BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos
BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos
BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos
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<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
<strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong><br />
<strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
(1922/2002)<br />
Autores diversos<br />
Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Brasília – 26–4–1994<br />
Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
Coordenação:<br />
Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
Rio de Janeiro – RJ<br />
2011
INSÍGNIA DA ENTIDADE ORGANIZA<strong>DO</strong>RA DA OBRA<br />
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong>
3 - <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
IMAGENS<br />
Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Brasília – 26–4–1994<br />
Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
Autoridades que compõem a Mesa de honra: da esquerda<br />
para a direita: FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO, presidente da<br />
Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil,<br />
em exercício; ERNESTO CAPPOZZI, chefe-de-gabinete<br />
da Presidência do Banco do Brasil, representando o<br />
presidente do Banco do Brasil; SÉRGIO PINHEIRO<br />
RODRIGUES, diretor de Recursos Tecnológicos e<br />
Materiais do Banco do Brasil; JOÃO OTÁVIO DE<br />
NORONHA, consultor jurídico do Banco do Brasil.<br />
Na tribuna, o jurista GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO,<br />
advogado-geral da União, ao tomar posse na Academia<br />
de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, presta<br />
homenagem a JOÃO NEVES DA FONTOURA, consultorjurídico<br />
do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e<br />
1953/1962)<br />
Na 2ª imagem, o acadêmico o acadêmico LUIZ AUGUSTO<br />
BECK DA SILVA felicita GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ<br />
QUINTÃO.
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 4<br />
CPI – Brasil – Catalogação-na-fonte:<br />
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong><br />
– <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> (1922/2002) – Autores diversos<br />
Coordenação:<br />
Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
EDIFÍCIO SEDAN – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
Rua Senador Dantas, 105 – 22° andar<br />
CEP 20031-201 – RIO DE JANEIRO – RJ<br />
Telefone: 0 xx 21 – 3808–3195<br />
As opiniões e conceitos manifestados na obra <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> – ensaios <strong>históricos</strong><br />
(autores diversos) são de inteira responsabilidade dos<br />
autores.<br />
ISBN<br />
1. Memória institucional do Banco do Brasil<br />
2. Homenagem (elogio acadêmico) aos Advogados e Consultores<br />
Jurídicos do Banco do Brasil (1922/2002)<br />
3. Literatura brasileira 4. Brochura: 199 pp.
5 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
SUMÁRIO<br />
Prefácio<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO 7<br />
Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
(1995 a 1998, 1998 a 2001, 2004 a 2007, 2007 a 2010)<br />
1 - JOÃO NEVES DA FONTOURA<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962)<br />
Embaixador do Brasil em Portugal (1943/1945)<br />
Ministro das Relações Exteriores (1946 e 1951/1953)<br />
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO 15<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993)<br />
Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000)<br />
Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />
2 - AFONSO PENNA JÚNIOR – Trajetória em ouro e aura<br />
Ministro de Estado da Justiça (1925/1926)<br />
Diretor da Carteira de Liquidações do Banco do Brasil (1930/1931)<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1932/1937)<br />
Imortal da Academia Brasileira de Letras<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO 34<br />
Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
(1995 / 1998 – 2001, 2004/2007, 2007/2010)<br />
3 - UM LUTA<strong>DO</strong>R HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de Aluízio Napoleão<br />
HUGO NAPOLEÃO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1943/1944)<br />
ALUÍZIO NAPOLEÃO 49<br />
Embaixador da República
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 6<br />
5 - SÉRGIO DARCY E A ESTRELA SOLITÁRIA<br />
Presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 / 1939 e 1963)<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1962/1967)<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO 105<br />
Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
(1995 / 1998 – 2001, 2004/2007, 2007/2010)<br />
6 - MARTINS NAPOLEÃO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976)<br />
TOBIAS PINHEIRO 121<br />
Conselheiro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa<br />
7 - XAVIER DE ALBUQUERQUE e MOREIRA ALVES (homenageados)<br />
MARTINS NAPOLEÃO, Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976) 132<br />
8 - XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />
Presidente do Supremo Tribunal Federal (16/02/1981 a 21/02/1983)<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1985 / 1986)<br />
DÉCIO MIRANDA 143<br />
Ministro do Supremo Tribunal Federal<br />
9 - JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1986/1988)<br />
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO 151<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993)<br />
Curriculum vitae – Carreira de Vida – JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />
– Sumário – Origem, descendência, complexo familiar, trajetória e atividades<br />
exercidas 154<br />
10 - GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993)<br />
Advogado–Geral da União (jul/1993 a jan-2000)<br />
Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA 164<br />
Advogado do Banco do Brasil ( AJURE – Porto Alegre – RS (1977/1992)<br />
Assessor Jurídico da Consultoria Jurídica - Banco do Brasil (1992/1994)<br />
11 - JOÂO OTÁVIO DE NORONHA<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1994/2001)<br />
Curriculum vitae 180<br />
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Consultoria Jurídica (1922/2002) 195
7 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
PREFÁCIO<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO<br />
Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
1995 a 1998, 1998 a 2001, 2004 a 2007 e 2007 a 2010<br />
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> –<br />
<strong>Ensaios</strong> Históricos, de autoria de escritores constantes no<br />
Sumário da presente obra, organizada pela Academia de<br />
Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, ressalta<br />
aspectos da vida e obra dos mais importantes consultores<br />
jurídicos do Banco do Brasil, desde a criação da<br />
Consultoria Jurídica, em 10/3/1922, a começar por<br />
Carvalho de Mendonça que mereceu o discurso de elogio<br />
de Hugo Napoleão (in Um lutador Hugo Napoleão e sua<br />
época, de Aluízio Napoleão – pp. 273, 274, 275).<br />
A obra encerra–se, em 02/12/2002, no percurso<br />
de 80 anos de História, com a saída de João Otávio de<br />
Noronha, consultor jurídico (1994/2001) e diretor jurídico<br />
(dez/2001 a dez/2002), a fim de assumir o cargo de<br />
ministro do Superior Tribunal de Justiça.<br />
Na esfera presidencial, juristas de expressiva<br />
notoriedade nacional conduziram os destinos do Banco<br />
do Brasil: Visconde de Jequitinhonha – Francisco Gê<br />
Acayaba de Montezuma (27/4/1866 a 13/8/1866), Afonso Penna<br />
(19/10/1895 a 14/11/1898), Ubaldino do Amaral (25/6/1909 a
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 8<br />
14/10/1910), Sá Freire (3/1/1919 a 28/7/1919), James Darcy<br />
(2/1/1925 a 16/11/1926), Henrique Carneiro Leão (25/8/1828<br />
a 3/6/1829), João Marques dos Reis (30/11/1937 a 6/11/1945)<br />
e Clemente Mariani (6/9/1954 a 14/4/1955). Destacamos<br />
os elogios proferidos no 2° Seminário Banco do Brasil e<br />
a Integração Social:<br />
“Decorridos 204 anos de seu nascimento, e 128 anos<br />
de sua morte, – Montezuma permanece vivo na memória<br />
da posteridade, principalmente no seio das instituições que<br />
criou: a Maçonaria Filosófica, e o Instituto da Ordem dos<br />
Advogados do Brasil que gerou a Ordem dos Advogados<br />
do Brasil.” (1)<br />
(...)<br />
“Entender Marques dos Reis, contudo, exige um<br />
esforço que ultrapassa os dados biográficos para<br />
mergulhar nas circunstâncias históricas. É o entendimento<br />
da conjuntura que fornece a chave para a compreensão<br />
de seus atos públicos, quer como Ministro da Viação,<br />
quer como Presidente do Banco do Brasil. Um homem não<br />
pode ser visto sem o seu tempo. E o tempo de Marques<br />
dos Reis é a era Vargas.” (2)<br />
(1) LICÍNIO LEAL BARBOSA, presidente da Academia Brasileira<br />
Maçônica de Letras – in Visconde de Jequitinhonha (Francisco Gê<br />
Acayaba de Montezuma, panegírico ao patrono Visconde de<br />
Jequitinhonha (Cadeira n° 29, da Academia de Letras dos<br />
Funcionários do Banco do Brasil).<br />
(2) MAURO OROFINO CAMPOS, diretor–presidente da Companhia<br />
Docas do Rio de Janeiro – Homenagem a João Marques dos Reis,<br />
patrono da Cadeira n° 19, da Academia de Letras dos Funcionários<br />
do Banco do Brasil – Palestra apresentada, em 07/12/1998 – 2°<br />
Seminário Banco do Brasil e a Integração Social.
9 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Por ordem cronológica dos cargos exercidos<br />
na Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, o primeiro<br />
ensaio, constante nesta obra, passa a integrar a<br />
bibliografia (obra sobre o autor) de Carvalho de Mendonça,<br />
apresentada pelo escritor Fernando Mendonça, presidente<br />
do Instituto Carvalho de Mendonça de Direito Comercial.<br />
Em seguida, o jurista Geraldo Magela da Cruz<br />
Quintão presta homenagem a João Neves da Fontoura e<br />
a José Sampaio de Lacerda, e, ao mesmo tempo, a recebe<br />
de Luiz Augusto Beck da Silva.<br />
De igual modo, o consultor jurídico Martins<br />
Napoleão homenageia os juristas Xavier de Albuquerque<br />
e Moreira Alves e é homenageado pelo escritor Tobias<br />
Pinheiro. E ainda Xavier de Albuquerque, na qualidade de<br />
presidente do Supremo Tribunal Federal, é recebido, na<br />
sessão solene de 16/02/1981, pelo ministro Décio Miranda.<br />
Os consultores jurídicos Afonso Penna Júnior e Sérgio<br />
Darcy são lembrados, em saudosa memória, pelo escritor<br />
Fernando Pinheiro.<br />
Da família Napoleão, pai e filho entram em cena.<br />
Hugo Napoleão recebe do embaixador Aluízio Napoleão<br />
palavras que o imortalizam. O Banco do Brasil e a Câmara<br />
dos Deputados, distintamente, são os cenários apresentados.<br />
Ao prestar homenagem aos consultores jurídicos<br />
do Banco do Brasil, a presente obra resgata parcialmente<br />
a memória institucional do Banco do Brasil, e evoca o<br />
passado onde se encontram os enredos que dão estímulo<br />
à dignidade do servidor e, ainda, elucidam aspectos da<br />
história da vida nacional, em decorrência da atuação<br />
política de deputados e senadores, gestão do presidente do<br />
Botafogo de Futebol e Regatas (1937/1939 e 1963), ministros<br />
de egrégios tribunais, ministros de Estado que, em épocas
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 10<br />
distintas, estiveram prestando relevantes serviços à<br />
Consultoria Jurídica do Banco do Brasil e ao País.<br />
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> –<br />
<strong>Ensaios</strong> Históricos – não abrange a atuação atual da<br />
Diretoria Jurídica, órgão que direciona a ação do BB,<br />
nem mesmo divulga notícias de caráter exclusivo da<br />
Empresa, apenas presta um serviço de revelar ao público<br />
a importância, no cenário nacional, da vida e<br />
obra dos mais importantes consultores jurídicos que<br />
engrandeceram, engrandecem e sempre engrandecerão, pela<br />
memória, o Banco do Brasil e a Nação brasileira.<br />
É sempre questionável a indicação dos nomes<br />
exponenciais que transitaram pela área jurídica do<br />
Banco do Brasil, não pelos méritos que os qualificam,<br />
uma vez que a questão de ser mais importante está<br />
muito ligada à afinidade de cada um de nós, como<br />
em qualquer área das artes e dos costumes, além de<br />
considerar que o universo que abriga a Empresa é<br />
muito grande, mas na noite apagada, inspirados em Deus<br />
em nós, é necessário criar estrelas e inaugurar auroras.<br />
Dessa forma, excetuando-se os nomes dos<br />
nobres consultores jurídicos, cabe-nos a arriscada aventura<br />
e lídima ventura de mencionar algumas personalidades<br />
que tiveram passagem pela área jurídica do Banco do<br />
Brasil. Vale, portanto, destacar:<br />
“Filho, sobrinho, irmão e pai de diplomatas, Afonso<br />
Arinos nunca abraçou, como profissão, a carreira seguida<br />
por aqueles familiares. E foi escasso o tempo em que<br />
dividiu sua atuação fecunda entre o Ministério das Relações<br />
Exteriores, a Organização das Nações Unidas, em Nova<br />
Iorque, a Conferência do Desarmamento, em Genebra, e a
11 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Conferência Interamericana de Caracas, além da<br />
honrosa embaixada que o levou, como representante do<br />
Brasil, à abertura do Segundo Concílio Ecumênico Vaticano.<br />
Entretanto, poucos influenciaram tanto quanto ele a<br />
direção seguida pela diplomacia brasileira, sua visão do<br />
mundo e postura perante o concerto das nações.<br />
Apesar de algumas recaídas passageiras, a política externa<br />
independente, que moldou, veio para ficar.” (3)<br />
(...)<br />
“No movimento lento, com simplicidade e vivo, a música<br />
Tu e o Vento, do maestro e compositor Edino Krieger, escrita em<br />
02 de maio de 1954, em Teresópolis – RJ, traz a letra de<br />
Adelmar Tavares.<br />
Advogado do Banco do Brasil (1925/1930), Adelmar<br />
Tavares foi eleito, em 1924, para a Academia Brasileira<br />
de Letras, presidindo-a em 1948. No período 1948/1950,<br />
ocupa o cargo de presidente do Tribunal de Justiça do<br />
Estado do Rio de Janeiro.<br />
Nos idos de 1960, o poeta pernambucano, durante<br />
o 1° Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, é<br />
aclamado “o rei da trova brasileira”, até hoje insuperável,<br />
com o apoio do poeta Walter Waeny, um dos mais<br />
importantes trovadores nacionais, membro da Academia<br />
de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.” (4)<br />
(3) AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO FILHO, membro da<br />
Academia Brasileira de Letras – Afonso Arinos e a Política Externa,<br />
palestra apresentada em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do<br />
Brasil e a Integração Social.<br />
(4) FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – A presença dos funcionários do Banco do<br />
Brasil na música clássica, palestra proferida em nov/2000 –<br />
4° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social – Rio de Janeiro.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 12<br />
Justa homenagem prestada por Aimberê Araken<br />
Machado a Cláudio Pacheco:<br />
“Bem mais tarde – após o fim do ciclo dos<br />
governos militares –, na gestão do Presidente José Sarney,<br />
Cláudio Pacheco foi um dos escolhidos para formar uma<br />
Comissão Constitucional – ombreando com Rosah<br />
Russomano e Pinto Ferreira, num trabalho prévio à<br />
Assembléia Nacional Constituinte –, presidida, por feliz<br />
coincidência, pelo grande jurista e historiador mineiro<br />
Afonso Arinos de Melo Franco. (5)<br />
Camilo Nogueira da Gama, advogado da<br />
Consultoria Jurídica – Banco do Brasil (1940/1942),<br />
deputado Federal (1955/1963 e 1974/1976), senador da<br />
República (1963/1971), vice-presidente do Senado e do<br />
Congresso Nacional (1963/1967), homenageado, em 25/10/1999,<br />
pelo nobre senador Bernardo Cabral:<br />
“Faço essas observações com os olhos voltados para<br />
tantos políticos brasileiros que, ao longo de nossa trajetória<br />
como Estado Nacional, deram sua inestimável contribuição<br />
ao esforço de construção da nacionalidade, enfim, do que<br />
hoje somos. Parlamentares que souberam falar quando<br />
e como era necessário. Que tiveram a sensibilidade de<br />
compreender que, muitas vezes, o silêncio pode ser<br />
loquaz. Que foram capazes de propor medidas essenciais<br />
ao País, mesmo à custa da momentânea popularidade.<br />
(5) AIMBERÊ ARAKEN MACHA<strong>DO</strong> – Homenagem ao patrono Cláudio<br />
Pacheco, palestra proferida, em 22/04/1997, na Academia de Letras<br />
dos Funcionários do Banco do Brasil.
