<br />

Diário da Noite – 28/12/1959.<br />

in Correio da Manhã –


49 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

UM LUTA<strong>DO</strong>R HUGO NAPOLEÃO<br />

E SUA ÉPOCA<br />

DE<br />

ALUÍZIO NAPOLEÃO<br />

Embaixador da República<br />

Matéria transcrita do um exemplar do livro UM LUTA<strong>DO</strong>R<br />

HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO, que<br />

contém uma dedicatória escrita de próprio punho do autor: “Ao<br />

Senhor Fernando Pinheiro, Presidente da Academia de Letras dos<br />

Funcionários do Banco do Brasil, em que meu Pai é Patrono<br />

de uma das cadeiras, accedo à sua solicitação, com grande<br />

satisfação. Cordialmente, Aluízio Napoleão, Brasília, 1998.”<br />

CONSULTOR JURÍDICO <strong>DO</strong> <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />

(...)<br />

Em 1940, como assinala o biógrafo G. Hércules<br />

Pinto, em seu livro Viriato Corrêa (Edição do autor, Rio de<br />

Janeiro, 1966, pág. 243), meu pai iria comparecer ao


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 50<br />

segundo casamento daquele ilustre e vitorioso escritor,<br />

cerimônia a que estaria presente a intelectualidade da<br />

época. Seu velho amigo da Câmara dos Deputados, desde<br />

1927, o já acadêmico Viriato Corrêa havia convidado<br />

minha mãe e meu pai para padrinhos de seu casamento:<br />

“E na tarde de 28 de dezembro de 1940, Viriato<br />

entrava na Igreja de São Francisco Xavier para realizar<br />

seu segundo casamento. A nave estava repleta de amigos,<br />

conhecidos e curiosos que queriam assistir ao casamento<br />

do famoso escritor, que ia ser realizado pelo Arcebispo<br />

de Goiás, Dom Aquino Corrêa que, na época, ocupava<br />

a cadeira n° 34, da Academia Brasileira de Letras. Foi<br />

um ato pomposo e elegante. Seus padrinhos, como não<br />

podia deixar de ser, foram o Deputado Hugo Napoleão<br />

e D. Matilde Napoleão. A Casa de Machado de Assis<br />

estava representada por grande número de acadêmicos,<br />

entre os quais nos lembramos de Clementino Fraga,<br />

Olegário Mariano, Adelmar Tavares, Múcio Leão”.<br />

Estudando apaixonadamente as questões,<br />

desenvolvendo os seus conhecimentos de Direito, Hugo<br />

Napoleão foi, cada vez mais, apurando a sua cultura<br />

jurídica, tornando-se, com o tempo, pelo refinamento<br />

que lhe dava a experiência, um dos mais abalizados<br />

e conceituados jurisconsultos do País, para o que<br />

contribuía, grandemente, o senso jurídico que se notava,<br />

desde a primeira leitura, nos seus pareceres claros,<br />

sutis, nos quais feria, sem rebuços nem contornos<br />

inúteis, o ponto central da questão do direito versada.<br />

Assim transcorreu a atividade do advogado durante os<br />

anos de 1937 a 1943 na chefia do Departamento do<br />

Contencioso do Banco do Brasil. Neste último ano,<br />

tendo sido o então Consultor Jurídico do Banco do<br />

Brasil, João Neves da Fontoura, nomeado Embaixador


51 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

do Brasil em Lisboa, foi Hugo Napoleão designado<br />

para substituí-lo. Era, na sua profissão, um cargo<br />

altamente honroso, pelos ilustres ocupantes que o<br />

haviam perlustrado, pois além de substituir o ilustre<br />

jurista João Neves da Fontoura, haviam ocupado aquelas<br />

mesmas funções Carvalho de Mendonça e Afonso Pena<br />

Júnior. O Correio da Manhã, de 9 de junho de 1943,<br />

assim noticiou o fato:<br />

“Em virtude de passar a servir no Ministério<br />

das Relações Exteriores como embaixador do Brasil para<br />

Portugal, o Dr. João Neves afastou-se do seu cargo,<br />

também em comissão, de consultor jurídico do Banco<br />

do Brasil.<br />

Agora, por ato do Presidente da República, o<br />

Dr. Hugo Napoleão, que há treze anos vem exercendo o<br />

cargo de chefe dos advogados do mesmo banco, foi<br />

provido nas funções de consultor jurídico, tendo, perante<br />

a respectiva diretoria, tomado posse ontem.<br />

O novo consultor, jurista profissional e antigo<br />

parlamentar, que representou, por muito tempo, o Piauí,<br />

na Câmara, é figura de relevo nos meios culturais<br />

forenses e pelo seu tirocínio tem largo conhecimento da<br />

vida dos contratos e dos negócios do maior instituto<br />

de crédito do país.”<br />

Nesse mesmo dia 9 de julho de 1943, recebia<br />

uma mensagem especial do jornalista Herbert Moses,<br />

Presidente da Associação Brasileira de Imprensa:<br />

“Quando prezado amigo assume alta função<br />

Consultoria Jurídica do Banco do Brasil justo e merecido<br />

reconhecimento seus méritos, Associação Brasileira de


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 52<br />

Imprensa e seu Presidente, interpretando sentimento<br />

jornais e jornalistas, enviam cordiais cumprimentos.”<br />

E, de Lisboa, o novo Embaixador do Brasil, João<br />

Neves da Fontoura, lhe dizia, a 26 de agosto de 1943:<br />

“Só agora com a vinda de minha filha e por<br />

carta de D. Sara (sua secretária) é que tive o prazer<br />

de saber que você é o meu substituto. Aceite meus<br />

sinceros parabéns e meus melhores votos para uma<br />

longa e fecunda gestão nesse honroso posto.”<br />

A 1° de julho de 1943, eram homenageados,<br />

pelos seus colegas, no restaurante do Aeroporto Santos<br />

Dumont, então em voga, Hugo Napoleão, por ter sido<br />

nomeado para a Consultoria Jurídica, e José Raul de<br />

Moraes, para substituir aquele na chefia do Contencioso<br />

do Banco do Brasil. Saudando-os, disse, na ocasião, o<br />

Doutor Vitorino de Magalhães:<br />

“A ocorrência dos advogados do Banco a este<br />

almoço de amizade não tem significação exclusiva de<br />

testemunho abonatório de méritos dos homenageados,<br />

reconhecidamente habilitados e talhados para as funções<br />

que lhes foram cometidas; significa, além disso, e,<br />

principalmente, a satisfação de todos pelo evento que<br />

deu origem a este banquete, implicando também<br />

aplausos ao ato que os consubstanciou.”<br />

O novo Consultor Jurídico do Banco do Brasil<br />

assim agradeceu a homenagem dos seus colegas:<br />

“É esta, a segunda vez que vocês, fora dos<br />

nossos muros, me expressam, em tons de encantadora<br />

gentileza, um tão cativante afeto.<br />

Grande parte, ou quase tudo, bondade e<br />

grandeza de coração, e o restinho conhecimento seguro


53 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

de que eu, durante os treze anos de chefia do<br />

Contencioso, nunca deixei de prestigiar a todos os<br />

colegas, no desempenho de suas funções, mesmo<br />

quando as circunstâncias os colocavam em choque<br />

com os melindres de outros órgãos da nossa Casa,<br />

nem deixei, nunca, de pugnar, com ou sem êxito, por<br />

aquilo que fosse o direito de cada um.<br />

A homenagem de hoje tem âmbito mais dilatado.<br />

No meu modo de entender, a minha nomeação<br />

para o cargo de Consultor Jurídico, com a qual hoje,<br />

nos regozijamos, tem duplo significado; duplo significado,<br />

porque atinge diretamente minha pessoa e, indiretamente,<br />

a todo o corpo de advogados do Banco do Brasil. A<br />

mim, porque fui distinguido, embora imerecidamente,<br />

com tão elevadas funções e porque com esse evento<br />

me foi dado um público atestado da minha conduta<br />

no nosso estabelecimento; e a vocês, porque ela<br />

recaiu num de nós, ficando, assim, patenteado que<br />

a administração do Banco, no nosso setor, considera<br />

bastante a louça de casa.<br />

Por outro lado, o acontecimento nos enche a<br />

todos de alegria por vermos o nosso decano, o<br />

nosso estimado José Raul, na chefia do Contencioso,<br />

onde sempre devera ter estado.<br />

Essas circunstâncias e, mais, a de vir ocupar<br />

um lugar até hoje exercido por nomes tão ilustres,<br />

deixam-me apreensivo diante das responsabilidades que<br />

os novos encargos me acarretam.<br />

Meus amigos, está na nossa consciência e<br />

deve estar na de todos os que trabalham no Banco<br />

do Brasil, que esta possante máquina não poderia


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 54<br />

funcionar no ritmo em que funciona, segura, acautelada,<br />

defendida, sem a nossa ajuda, sem o nosso árduo e<br />

difícil trabalho de obreiros do Direito.<br />

Uma coisa, porém, é imprescindível à eficácia<br />

e ao benefício de nossas atividades – união –<br />

entrosamento – colaboração entre os órgãos do setor<br />

jurídico.<br />

Consultoria e Contencioso (e quando falo em<br />

Consultoria e Contencioso quero referir-me, também, às<br />

assistências jurídicas) não podem ser dois compartimentos<br />

estanques.<br />

Naquele, se exercita a hermenêutica, neste, se<br />

aplica, o Direito. Naquela, faz-se o diagnóstico, neste,<br />

emprega-se a terapêutica.<br />

Diagnóstico e terapêutica em desencontro podem<br />

ocasionar a morte do doente.<br />

Essa colaboração mais necessária se evidencia<br />

na vertigem da hora presente em que a legislação<br />

tem que correr na mesma marcha acelerada com que<br />

surgem os fenômenos e necessidades sociais.<br />

Que a nossa união será propícia ao nosso<br />

bem-estar e fecunda em benefício para o banco, é<br />

claro como a própria evidência.<br />

Por isso, e porque aspire a superar aquelas<br />

responsabilidades apontadas é que, agradecendo, do<br />

fundo do coração, esta cativante e inesquecível<br />

homenagem, em que tivemos o prazer de ouvir o verbo<br />

fogoso do Magalhães, peço aos prezados colegas que<br />

se esforcem por uma mais estreita colaboração entre<br />

os órgãos encarregados do Serviço Jurídico e por uma<br />

estreitíssima e fraternal união entre todos nós.”


55 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Em 14 de agosto de 1943, o novo Consultor<br />

Jurídico do Banco do Brasil iria ter oportunidade de<br />

homenagear o doutor Juan Carlos Arrosa, advogado do<br />

Banco da República do Uruguai, em um almoço<br />

realizado no Jockey Club do Rio de Janeiro. Aquele<br />

jurista viera representar o seu país na II Conferência<br />

Interamericana de Advogados. Assim falou Hugo Napoleão,<br />

saudando o visitante:<br />

“Nós, os que trabalhamos no Departamento<br />

Jurídico do Banco do Brasil, temos muitos, muitos e<br />

gratos motivos para oferecer-lhe esta modesta festa,<br />

a que teve a gentileza de comparecer um dos<br />

organizadores da II Conferência Inter–americana de<br />

Advogados, o nosso ilustrado colega doutor Levi Carneiro,<br />

um dos expoentes da advocacia brasileira.<br />

Em primeiro lugar, meu prezado colega,<br />

somos sabedores de sua simpatia pelo Brasil e pelas<br />

coisas brasileiras.<br />

Presta Vossa Excelência sua eficiente assistência<br />

profissional ao Banco da República do Uruguai, símile<br />

do nosso Banco do Brasil e comunga, por isso, de<br />

idênticos esforços, idênticos trabalhos e idênticas<br />

dificuldades do nosso silencioso labor.<br />

Admiramos a sua cultura jurídica, conhecida<br />

por nós através dos seus trabalhos da Culpa Civil<br />

nos transportes gratuitos, inserto na nossa Revista Forense,<br />

cuja leitura evidencia o magnífico professor de Direito<br />

que é Vossa Excelência, amante da síntese, da clareza,<br />

e da exposição metódica.<br />

Prestando-lhe esta homenagem, Senhor Doutor<br />

Arrosa, no nome dos advogados do Banco do Brasil


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 56<br />

e no meu próprio, quero pedir-lhe que transmita ao<br />

Sr. Embaixador Lusardo nossos agradecimentos por nos<br />

ter ensejado o prazer do seu conhecimento pessoal.”<br />

O ORA<strong>DO</strong>R E O CONFERENCISTA<br />

No dia 18 de setembro de 1943, o Instituto<br />

Nacional de Ciência Política realizou, no salão do<br />

Conselho da Associação Brasileira de Imprensa, uma<br />

sessão, que um dos jornais da época classificou de<br />

importante e significativa pelas palavras pronunciadas<br />

pelos ilustres oradores inscritos – Hugo Napoleão e<br />

Oto Prazeres, Pessoa Cavalcanti e Salvador Mendieta,<br />

Reitor da Universidade de Nicarágua. Com a palavra,<br />

Hugo Napoleão realizou um estudo completo sobre a<br />

história do Banco do Brasil e sua importância para a<br />

economia nacional. (Anexo 25)<br />

(...)<br />

ANEXO 25<br />

A minha palestra não visa, de modo nenhum,<br />

a traçar o histórico do Banco do Brasil, nem tampouco<br />

fixar-lhe a estrutura jurídica.<br />

Tenho em vista, tão-somente, estudar a sua<br />

influência ou atuação na economia nacional, a partir<br />

do advento da Revolução de 1930.<br />

Conservando, sempre, sua estrutura de sociedade<br />

por ações e de banco de depósitos e descontos, é,<br />

todavia, uma das chamadas sociedades de economia<br />

mista, com funções de Banco de Estado, e realizando<br />

inúmeros serviços públicos, por delegação do poder federal.


57 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

É, entre nós, o banco dos bancos,<br />

constituindo-se pela multiplicidade das funções que<br />

exerce, das atividades e serviços que executa, um<br />

verdadeiro sistema bancário, na frase atribuída ao seu<br />

eminente Presidente, Sr. Dr. Marques dos Reis.<br />

Essas múltiplas funções não lhe foram<br />

atribuídas inicialmente, não constaram de sua<br />

organização inicial, decorrem, quase todas – e é isto<br />

que deve ser salientado – das necessidades públicas<br />

na ordem econômica ou financeira.<br />

À proporção que surgia uma crise qualquer, no<br />

comércio, ou na indústria, que necessárias se tornavam<br />

medidas extraordinárias de financiamento a um produto,<br />

como, por exemplo, o açúcar, o café, o algodão, quando<br />

não mais foi possível deixar as atividades agrícolas<br />

sem crédito adequado e organizado, quando mister se<br />

fazia o amparo financeiro a um município ou a um<br />

Estado, era chamado o Banco do Brasil a intervir e a<br />

tudo prover, o que tem tornado o maior propulsor da<br />

economia nacional.<br />

A atribuição, assim parcelada, desses vários<br />

cometimentos, que não faziam parte de seu inicial<br />

programa de ação, e o pleno desempenho que lhes têm<br />

dado, servem bem para patentear a excelência de sua<br />

organização e, sobretudo, de maneira insofismável, o<br />

seu esforço em acudir aos interesses nacionais.<br />

Tomando como ponto de partida o advento da<br />

Revolução de outubro, não devo ocupar-me de fatos<br />

anteriores ao ano de 1930, senão para referir e lembrar<br />

a angustiosa situação econômico-financeira em que nesse<br />

ano se debatia o Brasil em conseqüências da crise mundial<br />

de 1929, com a baixa geral de preços na Europa e na


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 58<br />

América, do malogro da política nacional de estabilização<br />

da moeda e da errônea política de valorização do café.<br />

Uma das preocupações iniciais do governo<br />

revolucionário foi o conhecimento e apuração da dívida<br />

externa da União, dos Estados e dos Municípios.<br />

Impressionado com o resultado do Estudo a<br />

que procedeu, levado a efeito pelo Ministro Oswaldo<br />

Aranha, uma das iniciais resoluções do novo governo,<br />

aliás imperativa, foi, daí em diante, não mais recorrer<br />

ao crédito externo.<br />

Dessa circunstância, nasceu para o Banco<br />

do Brasil, ao lado do suprimento de numerário do<br />

Tesouro Nacional, por antecipação da receita pública, a<br />

incumbência de atender às necessidades dos Estados e<br />

Municípios.<br />

A enumeração do estado atual dessas dívidas<br />

evidencia a forma por que tem o banco acudido as<br />

solicitações dos Estados e Municípios, possibilitando-lhes,<br />

assim, o desenvolvimento de suas economias.<br />

(...)<br />

Outro problema com que se via a braços e<br />

que, logo no seu início teve o governo de enfrentar e<br />

resolver, foi o decorrente da crise bancária mundial,<br />

com pequena repercussão em nosso meio, é certo, mas,<br />

em todo o caso, necessitando de premonição contra<br />

maiores efeitos. Para tanto, foi criada a Caixa de<br />

Mobilização Bancária, mas, encarregado o Banco do<br />

Brasil do financiamento de suas operações, nos termos<br />

do respectivo contrato aprovado pelo Decreto n° 21.621,<br />

de 14 de julho de 1932. Embora esse Instituto tenha,<br />

por sua simples ação de presença, no conceito do


59 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Senhor Artur de Souza Costa, evitado solicitações<br />

imprevistas e desastrosas de depositantes, em uma<br />

palavra, evitando a corrida aos bancos, com ele e<br />

com a Carteira de Redescontos, tornou-se o Banco do<br />

Brasil o banco dos bancos.<br />

Dessa forma, isto é, redescontando títulos de<br />

outros bancos e, mais, executando o controle cambial<br />

e acudindo com numerário o Tesouro Nacional, foi o<br />

Banco do Brasil suprindo a falta de um banco central<br />

de reservas, de que ainda se ressente o sistema<br />

bancário brasileiro.<br />

Ninguém está esquecido da precária e quase<br />

calamitosa situação em que se encontrava a nossa<br />

multissecular indústria açucareira e de como o governo<br />

provisório, logo no seu terceiro ano, melhorou-a,<br />

tornando-a próspera por meio de uma das primeiras<br />

e mais felizes experiências de economia dirigida,<br />

ensaiada na Comissão de Defesa do Açúcar, e, por<br />

fim, consubstanciada na esplêndida afirmação que é o<br />

Instituto do Açúcar e do Álcool. Esse empreendimento,<br />

porém, só se tornou viável e possível com a ajuda<br />

financeira do Banco do Brasil, especialmente no seu início<br />

e quando aquela Comissão teve de financiar as primeiras<br />

safras, independentemente da taxa de três cruzeiros,<br />

posteriormente cobrada por saco de açúcar produzido.<br />

A recomposição do mercado de café, após as<br />

aperturas de 1929, decorrentes do abandono da política<br />

de valorização, só pôde ter lugar pelo Banco do Brasil,<br />

em contrato firmado em 1931, com o antigo CNC.<br />

Com este órgão e através, depois, do DCN, esse<br />

financiamento tem continuado, na forma e extensão


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 60<br />

por que tem sido necessário, mesmo em condições<br />

extraordinárias, como está acontecendo de 1941 para cá.<br />

A crise do algodão paulista, oriunda da<br />

superprodução da safra de 1942/1943 e a da perda dos<br />

mercados europeus e asiáticos, foi julgada pelo Banco<br />

do Brasil, por meio de financiamentos extraordinários,<br />

fora dos limites cadastrais e com base em preços mais<br />

elevados do que aquele em que estava essa mercadoria<br />

cotada.<br />

Refiro-me a esses produtos por serem eles os que<br />

mais influem em nossa economia, mas, certo é que<br />

todos os outros, como o sal, o mate, o cacau, o babaçu,<br />

etc., têm, nos momentos necessários, gozado da intervenção<br />

do benéfico socorro financeiro do Banco do Brasil.<br />

E, se as necessidades de financiamento de<br />

determinado produto decorrem de fenômenos climáticos,<br />

que ocasionam verdadeira calamidade pública, como<br />

aconteceu com o arroz, no Rio Grande do Sul, por ocasião<br />

das últimas enchentes, a ação do Banco do Brasil<br />

sempre se fez sentir imediatamente e pressurosa.<br />

Da mesma forma, se tem beneficiado a indústria<br />

brasileira com o amparo financeiro do Banco do Brasil.<br />

Dentre os casos normais e gerais, cito as facilidades por<br />

ele outorgadas à instalação das indústrias de alumínio,<br />

de papel e da siderurgia, cuja operação inicial, nos<br />

Estados Unidos, só foi possibilitada pela fiança que lhe<br />

deu o Banco do Brasil. Vê-se, do relatório apresentado<br />

pelo Senhor Marques dos Reis à Assembléia de Acionistas<br />

de 30 de abril do ano corrente, que o total empregado<br />

nas atividades industriais puras, isto é, não dependentes<br />

de matérias-primas de sua produção, elevou-se a<br />

514.248 milhares de cruzeiros; nas de beneficiamento e


61 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

transformação de matérias-primas próprias foi de 170.876<br />

milhares. Coube, assim, às indústrias em geral a<br />

importância de 685.124 milhares de cruzeiros.<br />

O problema da criação ou instituição do crédito<br />

agrícola só veio obter solução por intermédio do Banco<br />

do Brasil. Para maior eficiência na distribuição desse<br />

crédito não tergiversou o Banco, pelo seu atual<br />

Presidente, em multiplicar a rede de agências, levando-as<br />

mesmo a afastados lugares do nosso interior, onde a<br />

possibilidade de negócios não permite auferir lucros.<br />

Essas agências, hoje já em número de 246, se<br />

constituem num verdadeiro sistema de irrigação de<br />

crédito ao País inteiro e, do ponto de vista do crédito<br />

agrícola, num dos maiores benefícios que elas prestam à<br />

educação do agricultor, no uso do crédito, a que não<br />

estava acostumado, a qual se exercita pelos conselhos<br />

e fiscalização de seus funcionários.<br />

(...)<br />

Se necessário se torna fazer face aos problemas<br />

decorrentes da situação mundial, criada pela guerra,<br />

estimulando-se e amparando a exportação de produtos<br />

nacionais e assegurando-se condições favoráveis à<br />

importação de produtos estrangeiros, a execução das<br />

providências para tanto necessárias é conferida ao Banco<br />

do Brasil, conforme se verificou com a Carteira de<br />

Exportação e Importação.<br />

Precisam as Nações Unidas que o Brasil lhes<br />

ajude a suprir a falta de borracha decorrente da<br />

cessação da importação desse produto dos países<br />

asiáticos, é o Banco do Brasil chamado a prestar sua<br />

cooperação no sentido do financiamento das safras e no


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 62<br />

incentivo da produção, até que para isso se criasse<br />

órgão especializado. Lança o Governo empréstimo de<br />

guerra, torna-se o Banco do Brasil o maior adquirente<br />

dos bônus que o representam. Por fim, até a Comissão<br />

de Defesa Econômica foi conferida à sua administração.<br />

Além da assistência financeira a entidades ou<br />

serviços públicos, como, por exemplo, à Prefeitura do<br />

Distrito Federal, possibilitando-lhe a execução das obras de<br />

remodelação e embelezamento de nossa capital: a Estrada<br />

de Ferro Central do Brasil, fornecendo-lhe o numerário<br />

indispensável ao acabamento das obras da Estação<br />

D.Pedro II e à aquisição da Companhia Geral de Material<br />

Rodante; ao serviço de águas da Capital da República,<br />

o Banco do Brasil executa, ainda, por delegação,<br />

importantes serviços da competência privativa da União.<br />

O Banco do Brasil é, ao mesmo tempo, banco<br />

comercial, de depósitos e descontos, banco agrícola,<br />

banco industrial, banco hipotecário, banco de redesconto,<br />

banco de exportação e importação, banco de Estado,<br />

banco dos bancos.<br />

Para atender a todas essas atividades, é a<br />

administração do banco auxiliada por selecionado corpo<br />

de funcionários, que nele ingressam mediante concurso,<br />

e cuja competência bem pode ser aferida pela<br />

circunstância de se encontrarem muitos deles prestando<br />

serviços a entidades públicas, bancos e empresas<br />

particulares por todo o País.<br />

Executando tão múltiplas atividades e funções,<br />

o Banco do Brasil, embora continuando a ser um banco<br />

de depósitos e descontos, não se deixa orientar pelo<br />

objetivo de lucros elevados, o que é fácil de comprovar


63 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

pela circunstância de não passar a sua taxa média de<br />

juros da casa dos 7%, que é, entre nós, taxa mínima.<br />

Não tem a preocupação de ganhos exagerados<br />

e, por outro lado, como o deixou patenteado o seu<br />

Departamento de Estatística e Estudos Econômicos,<br />

“nunca perde de vista o inalterável propósito de colocar<br />

a sua política a serviço do conjunto da economia<br />

brasileira, perseverando em um plano sistemático de<br />

assistência às classes produtoras”.<br />

De breve exposição que acabo de fazer, se<br />

concluirá, imperiosamente, que, além de se ter tornado<br />

um dos grandes elementos fundidores da unidade<br />

nacional, é o Banco do Brasil o mais poderoso<br />

instrumento que incentiva, acelera, facilita e propulsiona<br />

a economia brasileira.<br />

(...)<br />

Em 30 de novembro de 1943 foi comemorado<br />

o sexto aniversário de posse do doutor João Marques<br />

dos Reis na Presidência do Banco do Brasil. No<br />

grande salão da assembléia, repleto de funcionários<br />

daquele estabelecimento bancário, diante da Mesa,<br />

composta do General Pinto Aleixo, então, interventor no<br />

Estado da Bahia; João Daudt de Oliveira, Presidente da<br />

Associação Comercial do Rio de Janeiro; dos Diretores<br />

do Banco do Brasil, Pedro Rache, Santos Filho, Gastão<br />

Vidigal, Vilobaldo de Campos, Carneiro de Mendonça<br />

e Souza Melo e do Superintendente Pedro Mendonça<br />

Lima, o Consultor Jurídico pronunciou, em nome do<br />

funcionalismo daquela casa, o discurso de homenagem.<br />

(Anexo 26).


ANEXO 26<br />

ALUÍZIO NAPOLEÃO – 64<br />

As prolongadas férias tribunícias que venho<br />

gozando e a observância da prática do ofício, prudente<br />

e sábia, que desaconselha se emitam pareceres verbais<br />

em assuntos jurídicos e, mais que isso, o receio de<br />

sobrecarregar demasiadamente, com emoções imprevistas,<br />

o coração de um corpo que já escalou e, agora,<br />

descamba pelo outro lado da montanha, fizeram com<br />

que eu passasse para o papel aquilo que aqui pretendo<br />

dizer, em satisfação da honrosa incumbência que me<br />

foi cometida pelos meus dignos colegas.<br />

Sr. Dr. João Marques dos Reis, as homenagens<br />

como esta, que V.Exª vem recebendo, ininterruptamente,<br />

desde o segundo ano de sua administração, não eram,<br />

antes observadas, nem nunca foram comuns.<br />

Por quê? Motivos há e não são poucos.<br />

Não é fácil dirigir esta poderosa máquina que é<br />

o Banco do Brasil, e menos fácil é dirigi-la sob um<br />

consenso geral de aplausos do seu funcionalismo.<br />

É que, senhores, as qualidades de Sua Excelência<br />

o Sr. João Marques dos Reis são excepcionais.<br />

S.Exª é, antes de tudo, um homem de rara<br />

elegância moral. Sabem os funcionários que ele os acolhe<br />

humanamente, ouve-os e, ouvindo-os, se interessa pelo<br />

que ouve, não raro se comove, e providencia sempre,<br />

e sempre que o postulante se encontra acobertado pela<br />

justiça ele a faz, ele a dá e, dando-a, sabe dar. Dá<br />

completamente, dá sem restrições e sem humilhar a<br />

quem pede. Dá logo, dá oportunamente. Dá pondo de


65 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

pé a quem pede, colocando-o no nível em que ele se<br />

encontra. Sabe dar com elegância.<br />

Este acolhimento desprentensioso, amável e<br />

humano gera afeto, produz respeito, inspira gratidão.<br />

Senhor Presidente, igualmente, conhecemos nós<br />

os funcionários do Banco do Brasil, a espontaneidade e<br />

o calor com que V.Eª defende as nossas aspirações<br />

coletivas, e, por outro lado, não ignoramos e não<br />

ignoramos porque V.Exª o diz e repete, que se sente<br />

ufano de pertencer a esta Casa. Esse, aliás, é um fato<br />

que se reproduz.<br />

Como V.Exª, vim de fora para cá, vim de<br />

outras lides, e logo que senti a pujança, percebi<br />

os encargos, verifiquei as realidades, constatei os<br />

empreendimentos de ordem nacional que lhe são<br />

cometidos e, mais do que isso, vi exteriorizado o prazer<br />

de cada funcionário em aqui servir, senti-me orgulhoso<br />

de fazer parte do quadro de funcionários do Banco do<br />

Brasil.<br />

Meus Senhores, conforme eu já o disse, não<br />

é fácil dirigir o Banco do Brasil. Fácil é dirigi-lo<br />

rotineiramente, porque neste aspecto, ele é uma máquina<br />

tão bem montada, com uma organização tão perfeita,<br />

que, pode ser dito, gira e movimenta e anda sozinha.<br />

Mas, nós o sabemos, ele tem finalidades<br />

outras além do simples comércio bancário, e muito mais<br />

complexas, e muito mais importantes.<br />

O Banco do Brasil, eu já o disse, é, ao mesmo<br />

tempo, banco comercial, de descontos e depósitos, banco<br />

agrícola, banco industrial, banco hipotecário, banco de


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 66<br />

redescontos, banco de importação e exportação, banco de<br />

Estado, banco dos bancos.<br />

É um dos grandes elementos fundidores da<br />

unidade nacional, é o mais poderoso instrumento que<br />

incentiva, acelera, facilita e propulsiona a economia<br />

brasileira.<br />

Da grandiosidade dessas funções e cometimentos<br />

deriva para o seu dirigente muita atividade, muita<br />

competência, muitos conhecimentos de ordem geral,<br />

especialmente os que se relacionam com as ciências<br />

econômicas e sociais e, acima de tudo, muito patriotismo.<br />

Sr. Presidente, a sua atividade é patente. Além<br />

de madrugar no banco e dele só sair quando a noite<br />

chega, não acumula, não retarda nem deixa expediente<br />

dormir.<br />

A sua competência vem comprovada de fora,<br />

vem comprovada de sua banca de advogado, da cátedra<br />

de Direito Civil, da Constituinte de 1934, do Ministério<br />

da Viação.<br />

O seu patriotismo, Sr. Presidente, muitas vezes<br />

aqui o temos visto e sentido, acendido, pressuroso,<br />

através de sua destemorosa eloquência, ora profligando<br />

em palavras de fogo e candentes arroubos, as atividades<br />

do quinta-colunismo, ora aplaudindo, com frases<br />

repassadas de beleza e doçura, as atividades das nossas<br />

funcionárias em favor da Cruz Vermelha.<br />

V.Exª possui essas qualidades, e as possuindo,<br />

também, os seus dignos companheiros de diretoria, com<br />

os quais V.Exª vive vida de harmonia, fácil e simples<br />

se torna aquela tarefa. A forma por que V.Exª se<br />

desincumbe de tão complexos encargos está fotografada


67 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

nos relatórios sobre as atividades anuais da sua<br />

administração, os quais se têm constituído, não somente<br />

em exposições do desenrolar da vida que refletem a<br />

vida econômico-financeira da Nação.<br />

Senhores, em uma festa igual a esta, levada<br />

a efeito há quatro anos, foi dito que os funcionários do<br />

Banco do Brasil estavam constituídos em Tribunal para<br />

julgar o Sr. Marques dos Reis.<br />

Pois bem, Sr. Presidente, as ininterruptas<br />

manifestações que, de então para cá, e ano a ano, vêem<br />

os funcionários do Banco do Brasil, com a assistência<br />

da Exmª Diretoria prestando a V.Exª traduzem o<br />

ratificado reconhecimento daquelas qualidades e daquela<br />

atuação de V.Exª e consubstanciam a sentença daquele<br />

tribunal, V.Exª está julgado. A sentença foi proferida.<br />

É sentença irrecorrível. Já não pode sofrer apelo nem<br />

agravo. E por ela foi V.Exª declarado o funcionário n° 1<br />

do Banco do Brasil.<br />

/<br />

Ao usar da palavra, o homenageado reiterou<br />

seus agradecimentos pela demonstração de apreço que<br />

acabava de receber, elogiando, mais uma vez, como<br />

tinha feito em ocasiões passadas, a dedicação, o senso<br />

de dever dos funcionários do Banco do Brasil, que<br />

não são qualidades transitórias, mas representavam<br />

uma continuidade que honrava a tradição daquele<br />

estabelecimento.<br />

No dia 4 de dezembro de 1943, novamente Hugo<br />

Napoleão falaria em nome dos funcionários do Banco<br />

do Brasil, desta vez, em São Paulo, pronunciando um<br />

discurso em virtude da doação, feita por aqueles


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 68<br />

funcionários, de seis aviões a aero-clubes paulistas,<br />

dentro da Campanha Nacional de Aviação, lançada pelos<br />

Diários Associados. Pela beleza da forma e do pensamento<br />

e o toque poético que não lhe está ausente, foi, a meu<br />

ver, um dos mais belos discursos de Hugo Napoleão,<br />

que iria receber, depois, uma referência muito<br />

significativa no discurso pronunciado pelo jornalista<br />

Assis Chateaubriand, criador daquela campanha:<br />

“Já não é fácil usar da palavra nas festas<br />

de batismo de aviões. E não é fácil porque Assis<br />

Chateaubriand, no seu constante e repetido ruflar de<br />

asas pelo espaço infindo da eloqüência, já esgotou os<br />

arcanos de beleza da língua portuguesa, capazes de<br />

exteriorizar a alada e grandiosa e mais brasileira das<br />

cruzadas, de que se armou cavaleiro.<br />

A nenhum povo, como a nós brasileiros, cabe a<br />

glória da conquista aérea, de que Santos Dumont foi o<br />

pioneiro máximo e o máximo realizador na dirigibilidade<br />

dos balões e no primeiro vôo com o mais pesado que<br />

o ar.<br />

Dadas as diversas condições que lhe são<br />

peculiares, nenhum outro país necessita tanto da<br />

navegação aérea quanto o Brasil.<br />

Por isso mesmo é que, cada vez mais, se deve<br />

compreender e exaltar a nobre campanha dos Diários<br />

Associados, que visa povoar de aeronaves os céus do<br />

Brasil.<br />

Nós, os funcionários do Banco do Brasil, assim<br />

o entendemos e podemos compreender, porque o<br />

ambiente em que se desenvolve o nosso trabalho nos<br />

propicia e impele a essa compreensão.