13 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Que foram fiéis ao ideário que abraçaram. Que tiveram a<br />
coragem cívica de resistir, não se submetendo ao arbítrio.<br />
É pensando assim que, neste momento, busco<br />
homenagear Camilo Nogueira da Gama.” (6)<br />
Doutel de Andrade (1920/1991), jornalista, ex–<br />
advogado do Banco do Brasil, e ex–deputado federal em<br />
várias legislaturas, é homenageado pela jornalista Nazareth<br />
Tunholi:<br />
“Tanto a arte de transmitir fatos políticos quanto<br />
ao próprio talento político renderam-lhe o prazer do<br />
contato com o povo e a participação nas decisões<br />
maiores do governo. Doutel de Andrade marcou<br />
profundamente, com a lucidez de seus conselhos, a<br />
sinceridade de suas reportagens, com toda a sua vibração<br />
política, as páginas da história do Brasil.” (7)<br />
O jurista João Otávio de Noronha, ministro do<br />
Superior Tribunal de Justiça, funcionário egresso do<br />
Banco do Brasil que iniciou, em 22/12/1975, carreira na<br />
Agência de Andradas – MG, apresenta-nos um curriculum<br />
vitae repleto de importantes palestras, contribuição valiosa<br />
às Ciências Jurídicas.<br />
(6) BERNAR<strong>DO</strong> CABRAL, senador da República, – O Centenário de<br />
Nogueira da Gama, palestra proferida, em 25/10/1999 – 3°<br />
Seminário Banco do Brasil e a Integração Social.<br />
(7) NAZARETH TUNHOLI – Discurso de posse na Academia de Letras<br />
dos Funcionários do Banco do Brasil (Cadeira n° 45, patronímica<br />
de Doutel de Andrade) – Sessão solene realizada, em 27/05/1994,<br />
no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro – RJ.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 14<br />
As personalidades, aqui homenageadas por<br />
escritores de reconhecida notoriedade nacional, denotam a<br />
importância e o orgulho que o Banco do Brasil expressa<br />
através de sua própria História.<br />
Regozijemo-nos todos. Os autores da obra, o<br />
Banco do Brasil e seus servidores, clientes e admiradores,<br />
a Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil,<br />
os estudiosos que pesquisam a memória nacional, e os<br />
leitores que são os primeiros a serem beneficiados.<br />
Em particular, sentimo-nos felizes não apenas<br />
pelos textos apresentados de nossa lavra, mas também pela<br />
nossa imagem (retrato) que faz parte da Iconografia da<br />
presente obra, realizada ao ensejo da solenidade da posse<br />
do jurista Geraldo Magela da Cruz Quintão, advogado–geral<br />
da União, na Academia de Letras, em 26/4/1994 – Auditório<br />
da Presidência do BB – Edifício Sede III – Brasília – DF.<br />
Ao finalizarmos a apresentação desta obra,<br />
vêm-nos à mente as palavras do jurista James Darcy,<br />
presidente do Banco do Brasil (02/01/1925 a 16/11/1926),<br />
proferidas ao ensejo das comemorações do VI Centenário<br />
da morte de Dante Alighieri, realizadas nos idos de<br />
idos de 1921, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro,<br />
na presença do presidente da República e do Corpo<br />
Diplomático na capital federal:<br />
“Não há beleza sem devotamento, consagração da vida a um<br />
fim superior.” (8)<br />
(8) JAMES DARCY, presidente do Banco do Brasil (02/01/1925<br />
a 16/11/1926) – VI Centenário da morte de Dante Alighieri –<br />
Apud Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro –<br />
p. 49 – Cadernos AAAB – Rio de Janeiro – 1955 .
15 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
1<br />
JOÃO NEVES DA FONTOURA<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962)<br />
Embaixador do Brasil em Portugal (1943 a 1945)<br />
Ministro das Relações Exteriores (1946 e 1951/ 1953)<br />
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993)<br />
Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000)<br />
Ministro de Estado da Defesa (de 24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />
Texto do discurso de posse do acadêmico Geraldo Magela<br />
da Cruz Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves da<br />
Fontoura) na Academia de Letras dos Funcionários do Banco<br />
do Brasil, em solenidade realizada em 26/4/1994 – Auditório da<br />
Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF.<br />
“As pessoas não morrem, ficam encantadas”.<br />
Ouso tomar de empréstimo de Guimarães Rosa suas<br />
palavras finais do discurso de homenagem a João Neves<br />
da Fontoura, ao sucedê-lo na Cadeira n° 20, da
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 16<br />
Academia Brasileira de Letras. E esse encantamento pôde<br />
sentir, viver, um jovem acadêmico de Direito, em fins da<br />
década de 1950, ao ingressar nos recintos da então<br />
Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, ainda na Rua 1°<br />
de Março, no Rio de Janeiro; e mais intenso no Gabinete<br />
do Consultor, antes ocupado pelo próprio Neves da<br />
Fontoura. Sua memória, seus traços, suas idéias, seus<br />
conselhos, seus pareceres, a tudo impregnavam, faziam-se<br />
presentes nas coisas, objetos, móveis clássicos, em<br />
seu famoso bureau de trabalho, nos livros de doutrina<br />
circundantes da sala. É que dele muito ouvira falar: de<br />
leituras, do respeito conquistado no Banco pelas suas<br />
opiniões.<br />
Corre o tempo, por obra do destino torno-me um<br />
de seus sucessores como Consultor Jurídico do Banco<br />
do Brasil, e, agora, reacende-me a emoção do estudante,<br />
ao penetrar na sua vida e obra, para falar-vos sobre<br />
sua fulgurante figura humana, eis que patrono da<br />
Cadeira n° 20 desta novel Academia de Letras, para<br />
a qual fui eleito em deferência honrosa, muito superior<br />
a meus eventuais méritos.<br />
Dele posso dizer o que ele próprio afirmara de<br />
Ruy Barbosa, na Conferência pronunciada em 1949, no<br />
Palácio do Itamarati, ponto alto das homenagens pelo<br />
centenário de nascimento do inigualável advogado.<br />
“... O que me incumbe hoje aqui não é<br />
propriamente o esforço de alcançar as medidas gigantescas<br />
da sua complexa figura, nem a impossível empresa<br />
de abarcar em alguns traços fugitivos à unidade e<br />
o esplendor de sua fama no parlamento, no fôro, na<br />
imprensa, no livro, na política, no governo, na Academia,
17 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
na praça pública ou no plenário internacional. Em suma:<br />
todo um mundo de criação de valores jurídicos, políticos<br />
ou literários.” (JOÃO NEVES DA FONTOURA – Rui Barbosa,<br />
Orador – pp. 3/4 – MRE – Divisão Cultural – 1949).<br />
Em João Neves coincidiam, convergiam essas<br />
qualidades e faculdades, sobrelevando-se, como em Ruy,<br />
a de orador, com o acréscimo de revolucionário, peleador<br />
das causas liberais, cívicas e democráticas.<br />
Como Ruy, “a tribuna é o seu destino, a sua<br />
fatalidade, o altar de sua fé” (Ibidem, p. 5).<br />
De Guimarães Rosa, seu magistral perfil: ... “seus<br />
discursos “liberais” – rota de obrigação – trem e incessar<br />
de lumes. Neles podia-se experimentar não apenas a<br />
comensura de facúndia e talento: mas coragem, de cor,<br />
ânimo, de alma.” [JOÃO GUIMARÃES ROSA – Discurso de<br />
homenagem – p. 136 – Recepção na ABL].<br />
Veio João Neves da seiva prodigiosa das<br />
terras gaúchas, de uma geração de filhos ilustres,<br />
influenciadores e condutores dos acontecimentos que<br />
antecederam e se seguiram à Revolução de 1930, tendo<br />
como seus companheiros, entre outros, Getúlio Vargas,<br />
Flores da Cunha, Joaquim Maurício Cardoso, Lindolfo<br />
Collor, Raul Pilla, Oswaldo Aranha, seguidores do ideário<br />
republicano de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.<br />
Nascido em Cachoeira do Sul, em 16 de<br />
novembro de 1888, filho do coronel Isidoro Neves da<br />
Fontoura e de dona Adalgisa Godói da Fontoura, desde<br />
cedo viveu e respirou política, sendo seu pai prócer<br />
político local, castilhista e de estreitas ligações com Borges<br />
de Medeiros. Terminado o colégio com os jesuítas de São<br />
Leopoldo, ingressou em 1905 na Faculdade de Direito de
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 18<br />
Porto Alegre, centro de fermentação de idéias, e aonde<br />
acorriam os jovens em busca de aprendizado para o<br />
exercício de futuras lideranças. Vocacionado, deixa-se<br />
envolver, e em 1907, engaja-se na atividade política,<br />
organizando um movimento de estudantes em apoio a<br />
Borges de Medeiros, então sucessor de Júlio de Castilhos,<br />
na direção do Partido Republicano.<br />
Chamados de “Jovens Turcos”, formam o Bloco<br />
Acadêmico, por iniciativa dele, João Neves, de Jacinto<br />
Godoy e de Joaquim Maurício Cardoso, com as adesões<br />
posteriores de Firmino Paim Filho e de Getúlio Vargas,<br />
entre outros, além de cadetes da recém-criada Escola de<br />
Guerra, como Eurico Gaspar Dutra, Pedro Aurélio de<br />
Goís Monteiro e Salvador César Obino; todos mais<br />
tarde renomados na vida política nacional e no<br />
Exército, respectivamente. (Regina da Cruz Moreira/<br />
Dlora Flaksman – Dicionário Histórico-Biográfico – 1930/1983 –<br />
pp. 13/14).<br />
De orientação positivista, o PRR (Partido<br />
Republicano Rio-Grandense), velava pela preparação de<br />
seus quadros de futuros líderes, incentivando vocações,<br />
criando-lhe condições para o aprendizado da militância<br />
política, a par de dar-lhes destaque político, mas<br />
forjando-os dentro de uma rigidez partidária.<br />
Pois bem: assim com os outros, também com<br />
o jovem João Neves. Em 1909, ainda quintanista de<br />
Direito, é nomeado 2° Promotor Público de Porto Alegre,<br />
sucedendo a Getúlio Vargas, eleito Deputado à Assembléia<br />
de Representantes, desse modo nomeada a Assembléia<br />
pela Constituição Estadual de fundo e forma calcada<br />
na doutrina positivista.
19 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Conclui em 1909, com brilhantismo, o curso de<br />
Direito, e, já consagrado, é eleito orador da turma. Mas<br />
entre a Capital, mesmo em cargo público de relevância,<br />
e sua Cachoeira do Sul, ouviu a vocação política e a<br />
tradição de retorno dos formandos às origens, pesando<br />
mais o conselho profético de seu orientador, Borges de<br />
Medeiros.<br />
Em 1910, retorna à terra natal. Por dezessete<br />
anos, banca de advogado, lides forenses, faina jornalística<br />
e lutas políticas locais, cuja liderança conquista após<br />
a renúncia de seu pai à Intendência em 1912. Líder<br />
prestigiado, como previra Borges de Medeiros, é eleito<br />
Deputado à Assembleia de Representantes pelo PRR, em<br />
1921, depois Intendente Municipal.<br />
Marasmo político. Assembléia desinteressada, sem<br />
debates. Sem oposição até 1921, João Neves da Fontoura<br />
sucede a Getúlio Vargas na coordenação da bancada. A<br />
campanha pela sucessão de Epitácio Pessoa agita o<br />
ambiente político do Estado.<br />
O candidato oficial era Arthur Bernardes,<br />
imposto pela política dos governadores, sob a hegemonia<br />
de Minas e São Paulo, opuseram-se Rio de Janeiro,<br />
Pernambuco e Bahia, unidos à atitude rebelde do Rio<br />
Grande do Sul, sob o nome de Reação Republicana,<br />
com a candidatura de Nilo Peçanha.<br />
Nessa ocasião, João Neves, em nome da<br />
Assembléia, ao saudar o presidente Borges de Medeiros,<br />
relata o Prof. Hélgio Trindade, antecipa sua postura<br />
radicalizada posterior e revela uma nova atitude da<br />
geração mais jovem de líderes republicanos contrária ao<br />
sistema e métodos de escolha do candidato a Presidente<br />
da República pelas oligarquias republicanas.
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 20<br />
A derrota do candidato oposicionista da Reação<br />
Republicana abriu fendas na unidade interna do PRR,<br />
fragilizou a nova reeleição de Borges de Medeiros, em<br />
1923, sucessivamente no governo por mais de duas<br />
décadas, e reacendeu a flama revolucionária dos gaúchos<br />
a partir da região da fronteira, hostilidades somente<br />
cessadas com o histórico acordo de Pedras Altas, cujo<br />
comando maior era a expressa “proibição das reeleições<br />
nos cargos executivos...”<br />
Sem dúvida, um capítulo épico da história<br />
política do Rio Grande, quando a Oposição conquistava seu<br />
espaço político, mas também permitia o rejuvenescimento<br />
interno do partido situacionista, com novos postulantes<br />
aos cargos executivos. Daí, Getúlio Vargas e João Neves,<br />
serem escolhidos e eleitos em meados de 1927, novos<br />
Presidentes e Vice-Presidentes do Estado.<br />
Passo seguinte, foi sua candidatura, em outubro<br />
de 1927, à Câmara Federal, respaldada na fama de<br />
ser o “Primus inter pares na arte difícil da oratória<br />
política, que já lhe granjeou fulgentes lauréis...”, na<br />
apresentação feita por Borges de Medeiros no ritual da<br />
consulta às bases do Partido.<br />
Chega à Câmara Federal, em julho de 1928,<br />
ainda sem espaço no cenário nacional. Ambienta-se com<br />
facilidade. Atua como líder da Bancada Gaúcha, e logo<br />
suas qualidades de tribuno são postas à prova, estreando<br />
como orador oficial da comemoração alusiva ao centenário<br />
de paz com a Argentina.<br />
Confirma-se a fama de orador eloqüente, de<br />
palavra fácil e fluente. Homenageado com um banquete no<br />
Jockey Club do Rio de Janeiro, responde à saudação do<br />
líder da maioria, Manoel Vilaboim, realçando o espírito de
21 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
luta dos republicanos rio-grandenses, sua lealdade aos<br />
princípios democráticos, em uma antecipação de sua<br />
estratégia de luta nas questões políticas, a partir de 1929.<br />
(...)<br />
Dá João Neves início, nos fins de 1928, aos<br />
conchavos políticos, visando a sucessão presidencial, como<br />
elo de ligação da Chefia do Partido (PRR), do Governo<br />
Estadual Rio-Grandense e dos interlocutores nacionais.<br />
Em pertinaz e paciente atividade, conduz a tessitura da<br />
Aliança Liberal, trama a Revolução de 30, e destaca-se<br />
como articulador político, tribuno parlamentar no cenário<br />
federal e orador de massa.<br />
Diante da obstinada insistência de Washington<br />
Luís em indicar candidato paulista à sua sucessão,<br />
rompendo a velha aliança do “café com leite”, e do<br />
conseqüente veto de Minas à candidatura de Júlio<br />
Prestes, nasceu, pelas mãos de João Neves e de seu<br />
tino político, a candidatura alternativa de Getúlio Vargas,<br />
como resultado dos entendimentos entre Minas e Rio<br />
Grande. Sua grande habilidade política revelou-se ao<br />
conduzir o processo de mediação em nível nacional,<br />
ao mesmo tempo, mantendo um diálogo constante com<br />
Borges de Medeiros e Getúlio Vargas, para romper-lhes<br />
as hesitações e ceticismo, como narra Hélgio Trindade<br />
(Perfis Parlamentares – 8 – Idem – p. 30).<br />
Ciente por Antônio Carlos de que o Presidente<br />
manteria Júlio Prestes, e assim os mineiros marchariam<br />
com o Rio Grande, detendo São Paulo, apressa-se em<br />
corajosa decisão pessoal, em assinar um pacto secreto<br />
com Minas, em 17/06/29, o chamado Pacto do Hotel Glória,<br />
subscrito por João Neves, pelo Rio Grande, e por Francisco<br />
Campos, por Minas, embora ainda sujeito à ratificação
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 22<br />
de Borges de Medeiros, e cujos termos centrais previam<br />
que: “... se o Presidente aceitasse um mineiro para<br />
sucedê-lo, o PPR apoiaria o candidato; se não Minas<br />
apoiaria Getúlio Vargas ou Borges de Medeiros.” (JOSEPH<br />
LOVE, O Regionalismo Gaúcho – pp. 234/5 – Ed. 1975).<br />
Prenunciava João Neves, como estrategista, que a balança<br />
penderia para o Rio Grande do Sul, como aconteceu.<br />
Minas lançou Getúlio Vargas, o candidato contra o<br />
oficialismo.<br />
As articulações políticas, além de secretas,<br />
tiveram que ser conduzidas de forma cautelosa, superando<br />
dificuldades de toda ordem dentro do próprio partido –<br />
PRR, vencendo as hesitações e harmonizando divergências.<br />
Antônio Carlos, Presidente de Minas, preterido à sucessão<br />
de Washington Luís, ressalta a inegável habilidade de<br />
João Neves:<br />
“... ao lado da atividade tribunícia, coube-lhe em<br />
todos os momentos agir no meio subterrâneo da política...<br />
Nesse oculto, mas importante setor das campanhas políticas,<br />
ninguém sobrepujou a João Neves na segurança e da<br />
estratégia e na habilidade da tática.” (ANTÔNIO CARLOS –<br />
in JOÃO NEVES DA FONTOURA – A Jornada Liberal –<br />
Vol. I, p. 2 – Ed. Globo – 1932).<br />
Vencidas as negociações, lançada a Aliança<br />
Liberal, o articulador político cede espaço ao tribuno, ao<br />
orador de estilo vibrante e arrebatado, uma constante na<br />
atuação de João Neves, nos debates candentes na Câmara<br />
dos Deputados, nos comícios da Aliança Liberal, na jornada<br />
cívica por São Paulo, em 1932, no seu retorno, após o<br />
exílio, à tribuna parlamentar nos idos de 1935 a 1937.
23 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Para Antônio Carlos, seus discursos eram<br />
“modelos de extraordinária eloquência, alto pensamento,<br />
ardor cívico, força e persuasão e extrema fulguração<br />
verbal.” (Ibidem).<br />
Para Mem de Sá, foi João Neves “um dos<br />
maiores oradores da história parlamentar do Brasil, e no<br />
Rio Grande do Sul se pode dizer que ele foi o terceiro<br />
na ordem cronológica, depois de Gaspar Martins, no<br />
Império, e Pedro Moacir, na primeira década da<br />
República.” (MEM DE SÁ – Necrológio – O Globo – Rio de<br />
Janeiro – 2/4/1963).<br />
João Neves, sabendo-se orador eloqüente e<br />
arrebatado, traça um paralelismo entre eloqüência e<br />
retórica, na conferência pelo centenário de Ruy Barbosa,<br />
em 1948. (...)<br />
E, como manifesto prazer, lembrou que nem<br />
Cícero fez, como Ruy Barbosa, distinção tão perfeita<br />
entre a Eloqüência e a Retórica, ao falar no Instituto<br />
dos Advogados do Brasil.<br />
E João Neves soube ser eloquente. Seu período<br />
inexcedível deu-se entre 1929 e 1930, na campanha da<br />
Aliança Liberal, tanto na tribuna, como nos comícios<br />
oposicionistas. Seu estilo arrebatado e vibrante deu-se<br />
mostra já no discurso de defesa da candidatura de<br />
Getúlio Vargas à sucessão de Washington Luís, marco<br />
inicial da campanha da Aliança Liberal e sinal de<br />
rompimento com o governo, quando seu verbo vibrante<br />
fulgurou, em discurso entremeado de hipérboles e<br />
antonomásias.<br />
Eleva-se o tom dos discursos, na antevéspera<br />
das eleições. O ideário revolucionário da Aliança<br />
Liberal, – eleições livres, voto secreto, autonomia dos
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 24<br />
estados, guerra ao poder pessoal do oficialismo, adoção<br />
das práticas democráticas, – tem em João Neves da<br />
Fontoura o porta-voz mais radical. Em Recife, no Teatro<br />
Santa Isabel, em janeiro de 1930, arrebata-se, e conclama<br />
os pernambucanos: ... “Ou nos abrem as urnas para<br />
votarmos livremente, sem coação nem suborno, e<br />
proscrevem a ata falsa, ou, então, brasileiros, de armas<br />
na mão para a democracia e os direitos do povo.”<br />
(HÉLIO SILVA – 1930 – A Revolução Traída – Rio –<br />
Civilização Brasileira, 1966, pp. 39/41).<br />
Ferem-se as eleições. Vence o situacionismo.<br />
Elegeu-se Júlio Prestes. O poder oligárquico não se rende.<br />
Mantém-se a eleição a bico de pena. Onde o civismo<br />
das multidões das praças públicas? Cinde-se a Aliança<br />
Liberal. Uns acomodam-se, aceitam o resultado. O Partido<br />
Republicano Rio-Grandense debate-se em crise interna.<br />
Oswaldo Aranha e João Neves pela organização de um<br />
levante armado. “O prélio terrível das armas” prenunciado.<br />
Borges de Medeiros dava por encerrada a tarefa da<br />
coalizão. A crise torna-se aguda. João Neves retorna à<br />
Câmara, em maio de 1930, reconduzido à liderança<br />
dos republicanos, cumprindo-se as regras do Heptálogo de<br />
Irapuãzinho. Comanda a luta parlamentar contra o não<br />
reconhecimento dos deputados aliancistas eleitos pela<br />
Paraíba e por Minas. Denuncia fraude nas eleições. A<br />
essa altura, já falava abertamente nos preparativos de<br />
um movimento armado. A Frente Única dos Gaúchos<br />
extingue-se. Em julho, João Pessoa é assassinado em<br />
Recife. Intervenção na Paraíba. O que faltava para<br />
novamente reagrupar as forças de oposição a Washington<br />
Luís. João Neves no centro das articulações: no Rio<br />
Grande, em Minas e São Paulo. Em agosto, Borges de<br />
Medeiros decide-se pelo apoio ao movimento. Eclode a
25 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Revolução em 3 de outubro. João Neves na sua<br />
Cachoeira do Sul. Coopta as unidades militares federais<br />
da cidade. Rebelam-se em 4 de outubro.<br />
Getúlio Vargas assume o comando revolucionário.<br />
Primeiro descontentamento de João Neves. Como Vice-<br />
Presidente do Estado, cabia-lhe substituir Getúlio Vargas.<br />
Esse designa Oswaldo Aranha, então Secretário do Interior.<br />
Com justo melindre, João Neves embarca com as tropas<br />
revolucionárias, e, por decoro, renuncia à Vice-Presidência<br />
do Estado. Resiste aos apelos de Oswaldo Aranha, que<br />
lhe oferece o comando da coluna do litoral.<br />
Exemplo de homem de brio, de caráter retilíneo.<br />
Segunda divergência com Getúlio Vargas. A<br />
nomeação do interventor em São Paulo, em plena<br />
revolução. João Neves, com os paulistas, queria Francisco<br />
Morato, líder do Partido Democrático, aliado da primeira<br />
hora dos gaúchos e mineiros desde a campanha da<br />
Aliança Liberal e da revolução triunfante. Getúlio Vargas<br />
escolhe João Alberto, delegado militar em São Paulo.<br />
Desagrado profundo dos paulistas.<br />
Vitoriosa a Revolução, seu pregador e líder, João<br />
Neves, desaparece do proscênio político. Recusa qualquer<br />
função ou cargo no Governo Provisório, seja o Ministério<br />
da Justiça, ou o retorno ao Rio Grande do Sul, como<br />
seu Governador. Desilusão? Melindre? De seu íntimo só o<br />
conhecimento. Sua voz, suas palavras ainda ecoavam no<br />
País. Vencedor seu ideal liberal? Algo prenunciava para<br />
João Neves que a revolução teria dinâmica própria.<br />
Dissolvido o Congresso pelo Governo Provisório, sem<br />
mandato, o destino traz João Neves para o Banco do<br />
Brasil, como seu Consultor Jurídico, em feliz sucessão<br />
de Carvalho de Mendonça, o maior comercialista brasileiro.
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 26<br />
O Promotor Público de Porto Alegre e o advogado influente<br />
de Cachoeira do Sul assentam banca no Rio de Janeiro.<br />
“Seu prestígio moral, de vencedor sem espólio<br />
castrense”, na feliz expressão de Hélgio Trindade,<br />
leva-o a procurar influir nos destinos da Revolução,<br />
exigindo coerência com sua pregação, seu ideário liberal.<br />
Não tarda o conflito com a nova ordem, inspirada no<br />
tenentismo e nas idéias do ministro da Justiça, Oswaldo<br />
Aranha: direção nacional e centralizada, crescimento e<br />
consolidação do Poder Federal, sepultado o princípio<br />
federativo de autonomia dos Estados. Desaparece o “antigo<br />
federalismo sob o comando de economia paulista.”<br />
João Neves clama por definição ideológica. Concentra-se o<br />
poder do Governo Provisório, pelo Decreto de novembro de<br />
1930, atribuindo-se os Poderes Executivos e Legislativos,<br />
com a costumeira promessa... “até que uma Assembleia<br />
Constituinte eleita estabelecesse a nova organização<br />
constitucional do País...”<br />
São Paulo lidera, os revolucionários da Oposição<br />
no Rio Grande já reclamam e exigem a imediata<br />
convocação da Assembléia Constituinte. Retorno às idéias<br />
liberais, cumprimento das promessas de campanha. Os<br />
antiliberais, das correntes do tenentismo, do Clube 3 de<br />
Outubro, já querem o continuísmo, a manutenção do<br />
Governo Provisório. João Neves indigna-se com o que ele<br />
dizia ser a traição aos ideais políticos da Aliança Liberal.<br />
Os tenentes viam no ventre da Revolução a gestação<br />
de mutações no campo econômico e social, também<br />
reclamados pelo País.<br />
(...)<br />
Mesmo assim, obstinado, João Neves articula.<br />
Reaproxima as forças políticas gaúchas. Recebe de Raul
27 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Pilla o mandato de “ser perante os brasileiros campeão<br />
da Lei contra o Arbítrio, do Direito contra a força, da<br />
ordem civil contra a erupção militarista nos domínios da<br />
política. “A crise aguça-se. O jornal Diário Carioca, firme<br />
oposição, é invadido e empastelado por elementos militares.<br />
Demite-se o ministro da Justiça, Maurício Cardoso.<br />
Segue-o João Neves, dizendo-se moralmente obrigado a<br />
demitir-se de suas funções de Consultor Jurídico do<br />
Banco do Brasil. Retornam ambos ao Rio Grande do Sul,<br />
em março de 1932. Os gaúchos rompem com Getúlio<br />
Vargas. João Neves, uma vez mais, na oposição, busca<br />
nova aliança entre os partidos do Rio Grande, São Paulo<br />
e Minas, para constranger a ditadura e consultar a<br />
Nação em comícios próximos e livres. Pacto político com<br />
São Paulo, cujo termo final seria a posse do primeiro<br />
Governo Constitucional.<br />
(...)<br />
Explode a revolução de 1932 em São Paulo, em<br />
9 de julho. É a saga paulista do constitucionalismo. João<br />
Neves, destemido, voa clandestinamente para São Paulo.<br />
Lá, seu verbo incendeia o Estado, já tocado pela<br />
pregação revolucionária e patriótica de Guilherme de<br />
Almeida, Roberto Moreira e outros.<br />
(...)<br />
A revolução é vencida. É abatido o ideal<br />
constitucionalista. Exílio para seus chefes e comandantes<br />
em Portugal. João Neves, Raul Pilla, Batista Luzardo e<br />
outros buscam o exílio na Argentina.<br />
(...)<br />
Exílio. Dois longos anos. Em 1934, anistiado,<br />
retorna à Pátria. A ideia-força da Aliança Liberal e
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 28<br />
da Revolução de 1932, pela democracia. Assembleia<br />
Constituinte, nova ordem jurídica respaldada em estado<br />
de direito, apossara-se das mentes e consciências.<br />
Respirava-se uma atmosfera de democratização. Getúlio<br />
Vargas é eleito presidente constitucional. Em julho<br />
de 1934 é proclamada a nova Constituição. Ideal<br />
conquistado, lança-se João Neves candidato à Câmara<br />
pela Frente Única dos Gaúchos. Eleito, consolida a<br />
união das oposições sob o nome de “Oposições Coligadas”,<br />
junto com Borges de Medeiros, Arthur Bernardes e<br />
Octávio Mangabeira. Retorna à Liderança da Minoria<br />
Parlamentar. Novamente ressoa nos recintos do Palácio<br />
Tiradentes a voz ardorosa do gaúcho liberal, do magistral<br />
tribuno. Era a “Voz das Oposições Brasileiras”. Era maio<br />
de 1935. Reencontra-se com a tribuna parlamentar, em<br />
libelo vigoroso contra a ação governamental de Vargas,<br />
“ditadura sem rumos”, bradava. Deplora e chora o<br />
fracasso dos ideais de 1930, para ele ainda não atingidos<br />
plenamente.<br />
(...)<br />
Os ideais liberais sempre: nos discursos, nos<br />
debates do parlamento, ao largo do entrechoque das<br />
ideias, radicais de direita da Aliança Integralista Brasileira<br />
e da esquerda da Aliança Nacional Libertadora. Reage<br />
contra o Estado de Sítio, de novembro de 1935, após a<br />
Intentona Comunista, denunciando o perigo do poder<br />
indiscriminado, concedido ao Executivo.<br />
(...)<br />
Fiel a seus princípios, rebela-se contra a prisão<br />
de quatro deputados e um senador: Domingos Velasco,<br />
Abguar Bastos, João Mangabeira e Octávio da Silveira,<br />
e Abel Chermont. Condenados à prisão pelo Tribunal
29 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
de Segurança Nacional, João Mangabeira e Octávio<br />
da Silveira, têm eles João Neves a defender-lhes a<br />
liberdade perante o Supremo Tribunal Militar, qualificando<br />
de bárbaras as sentenças condenatórias.<br />
Sua postura vigilante e crítica do Governo<br />
mantiveram-se mesmo com a suspensão das garantias<br />
constitucionais da imunidade parlamentar. Em 1937, a<br />
campanha sucessória presidencial eleva os debates políticos<br />
e, uma vez mais, aguça a crise.<br />
(...)<br />
Proclama que o Rio Grande do Sul não pleiteia<br />
uma terceira presidência, e, com o Partido Republicano<br />
Rio-Grandense, alia-se à candidatura de José Américo de<br />
Almeida contra a de Armando Sales de Oliveira, lançada<br />
pelo Partido Constitucionalista de São Paulo, de cunho<br />
oposicionista. Singular, dessa vez as contingências políticas<br />
levaram João Neves a marchar com uma candidatura<br />
apoiada pelo situacionismo. Mas os extremismos ameaçavam<br />
o regime, amedrontavam a Nação. Pede o Governo a<br />
decretação do estado de guerra.<br />
(...)<br />
Democrata, cioso da importância do parlamento<br />
para a existência do regime democrático, apela para que<br />
o estado de guerra suspenda apenas certas garantias e<br />
não atinja os direitos. E, ante a prova de confiança<br />
dada pela Câmara ao Executivo e às Forças Armadas,<br />
que também fossem respeitados na integridade os<br />
mandatos parlamentares. Não por eles, mas pela estrutura<br />
democrática.<br />
(...)