69 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Na realidade, o Banco do Brasil não faz somente<br />

comércio bancário como a muitos possa parecer. Sua<br />

finalidade é muito mais complexa e muito mais elevada. (...)<br />

Além de auxiliar a administração pública no<br />

desempenho das mais diversas e variadas funções, como<br />

as de controlador do câmbio, da exportação e importação,<br />

de agente financeiro da União, dos Estados e Municípios,<br />

ele acode e ampara a agricultura, a indústria e o<br />

comércio, possibilitando, aqui, a siderurgia ou o fabrico<br />

do papel ou do alumínio: ali, jugulando as crises<br />

sobrevindas ao café, ao açúcar e ao algodão; mais além<br />

dando máquinas ao Brasil. Tornou-se, assim, um dos<br />

grandes elementos fundidores da unidade nacional e<br />

o mais poderoso instrumento que incentiva, facilita,<br />

propulsiona e acelera a economia brasileira.<br />

Por outro lado, tem sido sempre um grande<br />

incentivador dos nobres cometimentos, das grandes, das<br />

santas causas da beneficência e da instrução e, no<br />

amparo aos seus servidores, antecipou-se à legislação<br />

que consagrou as conquistas sociais do trabalho.<br />

Como, pois, senhores, aí vivendo e assim<br />

servindo, poderiam os funcionários do Banco do Brasil<br />

deixar de contribuir para a vitória da esplêndida,<br />

magnífica e patriótica cruzada da aviação que Assis<br />

Chateaubriand, em boa hora, tomou aos ombros?<br />

Só poderíamos fazer o que fizemos – a ela<br />

acorrer com pressurosa espontaneidade.<br />

Tão elevado é esse empreendimento que, além<br />

de sua principal finalidade – dar asas ao Brasil – tem<br />

objetivado, nos seus detalhes, lições e práticas de civismo.<br />

De começo, ensejando, nas cerimônias de batismo,<br />

a exaltação patriótica de nomes brasileiros, que foram


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 70<br />

grandes e ilustres nos diversos ramos da atividade<br />

humana. E agora, voltando-se para os nossos rios, na<br />

direção de cujas águas se iniciou o destino do Brasil.<br />

Feliz lembrança! São eles, os rios, a imagem viva da<br />

vida, contendo em si, perenemente e sem cessar, o<br />

movimento e a renovação. São eles os caminhos de<br />

Deus, os caminhos que andam, os veios que fertilizam<br />

a terra, encantam a vista e fazem cismar.<br />

E aqui estão:<br />

O majestoso Amazonas, o mar “dulce” de<br />

Pinzón, o maior do mundo, engrossado por mil<br />

braços, aquele que parece querer dominar o oceano, em<br />

vez de por ele se deixar dominar; que, carreando<br />

mundos no seu dorso, acrescendo e vitalizando as terras<br />

da Sul–América; ora doce e tranqüilo, ora enfurecido<br />

pela “pororoca”; enfeitiçado pela Iara, inebriado pelo<br />

canto do uirapuru; servindo a mais de uma pátria,<br />

quer demonstrar que é imperativa a solidariedade do<br />

continente sul-americano.<br />

E o São Francisco, o mais brasileiro deles, o<br />

rio dos currais, das entradas, que, na nossa infância,<br />

firmou os alicerces do povoamento; o carreador do ouro<br />

de Minas Gerais, escrínio dos sete saltos que formam<br />

Paulo Afonso; desafogo da hora sombria que vivemos<br />

quando, dificultada a costa atlântica, pelos selvagens da<br />

civilização, pôde impedir o insulamento das nossas regiões;<br />

e assim, mais uma vez, alertar o Brasil, mostrando-lhe<br />

que ele é o traço– de–união entre o Norte e o Sul, é o<br />

rio da unidade nacional e, como tal, deve ser tratado.<br />

E o Tietê, paulista da gema, o velho Anhembi,<br />

caminho das bandeiras sulinas, trilha de Manoel Preto e


71 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Raposo Tavares para a conquista do Guaíra, recolhimento<br />

dos goianos trazidos por Fernão Dias Paes, acesso das<br />

monções às minas, vivo testemunho da audácia e do<br />

heroísmo do povo paulistano.<br />

O Paraná, que mandando águas brasileiras<br />

beijar as terras paraguaias e as areias de Buenos<br />

Aires, evidencia os sentimentos do Brasil para com os<br />

seus irmãos do Continente.<br />

O Mamoré, servidor de 2 amigos – Bolívia e Brasil.<br />

O Parnaíba, doce evocação!<br />

Lembrando da minha infância. O piedoso<br />

Parnaíba que, dos contrafortes da Serra da Tabatinga,<br />

lançou um dia seus dois olhos sobre a planície da terra<br />

piauiense e, vendo-a crestada, sobre ela derramou as<br />

suas lágrimas fecundantes.<br />

Parnaíba, sereno Parnaíba, que refletes em<br />

tuas águas as copas dos buritizeiros.<br />

Rio das Garças.<br />

Rio da saudade.<br />

Rio da saudade do nosso poeta Da Costa e Silva:<br />

“Saudade! – O Parnaíba, velho monge,<br />

as barbas brancas alongando... E, ao longe,<br />

o mugido dos bois de minha terra.”<br />

Amazonas, São Francisco, Tietê, Paraná, Mamoré,<br />

Parnaíba, voai no dorso dessas águas, voai pelos lindos<br />

céus da Paulicéia.”<br />

Diante da eloquência do tribuno piauiense, o<br />

velho jornalista, Assis Chateaubriand, conhecedor e<br />

descobridor de inteligências, assim falou, ao referir-se ao<br />

orador (O Jornal, de 10 de dezembro de 1943):


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 72<br />

“Representa o vosso presidente, no ato dos<br />

batismos de hoje, o grande tribuno nortista, parlamentar de<br />

largo fôlego, que é o Dr. Hugo Napoleão. Se devêssemos<br />

ganhar uma batalha hoje, estaria de antemão garantida a<br />

sua vitória pelo verbo de um orador e poeta da palavra,<br />

que se chama Hugo, e pela espada de um general, que<br />

se denomina Napoleão. Os dois reis, do pensamento e das<br />

batalhas, se reúnem no vosso peregrino intérprete, padrão<br />

da inteligência e da cultura do norte de nossa Pátria.”<br />

1943 foi o ano dos discursos e das conferências,<br />

em que o orador parlamentar e o advogado se fundiam,<br />

na exteriorização do pensamento. Uma de suas mais<br />

significativas orações, dedicada ao vulto de Carvalho de<br />

Mendonça, um dos maiores comercialistas brasileiros,<br />

revela o seu pendor jurídico e o trato de um tema em<br />

que se sentia perfeitamente à vontade. Ao inaugurar-se o<br />

busto, em bronze, de Carvalho de Mendonça, oferecido ao<br />

Tribunal de Apelação do antigo Distrito Federal pelos<br />

advogados do Banco do Brasil, o Consultor Jurídico,<br />

Hugo Napoleão, assim se referiu à figura do sistematizador<br />

do Direito Comercial brasileiro:<br />

“Nós, os advogados do Banco do Brasil, tomamos<br />

a deliberação de oferecer a este egrégio Tribunal, por<br />

intermédio do seu eminente Presidente, o busto, que ora<br />

se inaugura, trabalhado em bronze pelo reputado escultor<br />

brasileiro Leão Veloso, e representativo da excelsa figura<br />

do Dr. José Xavier Carvalho de Mendonça que, por longos<br />

anos, prestou àquele estabelecimento de crédito os<br />

mais relevantes serviços, na qualidade de seu Consultor<br />

Jurídico. Em tão alto reconhecimento são tidos esses<br />

serviços pela Administração do Banco do Brasil, que seu<br />

eminente Presidente, Sr. Dr. João Marques dos Reis, jurista


73 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

como nós e emérito, tendo a justa compreensão do nosso<br />

desejo, perfilhou-o, tomando assim o encargo desta dádiva.<br />

Para nós, Sr. Presidente, este ato, expressando a<br />

manifestação pública do nosso reconhecimento e da nossa<br />

saudade pelo eminente Mestre, de quem recebemos,<br />

pessoal e diretamente, os esclarecidos ensinamentos, se<br />

constituem em motivo de grata satisfação. Para vós,<br />

Srs. Juízes, será, estamos certos, igualmente grato<br />

guardar o precioso bronze, que relembra o grande<br />

jurista, nas lições de quem, muitos dos julgados<br />

dos nossos Tribunais se inspiraram. Guardai, egrégio<br />

Tribunal, e guardai com carinho e veneração, porque<br />

ele, o sistematizador do Direito Comercial brasileiro, assim<br />

o merece e bem, e justamente.<br />

Sistematizador. Na realidade, o sistematizador do<br />

Direito Comercial brasileiro, esse trabalhador infatigável.<br />

A remota circunstância de se haver conservado,<br />

por longo tempo o Direito Comercial, como mero ramo do<br />

Direito Privado, mas sem disciplinação autônoma, e, mais,<br />

o fato de, só em época relativamente recente, se ter<br />

operado o desenvolvimento das nossas relações comerciais,<br />

determinou, entre nós, maior intensidade no estudo e<br />

maior aperfeiçoamento na disciplinação do Direito Civil,<br />

como aliás aconteceu por toda a parte, durante os<br />

séculos de efetiva dominação do Direito Romano. Daí e<br />

da necessidade de se disciplinarem, às pressas, as<br />

novas relações jurídicas que a rápida expansão da vida<br />

do comércio fez surgirem, nestas últimas décadas,<br />

resultou, com a modificação quase completa do nosso<br />

velho Código de 1850, o caos da nossa legislação


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 74<br />

comercial constante de diplomas esparsos, fragmentados,<br />

sem orientação, sem unidade.<br />

No reinado dessa confusão, tortura do<br />

profissional de Direito, aparece o orientador, o<br />

disciplinador, o sistematizador – Carvalho de Mendonça –<br />

para juntar-se a outras glórias de nossas letras<br />

jurídicas, aos lineadores principais do Direito Brasileiro<br />

– Ramalho, Paula Batista, Pimenta Bueno, Teixeira de<br />

Freitas, Carlos de Carvalho, Tobias, Lafayete, Clóvis<br />

Bevilacqua, conforme já acentuou Spencer Vampré.<br />

E que trabalho beneditino! Do conhecedor<br />

universal da literatura jurídica comercial, do experiente<br />

advogado de bancos e empresas, do observador dos<br />

usos, costumes e praxes das Bolsas e associações, do<br />

crítico, dos julgados de todos ou quase todos os juízes<br />

e Tribunais brasileiros, do colecionador de avisos e<br />

regulamentos, do administrador, do antigo professor, do<br />

juiz, do grande estudioso e, sobretudo, do infatigável,<br />

do impertérrito trabalhador, de tudo isto quanto foi<br />

Carvalho de Mendonça, surgiu a disciplinação do nosso<br />

Direito Comercial consubstanciado do seu Tratado de Direito<br />

Comercial.<br />

O que acabo de dizer, vós o sabeis, de sobra,<br />

senhores, porque nenhum homem que viva da vida do<br />

Direito, no Brasil, poderá prescindir dos ensinamentos<br />

desse magnífico Tratado de Direito Comercial. Nem estou<br />

aqui para traçar a biografia ou fazer o estudo da<br />

grande obra, do grande jurisconsulto, que se estende à<br />

inspiração e à factura de muitas de nossas leis, como,<br />

por exemplo, o Decreto n° 2.044, de 31 de dezembro<br />

de 1908. Não será, porém, demais que acentue a forma


75 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

despretensiosa e inigualável por que ele trabalhou na<br />

construção do nosso Direito Comercial, criticando, com<br />

independência, o erro de uns, ou salientando o acerto<br />

de outros dos nossos julgados, mostrando vícios e<br />

defeitos da nossa legislação, profligando, com altivez,<br />

a ausência de nosso patriotismo, de técnica ou de<br />

conhecimento de alguns legisladores expondo com<br />

sabedoria, mas sem exibições inúteis de erudição as sãs<br />

doutrinas, confessando, sem constrangimento, os erros em<br />

que incidiu e, acima de tudo, com elevada preocupação<br />

de fazer obra brasileira, genuinamente brasileira.<br />

Ao lado de tão elevadas, raras e peregrinas<br />

qualidades de Carvalho de Mendonça, reveladas através<br />

das circunstâncias, tão ligeiramente apontadas, na feitura<br />

do seu Tratado ou nas manifestações da sua vida de<br />

jurista, desejo, finalizando esta breve oração, relembrar,<br />

senhores juízes, que a grande elevação com que<br />

exercitou ele a sua vida de advogado, observando com<br />

o mais estrito rigor e ética profissional, praticando a<br />

mais rigorosa honestidade, ora rejeitando o patrocínio de<br />

causas que julgava injustas, ou de direito precário,<br />

ora emitindo pareceres contra pretensões dos próprios<br />

constituintes ou consulentes, tornou-o, no exercício da<br />

sua profissão, não somente um perfeito advogado, mas,<br />

também, um juiz probo e reto.<br />

Recebei, por isso, sem rebuços, senhores<br />

desembargadores, o busto que lembra a sua excelsa<br />

figura. Recebei-o. Podeis recebê-lo sem constrangimento.<br />

A sua presença não deslustrará este recinto, nem<br />

molestará a dignidade da Justiça.”


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 76<br />

PUBLICAÇÃO DE UM LIVRO DE PARECERES<br />

Coroou, assim, meu pai, o ciclo de conferências<br />

e discursos, naquele fim do ano de 1943, com um<br />

estudo sobre o patrono da Consultoria Jurídica, seu<br />

antecessor no cargo, falando em nome do corpo de<br />

advogados do Banco do Brasil. 1944 não decresceria na<br />

produção jurídica do então consultor. Pelo contrário. Iria<br />

ser um ano marcante, pela publicação do seu volume<br />

de Pareceres, em edição privada daquele estabelecimento<br />

de crédito. Nele, estão consubstanciadas as suas melhores<br />

produções jurídicas, numa seleção feita pelo próprio<br />

autor. Na sua seção “Livros e Autores”, O Globo, de<br />

14 de dezembro de 1944, assim saudou o aparecimento<br />

do livro de Pareceres:<br />

“Hugo Napoleão é um nome bastante conhecido<br />

nos meios jurídicos do País. Primeiramente na Câmara<br />

dos Deputados, onde, como representante do Piauí, teve<br />

ensejo, quer nas comissões técnicas, quer em plenário,<br />

de versar os mais complexos problemas de Direito, e<br />

depois na advocacia e no Banco do Brasil, como consultor<br />

jurídico.<br />

Hugo Napoleão, pela sua inteligência e pela<br />

sua dedicação ao trabalho, firmou, entre os seus colegas,<br />

um conceito dos mais brilhantes e acatados.<br />

Ainda agora o Banco do Brasil vem de reunir<br />

em volume os pareceres emitidos pelo ilustre jurista,<br />

como chefe do Departamento do Contencioso e como<br />

consultor jurídico. É uma edição de caráter privado,<br />

porque se destina a uso exclusivo no nosso principal<br />

estabelecimento de crédito. Nem por isso, entretanto,<br />

de menor valia jurídica, tal a importância dos assuntos


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abordados. Especialmente as questões de Direito Comercial<br />

e Cambial mereceram cuidadoso estudo do ex-parlamentar<br />

piauiense. São oitenta pareceres que revelam a<br />

inteligência e a cultura de seu autor e que muito<br />

contribuirão para facilitar a solução de problemas que<br />

objetiva e que são diariamente causa de demandas<br />

no Judiciário.”<br />

Meu pai teve o prazer de receber, nessa<br />

ocasião, palavras de estímulo e admiração de inúmeros<br />

amigos e de figuras exponenciais que lhe testemunharam<br />

o seu interesse pela leitura do seu livro de pareceres,<br />

entre os quais se encontram Francisco Morato, José<br />

Bonifácio de Andrade e Silva, Levi Carneiro, Alencastro<br />

Guimarães, Luís Galloti, Valdemar Ferreira, Ricardo Xavier<br />

da Silveira, Alcebíades Delamare, Gudesteu Pires, Negrão<br />

de Lima, Pedro Aleixo, Mário Acioly, Laudo de Camargo,<br />

Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Barreto Filho, João<br />

Vicente Campos e Alberto Diniz.<br />

Dentre essas opiniões, destaco apenas a de um<br />

espírito brilhante de sua terra, de seu ex-secretário, o<br />

advogado piauiense Cláudio Pacheco, jovem jornalista e<br />

causídico de raro talento, que, em 14 de março, dizia, de<br />

Teresina, ao autor de Pareceres, sem dúvida na melhor<br />

e mais completa apreciação feita àquela obra, que<br />

tanto sensibilizou meu pai naquela ocasião:<br />

“Li atentamente todos os pareceres. Eu já<br />

conhecia muito dos pareceres que foram elaborados antes<br />

de 1933, quando o senhor os escrevia numa fase de<br />

intensas atividades. Mas em todos eles se mantém alto<br />

o nível de pensamento, de cultura e de forma. A<br />

clareza, a transparência de expressão e a capacidade<br />

de síntese foram sempre as melhores características de


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 78<br />

sua inteligência e como que o predestinavam a ser<br />

um notável consultor jurídico. Por isto mesmo, pela<br />

projeção muito adequada daquelas qualidades mentais na<br />

elaboração de cada parecer, nota-se que cada trabalho<br />

tem a sua própria unidade, é completo e acabado no<br />

desenvolvimento da idéia principal. Em cada parecer, o<br />

pensamento como que realiza um ciclo completo. Também<br />

sobressaem outros aspectos qualitativos. Na conclusão<br />

de cada parecer nota-se aquele cunho próprio ao homem<br />

de ação, aos espíritos dominadores e ascendentes, que<br />

se revela na plasticidade das conclusões, na seleção<br />

do alvitre mais acertado e mais adaptável. Muitas vezes<br />

o ponto de vista jurídico comporta diversas soluções<br />

igualmente lícitas e aceitáveis, de modo que a escolha da<br />

solução mais profícua já não é mais uma função da<br />

cultura e sim um ato de intuição em que os homens<br />

de ação, pelo seu melhor conhecimento da realidade,<br />

sobrelevam os homens de gabinete. Salienta-se ainda<br />

nos pareceres a inteireza moral das convicções, a<br />

intransigência de opinar sobre a exclusiva inspiração da<br />

verdade jurídica, sem conveniências vacilantes e sem<br />

intenções de agrado. Com efeito, em nenhum dos pareceres<br />

se nota aquela argumentação artificiosa, aquele apego a<br />

fórmulas vazias e aquele malabarismo de idéias que,<br />

mesmo a despeito de um estilo brilhante ou do luxo de<br />

conhecimentos e citações, sempre revelam ao observador<br />

atento a trama de intuitos ou objetivos inconfessáveis.<br />

Por tudo isto é que eu disse que existe uma<br />

constante de elevação de nível em todos os pareceres.<br />

Estou fazendo assim uma apreciação geral, que comporta<br />

exceções num e noutro sentido: São naturalmente<br />

excluídos de comentário aqueles pareceres que, conforme<br />

explica o prefácio, “versando assuntos sem transcendência


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ou sobre que não haja controvérsias”, são publicados<br />

apenas para utilidade interna do banco e que propriamente<br />

não se classificam como pareceres e sim como meras<br />

notas de orientação. Por outro lado, merecem apreciação<br />

destacada certos trabalhos que se elevam a maiores<br />

altitudes. Por exemplo: o Parecer n° 9, tratando da<br />

acumulação de percentagens do Diretor do Banco do<br />

Brasil, destaca-se de modo especial por ser um trabalho<br />

original, sem apoio ou inspiração em opiniões alheias,<br />

em que o pensamento do consultor se desenvolve<br />

livremente, com força penetrante, na exclusiva elaboração<br />

de convicções próprias. A respectiva conclusão é uma<br />

afirmação de princípios de moralidade e de predominância<br />

da via processual. O Parecer n° 23, tratando dos<br />

contratos de compra e venda entre ausentes, é um notável<br />

trabalho de doutrina jurídica e de argumentação aplicada,<br />

destacando-se ainda pela inteireza da conclusão.<br />

Recomendando o respeito ao direito de defesa e à<br />

liberdade de pensamento, o Parecer n° 30 reflete uma<br />

firmeza de convicções democráticas que antecipam as<br />

tendências atuais. O Parecer n° 74, que discute a<br />

estrutura jurídica do Banco do Brasil, além de ser um<br />

trabalho de fôlego, é um modelo daquela difícil operação<br />

mental que, partindo de ideais gerais, chega a conclusões<br />

concretas através de uma perfeita transição de raciocínio.<br />

Chego à conclusão final de que a sua função<br />

de consultor jurídico do Banco tem os requisitos de<br />

uma daquelas posições excepcionais em que um homem<br />

pode considerar que realizou integralmente as suas<br />

capacidades e pode considerar-se saciado e feliz. No<br />

nosso País, esta Consultoria é um dos supremos postos<br />

culturais. A maestria dos seus pareceres mostra que<br />

o senhor está, mental e culturalmente, à altura da


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 80<br />

função, por mais alta que ela seja. Isto é saciante,<br />

venturoso, esta rara coincidência da capacidade do<br />

homem com a plenitude da posição atingida. Acho que<br />

somente os seus impulsos de homem de ação não se<br />

acham saturados, se é que a idade madura já não os<br />

refreou...<br />

Já que me estou dirigindo a um consultor, não<br />

quero terminar sem fazer-lhe também a minha consulta.<br />

Leio no prefácio que o volume de pareceres tem “o<br />

caráter de edição privada, destinada a uso exclusivo do<br />

estabelecimento” e me sinto em dúvida se me é permitido<br />

fazer citações dos pareceres em razões forenses ou mesmo<br />

publicar estas apreciações. Será que o caráter de edição<br />

privada exclui a posse do volume por pessoas estranhas<br />

ao banco, de modo que a remessa de um exemplar a<br />

mim foi apenas um ato de estima pessoal, sem me<br />

dar o direito de qualquer invocação profissional das<br />

autorizadas opiniões? Peço-lhe uma resposta que me<br />

resolva estas dúvidas.”<br />

Meu pai iria receber, sempre, desde a publicação<br />

de seus Pareceres, notícias de referências aos mesmos,<br />

de várias partes do País, em que advogados ou juízes<br />

consultavam aquela obra, o que lhe dera um real prazer.<br />

Recentemente ainda, o professor Simplício de Souza<br />

Mendes, seu colega na Faculdade de Direito do Recife,<br />

em artigo sobre Hugo Napoleão, publicado em jornal de<br />

Teresina, iria dizer:<br />

(...)<br />

“As relações jurídicas são consideradas e<br />

discutidas com a segurança, o saber e o mérito de<br />

um jurista, que realmente, com sentimento de justiça,<br />

não se pode negar ao autor.”


81 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

(...)<br />

DEFESA DA OPERAÇÃO PAN-AMERICANA<br />

O discurso no qual o Presidente Juscelino<br />

Kubitschek se dirigiu aos embaixadores dos paísesmembros<br />

da Organização dos Estados Americanos,<br />

acreditados no Rio de Janeiro, tivera profunda repercussão<br />

não somente no Brasil como, também, no exterior,<br />

pela política clara de combate ao subdesenvolvimento<br />

continental, que pregava, propondo a sua total revisão<br />

através do movimento a que chamou de Operação Pan-<br />

Americana. Mais uma vez o Deputado Hugo Napoleão<br />

ocuparia a tribuna da Câmara dos Deputados para tecer<br />

comentários judiciosos sobre aquela operação de caráter<br />

continental e de larga envergadura, sendo dos primeiros,<br />

como já vimos, a apoiá-la publicamente, propondo,<br />

mais uma vez, a transcrição, nos Anais daquela Casa<br />

do Congresso, do importante discurso do Chefe da Nação,<br />

na sessão de 23 de junho de 1958:<br />

“Senhor Presidente, Senhores Deputados. Na<br />

qualidade de membro da Comissão de Relações Exteriores<br />

da Câmara, sinto-me no dever de tecer algumas<br />

considerações sobre um documento da mais alta valia<br />

para os povos deste continente. Refiro-me, Senhor<br />

Presidente, à monumental oração pronunciada pelo<br />

Presidente Juscelino Kubitschek na memorável noite do<br />

dia 20 deste mês sobre a chamada “Operação Pan-<br />

Americana”. Sua Excelência, com a clareza de suas<br />

frases simples, que toda a Nação já se acostumou a<br />

ouvir, traçou, de forma candente, os verdadeiros<br />

rumos de uma sadia política interamericana, cujos


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 82<br />

fundamentos podem, inclusive, ser encontrados na<br />

admirável doutrina do imortal Franklin Roosevelt.<br />

Sensível a esses notórios prenúncios de<br />

desequilíbrio que vem ameaçando a unidade americana,<br />

o Presidente brasileiro vestiu-se da coragem que nunca<br />

lhe faltou e, no momento exato, com clarividência e<br />

oportunidade, apontou aos povos do hemisfério o mal<br />

de natureza grave que tem minado o organismo de<br />

nossas nações latinas e de que os mais recentes<br />

pruridos de agitação social são indiscutível sintoma: o<br />

subdesenvolvimento.<br />

Realmente, Senhor Presidente, a pobreza gera<br />

conflitos incontroláveis e cria perigos de conseqüências<br />

imprevisíveis, sobretudo quando o desespero de que é<br />

causa ameaça contaminar, senão empolgar uma nação<br />

inteira ou um grupo de nações, unidas no mesmo<br />

destino, vítimas do mesmo mal e filhas do mesmo<br />

ideal político, social e econômico.<br />

O Brasil, que começa de maneira fecunda, sob<br />

a dinâmica do Presidente Kubitschek, o ciclo de sua<br />

industrialização, tem o dever de convidar os seus irmãos<br />

da América para a revisão de uma política interamericana<br />

que não tem frutificado de modo promissor. É preciso<br />

voltar à política de boa vizinhança, praticada sob as<br />

mais nobres inspirações, a fim de que possamos, como<br />

dantes, proclamar com orgulho a pujança de nossa<br />

união perante o mundo. Só assim poderemos participar,<br />

com destaque, das assembleias que lutam por evitar o<br />

choque entre dois mundos que já tomam posição para<br />

um combate brutal das mais terríveis conseqüências.


83 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Neste sentido, as advertências do Presidente<br />

Juscelino Kubitschek valem como um programa quando<br />

diz:<br />

“A causa ocidental sofrerá incalculavelmente se<br />

lhe faltar apoio no próprio hemisfério em que o avanço<br />

do sistema materialista encontra resistências morais<br />

mais decididas.”<br />

(...)<br />

Palavras corajosas e cheias de entusiasmo, que<br />

merecem, por isso, a solidariedade continental. Definem<br />

uma doutrina e marcam o tônus do verdadeiro panamericanismo;<br />

pan-americanismo ativo e realista, nos<br />

moldes do que S. Exª vem praticando com os povos<br />

vizinhos.<br />

Bem haja o Chanceler Macedo Soares que, num<br />

esforço que tem comovido a Nação, superando-se a si<br />

mesmo, num desdobramento de ação deveras admirável,<br />

tem sabido, com sua experiência sedimentada em grandes<br />

trunfos diplomáticos e com seu devotamento inexcedível,<br />

cumprir o Programa Kubitschek para a América, baseado<br />

na mais íntima aproximação e entendimento entre os<br />

povos do continente.<br />

Bem haja o Presidente Juscelino Kubitschek,<br />

estadista de extraordinária visão, que, com seu<br />

memorável discurso, situou-se entre os maiores paladinos<br />

da Doutrina Pan-Americana, proclamando verdades que,<br />

como acentuou,<br />

“... precisam ser ditas e reconhecidas enquanto é<br />

tempo”, já que, ainda segundo as palavras magníficas<br />

de Sua Excelência,


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 84<br />

“A união das Américas, além de um ideal, é um<br />

imperativo da nossa sobrevivência.”<br />

A franqueza, embora dura, evita desconfianças.<br />

Os povos irmãos saberão tomar as palavras do Presidente<br />

brasileiro como uma advertência amiga, como um<br />

caminho aberto para a consolidação da unidade<br />

continental, como a integração social nessa unidade<br />

continental. Assim como os Estados Unidos da América<br />

se tornaram, antes da Segunda Guerra Mundial, o<br />

arsenal das democracias, o nosso continente, nesta nova<br />

fase de incertezas universais, poderá ser convertido, com<br />

a execução da “Doutrina Kubitschek”, em laboratório<br />

criador da redenção econômica dos povos americanos.<br />

São esses os nossos votos; é essa a nossa esperança.<br />

Terminando, Sr. Presidente, solicito seja, na sua<br />

íntegra, transcrito, nos nossos Anais, o discurso do<br />

Senhor Presidente da República.”<br />

No dia 11 de julho de 1958, o Brigadeiro<br />

Francisco Correia de Melo, Ministro da Aeronáutica,<br />

procedeu à entrega, em reunião solene, da Medalha<br />

Santos Dumont a vários agraciados, especialmente<br />

congressistas, por decreto do Presidente da República,<br />

entre os quais se encontrava Hugo Napoleão.<br />

Dias depois, falando à Tribuna da Imprensa (17<br />

de julho de 1958), o Deputado Hugo Napoleão desfazia<br />

dúvidas sobre a notícia de que as tropas brasileiras<br />

que seriam enviadas para a zona do canal de Suez<br />

poderiam ser empregadas na luta que se travara no<br />

Oriente Próximo, afirmando que, sem autorização do<br />

Congresso Nacional, as tropas brasileiras que policiavam<br />

aquela zona não poderiam ser empregadas naquele


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conflito, acentuando que qualquer deslocamento dos<br />

nossos pracinhas devia ser motivo de estudo por parte<br />

dos congressistas. E acentuava:<br />

“A tropa do Brasil foi enviada à zona do<br />

canal de Suez numa missão específica, com objetivo<br />

determinado. Não creio que isso implique na nossa<br />

participação numa possível guerra armada. Não temos<br />

nenhum compromisso nesse sentido. A crise do Oriente<br />

Próximo é um fato novo.”<br />

Inquirido sobre se havia possibilidade de<br />

colaboração do Brasil com os Estados Unidos da América,<br />

afirmou o Deputado Hugo Napoleão:<br />

“Fizemos uma lei para que os pracinhas fossem<br />

para Suez. Qualquer alteração sob esse aspecto deve ser<br />

motivo de mensagem ao Executivo. Como membros do<br />

Legislativo nos falece competência para deliberar por<br />

iniciativa própria.”<br />

Os jornais, em agosto de 1958, anunciavam a<br />

intenção do líder da Oposição, Deputado Afonso Arinos, de<br />

ocupar novamente a tribuna da Câmara dos Deputados<br />

para analisar a Operação Pan-Americana e a visita do<br />

Secretário de Estado, John Foster Dulles, ao Brasil.<br />

Anunciavam, também, que aquele representante da UDN<br />

coligia dados e fazia anotações para servirem de base<br />

ao seu próximo discurso. Em vista disso, o Correio da<br />

Manhã, de 10 de agosto de 1958, já falava na futura<br />

resposta a ser dada, em nome da maioria:<br />

“Para responder ao líder oposicionista, o líder<br />

da Maioria, Deputado Armando Falcão, está cogitando


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 86<br />

de delegar poderes ao vice-líder de sua bancada,<br />

Sr. Octacílio Negrão de Lima, que é irmão do Ministro<br />

das Relações Exteriores.<br />

Também, o Sr. Hugo Napoleão, que já foi<br />

presidente da Comissão de Relações Exteriores da<br />

Câmara e é reconhecida autoridade em direito<br />

internacional, será convocado pelo Sr. Armando Falcão,<br />

para colaborar na resposta que a Maioria oferecerá<br />

nos próximos dias ao discurso do líder oposicionista.<br />

A reabertura dos trabalhos da Câmara deverá<br />

oferecer, assim, debates acirrados entre Maioria e<br />

Oposição, ato que não ocorria há algumas semanas no<br />

Palácio Tiradentes.”<br />

Parece que o destino, com a sua mão mágica,<br />

havia determinado que o Deputado mineiro e o piauiense,<br />

velhos amigos e companheiros de trabalho de outros<br />

tempos, se defrontassem novamente, como que para<br />

manter, sempre que isso acontecia, quer em debates<br />

de política interna, quer em discussões de política<br />

externa, um ambiente de elevação e cultura que<br />

honravam as boas tradições da Casa do Congresso a<br />

que pertenciam. Os Deputados Afonso Arinos e Hugo<br />

Napoleão se defrontavam novamente, traçando normas<br />

em defesa dos pontos de vista da Oposição e do Governo.<br />

No dia 13 de agosto de 1958, o Correio da<br />

Manhã dizia que seria o Deputado Hugo Napoleão o<br />

representante da Maioria indicado para responder ao<br />

discurso do líder da Minoria, Deputado Afonso Arinos.<br />

O Sr. Hugo Napoleão, conforme antecipou o<br />

Correio da Manhã, foi designado pelo líder da Maioria<br />

para responder ao discurso de ontem do Sr. Afonso


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Arinos sobre a chamada “Operação Pan-Americana”, e a<br />

visita do Sr. Foster Dulles ao Brasil.<br />

O deputado piauiense vai demorar, entretanto,<br />

alguns dias para fazer seu discurso. Acha ele, como<br />

nos declarou, serem precisos alguns dias para apurar<br />

certos fatos mencionados pelo líder da Oposição.<br />

Para o Sr. Hugo Napoleão, o discurso do líder<br />

oposicionista foi mais literário do que político. Considera<br />

que nenhum fato novo de importância foi levantado.<br />

Por isso, supõe que sua tarefa será bem facilitada.<br />

A Resenha Política do Diário da Noite, de 18<br />

de agosto de 1958, se referia já ao discurso que o<br />

Deputado Hugo Napoleão pretendia pronunciar:<br />

O Deputado Hugo Napoleão ocupará, na sessão<br />

de segunda-feira, a tribuna da Câmara para, em nome<br />

da Maioria parlamentar, oferecer resposta ao último<br />

discurso do Sr. Afonso Arinos referente à política<br />

exterior. O representante piauiense, na parte preliminar<br />

de sua fala, pretender formular a conceituação histórica<br />

do pan-americanismo, ressaltando as constantes dessa<br />

doutrina até os dias presentes, para chegar à conclusão<br />

de que a iniciativa do Presidente Juscelino Kubitschek<br />

se enquadra naqueles princípios. Na parte central de<br />

seu discurso, o Deputado Hugo Napoleão examinará,<br />

ponto por ponto, as afirmações do representante mineiro<br />

da Oposição, opondo-lhe as indispensáveis refutações e<br />

focalizando, em último lugar, os aspectos da participação<br />

do Congresso nos assuntos da política externa.”