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 30<br />
Ao final, pressentindo a gravidade da concessão,<br />
suas inevitáveis conseqüências no amanhã, escora-se em<br />
Ruy Barbosa, para condicionar seu voto às mesmas<br />
ressalvas do voto de Ruy em 1904, quando a revolta da<br />
Armada.<br />
(...)<br />
Ledo engano. Vão os apelos e exortações. Vargas<br />
tinha outros desígnios. Em 10 de novembro de 1937,<br />
instaura o Estado Novo, suspende as eleições presidenciais,<br />
fecha o Congresso, extingue os partidos políticos. É o<br />
autoritarismo imperante.<br />
Frusta-se o sonho liberal. Recolhe-se João Neves<br />
na Consultoria Jurídica do Banco do Brasil. O jovem<br />
Promotor de monografias sobre o “Sigilo Profissional”,<br />
de 1909, em plena liberdade do exercício das profissões,<br />
dogma da doutrina de Augusto Comte, ressurge no<br />
jurista de escol. Além de tribuno, advogado de foro,<br />
dos embates forenses, do contraditório, acostumado a<br />
argumentar para convencer, seus pareceres, na linha<br />
aristotélica do raciocínio, tinham feição e forma de<br />
arrazoados, com forte respaldo na lei e na doutrina,<br />
sobretudo estrangeira.<br />
(...)<br />
Outra questão: dissentiam-se os advogados do<br />
Banco sobre o direito de retenção convencional, de uso<br />
constante do Banco em seus contratos de mútuo com<br />
garantia pignoratícia, João Neves havia concordado com<br />
a glosa dessa cláusula, feita por outro advogado, Dr.<br />
Aluízio Távora, nomeando-a de incabível e contrária ao<br />
direito. Tinha ele a seu favor Afonso Fraga e Carvalho<br />
Santos. Retorna a questão a ser estudada na COJUR
31 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
pelos não menos ilustres advogados, Edmundo Mello<br />
Costa e Camilo Nogueira da Gama, com o apoio de<br />
Martins Napoleão. João Neves revê sua posição e<br />
citando Rippert, para quem ”Dans un monde qui change,<br />
il n'est pas admissible qu'il y ait des verités éternelles”,<br />
passa a admitir, nos contratos do Banco, a cláusula<br />
convencionando a retenção, desde que a coisa se<br />
encontre em poder do retentor. Só pode reter quem<br />
detém [JOÃO NEVES DA FONTOURA – Parecer n° 412].<br />
Pareceres sem conta, despachos de orientação,<br />
de aprovação, formam hoje repositório de doutrina da<br />
Consultoria Jurídica do Banco.<br />
O tempo retempera e amaina paixões,<br />
ressentimentos, melindres. Até entre os altaneiros gaúchos.<br />
(...)<br />
E João Neves reconcilia-se. Em 1940, missão<br />
diplomática em Havana, como delegado do Brasil à<br />
Conferência e embaixador especial do Brasil nas posses<br />
dos presidentes do Panamá e Cuba. Em 1942, a invasão<br />
alemã impediu-o de assumir a Embaixada do Brasil em<br />
Paris. Embaixador em Portugal de 1943 a 1945. Ministro<br />
das Relações Exteriores em 1946, no governo Dutra,<br />
quando chefiou a Delegação do Brasil à Conferência de<br />
Paz em Paris. Pela segunda vez, ministro das Relações<br />
Exteriores, no segundo governo Vargas, de 1951 a 1953,<br />
com inúmeras missões no exterior.<br />
Jornalista também foi, desde redator de O<br />
Debate e de O Rio Grande de sua Cachoeira do Sul,<br />
desde 1910, até sua coluna diária em O Globo. O mesmo<br />
estilo do orador.
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 32<br />
Escritor, ei-lo em A Jornada Liberal (1930, 2<br />
volumes); Por São Paulo e pelo Brasil (Discursos), 1932;<br />
Acuso (libelo político) 1933; Dois perfis – Silveira Martins e<br />
Coelho Neto (ensaios - 1938); Três Orações Acadêmicas - 1943;<br />
Orações Dispersas – 1944; Palavras aos Portugueses – 1945;<br />
A serviço do Itamarati – 1948 – Ruy Barbosa - Orador - 1949:<br />
Poeira das Palavras - 1953; Feitos e Figuras (ensaios –<br />
1959); Uma figura da República – Serzedelo Correia (1959);<br />
Memórias: 1° vol. Borges de Medeiros e seu tempo (1958); –<br />
2° vol.. Aliança Liberal e a Revolução de 1930 (1963).<br />
Acadêmico, da Academia Brasileira de Letras,<br />
em 1936; da Academia Rio-Grandense de Letras; da<br />
Academia de Letras do Uruguai; da Academia de Ciências<br />
de Lisboa; e da Academia Portuguesa de História.<br />
Eis João Neves no plano da história. Como<br />
afirmara ele de Ruy Barbosa, também me é “impossível<br />
empresa abarcar em alguns traços fugitivos da unidade<br />
e o esplendor de sua fama no parlamento, no fôro, na<br />
imprensa, no livro, na política, no governo, na Academia,<br />
na praça pública ou no plenário internacional.”<br />
Senhores acadêmicos, dou por findo este<br />
cometimento prazeroso, cívico, que é penetrar nos fastos<br />
de nossa história, dado-me por vós ao empossardes-me<br />
na Cadeira n° 20, desta Academia, patronímica de João<br />
Neves da Fontoura.<br />
Esta Casa, celeiro de homens públicos, forjadora<br />
de caráter, à qual doei 38 anos de vida, amor de paixão,<br />
não me surpreende. Às portas de tornar-se bicentenária<br />
instituição, sempre incentivadora de ideias, de iniciativas,<br />
de vocações, de ações como esta, criação da Academia<br />
de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.
33 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Agradeço as generosas palavras do ilustre<br />
confrade e Diretor Cultural, Dr. Luiz Augusto Beck da<br />
Silva, com as quais me recebeis nesta Academia. Sei<br />
quanto fraterno e profícuo será meu convívio pessoal e<br />
literário convosco. Relevai-me; mais terei de receber do<br />
que haver de dar-vos.<br />
Senhores, João Neves, colheu-o a morte em<br />
março de 1963.<br />
Para nós, permanece Consultor Jurídico do<br />
Banco. Para o Brasil, insuperável tribuno.<br />
Remanesce o encantamento.<br />
Tenho dito.
AFONSO PENNA JÚNIOR<br />
– Trajetória em ouro e aura<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1932/1937)<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO<br />
Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
1995 / 1998 – 2001 e 2004/2007 – 2010<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 34<br />
Filho de Afonso Augusto Moreira Penna e<br />
Maria Guilhermina de Oliveira Penna, o imortal Affonso<br />
Augusto Moreira Penna Júnior nasceu em Santa<br />
Bárbara (MG), em 25 de dezembro de 1879, e encerrou<br />
suas atividades no plano físico, no dia 12 de abril de<br />
1968, na cidade do Rio de Janeiro. Seu pai, Afonso<br />
Penna, presidiu os destinos do Banco do Brasil<br />
(1895/1898), depois os da República (1906/1909).
35 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Afonso Penna Júnior é o patrono da Cadeira<br />
n° 1 da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do<br />
Brasil. Em épocas distintas, exerceu no Banco do Brasil<br />
os cargos de diretor da Carteira de Liquidações (1930/1931)<br />
consultor jurídico (1932/1937), e consultor jurídico da<br />
SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito (1948/<br />
1951).<br />
Foto n° 1 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Presidência – 14/9/1931 – Diretoria do<br />
Banco do Brasil: sentados, AFONSO PENNA JÚNIOR, PEDRO<br />
LUÍS CORRÊA E CASTRO (presidente interino – 5/9/1931 a<br />
14/9/1931), MÁRIO BRANT; em pé, ILDEFONSO SIMÕES LOPES,<br />
JOSÉ MENDES DE OLIVEIRA CASTRO, FRANCISCO LEONAR<strong>DO</strong><br />
TRUDA e FRANCISCO ALVES <strong>DO</strong>S SANTOS FILHO. – Retrato<br />
original (dimensão: 22,5 x 16,5 cm) – Doação: Maria Lúcia<br />
Affonso Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior, em<br />
23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. – Acervo: Academia de<br />
Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />
Vale ressaltar que essa imagem é o retrato em<br />
grupo mais importante do Banco do Brasil, no qual<br />
aparece o funcionário no exercício do cargo de presidente<br />
do Banco do Brasil, sem precedentes. O acervo, custodiado<br />
pela Academia, abrange 300 fotos de presidentes do Banco<br />
do Brasil, em épocas distintas, de igual importância,<br />
mas ser ter esta singularidade dos idos de 1931.<br />
Foto n° 2 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – PRESI/COJUR – Ano de 1933 –<br />
AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico do Banco do Brasil<br />
(1932/1937), com 1 livro na mão esquerda, e, com a direita faz<br />
gestos de preleção. – Retrato original (dimensão: 13 x 18 cm) –<br />
Doação: Maria Lúcia Affonso Penna Gubert, neta de Afonso<br />
Penna Júnior, em 23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. –<br />
Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />
Foto n° 3 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – PRESI/COJUR – Ano de 1933 –<br />
AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico do Banco do Brasil<br />
(1932/1937), no “bureau” de trabalho, atende ao telefone. –<br />
Retrato original (dimensão: 13 x 18 cm) – Idem, idem.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 36<br />
Foto n° 4 – PALÁCIO <strong>DO</strong> CATETE – Rio de Janeiro – 1948 – Ao centro<br />
AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico da SUMOC –<br />
Superintendência da Moeda e do Crédito (1948/1951). é recebido<br />
pelo marechal EURICO GASPAR DUTRA, presidente da República.<br />
– Retrato original (dimensão: 18,5 x 12 cm). – Doação:<br />
Maria Lúcia Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior, em<br />
23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. Acervo custodiado<br />
pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />
Na esfera acadêmica, foi membro das seguintes<br />
instituições culturais:<br />
membro da Academia Mineira de Letras (Cadeira n°<br />
40, patronímica de Visconde de Caeté);<br />
membro da Academia Brasileira de Letras (Cadeira<br />
n° 7, patronímica de Castro Alves).<br />
Incorporado à Biblioteca Affonso Penna Júnior<br />
do Ministério da Justiça, em Brasília - DF, o volumoso<br />
acervo de obras literárias de Affonso Penna Júnior,<br />
constituído de 18.000 títulos, contendo livros de direito,<br />
finanças, política e economia, foi adquirido por aquele<br />
Ministério, na gestão do ministro Alfredo Buzaid.<br />
Em 27 de março de 1925, ao ser recebido<br />
por Dilermando Cruz na Academia Mineira de Letras,<br />
Afonso Penna Júnior ocupa a Cadeira n° 40, patronímica<br />
de Visconde de Caeté, e ouve seus próprios versos:<br />
“Se na matéria inerte uma alma existe;<br />
Se tudo que nos cerca, pensa e sente;<br />
E pode a pedra bruta, como a gente;<br />
Sofrer ou rir, estar alegre ou triste;” (9)<br />
(9) AFONSO PENNA JÚNIOR -- Apud Discurso de recepção do<br />
acadêmico Dilermando Cruz ao Sr. Afonso Penna Júnior –<br />
Revista da Academia Mineira de Letras – p. 50 – Vol. IV – Belo<br />
Horizonte – Imprensa Oficial – Belo Horizonte – MG – 1926.