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 88<br />

O Correio da Manhã, de 17 de agosto de 1958,<br />

anunciava, também, com antecedência, o discurso que<br />

pronunciaria o representante piauiense comentando o<br />

interesse que o assunto despertava:<br />

“O Deputado Hugo Napoleão, do PSD piauiense,<br />

vai ocupar a tribuna da Câmara na sessão de<br />

amanhã, para fazer a defesa da “Operação Pan-<br />

Americana”. A propósito, o representante pessedista<br />

afirmou-nos que iniciará sua oração fazendo um estudo<br />

do pan-americanismo, a fim de acentuar que a política<br />

preconizada pelo Senhor Juscelino Kubitscheck no<br />

hemisfério se ajusta às diretrizes históricas desse movimento.<br />

A seguir, refutará ponto por ponto, as críticas<br />

feitas no início da semana pelo líder da Oposição, mas<br />

deixará de lado as questões marginais focalizadas pelo<br />

líder oposicionista.”<br />

O Diário Carioca, de 17 de agosto de 1958, sob<br />

o título Defesa do Pan-Americanismo, alongou-se em<br />

considerações sobre o anunciado discurso do Deputado<br />

Hugo Napoleão, ao mesmo tempo em que se referia ao<br />

pedido de licença do Presidente Juscelino Kubitschek<br />

para visitar a Argentina, em vista do convite que lhe<br />

foi feito pelo Presidente Arturo Frondizi, dirigente da<br />

nação irmã:<br />

“Na mesma sessão da Câmara (amanhã) em<br />

que chegará a mensagem do Presidente da República,<br />

pedindo licença para ausentar-se do País, a fim de<br />

visitar a Argentina em outubro, o Deputado Hugo<br />

Napoleão responderá ao discurso do líder Afonso Arinos<br />

sobre as novas diretrizes da política externa brasileira.


89 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

O ex-Presidente da Comissão de Relações<br />

Exteriores da Câmara dos Deputados pretende, sobretudo,<br />

rebater as críticas da Oposição aos fundamentos e ao<br />

processo da Operação Pan-Americana, que é a dinâmica<br />

da Doutrina Kubitschek.<br />

A primeira parte do discurso do Sr. Hugo<br />

Napoleão constará de um histórico do pan-americanismo e<br />

da definição do seus pontos fundamentais. À luz desses<br />

elementos, o deputado pessedista provará que a política<br />

diplomática do Brasil, no continente, mantém-se fiel às<br />

suas raízes e coincide com os objetivos pan-americanistas<br />

que o Governo Kubitschek apenas pretende ver realizados<br />

com mais objetividade.<br />

O Sr. Hugo Napoleão antecipa que deixará sem<br />

comentários vários itens do discurso do Sr. Afonso<br />

Arinos, que fugiram do assunto a que se destinava,<br />

enveredando pelo campo da luta política interna. Pretende<br />

não sair do plano político internacional, e nesse plano<br />

dedicar-se ao capítulo da Operação Pan-Americana.<br />

A esse propósito, o ex-presidente da Comissão de<br />

Relações Exteriores deseja revelar alguns resultados que<br />

comprovam, desde já, a acertada orientação da OPA.<br />

O pedido de licença do Presidente Kubitschek<br />

deverá ser votado por toda a semana entrante,<br />

provavelmente na sessão de quarta-feira. A Câmara tem<br />

estado sem número para deliberações, mas a liderança<br />

oposicionista já assegurou ao Deputado Armando Falcão<br />

que não fará objeções à viagem de JK, que considerou<br />

de simples cortesia ao país vizinho.”<br />

O Deputado Hugo Napoleão costumava dizer<br />

que esse seu discurso seria o seu canto de cisne, em<br />

vista de sua resolução de não concorrer à reeleição.


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 90<br />

Nessa ocasião, além dos aborrecimentos motivados<br />

pelas últimas ocorrências políticas de sua terra, tinha<br />

um outro motivo sério para andar preocupado, ele que<br />

sempre foi um homem confiante, o que levava o<br />

Deputado Afonso Arinos, certa vez, como vimos, a dizer<br />

que seu colega via tudo com os olhos de Pangloss.<br />

É que, naquele momento, uma perspectiva sombria<br />

realmente enevoara o seu ânimo de lutador. Sofria de<br />

catarata nas duas vistas, menos numa do que na<br />

outra, o que o entristecia, não desejando entregar-se<br />

à realidade. Supusera, mesmo, a princípio, que estava<br />

perdendo a vista, pouco a pouco, chegando, certa vez,<br />

nas suas funções parlamentares, a necessitar ler um<br />

documento em plenário sem conseguir enxergar o que<br />

continha o papel que segurava nas mãos. Foi nesse<br />

momento que o Deputado Hugo Napoleão mais<br />

se aplicou, com apurado interesse, ao estudo do<br />

pan-americanismo, lançado pelo Presidente Juscelino<br />

Kubitschek. Os Deputados Afonso Arinos e Carlos Lacerda,<br />

Líderes da minoria e da UDN, cerrando ataque frontal<br />

combinado ao seu discurso, mal poderiam supor, naquele<br />

momento, o que se passava no íntimo do velho<br />

parlamentar. Com a sua juventude e ardor de moços<br />

não pouparam o orador que defendia a obra do governo.<br />

Confesso que, sem dizer a meu pai, fui ao Palácio<br />

Tiradentes, nesse dia, para ouvi-lo, colocando-me na<br />

tribuna dos fundos do plenário, de onde pude assistir<br />

ao torneio parlamentar que se realizava entre o<br />

orador e aquelas duas figuras vigorosas da Oposição. E<br />

fiquei orgulhoso de meu pai, que rugia como um leão<br />

acuado, toda vez em que os apartes dos dois adversários,<br />

como setas consecutivas, não cessavam e eram atiradas


91 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

contra o orador, que as devolvia, com o ardor de sua<br />

passada mocidade, animado, sem mesmo o sentir pelo<br />

seu velho espírito de luta. Creio que aquele foi o dia<br />

culminante de sua carreira política, em que qualquer<br />

piauiense se sentiria honrado de ver que era representado<br />

naquela Casa do Parlamento nacional por um digno<br />

representante de seu Estado. O discurso que proferia,<br />

as respostas aos apartes que lhe eram dados<br />

provocaram revide imediato do líder da Minoria, que<br />

seria, por sua vez, entrecortado pelos apartes do<br />

defensor do Governo. Aquele seria, realmente, o seu<br />

último discurso importante na Câmara dos Deputados,<br />

antes de seu afastamento político. Terminava o seu<br />

mandato como o iniciara, em plena luta parlamentar,<br />

na arena dos debates oratórios, naquela mesma Câmara<br />

dos Deputados em que estreara em sua mocidade,<br />

em 1927. Tinha 66 anos de idade e, apesar da fadiga<br />

física que já sentia, em conseqüência de sua vida de<br />

lutador perene, estava com a mente lúcida, o raciocínio<br />

claro, o pensamento lógico, como se verá pela oração<br />

que proferiu, a 18 de agosto de 1958, e as respostas<br />

que deu aos seus adversários políticos. (Anexo 37).<br />

ANEXO 37 (20)<br />

O SENHOR PRESIDENTE – Tem a palavra o<br />

Sr. Hugo Napoleão, por delegação do líder da maioria.<br />

(20) Transcrição parcial do Anexo 37, do livro UM LUTA<strong>DO</strong>R<br />

HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO –<br />

Centro Gráfico do Senado Federal – 1992 – Brasília – DF.


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 92<br />

O Sr. HUGO NAPOLEÃO – Senhor Presidente e<br />

Senhores Deputados, no seu longo e bem elaborado<br />

discurso de terça-feira passada, aqui pronunciado, o<br />

meu ilustre colega e prezado amigo, Professor Afonso<br />

Arinos, focalizou, de início, a atuação de estadistas e<br />

diplomatas brasileiros nas fases por que tem passado<br />

o pan-americanismo. Desejo, também, inicialmente,<br />

referir-me à evolução da doutrina política, não para<br />

encará-la somente do ângulo brasileiro, pois o panamericanismo<br />

é um ideal dos povos americanos, expresso<br />

pela voz de vários estadistas, de vários países em várias<br />

ocasiões, mas, para frisar que, nas suas etapas,<br />

salientam-se duas constantes, dois aspectos invariáveis:<br />

a convivência amiga ou boa vizinhança, para usar a<br />

expressão do Tratado de 1750, e a união, a solidariedade<br />

para a defesa dos povos e das nações do continente. É<br />

evidente que outros fatores de ordem social, política,<br />

econômica e cultural, nos momentos propiciados, influíram<br />

na marcha do pan-americanismo, mas esses dois foram o<br />

móvel principal, a razão de ser, por assim dizer, dessa<br />

doutrina política, desses sistemas de vida dos povos do<br />

nosso continente.<br />

Na realidade, na primeira fase, se inicia<br />

com a ação de Alexandre de Gusmão e, ao meu ver,<br />

vai até a Conferência de Washington de 1889, fase que<br />

foi chamada de fase de esperança.<br />

O pan-americanismo nos seus primórdios se<br />

expressava no sentido do alheamento das colônias em<br />

relação aos conflitos ou guerras entre as metrópoles<br />

européias da Península Ibérica e no receio das ameaças<br />

imperialistas da Santa Aliança. Como é fácil de observar<br />

antes mesmo de constituídos em países soberanos e<br />

independentes, já havia a idéia de se unirem os povos


93 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

americanos para a defesa do seu todo. É que, desde<br />

então, estava percebida a verdade que, mais tarde,<br />

muito mais tarde a frase genial de Rui Barbosa vinha<br />

expressar: “A América não é um agregado eventual de<br />

grupos humanos, mas um todo providencial”.<br />

Na primeira fase vêem-se atitudes diversas, ora<br />

meramente pessoais ora de grupos de nações, no sentido<br />

dessa predominante de defesa. Entre aqueles se alinham<br />

as de John Adams, nos fins do século XVIII, a de George<br />

Washington, na sua mensagem de despedida ao Congresso<br />

Americano, em 1796, de Thomas Jefferson, Henry Clay, de<br />

José Bonifácio, em 1822, a de Bolívar, na sua célebre<br />

“carta profética”, avultando, entre todas a declaração de<br />

Monroe no sentido da solidariedade continental, que cem<br />

anos mais tarde, na Conferência de Havana, se transformou<br />

em preceito adotado por todas as nações do continente.<br />

Entre as últimas podem ser citadas a tentativa<br />

malograda da Confederação das Nações Americanas no<br />

Congresso do Panamá de 1826, o Congresso de Lima, de<br />

1847, a Assembléia de Lima de 1869, e por fim a<br />

Conferência de Washington em 1889.<br />

Na segunda fase, que vai dessa Conferência de<br />

Washington até os nossos dias, na qual a doutrina<br />

pan-americana tomou corpo, se dilatou e se estruturou<br />

juridicamente, aquela defesa continuou sendo sua razão<br />

precípua, espécie de imperativo do destino alimentado pelo<br />

desenrolar natural ou extraordinário dos fatos <strong>históricos</strong>.<br />

Dentro dessa segunda fase de estruturação<br />

jurídica do pan-americanismo, consolidaram-se até a<br />

Segunda Guerra Mundial as normas para a solução<br />

pacífica dos conflitos e controvérsias, os direitos e deveres<br />

dos Estados, os direitos do homem, como personalidade


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 94<br />

central do mundo jurídico em nossa organização<br />

democrática do Estado, cogitaram-se de processos e meios<br />

de cooperação para desenvolver as condições econômicas<br />

e sociais dos povos americanos, traçaram-se planos<br />

para estimular a construção de vias de comunicação,<br />

entre as diversas nações irmãs do Continente,<br />

fortaleceu-se, em suma, por todos os modos e meios o<br />

sentido da unidade, de fraternidade, de vinculação efetiva<br />

diante dos problemas comuns, relativos ao progresso e à<br />

defesa do hemisfério, visando a robustecer os princípios<br />

que regem a vida democrática, pela qual lutaram<br />

nossos libertadores, bem como as gerações que os<br />

sucederam. De fato, nem eles abriram mão nem nós<br />

abandonaremos jamais o estilo de vida que assegura a<br />

liberdade pessoal e a soberania de nossos povos.<br />

Todo esse trabalho de estreitamento de relações,<br />

e criação de elos jurídicos positivos, de estruturação de<br />

princípios foi obra de várias Conferências pan-americanas,<br />

em Washington, México, Rio de Janeiro, Santiago,<br />

Havana, Montevidéu e Lima, em algumas das quais o<br />

Sr. Afrânio de Melo Franco, pai do nobre colega Afonso<br />

Arinos, teve ação destacada.<br />

Mas a solidariedade continental, esse sentimento<br />

de destino comum, de uns pelos outros, de unificação<br />

de esforços pela sobrevivência do conjunto americano,<br />

de luta pela defesa do “todo providencial”, da frase de<br />

Rui, essa solidariedade continental, em face do perigo<br />

de conflito mundial, teve seu início de corporificação,<br />

na famosa Conferência Interamericana de Consolidação<br />

da Paz, de Buenos Aires, em 1936, reunida por iniciativa<br />

de Roosevelt. Nela se estabeleceu o sistema de consulta<br />

entre os países do Continente, diante de fatos graves,<br />

para a comunidade americana. Esse instrumento de ação


95 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

foi a mola de novos entendimentos para a defesa do<br />

hemisfério, com as reuniões dos Ministros das Relações<br />

Exteriores no Panamá, Havana e Rio de Janeiro, esta<br />

logo após Pearl Harbour. Essas reuniões se constituíram<br />

em marcos decisivos nos entendimentos pela defesa<br />

comum, pois delas resultou a solidariedade ampla firmada<br />

em compromissos, livremente assumidos, que passaram a<br />

prevalecer como princípios assentados na ordem jurídica<br />

pan-americana. A neutralidade dos países do hemisfério<br />

diante da agressão contra um deles foi afastada,<br />

alinhando-se eles ao lado do agredido.<br />

Estava vitoriosa a tese antes defendida em<br />

algumas conferências pan-americanas, de que o ataque<br />

contra uma nação americana deveria ser considerado<br />

como ataque a todas. Estava consagrada a idéia de que<br />

todo o Continente Americano deve ser defendido em<br />

conjunto, para maior e pela garantia particular de cada<br />

um dos seus componentes.<br />

E o pan-americanismo segue, aprimorando-se,<br />

logo após a guerra de 1945, decidiu-se, em Chapultepec,<br />

dar estrutura jurídica definitiva à associação dos países<br />

americanos, iniciada de forma efetiva em 1889, bem como<br />

elaborar um instrumento que fixasse normas amplas para<br />

a defesa dos países continentais. O Tratado Interamericano<br />

de Assistência Recíproca, firmado no Rio de Janeiro,<br />

em 1947, corporificou essas normas. A Conferência de<br />

Bogotá, de 1948, onde o eminente chanceler João Neves<br />

da Fontoura teve ação decisiva e brilhante, realizou<br />

o anseio de dar ao Pan-americanismo a sua completa<br />

estruturação jurídica, criando a Organização dos Estados<br />

Americanos, com sua Carta e seus órgãos de ação.


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 96<br />

Assentada assim a formulação jurídica para a<br />

defesa comum diante de agressores externos ou mesmo<br />

internos, questão vital para a soberania e sobrevivência<br />

de cada país continental, avultaram desde logo os<br />

problemas igualmente ligados à soberania e sobrevivência,<br />

ou sejam os relativos a questões econômicas e sociais.<br />

Sobretudo nesse segundo após guerra preocupam-se<br />

os países americanos com os graves aspectos do<br />

subdesenvolvimento neles existentes. Diversas iniciativas<br />

foram aviltradas, inclusive a da criação de um banco,<br />

fundo, ou que nome possa ter, para aliviar o progresso<br />

de áreas de intenso pauperismo no hemisfério.<br />

Essa necessidade de vivificar a economia<br />

americana em geral, de aumentar o volume e a troca<br />

de riqueza, de estimular o trabalho, de fomentar a<br />

construção de obras de serviço público, de acelerar a<br />

expansão de indústrias-base, enfim, de criar fontes<br />

novas destinadas a assegurar a elevação dos níveis<br />

de vida das populações americanas, passou a ter um<br />

sentido não somente estritamente econômico e social, mas<br />

configurou-se, também, como medida de estratégia<br />

defensiva, pois que o regime democrático não vencera<br />

o da opressão, o Ocidente não superará o Oriente pela<br />

simples força dos argumentos, mas pelo florescimento<br />

de suas fontes de recursos, de atividade, de iniciativa<br />

destinada ao enriquecimento geral dos povos,<br />

proporcionando um bem-estar, um nível de vida, uma<br />

difusão de cultura que tornem o homem um decidido<br />

defensor do seu sistema de vida, sistema filosófico<br />

de vida, de regime de liberdade e democracia em que<br />

vive, e, portanto, do seu país e da sua comunidade<br />

americana.


97 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

E os países do hemisfério, concentrados no<br />

esforço à procura de meios para esses fins, não<br />

descuidaram de fundar, dentro da Organização dos<br />

Estados Americanos, um órgão que realizasse estudos<br />

naquele sentido, que apresentasse trabalhos e sugestões<br />

para o desenvolvimento econômico das Américas. Muito<br />

já se tem produzido, nesses últimos anos, o Conselho<br />

Interamericano Econômico e Social, embora muitas<br />

críticas lhe tenham sido feitas quanto ao rendimento<br />

de sua operosidade, diante dos trabalhos do órgão simular<br />

das Nações Unidas, a CEPAL (Comissão Econômica e<br />

Social para América Latina)¸ com sede em Santiago.<br />

O pan-americanismo, assim transformado em<br />

sistema político-jurídico, reclama, nos nossos dias,<br />

repita-se mais uma vez, novos meios de defesa,<br />

através da superação do subdesenvolvimento de que<br />

ainda sofrem alguns países do nosso hemisfério, para a<br />

manutenção dos princípios que ele pan-americanismo<br />

encerra. Daí a iniciativa da Operação Pan-Americana,<br />

sugerida, pelo eminente Presidente Juscelino Kubitscheck,<br />

que vai, sem dúvida, se constituir em novo marco, em<br />

início de nova fase do pan-americanismo.<br />

Sr. Presidente, na realidade, ninguém ignora<br />

que o mundo está hoje dividido em duas porções, em<br />

dois blocos, que se separam em opostas concepções,<br />

opostos sistemas de vida, opostas doutrinas políticas.<br />

Um, aquele em que nos incluímos, vivendo sob regime<br />

democrático, assegurando o exercício, o gozo de todas as<br />

liberdades humanas. O outro, o oriental, vivendo sob<br />

regime de força e proscrevendo aquelas liberdades. Este,<br />

procurando expandir-se, procurando avassalar todas as<br />

regiões do globo com a imposição dos seus métodos de<br />

vida, a sua doutrina, o seu sistema político. Daí, a


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 98<br />

ameaça que paira sobre nós, daí a necessidade de novos<br />

meios de defesa para a integridade física, política e<br />

social do nosso continente, fundamento precípuo do panamericanismo.<br />

Essa defesa, porém, não será possível,<br />

nem eficaz, se a grande maioria das nações continentais<br />

continuarem em estado de subdesenvolvimento. Foi isso<br />

que lhe inspirou a iniciativa da chamada “Operação<br />

Pan-Americana”, consubstanciado na carta dirigida ao<br />

Presidente Eisenhower e no seu memorável discurso de<br />

20 de junho.<br />

(...)<br />

Estou convencido, Sr. Presidente, que essas<br />

iniciativas do Sr. Presidente Juscelino Kubitschek alça<br />

a política externa do Brasil àquele ideal que para ela<br />

reclama o nobre líder da minoria. Na verdade, de tudo<br />

quanto se pode desejar como necessário à atuação<br />

do Brasil na vida internacional do Continente está<br />

compreendida na iniciativa do Governo brasileiro: a luta<br />

contra o subdesenvolvimento econômico, o interesse das<br />

Américas de se prepararem para a eventualidade de<br />

um conflito entre as duas forças, em que se divide<br />

o mundo, o sentimento cristão em face das forças<br />

materialistas, a necessidade de progresso dos povos do<br />

hemisfério, a clara concepção de defesa nacional, de<br />

necessidade da união efetiva dos povos americanos.<br />

(...)<br />

O Sr. HUGO NAPOLEÃO – Esse aspecto, sem<br />

a menor importância, a que V.Exª se referiu, nada<br />

tem em si com a organização pan-americana. É um<br />

assunto ao qual V.Exª está querendo dar, neste<br />

momento, importância, que, na realidade, não tem.


99 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

O Sr. Presidente da República, na sua<br />

entrevista ao New York Times, declarou que “o que o<br />

Brasil fez foi colocar, perante a opinião pública das<br />

Américas, um problema delicado, que deve ser definido,<br />

analisado e estudado em profundidade”. Tudo quanto<br />

propôs o Governo brasileiro foi que os países americanos<br />

se reunissem e se consultassem sobre assunto de<br />

interesse comum, em torno do combate ao subdesenvolvimento,<br />

para aumentar seus recursos de defesa.<br />

Que forma outra poderia ser dada ao encaminhamento<br />

inicial de uma simples sugestão?<br />

Tomada em consideração, aceita e aplaudida,<br />

como já o foi, será, conforme já ficou alvitrado na<br />

Declaração de Brasília, levada a estudo e discussão da<br />

Organização dos Estados Americanos.<br />

Cabe, aqui, Senhor Presidente, consignar fatos da<br />

ação diplomática brasileira que, se não se constituem<br />

propriamente em preliminares da Operação Pan-Americana,<br />

propiciaram, todavia, uma melhor auscultação dos<br />

problemas americanos e determinaram, em maior escala,<br />

maior aproximação do Brasil com as repúblicas sulamericanas,<br />

bem como a prática da verdadeira, da<br />

real política de boa vizinhança, já não somente daquela<br />

boa vizinhança de Alexandre de Gusmão, mas a<br />

daquela boa vizinhança, traduzida em efetiva colaboração<br />

econômica, ajuda recíproca e cooperação para resolver<br />

problemas fundamentais nossos e dos outros países,<br />

preconizada por Franklin Roosevelt, isto é, boa<br />

vizinhança com interdependências. Refiro-me, Senhor<br />

Presidente, em primeiro lugar, às repetidas visitas do<br />

eminente Chanceler Macedo Soares, o insigne Mediador


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 100<br />

da Paz do Chaco, a países americanos. Refiro-me, ainda,<br />

e principalmente, aos tratados que celebramos com a<br />

Bolívia e o Paraguai, em conseqüência dos quais temos<br />

propiciado a estes países a remoção das dificuldades<br />

que lhes resultam da sua insularidade mediterrânea,<br />

trazendo-os ao oceano Atlântico.<br />

(...)<br />

O Sr. HUGO NAPOLEÃO – (...)<br />

Conforme tenho dito e redito, não sou um<br />

espírito empedernido, não podendo, por isso, ser infenso<br />

à evolução das ciências, das artes ou de qualquer<br />

ramo do conhecimento ou da atividade humana. No<br />

campo do Direito, especialmente, sou adepto do conceito<br />

de Rippert quando, no seu magnífico livro As Forças<br />

Criadoras do Direito, diz: “Mas o jurista que denuncia<br />

o atraso, o envelhecimento de certas regras e propõe<br />

outras, não tem o objetivo de abalar o estatismo do<br />

direito.” Para ele, o espírito de reforma se concilia<br />

perfeitamente com o espírito de conservação. Fazer reparo<br />

num edifício velho, é impedir o risco de desabamento.<br />

A adaptação de regras antigas a novas situações é uma<br />

forma feliz da conservação. Admito, como não podia<br />

deixar de admitir, as modificações, as reformas, as<br />

transformações do Direito, pois que deve ele obedecer à<br />

evolução dos fatos sociais, da estrutura da sociedade,<br />

cuja vida, cujo modo de condução ele disciplina.<br />

Mas, daí até achar que a lei, especialmente<br />

a lei das leis, a Constituição, possa ser relegada,<br />

descumprida, ao talante de opiniões, de doutrinas, que<br />

por vezes não refletem necessidades sociais sentidas, a<br />

distância é muito grande. Neste caso a reparação, em<br />

vez de conservar, destruiria o edifício. Não estou longe


101 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

de admitir que o Congresso de hoje, como o nosso,<br />

penetrado da vontade popular, na frase do nobre<br />

colega Afonso Arinos, deve exercer maior colaboração<br />

no desenvolvimento da política externa. Mas modus in<br />

rebus. Poderemos chegar a isso, não transformando-o em<br />

agente diplomático, não erigindo-o em diretor e executor<br />

da política externa, o que iria ferir a independência<br />

dos poderes constitucionais.<br />

Poderemos chegar lá, isto é, à colaboração no<br />

desenvolvimento da política externa, mas, dentro de<br />

certos limites, de forma a não exercermos atos de<br />

execução. Poderemos lá chegar, mas, pelos meios<br />

regulares, ela reforma da Constituição, que, no momento,<br />

atribui ao Chefe do Poder Executivo a orientação, a<br />

direção da política externa.<br />

Nesse particular da intromissão do Congresso<br />

em assuntos de política externa, além dos limites<br />

da sua competência constitucional, ou ferindo aquele<br />

princípio fundamental da independência dos poderes,<br />

prefiro continuar como estudante respeitador do direito<br />

constituído, em vez de professor de jure constituendo.<br />

(...)<br />

O Sr. HUGO NAPOLEÃO – É possível.<br />

Sr. Presidente, finalizando:<br />

A Constituição é contrária à intromissão do<br />

Congresso na direção da política externa.<br />

Sr. Presidente, conforme já acentuou o meu<br />

nobre amigo Sr. Afonso Arinos, quando aqui contendemos<br />

a respeito da tese da união nacional, eu sou um<br />

otimista. Continuo otimista em relação ao Brasil. Sou


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 102<br />

também otimista em relação ao completo êxito da<br />

Operação Pan-Americana.<br />

Se Deus inspirar e abençoar a ação dos<br />

homens de governo na conjugação de esforços das nações<br />

americanas pela efetivação da Operação Pan-Americana,<br />

o bem-estar social, a segurança e a alegria de viver<br />

se instalarão nas Américas e a paz, talvez, venha a<br />

reinar no Mundo.<br />

(Muito bem! Muito bem! Palmas. O orador é cumprimentado.)<br />

(...)<br />

O Deputado Hugo Napoleão, no exercício de suas<br />

funções parlamentares, e nas atividades políticas nunca<br />

emprestou à sua atuação política partidária, o caráter de<br />

inimizade aos adversários. Sempre cultivou as melhores<br />

amizades com os elementos políticos das hostes adversas<br />

às suas. Através das vicissitudes e mudanças políticas<br />

do País, como o desaparecimento e a formação de novas<br />

agremiações, teve, em seus adversários, muitos dos seus<br />

melhores amigos pessoais, o que nunca contribuiu para<br />

que deixasse de bater-se leal e demoradamente pelos<br />

seus pontos de vista do seu partido, com todo o<br />

ardor de que era capaz, saindo sempre, respeitado pelos<br />

homens de responsabilidade dos partidos contrários. (21)<br />

(21) ALUÍZIO NAPOLEÃO, embaixador da República – Um Lutador Hugo<br />

Napoleão e Sua Época, pp. 265, 266, 267, 268, 691, 692, 693, 694, 695,<br />

270, 695, 696, 697, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278, 478, 488,<br />

489, 490, 491, 492, 493, 751, 752, 753, 754, 755, 756, 760, 761, 766, 770,<br />

494 – Centro Gráfico do Senado Federal – 1992 – Brasília – DF.


103 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Vale ressaltar alguns retratos que constam da<br />

Iconografia da obra UM LUTA<strong>DO</strong>R HUGO NAPOLEÃO E<br />

SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO:<br />

Deputado Hugo Napoleão, em palestra com o Presidente<br />

Antônio Carlos, em 1935, sobre a escolha do Líder da<br />

Maioria da Câmara dos Deputados.<br />

Hugo Napoleão em São Paulo (1943), discursando no<br />

batismo de aviões oferecidos pelo Banco do Brasil ao<br />

Aeroclube de São Paulo, vendo-se, ao seu lado,<br />

o jornalista Assis Chateaubriand, incentivador do<br />

desenvolvimento da aviação no Brasil.<br />

Hugo Napoleão com a família de Carvalho de Mendonça,<br />

ao ser inaugurado, no Palácio da Justiça, o busto<br />

daquele Jurisconsulto, em 1943, cerimônia de que<br />

foi o orador.<br />

O Deputado Hugo Napoleão saúda o Governador de Minas<br />

Gerais então candidato do PSD à Presidência da<br />

República, em fevereiro de 1955, no início de sua<br />

campanha política. Veem–se no palanque armando<br />

no Palácio de Karnak em Teresina, entre outros, o<br />

Governador Pedro Freitas, o Governador eleito<br />

Gayoso e Almendra e os Senadores Magalhães Barata<br />

e Vitorino Freire.<br />

O Presidente JK recebendo, no Palácio do Catete, o<br />

Arcebispo de Teresina, Dom Avelar Brandão, e os<br />

Deputados Hugo Napoleão e Sigefredo Pacheco, do<br />

Piauí (década de 50).<br />

Hugo Napoleão profere o discurso de despedida, em 1954,<br />

do Banco do Brasil, na solenidade de inauguração do<br />

retrato no Departamento do Contencioso do Banco do<br />

Brasil.


ALUÍZIO NAPOLEÃO – 104<br />

Fotografia da delegação brasileira à Conferência<br />

Econômica Internacional de Rye, Nova Iorque (1944). Da<br />

esquerda para a direita: Mariano Ferraz, Luís Dodsworth<br />

Martins, João Daudt de Oliveira (Chefe), Euvaldo Lodi,<br />

Artur Lacerda Pinheiro, Alberto S. Oliveira e Hugo<br />

Napoleão.<br />

O deputado Hugo Napoleão, presidente da Comissão de<br />

Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e o<br />

seu filho, então ministro Aluízio Napoleão, chefe do<br />

cerimonial da Presidência da República. Fotografia<br />

feita na Academia Brasileira de Letras, na posse do<br />

escritor Álvaro Lins, então chefe do Gabinete Civil do<br />

presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (Década<br />

de 50).<br />

O então Ministro das Relações Exteriores, José Carlos<br />

de Macedo Soares, ao ser recebido na Comissão de Diplomacia e<br />

Tratados da Câmara dos Deputados, pelo seu Presidente,<br />

Deputado Hugo Napoleão (1957).<br />

DA<strong>DO</strong>S BIOGRÁFICOS<br />

Aluízio Napoleão de Freitas Rêgo nasceu em Belém,<br />

Estado do Pará, em 20 de novembro de 1914, sendo seus<br />

pais Hugo Napoleão do Rêgo e Matilde de Freitas Rêgo.<br />

(...) Removido para a Embaixada do Brasil em Paris,<br />

onde exerceu as funções de Primeiro Secretário (1951/1953)<br />

(...) Conselheiro das Embaixadas do Brasil em Paris (1953)<br />

e Ancara (1954/1955). (...) Promovido, por merecimento, a<br />

Ministro de 1ª classe (1960) (...) Embaixador do Brasil em<br />

Teerã (1961/1969) (...) Embaixador do Brasil em Estocolmo<br />

(1969/1975) (...) Embaixador do Brasil em Pequim (1975).<br />

Eleito membro da Academia Piauiense de Letras (1983)


105 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

SÉRGIO DARCY E A ESTRELA SOLITÁRIA<br />

SÉRGIO DARCY<br />

Presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 a 1939 e 1963)<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1963 / 1966)<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO<br />

Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />

1995 / 1998 – 2001, 2004 / 2007-2010<br />

Nos idos de 1963, Ney Neves Galvão,<br />

presidente do Banco do Brasil, nomeou o advogado<br />

Sérgio Darcy para o cargo de consultor jurídico, em<br />

substituição de João Neves da Fontoura, falecido em<br />

março daquele ano. Ainda em 1963, Sérgio Darcy<br />

assumia, pela segunda vez, a Presidência do Botafogo<br />

de Futebol e Regatas.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 106<br />

A trajetória profissional de Sérgio Darcy<br />

começou nos idos de 1925, quando James Darcy, que<br />

dirigiu os destinos do Banco do Brasil (2/1/1925 a<br />

16/11/1926), o nomeou secretário particular do presidente.<br />

Antes de prestar homenagem ao consultor<br />

jurídico, fazemos uma retrospectiva da vida de James<br />

Darcy, pai de nosso homenageado. Dos 27 aos 31<br />

anos de idade, exerceu mandato de deputado federal,<br />

representando o Rio Grande do Sul.<br />

Retirando-se da política, manteve banca de<br />

advogado. Por longo período, foi consultor jurídico da<br />

Associação Comercial do Rio de Janeiro. No governo de<br />

Epitácio Pessoa, o advogado James Darcy assume as<br />

funções de Consultor Geral da Presidência da República.<br />

Nos idos de 1921, ao ensejo da realização do<br />

4° Centenário de Morte de Dante Alighieri, no Theatro<br />

Municipal do Rio de Janeiro, profere palestra sobre a vida<br />

e a obra do autor da Divina Comédia, na presença do<br />

Corpo Diplomático e do presidente Epitácio Pessoa .<br />

Herdado do pai o mesmo amor às causas<br />

nobres, Sérgio Darcy demonstrou respeito e dignidade<br />

à frente da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil.<br />

Anteriormente, assumiu a direção do Departamento do<br />

Contencioso. E, contando o tempo de exercício, foram<br />

4 décadas servindo ao Banco do Brasil. O primeiro<br />

funcionário de carreira a exercer as funções de consultor<br />

jurídico.


107 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Com os méritos reconhecidos pelo Banco do<br />

Brasil, antes da posse na Consultoria Jurídica, Sérgio<br />

Darcy foi homenageado no banquete de gala realizado,<br />

em 26/4/1963, no salão nobre do Clube Comercial. O<br />

advogado Armando Serzedelo Corrêa, em nome da<br />

Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, usou a palavra<br />

para enaltecer, com viva emoção, o pensamento de seus<br />

companheiros de trabalho.<br />

Por sua vez, Munir Hellayel, advogado do<br />

Departamento do Contencioso, proferiu brilhante discurso,<br />

a respeito da personalidade marcante e da carreira<br />

profissional de Sérgio Darcy, destacando a justiça de<br />

que se revestiu a nomeação do homenageado para o<br />

cargo de consultor jurídico do Banco do Brasil.<br />

Na ocasião, fizeram ainda o uso da palavra<br />

o desembargador Eduardo Espínola Filho, Astolpho Dutra<br />

Niccacio, diretor da Caixa Econômica do Rio de Janeiro,<br />

e Arthur Martins Sampaio, chefe do Departamento do<br />

Contencioso do Banco do Brasil.<br />

Por último, o ilustre homenageado proferiu, de<br />

improviso, um discurso agradecendo, bastante emocionado,<br />

a homenagem recebida dos seus amigos e colegas de<br />

trabalho, classificando o encontro de “uma festa do<br />

coração e da inteligência”.<br />

No período de 1963 a 1966, Sérgio Darcy<br />

exerceu as funções de consultor jurídico do Banco<br />

do Brasil, sendo substituído pelo não menos ilustre<br />

advogado Martins Napoleão que, sua vez, nos idos de<br />

1977, foi substituído por José Augusto Moreira Guimarães.<br />

Na agitada seara dos esportes, Sérgio Darcy,<br />

quando jovem, participou de competições de remo no


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 108<br />

Clube de Regatas Guanabara e chegou a ser campeão,<br />

nessa modalidade, no extinto Clube de Regatas Botafogo.<br />

Quando era presidente do clube do Botafogo,<br />

nos idos de 1937, mandou derrubar a arquibancada de<br />

madeira, fazendo erguer a de cimento, construída com<br />

dinheiro arrecadado da famosa campanha de um saco<br />

de cimento. O engenheiro Rafael Galvão foi o autor do<br />

projeto executado pela firma Cavalcanti, Junqueira & Cia.<br />

Naquela época, corria a notícia: “o Estádio do Botafogo<br />

é o mais bonito do Brasil”.<br />

Ao ser reconduzido à Presidência do Botafogo,<br />

Sérgio Darcy, nos idos de 1963, sucedendo ao presidente<br />

Paulo Azeredo, contratou o técnico de futebol Danilo<br />

Alvim. O Jornal do Brasil (10/4/1963), fez a cobertura da<br />

contratação e publicou a foto do técnico, ladeado por<br />

Renato Estelita, diretor de futebol, e pelo nosso ilustre<br />

homenageado. Médico auxiliar do Dr. Costa Cruz, fazia<br />

parte da Comissão Técnica, o Dr. Lídio Toledo que, durante<br />

muitos anos, veio a ser o médico da seleção brasileira.<br />

Naquela época, como nos dias de hoje, o<br />

Botafogo de Futebol possuía jogadores de nível de<br />

seleção brasileira. Vale destacar a presença de craques,<br />

consagrados não apenas nos campeonatos cariocas e<br />

brasileiros, mas em competições mundiais: Manga (goleiro),<br />

Nilton Santos, Amoroso, Gérson, Didi, Amarildo, Zagallo,<br />

Quarentinha, Garrinha e Jairzinho.<br />

Ainda nos idos de 1963, precisamente no dia<br />

21 de abril, foram abertos, na cidade de São Paulo, os<br />

IV Jogos Pan-Americanos, com a presença do governador<br />

Adhemar de Barros. É bom ressaltar a conquista da<br />

medalha de ouro pela tenista brasileira Maria Esther<br />

Bueno. Nesse Pan-Americano, o Botafogo emprestou à


109 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

seleção brasileira os jogadores Hélio Dias de Oliveira<br />

(goleiro) e Jair Ventura Filho – Jairzinho – (ponta-direita),<br />

tri-campeão carioca de juvenis. Ambos foram consagrados<br />

campeões dos IV Jogos Pan-Americanos. O jornalista Júlio<br />

Delamare fez a cobertura dos jogos para O Globo.<br />

O Presidente da CBD – Confederação Brasileira<br />

de Desportos era João Havelange, um dos nomes mais<br />

respeitáveis no cenário esportivo mundial, que iria,<br />

mais tarde, presidir a FIFA e divulgar o futebol, hoje<br />

o esporte mais conhecido no mundo, graças á atuação<br />

brilhante do ilustre brasileiro.<br />

Maio de 1963 é o mês de luto para o Brasil.<br />

No segundo dia, o desastre com o avião Convair da<br />

Cruzeiro do Sul fez 37 vítimas. Perdendo o avião de<br />

carreira, o deputado federal Miguel Bahury (PSP/MA),<br />

presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre<br />

Segurança de Vôo, na Câmara dos Deputados, não<br />

escapa do destino fatal. No Aeroporto de Congonhas,<br />

embarca num bimotor e morre nos destroços do avião<br />

que caiu no bairro Jabaquara, na capital paulista.<br />

O círculo de tragédia da família Bahury se<br />

fecha. A precisão do tempo é estarrecedor. Há 3 anos,<br />

na mesma hora de uma sexta-feira, morria a querida<br />

esposa do deputado maranhense. Na iconografia dos<br />

fatos, a Revista O Cruzeiro, edição de 03/05/1963, publica<br />

a foto de Bahuri, numa lancha, perto da cabeceira<br />

da pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro,<br />

em busca desesperada do corpo da mulher amada.<br />

Ainda em maio de 1963, outro desastre aéreo<br />

no Brasil. No interior do Rio Grande do Sul, um avião<br />

Cessna cai e tira de cena a atuação de Fernando<br />

Ferrari, em plena campanha presidencial. Velado em


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 110<br />

ambiente suntuoso, primeiro no Palácio Piratini, em Porto<br />

Alegre, e depois no Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro,<br />

o deputado gaúcho fez comover em prantos a nação<br />

inteira. Ainda hoje é amado e sempre relembrado, com<br />

viva emoção.<br />

Vale continuar destacando a presença de<br />

Sérgio Darcy à frente dos destinos do Botafogo, no meio<br />

da turbulência nacional: desastres aéreos, crise econômica,<br />

crise social e crise política.<br />

No dia 15 de junho de 1963, o Botafogo é<br />

manchete de jornais, no Estado da Guanabara: “Botafogo<br />

vence aqui e em Paris – Tricampeão de juvenis e campeão<br />

do Torneio de Paris.”<br />

O Jornal do Commercio comenta ainda a atuação<br />

do time alvinegro, na vitória sobre o Racing (3 x 2),<br />

no Parc des Princes, consagrando-se campeão do Torneio<br />

de Paris, “em partida das mais sensacionais até hoje<br />

realizadas naquela cidade”.<br />

Em 30/6/1963, sob a presidência do Dr. Sérgio<br />

Darcy, o Botafogo fez sua estréia na Taça Libertadores das<br />

Américas, derrotando o Alianza, campeão peruano, com o<br />

placar de 1 x 0, gol do médio-apoiador Elton, sob a<br />

arbitragem do juiz argentino José Luiz Pradante. O clube<br />

alvinegro atuou com a seguinte escalação: Manga,<br />

Paulistinha, Nagel, Nilton Santos, Rildo, Elton, Zagallo,<br />

Garrinha, Jair, Amarildo e Othon.<br />

No dia 04 de julho, o Botafogo alcançou outra<br />

vitória, em Lima, no Estádio Nacional, ganhando o<br />

Sporting Cristal, dirigido pelo técnico Didi, campeão mundial<br />

de futebol, pela contagem de 3 a 1.


111 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Antes daquela partida, Didi queria jogar contra<br />

o Botafogo, e pediu autorização ao chefe da delegação<br />

alvinegra, Renato Estelita, que, por sua vez, telefonou ao<br />

presidente Sérgio Darcy a respeito da idéia. A resposta<br />

foi negativa. No entanto, o jogador Didi poderia atuar,<br />

se assim desejasse, na partida, como jogador do Botafogo.<br />

A realidade é que Didi entrou em campo na condição de<br />

técnico do time peruano.<br />

Preservando a memória consagrada, como um<br />

dos ícones do futebol brasileiro, no passado, o nome<br />

Didi, atualmente, é designado em homenagem a um dos<br />

mais conhecidos parques esportivos no bairro Recreio dos<br />

Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro.<br />

Retomando a narrativa da excursão do Botafogo:<br />

com o placar de 2 x 0, mais uma vitória alvinegra<br />

pela Taça Libertadores das Américas derrotando o clube<br />

Milionários, em Lima, no dia 07 de julho de 1963.<br />

Na página esportiva de O Globo, edição de<br />

16/07/1963 – Amarildo cedido afinal ao Milan – O Dr. Sérgio<br />

Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, em<br />

reunião com o representante do Milan, da Itália, Sr.<br />

Rodolfo Rechi e o procurador do jogador Amarildo, Sr.<br />

Noel Guimarães, concordou em ceder o passe do jogador<br />

alvinegro para o clube italiano, mediante o recebimento<br />

de 400.000 dólares, por um contrato de 3 anos.<br />

Na declaração aos jornalistas, Sérgio Darcy<br />

revelou que o Botafogo não estava interessado em<br />

desfazer-se de nenhum de seus jogadores. Mas recebeu<br />

carta de Amarildo pedindo ao clube facilitar a ida<br />

dele para o Milan. Diante das circunstâncias, o Botafogo


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 112<br />

não poderia cobrir o que o jogador iria receber na<br />

Itália.<br />

A manchete do Jornal do Brasil (01/08/1963) destaca:<br />

Amarildo embarca com o pedido de CL para não ensinar o pulo<br />

do gato. O JB comentou que o jogador do Botafogo, ao<br />

embarcar, no Aeroporto do Galeão, em companhia de<br />

suas irmãs Nicéia e Maria do Carmo, e de Rodolfo Rechi,<br />

encontrou-se com o governador Carlos Lacerda que estava<br />

aguardando a chegada da escritora francesa Suzanne<br />

Labin. e o ouviu a recomendação de “mostrar todo<br />

seu futebol aos italianos, mas não ensinar-lhes o pulo do<br />

gato.”<br />

Amarildo estava muito satisfeito da vida porque,<br />

além do contrato assinado, recebeu do Botafogo 10 mil<br />

dólares extras, no almoço de despedida em que foi<br />

homenageado pelo clube. Muito emocionado, chorou e<br />

fez outros jogadores presentes chorarem. Neste gesto, o<br />

presidente Sérgio Darcy demonstrou, mais uma vez, o<br />

valor de ser justo para quem prestou relevantes serviços<br />

ao clube. Quanta dignidade num homem só!<br />

Com bastante dinheiro obtido pela venda do<br />

jogador Amarildo para o Milan, da Itália, o Botafogo de<br />

Futebol e Regatas adquire o passe do jogador Gérson<br />

comprado do Flamengo. A transação foi realizada, às<br />

14h:00min do dia 17 de setembro de 1963, dentro da<br />

Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, onde o<br />

consultor jurídico Sérgio Darcy, na qualidade de<br />

presidente do Botafogo, assinou um cheque nominal<br />

no valor de Cr$ 150 milhões, entregue a Fadel Fadel,<br />

presidente do Flamengo. Foi, sem dúvida, a maior<br />

negociação efetuada, até então, entre clubes brasileiros.


113 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

No contrato assinado, conforme divulgado pela<br />

imprensa, foi estabelecido ao jogador Gérson o pagamento<br />

de Cr$ 10 milhões de luvas e Cr$ 150 mil mensais por<br />

2 anos. Tempos depois, Gérson viria a ser comentarista<br />

da Rádio Globo, valorizando as transmissões de futebol.<br />

Nesse mesmo dia (17/09/1963), dois fatos<br />

importantes aconteceram na Guanabara, Estado governado<br />

por Carlos Lacerda: a inauguração da primeira das 2<br />

pistas do aterro do Flamengo e a apresentação do cantor<br />

americano Ray Charles, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.<br />

A atuação do Botafogo de Futebol e Regatas, que<br />

se desenrolava no meio do Campeonato Carioca do ano<br />

de 1963, foi comentada por Renato Estelita, diretor de<br />

Futebol, justificando “se o time ainda não tem um bom<br />

ataque é porque não foi possível, em curto prazo,<br />

preencher os lugares deixados pelos atacantes que foram,<br />

teoricamente, os melhores” (JB 01/11/1963). O dirigente<br />

alvinegro estava fazendo referência aos jogadores Didi,<br />

que foi transferido para o futebol peruano, e ao Amarildo<br />

para a Itália, e à contusão de Garrincha, impossibilitado<br />

de voltar, em curto prazo, aos gramados.<br />

Observamos que, meses antes da declaração<br />

do Sr. Renato Estelita, realmente o clube tinha o melhor<br />

ataque do mundo, com a presença de 3 bicampeões<br />

mundiais: Didi, Amarildo e Zagalo e, ainda, a participação<br />

de Quarentinha, o artilheiro do Botafogo, de ontem e de<br />

hoje, que jogou pela seleção brasileira.<br />

Dias depois da declaração do dirigente Renato<br />

Estelita, o Botafogo mudou de técnico. Saiu Danilo Alvim,<br />

mesmo prestigiado pela Diretoria, mas sem sorte nos<br />

últimos resultados dos jogos, e entrou Paraguaio, antigo<br />

jogador do clube.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 114<br />

No dia 05/11/1963, o presidente Sérgio Darcy,<br />

sempre elegante, trajando terno, apresenta aos jogadores,<br />

que estão de uniforme do clube, no meio do campo, o<br />

novo técnico de futebol. Suas palavras explicam porque<br />

o Botafogo trocou de técnico, permanecendo a mesma<br />

disposição para conquista do tricampeonato e pediu o<br />

máximo apoio ao Paraguaio..<br />

Dias depois, o time teve excelente atuação em<br />

campo e a imprensa comenta: “Botafogo mostrou pela<br />

primeira vez astúcia e categoria de bicampeão.” (JB –<br />

09/11/1963). Apesar do sucesso momentâneo, o time não<br />

conseguiu conquistar o campeonato. O campeão carioca<br />

de 1963 foi o Flamengo.<br />

Em 16/11/1963, houve eleição para a nova<br />

Diretoria do Botafogo. O Sr. Nei Cidade Palmeiro, juiz<br />

de Direito e professor do Colégio D. Pedro II, foi eleito<br />

presidente.<br />

Na solenidade de transmissão de cargo de<br />

presidente do clube, realizada em 03/01/1964, o nosso<br />

homenageado se despedia, com um discurso bastante<br />

aplaudido, na presença de inúmeras autoridades ligadas<br />

ao mundo dos esportes, destacando-se João Havelange,<br />

presidente da CBD – Confederação Brasileira de Desportos,<br />

e Antônio do Passo, presidente da Federação Carioca de<br />

Futebol.<br />

Ainda como presidente do Botafogo, Sérgio<br />

Darcy, viu coroados de êxito, para gáudio nosso, no<br />

recinto esportivo do Banco do Brasil, a AABB – Rio de<br />

Janeiro vencer a Hebraica, em 28/12/1963, conquistando<br />

o campeonato carioca de voleibol masculino. Segundo o


115 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Jornal do Commercio, Nuzman foi o jogador mais destacado<br />

da partida.<br />

Dentre as atuações de Carlos Arthur Nuzman,<br />

como atleta da seleção brasileira de vôlei, destaca-se<br />

o Campeonato Mundial, realizado em Moscou, URSS,<br />

nos idos de 1962. O chefe da delegação brasileira era<br />

Adolpho Schermann, nome que muito honra o esporte<br />

brasileiro, o Banco do Brasil, a AABB–Rio e a Academia<br />

de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Dois<br />

anos depois, em 1964, nos Jogos Olímpicos de Tóquio,<br />

quando o voleibol estreou em olimpíadas, Nuzman<br />

integrou a equipe brasileira. Carlos Arthur Nuzman é<br />

presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.<br />

Relembrando os idos de 1963: todas as noites,<br />

a partir das 5 para as 8h, o público se recolhia em<br />

seus lares, após a jornada de trabalho, para assistir à<br />

apresentação do noticiário da TV–RIO canal 6, na voz<br />

dos locutores Heron Domingues e Léo Batista. E às terçasfeiras,<br />

às 21h:00min, Hebe Camargo iniciava a apresentação<br />

do programa produzido por Maurício Schermann.<br />

Atualmente, decorridos 45 anos ininterruptos,<br />

Hebe Camargo (apresentadora do SBT) e o Léo Batista<br />

(comentarista esportiva TV-Globo) continuam fazendo<br />

sucessos, com elevados índices de audiência pública.<br />

O tempo em que é recordada a passagem de<br />

Sérgio Darcy, à frente dos destinos do Botafogo de<br />

Futebol e Regatas, pela 2ª vez, é o tempo do Brasil<br />

governado por presidente João Goulart. Época em que<br />

surge a luta política do governo pelas reformas de base,<br />

sem apoio do Congresso Nacional. Brasil de greves,<br />

Brasil de economia crescente, com inflação elevada, Brasil<br />

de grandes comícios.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 116<br />

Nessa época, nasce a bossa–nova. Aliás, o termo<br />

foi criado por um engraxate que limpava sapatos, bem<br />

próximo da Rua Primeiro de Março, 66 – Banco do Brasil,<br />

onde Sérgio Marcos Rangel Porto trabalhava. Um dia,<br />

usando um sapato sem cadarço, ele chegou perto do<br />

engraxate e este, admirado pela novidade, lhe disse<br />

olhando para o estilo do sapato: “bossa–nova”.<br />

Sérgio Porto gostou do dito jocoso e passou a<br />

empregá-lo, em vários jornais que escrevia, em toda<br />

novidade que aparecesse: um baile no Copacabana Palace<br />

Hotel, e outros eventos, e principalmente no estilo<br />

musical que, naquela época, estava surgindo.<br />

Apresentamos, a seguir, nossa impressão a<br />

respeito do sucesso do samba bossa-nova no exterior,<br />

onde recebeu calorosa recepção e teve repercussão<br />

internacional, inclusive para o Brasil, onde nasceu:<br />

“A bossa-nova foi introduzida e apreciada nos Estados<br />

Unidos, graças à mistura da batida do jazz, o tipo jazz<br />

soul, mais romântico, mais leve e um pouco dançante”. (22)<br />

Eis o segredo do sucesso do compositor Tom<br />

Jobim e a sua linda Garota de Ipanema (letra de Vinícius<br />

de Moraes), que encantou o mundo e fez surgir toda<br />

uma geração de grandes compositores de uma época que<br />

passou e, às vezes, recrudesce, de tempos em tempos.<br />

(22) ARTUR DA TÁVOLA – Mestres da Música – Programa radiofônico<br />

da Rádio MEC FM 98,9 MHz – Rio de Janeiro – RJ – 2005.


117 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

No Brasil e no exterior, o ano de 1963 teve<br />

ainda grandes acontecimentos:<br />

janeiro – realização do plebiscito pela volta do regime<br />

presidencialista, derrubando o parlamentarismo instituído<br />

em 1961, por emenda constitucional. Esse regime surgiu<br />

em decorrência da renúncia de Jânio Quadros e a fim de<br />

tirar o poder do presidente que assumia, João Goulart,<br />

injustamente prejudicado.<br />

março – Quincas Berro D´Água, personagem do romance<br />

Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado, se encarna em<br />

cena lírica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro,<br />

ambientado na coreografia da russa Feodorova e<br />

música de Cláudio Santoro.<br />

abril – Inauguração da sede da Reitoria da Universidade<br />

do Estado da Guanabara pelo governador Carlos Lacerda,<br />

com a presença do reitor Haroldo Lisboa da Cunha,<br />

deputado Raul Brunini, presidente da Assembleia<br />

Legislativa, Flexa Ribeiro, secretário de Educação, e<br />

inúmeras autoridades. A aula inaugural foi proferida<br />

pelo Prof. João Lira Filho.<br />

maio – Na divisa de Minas e Bahia, João Goulart,<br />

presidente da República, inaugura a Estrada de Rodagem<br />

Rio-Bahia. É a maior obra de engenharia, até então<br />

construída no País. No mês anterior, foram<br />

inaugurados os túneis Santa Bárbara e Tonelero, e a<br />

Avenida Radial Oeste pelo governador Carlos Lacerda.<br />

junho – eleição de miss Brasil, no Maracanãzinho. Eleita<br />

a gaúcha Iêda Maria Vargas.


FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 118<br />

A respeito dos antecedentes do concurso, embora<br />

seja conhecida a 1ª eleição, em 1954, com a vitória de<br />

Marta Rocha, vale dizer que, em 1949, na AABB - Rio de<br />

Janeiro, foi realizado o 1° concurso de miss Brasil, com a<br />

eleição de Jussara Marques de Amorim, representando o<br />

Estado de Goiás.<br />

junho – ao entardecer de domingo, 30 de junho de 1963,<br />

é realizada a coroação do papa Paulo VI, sucedendo<br />

a João XXIII. 300 mil pessoas do mundo inteiro compareceram<br />

à Praça São Pedro. O presidente João Goulart e o senador<br />

mineiro Juscelino Kubitschek (ex-presidente da<br />

República) estavam ali presentes.<br />

julho – Ao ensejo das realizações das exéquias do papa,<br />

Goulart e Kennedy reúnem-se em Roma.<br />

setembro – Inaugurada a TV Excelsior – canal 2 – no<br />

Estado da Guanabara.<br />

– A vinda do marechal Tito da Iugoslávia em visita<br />

oficial a Brasília e a várias cidades brasileiras.<br />

– No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o<br />

compositor e maestro Igor Stravinsky rege Le Baiser da la<br />

Fée, balé composto nos idos de 1928, e na Igreja da<br />

Candelária, a Missa para coro e orquestra, ambos<br />

de sua autoria. No ambiente sagrado, recebe aplausos<br />

e admiração.


119 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

No dia 21/09/1963 é aberta a 3ª Feira da<br />

Providência do Rio de Janeiro, no Iate Clube e adjacências,<br />

por Dom Hélder Câmara. O evento atraiu 1 milhão e ½<br />

de pessoas, cinco vez maior do que a multidão que foi<br />

ver a coroação do papa Paulo VI, três meses antes, no<br />

Vaticano.<br />

Em 26/10/1969, Sérgio Darcy partiu para o reino<br />

onde a sabedoria deslinda os enigmas do caminhar.<br />

Nesse mundo de sonhos, aureolado pela luz das estrelas,<br />

luz que se projeta dos feitos de grandeza que o<br />

nosso homenageado sempre buscou dignificar a vida,<br />

se destacam os versos da música de Lamartine Babo:<br />

“Na estrada dos louros, num facho de luz<br />

Tua estrela solitária te conduz.” (23)<br />

Sem dúvida, sentimos muita satisfação em<br />

recompor, em breves linhas, alguns aspectos da trajetória<br />

terrena de Sérgio Darcy que, com imensa honra, integra<br />

a Galeria dos Presidentes do Botafogo de Futebol e Regatas,<br />

bem como o seleto grupo de consultores jurídicos do<br />

Banco do Brasil, contribuição singela que homenageia<br />

os grandes juristas que deixaram marco de grandeza à<br />

frente da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, empresa<br />

que tem um caminhar de progresso que se mistura com<br />

os próprios passos da História do Brasil.<br />

(23) LAMARTINE BABO – Letra do Hino do Botafogo de Futebol e<br />

Regatas. – in Botafogo – O glorioso – Uma história em preto e branco,<br />

p. 158 – Editor: Ney Oscar Ribeiro de Carvalho – Rio de Janeiro –<br />

1996.


Iconografia<br />

FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 120<br />

– Album: Botafogo, o glorioso – Uma história em preto e<br />

branco, p. 56 – Editor: Ney de Carvalho – Rio de Janeiro –<br />

1996 – Retrato de Sérgio Darcy – Arquivo: Botafogo de Futebol<br />

e Regatas.<br />

– Retrato/imagem de busto de Sérgio Darcy – Acervo:<br />

Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Acervo<br />

original: retrato p & b 13cm x 19cm – Album da família Darcy –<br />

cópia doada ao escritor Fernando Pinheiro.<br />

– Jornal do Brasil – 14/09/1963 – 1° Caderno – Sérgio Darcy,<br />

presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (retrato<br />

de busto, do lado esquerdo).<br />

– JB – 15/09/1963 – 1° Caderno – Foto de Sérgio Darcy<br />

conversando com Fadel Fadel, presidente do Flamengo,<br />

na sede do Morro da Viúva, Flamengo – Rio.<br />

– JB – 18/09/1963 – 1° Caderno – p. 16 – Foto de Sérgio<br />

Darcy assistindo ao exame médico do jogador Gérson<br />

ao lado do médico Costa Cruz.<br />

– JB – 06/11/1963 – 1° Caderno – p. 16 – Foto de Sérgio<br />

Darcy, de terno escuro, com o braço levantado,<br />

apresenta aos jogadores, – vestidos de uniforme,<br />

sentados no gramado – o técnico Paraguaio, no<br />

–<br />

campo de futebol do Botafogo, sede da Rua General<br />

Severiano, Botafogo – Rio de Janeiro.<br />

Boletim 1964 – BOTAFOGO F. R. – Foto de SÉRGIO<br />

DARCY, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas,<br />

assinando documentos na sede do clube.<br />

– O Globo – 03/01/1964 – Foto de Sérgio Darcy,<br />

segurando com a mão direita o microfone, proferindo<br />

o discurso de despedida do cargo de presidente do<br />

Botafogo de Futebol e Regatas, entre as autoridades<br />

desportivas, vale destacar João Havelange.