37 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Nos idos de 1948, Afonso Penna Júnior,<br />
seguindo a trajetória percorrida por Euclides da Cunha<br />
e Afrânio Peixoto, ingressa na Academia Brasileira de<br />
Letras para ocupar a Cadeira n° 7, patronímica de<br />
Castro Alves. A recepção é de Alceu Amoroso Lima.<br />
No discurso, o orador enaltece as qualidades<br />
nobres do jurista mineiro, despertadas no Colégio do<br />
Caraça, e enfatizou as montanhas caladas de Minas,<br />
onde “nos leva, de tempos em tempos, uma necessidade<br />
invencível de retemperar o ânimo,...” (10)<br />
À consagrada autora de Floradas na Serra, Dinah<br />
Silveira de Queiroz, coube a gloriosa missão de anunciar<br />
a imortalidade de Afonso Penna Júnior, ao tomar posse<br />
na Cadeira n° 7, na Academia Brasileira de Letras,<br />
fazendo referência ao tempo em que viveu Afonso Penna<br />
Júnior, e, com singularidade, destacou a importância dos<br />
juristas na literatura, desde aquela época: “... pois a<br />
grande sementeira dos professores e das obras de direito<br />
estava a produzir seus frutos mais importantes.” (11)<br />
O imortal Alberto Venâncio Filho que nos deu a<br />
honra de assistir, em 7/12/1998, ao II Seminário Banco<br />
do Brasil e a Integração Social, conduzido pelo escritor<br />
Fernando Pinheiro, redigiu o prefácio da obra A Arte de<br />
Furtar e o seu autor, de Afonso Pena Júnior, 1° volume –<br />
2ª edição, publicada pela ABL, ano 2001, e escreveu<br />
anteriormente a matéria Quem furtou a arte de furtar?:<br />
(10) ALCEU AMOROSO LIMA – Discursos Acadêmicos (1948/1959) –<br />
Discurso de recepção – Revista da Academia Brasileira de Letras –<br />
13° volume (p. 57) – Rio de Janeiro – 1961.<br />
(11) DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ – Discursos Acadêmicos (1980/<br />
1984) – Discurso de posse – Revista da Academia Brasileira de<br />
Letras – Volume XXIV – p. 47 – Rio de Janeiro – 1985.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 38<br />
“Em 1946, Afonso Pena Júnior, ampliando os argumentos de<br />
Solidonio Leite, publicou em 2 volumes, pela Livraria José<br />
Olímpio, o livro A Arte de Furtar e seu Autor, em que reafirma a<br />
comprovação da autoria de Antônio de Souza Macedo, com a mais<br />
completa crítica de atribuição.” (12)<br />
Afonso Penna Júnior e João Neves da Fontoura<br />
possuíram em comum a honra de terem sido consultores<br />
jurídicos do Banco do Brasil e, em épocas distintas,<br />
ministros de Estado e membros da ABL – Academia<br />
Brasileira de Letras, hoje patronos da Academia de Letras<br />
dos Funcionários do Banco do Brasil. Ainda com vínculo<br />
histórico com o BB, os imortais da ABL, Afonso Arinos<br />
de Melo Franco, autor da História do Banco do Brasil<br />
(vol. I) e Adelmar Tavares, um dos mais importantes<br />
trovadores do Brasil.<br />
Primeira quinzena de abril de 1968. O luto<br />
encobre as Américas. Nos Estados Unidos é assassinado<br />
Martin Luther King, orador eloquente, líder pacifista,<br />
prêmio Nobel da Paz; no Brasil, Assis Chateaubriand,<br />
o grande capitão, recebe em todo o País homenagens<br />
derradeiras de autoridades civis e eclesiásticas, com<br />
notícias divulgadas pela rede dos Diários Associados<br />
que ele fundou e dirigiu. Encerrava-se um ciclo da<br />
imprensa brasileira.<br />
(12) ALBERTO VENÂNCIO FILHO – Quem furtou a arte de furtar?,<br />
matéria publicada na Coluna Opinião, p. 9, do Jornal do Brasil,<br />
edição de 12 de dezembro de 2000,
39 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Nesse clima de homenagens póstumas, Afonso<br />
Penna Júnior entra em cena para sentir a transcendência<br />
da matéria, em nível mais sutil e etéreo, onde se<br />
deslinda a verdadeira vida que não conhece a morte.<br />
Amado uma vez mais no Salão Nobre dos Poetas Românticos<br />
da Academia Brasileira de Letras, onde sua roupagem<br />
física estava sendo velada para o adeus de mãos frias.<br />
Estavam presentes as seguintes: autoridades:<br />
Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores, Negrão<br />
de Lima, governador do Estado da Guanabara, ministro<br />
Luiz Galloti, presidente do Supremo Tribunal Federal,<br />
Thomaz Leonárdos, presidente do Instituto dos Advogados<br />
Brasileiros; Enéas Martins Júnior, presidente do Instituto<br />
Histórico Geográfico Brasileiro, Austregésilo de Athayde,<br />
presidente da Academia Brasileira de Letras, e ainda os<br />
imortais Afonso Arinos, Josué Montello, Clementino Fraga,<br />
Barbosa Lima Sobrinho, Mário Palmério, Levy Carneiro,<br />
Rodrigo Octávio Filho e Marques Rebelo.<br />
Ao fazer a cobertura da homenagem póstuma,<br />
o Jornal do Commercio comenta:<br />
“Velando o corpo num coro de preces, a viúva do renomado<br />
jurista, D. Marieta Penna e os sete filhos do casal rodeados<br />
pelos dezesseis netos e bisnetos, foram acompanhados em sua<br />
dor pelo advogado Sobral Pinto que foi seu amigo e colega de<br />
profissão, e segundo suas palavras, pronunciadas à beira do<br />
túmulo, um humanista, poeta e sobretudo dedicado a causa<br />
pública.” (13)<br />
(13) JORNAL <strong>DO</strong> COMMERCIO, Rio de Janeiro, sábado, 13, e domingo,<br />
14 de abril de 1968.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 40<br />
Além da numerosa presença de amigos e<br />
familiares, o imortal Afonso Penna Júnior recebeu,<br />
naquela oportunidade, conforme menciona o Jornal do<br />
Commercio a visita de seu sobrinho, Irineu Penna,<br />
monge do Mosteiro de São Bento.<br />
Na referida matéria do matutino carioca foi<br />
divulgado que o religioso proferiu uma prece, junto ao<br />
mausoléu da ABL, no Cemitério de São João Batista.<br />
Em seguida, usaram da palavra os Srs. Enéas Martins,<br />
presidente do IHGB e Sobral Pinto, presidente da OAB.<br />
Momentos difíceis aqueles. A nação americana<br />
chora a morte de seu líder pacifista, o pastor batista<br />
Martin Luther King, e ao mesmo tempo sofre com a<br />
guerra do Vietnã. No meio dessa turbulência social, o<br />
presidente Lindon Johnson descansa, no fim–de–semana,<br />
em sua fazenda do Texas, preparando-se para viajar a<br />
Honolulu, Havaí, onde na terça-feira seguinte estava<br />
marcada uma reunião com o presidente da Coréia do Sul.<br />
Apesar de não termos a capacidade de poder<br />
avaliar a extensão e a grandeza de uma prece fervorosa,<br />
sentimos que essa onda benéfica que se irradiou no<br />
espaço, oriunda das homenagens póstumas de Assis<br />
Chateaubriand e de Afonso Penna Júnior, certamente<br />
cobriu os céus dos Estados Unidos e se acercou da<br />
fazenda texana, onde o presidente Johnson pensava nas<br />
primeiras discussões de paz com o presidente da Coréia<br />
do Sul, Park Chung Hee, com o objetivo de acabar com<br />
a guerra no Vietnã, apesar do crescimento dos gastos<br />
militares dos EUA subirem de 50 para 70 bilhões de<br />
dólares, de 1964 a 1967.<br />
Não é apenas a morte que se anuncia, pois<br />
num nível superior de consciência ela não existe, mas
41 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
também a esperança de vida no corpo físico que se<br />
sente gasto e doente. No mesmo dia corria a notícia<br />
da chegada do médico sul-africano Christian Barnard, o<br />
primeiro cirurgião do mundo a fazer um transplante<br />
de coração.<br />
Os jornais locais divulgam matéria sobre a<br />
vinda de Barnard à cidade do Rio de Janeiro, onde será<br />
homenageado, com o título de Cidadão Carioca, pela<br />
Assembleia Legislativa da Guanabara. Em homenagem<br />
posterior, um banquete oferecido pelo restaurante da<br />
Revista Manchete, em Parada de Lucas, subúrbio carioca.<br />
No clima acadêmico, as homenagens corriam<br />
por conta do centenário do escritor Nestor Vítor e do<br />
maestro e compositor Francisco Braga. Três dias após<br />
a morte de Afonso Penna Júnior, a Orquestra Sinfônica<br />
Brasileira inaugura a série de concertos de assinatura<br />
com o maestro Eleazar de Carvalho, dirigindo a Nona<br />
Sinfonia de Beethoven, com a participação do Coro do<br />
Theatro Municipal do Rio de Janeiro.<br />
Dias antes da inauguração da série de concertos<br />
de assinatura, na mesma semana da morte de nosso<br />
homenageado, o maestro Eleazar de Carvalho regeu a<br />
OSB, apresentando a Paixão segundo São Mateus, de<br />
Bach, a obra–prima do compositor alemão e uma das<br />
mais belas de toda a história da música, criando um<br />
clima de elevada espiritualidade que certamente envolveu,<br />
nos campos material e espiritual, todos aqueles que<br />
estavam ligados, por afinidade, à beleza transcendente.<br />
Considerando que a cura é manifestada pela<br />
luz, som e cor, sugerimos para o deleite dos leitores<br />
manter um clima de elevada espiritualidade ouvindo, na<br />
Internet – YouTube, trechos da referida obra musical:
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 42<br />
Compositor Música Intérprete<br />
Bach Erbarme dich Eula Beal<br />
Bach O Haupt voll Blut und Wunden Holland Boys Choir<br />
Bach St Matthew Passion, Final Chorus Dan–Olof<br />
É oportuno salientar que a ária para soprano,<br />
Erbarme dich, possui várias interpretações, dentre as quais<br />
destacamos a de Christa Ludwig, Giada Amparan, Lena<br />
Belkina, Kathleen Ferrier, Marilyn Horne, Júlia Hamari,<br />
Olga Pyatigorskaya, entre outras. No entanto, a nossa<br />
preferência recai na voz de Eula Beal, conduzida pelo<br />
maestro Antal Dorati, regente da Symphony Orchesta,<br />
Hollywood, com a participação de Yehudi Menuhim, violino<br />
solo.<br />
Na política, sob o regime militar, era a<br />
discussão da portaria do ministro da Justiça proibindo<br />
a ação dos políticos cassados e a manifestação<br />
da Frente Ampla, liderada pelo ex–governador da<br />
Guanabara, Carlos Lacerda, político que se notabilizou<br />
como orador de massas populares.<br />
Com vínculo histórico com o Banco do Brasil,<br />
patrono da Cadeira n° 42, da Academia de Letras dos<br />
Funcionários do Banco do Brasil, Afonso Arinos, dentro<br />
do tempo que marca as homenagens póstumas prestadas<br />
a Afonso Penna Júnior é manchete na coluna Situação<br />
política, do Jornal do Commercio que destaca em primeira<br />
linha: Arinos: parlamentarismo.<br />
Afonso Penna Júnior legou-nos um exemplo<br />
vivo de amor à causa pública. Dentre seus inúmeros<br />
feitos, destacamos o cargo de procurador–geral do TSE –<br />
Tribunal Superior Eleitoral, ao ensejo da promulgação,
43 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
em novembro de 1932, do Código Eleitoral. Foi ele,<br />
portanto, um dos criadores da Justiça Eleitoral no Brasil.<br />
Depois de ter assumido a Pasta da Justiça (1925/<br />
1926), Afonso Penna Júnior sucedeu, em 25/4/1932, a<br />
João Neves da Fontoura no cargo de consultor jurídico<br />
do Banco do Brasil (1932/1937), à época o mais<br />
elevado cargo jurídico da Empresa. A veracidade da<br />
notícia, ampla e anteriormente divulgada, é amparada por<br />
iconografia em nosso poder, onde Afonso Penna Júnior<br />
atende ao telefone (1ª imagem) e profere preleção na<br />
Consultoria Jurídica do Banco do Brasil (2ª imagem),<br />
conforme vimos anteriormente.<br />
Em 2001, com as modificações da estrutura de<br />
cargos comissionados do Banco do Brasil, essa função<br />
permaneceu em vigor, mas foi criado a de Diretor<br />
Jurídico, ambos ocupados pelo jurista João Otávio de<br />
Noronha, atualmente, ministro do Superior Tribunal de<br />
Justiça, membro efetivo da Academia de Letras dos<br />
Funcionários do Banco do Brasil (Cadeira n° 53, patronímica<br />
de Mário Brant).<br />
É oportuno ressaltar que, quando aquela douta<br />
Instituição foi criada em 19/8/1982, o primeiro nome a<br />
compor a honrosa Galeria de Patronos recaiu na amada<br />
lembrança de Afonso Penna Júnior.<br />
Apresentando a trajetória fulgurante de nosso<br />
homenageado, vale destacar que, no Prefácio da obra<br />
Banco do Brasil – Pareceres, de Afonso Penna Júnior, o<br />
advogado Odilon Braga redigiu, na década de 1930, as<br />
seguintes considerações elucidativas:<br />
“Prosseguindo na impressão de seus pareceres de<br />
maior interesse prático e doutrinário, iniciativa de João<br />
Neves da Fontoura, que presentemente a ocupa com
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 44<br />
o mesmo lustre de que ela sempre se revestiu, a<br />
Consultoria Jurídica estampa, neste tomo, os valiosíssimos<br />
trabalhos de Affonso Penna Júnior que a exerceu de<br />
25 de abril de 1932 a 2 de dezembro de 1937.<br />
No primeiro volume desta série, tivemos o ensejo<br />
de perfilar, em grandes linhas, a insigne figura projetada<br />
de José Xavier Carvalho de Mendonça no majestoso<br />
cenário do nosso Direito. Cabe-nos, desta feita, delinear,<br />
a traços largos, a proteiforme expressão pessoal do<br />
incomparável jurista a que tocou a grave, delicada<br />
responsabilidade de orientar a ação do Banco, em uma<br />
das quadras mais difíceis e movimentadas da história<br />
econômica e política da República.”<br />
(...)<br />
“Depois de 1930, começa o Banco a utilizar-se dos<br />
tesouros de sua sabedoria e de sua prudência, por via<br />
não só da Carteira de Liquidações, para a qual fôra<br />
nomeado Diretor, mas igualmente das sessões de Diretoria,<br />
a que pôde levar o valioso concurso de suas luzes.<br />
Pois bem, foi após essa longa, variada e rica<br />
experiência de advogado, professor de Direito, homem<br />
de Estado, Diretor da Carteira de Liquidações que lhe coube,<br />
como Consultor Jurídico, desempenhar-se da tarefa de<br />
colaborar na construção do nosso direito positivo, a partir<br />
de uma de suas estruturas angulares, daquela que se<br />
alicerça na Economia nacional e serve de guia e modelo<br />
para todo o sistema bancário do País.<br />
Dos pareceres que se vão ler, fácil será deduzir<br />
o traço distintivo da época e do homem de que se<br />
originaram.<br />
Se em Carvalho de Mendonça nos foi lícito evidenciar<br />
a índole conservadora e a riqueza de ilustração doutrinária,
45 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
em Affonso Penna Júnior havemos de dar realce primordial<br />
ao ágil temperamento do homme de loi formado nas<br />
contínuas e ásperas pelejas da advocacia, nas amplas<br />
considerações críticas do exercício da cátedra, e nos<br />
excitantes embates da política, setores esses nos quais<br />
o Direito, sem embargo da serena permanência dos<br />
“princípios”, reflete as mutações impostas por irresistíveis<br />
realidades que lhe ativam a circulação vital e lhe<br />
apressam o progressivo evoluir de adaptação ao incessante<br />
variar da vida social.<br />
Sem dúvida, no decurso da prolongada ação<br />
consultiva de Carvalho de Mendonça, ao Banco do Brasil<br />
não faltaram crises, algumas de extrema severidade. O<br />
certo, porém, é que foram de fundo puramente financeiro<br />
e econômico, de mínima repercussão sobre o direito a<br />
aplicar. Este, no seu tempo, se bem que acusando já forte<br />
pressão das tendências socialistas do mundo moderno,<br />
conservava-se fiel à inspiração liberal que tornara possível<br />
a pesquisa científica dos seus elementos anatômicos<br />
e de sua intrincada fisiologia. A índole conservadora de<br />
Carvalho de Mendonça emergia, por conseguinte, dos<br />
seus profundos estudos de uma doutrina e de uma<br />
jurisprudência de demorada e progressiva elaboração, que<br />
ele próprio deveria consolidar e modernizar na imponente<br />
sistematização do Tratado de Direito Comercial Brasileiro.<br />
Chamado a tratar sobre relações jurídicas ordinárias<br />
e de pequena variação, à luz de um direito estável, quer<br />
na ordem pública, quer na ordem privada, pôde ele dar<br />
aos seus curtos e incisivos pareceres, escritos para o Banco,<br />
a feição dogmática autoritária que apresentam, realmente<br />
proveitosa aos agentes administrativos a que se destinavam.<br />
Bem diversa foi a missão reservada a Affonso Penna<br />
Júnior. Este, ao assumir a direção da Consultoria,<br />
encontrava derrubados muitos dos padrões da ordem
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 46<br />
jurídica preexistente, inclusive o seu padrão fundamental<br />
– a Constituição da República. Recebeu-a precisamente<br />
no momento em que o Banco necessitava de um jurista<br />
de têmpera nova, forjada nas tormentas dos tribunais<br />
e dos negócios públicos, capazes de acudir aos apuros<br />
de uma crise geral, financeira, econômica e sobretudo<br />
constitucional, de caráter agudo, íntimo e difuso,<br />
rompente das circunstâncias determinantes da Revolução<br />
de 30 e de sua implantação, crise, além do mais, paralela<br />
à violenta transformação econômica e social de todo o<br />
Ocidente.” (14)<br />
Em seu longo Prefácio sobre a obra Banco do<br />
Brasil – Pareceres, de Affonso Penna Júnior, prossegue<br />
Odilon Braga:<br />
“Dos trabalhos constantes deste volume, fácil será extrair a<br />
convicção da justeza de nossas asserções, se bem que em<br />
muitos outros, infelizmente não publicados por seu caráter<br />
reservado, poderiam ter confirmação ainda mais convincente.<br />
São, pelo comum, obras de fino lavor, cuja leitura ilustra e<br />
seduz”. (15)<br />
A seguir, o apresentador da obra enumera os<br />
principais temas abordados:<br />
(14, 15) ODILON BRAGA Apud Prefácio da obra Banco do Brasil –<br />
Pareceres, de Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. – Rio<br />
de Janeiro – 1941.