121 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

MARTINS NAPOLEÃO<br />

BENEDICTO MARTINS NAPOLEÃO <strong>DO</strong> RÊGO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976)<br />

TOBIAS PINHEIRO<br />

Conselheiro da ABI - Associação Brasileira de Imprensa<br />

“Este fluxo de música, Senhor,<br />

com que expresso o que sinto de bondade,<br />

de sonho, de esperança e de beleza,<br />

esta doce onda de música irresistível,<br />

não sou eu ...<br />

Esta música é o Teu sopro eterno,<br />

no instrumento do efêmero caniço.”<br />

MARTINS NAPOLEÃO


T<br />

OBIAS PINHEIRO – 122<br />

TOBIAS PINHEIRO, conselheiro da ABI – Associação Brasileira de<br />

Imprensa – Discurso proferido em 12/11/2004, ao ensejo da<br />

realização do 5° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social,<br />

promovido pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco<br />

do Brasil.<br />

O Poeta<br />

Em 30 de abril de 1981, o poeta Benedicto<br />

Martins Napoleão do Rêgo morreu no Rio de Janeiro.<br />

Mas ele permanece vivo pelos poemas que nos legou<br />

com marcas de perenidade. Por sua vez, o escritor<br />

Fernando Pinheiro, presidente da Academia de Letras dos<br />

Funcionários do Banco do Brasil, nos convidou para<br />

uma palestra sobre o poeta. Ele iluminou a juventude<br />

piauiense no Século XX. Era um poeta moderno, como<br />

Da Costa e Silva e Hindemburgo Dobal.<br />

Voltemos a Teresina, em 1943, no tempo dos<br />

incêndios. Ali encontramos o poeta no vigor dos 40 anos,<br />

quando ainda tínhamos apenas 16. Nascido em União,<br />

no dia 17 de março de 1903, mudou-se para a capital<br />

e, dali, para Belém, acompanhando o irmão Hugo<br />

Napoleão. Trabalhou na Biblioteca e Arquivo Público do<br />

Pará, enquanto estudava. Em Belém nasceu o sobrinho,<br />

embaixador Aluízio Napoleão de Freitas Rego, em 20<br />

de novembro de 1914, hoje sócio do Instituto Histórico e<br />

Geográfico Brasileiro.<br />

Benedito é inteligente e compenetrado. Quando<br />

termina o Curso Ginasial, em Belém, tem os colegas<br />

de turma Peregrino Júnior e Oswaldo Orico, que<br />

se elegeriam para a Casa de Machado de Assis, além<br />

de Eneida de Morais, a cronista do Diário de Notícias.<br />

Candidato à Academia Brasileira de Letras, em 1957,


123 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

não fez campanha, não foi eleito, mas os dois colegas<br />

votaram no amigo.<br />

No Almanaque da Parnaíba, edição de 1958,<br />

publicamos “Dois Votos para Martins”. Ele residia na Rua<br />

General Glicério, 326, Laranjeiras, Rio de Janeiro. Redator<br />

dos Diários de Notícias fomos levar-lhe a publicação. Era<br />

domingo, e quase nos obriga a almoçar. Dali em diante,<br />

passou a nos dispensar atenção especial, enviando-nos<br />

seus livros com encantadoras dedicatórias.<br />

Mas voltemos à juventude. De Belém veio para<br />

o Rio, onde trabalhou no Museu da Quinta da Boa Vista,<br />

segundo nos lembra o filho Sandro, nosso companheiro<br />

de juventude. Voltou para Teresina em 1924 e concluiu<br />

o Curso de Direito em 8 de dezembro de 1936.<br />

Professor, tornou-se conhecido com seu livro de estreia,<br />

Copa de Ébano, publicado em 1927.<br />

Nele se encontra O Destino da Lira:<br />

“Dói recolher, na concha e na alma, o alheio pranto / -<br />

o orvalho a gotejar de outras raízes... / Mas é tão doce a dor<br />

de o transformar num canto / que console infelizes!... ///<br />

O destino da Lira é como o das estrelas, / belas e inúteis,<br />

aparentemente mas a força vital infinita que há nelas / faz<br />

brotar a semente. /// O destino da Lira é o destino das<br />

rosas, / morrendo mas deixando o aroma que erra, / ou no<br />

ar ou no esplendor das mulheres formosas, / como um<br />

bem feito à terra.”<br />

Dali em diante, o poeta publicou 23 livros<br />

de poesia e prosa. Torna-se catedrático de Gramática<br />

Histórica e de Filosofia do Colégio Estadual do Piauí,<br />

professor de Direito Constitucional da Faculdade de<br />

Direito de Teresina, diretor da Instrução Pública,


TOBIAS PINHEIRO – 124<br />

secretário-geral e consultor jurídico do Estado. A tudo<br />

era chamado e tinha de dar atenção a todos.<br />

Com a queda de Getúlio Vargas, em 29<br />

de outubro de 1945, o ministro José Linhares tomou<br />

posse na Presidência da República, e Martins Napoleão<br />

assumiu o cargo de interventor do Estado, na fase de<br />

transição para a democracia.<br />

Nosso Mestre era a um só tempo a formiga<br />

diligente no trabalho e a cigarra que mais cantava<br />

naquele quintal da inteligência brasileira. Finda sua<br />

missão, passado o governo ao Dr. Rocha Furtado, nada<br />

mais tinha a fazer no Piauí. Lá existe uma cidade<br />

chamada Campo Maior, terra do acadêmico Raimundo<br />

Santana. Campo maior para ele era o Rio de Janeiro.<br />

Sentiu muita saudade dos amigos, mas mudou-se para<br />

a Cidade Maravilhosa.<br />

O poeta Martins Napoleão trabalhou no Setor<br />

Jurídico da Superintendência da Moeda e do Crédito,<br />

a SUMOC, de que se originaria o Banco Central. Dali<br />

passou para a Consultoria Jurídica do Banco do Brasil,<br />

onde trabalhou o irmão, deputado federal, Hugo Napoleão,<br />

avô do senador, ex-governador e ex-ministro de Estado,<br />

Hugo Napoleão do Reto Neto, filho de Aluízio, ambos<br />

titulares da Academia Piauiense de Letras. Em pouco<br />

tempo, seria o chefe, sem deixar de ser o poeta, um<br />

orgulho de seu Piauí, um ponto de referência no Rio<br />

de Janeiro.<br />

O Consultor Jurídico do Banco do Brasil


125 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Com o correr dos anos, o poeta Martins<br />

Napoleão preparou sua obra literária, mantendo-se nas<br />

funções de Consultor Jurídica do Banco do Brasil, onde<br />

se aposentou em 17 de setembro de 1977. Três anos e<br />

sete meses depois, no dia 30 de abril de 1981, o poeta<br />

morre. Encerra suas atividades na Terra mas nos<br />

deixou o Cancioneiro Geral, de 720 páginas, em dois<br />

volumes, mas sem uma revisão criteriosa, com algumas<br />

falhas de editoração.<br />

Ele sempre andou preocupado, com traduções e<br />

versões dos grandes poetas alemães, italianos, espanhóis,<br />

ingleses e franceses. Sua poesia ilumina as estradas que<br />

percorremos e tem projeção internacional.<br />

Uma Cultura Universal<br />

Com data de 2 de maio de 1969, conservo o<br />

seguinte cartão em bonita caligrafia: “Meu caro Tobias<br />

Pinheiro, recebi o convite para a festa de sua posse na<br />

Academia Guanabarina de Letras. Lamentei não poder ir,<br />

por estar comprometido para quarta-feira à noite. Já<br />

ouvi hoje que foi magnífico o seu discurso em que<br />

reuniu, sob o mesmo carinho, o Maranhão e o Piauí.<br />

Mande-me sua oração quando a publicar. Dou-lhe<br />

parabéns pelo seu ingresso à imortalidade acadêmica.<br />

O meu abraço cordial. a) Martins Napoleão.”<br />

Era assim o Mestre e amigo, que voou mais<br />

alto do que muita gente imagina, sobretudo como<br />

polígrafo. Adaptou inspirados poemas italianos, ingleses<br />

e alemãs à nossa Língua. Sua poesia se enfeitava com<br />

os conceitos universais e as inspiradas comparações,<br />

enquanto sua prosa nos encantava com recursos<br />

extraordinários. Quando fala sobre Goethe, seu estilo é<br />

mais pomposo. Vamos ouvi-lo em pequeno trecho:


TOBIAS PINHEIRO – 126<br />

“Glorioso e inacessível – sobranceiro, como um<br />

deus, a turba dos mortais – fora, até então, o autor do<br />

Divã uma das criaturas mais felizes e equilibradas de<br />

sua longa época. Poeta admirável, sua cultura universal<br />

se espraiava pelo romance e a filosofia, pela ciência e a<br />

política. A todas as excepcionais qualidades, com se<br />

distinguia, aliava extraordinária beleza física: vasta fronte,<br />

nariz perfeito, olhos de ver longe – digno nas atividades<br />

e elegante no trajar, adorado das mulheres e invejado dos<br />

homens.”<br />

Em matéria de amor, lembramos Sócrates.<br />

Um dos discípulos lhe perguntou: “Mestre, qual a maior<br />

tortura que os deuses podem dar a um homem?” E a<br />

resposta foi breve: “Filho, duas mulheres ao mesmo<br />

tempo.” Mas o amor do poeta está em tudo, para a<br />

transfiguração de uma rotina forçada, quase inconseqüente.<br />

Quando Gonçalves Dias escreveu Sextilhas de Frei Antão,<br />

disseram que ele conhecia o Português em suas origens.<br />

O mesmo podemos dizer de Martins Napoleão, em<br />

Tema, Coral e Fuga, edição de 1966, versos escritos entre 1957<br />

e 1965. Ali há cantigas de velhos tempos:<br />

“Falares de Ruy de Pina, / cantares de Dom Dinis, /<br />

cantigas de amor e amigo, / ó doce luz matutina, /<br />

breve sorriso feliz, / ó frool que se muda em flor, / cantigas<br />

de Ruy de Pina, / cantigas de amigo e amor. /// Ó<br />

poesia orvalhada, / coisa pura, madrugada / das palavras<br />

portuguesas, / ó queixumes, ó tristeza, / aliviai-me o<br />

desgosto, / gotejai pelo meu rosto / como pêndula<br />

ramada, / dizendo-me tudo, posto / que dizendo quase<br />

nada.”


127 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Antologia de Poemas Alheios<br />

Conservamos em nossa biblioteca a Pequena<br />

Antologia de Poemas Alheios, editada em 1960 pela Gráfica<br />

Olímpica Editora. Comprei o livro num sebo, mais pela<br />

dedicatória: “Ao querido Onestaldo de Pennafort, grande<br />

poeta de minha idade nova e grande tradutor de poetas,<br />

o Martins Napoleão.” Onestaldo nasceu no Rio de Janeiro<br />

em 25 de junho de 1902 e morreu em 17 de abril de<br />

1987. É, como sabemos, patrono da Cadeira n° 56 da<br />

Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />

No livro, a transcrição de Renato Jobim,<br />

conselheiro da ABI, no Diário Carioca, de 03/02/1957. Ele<br />

ressalta que Martins Napoleão, “além de legitimamente<br />

inspirado, domina com maestria os elementos de técnica<br />

tradicional”. E o Jornal do Commercio, de 30-12-1956,<br />

assegura: “O Sr. Martins Napoleão pertence à melhor<br />

estirpe de vates dos nossos dias, não desses que se<br />

perdem na toada monocórdia do “modernismo”, mas dos<br />

verdadeiros poetas, cuja linhagem vem de Dante, Petrarca<br />

e Camões”.<br />

No prefácio, o poeta explica:<br />

“As traduções aqui reunidas – trabalho de duas<br />

épocas separadas por cerca de 30 anos – só ultimamente<br />

foram revistas no seu conjunto. Inéditas até agora, com<br />

exceção apenas de uma de D´Annunzio e das de Tagore,<br />

Samain, e Martinez, representam, ao lado da experiência<br />

artística, o desejo de que os outros também sintam, em<br />

língua nossa, um pouco das emoções que a sua leitura<br />

nos despertou.


TOBIAS PINHEIRO – 128<br />

Entre os autores traduzidos, está Guido Cavalcanti,<br />

de Florença, nascido em 1259 e falecido em 1300. Este poeta<br />

desenvolveu a teoria do amor com sutileza de raciocínio,<br />

elegância de estilo e novidade de ritmos. Vamos ler dois<br />

tercetos dele: “Aquelas que vos fazem companhia, / muito<br />

me agradam pelo vosso amor; / e eu lhe peço, por sua<br />

cortesia, / que cada qual vos preste honra maior / e tenha<br />

apreço a vossa senhoria, / porque vós sois de todas a<br />

melhor.”<br />

Dante Alighieri, de Florença, nasceu em 1265<br />

e morreu em 1321. Martins Napoleão traduziu cantos<br />

de A Divina Comédia e sonetos, como Vita Nuova:<br />

“É tão gracioso e tão honesto o ar / de minha<br />

amada quando alguém saúda, / que toda língua treme<br />

e se faz muda, / e os olhos não se atrevem de a fitar.<br />

/// Ela se vai, sentindo-se louvar, / vestida na humildade<br />

em que se escuda, / como coisa do céu que se transmuda /<br />

para um milagre ao mundo revelar. /// Mostra-se tão<br />

cortês a quem a mira, / que, ao vê-la, a alma se inunda<br />

de dulçor / tal que entender só pode quem o prove. ///<br />

E de seus lábios como que se move / espírito gentil cheio<br />

de amor / que dizendo ao coração: Suspira!”<br />

Francesco Petrarca nasceu em Arezzo, Itália,<br />

em 20 de julho de 1304 e faleceu em Arquà no dia<br />

19 de julho de 1374. Autor de belos sonetos, foi imitado<br />

por Camões. Vamos ler Na sepultura de Laura:<br />

“Rimas dolentes, ide à pedra dura / que o meu caro<br />

tesouro em terra esconde; / ali chamai a quem do céu<br />

responde, / tendo o corpo mortal na sepultura. /// Dizei-lhe<br />

que me canso desta escura / viagem num mar que à<br />

vida corresponde; / e os ramos recolhendo à murcha fronde,<br />

/ passo a passo, caminho à sua procura, /// nela tão só<br />

falando, viva e morta, / antes mais viva já, pois imortal, / por


129 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

que o mundo a conheça e também ame. /// Que a meu breve<br />

passar na última porta / atente; venha ao meu alcance e, qual /<br />

está no céu, a si me atraia e chame.”<br />

Encerramos com Arieta Esquecida, de Paul Verlaine:<br />

“Chora em meu coração / e chove na cidade. / Que é<br />

esta lassidão / que entra em meu coração? /// Doce cair da<br />

chuva / no chão e sobre os tetos! / Para uma alma viúva, oh!<br />

o cântico da chuva. /// Chora, mas sem razão, / na alma que<br />

se desalma. / Qual! Nenhuma traição? / É um sofrer sem<br />

razão. /// A que mais dói é a dor / de não saber por que, /<br />

sem ódio nem amor, / há em mim tanta dor.”<br />

Muitas vezes, encontramos Martins Napoleão na<br />

Igreja de Santa Cruz dos Militares, ao lado do Banco do<br />

Brasil, na Rua Primeiro Março. Hoje, apenas nos cabe<br />

levar uma flor a seu túmulo e estas palavras à sua memória.<br />

Tobias Pinheiro


XAVIER DE ALBUQUERQUE – 130<br />

Antes da apresentação do discurso proferido,<br />

em 14 de junho de 1972, pelo Consultor Jurídico Martins<br />

Napoleão, são transcritos, abaixo, trechos da carta do Dr.<br />

Xavier de Albuquerque, escrita em 1° de setembro de<br />

2003, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro:<br />

“Quando fui investido, em abril de 1972, no cargo<br />

de Ministro do Supremo Tribunal Federal, sucedeu-me no<br />

de Procurador–Geral da República, que eu exercera desde<br />

1969, o colega José Carlos Moreira Alves (mais tarde, por<br />

igual, Ministro do Supremo e seu Presidente, há pouco<br />

aposentado compulsoriamente por implemento de idade),<br />

que também integrava o quadro de advogados do BB.<br />

Esse, então, por sua Diretoria, promoveu em Brasília<br />

um banquete em homenagem a mim, que deixara<br />

definitivamente, havia pouco, o seu Serviço Jurídico, e ao<br />

Moreira Alves, que dele se afastava – segundo então se<br />

acreditava – temporariamente. Nesse evento, o então<br />

Consultor Jurídico, Dr. Martins Napoleão, proferiu o<br />

discurso que lhe envio, naturalmente, referindo a ambos<br />

os homenageados.<br />

Ao longo de minha judicatura no Supremo, e em seu<br />

nome, proferi discursos, aqui anexados, de homenagem<br />

aos Ministros Aliomar Baleeiro e Hahnemann Guimarães.<br />

Ao primeiro (cópia extraída de plaquete editada, como<br />

é ali tradicional, pelo próprio STF), por motivo de sua<br />

aposentadoria, ao segundo (cópia da respectiva publicação<br />

da Revista Ajuris), em razão de seu falecimento.


131 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Na solenidade de minha posse como Presidente da<br />

Corte, proferiram discursos o Ministro Décio Miranda<br />

(já falecido), em nome do Tribunal, o Procurador-Geral da<br />

República, Firmino Ferreira Paz (já falecido), em nome do<br />

Ministério Público Federal, o Dr. Galba Menegale (já<br />

falecido), em nome da Ordem dos Advogados do Brasil,<br />

Seção do Distrito Federal, o Ministro Evandro Lins e Silva<br />

(já falecido), em nome do Conselho Federal da mesma<br />

Ordem, e eu próprio. Foram todos incluídos na plaquete<br />

editada pelo STF, de que também segue cópia.<br />

Quando de minha aposentadoria, homenageou-me o<br />

Tribunal, como é tradicional e regimental. Discursaram<br />

então o Ministro Francisco Rezek, em nome do Tribunal,<br />

o Procurador-Geral da República, Inocêncio Mártires Coelho,<br />

em nome do Ministério Público Federal, e o Dr. Sérgio<br />

Gonzaga Dutra, em nome da Ordem dos Advogados do<br />

Brasil, Seção do Distrito Federal. Também estão reunidos<br />

na plaquete de que junto um exemplar.<br />

Ainda por motivo de minha aposentadoria,<br />

dedicaram-me sessões de homenagem a Ordem dos<br />

Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal, com discurso<br />

do Dr. Pedro Gordilho (ex-Ministro do Tribunal Superior<br />

Eleitoral), e o Instituto dos Advogados do Distrito Federal,<br />

com discurso do Dr. José Guilherme Villela (também ex–<br />

Ministro do Tribunal Superior Eleitoral). No seu vol. 258,<br />

a Revista Forense reuniu e publicou essas manifestações<br />

(inclusive a do Supremo, objeto da plaquete há pouco<br />

referida), pelo que mando cópia das páginas<br />

correspondentes.” (24)<br />

(24) XAVIER DE ALBUQUERQUE – Carta escrita em 1° de setembro<br />

de 2003, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro


HOMENAGEM<br />

MARTINS NAPOLEÃO – 132<br />

Ao Professor XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />

Ministro do Supremo Tribunal Federal<br />

Ao Professor MOREIRA ALVES<br />

Procurador–Geral da República<br />

Prestada por<br />

MARTINS NAPOLEÃO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967 a 1976)<br />

Exmos. Srs. Presidentes do Supremo Tribunal, Tribunal<br />

Federal de Recursos, Superior Tribunal do Trabalho,<br />

Tribunais de Contas da União e do Distrito Federal. (25)<br />

(25) BENECDITO MARTINS NAPOLEÃO, consultor jurídico do Banco<br />

do Brasil (1967/1977) – Discurso proferido, em 14/6/1972, ao<br />

ensejo da realização do banquete oferecido pelo Banco do Brasil<br />

ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Professor XAVIER DE<br />

ALBUQUERQUE, e ao Procurador-Geral da República, Professor<br />

MOREIRA ALVES.


133 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça.<br />

Srs. Ministros, Desembargadores e Juízes.<br />

Srs. Procuradores e Auditores.<br />

Srs. Presidentes da Ordem e do Instituto dos Advogados.<br />

Sr. Reitor da Universidade de Brasília.<br />

Srs. Representantes do Tribunal Superior Eleitoral, dos<br />

Estados, da Imprensa, Rádio e Televisão.<br />

Srs. Presidente, Diretores e Colegas do Banco do Brasil,<br />

Autoridades.<br />

Sr. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

Sr. Procurador-Geral Moreira Alves:<br />

Ireis escutar o Banco do Brasil pelo seu<br />

Colegiado, na saudação do Diretor do Pessoal, o Master<br />

Admon Ganem. Tanto bastaria por consenso da Casa e<br />

a uníssono dos que representam aqui a magistratura<br />

e a advocacia, a administração, o ensino, a economia,<br />

a sociedade.<br />

Estaria, pois, esta homenagem coroada de<br />

remate feliz.<br />

Delegou-se-me, porém, como ao obscuríssimo<br />

dentre os cinco Consultores Jurídicos da admirável<br />

corporação financeira – que, só eles, a partir do ápice<br />

de J. X. Carvalho de Mendonça, deram lustre e grandeza<br />

ao nosso Departamento Legal – a honra, imposta ao<br />

dever e aceite com enlevo, de falar-vos agora em nome<br />

dos advogados, a cujo número continuais pertencendo,<br />

embora afastados, de modo definitivo um e outro,<br />

quem sabe, temporariamente, por motivo de investiduras<br />

recentes, a serviço mais alto do país.<br />

Ouvi-me, com a generosidade cordial da<br />

paciência que, no juízo do Santo e Doutor da SUMMA,<br />

ut virtus, non potest haberi sine charitate et grati.


MARTINS NAPOLEÃO – 134<br />

Sr. Ministro, Sr. Procurador-Geral da República:<br />

Tenho por mim sobrecarregado de significação<br />

o fato de que esta noite de apreço se verifique no<br />

cenário magnífico da Nova Capital.<br />

É que Brasília, edificada sob a inspiração do<br />

sonho e da necessidade, reduzindo diáteses e antinomias,<br />

explicáveis e naturais porventura, se firma, sem dúvida,<br />

como laboratório de síntese, propiciador da reunificação<br />

nacional, em todas as suas vastas e complexas dimensões.<br />

Entre muitos aspectos do seu realismo<br />

transcendente, releva acentuar, neste momento, o da<br />

revivescência do papel atuante da Província naquela<br />

presença com que, no passado, participou da formação<br />

das elites brasileiras.<br />

Erros sociais de planificação e antifuncionalidade,<br />

não sei, podem existir aqui. Não a<br />

antibrasilidade que lhe aponta eminente sociólogo.<br />

Da serena altitude destes páramos, onde o céu<br />

inteiro se nos mostra à vista embevecida; e os rasgados<br />

horizontes nos advertem de que a terra nossa continua,<br />

idêntica e desperta, em todos os quadrantes; e onde o<br />

gênio da arquitetura, a fábrica dos artistas, e a<br />

premonição dos governos plantaram a cidade modelar do<br />

trabalho e da meditação, neste planalto arrojado para o<br />

futuro, sentimos, outra vez, renascer de nós, estranhos<br />

a distanciamentos emulativos, justos nos meios porém<br />

acaso molestos nos fins – estes o bem–comum e<br />

supremo – numa catálise precisa, a idéia da pátria,<br />

sólida e una.


135 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Eu me pergunto, como noutras épocas de<br />

anseios e turbações, quando os mitos ganhavam foros de<br />

verossimilança, se haverá, de fato, uma pátria – um<br />

solo, uma língua, um credo, um povo – comunidade<br />

de regiões dentro de uma constante de consciência<br />

coletiva, prendendo-nos o espírito ao mesmo fluxo de<br />

sentimentos e ideais que se entrecasam sob a influência<br />

de remotas simpatias e indizíveis afinidades.<br />

Haverá este coletivo sentido homogêneo da<br />

vida, assim nos triunfos quanto nas derrotas, assim nas<br />

alegrias alvissareiras como nas tristezas deprimentes,<br />

criando uma alma e um destino compartidos?<br />

Mas, enfim, que imensa caudal é a essa –<br />

outrora simples – gota da fonte – a que vieram<br />

desaguar, de todas as vertentes, os grandes tributários,<br />

que lhe marcaram, aprofundaram e encheram o leito,<br />

ora impetuoso como as tormentas, ora corredio e plácido<br />

qual flume sagrado?<br />

Certo, mal divisamos, num abraço retrospectivo<br />

dos olhos, os veios filiformes que, irrigando planícies e<br />

baixadas, terminaram por confluir no talvegue, para a<br />

mobilização da força e da riqueza.<br />

Manancial de que nos alimentamos. Água lustral<br />

em que mergulhamos para nos purgarmos de erros,<br />

para nos remirmos de pecados, estimulando-nos nas<br />

fraquezas, acalmando-nos nas angústias, porque ele é o<br />

miraculoso e perene rio da Pátria.<br />

E ei-lo novamente aqui, no acontecimento<br />

desta cidade reaglutinante, congraçando a velha província,<br />

carreadora de valores humanos.


MARTINS NAPOLEÃO – 136<br />

A mesa posta, a gente irmanada, os homens<br />

aptos, ao prisma da persuasão e da técnica, pela ação<br />

governativa e a paz reconquistada. Altiplano, de onde<br />

irradia a nova projeção do Brasil.<br />

Sr. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

Prezado antigo companheiro:<br />

Madrugastes para o labor e cedo vos<br />

empenhastes nos estudos.<br />

Do funcionalismo do Banco do Brasil, a que<br />

chegastes por mérito de concurso, fostes, em boa<br />

hora, levado para o seu quadro de advocacia, de<br />

onde tantos têm saído, sem desertar, para os postos<br />

mais responsáveis da República, na Administração, no<br />

Parlamento, no Magistério e na Judicatura, esta que,<br />

ainda agora, se enobrece de um Ministro do Tribunal<br />

de Recursos em Esdras Gueiros, dois Desembargadores,<br />

e nada menos do que sete titulares entre a Justiça<br />

Comum da Guanabara e a do Trabalho, além de um<br />

Promotor e um Defensor.<br />

Tanto importa em dizer-se que a secular<br />

instituição de crédito, com vigorosa expansão dentro e<br />

fora do país, revitalizada, em metodologia e dinâmica,<br />

mercê da dedicação de seu conjunto de servidores e<br />

peritos, e de sua excelente Diretoria, à frente da qual<br />

cabe nomear o Presidente Nestor Jost, em contínua febre<br />

passional de atividade, ainda coopera, da melhor maneira,<br />

não apenas para o fomento da economia nacional por<br />

amplas latitudes, como também para os órgãos de maior<br />

importância na condução administrativa, judiciária e<br />

política do Estado.


137 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Integrante do Contencioso, foi-vos, Sr. Ministro,<br />

confiada, por substituição, a Assistência Jurídica de<br />

Brasília, a que igualmente emprestastes relevo excepcional,<br />

em fase árdua, com savoir–faire inexcedível, eficiência<br />

profissional, colaboração fecunda, tato rigoroso e tato<br />

edificante.<br />

Já então vínheis do magistério superior, em que<br />

ingressastes mediante as severas provas de competência.<br />

Não sei, mas bem presumo, que o dom da<br />

palavra – vivida, pronta e exuberante – vos acordou<br />

a vocação para o Direito Penal, assim no foro como<br />

na cátedra. E foi talvez por isto que, aliando dotes e<br />

tirocínio, vos inclinastes a disputar a cadeira, com êxito<br />

alcançada, de Direito Judiciário Penal na Faculdade<br />

amazonense, matéria que lecionais, com a habitual<br />

proficiência, na Universidade de Brasília.<br />

Em vossa tese, que dedicastes à memória de<br />

Análio de Mello Rezende, tão caro às raízes de minha<br />

gente, enfrentais “o tormento da delimitação conceitual<br />

do instituto de conexão”, ali demonstrando a seriedade<br />

dos vossos conhecimentos jurídicos e expendendo, a<br />

esmero, pontos de vista pessoais, com autoridade de<br />

doutrinador e hermeneuta.<br />

Vossa colaboração para nossa literatura<br />

especializada não se estancou nos ASPECTOS DA<br />

CONEXÃO, ensaio dos verdes anos, floridos de<br />

entusiasmo e já colmados de ciência.<br />

Seguiu-se-lhe, sobre o mesmo tema, com visão<br />

dilatada e longo fôlego – elucidando-o, ampliando-o e<br />

enriquecendo-o, ao lume de novas achegas – aquele outro<br />

AINDA SOBRE A CONEXÃO: UTILIDADE E ATUALIDADE


MARTINS NAPOLEÃO – 138<br />

DE UMA LIÇÃO CENTENÁRIA. E lúcidas e aquilatadas<br />

monografias outras, esparsas em Revistas de Direito.<br />

Nem bem lográvamos as dádivas do vosso<br />

talento e preparo, eis que o Poder Executivo, em razão<br />

deles e pela vocação de escolher e premiar, vos eleva<br />

à Chefia do Ministério Público Federal, ora em ablativos<br />

de reestruturação e aprimoramento, e, dentro em pouco,<br />

vos nomeia Ministro do Supremo Tribunal, galardão<br />

de vossa idoneidade, para cujo provimento impõe a<br />

Constituição os requisitos mais substantivos.<br />

Ao convívio diuturno e paralelo dos numes<br />

tutelares da Carta Fundamental, mestres insígnes,<br />

pontífices da Lei e guardiães e vigias da liberdade<br />

malferida ou ameaçada, onde aqueles mesmos que dali se<br />

apartaram, ainda o sulcam de clarões – naquela esfera<br />

de saber e equilíbrio, assegurada pela experiência, a<br />

moderar o que for para moderar, e aperfeiçoar o que for<br />

perfectível, somando opiniões e votos, sem vos despirdes<br />

das aquisições docentes de vossa cultura e entendimento,<br />

não incorrereis na inquinada obstinação dos a que<br />

se dirigia o Pregador, recomendando-lhes docilidade<br />

persuadida e convicta, sinônimo de ciência verdadeira.<br />

Mattirolo, ainda não relegado, e encontradiço<br />

entre os que vos são familiares, em certo passo do<br />

TRATA<strong>DO</strong> DE DIREITO JUDICIÁRIO CIVIL ITALIANO,<br />

lembra-nos que<br />

“Ufficio della dottrina giuridica non è quello soltanto di<br />

esplicare e di commentare la legge positiva, ma quello ancora<br />

– di esaminarne e di apprezzarne il merito, dal doppio lato<br />

della logica del diritto e della pratica opportunità”,


139 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

conselho prudente e momentoso, sobretudo quando as<br />

normas permanentes sofrem, não raro, a violência da<br />

legislação, instável, fragmentária ou tumultuosa, no afã<br />

mesmo de captar, e traduzir em regulæ juris, os<br />

cruciantes e agressivos fenômenos sociais e econômicos<br />

de um mundo em vertiginosa crise de transformações e<br />

de superação.<br />

Para tanto, reunis, numa combinação adequada,<br />

os predicamentos e as virtudes daquele que perquire,<br />

estuda e compara, daquele que aprende e transmite,<br />

daquele que vive e pratica o direito: jurista, professor e<br />

advogado, da mais pura categoria.<br />

Sr. Procurador Geral da República,<br />

Professor MOREIRA ALVES:<br />

Com este amorável título, que ilustrais<br />

tamanhamente, quero tratar-vos aqui, num encontro de<br />

amigos e companheiros.<br />

Afortunado dia aquele, eu o confesso<br />

comovidamente, em que me ocorreu convocar-vos para<br />

o Departamento Jurídico da Carteira de Crédito Agrícola<br />

e Industrial, que chefiava então, e a quando, noutro<br />

setor, desempenháveis já a função de advogado!<br />

Só vos conhecia, àquela altura, através de<br />

informações que vos acreditavam, sem discrepância, no<br />

mister e no ofício, embora tivesse, para fundamento<br />

de minha expectativa, a certeza de que o rebento não<br />

destoava da árvore, pois me acostumara a respeitar e<br />

admirar, de longe fosse, a carreira de vosso Pai,<br />

exemplo de probidade, inteligência e devotamento à<br />

Casa de nós ambos.


MARTINS NAPOLEÃO – 140<br />

Duplamente afortunada a hora em que pude<br />

chamar-vos para a Consultoria Jurídica, onde, malgrado<br />

meu e do Banco, não vos foi possível assistir por<br />

muito, porque vos requestava a cadeira de Direito Civil<br />

na gloriosa faculdade de São Paulo, após memorável<br />

segundo concurso, que do outro saístes sem a cátedra,<br />

embora conquistando a láurea indisfarçável, com que<br />

vos consagraram a vidência dos moços e a opinião dos<br />

sabedores.<br />

Transferindo-vos para a metrópole dinâmica,<br />

cedo na idade talvez, porém maduro no saber e na<br />

profissão, já nos tínheis oferecido o vosso DIREITO<br />

ROMANO, que raros dos nossos têm compendiado, por<br />

igual, em livro e sistema, e que nos reconcilia, velhos<br />

e jovens, educadores e aprendizes, à austera disciplina,<br />

quase apenas soletrada, com honrosas exceções, no<br />

currículo universitário, à pressão de dessorá-lo da seiva<br />

que alenta e sustém a tantos dos nossos institutos<br />

jurídicos.<br />

Na tendência de pragmatização dos cursos,<br />

até certo ponto aconselhável, tornou-se quase despiciendo<br />

o estudo da ciência mater, tanto mais que, aos poucos,<br />

dentre as letras clássicas, vai sendo restringida a<br />

discência do Latim, e voz corrente se espalha a de que<br />

é linguagem para veso de bacharéis e figuração de<br />

leguleios, vazios de idéias e inflados de aparência.<br />

Assim, com o venerando sermo contracto, a<br />

cuja omissão gradativa nos liceus, muitas nações, a<br />

exemplo da França pela fala dos seus mentores,<br />

culpam o declínio de sua civilidade humanística e<br />

científica.


141 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

E todos certos estávamos de que o idioma,<br />

por excelência disciplinar do pensamento, tão à puridade<br />

versáveis e conversáveis – no que sinceramente vos<br />

invejo – como o aviso de Vidari a seguir, nos<br />

SCRITTI VARII, de que é preciso estudar, dia e dia,<br />

os grandes exemplares da latinidade, porque “só deste<br />

modo se pode honrar a ciência e não desonrar a<br />

língua”, a dele e a nossa, na qual se perpetuam, por<br />

via de herança, a oratória siderante de Vieira e a lírica<br />

imarcescível de Camões, o verbo profético de Ruy e a<br />

concisão lapidar de Lafayette.<br />

Bem o entendeis, em DIREITO ROMANO e DA<br />

RETROVENDA, com o vosso estilo de escrever e dizer<br />

– sóbrio, claro, retilíneo e didático, sem recheios de<br />

loquacidade nem cosmética de arrebiques e retoques –<br />

com a segurança, quando ensinais ou expondes, de que<br />

a razão compete ao missivista de AS PROVINCIAIS, para<br />

quem la vraie éloquence se moque de l´éloquence”.<br />

Na vossa obra, pareceres, arrazoados e<br />

aulas, em numerosos centros escolares, a erudição se<br />

cristalizou em cultura.<br />

Como o outro homenageado desta noite, sois<br />

jurista, professor e advogado, em medida de qualidade<br />

e grandeza.<br />

Daí por que a mão firme e o senso exato do<br />

Ministro da Justiça – Mestre Alfredo Buzaid – vos<br />

levaram para o seu Gabinete e vos oneraram de tantos<br />

e nobres encargos, quais os de Coordenador da Comissão<br />

de Estudos Legislativos, membro da Comissão incumbida<br />

de elaborar o Anteprojeto do Código Civil, e presidente<br />

das Comissões Revisoras do Anteprojeto do Código Penal,<br />

Contravenções e Execuções Penais.


MARTINS NAPOLEÃO – 142<br />

E, pouco há, o Governo, com fidelidade no<br />

acertar, vos entrega a Procuradoria Geral da República,<br />

para refundir, no melhor metal, uma tradição de<br />

expoentes, citar um só dos quais fora para mim<br />

assinalar a todos, pela igual notoriedade de ilustração.<br />

Senhor Ministro, Senhor Procurador-Geral. De<br />

alongado, escusai-me agora; e por não ter, em suma,<br />

expresso o quanto mereceis, do que dá testemunho esta<br />

reunião de alegria e reconhecimento, perdoai-me de omisso.<br />

Se me pudesse outorgar alguma autoridade o<br />

ora penoso exercício do mandato, o manuseio dos livros,<br />

o comércio dos homens e a vivência dos fatos, numa<br />

era aflita de perplexidades, sem esquecer ainda uma<br />

tênue filosofia existencial, que a idade justifica – e<br />

tudo aliás não basta por si – ser-me-ia lícito<br />

pedir-vos o que, na verdade, é ocioso diante da vossa<br />

consciência de conduta e ministério.<br />

Deixai-me, não obstante, repetir um verso de<br />

Homero, dileto a Sócrates, segundo está na APOLOGIA,<br />

e de pleno sentido humano, não a modo de conselho,<br />

de que prescindis, mas à guisa de amistosa lembrança,<br />

a que vos atereis de sempre: “Não nasci do carvalho<br />

nem também do rochedo”.<br />

Dizendo a lei, que vale insuflá-la de viva,<br />

realística e oportuna, ou proclamando a justiça, que<br />

desmedida é pecado, e temperada é perfeição, na<br />

palavra do Doutor das CONFISSÕES, um e outro de<br />

vós, mestres e companheiros, nem viestes do carvalho<br />

para dar sombra apenas, nem do rochedo brotastes,<br />

para só transferir ao feito e julgamento o mudo<br />

coração da pedra.


143 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

7<br />

XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />

Presidente do Supremo Tribunal Federal (16/02/81 a 21/02/83)<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1985 a 1986)<br />

DÉCIO MIRANDA<br />

Ministro do Supremo Tribunal Federal<br />

Senhor Presidente e Senhores Ministros (26)<br />

Senhor Ministro da Justiça, representante do Senhor<br />

Presidente da República<br />

Senhor Presidente da Câmara dos Deputados<br />

Senhores Ministros de Estado<br />

Senhor Procurador-Geral da República<br />

(26) DÉCIO MIRANDA, ministro do STF – Discurso de saudação na<br />

solenidade de posse do ministro Francisco Manoel XAVIER DE<br />

ALBUQUERQUE no cargo de Presidente do Supremo Tribunal<br />

Federal – Brasília – DF – 16/2/ 1981.


DÉCIO MIRANDA – 144<br />

Senhor Consultor-Geral da República<br />

Senhores Presidentes e membros dos Tribunais Superiores<br />

da União, dos Estados e do Distrito Federal<br />

Senhores Governadores e membros de Assembléias<br />

Legislativas<br />

Senhores Presidentes dos Conselhos Federal e Seccionais<br />

da Ordem dos Advogados do Brasil<br />

Senhores Magistrados, Adgovados e membros do Ministério<br />

Público<br />

Senhoras e Senhores<br />

Honrada com tantas presenças ilustres, realiza-se<br />

neste momento a posse do Sr. Ministro Francisco Manoel<br />

Xavier de Albuquerque na Presidência da Casa.<br />

É próprio e adequado ao momento salientar,<br />

em apertado resumo, fatos e aspectos da vida e da<br />

personalidade de nosso novo Presidente.<br />

Sua ascensão ao Supremo Tribunal Federal<br />

se deu a 19 de abril de 1972, aos quarenta e seis<br />

anos de idade, propiciando-lhe alcançar, ainda não<br />

decorridos dois lustros de exercício, o mais alto posto<br />

do Poder Judiciário da República Federativa do Brasil.<br />

Acham-se os primórdios de sua carreira no<br />

portentoso Setentrião brasileiro, no Amazonas, onde os<br />

dados biográficos oficiais lhe registram o bacharelado e<br />

o doutorado pela Faculdade de Direito daquele Estado,<br />

o magistério jurídico e a advocacia na Capital, sem<br />

contudo, ainda assim, traduzir toda a sua experiência<br />

humana na Província.<br />

É que, assinale-se, a atividade profissional do<br />

jovem bacharel não se restringiu à Capital. Conheceu,<br />

nessa militância inicial, as frágeis embarcações da


145 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

penetração fluvial, dotadas de miraculosa capacidade, na<br />

imaginação de seus carregadores e capitães.<br />

Nelas viajou, dias e dias, por volumosas<br />

correntes ou igarapés, a requerer perante juízes<br />

interioranos.<br />

Ainda que de breve duração, essa experiência<br />

pioneira, entremeada na advocacia da Capital, marcou o<br />

espírito de Xavier de Albuquerque, como tudo o que se<br />

faz no verdor dos anos, com o sentimento de respeito<br />

ao homem comum do povo, ao trabalhador humilde<br />

e desprovido do Interior, ali oferecendo o profundo<br />

contraste de austeridade de vida com o vigor e a<br />

luxúria de águas e florestas.<br />

Cedo, menos de cinco anos após a formatura,<br />

ingressou Xavier de Albuquerque no magistério superior,<br />

para o qual já em 1956 preparara sua tese de<br />

concurso, < Aspectos da Conexão >. Versando aí um<br />

dos mais delicados temas de processualística, a ele<br />

voltaria em novo trabalho, de 1966, já em Brasília.<br />

Também lhe mereceram estudo teórico outros<br />

importantes temas de Direito Processual: < Da Clássica<br />

Divisão Dicotômica do Direito à Disputa Unitário-<br />

Dualística do Processo >, < Conceito de Mérito no Direito<br />

Processual Penal >, < Problemas Processuais da Execução<br />

Penal >, < A Assistência no Processo Penal Brasileiro ><br />

e < O Direito Processual na Constitutição de 1967 >.<br />

A transferência de Manaus para o Distrito<br />

Federal trouxe Xavier de Albuquerque a cenário novo,<br />

em que de pronto se havia de destacar na advocacia<br />

e no magistério.


DÉCIO MIRANDA – 146<br />

Tive a honra de vê-lo suceder a mim próprio –<br />

e com que lucro para a Justiça! – primeiro, no cargo<br />

de Ministro do Tribunal Superior Eleitoral, na classe de<br />

juristas, e, depois, no de Procuradoria-Geral da República.<br />

Neste último – o mais árduo cargo da República,<br />

segundo registrou Hahnemann Guimarães, que o<br />

ocupou nos idos de 1945 – Xavier de Albuquerque já<br />

completara dois anos de exercício, quando foi alçado,<br />

com aplauso de toda de toda a Nação, ao Supremo<br />

Tribunal Federal, na vaga deixada com a aposentadoria<br />

do eminente Ministro Adalício Nogueira.<br />

Os fastos desta Casa, que já anteriormente<br />

davam a nota de sua participação em julgamentos<br />

memoráveis, ora como advogado de partes, ora como<br />

defensor nomeado pelo Tribunal, e mais tarde como<br />

Procurador-Geral, passaram a espelhar sua diuturna<br />

contribuição para a jurisprudência e a doutrina, nos<br />

votos proferidos.<br />

Muitas dessas manifestações assumiram feição<br />

antológica, vindo a constituir um ideário de advogados,<br />

membros do Ministério Público e magistrados.<br />

Entre eles, sobressai, pela frequência da<br />

evocação, o gesto de fortalecimento espiritual da<br />

magistratura, ante a suspensão, então vigente, das<br />

garantias de sua independência.<br />

Disse, a propósito: < Como as concebo, as<br />

garantias da magistratura são uma conquista do<br />

Estado, e não dos juízes. Em outras palavras e<br />

no que me diz respeito: como cidadão e, se o fosse,


147 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

como pensador político, estimaria que se restabelecessem<br />

quanto antes, em toda a sua plenitude, por que<br />

isso restituiria ao Estado brasileiro o timbre do<br />

aperfeiçoamento que lhe deve ser, enquanto Estado,<br />

consubstancial. Como juiz, porém, pouco se me dá tê-las<br />

ou não tê-las, porque tê-las ou não tê-las não interfere<br />

em nada com a independência, com a imparcialidade, com<br />

a dignidade que imprimo ao desempenho da minha função<br />

judicante. ><br />

Bem constituem essas palavras amostra da<br />

posição vertical de Xavier de Albuquerque, comum em<br />

todas as suas atitudes e pronunciamentos, límpida<br />

expressão de seu inato sentimento da grandeza da<br />

função judicante.<br />

Da advocacia, não trouxe laivos de arrebatamento<br />

ou de impaciência, mas, sem dúvida, o fulgor das<br />

demonstrações lógicas, o brilho suave da elegância<br />

verbal, o método e a clareza da exposição.<br />

E sua contabilidade das horas é mistério<br />

insondável: os mais intrincados processos, recheados de<br />

complexas questões, parecem não mais lhe demorar às<br />

mãos que os simples e corriqueiros.<br />

Por modéstia, é com freqüência que menciona<br />

o enfado do esforço contínuo e da sobrecarga de<br />

trabalho do Juiz do Supremo Tribunal Federal, mas bem<br />

desconfio que o faz para consolo de alheias aflições,<br />

notadamente as minhas.<br />

Temo-lo, hoje, Presidente do Tribunal e do<br />

Conselho Nacional da Magistratura, a deter a imensa<br />

responsabilidade de Chefe do Poder Judiciário Nacional,


DÉCIO MIRANDA – 148<br />

de árbitro derradeiro das questões em que se dividir<br />

o Plenário, de juiz singular de várias atribuições, de<br />

dirigente máximo de um aparelho administrativo a que se<br />

requer funcionamento irrepreensível, funções e tarefas, todas<br />

essas, para as quais se acha superlativamente preparado.<br />

Sucede-lhe, na Vice-Presidência do Tribunal, o<br />

eminente Ministro Leitão de Abreu, cujo nome não me é<br />

possível declinar senão acrescentando, ao apreço e ao<br />

louvor de todos os brasileiros, o meu particular<br />

sentimento de gratidão, pelo dia em que, em nome do<br />

Presidente Emílio Médici, transpôs os umbrais, não só<br />

de minha casa, como de minha insuficiência, a transmitir<br />

o convite para o cargo, que tanto me honrou, de<br />

Ministro do Colendo Tribunal Federal de Recursos.<br />

Perfeito é o equilíbrio de suas virtudes com as<br />

do novo Presidente.<br />

S.Exª, como Vice-Presidente, é garantia de<br />

identidade de propósitos na direção da Casa, presença<br />

admirável de amigo, colega e conselheiro.<br />

Oriundos dos pólos extremos do universo<br />

brasileiro, o Amazonas e o Rio Grande do Sul, Xavier de<br />

Albuquerque e Leitão de Abreu ora se irmanam no<br />

supremo posto do Poder Judiciário do Brasil, em simbólica<br />

medida de nossa união nacional.<br />

O eminente Ministro Antônio Neder deixa a<br />

Presidência neste momento, cercado pelo respeito de todos,<br />

após cumprir por 2 anos os fatigantes deveres do cargo.<br />

Virá partilhar, de novo, dos trabalhos da<br />

respectiva Turma e do Plenário, a que chegou em 28<br />

de abril de 1971, e que tanto já enriqueceu com os<br />

seus votos, vasta cultura e sábia experiência.


149 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Agradece-lhe a Casa a grandeza e a altitude de<br />

seu exercício da Presidência, exigente de intenso labor<br />

jurisdicional, em feitos de sua competência singular e<br />

nos da competência coletiva, e nem lhe pode calar o<br />

elogio pelo êxito, dedicação e paciência com que também<br />

se ocupou da administração, objeto de seus permanentes<br />

cuidados.<br />

Foram estes quase dez anos da presença de<br />

Xavier de Albuquerque como Juiz desta Casa, tempos<br />

densos de acontecimentos.<br />

No campo internacional, a bipolaridade política<br />

– se bem que ainda não a militar – já parece ceder<br />

espaços à afirmação de outros centros de poder.<br />

No plano interno, a abertura política experimenta<br />

a restauração de instrumentos tradicionais da convivência<br />

nacional, e a criação de novos, inspirados pela sabedoria<br />

de políticos, sociólogos, legisladores.<br />

Seria impossível resumir as profundas<br />

transformações a que por último temos assistido, no País<br />

e no Mundo, senão consignar que os fatos sociais e<br />

econômicos assumiram e continuam assumindo novas e<br />

insuspeitadas dimensões, no sentido de que os antigos<br />

padrões de avaliação não mais conseguem abarcá-las,<br />

nem visualizar-lhes a tendência e o desenvolvimento.<br />

Ante a caudal amazônica das correspondentes<br />

novas aspirações – e aqui busco na terra de nosso<br />

Presidente o adjetivo apropriado – o legislador e o juiz<br />

enfrentam, aquele, ao mesmo tempo a queixa contra a<br />

insuficiência da legislação e contra o excesso de leis e<br />

normas; este, o contraditório apelo à celeridade e ao<br />

esgotamento completo de sucessivas instâncias.


DÉCIO MIRANDA – 150<br />

Os administradores, de outro lado, debatem-se<br />

no desafio permanente das contradições entre o<br />

necessário e o possível, entre o estímulo dirigido e a<br />

divinatória inspiração da livre iniciativa, entre o esforço<br />

da sofreguidão e a paciência das esperas.<br />

É nesse contexto, Srs. Ministros Xavier de<br />

Albuquerque e Leitão de Abreu, que o Supremo Tribunal<br />

Federal lhes entrega a chefia do Poder Judiciário<br />

Nacional.<br />

Nele, erram estridentemente os próprios sábios,<br />

quando tentam arriscar-se adiante de seu tempo,<br />

perturbam-se os futurologistas, quando às perspectivas<br />

de paz, felicidade, abundância.<br />

Em última análise, somente a fé na condição<br />

divina do homem conforta e alivia o expectador do<br />

futuro.<br />

Aquela fé que, segundo recordou de São Paulo<br />

o maravilhoso vate da Divina Comédia < é a<br />

substância do que se espera e argumento que, mesmo<br />

sem prova, leva à convicção >.<br />

Senhor Ministro Xavier de Albuquerque e<br />

Senhor Ministro Leitão de Abreu: é com o timbre da<br />

mais alta admiração e da mais profunda confiança que<br />

o Supremo Tribunal hoje lhes entrega a Presidência e<br />

a Vice-Presidência da Casa.<br />

Que a ambos inspirem, em cada hora e<br />

minuto, em todos os momentos, os altos desígnios da<br />

Paz e da Justiça.


151 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1986 a 1988)<br />

Procurador-Geral da Companhia Nacional de Abastecimento (1990 a 1992)<br />

Corregedor-Geral da Advocacia Geral da União (1994 a 2001)<br />

GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993)<br />

Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000)<br />

Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />

Dr. JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA.<br />

Com V.Exª trabalhei por cerca de 11 anos,<br />

desde quando V.Exª assumiu a <strong>CONSULTORIA</strong> JURÍDICO-<br />

ADJUNTA PARA OS ASSUNTOS CONTENCIOSOS, e eu,<br />

em São Paulo, ainda a ASSESSORIA <strong>JURÍDICA</strong> REGIONAL<br />

GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – Texto final do discurso de<br />

posse no cargo de consultor jurídico, em solenidade presidida, em<br />

29/8/1988, por Mário Bérard, presidente do Banco do Brasil.


GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 152<br />

ADJUNTA. Aprendi logo a admirá-lo, pela competência,<br />

pela firmeza de caráter, pela integridade de conduta,<br />

pela segurança no comando, pela disponibilidade para<br />

o debate, pela compreensão na controvérsia, qualidade<br />

essas que exornam sua rica personalidade.<br />

Sertanejo da melhor cepa, somente chegou a<br />

BRASÍLIA, depois de forrado na espinhosa advocacia<br />

em defesa do Banco pelos menores burgos do sertão<br />

cearense. E para aqui veio para postular perante os<br />

Tribunais Superiores que então se instalavam na nova<br />

Capital. E assim o fez por largo tempo.<br />

Com a criação das duas <strong>CONSULTORIA</strong>S<br />

ADJUNTAS, foi por mérito nomeado para a ADJUNTA DE<br />

ASSUNTOS CONTENCIOSOS, onde de imediato sentimos<br />

a eficiência de sua Chefia. Éramos então advogados<br />

dispersos pelo País, cada um postulando em Juízo o<br />

direito do Banco, mas sem uma unidade de comando.<br />

Tantas e várias eram as questões, mas seu enfoque era<br />

pessoal, embora todos falássemos, peticionássemos, pela<br />

mesma empresa, resultando em desconformidade de<br />

entendimentos. Como sabem, Direito não é ciência exata.<br />

E aquela desconformidade se dava amiúde, com maior<br />

gravidade nas questões trabalhistas que então começavam<br />

a avultar-se. A empresa era uma só, mas o entendimento<br />

das questões de direito era diverso. E os Tribunais<br />

Superiores a apontarem essas divergências...<br />

O que fez V.Exª? Chamou à união seus<br />

advogados, uniformizou as postulações de direito do<br />

Banco em juízo, e os reflexos logo se mostraram.<br />

Hoje, quer a reclamação trabalhista seja do Sul ou do<br />

Norte; do Leste ou do Oeste do País, os processos<br />

chegam à Superior instância, guardando uniformidade nas


153 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

questões debatidas pelo Banco. E V.Exª assim agiu,<br />

tão-só pelo convencimento, sabendo respeitar a liberdade<br />

intelectual e profissional de cada advogado.<br />

Enfim, Dr. LACERDA, V.Exª como exímio<br />

lidador do Direito, combateu o bom combate, tornou-se<br />

vencedor, SUCEDER a V.Exa. é outra de minhas<br />

preocupações.<br />

Ficam para nós seu exemplo, sua competência,<br />

sua dedicação, sua retidão de caráter no exercício da<br />

<strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> do Banco.<br />

Para mim, resta-me rogar a proteção divina<br />

para que me fortaleça e me ajude nesta nova missão<br />

de minha vida.<br />

Muito obrigado.


9<br />

JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 154<br />

JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />

Curriculum Vitae<br />

Carreira de Vida<br />

SUMÁRIO – HISTÓRICO FIEL NO TEMPO E NO ESPAÇO<br />

I - ORIGEM<br />

II – DESCENDÊNCIA E COMPLEXO FAMILIAR<br />

III – TRAJETÓRIA E ATIVIDADES EXERCIDAS:<br />

a) de zero aos 9 anos de idade; b) de 9 aos 10 anos<br />

de idade; c) de 10 aos 19 anos de idade; d) de 19 aos 22 anos<br />

de idade; e) de 22 aos 25 anos de idade; f) dos 25 aos 28 anos<br />

de idade; g) dos 28 aos 31 anos de idade; h) dos 31 aos 44 anos<br />

de idade; i) dos 44 aos 68 anos de idade; j) dos 68 aos 77 anos<br />

de idade; k) posição atual.


155 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

DESENVOLVIMENTO<br />

I - ORIGEM<br />

O titular deste currículo é originário do nordeste<br />

brasileiro – região do Cariri Cearense – Município de<br />

Mauriti, Distrito do Coité onde nasceu no dia 22 (vinte<br />

e dois) de janeiro de 1924 (mil novecentos e vinte e<br />

quatro), numa quarta-feira, por intermédio de uma velha<br />

“parteira” e sem nenhuma assistência médica. Ali<br />

ensaiou seus primeiros passos da vida rústica do campo<br />

situado nas fronteiras do Ceará, Paraíba e Pernambuco,<br />

através das quais se deslocavam, com toda facilidade,<br />

os bandos de cangaceiros e capangas protegidos pelo<br />

“coronelismo” reinante in illo tempore (“naquele tempo”).<br />

II - DESCENDÊNCIA E COMPLEXO FAMILIAR<br />

Filho primogênito de Pedro Sampaio de Lacerda<br />

(vulgo “Pedro Miguel”) e Maria Maranhão Silcon – esta,<br />

também, descendente dos Lacerdas do vale do Piancó,<br />

Estado da Paraíba, que se chamavam Francisco e<br />

Miguel da Silva Lacerda, respectivamente, ancestrais de<br />

Pedro e Maria, vieram para o Coité e se casaram<br />

com belas damas das famílias Furtado Leite, Maranhão,<br />

Sampaio, Martins de Morais, Araújolima, cujos<br />

descendentes foram se espalhando pelos municípios<br />

fronteiriços da Paraíba e Pernambuco, além de se<br />

projetarem tanto no Ceará (Milagres, Abaiara, Barbalha,<br />

Crato, Juazeiro do Norte, Fortaleza, etc), quanto em vários<br />

pontos do território nacional, conforme estudos genealógicos<br />

do Dr. José Leite Maranhão (também um Lacerda), a<br />

exemplo de seu irmão Pedro Maranhão de Lacerda,


JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 156<br />

e do Mons. Raimundo Augusto de Araújolima (vide<br />

Revista do Instituto Genealógico do Cariri, de junho/1981).<br />

Quanto aos genitores do titular deste currículo, fica<br />

registrado que o pai, Pedro, nasceu em 22/02/1898 e<br />

faleceu em 26/08/1980; e que a mãe, Maria, nasceu em<br />

14/12/1905 e faleceu em 03/10/1947, com 42 anos, de<br />

parto do décimo filho extraído já morto. Registre-se na<br />

história regional que dolorosas tragédias ocorreram com<br />

a família Lacerda, a saber:<br />

1°) – na cidade de Mauriti (CE), onde foi assassinado, em<br />

plena feira, o então Delegado Civil Pedro Lacerda,<br />

pai de Neco Lacerda e Maria Sampaio, morte vingada,<br />

imediatamente, por seu irmão José Miguel de Lacerda<br />

Sampaio;<br />

2°) – nas proximidades da cidade de Conceição do Piancó –<br />

PB, foi alvejado a tiros de rifles o pai de Pedro, José<br />

Miguel de Lacerda Sampaio, que morreu, logo em<br />

seguida, vítima de tocaia feita por três cangaceiros:<br />

“Manuel Gato”, “Asa Branca” e “Cícero Costa”, segundo a<br />

versão corrente do início do século XX, na região, em<br />

que nasceu o titular deste currículo. E seus avós<br />

paternos eram José Miguel de Lacerda e Maria Bela<br />

Pontanegra de Lacerda; os avós maternos eram<br />

Antônio Furtado Maranhão e Antônia Silcon de Lacerda.<br />

E o casamento de Pedro com Maria, genitores do<br />

titular, resultou de um “rapto”, em face da negação<br />

ao pedido feito ao pai da noiva, embora tenha<br />

reconhecido Antônio Furtado Maranhão, pai de<br />

Maria, em bilhete dirigido a Pedro, in verbis: “Pedro,<br />

meu sobrinho deixo de fazer a arrumação que tu<br />

me pedes porque tu tens dois inimigos fortes: Luiz<br />

Soares e Cícero Costa”. Esta é a síntese dramática da


157 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

descendência de José Sampaio de Lacerda, sem<br />

esquecer dos envolvimentos de “Pedro Miguel”, pai<br />

dele, no “Fogo do Coité – ataque de grupo de<br />

cangaceiros de “Senhor Pereira” e “Lampião” (75), ao<br />

Padre José Furtado de Lacerda (“Padre Lacerda”), no<br />

dia 19/01/1922 – ataque que durou seis horas (de 11<br />

às 17 horas), rechaçado pelos valentes irmãos Antônio<br />

Miguel, Pedro Miguel e João Miguel, auxiliados pelo<br />

primo “Neco Lacerda”, dois policiais e outros nove<br />

heróis, firmes defensores do Padre Lacerda, inclusive<br />

o humilde tocador de pífaro da banda Cabaçal da<br />

Igreja, conhecido com o nome de Joaquim Siqueira.<br />

E uma das prováveis causas determinantes desse<br />

ataque - além de conflitos políticos regionais -, foi a<br />

defesa de Pedro Miguel, feita pelo Padre Lacerda,<br />

em Júri Popular, a que foi submetido por suposta<br />

tentativa de homicídio, julgamento realizado na<br />

Comarca de Milagres – CE, da qual fora absolvido,<br />

unanimemente, após veemente defesa proferida pelo<br />

tio Padre Lacerda, que aproveitou a oportunidade<br />

para tecer duras críticas ao protetor de cangaceiros<br />

Coronel Zé Ignácio de Barro. Nesse episódio, Pedro,<br />

com apenas, cerca de 20 anos de idade, muito<br />

jovem, amargou dez meses de reclusão, em cadeia<br />

da cidade de Milagres – CE, hoje administrada por<br />

um sobrinho dele, o médico Dr. Elosman Leite<br />

Sampaio, já três vezes eleito Prefeito daquele<br />

Município que, no começo do século XX, foi<br />

bastante estratégico, no extremo sul do Ceará, para<br />

o combate ao cangacerismo que hoje, se chamaria<br />

de “crime organizado”, serviço do “coronelismo”<br />

então reinante.


JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 158<br />

III - TRAJETÓRIA E ATIVIDADES EXERCIDAS<br />

a) - de zero aos 9 anos de idade, José viveu na<br />

antiga vila do Coité, onde foi alfabetizado pelas<br />

parentas professoras Alice e Etelvina Leite de<br />

Lacerda, que usavam, naquela época (de 1930/1932),<br />

a Cartilha de ABC de Landelino Rocha;<br />

b) - de 9 aos 10 anos de idade (1933/1934), José<br />

recebeu, na cidade de Mauriti – CE, avançados<br />

conhecimentos de Português, Matemática, Geografia,<br />

História, Marcha Militar e Cívica, a título de<br />

preparação da juventude para a defesa da Pátria,<br />

tudo isso ministrado pelo grande Mestre Anselmo<br />

Chaves, amazonense ilustre, privado das duas pernas<br />

que perdera em missões na floresta amazônica.<br />

Basta lembrar que, nos desfiles das datas cívicas<br />

(7 de setembro, 15 de novembro, 21 de abril), os<br />

alunos marchavam, a pé, pela cidade de Mauriti,<br />

parando e discursando nas portas das casas dos pais<br />

(discursos preparados pelo Mestre e decorados pelos<br />

alunos), enquanto ele, por falta de pernas, tinha de<br />

acompanhar os desfiles em lombo de um cavalo. Esse<br />

período é inesquecível, porque foi a base intelectual<br />

e ética da carreira do titular deste currículo;<br />

c) - dos 10 aos 19 anos de idade, pode-se resumir na<br />

dura luta do titular, que teve de enfrentar grandes<br />

desafios nas atividades próprias da agricultura,<br />

pecuária, caçadas noturnas de animais silvestres<br />

(peba, tatu-bola, tamanduá, mocó, punaré, preá),<br />

tudo para sobrevivência, não esquecendo a “seca de<br />

1932”, quando o milho, feijão e arroz desapareceram<br />

do sertão” – segundo a poesia de Cordel, cantada<br />

no Coité – fato que obrigou a população a comer


159 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

fibras torradas da “macambira” e pão de massa<br />

lavada de “mucunam”, com as carnes dos “bichos<br />

do mato” já citados. Período bastante difícil, mas<br />

vencido com a ajuda de Deus e Nossa Senhora da<br />

Conceição;<br />

d) - dos 19 aos 22 anos de idade, pode-se considerar<br />

o início da fase áurea da vida de José. Basta<br />

relembrar que o então vigário de Mauriti, Padre<br />

Antônio Alves de Oliveira incentivou a criação de<br />

nova escola paroquial dirigida pelo ex-seminarista e<br />

competente Professor Zinha (João Alves de Souza),<br />

convocando os pais a matricularem os filhos no<br />

novo Colégio, que funcionava no Consistório da<br />

Igreja Matriz de Mauriti – CE. E, para lá, foi<br />

o titular deste currículo, em outubro de 1943,<br />

permanecendo, ali, apenas os três últimos meses<br />

daquele ano. Ao encerrar-se aquele trimestre e<br />

com a avaliação positiva do titular deste currículo, o<br />

Professor Zinha o convocou á Casa Paroquial e,<br />

numa cordial entrevista, o aconselhou a dirigir-se ao<br />

Colégio Diocesano do Crato (antigo “Gymnásio do Crato”),<br />

e tomar parte em eficiente curso de preparação<br />

ao então vigente “Exame de Admissão ao Ginásio”,<br />

ministrado pelos irmãos do Mestre e grande orador<br />

Professor Aluísio Epitácio Pereira. Ao fim da<br />

entrevista fraternal, o Prof. Zinha transmitiu a José<br />

o seguinte lema de honra e vida: “José, vá que<br />

você será aprovado! E não páre mais a partir da<br />

vitória! Eu lhe digo isso porque, quem começa<br />

projeto de vida e pára, é derrotado; quem começa<br />

e vai até certo ponto da jornada e desiste tem<br />

maior prejuízo; só aquele que começa, vai ao meio<br />

e chega ao fim, é o único vencedor”. Esse conselho


JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 160<br />

nunca me saiu da consciência e da vontade<br />

de cumprir a missão que Deus me reservou e era<br />

o desejo de meus amados pais Pedro e Maria,<br />

de saudosa memória. Pois bem, a 28 de janeiro de<br />

1944, estava José no meio dos alunos do curso<br />

preparatório ao mencionado “exame de admissão ao<br />

Ginásio de Crato – CE, que se realizou em fins de<br />

fevereiro de 1944, tendo o titular deste currículo<br />

alcançado a classificação de 2° lugar, numa turma<br />

de 48 alunos. No mesmo ano de 1944, foi<br />

matriculado na 1ª série do Curso Ginasial, logrando<br />

aprovação, também, no 2° lugar. Em 1945 e 1946,<br />

manteve a mesma classificação, não obstante ter<br />

assumido, em 1946, a grande responsabilidade de<br />

“auxiliar de disciplina” e de “catequista” do Colégio<br />

Diocesano do Crato, trabalhando das cinco horas<br />

manhã até às 21 horas, para ter direito, apenas, às<br />

aulas, às refeições e à moradia no “internato dos<br />

alunos”. Encerrado o ano letivo de 1946, foi extinto<br />

o “internato” daquele Colégio e José teve de se<br />

transferir para Fortaleza, para trabalhar e estudar,<br />

com o inestimável apoio de dois cidadãos<br />

inesquecíveis: Ivonísio Mosca de Carvalho, que<br />

conseguiu três “prêmios” caídos do céu, a saber:<br />

1°) vaga na “Casa do Estudante Pobre do Centro<br />

Estudantil Cearense”; 2°) matrícula no Liceu do<br />

Ceará; 3°) emprego de cobrador da TEXACO, a partir<br />

de fevereiro de 1947. O outro cidadão foi o Dr.<br />

José Leite Maranhão, de saudosa memória, primo<br />

legítimo da mãe de José, o qual providenciou todas<br />

as informações e garantias, exigidas pela TEXACO,<br />

para que o candidato ao cargo de cobrador pudesse<br />

exercer, com segurança, a função de receber dinheiro


161 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

dos clientes e prestar contas à tesouraria daquela<br />

empresa, diariamente, além da fiança dos pais de<br />

José. Deu tudo certo, graças ao Supremo Arquiteto<br />

do Universo. Aquele primeiro emprego durou de<br />

13/07/47 a 31/12/49, quando, mediante concurso<br />

público, José passou a exercer o cargo de escriturário<br />

da então Autarquia Federal Lloyd Brasileiro –<br />

Patrimônio Nacional, com sede no Rio de Janeiro<br />

(RJ), e Agência à Avenida Pessoa Anta – Fortaleza<br />

(CE). Ali, permaneceu de dezembro de 1949 a<br />

dezembro de 1952, quando foi nomeado “auxiliar de<br />

escriturário” do Banco do Brasil S/A – Agência de<br />

Salvador (BA), como resultado de concurso público.<br />

Naquele ano de 1952, José já havia concluído o<br />

segundo ano de Direito, depois de passar pelo 4°<br />

Ginasial de Santa Maria, três anos científicos do<br />

Liceu do Ceará e pelo pesado vestibular da Faculdade<br />

de Direito da Universidade Federal do Ceará;<br />

e) - vê-se, pois, que o titular deste currículo, no<br />

período dos 22 aos 25 anos de idade (1946 a 1949),<br />

enfrentou desafios pesados, tanto na conquista de<br />

emprego quanto na disputa de vagas no ensino<br />

universitário (3° grau), em Fortaleza, capital do<br />

Ceará, embora tenha sido egresso da vida camponesa,<br />

onde trabalhava de enxada, machado, roçadeira e<br />

cuidava de animais, trajando gibão, perneira, chapéu<br />

de couro, etc. Em dezembro de 1949, se encerrou<br />

a etapa a etapa do 1° emprego na TEXACO,<br />

em 10/06/48, casou com Francisca Zita de Moura<br />

Lacerda;<br />

f) - dos 25 aos 28 anos de idade (1949 a 1952), foi<br />

o lapso do tempo de serviço do 2° emprego exercido


JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 162<br />

no Lloyd Brasileiro, em Fortaleza – Ceará, de<br />

que resultou maravilhosa experiência. No mesmo<br />

período, nasceram seus três primeiros filhos: Maria<br />

Simone, Judite e José Júnior, respectivamente, em<br />

14/03/1949, 06/09/1950 e 12/09/1951, aumentando, com<br />

isso, sua responsabilidade familiar;<br />

g) - dos 28 aos 31 anos de idade (1952 a 1955),<br />

trabalhava e estudava, em Salvador, Estado da<br />

Bahia, tendo colado grau de Bacharel em Direito<br />

no dia 08/12/1955, no salão nobre da Reitoria<br />

da Universidade Federal da Bahia, em solenidade<br />

presidida pelo Professor, escritor e diretor da<br />

Faculdade de Direito, Dr. Orlando Gomes;<br />

h) - dos 31 aos 44 anos de idade, exerceu funções de<br />

Escriturário e Advogado do Banco do Brasil S/A.,<br />

na Bahia, no Ceará e nas comarcas de Araripina,<br />

Bodocó, Exu e Ouricuri, no Estado de Pernambuco,<br />

além de ter cumprido missões especiais em<br />

Camocim, Iguatú, Quixeramobim, Aracati e Fortaleza<br />

- CE. Ademais, foi fundador e 1° Diretor da Faculdade<br />

de Ciências Econômicas do Crato, então agregado à<br />

UFCE (hoje integrante da URCA);<br />

i) - dos 44 aos 68 anos de idade, já com residência<br />

fixa em Brasília (DF), desempenhou as funções de<br />

Advogado, Sub-Assessor, Assessor, Consultor Jurídico<br />

Adjunto de Contencioso e Consultor Jurídico Geral<br />

do Banco do Brasil S/A., responsável pela atuação<br />

jurídica daquela grande instituição financeira pública,<br />

inclusive realizando cursos e seminários de Advogados<br />

em várias cidades do País e resolvendo graves<br />

questões internas e internacionais. Esse período


163 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

durou até sua aposentadoria, em setembro de 1988,<br />

contando, então, 35 anos e nove meses de serviço,<br />

só no Banco do Brasil S/A, com mais de 3 anos de<br />

TEXACO e 3 de Lloyd Brasileiro, ultrapassou os<br />

41 anos de serviço, sem interromper contribuição<br />

de previdência (IAPTEC, IAPM e IAPB, INPS);<br />

j) - dos 68 aos 77 anos de idade, José se orgulha de<br />

ter exercido, com firmeza, dignidade e eficiência, as<br />

missões patrióticas de Procurador-Geral da CONAB –<br />

Companhia Nacional de Abastecimento (de 1990<br />

a 1992) e de Corregedor-Geral da Advocacia-Geral da<br />

União (1994 a 2001), responsável pela fiscalização<br />

e controle do serviço jurídico da União, executado,<br />

no País inteiro, pelos integrantes das carreiras<br />

de Advogados da União, Procuradores da Fazenda<br />

Nacional, Assistentes Jurídicos e Procuradores<br />

Federais das Autarquias e Fundações Públicas,<br />

participando, ainda, do Conselho Superior da AGU,<br />

cujo Regimento foi ele que elaborou;<br />

k) - posição atual do titular deste currículo é a de<br />

aposentado e supervisor atento de numerosa<br />

família, ligada diretamente a ele, que conta com<br />

oito filhos (todos educados e empregados), 26 netos<br />

bem encaminhados na vida e já duas bisnetas.<br />

No dia 22 de janeiro de 2005, José do Coité<br />

completou 81 anos de idade, mas ainda com muita<br />

disposição para o binômio Trabalho e Estudo,<br />

equação mágica de sua vitória na vida, ao lado<br />

de sua esposa e grande companheira Francisca<br />

Zita de Moura Lacerda, que tem sido força<br />

imprescindível a todo o sucesso registrado durante<br />

os 57 anos de nossa sociedade conjugal.