47 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
A seguir, o apresentador da obra enumera os<br />
principais temas abordados:<br />
“Isenção tributária dos títulos de empréstimos dos<br />
Estados; validade do pagamento de cheque extorquido;<br />
isenção de impostos de que goza o Banco do Brasil;<br />
juros e comissões dos descontos bancários em face da Lei<br />
da Usura; quota de previdência de bancários; conversão<br />
de faltas em férias; conceituação dos “casos omissos” da<br />
Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil;<br />
novação dos débitos cambiais; e, finalmente, ao formalismo<br />
dos títulos de Armazéns Gerais.” (16)<br />
O jurista Odilon Braga finaliza o Prefácio:<br />
“Em suma: a publicação dos seus pareceres<br />
constitui, de modo geral, valiosíssima contribuição para o<br />
aperfeiçoamento das atividades do Banco do Brasil, mas<br />
de maneira muito especial será de enorme valia para o<br />
resguardo e para a defesa dos seus interesses por parte<br />
dos que servimos na Consultoria e no Contencioso, desta<br />
Capital e dos Estados. Assinala-se, por derradeiro, como<br />
testemunho da referência por todos nós devida ao<br />
Mestre que nos fascinou pelo esplendor de sua aprimorada<br />
inteligência e nos fez cativos do seu convívio pela<br />
fidalguia das maneiras e pela grandeza do coração”. (17)<br />
Ao ensejo do transcurso do 80° aniversário de<br />
Afonso Penna, muitas foram as homenagens recebidas.<br />
Destacamos as palavras de Austregésilo de Athayde,<br />
saudoso presidente da Academia Brasileira de Letras,<br />
(16, 17) ODILON BRAGA Apud Prefácio da obra Banco do Brasil –<br />
Pareceres, de Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. –<br />
Rio de Janeiro – 1941.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 48<br />
na crônica intitulada Mestre Affonso, aos oitenta, na<br />
qual ressalta as qualidades nobres do Mestre Affonso<br />
espelhadas na “ sabedoria do varão probo”, e “o artista<br />
que tem vivido do encantamento da beleza”. O doutor<br />
Athayde acrescenta ainda “o inigualável manejador do<br />
idioma” escrevendo e falando no “mais puro e melhor<br />
quilate”. (18)<br />
Afonso Penna Júnior trazia o dom de conviver,<br />
um jeito manero e mineiro de prosear, alegre e brincalhão.<br />
Vale ressaltar duas frases proferidas por ele:<br />
“Azeite demais apaga a candeia”, referindo-se à<br />
sobriedade no estilo de escrever, frase divulgada no<br />
discurso de posse de Hermes Lima na Academia Brasileira<br />
de Letras – Discursos Acadêmicos – ABL – 20° vol. – p. 22;<br />
“A oratória dele é uma chapadão sem pouso” –<br />
expressão destinada ao orador que demorava a<br />
encerrar o discurso na tribuna, mencionada por Josué<br />
Montello na crônica No centenário de Afonso Pena Júnior.<br />
Encerrando a nossa participação, evocamos os<br />
versos drummonianos que agradecem a Afonso Penna<br />
Júnior pelo muito que ele tem dado ao mundo em<br />
pensamento e arte, no meio da confusão das coisas,<br />
“restaura pelo reto juízo aquela ordem ditada por Minerva<br />
em ouro e aura.” (19)<br />
(18) AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE – in<br />
(19) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE –<br />
09 de janeiro de 1963.<br />
Diário da Noite – 28/12/1959.<br />
in Correio da Manhã –
49 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
UM LUTA<strong>DO</strong>R HUGO NAPOLEÃO<br />
E SUA ÉPOCA<br />
DE<br />
ALUÍZIO NAPOLEÃO<br />
Embaixador da República<br />
Matéria transcrita do um exemplar do livro UM LUTA<strong>DO</strong>R<br />
HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO, que<br />
contém uma dedicatória escrita de próprio punho do autor: “Ao<br />
Senhor Fernando Pinheiro, Presidente da Academia de Letras dos<br />
Funcionários do Banco do Brasil, em que meu Pai é Patrono<br />
de uma das cadeiras, accedo à sua solicitação, com grande<br />
satisfação. Cordialmente, Aluízio Napoleão, Brasília, 1998.”<br />
CONSULTOR JURÍDICO <strong>DO</strong> <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
(...)<br />
Em 1940, como assinala o biógrafo G. Hércules<br />
Pinto, em seu livro Viriato Corrêa (Edição do autor, Rio de<br />
Janeiro, 1966, pág. 243), meu pai iria comparecer ao
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 50<br />
segundo casamento daquele ilustre e vitorioso escritor,<br />
cerimônia a que estaria presente a intelectualidade da<br />
época. Seu velho amigo da Câmara dos Deputados, desde<br />
1927, o já acadêmico Viriato Corrêa havia convidado<br />
minha mãe e meu pai para padrinhos de seu casamento:<br />
“E na tarde de 28 de dezembro de 1940, Viriato<br />
entrava na Igreja de São Francisco Xavier para realizar<br />
seu segundo casamento. A nave estava repleta de amigos,<br />
conhecidos e curiosos que queriam assistir ao casamento<br />
do famoso escritor, que ia ser realizado pelo Arcebispo<br />
de Goiás, Dom Aquino Corrêa que, na época, ocupava<br />
a cadeira n° 34, da Academia Brasileira de Letras. Foi<br />
um ato pomposo e elegante. Seus padrinhos, como não<br />
podia deixar de ser, foram o Deputado Hugo Napoleão<br />
e D. Matilde Napoleão. A Casa de Machado de Assis<br />
estava representada por grande número de acadêmicos,<br />
entre os quais nos lembramos de Clementino Fraga,<br />
Olegário Mariano, Adelmar Tavares, Múcio Leão”.<br />
Estudando apaixonadamente as questões,<br />
desenvolvendo os seus conhecimentos de Direito, Hugo<br />
Napoleão foi, cada vez mais, apurando a sua cultura<br />
jurídica, tornando-se, com o tempo, pelo refinamento<br />
que lhe dava a experiência, um dos mais abalizados<br />
e conceituados jurisconsultos do País, para o que<br />
contribuía, grandemente, o senso jurídico que se notava,<br />
desde a primeira leitura, nos seus pareceres claros,<br />
sutis, nos quais feria, sem rebuços nem contornos<br />
inúteis, o ponto central da questão do direito versada.<br />
Assim transcorreu a atividade do advogado durante os<br />
anos de 1937 a 1943 na chefia do Departamento do<br />
Contencioso do Banco do Brasil. Neste último ano,<br />
tendo sido o então Consultor Jurídico do Banco do<br />
Brasil, João Neves da Fontoura, nomeado Embaixador
51 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
do Brasil em Lisboa, foi Hugo Napoleão designado<br />
para substituí-lo. Era, na sua profissão, um cargo<br />
altamente honroso, pelos ilustres ocupantes que o<br />
haviam perlustrado, pois além de substituir o ilustre<br />
jurista João Neves da Fontoura, haviam ocupado aquelas<br />
mesmas funções Carvalho de Mendonça e Afonso Pena<br />
Júnior. O Correio da Manhã, de 9 de junho de 1943,<br />
assim noticiou o fato:<br />
“Em virtude de passar a servir no Ministério<br />
das Relações Exteriores como embaixador do Brasil para<br />
Portugal, o Dr. João Neves afastou-se do seu cargo,<br />
também em comissão, de consultor jurídico do Banco<br />
do Brasil.<br />
Agora, por ato do Presidente da República, o<br />
Dr. Hugo Napoleão, que há treze anos vem exercendo o<br />
cargo de chefe dos advogados do mesmo banco, foi<br />
provido nas funções de consultor jurídico, tendo, perante<br />
a respectiva diretoria, tomado posse ontem.<br />
O novo consultor, jurista profissional e antigo<br />
parlamentar, que representou, por muito tempo, o Piauí,<br />
na Câmara, é figura de relevo nos meios culturais<br />
forenses e pelo seu tirocínio tem largo conhecimento da<br />
vida dos contratos e dos negócios do maior instituto<br />
de crédito do país.”<br />
Nesse mesmo dia 9 de julho de 1943, recebia<br />
uma mensagem especial do jornalista Herbert Moses,<br />
Presidente da Associação Brasileira de Imprensa:<br />
“Quando prezado amigo assume alta função<br />
Consultoria Jurídica do Banco do Brasil justo e merecido<br />
reconhecimento seus méritos, Associação Brasileira de
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 52<br />
Imprensa e seu Presidente, interpretando sentimento<br />
jornais e jornalistas, enviam cordiais cumprimentos.”<br />
E, de Lisboa, o novo Embaixador do Brasil, João<br />
Neves da Fontoura, lhe dizia, a 26 de agosto de 1943:<br />
“Só agora com a vinda de minha filha e por<br />
carta de D. Sara (sua secretária) é que tive o prazer<br />
de saber que você é o meu substituto. Aceite meus<br />
sinceros parabéns e meus melhores votos para uma<br />
longa e fecunda gestão nesse honroso posto.”<br />
A 1° de julho de 1943, eram homenageados,<br />
pelos seus colegas, no restaurante do Aeroporto Santos<br />
Dumont, então em voga, Hugo Napoleão, por ter sido<br />
nomeado para a Consultoria Jurídica, e José Raul de<br />
Moraes, para substituir aquele na chefia do Contencioso<br />
do Banco do Brasil. Saudando-os, disse, na ocasião, o<br />
Doutor Vitorino de Magalhães:<br />
“A ocorrência dos advogados do Banco a este<br />
almoço de amizade não tem significação exclusiva de<br />
testemunho abonatório de méritos dos homenageados,<br />
reconhecidamente habilitados e talhados para as funções<br />
que lhes foram cometidas; significa, além disso, e,<br />
principalmente, a satisfação de todos pelo evento que<br />
deu origem a este banquete, implicando também<br />
aplausos ao ato que os consubstanciou.”<br />
O novo Consultor Jurídico do Banco do Brasil<br />
assim agradeceu a homenagem dos seus colegas:<br />
“É esta, a segunda vez que vocês, fora dos<br />
nossos muros, me expressam, em tons de encantadora<br />
gentileza, um tão cativante afeto.<br />
Grande parte, ou quase tudo, bondade e<br />
grandeza de coração, e o restinho conhecimento seguro
53 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
de que eu, durante os treze anos de chefia do<br />
Contencioso, nunca deixei de prestigiar a todos os<br />
colegas, no desempenho de suas funções, mesmo<br />
quando as circunstâncias os colocavam em choque<br />
com os melindres de outros órgãos da nossa Casa,<br />
nem deixei, nunca, de pugnar, com ou sem êxito, por<br />
aquilo que fosse o direito de cada um.<br />
A homenagem de hoje tem âmbito mais dilatado.<br />
No meu modo de entender, a minha nomeação<br />
para o cargo de Consultor Jurídico, com a qual hoje,<br />
nos regozijamos, tem duplo significado; duplo significado,<br />
porque atinge diretamente minha pessoa e, indiretamente,<br />
a todo o corpo de advogados do Banco do Brasil. A<br />
mim, porque fui distinguido, embora imerecidamente,<br />
com tão elevadas funções e porque com esse evento<br />
me foi dado um público atestado da minha conduta<br />
no nosso estabelecimento; e a vocês, porque ela<br />
recaiu num de nós, ficando, assim, patenteado que<br />
a administração do Banco, no nosso setor, considera<br />
bastante a louça de casa.<br />
Por outro lado, o acontecimento nos enche a<br />
todos de alegria por vermos o nosso decano, o<br />
nosso estimado José Raul, na chefia do Contencioso,<br />
onde sempre devera ter estado.<br />
Essas circunstâncias e, mais, a de vir ocupar<br />
um lugar até hoje exercido por nomes tão ilustres,<br />
deixam-me apreensivo diante das responsabilidades que<br />
os novos encargos me acarretam.<br />
Meus amigos, está na nossa consciência e<br />
deve estar na de todos os que trabalham no Banco<br />
do Brasil, que esta possante máquina não poderia
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 54<br />
funcionar no ritmo em que funciona, segura, acautelada,<br />
defendida, sem a nossa ajuda, sem o nosso árduo e<br />
difícil trabalho de obreiros do Direito.<br />
Uma coisa, porém, é imprescindível à eficácia<br />
e ao benefício de nossas atividades – união –<br />
entrosamento – colaboração entre os órgãos do setor<br />
jurídico.<br />
Consultoria e Contencioso (e quando falo em<br />
Consultoria e Contencioso quero referir-me, também, às<br />
assistências jurídicas) não podem ser dois compartimentos<br />
estanques.<br />
Naquele, se exercita a hermenêutica, neste, se<br />
aplica, o Direito. Naquela, faz-se o diagnóstico, neste,<br />
emprega-se a terapêutica.<br />
Diagnóstico e terapêutica em desencontro podem<br />
ocasionar a morte do doente.<br />
Essa colaboração mais necessária se evidencia<br />
na vertigem da hora presente em que a legislação<br />
tem que correr na mesma marcha acelerada com que<br />
surgem os fenômenos e necessidades sociais.<br />
Que a nossa união será propícia ao nosso<br />
bem-estar e fecunda em benefício para o banco, é<br />
claro como a própria evidência.<br />
Por isso, e porque aspire a superar aquelas<br />
responsabilidades apontadas é que, agradecendo, do<br />
fundo do coração, esta cativante e inesquecível<br />
homenagem, em que tivemos o prazer de ouvir o verbo<br />
fogoso do Magalhães, peço aos prezados colegas que<br />
se esforcem por uma mais estreita colaboração entre<br />
os órgãos encarregados do Serviço Jurídico e por uma<br />
estreitíssima e fraternal união entre todos nós.”