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 164<br />

GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993)<br />

Advogado–Geral da União (jul/1993 a jan–2000)<br />

Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />

LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA<br />

Advogado do Banco do Brasil (AJURE–Porto Alegre–RS (1977/1992)<br />

Assessor da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil (1992/1994)<br />

Nossa Academia de Letras está em festas. (25)<br />

Ingressa em suas fileiras, nada mais, nada menos, do que<br />

a figura do eminente confrade Dr. Geraldo Magela da<br />

(25) Discurso de recepção ao acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão,<br />

Advogado–Geral da União, na Academia de Letras dos Funcionários do<br />

Banco do Brasil, proferido pelo jurista Luiz Augusto Beck da Silva,<br />

em solenidade realizada, em 26/04/1994, no Auditório da Presidência<br />

do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF.


165 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Cruz Quintão, mui digno Advogado-Geral da União, com<br />

status de Ministro de Estado, merecidamente nomeado<br />

para tão importante cargo da vida da Nação, por Sua<br />

Excelência, o Presidente da República, Dr. Itamar Franco.<br />

Com efeito, este é um dia de júbilo para<br />

todos nós, amigos e colegas do Dr. Quintão, para<br />

seus familiares, para a alegria, a satisfação e o repetido<br />

orgulho com que, certamente, estão contagiados, são<br />

facilmente imagináveis.<br />

Para nós, acadêmicos e seus futuros pares<br />

de um intercâmbio sócio-cultural que se espera seja<br />

promissor e profícuo em criações literárias, não haverá<br />

de ser diferente.<br />

Estamos contentes, Dr. Quintão! Vossa<br />

Excelência chega para engrandecer nossa Casa e nossa<br />

Academia engalana-se para recebê-lo de braços e portas<br />

abertos, com muito honra, em especial para esta<br />

Diretoria Cultural que, circunstancialmente, de forma por<br />

igual honrada, representamos, buscando dignificá-la.<br />

Feliz do homem que chega ao estágio de sua<br />

vida em condições de semear autêntico e legítimo<br />

ufanismo nas hostes de instituição em que adentre,<br />

mercê de seus próprios méritos e de suas qualidades<br />

pessoais, aliados a um passado que o recomenda.<br />

Sua produção jurídica é por demais expressiva.<br />

Pareceres e posicionamentos escorreitos grassaram em<br />

nosso meio ao longo de vários lustros.<br />

A abordagem com que V.Exª nos brindará,<br />

ainda esta noite, a respeito da vida e da obra de<br />

João Neves da Fontoura, será, temos a certeza, mais<br />

um atestado de seu talento, enriquecendo seu currículo.


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 166<br />

V.Exª sempre soube conceber a ciência que<br />

regula as relações inter-humanas em sociedade com<br />

respeito à ética, à moral e aos bons costumes.<br />

Não são os cargos que dignificam os homens,<br />

bem o sabemos, mas os homens que os engrandecem.<br />

Com o estimado acadêmico, assim têm sido. Por onde<br />

passa, por onde deixa sua marca de administrador e de<br />

jurista, seus comandados, de um modo geral, têm<br />

saudades, sem nenhum desdouro para quem o suceda.<br />

Ocorre que o Dr. Quintão, seja na Chefia da<br />

Assessoria Jurídica Regional em São Paulo, seja como<br />

Consultor Jurídico da Presidência do Banco do Brasil,<br />

nesta Capital, quando assumiu a 29/8/1988, seja como<br />

Advogado-Geral da União, para referir-me, apenas,<br />

às funções que desempenhou mais recentemente ou<br />

desempenha, no presente, não raro se revelou um<br />

homem equilibrado, prudente e criterioso, sem descurar<br />

dos interesses coletivos de seus administrados, de modo<br />

a prestigiá-los e dotá-los de melhores condições de<br />

trabalho, sempre que estivesse ao seu alcance.<br />

Não bastasse seu admirável conhecimento<br />

técnico, seu senso jurídico, sua acuidade e feeling<br />

administrativos, o nosso homenageado sempre se<br />

caracterizou como uma pessoa polida, cordata e hábil<br />

no seu diuturno convívio junto a escalões superiores e<br />

na resolução das questões mais tormentosas e difíceis<br />

que se desfraldam à sua frente.<br />

Não reunisse esse perfil e qualificação, bem<br />

sabe V.Exª que não teria galgado os degraus<br />

que alcançou e os escolhidos teriam sido outros. A<br />

sensibilidade, o tato e o trato lhano, a par de uma


167 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

probidade, liderança e carisma, devem aliar-se à sua<br />

reconhecida experiência na área do Direito.<br />

Os cargos que o prezado colega ocupou e<br />

ocupa em sua vida exigem que se reúna tais predicados,<br />

se quisermos ser bem-sucedidos, máxime quando<br />

nossa ascensão se dá independentemente de filiação e<br />

militância em qualquer agremiação político - partidária.<br />

Não fosse assim, o advogado que V.Exª é não<br />

teria sido o Consultor Jurídico pessoal e direto de<br />

quatro presidentes do Banco do Brasil, por largos<br />

períodos. Foi a culminância, internamente, de uma<br />

carreira exemplar.<br />

V.Exª também sabe se revelar político quando<br />

a situação o exige. Não há que se confundir, porém,<br />

Política, na sua mais pura e legítima acepção, é<br />

promover o bem comum, é voltar-se para o social,<br />

para o coletivo, para a proteção dos interesses difusos,<br />

cada um em sua área, ainda que a comunidade<br />

defendida represente um universo restrito, ligada a uma<br />

organização pública ou privada. E bem comum, na<br />

definição do saudoso professor Armando Câmara, “é o<br />

conjunto de condições pessoais e sociais de vida que<br />

asseguram a realização dos fins humanos.”<br />

O relato que faço sobre sua pessoa, Dr.<br />

Quintão, vida e obra, tributando-lhe justa e merecida<br />

homenagem, é fruto e produto do caminho trilhado por<br />

V.Exª e de testemunhos de quem conviveu com o<br />

amigo, mas também, de alguém que militou ao seu<br />

lado, freqüentando seus gabinetes, tanto no Banco do<br />

Brasil, quanto no Palácio do Planalto, de alguém, enfim,<br />

que teve a oportunidade e a honra, como eu, de ser<br />

recebido em sua própria casa.


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 168<br />

Aliás, Aristóteles, pensador e filósofo grego,<br />

com suas doutrinas que serviram à criação da lógica<br />

formal e da ética, e que exerceram e ainda exercem<br />

enorme influência no pensamento ocidental, já o<br />

proclamava ao seu tempo: “O homem é um animal<br />

político.”<br />

Nada há de gratuito ou de impróprio, portanto.<br />

Desde nosso comparecimento a seminário<br />

regional em Santos (SP), nos idos de 1985, quando<br />

tive o ensejo de conhecê-lo como pessoa, passando<br />

a admirá-lo, intelectualmente, foi que pude começar a<br />

avaliar a profundidade técnica e a judiciosidade de<br />

suas posições. Suas oportunas e percucientes intervenções<br />

marcaram sua presença. Quando nossas acaloradas<br />

discussões sobre temas polêmicos e controvertidos<br />

afloravam, V. Exª trazia a solução após permitir que o<br />

terreno fértil do pensamento e das idéias prosperasse.<br />

Sua atuação frente à Assessoria Jurídica do<br />

mais desenvolvido e importante estado da Federação,<br />

a partir de 1980, conduzido pelas mãos seguras de<br />

Mário Bérard, o credenciou a ser guindado, nos idos<br />

de 1988, ao mais alto posto hierárquico da carreira<br />

técnico-científica de advogados do Banco, distinguindo<br />

cargo anteriormente ocupado por juristas da estirpe e<br />

da expressão de um João Neves da Fontoura, insígne<br />

ministro, patrono da Cadeira de n° 20 que V. Exª,<br />

hoje, tem a honra de ocupar, além de Carvalho de<br />

Mendonça, Afonso Penna Júnior, Hugo Napoleão, Sérgio<br />

Darcy, Martins Napoleão, Xavier de Albuquerque e José<br />

Sampaio de Lacerda, entre outros de idêntica nomeada.


169 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Tenho a certeza, Dr. Quintão, de que se o<br />

Exm° Sr. Presidente da República não o houvesse<br />

convocado para estar ao seu lado, nessa grandiosa e<br />

desafiante missão de organizar e conduzir a Advocacia-<br />

Geral da União, V.Exª ainda estaria servindo ao Banco<br />

do Brasil.<br />

Esta foi uma Casa que o ilustre colega amou<br />

e, creio, continua a amar, sem prejuízo de sua isenção<br />

e fidelidade à causa hoje abraçada.<br />

Quem dedicou uma vida ao Banco sabe muito<br />

bem que esta é uma Casa de probidade e de disciplina<br />

e que os desvios de comportamento num contingente<br />

de cerca de 126.000 funcionários, concursados e em<br />

geral treinados, entre tantas renovações já sofridas<br />

ao longo de quase dois séculos de existência, são<br />

exemplarmente punidos, inclusive com demissão,<br />

anulação de concurso público, etc, etc. É perfeitamente<br />

compreensível, por conseguinte, num país onde a<br />

corrupção grassa e o calote impera, que entidades<br />

representativas de reserva moral e de seriedade sejam<br />

alvo de quem tem interesses pessoais e escusos,<br />

pensando em si e não no País, com o fim último<br />

de fazer sensacionalismo e ver dívidas pessoais.<br />

Pessoas anistiadas, após frustradas tentativas<br />

judiciais de vê-las eliminadas. Possibilitar a que banqueiros<br />

privados e internacionais também possam satisfazer<br />

seus aguçados apetites segue-se na mesma linha<br />

dentro de uma companha orquestrada e sórdida<br />

de desestabilização, em que se joga contra a opinião<br />

pública uma empresa da sua tradição, maior responsável<br />

pelo desenvolvimento e a integração nacionais.


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 170<br />

Afinal de contas, ela é rentável, sólida e não<br />

necessita participar do orçamento da União, prescindindo,<br />

outrossim, da conta - movimento do Tesouro Nacional;<br />

ao contrário, não raro socorre o acionista<br />

controlador, com reflexos e prejuízos ao minoritário,<br />

constituindo-se na sua maior credora. Recebesse o<br />

que lhe é devido, os quadros comparativos, em geral<br />

distorcidos, apresentados pela mídia e pela grande<br />

imprensa sobre suas realidades e resultados financeiros,<br />

redundariam sensivelmente esvaziados.<br />

As mais de três décadas dedicadas a esta<br />

Casa por V. Sª não lhe pesaram nos ombros. Era<br />

perceptível sua disposição e o seu contagiante entusiasmo<br />

para o trabalho. V. Exª confirma o adágio: quando<br />

se faz o que se gosta e se é valorizado, o trabalho<br />

resulta em prazer.<br />

Registra a História que o célebre Thomas Edison<br />

passava o dia em sua oficina de trabalho dedicando-se<br />

à pesquisa energética, que viu coroada.<br />

Indagado, já em sua derradeira encruzilhada,<br />

por que trabalhava tanto em sua vida, deixando de<br />

melhor aproveitá-la, respondeu: nunca trabalhei em<br />

minha vida; o que vocês chamam de trabalho, para<br />

mim, é um lazer.<br />

Com V.Exª não é diferente, Dr. Quintão.<br />

Certamente não sou a pessoa mais autorizada para dar<br />

tal testemunho. V.Exª teve colaboradores mais próximos,<br />

mais diretos e que estiveram ao seu lado por muitos<br />

anos. Socorrendo-me, todavia, de tais depoimentos e<br />

outro tanto por minha própria observação, posso<br />

afirmar, sem vacilar ou medo de errar, que o estudo


171 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

da ciência jurídica para o renomado confrade é como<br />

o oxigênio necessário às nossas vidas.<br />

V.Exª, praticamente, dedicava três turnos ao<br />

Banco e, com certeza, ainda levava intrincados e urgentes<br />

casos, rotineiramente para casa, ocupando-se em suas<br />

horas de merecido repouso para melhor e com maior<br />

presteza desincumbir-se das questões que lhe eram<br />

submetidas. Nessas circunstâncias, Dr. Quintão, só<br />

chegou, só é viável pensar, criar, resolver, escrever,<br />

quando se tem ao lado uma grande mulher. É o seu<br />

caso, não tenho dúvidas, sem esta força, sem sua<br />

compreensão, tolerância, resignação e renúncia, sem o<br />

seu carinho, sem o seu afago, sem a sua palavra<br />

amiga, estimulante e confortadora, o estimado confrade,<br />

seguramente, não teria chegado onde aportou e não<br />

seria um candidato em potencial para ocupar outros<br />

cargos de expressão na vida jurídica nacional.<br />

Dona Dineuza, sua companheira inseparável,<br />

bem compreendeu, com o seu exemplo, que mais vale<br />

caminhar ao lado do marido do que com ele competir.<br />

Juntos, de mãos dadas, cada qual na busca dos<br />

ideais perseguidos, de acordo com a missão que o Grande<br />

Arquiteto do Universo lhe reservou.<br />

Para quem não o conhece, devidamente,<br />

esclareço que o Dr. Quintão, em realidade, não é homem<br />

de perder as estribeiras, como se diz em minha terra.<br />

O recipiendário que ora passa a nos fazer companhia<br />

não é homem de se desnortear ou desequilibrar-se.<br />

Não pratica despropósitos, não se desorienta, não é<br />

descomedido. São virtuosismos de um homem sereno,<br />

que busca ser uma espécie de ouvires do seu próprio<br />

ser, porquanto nascemos pedra-bruta e necessitamos<br />

burilar-nos.


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 172<br />

V.Exª dá-nos demonstrações de haver<br />

encontrado o ponto de equilíbrio, conquistando estágio<br />

existencial e de espiritualidade, invejáveis, peregrinando<br />

na garimpagem e na lapidação de seu aperfeiçoamento<br />

como ser humano útil à sociedade em que vive.<br />

Foi junto ao Banco do Brasil, inegavelmente,<br />

que V. Exª forjou seu caráter, aprendendo a cultivar<br />

princípios assentados no respeito, na hierarquia e na<br />

exação no cumprimento do dever, valores certamente<br />

praticados e pregados por seus genitores, humildes<br />

agricultores que souberam orientá-lo para a vida,<br />

matriculando-o, desde cedo, no Colégio Caraça,<br />

pertencente à ordem dos padres lazaristas, onde estudou<br />

anteriormente um dos seus antecessores na Consultoria<br />

Jurídica, Afonso Penna Júnior.<br />

Essa firmeza de caráter e conduta retilínea<br />

fizeram com que o prezado confrade, em sua brilhante<br />

carreira, não deixasse de prestigiar, sempre que pudesse,<br />

seus comandados. E tenho dois exemplos comprobatórios<br />

de minha assertiva. Um, vivido pessoalmente, outro<br />

vivenciado por digno, denodado e competente colega com<br />

quem militei.<br />

De minha parte, sou reconhecido e grato pela<br />

indicação de meu nome para representar a Consultoria<br />

Jurídica do Banco do Brasil junto à Associação dos<br />

Juízes do Rio Grande do Sul – a AJURIS, proferindo<br />

palestra em 26/11/1992, no Auditório do Foro Central da<br />

cidade de Porto Alegre, para dezenas de magistrados dos<br />

Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,<br />

na companhia de eméritas figuras ligadas ao mundo<br />

jurídico e econômico, como os MM. Juízes Doutores<br />

Sérgio Corvello, de São Paulo e Arnaldo Rizzardo, da


173 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

capital gaúcha, autores de valorizadas obras, além da<br />

ex-ministra do Planejamento, Drª Ieda Crusius e do<br />

Prof. Hernani Oliveira, da Universidade Federal do mais<br />

meridional estado da Federação.<br />

De outra parte, foi graças à sua intervenção<br />

oportuna que dedicado colega a que me reportei,<br />

permanece em nosso meio, pois o presidente Alberto<br />

Policaro, à época, ficara indignado com os termos de<br />

carta que lhe fora dirigida, determinando seu afastamento.<br />

Ocorre que na condição de presidente da<br />

Associação Regional de Advogados, revoltado com<br />

referências genéricas que se fazia à classe, por dois<br />

gerentes do interior, em festivo jantar, teria excedido-se<br />

em suas considerações, justamente porque tinha vergonha<br />

e tem caráter.<br />

Faço esse registro porque V.Exª intercedeu,<br />

prontamente, em defesa do advogado, mantendo-o em<br />

nossos quadros, sem embargo pudesse ser merecedor<br />

de reprimenda ou de censura, mérito no qual não<br />

adentramos, pelos eventuais excessos cometidos ou pela<br />

impetuosidade revelada.<br />

Não é sem razões, Dr. Quintão, que V.Exª<br />

representa, hoje, a Advocacia-Geral da União. Uma<br />

pessoa que reúne tantos atributos pessoais e profissionais<br />

não pode se limitar a defender interesses meramente<br />

privados.<br />

V. Exª já não mais pode ter poder de<br />

disposição absoluto ou pleno.<br />

Sua atuação transcendeu as fronteiras da<br />

Instituição que aprendemos a admirar e defender. Esse é


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 174<br />

o ônus de quem palmilhou sua vida como o ínclito<br />

homenageado. O País precisou e precisa de V. Exª.<br />

Trata-se de um munus público.<br />

Manifestações insidiosas, solertes, oriundas de<br />

facção, que semeia a cizânia e a discórdia, buscando<br />

denegrir a imagem de pessoas de bem e faturar<br />

dividendos, acusando sem provas, não foram suficientes<br />

para impedir que a Presidência da República separasse<br />

o joio do trigo e confirmasse seu nome à frente da<br />

Advocacia Geral da União.<br />

Aliás, foi Marx, que nunca leu a doutrina<br />

tomista de São Thomás de Aquino, quem pregou:<br />

“as circunstâncias fazem os homens, tanto quanto os<br />

homens fazem as circunstâncias.”<br />

V.Exª sobrepujou a tudo e a todos. Venceu e<br />

hoje é convocado pelo mais alto mandatário da Nação<br />

para manifestar-se sobre assuntos de sua competência.<br />

Presentemente, pela confiança, lealdade e<br />

respeito conquistados, tenho a convicção de que<br />

V.Exª se constitui, também, numa espécie de Ouvidor<br />

da Presidência da República; um formador de opinião,<br />

porque não dizer, malgrado nem tudo esteja ao seu<br />

alcance ou seja da sua responsabilidade.<br />

Ainda ao final do mês passado, a Nação<br />

assistia atônita e perplexa a um admirável impasse<br />

que se deflagrava entre os três poderes constituídos em<br />

decorrência de interpretações dada à Medida Provisória<br />

n° 434, de 27/02/94, que dispunha sobre o programa<br />

de estabilização econômica, o sistema monetário nacional<br />

e a instituição da unidade real de valor, parecendo<br />

evidenciar quão frágil é a nossa democracia. Enquanto


175 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

a imprensa insuflava, os ânimos acirravam-se e o<br />

radicalismo persistia. V.Exª, com a serenidade e a<br />

independência que o caracterizam, intervinha de forma<br />

sensata, firmando posição que serviu para evitar uma<br />

crise de maiores proporções, conforme chegaram a<br />

divulgar os principais jornais do País em manchetes de<br />

primeira página.<br />

Tenho conhecimento, ainda que perfunctório,<br />

da herança recebida. Não desconheço a forma como<br />

V.Exª encontrou a Advocacia-Geral da União advinda<br />

de um governo que acabou deposto. Durante meses<br />

o País esteve ingovernável. V.Exª soube escolher quem<br />

iria assessorá-lo, formando bela equipe de trabalho.<br />

No curso de sua vida, V.Exª já provou que os<br />

desafios não lhe acovardam; ao contrário, estimulam-no<br />

a enfrentá-los e superá-los.<br />

Quando os caminhos são adversos, tortuosos<br />

e espinhosos, a satisfação por vê-los superados é<br />

maior. De causas fáceis a humanidade está cheia;<br />

valor mesmo, tem as difíceis.<br />

V. Exª combateu o bom combate e isso é<br />

gratificante e confortador para quem o realiza.<br />

Neste momento, já podemos dizer, sem<br />

titubear, que a Advocacia-Geral da União teve duas<br />

fases: antes e depois do Dr. Quintão.<br />

O Decreto n° 868, de 13/07/93, a Lei 8.682,<br />

de 14.07.93, as Medidas Provisórias 377 e 397, de<br />

26.11 e 29.12.93, respectivamente, convertidas em lei,<br />

na conformidade do Art. 62, § único de nossa Carta<br />

Política, dispondo sobre o exercício das atribuições<br />

institucionais da Advocacia-Geral da União, são algumas


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 176<br />

provas disso, coroando, vamos assim dizer, a Lei<br />

Complementar n° 73, de 10/12/93, que estabeleceu a<br />

sua lei orgânica, servindo-lhe de fundamento.<br />

Minhas senhoras e meus senhores! Para ser<br />

Advogado-Geral da União, exercendo as funções de<br />

consultoria e assessoramento ao Poder Executivo é<br />

pressuposto que o seu detentor possua notável saber<br />

jurídico e reputação ilibada, prescreve nossa augusta<br />

Carta em seu Art. 131 e § 1°. E o motivo é simples:<br />

compete-lhe fixar a interpretação da Constituição, das<br />

leis, dos tratados e demais atos normativos, a ser<br />

uniformemente seguida pelos órgãos e entidades da<br />

Administração Federal.<br />

Ora, num país onde o tráfico de influências e<br />

as injunções políticas são a tônica, saber que pessoas<br />

da sua índole, Dr. Quintão, encontram espaço e são<br />

reconhecidas, é ter a certeza de nem tudo está perdido<br />

e que podemos continuar a ter esperanças, pois a<br />

competência prevalecerá.<br />

Esse é um elenco de motivos pelos quais<br />

V. Exª adentra à Academia de Letras de nossa Casa.<br />

Aqui há espaço para o pensador, para a<br />

arte e para a criatividade de V. Exª. Temos a certeza<br />

de que o prezado confrade constituir-se-á em exímio<br />

exemplar desse vivo acervo cultural.<br />

Como é bom, Dr. Quintão, encontrar um<br />

lugar nesse mundo massificado, competitivo, materialista,<br />

injusto, discriminatório e desigual, onde há fraternidade,<br />

sem malícia, onde a literatura encontra terreno fecundo<br />

para progredir e desenvolver-se. Como é enriquecedor<br />

poder exercitar idéias e possuir ideais.


177 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Foi Oswaldo Aranha, cidadão das Américas,<br />

ex-presidente da Assembléia Geral da ONU, baluarte na<br />

luta pela paz mundial, cujo centenário de nascimento<br />

este ano se comemora, quem definiu:<br />

“O ideal é o lume que rompe a treva, que norteia<br />

a rota, que orienta o peregrino, que salva o navegante,<br />

que anima o herói, que dignifica a existência, que<br />

ilumina as ideias, dá vida às criaturas e sobrevivência<br />

aos povos”,<br />

Clóvis Bevilácqua, por sua vez, afirmava:<br />

“A vida deve ser uma ideia, vencida ou vitoriosa,<br />

mas uma ideia”,<br />

E Túlio Ascarelli, ao seu turno, sentencia:<br />

“Na atual crise de valores o mundo pede aos juristas<br />

sobretudo novas ideias, e não suas sutis interpretações:<br />

Devemos retornar e reexaminar os conceitos fundamentais”.<br />

Esperamos Dr. Quintão, muito continuar<br />

colhendo de seus ensinamentos jurídicos. V. Exª, agora,<br />

terá a oportunidade de conviver e manter intercâmbio<br />

com seus pares, sobretudo em sua área, em particular<br />

com escritores do gabarito de um tratadista de tomo,<br />

como José da Silva Pacheco, e de Luís Ivani de Amorim<br />

Araújo, nosso presidente, respeitado professor da<br />

Faculdade de Direito da Universidade Cândido Mendes,<br />

no Estado do Rio de Janeiro, entre outros advogados<br />

renomados, que engrandecem esta Casa, ao lado de<br />

poetas, poetisas e ensaístas, cuja companhia igualmente<br />

envaidece.<br />

Entre nossos membros honorários, Dr. Quintão,<br />

destacam-se personalidades da estatura de Alcir Calliari,


LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 178<br />

nosso Presidente de Honra, na conformidade de nossos<br />

Estatutos, de Sua Exª, ex-advogado do BB – Assessoria<br />

Jurídica Regional de São Paulo – SP, eminente ministro<br />

José Carlos Moreira Alves, que tantas lições, saber<br />

jurídico, e independência tem revelado no proferimento<br />

de seus votos perante a mais alta Corte de Justiça<br />

do País, o excelso Supremo Tribunal Federal, além do<br />

Exm° Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Abastecimento<br />

e Reforma Agrária, Dr. Synval Guazzelli, conceituado<br />

advogado, no Rio Grande do Sul, líder estudantil desde<br />

a adolescência e que ingressou na vida pública para,<br />

um dia, governar seu Estado, por duas vezes, a par<br />

de dirigir, com sucesso, instituições financeiras com<br />

raízes gaúchas, além do Banco Meridional, com brilhante<br />

passagem pelo Banco do Brasil.<br />

Seja bem-vindo, Dr. Quintão, a exemplo do<br />

Exm° Sr. Sérgio Pinheiro Rodrigues, Diretor de Recursos<br />

Tecnológicos e Materiais do Banco do Brasil, nosso mais<br />

novel membro honorário, a que, nesta noite, também<br />

prestamos justa e merecida homenagem.<br />

Não poderia deixar de agradecer, naturalmente,<br />

a presença e a atenção de todos quantos vieram<br />

prestigiar este evento, em especial a de meu querido<br />

amigo, Dr. Paulo Fernando Neves da Fontoura,<br />

ilustrado membro do Ministério Público do Rio Grande do<br />

Sul, ex-procurador de Justiça, com atuação junto aos<br />

egrégios Tribunais Superiores de Porto Alegre, sobrinho<br />

de João Neves da Fontoura, cuja memória hoje<br />

se reverencia, bem como o comparecimento de seu<br />

estimado filho, que o acompanha, os quais até aqui<br />

se deslocaram, espargindo-nos contentamento.


179 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

Peço vênia, por derradeiro, para deixar minha<br />

mensagem a V.Exª invocando o grande advogado e<br />

jornalista, com militância de mais de meio século,<br />

radicado no Rio Grande do Sul, Talia O´Donnell, cujo<br />

pensamento submeto à reflexão de todos:<br />

(...)<br />

“A profissão do advogado é sempre fascinante,<br />

mas o advogado não deve apenas ser um profissional,<br />

um cultor do Direito, um paladino da Justiça, como<br />

síntese de suas atividades, deve ser ainda um instrumento<br />

de formação cultural na sociedade onde atua, levando<br />

sempre uma parcela de sua contribuição ao tesouro<br />

do esforço coletivo que procura formar a cultura de uma<br />

nação e forjar o destino de uma raça.”<br />

Muito obrigado.<br />

<br />

<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Auditório Ed. Sede III – Brasília–DF – 26/4/1994 –<br />

Solenidade de posse do acadêmico Geraldo Magela da Cruz<br />

Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves da Fontoura)<br />

na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. –<br />

A Mesa foi constituída das seguintes autoridades (da esquerda<br />

para a direita): MARCOS VILAÇA, presidente do Tribunal de<br />

Contas da União, representando a Academia Brasileira de Letras,<br />

Srª DINEUZA QUINTÃO, esposa do acadêmico empossando,<br />

GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO, advogado–geral da<br />

União, acadêmico FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO, representando o<br />

presidente da Academia, Prof. Luís Ivani de Amorim Araújo,<br />

ERNESTO CAPPOZZI, chefe–de–gabinete da Presidência do Banco<br />

do Brasil, representando Alcir Calliari, presidente do Banco do<br />

Brasil; SÉRGIO PINHEIRO RODRIGUES, diretor de Recursos<br />

Tecnológicos e Materiais do Banco do Brasil, JOÃO OTÁVIO DE<br />

NORONHA, consultor jurídico do Banco do Brasil.


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 180<br />

JOÃO OTÁVIO DE NORONHA<br />

Consultor Jurídico do Banco do Brasil (abril/1994 a agosto/2001)<br />

Diretor Jurídico do Banco do Brasil (3/9/2001 a 2/12/2002)<br />

Ministro do Superior Tribunal de Justiça (a partir de 3/12/2002)<br />

HISTÓRICO PROFISSIONAL<br />

1 – Superior Tribunal de Justiça<br />

Curriculum Vitae<br />

Ministro do Superior Tribunal de Justiça, a partir de 03<br />

de dezembro de 2002; Membro da 2ª Turma, 1ª Seção<br />

e da Corte Especial, de acordo com o disposto no<br />

art. 2°, II, do Regimento Interno.<br />

Designado, de acordo com o ato n° 110 de 9 de junho<br />

de 2005, como Presidente da Segunda Turma pelo<br />

período regimental de 21 de junho de 2005 a 20 de<br />

junho de 2007.


181 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

2 – Banco do Brasil S.A.<br />

Posse no Banco do Brasil – Agência Andradas (MG), em<br />

22/12/1975, sendo transferido para Agência Santa Rita<br />

do Sapucaí (MG), em 29/09/76.<br />

Advogado do Banco do Brasil, lotado no SEJUR – Serviço<br />

Jurídico do Banco do Brasil em Varginha (MG), de<br />

01/08/84 a 07/06/87.<br />

Supervisor do Núcleo Jurídico do Banco do Brasil, em<br />

Varginha (MG), jurisdicionando todo o Sul de Minas, de<br />

08/06/87 a julho de 1990.<br />

Chefe de Assessoria Jurídica Regional do Banco do Brasil,<br />

em Vitória (ES), de 01/08/90 a março de 1991.<br />

Consultor Jurídico Geral do Banco do Brasil, em Brasília,<br />

de abril de 1994 até agosto de 2001.<br />

Diretor Jurídico do Banco do Brasil, em Brasília, desde<br />

dezembro de 2001.<br />

3 – Ordem dos Advogados do Brasil<br />

Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção<br />

de Minas Gerais – 1993/1994.<br />

Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil<br />

– 1998/2002.<br />

4 – Membro dos Conselhos de Administração das seguintes<br />

empresas:<br />

Cia. Energética do Rio Grande do Norte – COSERN,<br />

desde 1998;<br />

ITAPEBI Geração de Energia S.A.;<br />

Cia. de Seguros Aliança do Brasil.


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 182<br />

ATIVIDADES ACADÊMICAS<br />

Professor Titular da Faculdade de Direito de Varginha (MG),<br />

lecionando nas cadeiras de Direito Processual Civil<br />

e Direito Comercial, conforme aprovação pelo<br />

MEC – Processo n° 23018.003104/88-15, despacho de<br />

n° 478/88, de 02 de dezembro de 1988.<br />

Professor de Direito Bancário na Escola Superior de Advocacia<br />

da OAB/MG.<br />

Professor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da<br />

Universidade de Itaúna (MG) – 1992/1993.<br />

Professor de Direito Processual Civil do Instituto de Educação<br />

Superior de Brasil – IESB, desde 03/02/2003.<br />

Professor de Direito Processual Civil no Curso de Pós-<br />

Graduação do UNICORB.<br />

Professor da Escola Superior da Magistratura do Tribunal<br />

de Justiça do Distrito Federal e Territórios.<br />

GRADUAÇÃO<br />

Curso de Direito<br />

Faculdade de Direito<br />

Pouso Alegre – MG<br />

Início: 1978 – Término: 1981<br />

TÍTULOS<br />

Concurso Público para Magistratura do Estado de Minas Gerais.<br />

Aprovado em 1° lugar no “CONCURSO PÚBLICO PARA JUIZ DE<br />

DIREITO E JUIZ DE DIREITO AUXILIAR DE MINAS GERAIS”.


183 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

PALESTRAS<br />

• Questões Controvertidas no Processo de Execução<br />

Escola da Advocacia da OAB-MG, Belo Horizonte – MG.<br />

• Ação Monitória<br />

Jornadas de Direito Processual Civil – IBDP, Brasília – DF.<br />

Escola de Advocacia da OAB/MG – Patos de Minas – MG.<br />

• Congresso de Procuradores do DNER<br />

Recursos Especial e Extraordinário – Brasília – DF.<br />

• Execução de Obrigação de Fazer<br />

Jornadas de Direito Processual Civil – IBDP, Salvador – BA.<br />

• Custo do Processo<br />

Conselho Superior de Magistratura Federal, Brasília – DF.<br />

• O Sistema de Cobrança do Crédito Bancário<br />

Encontro de Juristas de Língua Portuguesa – Banco Central do<br />

Brasil, Brasília – DF.<br />

• Aspectos Jurídicos do Novo Sistema de Pagamentos Brasileiro<br />

Associação Brasileira de Bancos Estaduais – ASBACE,<br />

Brasília – DF.<br />

• Os Contratos Bancários e o Código de Defesa do Consumidor<br />

Faculdade de Direito do Largo de S.Francisco, São Paulo – SP.<br />

• Congresso de Defensores Públicos de Belo Horizonte<br />

Exceção de Pré-Executividade – Belo Horizonte – MG.<br />

• Congresso da Ordem dos Advogados do Brasil em Ouro Preto<br />

Uma Nova Visão do Processo de Execução – Minas Gerais.<br />

• O Federalismo Brasileiro e a Repartição dos Poderes<br />

Palestra proferida na Câmara Municipal de Três Corações,<br />

Minas Gerais.


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 184<br />

• Recursos Cíveis<br />

Escola de Advocacia da OAB – MG, Varginha – MG.<br />

• As Reformas do CPC<br />

Ordem dos Advogados do Brasil, Belo Horizonte – MG.<br />

• A Cédula de Crédito Bancário<br />

Escola de Advocacia da OAB - GO, Goiânia – GO.<br />

Escola de Magistratura do Tribunal de Justiça de Rondônia.<br />

• Do “Commercial Paper” e Outros Contratos Bancários<br />

Internacionais<br />

Instituto de Magistrados do Ceará, Fortaleza – CE.<br />

• O Conceito de Empresário no Novo Código Civil<br />

OAB – Seção de Minas Gerais – Escola Superior de Advocacia –<br />

dez./2002<br />

• Mediação e Outros Meios Alternativos de Solução de<br />

Conflitos<br />

Escola de Magistratura do Rio de Janeiro – EMERJ – 17/03/2003<br />

• O Novo Código Civil no Mercado Imobiliário e no Direito<br />

Empresarial<br />

Seminário realizado na Câmara Municipal de São José dos<br />

Campos – SP – 20/03/2003.<br />

• O Acesso ao Judiciário e o Custo do Processo<br />

II Simpósio Regional de Advogados e Acadêmicos de Direito de<br />

Dourados e Região – Dourados – MT – 04/04/2003.<br />

Palestra na Embratel – Ed. Sede da Embratel – Salão Nobre –<br />

16/05/2003.<br />

• Função Social do Contrato no novo Código Civil<br />

Primeiro Congresso Goiano de Temas Constitucionais – Universidade<br />

Católica de Goiás – 21/05/2003.


185 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

• Impacto das Decisões Judiciais no Custo do Crédito no Brasil<br />

Congresso Nacional de Direito Bancário – SP – Organizado pela<br />

Comissão Jurídica da FEBRABAN – 11 a 12/08/2003.<br />

• A Inadimplência dos Usuários de Serviços<br />

Palestra Abradee – Auditório do Hotel Pestana – Via Costeira, Natal –<br />

29/08/2003.<br />

• O Poder Judiciário e o Anseio Popular<br />

II Congresso Estadual de Magistratura – Salão Pleno do Tribunal de<br />

Justiça do Espírito Santo – 19/09/2003.<br />

• 2° Ciclo Matogrossense de Direito Processual - 11/10/2003.<br />

• Seminário Jurídico sobre Concessões das Rodovias<br />

Hotel Serra Azul – Gramado – 28/11/2003.<br />

• Recursos Especial e Extraordinário – Técnicas de Interposição<br />

na perspectiva da Reforma do Judiciário.<br />

Auditório OAB – Belo Horizonte – MG – 29/04/2004;<br />

• Palestra UPIS – Brasília – DF – 03/05/2004.<br />

• Responsabilidade Civil dos Profissionais de Saúde -<br />

UNIMED Itaperuna – RJ – 13/05/2004.<br />

• Reflexões acerca do Princípio da Função Social nos<br />

Contratos Imobiliários<br />

Seminário A Segurança Jurídica nos Negócios Imobiliários – Tribunal<br />

de Alçada de Minas Gerais (Centro de Estudos Jurídicos) –<br />

Poços de Caldas – MG – 02/07/2004.<br />

• A Reforma do Judiciário<br />

FEBRABAN – Novotel – SP – 16/08/2004<br />

• Palestra na Faculdade Politécnica<br />

Uberlândia - MG – 22/08/2004


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 186<br />

• Decadência e Prescrição na Jurisprudência do STJ<br />

II Seminário do Instituto Pernambuco de Estudos Tributários<br />

– O caso do lançamento por homologação e as hipóteses<br />

de dolo, fraude ou simulação. Direito Tributário Material,<br />

Processual e Penal – Mar Hotel – Recife – PE – 03/09/2004.<br />

• Aspectos Processuais da Prescrição e Decadência<br />

Instituto Brasileiro de Direito Processual – Aulas proferidas<br />

por João Otávio de Noronha no Curso de Pós-Graduação<br />

Lato Sensu em Direito Processual Civil – 15/09/2004.<br />

• Procedimentos Especiais<br />

Instituto Brasileiro de Direito Processual – Aulas proferidas por<br />

João Otávio Noronha no Curso de Pós-Graduação Lato<br />

Sensu em Direito Processual Civil – 06/10/2004.<br />

• Tributação das Cooperativas<br />

IV Congresso do Nordeste Brasileiro em Direito Tributário e<br />

II Congresso Internacional de Direito Tributário – ISET –<br />

Instituto Sergipano de Estudo Tributário – Aracaju –<br />

•<br />

08/10/2004.<br />

Contratos Atípicos<br />

Seminário sobre Fomento Mercantil com apoio do TJSC e da<br />

AMC – 28 a 29/10/2004.<br />

Seminário Fomentando Direito – Escola de Magistratura de<br />

•<br />

Vitória – Tribunal de Justiça – Salão Pleno – 25/02/2005.<br />

Novas Perspectivas do Poder Judiciário<br />

Seminário Nacional de Associação de Mulheres da Carreira<br />

•<br />

Jurídica – 19/11/2004.<br />

Recursos Cíveis - A reforma do CPC e a Racionalização<br />

da Justiça<br />

II Ciclo de Debates OAB/RS – Hotel Embaixador – RS – 30/11/2004.


187 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

• Prescrição e Decadência – Tema no Novo Código Civil e<br />

no Código Tributário Nacional<br />

Banco Central – 14/07/2003.<br />

Seminário Jurídico “Benjamin Colucci” – Juiz de Fora –<br />

OAB – MG – 04 a 08/08/2003<br />

VIII Simpósio Serrano de Direito - 26/09/2003<br />

Simpósio Itapira – Salão do Júri – Fórum de Itapira –<br />

29/10/2003.<br />

Escola Superior de Magistratura – ESMAT – Tribunal de Justiça –<br />

Tocantins – 18/06/2004<br />

III Congresso Estadual de Magistrados – AMERON – Ji-<br />

Paraná – RO – 21/08/2004<br />

OAB – Londrina – PR – 27/08/2004<br />

Escola de Advocacia OAB – MG – Uberlândia – 25/11/2004<br />

Simpósio de Direito Civil e Processual Civil – OAB – Paraná –<br />

28/04/2005.<br />

Seminário de Direito Civil – Fórum Miguel Reale – Auditório ESMAF –<br />

Escola de Magistratura Federal – TRT 1ª Região – 24/06/2005.<br />

Congresso Brasileiro O Direito em Debate – Hotel Jutiúca – Maceió –<br />

AL – 14 a 16 de setembro de 2005.<br />

• Federação Nacional das Seguradoras<br />

Evento em Porto Alegre – RS – 22/10/2004.<br />

• A Reforma do Processo de Execução<br />

XI Encontro Estadual dos Advogados Mineiros – Araxá – MG –<br />

29/04/2005.<br />

• Responsabilidade Civil, Social e Trabalhista no Transporte<br />

Terrestre de Passageiros<br />

X Congresso – São Roque – SP – 06 a 08 de maio de 2005<br />

• XVII Fórum Nacional dos Juizados Especiais<br />

Curitiba – PR – 25 a 28 de maio de 2005


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 188<br />

• V Conferência dos Advogados do Distrito Federal<br />

Brasília – 9 a 11 de agosto de 2005<br />

• Agilização da Justiça<br />

III Conferência dos Advogados do Estado do Paraná. O<br />

Advogado e a Reforma do Poder Judiciário – OAB – Curitiba –<br />

PR – 15/08/2005<br />

• Seminário sobre Planos Privados de Saúde<br />

Santiago – Chile – 07 a 11 de setembro de 2005<br />

• Sistema Tributário e Mudanças Constitucionais<br />

III Congresso Internacional de Direito Tributário – Ccntro de<br />

Convenções de Pernambuco – Olinda – PE – 21 a 23 de<br />

setembro de 2005<br />

• II Fórum Jurídico da Atividade Seguradora – A Boa Fé<br />

objetiva nas Relações Contratuais.<br />

Hotel Villa Rossa – São Roque – SP<br />

• I Ciclo de Palestras “A Jurisprudência do STJ no Âmbito do<br />

Direito Público e do Direito Privado”<br />

Rio de Janeiro – RJ – 14/10/2005<br />

• VI Seminário Jurídico da ABRADEE Política Tarifária –<br />

“Revisão e Reajuste Tarifário – A Intervenção do Poder<br />

Judiciário”<br />

Salão Mercosul do Hotel Sheraton – Porto Alegre – RS –<br />

27/10/2005<br />

• II Encontro de Juizados Especiais de São Paulo – “Os<br />

Serviços Públicos Essenciais e os Juizados”<br />

UNIP – Campinas – SP – 28/10/2005<br />

• XIX Congresso Brasileiro de Direito Tributário – Homengagem<br />

a Geraldo Ataliba – “República e Constituição Federal”<br />

Hotel Gran Meliá WTC – São Paulo – 28/10/2005


189 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

• IV Seminário – Temas Atuais em Direito Tributário –<br />

“Prescrição de Créditos Tributários e a Lei Complementar<br />

n° 118/02 – Auditório Térreo da FIEMG – Belo Horizonte –<br />

MG – 10/11/2005<br />

• V Congresso Tributário do Nordeste Brasileiro; III Congresso<br />

Internacional de Direito Tributário; Congresso Brasileiro de<br />

Direito Municipal – A Ampla Defesa e o Contencioso<br />

Administrativo e Judicial<br />

Teatro Tobias Barreto – Aracaju – SE - 14/11/2005<br />

• V Seminário de Direito Militar – Reintegração de Posse de<br />

Patrimônio da União sob Jurisdição Militar<br />

Superior Tribunal Militar – 24/11/2005<br />

• Seminário Jurídico “O Contrato no Ordenamento Civil<br />

•<br />

Brasileiro” – As Decisões do Poder Judiciário e os Reflexos<br />

na Sociedade”<br />

Escola de Magistratura do Espírito Santo – Vitória – ES –<br />

25/11/2005<br />

Fórum de Direito Bancário – O Papel do Banco Central na<br />

Evolução do Direito Bancário<br />

São Paulo – SP – 28/11/2005<br />

• Congresso de Advocacia Pública – Prescrição e Decadência<br />

dos Créditos Tributários<br />

Teatro Izabela Hendrix – Belo Horizonte – MG – 28/11/2005<br />

• Aula Magna na Faculdade de Direito do Sul de Minas com<br />

o tema “A recente reforma do Código de Processo Civil e o<br />

cumprimento da sentença e execução – Pouso Alegre –<br />

24/03/2006<br />

• Encontro Regional de Advogados – Prestação Jurisdicional<br />

célere e segura – Um desafio para o Poder Judiciário<br />

Contemporâneo – Uberlândia – MG - 04 a 06 de maio de<br />

2006


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 190<br />

• Direito e Cidadania – Alterações no Processo Civil<br />

Instituto Camilo Filho – Teresina – PI – 13/05/2006<br />

• Curso de Especialização em Direito Tributário – Realização<br />

da dívida ativa: execução fiscal e medida cautelar fiscal<br />

IBET – 20/05/2006<br />

• Seminário A Justiça e o seu papel no combate à<br />

•<br />

concorrência desleal – O papel do STJ como intérprete da lei<br />

federal em última instância<br />

AJUFE – ETCO – São Paulo – SP<br />

IMATS – Instituto dos Magistrados dos Tribunais Superiores<br />

– Seminário “Aspectos Jurídicos e Econômicos das Taxas de<br />

Juros”<br />

Itaipava – RJ – 10/06/2006<br />

• X Congresso de Direito Tributário da ABRADT - Associação<br />

de Direito Tributário – Conferência: A tributação da importância<br />

de serviços pelo ISS – limites à competência dos entes<br />

federados<br />

Belo Horizonte – MG – 08 a 11 de agosto de 2006<br />

• Seminário “A importância do crédito como fator de<br />

desenvolvimento econômico e social<br />

Comandatuba – Bahia – 07 a 10 de setembro de 2006<br />

• VI Congresso Internacional de Direito Tributário de<br />

•<br />

Pernambuco – A reforma do CPC e seus reflexos no Processo<br />

Judicial Tributário<br />

Recife – PE – 29/09/2006<br />

23° Encontro Nacional de Juízes Federais do Brasil<br />

Muro Alto – Pernambuco – 15/17 de novembro de 2006<br />

• Primeiro Encontro Paraibano de Justiça com Meio Ambiente<br />

– Meio Ambiente no STJ<br />

João Pessoa – PB – 06 a 08 de dezembro de 2006


191 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

• Congresso Jurídico Banco Central – Aplicação do Código<br />

de Defesa do Consumidor aos Bancos – Repercussões da Adin<br />

2591 – MG – 10/11/2005<br />

Banco Central do Brasil – 05 e 06 de dezembro de 2006<br />

• III Congresso Internacional de Direito Tributário do Paraná –<br />

Substituição Tributária e pautas fiscais na jurisprudência do STJ<br />

e do STF<br />

Curitiba – PR – 29 de março de 2006<br />

• Seminário Jurídico – Aspectos Jurídicos Fundamentais<br />

•<br />

dos Fundos de Pensão – A importância da Previdência<br />

Complementar no Contexto Econômico Brasileiro<br />

Domingos Martins – ES – 31/03/2007<br />

Congresso Nacional de Jovens Advogados – Relacionamento<br />

do Advogado com o Poder Judiciário<br />

Belo Horizonte – MG – 27/04/2007<br />

• Associação dos Advogados de São Paulo – AASP – Os<br />

fundamentos do Recurso Especial<br />

São Paulo – SP – 21/05/2007<br />

• 12° Congresso de Responsabilidade Civil e Direito Aplicado<br />

ao Transporte Terrestre de Passageiros – A importância do<br />

Marco Regulatório para o setor de transporte de passageiro<br />

São Roque – SP – 18/05/2007<br />

• 29ª Semanajur – Reforma do Processo na Execução<br />

Faculdade de Direito de Barbacena – MG – 27/05/2007<br />

• O Ciclo de Palestras sobre Mercado de Capitais para Juízes<br />

– O STJ e o Sistema Financeiro Nacional<br />

Bovespa – São Paulo - SP – 01/06/2007<br />

• Seminário Novos Rumos do Processo e do Direito Civil –<br />

Alterações no Processo de Execução<br />

Teresópolis – RJ – 30/06/2007


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 192<br />

• Jornada Jurídica de Direito de Energia – Palestra: Discussão<br />

sobre cabimento da tributação do “transporte” da energia elétrica<br />

em processos em matéria tributária<br />

Florianópolis – SC – 27/07/2006<br />

• Seminário Propaganda de Alimentos – Aspectos Constitucionais<br />

– Tema: Restrições da propaganda de alimentos comercial.<br />

Forma. Alcance do art. 22, XXIX e 220, § 3°, II da CF<br />

São Paulo – SP – 17/08/2007<br />

• ABDIB – Centro de Eventos e Convenções Brasil XXI –<br />

Palestra: As bases para o desenvolvimento sustentável da<br />

Infra-estrutura. Visões dos Poderes Executivo, Legislativo e<br />

Judiciário<br />

Brasília – DF – 22/08/2007<br />

• XI Congresso Internacional de Direito Tributário – Tema: O<br />

direito do contribuinte de oferecer precatórios em garantia<br />

na execução fiscal e sua equiparação a dinheiro, na visão<br />

do STJ<br />

Belo Horizonte – MG – 23/08/2007<br />

• Aula Magna na Universidade de Ribeirão Preto – Tema:<br />

A reforma do processo de execução – 21/09/2007<br />

• VII Congresso Internacional de Direito Tributário de<br />

•<br />

Pernambuco – Mar Hotel – Recife – PE – 28/09/2007<br />

V Simpósio sobre Responsabilidade Civil no Transporte<br />

Rodoviário de Cargas – Tema: Responsabilidade dos Sócios e<br />

dos Administradores por Dívidas Tributárias das Empresas –<br />

Desconsideração da personalidade jurídica – Penhora on line<br />

– São Paulo – SP – 21/09/2007<br />

• Seminário de Estudos sobre Fomento Mercantil – Factoring –<br />

Tema: Reflexos das Decisões Judiciais na atividade econômica<br />

Jarinú – SP – 20/10/2007


193 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

• VII Seminário ABRADEE – Palestra Magna: A Inadimplência<br />

dos Usuários do Serviço de Energia Elétrica na Visão do STJ<br />

Belo Horizonte – MG – 11 a 13 de novembro de 2007<br />

• Convênio de Estágio sobre Administração Judiciáaria,<br />

Administração Pública e Estudo Comparado de Sistemas<br />

Judiciários Brasil/Estados Unidos da América com ênfase<br />

nos estados de Pernambuco / Geórgia<br />

Local do evento: Cidade Universitária de Athens, GA – UGA –<br />

25/11/2007 a 08/12/2007<br />

• Encontro Capixaba de Direito de Estado – Tema:<br />

Cumprimento de Sentença.<br />

Vitória – ES – 14/12/ 2007<br />

HOMENAGENS<br />

• Homenagem da Agremiação de Mulheres da Carreira Jurídica<br />

de Três Corações<br />

Clube de Três Corações – Minas Gerais – 27/11/ 2004<br />

• Homenagem da Assembléia Legislativa do Espírito Santo –<br />

Entrega do Título de Cidadão Espírito Santense<br />

Assembleia Legislativa do Espírito Santo<br />

Vitória – ES – 25/11/2005<br />

MEDALHAS<br />

• Comenda “Mérito Benjamin Colucci”<br />

Juiz de Fora – MG – 09/08/2003<br />

• Solenidade de entrega das Comendas – TST<br />

Ministro João Otávio Noronha admitido no grau de Grande<br />

Oficial da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho –<br />

12/08/2003


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 194<br />

• Medalha de Mérito Jurídico da Faculdade de Direito de<br />

Varginha – 26/03/2004<br />

• Medalha de Mérito Jurídico Prof. Antônio José de Souza<br />

Levenhagen – De acordo com o art. 132 do Regimento<br />

Interno da Faculdade de Direito de Varginha – 26/03/2004<br />

• Solenidade Cívico Militar de Imposição da Insígnia da Ordem<br />

do Mérito Militar<br />

Quartel General do Exército – SMU – 19/04/2004<br />

• Ordem do Mérito Des. Theotônio Segurado, no grau de<br />

Grande Cruz – Resolução n° 011, de 13 de novembro de 2003<br />

– Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins – 18/06/2004<br />

• Ordem do Mérito Judiciário Militar – Alta Distinção da Ordem<br />

em sessão de 26/11/2004 – Criada pelo Superior Tribunal<br />

Militar, em sessão de 12 de junho de 1957 – 01/04/2005<br />

• Grande Medalha da Inconfidência – Criada pela Lei 882, de<br />

1952 e consolidada pelo Decreto 38.690, de 1997<br />

Ouro Preto – MG – 21/04/2005<br />

• Mérito Judiciário do Tribunal de Justiça do Piaui –<br />

Teresina – PI – 13/05/2005


195 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />

CONSULTORES E DIRETORES JURÍDICOS<br />

(1922/2011)<br />

CONSULTORES JURÍDICOS PERÍO<strong>DO</strong><br />

1 – José Xavier Carvalho de Mendonça 20/3/1922 a 20/10/1930<br />

2 – João Neves da Fontoura 2/12/1930 a 24/4/1932<br />

3 – Afonso Penna Júnior 25/4/1932 a 3/12/1937<br />

4 – João Neves da Fontoura 1937 a 1943<br />

5 – Hugo Napoleão do Rêgo 1943 a 1944<br />

6 – João Neves da Fontoura 1944 a 1963<br />

7 – Sérgio Darcy 1963 a 1966<br />

8 – Benedicto Martins Napoleão do Rêgo 3/5/1967 a 16/9/1977<br />

9 – José Augusto Moreira Guimarães 1977 a 1980<br />

10 – Alcyr Carvalho da Silva 1980 a 1985<br />

11 – Francisco Manoel Xavier de Albuquerque 1985 a 1986<br />

12 – José Sampaio de Lacerda 1986 a 1988<br />

13 – Geraldo Magela da Cruz Quintão 1988 a 1993<br />

14 – João Otávio de Noronha 1994 a 2001<br />

DIRETORES JURÍDICOS<br />

1 – João Otávio de Noronha 3/9/2001 a 2/12/2002<br />

2 – Antônio Eduardo Silva Ribeiro 3/12/2002 a 16/2/2003<br />

3 – Miguel Oscar Viana Peixoto 17/2/2003 a 2/4/2006<br />

4 – Izaías Batista de Araújo 21 a 24/3/2005, 13 e 14/10/2005<br />

26 a 30/12/2005, 3 a 16/4/2006, int.<br />

5 – Maurício Doff Sotta 17/4/2006 e 13/7/2007 a 26/8/2007<br />

6 – Antônio Pedro da Silva Machado 5 a 23/2/2007, int.<br />

7 – Joaquim Portes de Cerqueira César 27/8/2007 a 29/11/2009<br />

8 – Orival Grahl 30/11/2009 a 25/2/2011<br />

9 – Antônio Pedro da Silva Machado 25/2/2011 a .. .. ..


<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 196<br />

Bibliografia<br />

Autorizada ao escritor Fernando Pinheiro<br />

AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO FILHO, membro da Academia<br />

Brasileira de Letras – Afonso Arinos e a Política Externa, palestra<br />

apresentada em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a<br />

Integração Social. – Autorização concedida, em 10/05/2004, por<br />

Afonso Arinos de Melo Franco Filho.<br />

AFONSO PENNA JÚNIOR – Apud Discurso de recepção do acadêmico<br />

Dilermando Cruz ao Sr. Afonso Penna Júnior – in<br />

Revista da<br />

Academia Mineira de Letras – p. 50 – Volume IV – Belo Horizonte –<br />

Imprensa Oficial – Belo Horizonte–MG – 1926) – Autorização<br />

concedida, em 07/09/2007, por Maria Lúcia Affonso Penna Gubert,<br />

neta de Afonso Penna Júnior.<br />

BRAGA, Odilon – Prefácio da obra <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Pareceres, de<br />

Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. – Rio de Janeiro – 1941<br />

– Autorização concedida, em 25/06/2004, por Raul Murgel Braga,<br />

filho de Odilon Braga.<br />

CABRAL, Bernardo, senador da República – O Centenário de Nogueira da<br />

Gama, palestra proferida, em 25/10/1999 – 3° Seminário Banco<br />

do Brasil e a Integração Social. – Autorização concedida, em<br />

07/12/2006, por Bernardo Cabral.


197 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

CAMPOS, Mauro Orofino, diretor–presidente da Companhia Docas do<br />

Rio de Janeiro – Homenagem a João Marques dos Reis, palestra<br />

apresentada, em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a<br />

Integração Social). – Autorização concedida, em 30/10/2006, por<br />

Mauro Orofino Campos.<br />

DARCY, James, presidente do Banco do Brasil (02/01/1925 a 16/11/1926)<br />

– VI Centenário da morte de Dante Alighieri, discurso proferido, nos<br />

idos de 1921, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro – Apud<br />

Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro – p. 49 – Cadernos<br />

AAAB – Rio de Janeiro – 1955 – Autorização concedida, em<br />

25/09/2007, por Alina Monteiro, viúva de Fernando Monteiro.<br />

FONTOURA, João Neves da Fontoura, consultor jurídico do Banco do<br />

Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962), embaixador do Brasil<br />

em Portugal (1943 a 1945). ministro das Relações Exteriores (1946<br />

e 1951/ 1953) – Apud Discurso de posse do acadêmico Geraldo<br />

Magela da Cruz Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves<br />

da Fontoura) na Academia de Letras dos Funcionários do Banco<br />

do Brasil, em solenidade realizada em 26/4/1994, no Auditório da<br />

Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF.<br />

– Autorização concedida, em 12/01/2006, por Geraldo Magela da<br />

Cruz Quintão.<br />

LACERDA, José Sampaio de, – Curriculum Vitae (Carreira de Vida) -<br />

Sumário – Histórico fiel no tempo e no espaço – I – Origem – II –<br />

Descendência e complexo familiar – III – Trajetória e atividades<br />

exercidas. – Autorização concedida, em 17/09/2003, por José<br />

Sampaio de Lacerda.<br />

MACHA<strong>DO</strong>, Aimberê Araken – Homenagem ao patrono Cláudio Pacheco,<br />

palestra proferida, em 22/04/1997, na Academia de Letras dos<br />

Funcionários do Banco do Brasil. – Autorização concedida, em<br />

21/08/2007, por Aimberê Araken Machado.<br />

MIRANDA, Décio, ministro do STF – Discurso proferido, em 16/02/1981,<br />

na solenidade de posse do ministro Francisco Manoel XAVIER DE<br />

ALBUQUERQUE no cargo de presidente do Supremo Tribunal<br />

Federal – Brasília – DF. – Autorização concedida, em 09/10/2003,<br />

por Maria Helena de Miranda Rodrigues e Ana Luiza de Miranda<br />

Cardoso, filhas de Décio Miranda (falecido).


<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 198<br />

NAPOLEÃO, Aluízio, embaixador da República – Um Lutador Hugo<br />

Napoleão e Sua Época, pp. 265, 266, 267, 268, 691, 692, 693, 694,<br />

695, 270, 695, 696, 697, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278,<br />

478, 488, 489, 490, 491, 492, 493, 751, 752, 753, 754, 755, 756, 760,<br />

761, 766, 770, 494 – Centro Gráfico do Senado Federal – 1992<br />

– Brasília – DF. – Autorização concedida, nos idos de 1998, por<br />

Aluízio Napoleão, e em 21/09/2004, por Hugo Napoleão do Rêgo<br />

Neto.<br />

NAPOLEÃO, Benedicto Martins, consultor jurídico do Banco do Brasil –<br />

Discurso proferido, em 14/06/1972, ao ensejo da realização do<br />

banquete oferecido pelo Banco do Brasil, em Brasília, ao Ministro<br />

do Supremo Tribunal Federal, Professor Xavier de Albuquerque,<br />

e ao Procurador–Geral da República, Professor Moreira Alves.<br />

– Autorização concedida, em 30/01/2007, por Igor Silva de<br />

Martins Napoleão, filho de Benedicto Martins Napoleão (falecido).<br />

NORONHA, João Otávio de, consultor jurídico do Banco do Brasil<br />

(1994/2001) – Curriculum vitae – Autorização concedida, em<br />

22/01/2008, por João Otávio de Noronha, ministro do Superior<br />

Tribunal de Justiça.<br />

PINHEIRO, Fernando, presidente da Academia de Letras dos<br />

Funcionários do Banco do Brasil (1995/1998–2001, 2004/2007–<br />

2010) – Afonso Penna Júnior – Trajetória em ouro e aura<br />

(palestra) – Afonso Penna Júnior, ministro de Estado da Justiça<br />

(1925/1926), diretor da Carteira de Liquidações do Banco do Brasil<br />

(1930/1931), consultor jurídica do Banco do Brasil (1932-1937).<br />

Sérgio Darcy e a Estrela Solitária (palestra) – Sérgio Darcy,<br />

presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 a 1939 e 1963),<br />

consultor jurídico do Banco do Brasil (1963 / 1966).<br />

PINHEIRO, Tobias, conselheiro da ABI – Associação Brasileira de<br />

Imprensa – Martins Napoleão – O Poeta – Uma Cultura Universal<br />

(palestra) – Benedicto Martins Napoleão do Rêgo, consultor<br />

jurídico do Banco do Brasil (1967/1976). – Autorização concedida,<br />

em 26/01/2006, por Tobias Pinheiro.


199 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />

QUINTÃO, Geraldo Magela da Cruz Quintão, consultor jurídico do Banco<br />

do Brasil (1988 a 1993), advogado–geral da União (jul-1993 a jan–<br />

2000), ministro de Estado da Defesa (24/01/2000 a 31/12/2002) –<br />

Texto final do discurso proferido, em 29/08/1988, ao assumir o<br />

cargo de consultor jurídico, no qual presta homenagem a José<br />

Sampaio de Lacerda, consultor jurídico do Banco do Brasil (1986<br />

a 1988). – Autorização concedida, em 12/01/2006, por Geraldo<br />

Magela da Cruz Quintão.<br />

SILVA, Luiz Augusto Beck da Silva – Discurso de recepção, em<br />

26/04/1994, ao acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão,<br />

advogado-geral da União, na Academia de Letras dos Funcionários<br />

do Banco do Brasil – Auditório da Presidência do Banco do Brasil<br />

– Edifício Sede III – Brasília – DF). – Autorização concedida, em<br />

11/01/2006, por Luiz Augusto Beck da Silva.<br />

TUNHOLI, Nazaré – Discurso de posse na Cadeira n° 45 (patronímica<br />

de Doutel de Andrade) da Academia de Letras dos Funcionários<br />

do Banco do Brasil (citação de texto) – Sessão solene realizada,<br />

em 27/05/1994, no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de<br />

Janeiro – RJ – Iconografia: Academia de Letras dos Funcionários<br />

do Banco do Brasil.<br />

XAVIER DE ALBUQUERQUE, Francisco Manoel, presidente do Supremo<br />

Tribunal Federal (16/02/1981 a 21/02/1983), consultor jurídico do<br />

Banco do Brasil (1985 a 1986) – Carta–resumo, de 01/09/2003,<br />

de currículo, assinada pelo jurista Francisco Manoel Xavier de<br />

Albuquerque, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro.

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