55 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Em 14 de agosto de 1943, o novo Consultor<br />
Jurídico do Banco do Brasil iria ter oportunidade de<br />
homenagear o doutor Juan Carlos Arrosa, advogado do<br />
Banco da República do Uruguai, em um almoço<br />
realizado no Jockey Club do Rio de Janeiro. Aquele<br />
jurista viera representar o seu país na II Conferência<br />
Interamericana de Advogados. Assim falou Hugo Napoleão,<br />
saudando o visitante:<br />
“Nós, os que trabalhamos no Departamento<br />
Jurídico do Banco do Brasil, temos muitos, muitos e<br />
gratos motivos para oferecer-lhe esta modesta festa,<br />
a que teve a gentileza de comparecer um dos<br />
organizadores da II Conferência Inter–americana de<br />
Advogados, o nosso ilustrado colega doutor Levi Carneiro,<br />
um dos expoentes da advocacia brasileira.<br />
Em primeiro lugar, meu prezado colega,<br />
somos sabedores de sua simpatia pelo Brasil e pelas<br />
coisas brasileiras.<br />
Presta Vossa Excelência sua eficiente assistência<br />
profissional ao Banco da República do Uruguai, símile<br />
do nosso Banco do Brasil e comunga, por isso, de<br />
idênticos esforços, idênticos trabalhos e idênticas<br />
dificuldades do nosso silencioso labor.<br />
Admiramos a sua cultura jurídica, conhecida<br />
por nós através dos seus trabalhos da Culpa Civil<br />
nos transportes gratuitos, inserto na nossa Revista Forense,<br />
cuja leitura evidencia o magnífico professor de Direito<br />
que é Vossa Excelência, amante da síntese, da clareza,<br />
e da exposição metódica.<br />
Prestando-lhe esta homenagem, Senhor Doutor<br />
Arrosa, no nome dos advogados do Banco do Brasil
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 56<br />
e no meu próprio, quero pedir-lhe que transmita ao<br />
Sr. Embaixador Lusardo nossos agradecimentos por nos<br />
ter ensejado o prazer do seu conhecimento pessoal.”<br />
O ORA<strong>DO</strong>R E O CONFERENCISTA<br />
No dia 18 de setembro de 1943, o Instituto<br />
Nacional de Ciência Política realizou, no salão do<br />
Conselho da Associação Brasileira de Imprensa, uma<br />
sessão, que um dos jornais da época classificou de<br />
importante e significativa pelas palavras pronunciadas<br />
pelos ilustres oradores inscritos – Hugo Napoleão e<br />
Oto Prazeres, Pessoa Cavalcanti e Salvador Mendieta,<br />
Reitor da Universidade de Nicarágua. Com a palavra,<br />
Hugo Napoleão realizou um estudo completo sobre a<br />
história do Banco do Brasil e sua importância para a<br />
economia nacional. (Anexo 25)<br />
(...)<br />
ANEXO 25<br />
A minha palestra não visa, de modo nenhum,<br />
a traçar o histórico do Banco do Brasil, nem tampouco<br />
fixar-lhe a estrutura jurídica.<br />
Tenho em vista, tão-somente, estudar a sua<br />
influência ou atuação na economia nacional, a partir<br />
do advento da Revolução de 1930.<br />
Conservando, sempre, sua estrutura de sociedade<br />
por ações e de banco de depósitos e descontos, é,<br />
todavia, uma das chamadas sociedades de economia<br />
mista, com funções de Banco de Estado, e realizando<br />
inúmeros serviços públicos, por delegação do poder federal.
57 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
É, entre nós, o banco dos bancos,<br />
constituindo-se pela multiplicidade das funções que<br />
exerce, das atividades e serviços que executa, um<br />
verdadeiro sistema bancário, na frase atribuída ao seu<br />
eminente Presidente, Sr. Dr. Marques dos Reis.<br />
Essas múltiplas funções não lhe foram<br />
atribuídas inicialmente, não constaram de sua<br />
organização inicial, decorrem, quase todas – e é isto<br />
que deve ser salientado – das necessidades públicas<br />
na ordem econômica ou financeira.<br />
À proporção que surgia uma crise qualquer, no<br />
comércio, ou na indústria, que necessárias se tornavam<br />
medidas extraordinárias de financiamento a um produto,<br />
como, por exemplo, o açúcar, o café, o algodão, quando<br />
não mais foi possível deixar as atividades agrícolas<br />
sem crédito adequado e organizado, quando mister se<br />
fazia o amparo financeiro a um município ou a um<br />
Estado, era chamado o Banco do Brasil a intervir e a<br />
tudo prover, o que tem tornado o maior propulsor da<br />
economia nacional.<br />
A atribuição, assim parcelada, desses vários<br />
cometimentos, que não faziam parte de seu inicial<br />
programa de ação, e o pleno desempenho que lhes têm<br />
dado, servem bem para patentear a excelência de sua<br />
organização e, sobretudo, de maneira insofismável, o<br />
seu esforço em acudir aos interesses nacionais.<br />
Tomando como ponto de partida o advento da<br />
Revolução de outubro, não devo ocupar-me de fatos<br />
anteriores ao ano de 1930, senão para referir e lembrar<br />
a angustiosa situação econômico-financeira em que nesse<br />
ano se debatia o Brasil em conseqüências da crise mundial<br />
de 1929, com a baixa geral de preços na Europa e na
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 58<br />
América, do malogro da política nacional de estabilização<br />
da moeda e da errônea política de valorização do café.<br />
Uma das preocupações iniciais do governo<br />
revolucionário foi o conhecimento e apuração da dívida<br />
externa da União, dos Estados e dos Municípios.<br />
Impressionado com o resultado do Estudo a<br />
que procedeu, levado a efeito pelo Ministro Oswaldo<br />
Aranha, uma das iniciais resoluções do novo governo,<br />
aliás imperativa, foi, daí em diante, não mais recorrer<br />
ao crédito externo.<br />
Dessa circunstância, nasceu para o Banco<br />
do Brasil, ao lado do suprimento de numerário do<br />
Tesouro Nacional, por antecipação da receita pública, a<br />
incumbência de atender às necessidades dos Estados e<br />
Municípios.<br />
A enumeração do estado atual dessas dívidas<br />
evidencia a forma por que tem o banco acudido as<br />
solicitações dos Estados e Municípios, possibilitando-lhes,<br />
assim, o desenvolvimento de suas economias.<br />
(...)<br />
Outro problema com que se via a braços e<br />
que, logo no seu início teve o governo de enfrentar e<br />
resolver, foi o decorrente da crise bancária mundial,<br />
com pequena repercussão em nosso meio, é certo, mas,<br />
em todo o caso, necessitando de premonição contra<br />
maiores efeitos. Para tanto, foi criada a Caixa de<br />
Mobilização Bancária, mas, encarregado o Banco do<br />
Brasil do financiamento de suas operações, nos termos<br />
do respectivo contrato aprovado pelo Decreto n° 21.621,<br />
de 14 de julho de 1932. Embora esse Instituto tenha,<br />
por sua simples ação de presença, no conceito do
59 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Senhor Artur de Souza Costa, evitado solicitações<br />
imprevistas e desastrosas de depositantes, em uma<br />
palavra, evitando a corrida aos bancos, com ele e<br />
com a Carteira de Redescontos, tornou-se o Banco do<br />
Brasil o banco dos bancos.<br />
Dessa forma, isto é, redescontando títulos de<br />
outros bancos e, mais, executando o controle cambial<br />
e acudindo com numerário o Tesouro Nacional, foi o<br />
Banco do Brasil suprindo a falta de um banco central<br />
de reservas, de que ainda se ressente o sistema<br />
bancário brasileiro.<br />
Ninguém está esquecido da precária e quase<br />
calamitosa situação em que se encontrava a nossa<br />
multissecular indústria açucareira e de como o governo<br />
provisório, logo no seu terceiro ano, melhorou-a,<br />
tornando-a próspera por meio de uma das primeiras<br />
e mais felizes experiências de economia dirigida,<br />
ensaiada na Comissão de Defesa do Açúcar, e, por<br />
fim, consubstanciada na esplêndida afirmação que é o<br />
Instituto do Açúcar e do Álcool. Esse empreendimento,<br />
porém, só se tornou viável e possível com a ajuda<br />
financeira do Banco do Brasil, especialmente no seu início<br />
e quando aquela Comissão teve de financiar as primeiras<br />
safras, independentemente da taxa de três cruzeiros,<br />
posteriormente cobrada por saco de açúcar produzido.<br />
A recomposição do mercado de café, após as<br />
aperturas de 1929, decorrentes do abandono da política<br />
de valorização, só pôde ter lugar pelo Banco do Brasil,<br />
em contrato firmado em 1931, com o antigo CNC.<br />
Com este órgão e através, depois, do DCN, esse<br />
financiamento tem continuado, na forma e extensão
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 60<br />
por que tem sido necessário, mesmo em condições<br />
extraordinárias, como está acontecendo de 1941 para cá.<br />
A crise do algodão paulista, oriunda da<br />
superprodução da safra de 1942/1943 e a da perda dos<br />
mercados europeus e asiáticos, foi julgada pelo Banco<br />
do Brasil, por meio de financiamentos extraordinários,<br />
fora dos limites cadastrais e com base em preços mais<br />
elevados do que aquele em que estava essa mercadoria<br />
cotada.<br />
Refiro-me a esses produtos por serem eles os que<br />
mais influem em nossa economia, mas, certo é que<br />
todos os outros, como o sal, o mate, o cacau, o babaçu,<br />
etc., têm, nos momentos necessários, gozado da intervenção<br />
do benéfico socorro financeiro do Banco do Brasil.<br />
E, se as necessidades de financiamento de<br />
determinado produto decorrem de fenômenos climáticos,<br />
que ocasionam verdadeira calamidade pública, como<br />
aconteceu com o arroz, no Rio Grande do Sul, por ocasião<br />
das últimas enchentes, a ação do Banco do Brasil<br />
sempre se fez sentir imediatamente e pressurosa.<br />
Da mesma forma, se tem beneficiado a indústria<br />
brasileira com o amparo financeiro do Banco do Brasil.<br />
Dentre os casos normais e gerais, cito as facilidades por<br />
ele outorgadas à instalação das indústrias de alumínio,<br />
de papel e da siderurgia, cuja operação inicial, nos<br />
Estados Unidos, só foi possibilitada pela fiança que lhe<br />
deu o Banco do Brasil. Vê-se, do relatório apresentado<br />
pelo Senhor Marques dos Reis à Assembléia de Acionistas<br />
de 30 de abril do ano corrente, que o total empregado<br />
nas atividades industriais puras, isto é, não dependentes<br />
de matérias-primas de sua produção, elevou-se a<br />
514.248 milhares de cruzeiros; nas de beneficiamento e
61 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
transformação de matérias-primas próprias foi de 170.876<br />
milhares. Coube, assim, às indústrias em geral a<br />
importância de 685.124 milhares de cruzeiros.<br />
O problema da criação ou instituição do crédito<br />
agrícola só veio obter solução por intermédio do Banco<br />
do Brasil. Para maior eficiência na distribuição desse<br />
crédito não tergiversou o Banco, pelo seu atual<br />
Presidente, em multiplicar a rede de agências, levando-as<br />
mesmo a afastados lugares do nosso interior, onde a<br />
possibilidade de negócios não permite auferir lucros.<br />
Essas agências, hoje já em número de 246, se<br />
constituem num verdadeiro sistema de irrigação de<br />
crédito ao País inteiro e, do ponto de vista do crédito<br />
agrícola, num dos maiores benefícios que elas prestam à<br />
educação do agricultor, no uso do crédito, a que não<br />
estava acostumado, a qual se exercita pelos conselhos<br />
e fiscalização de seus funcionários.<br />
(...)<br />
Se necessário se torna fazer face aos problemas<br />
decorrentes da situação mundial, criada pela guerra,<br />
estimulando-se e amparando a exportação de produtos<br />
nacionais e assegurando-se condições favoráveis à<br />
importação de produtos estrangeiros, a execução das<br />
providências para tanto necessárias é conferida ao Banco<br />
do Brasil, conforme se verificou com a Carteira de<br />
Exportação e Importação.<br />
Precisam as Nações Unidas que o Brasil lhes<br />
ajude a suprir a falta de borracha decorrente da<br />
cessação da importação desse produto dos países<br />
asiáticos, é o Banco do Brasil chamado a prestar sua<br />
cooperação no sentido do financiamento das safras e no
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 62<br />
incentivo da produção, até que para isso se criasse<br />
órgão especializado. Lança o Governo empréstimo de<br />
guerra, torna-se o Banco do Brasil o maior adquirente<br />
dos bônus que o representam. Por fim, até a Comissão<br />
de Defesa Econômica foi conferida à sua administração.<br />
Além da assistência financeira a entidades ou<br />
serviços públicos, como, por exemplo, à Prefeitura do<br />
Distrito Federal, possibilitando-lhe a execução das obras de<br />
remodelação e embelezamento de nossa capital: a Estrada<br />
de Ferro Central do Brasil, fornecendo-lhe o numerário<br />
indispensável ao acabamento das obras da Estação<br />
D.Pedro II e à aquisição da Companhia Geral de Material<br />
Rodante; ao serviço de águas da Capital da República,<br />
o Banco do Brasil executa, ainda, por delegação,<br />
importantes serviços da competência privativa da União.<br />
O Banco do Brasil é, ao mesmo tempo, banco<br />
comercial, de depósitos e descontos, banco agrícola,<br />
banco industrial, banco hipotecário, banco de redesconto,<br />
banco de exportação e importação, banco de Estado,<br />
banco dos bancos.<br />
Para atender a todas essas atividades, é a<br />
administração do banco auxiliada por selecionado corpo<br />
de funcionários, que nele ingressam mediante concurso,<br />
e cuja competência bem pode ser aferida pela<br />
circunstância de se encontrarem muitos deles prestando<br />
serviços a entidades públicas, bancos e empresas<br />
particulares por todo o País.<br />
Executando tão múltiplas atividades e funções,<br />
o Banco do Brasil, embora continuando a ser um banco<br />
de depósitos e descontos, não se deixa orientar pelo<br />
objetivo de lucros elevados, o que é fácil de comprovar
63 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
pela circunstância de não passar a sua taxa média de<br />
juros da casa dos 7%, que é, entre nós, taxa mínima.<br />
Não tem a preocupação de ganhos exagerados<br />
e, por outro lado, como o deixou patenteado o seu<br />
Departamento de Estatística e Estudos Econômicos,<br />
“nunca perde de vista o inalterável propósito de colocar<br />
a sua política a serviço do conjunto da economia<br />
brasileira, perseverando em um plano sistemático de<br />
assistência às classes produtoras”.<br />
De breve exposição que acabo de fazer, se<br />
concluirá, imperiosamente, que, além de se ter tornado<br />
um dos grandes elementos fundidores da unidade<br />
nacional, é o Banco do Brasil o mais poderoso<br />
instrumento que incentiva, acelera, facilita e propulsiona<br />
a economia brasileira.<br />
(...)<br />
Em 30 de novembro de 1943 foi comemorado<br />
o sexto aniversário de posse do doutor João Marques<br />
dos Reis na Presidência do Banco do Brasil. No<br />
grande salão da assembléia, repleto de funcionários<br />
daquele estabelecimento bancário, diante da Mesa,<br />
composta do General Pinto Aleixo, então, interventor no<br />
Estado da Bahia; João Daudt de Oliveira, Presidente da<br />
Associação Comercial do Rio de Janeiro; dos Diretores<br />
do Banco do Brasil, Pedro Rache, Santos Filho, Gastão<br />
Vidigal, Vilobaldo de Campos, Carneiro de Mendonça<br />
e Souza Melo e do Superintendente Pedro Mendonça<br />
Lima, o Consultor Jurídico pronunciou, em nome do<br />
funcionalismo daquela casa, o discurso de homenagem.<br />
(Anexo 26).
ANEXO 26<br />
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 64<br />
As prolongadas férias tribunícias que venho<br />
gozando e a observância da prática do ofício, prudente<br />
e sábia, que desaconselha se emitam pareceres verbais<br />
em assuntos jurídicos e, mais que isso, o receio de<br />
sobrecarregar demasiadamente, com emoções imprevistas,<br />
o coração de um corpo que já escalou e, agora,<br />
descamba pelo outro lado da montanha, fizeram com<br />
que eu passasse para o papel aquilo que aqui pretendo<br />
dizer, em satisfação da honrosa incumbência que me<br />
foi cometida pelos meus dignos colegas.<br />
Sr. Dr. João Marques dos Reis, as homenagens<br />
como esta, que V.Exª vem recebendo, ininterruptamente,<br />
desde o segundo ano de sua administração, não eram,<br />
antes observadas, nem nunca foram comuns.<br />
Por quê? Motivos há e não são poucos.<br />
Não é fácil dirigir esta poderosa máquina que é<br />
o Banco do Brasil, e menos fácil é dirigi-la sob um<br />
consenso geral de aplausos do seu funcionalismo.<br />
É que, senhores, as qualidades de Sua Excelência<br />
o Sr. João Marques dos Reis são excepcionais.<br />
S.Exª é, antes de tudo, um homem de rara<br />
elegância moral. Sabem os funcionários que ele os acolhe<br />
humanamente, ouve-os e, ouvindo-os, se interessa pelo<br />
que ouve, não raro se comove, e providencia sempre,<br />
e sempre que o postulante se encontra acobertado pela<br />
justiça ele a faz, ele a dá e, dando-a, sabe dar. Dá<br />
completamente, dá sem restrições e sem humilhar a<br />
quem pede. Dá logo, dá oportunamente. Dá pondo de
65 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
pé a quem pede, colocando-o no nível em que ele se<br />
encontra. Sabe dar com elegância.<br />
Este acolhimento desprentensioso, amável e<br />
humano gera afeto, produz respeito, inspira gratidão.<br />
Senhor Presidente, igualmente, conhecemos nós<br />
os funcionários do Banco do Brasil, a espontaneidade e<br />
o calor com que V.Eª defende as nossas aspirações<br />
coletivas, e, por outro lado, não ignoramos e não<br />
ignoramos porque V.Exª o diz e repete, que se sente<br />
ufano de pertencer a esta Casa. Esse, aliás, é um fato<br />
que se reproduz.<br />
Como V.Exª, vim de fora para cá, vim de<br />
outras lides, e logo que senti a pujança, percebi<br />
os encargos, verifiquei as realidades, constatei os<br />
empreendimentos de ordem nacional que lhe são<br />
cometidos e, mais do que isso, vi exteriorizado o prazer<br />
de cada funcionário em aqui servir, senti-me orgulhoso<br />
de fazer parte do quadro de funcionários do Banco do<br />
Brasil.<br />
Meus Senhores, conforme eu já o disse, não<br />
é fácil dirigir o Banco do Brasil. Fácil é dirigi-lo<br />
rotineiramente, porque neste aspecto, ele é uma máquina<br />
tão bem montada, com uma organização tão perfeita,<br />
que, pode ser dito, gira e movimenta e anda sozinha.<br />
Mas, nós o sabemos, ele tem finalidades<br />
outras além do simples comércio bancário, e muito mais<br />
complexas, e muito mais importantes.<br />
O Banco do Brasil, eu já o disse, é, ao mesmo<br />
tempo, banco comercial, de descontos e depósitos, banco<br />
agrícola, banco industrial, banco hipotecário, banco de
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 66<br />
redescontos, banco de importação e exportação, banco de<br />
Estado, banco dos bancos.<br />
É um dos grandes elementos fundidores da<br />
unidade nacional, é o mais poderoso instrumento que<br />
incentiva, acelera, facilita e propulsiona a economia<br />
brasileira.<br />
Da grandiosidade dessas funções e cometimentos<br />
deriva para o seu dirigente muita atividade, muita<br />
competência, muitos conhecimentos de ordem geral,<br />
especialmente os que se relacionam com as ciências<br />
econômicas e sociais e, acima de tudo, muito patriotismo.<br />
Sr. Presidente, a sua atividade é patente. Além<br />
de madrugar no banco e dele só sair quando a noite<br />
chega, não acumula, não retarda nem deixa expediente<br />
dormir.<br />
A sua competência vem comprovada de fora,<br />
vem comprovada de sua banca de advogado, da cátedra<br />
de Direito Civil, da Constituinte de 1934, do Ministério<br />
da Viação.<br />
O seu patriotismo, Sr. Presidente, muitas vezes<br />
aqui o temos visto e sentido, acendido, pressuroso,<br />
através de sua destemorosa eloquência, ora profligando<br />
em palavras de fogo e candentes arroubos, as atividades<br />
do quinta-colunismo, ora aplaudindo, com frases<br />
repassadas de beleza e doçura, as atividades das nossas<br />
funcionárias em favor da Cruz Vermelha.<br />
V.Exª possui essas qualidades, e as possuindo,<br />
também, os seus dignos companheiros de diretoria, com<br />
os quais V.Exª vive vida de harmonia, fácil e simples<br />
se torna aquela tarefa. A forma por que V.Exª se<br />
desincumbe de tão complexos encargos está fotografada
67 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
nos relatórios sobre as atividades anuais da sua<br />
administração, os quais se têm constituído, não somente<br />
em exposições do desenrolar da vida que refletem a<br />
vida econômico-financeira da Nação.<br />
Senhores, em uma festa igual a esta, levada<br />
a efeito há quatro anos, foi dito que os funcionários do<br />
Banco do Brasil estavam constituídos em Tribunal para<br />
julgar o Sr. Marques dos Reis.<br />
Pois bem, Sr. Presidente, as ininterruptas<br />
manifestações que, de então para cá, e ano a ano, vêem<br />
os funcionários do Banco do Brasil, com a assistência<br />
da Exmª Diretoria prestando a V.Exª traduzem o<br />
ratificado reconhecimento daquelas qualidades e daquela<br />
atuação de V.Exª e consubstanciam a sentença daquele<br />
tribunal, V.Exª está julgado. A sentença foi proferida.<br />
É sentença irrecorrível. Já não pode sofrer apelo nem<br />
agravo. E por ela foi V.Exª declarado o funcionário n° 1<br />
do Banco do Brasil.<br />
/<br />
Ao usar da palavra, o homenageado reiterou<br />
seus agradecimentos pela demonstração de apreço que<br />
acabava de receber, elogiando, mais uma vez, como<br />
tinha feito em ocasiões passadas, a dedicação, o senso<br />
de dever dos funcionários do Banco do Brasil, que<br />
não são qualidades transitórias, mas representavam<br />
uma continuidade que honrava a tradição daquele<br />
estabelecimento.<br />
No dia 4 de dezembro de 1943, novamente Hugo<br />
Napoleão falaria em nome dos funcionários do Banco<br />
do Brasil, desta vez, em São Paulo, pronunciando um<br />
discurso em virtude da doação, feita por aqueles
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 68<br />
funcionários, de seis aviões a aero-clubes paulistas,<br />
dentro da Campanha Nacional de Aviação, lançada pelos<br />
Diários Associados. Pela beleza da forma e do pensamento<br />
e o toque poético que não lhe está ausente, foi, a meu<br />
ver, um dos mais belos discursos de Hugo Napoleão,<br />
que iria receber, depois, uma referência muito<br />
significativa no discurso pronunciado pelo jornalista<br />
Assis Chateaubriand, criador daquela campanha:<br />
“Já não é fácil usar da palavra nas festas<br />
de batismo de aviões. E não é fácil porque Assis<br />
Chateaubriand, no seu constante e repetido ruflar de<br />
asas pelo espaço infindo da eloqüência, já esgotou os<br />
arcanos de beleza da língua portuguesa, capazes de<br />
exteriorizar a alada e grandiosa e mais brasileira das<br />
cruzadas, de que se armou cavaleiro.<br />
A nenhum povo, como a nós brasileiros, cabe a<br />
glória da conquista aérea, de que Santos Dumont foi o<br />
pioneiro máximo e o máximo realizador na dirigibilidade<br />
dos balões e no primeiro vôo com o mais pesado que<br />
o ar.<br />
Dadas as diversas condições que lhe são<br />
peculiares, nenhum outro país necessita tanto da<br />
navegação aérea quanto o Brasil.<br />
Por isso mesmo é que, cada vez mais, se deve<br />
compreender e exaltar a nobre campanha dos Diários<br />
Associados, que visa povoar de aeronaves os céus do<br />
Brasil.<br />
Nós, os funcionários do Banco do Brasil, assim<br />
o entendemos e podemos compreender, porque o<br />
ambiente em que se desenvolve o nosso trabalho nos<br />
propicia e impele a essa compreensão.
69 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Na realidade, o Banco do Brasil não faz somente<br />
comércio bancário como a muitos possa parecer. Sua<br />
finalidade é muito mais complexa e muito mais elevada. (...)<br />
Além de auxiliar a administração pública no<br />
desempenho das mais diversas e variadas funções, como<br />
as de controlador do câmbio, da exportação e importação,<br />
de agente financeiro da União, dos Estados e Municípios,<br />
ele acode e ampara a agricultura, a indústria e o<br />
comércio, possibilitando, aqui, a siderurgia ou o fabrico<br />
do papel ou do alumínio: ali, jugulando as crises<br />
sobrevindas ao café, ao açúcar e ao algodão; mais além<br />
dando máquinas ao Brasil. Tornou-se, assim, um dos<br />
grandes elementos fundidores da unidade nacional e<br />
o mais poderoso instrumento que incentiva, facilita,<br />
propulsiona e acelera a economia brasileira.<br />
Por outro lado, tem sido sempre um grande<br />
incentivador dos nobres cometimentos, das grandes, das<br />
santas causas da beneficência e da instrução e, no<br />
amparo aos seus servidores, antecipou-se à legislação<br />
que consagrou as conquistas sociais do trabalho.<br />
Como, pois, senhores, aí vivendo e assim<br />
servindo, poderiam os funcionários do Banco do Brasil<br />
deixar de contribuir para a vitória da esplêndida,<br />
magnífica e patriótica cruzada da aviação que Assis<br />
Chateaubriand, em boa hora, tomou aos ombros?<br />
Só poderíamos fazer o que fizemos – a ela<br />
acorrer com pressurosa espontaneidade.<br />
Tão elevado é esse empreendimento que, além<br />
de sua principal finalidade – dar asas ao Brasil – tem<br />
objetivado, nos seus detalhes, lições e práticas de civismo.<br />
De começo, ensejando, nas cerimônias de batismo,<br />
a exaltação patriótica de nomes brasileiros, que foram
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 70<br />
grandes e ilustres nos diversos ramos da atividade<br />
humana. E agora, voltando-se para os nossos rios, na<br />
direção de cujas águas se iniciou o destino do Brasil.<br />
Feliz lembrança! São eles, os rios, a imagem viva da<br />
vida, contendo em si, perenemente e sem cessar, o<br />
movimento e a renovação. São eles os caminhos de<br />
Deus, os caminhos que andam, os veios que fertilizam<br />
a terra, encantam a vista e fazem cismar.<br />
E aqui estão:<br />
O majestoso Amazonas, o mar “dulce” de<br />
Pinzón, o maior do mundo, engrossado por mil<br />
braços, aquele que parece querer dominar o oceano, em<br />
vez de por ele se deixar dominar; que, carreando<br />
mundos no seu dorso, acrescendo e vitalizando as terras<br />
da Sul–América; ora doce e tranqüilo, ora enfurecido<br />
pela “pororoca”; enfeitiçado pela Iara, inebriado pelo<br />
canto do uirapuru; servindo a mais de uma pátria,<br />
quer demonstrar que é imperativa a solidariedade do<br />
continente sul-americano.<br />
E o São Francisco, o mais brasileiro deles, o<br />
rio dos currais, das entradas, que, na nossa infância,<br />
firmou os alicerces do povoamento; o carreador do ouro<br />
de Minas Gerais, escrínio dos sete saltos que formam<br />
Paulo Afonso; desafogo da hora sombria que vivemos<br />
quando, dificultada a costa atlântica, pelos selvagens da<br />
civilização, pôde impedir o insulamento das nossas regiões;<br />
e assim, mais uma vez, alertar o Brasil, mostrando-lhe<br />
que ele é o traço– de–união entre o Norte e o Sul, é o<br />
rio da unidade nacional e, como tal, deve ser tratado.<br />
E o Tietê, paulista da gema, o velho Anhembi,<br />
caminho das bandeiras sulinas, trilha de Manoel Preto e
71 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Raposo Tavares para a conquista do Guaíra, recolhimento<br />
dos goianos trazidos por Fernão Dias Paes, acesso das<br />
monções às minas, vivo testemunho da audácia e do<br />
heroísmo do povo paulistano.<br />
O Paraná, que mandando águas brasileiras<br />
beijar as terras paraguaias e as areias de Buenos<br />
Aires, evidencia os sentimentos do Brasil para com os<br />
seus irmãos do Continente.<br />
O Mamoré, servidor de 2 amigos – Bolívia e Brasil.<br />
O Parnaíba, doce evocação!<br />
Lembrando da minha infância. O piedoso<br />
Parnaíba que, dos contrafortes da Serra da Tabatinga,<br />
lançou um dia seus dois olhos sobre a planície da terra<br />
piauiense e, vendo-a crestada, sobre ela derramou as<br />
suas lágrimas fecundantes.<br />
Parnaíba, sereno Parnaíba, que refletes em<br />
tuas águas as copas dos buritizeiros.<br />
Rio das Garças.<br />
Rio da saudade.<br />
Rio da saudade do nosso poeta Da Costa e Silva:<br />
“Saudade! – O Parnaíba, velho monge,<br />
as barbas brancas alongando... E, ao longe,<br />
o mugido dos bois de minha terra.”<br />
Amazonas, São Francisco, Tietê, Paraná, Mamoré,<br />
Parnaíba, voai no dorso dessas águas, voai pelos lindos<br />
céus da Paulicéia.”<br />
Diante da eloquência do tribuno piauiense, o<br />
velho jornalista, Assis Chateaubriand, conhecedor e<br />
descobridor de inteligências, assim falou, ao referir-se ao<br />
orador (O Jornal, de 10 de dezembro de 1943):
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 72<br />
“Representa o vosso presidente, no ato dos<br />
batismos de hoje, o grande tribuno nortista, parlamentar de<br />
largo fôlego, que é o Dr. Hugo Napoleão. Se devêssemos<br />
ganhar uma batalha hoje, estaria de antemão garantida a<br />
sua vitória pelo verbo de um orador e poeta da palavra,<br />
que se chama Hugo, e pela espada de um general, que<br />
se denomina Napoleão. Os dois reis, do pensamento e das<br />
batalhas, se reúnem no vosso peregrino intérprete, padrão<br />
da inteligência e da cultura do norte de nossa Pátria.”<br />
1943 foi o ano dos discursos e das conferências,<br />
em que o orador parlamentar e o advogado se fundiam,<br />
na exteriorização do pensamento. Uma de suas mais<br />
significativas orações, dedicada ao vulto de Carvalho de<br />
Mendonça, um dos maiores comercialistas brasileiros,<br />
revela o seu pendor jurídico e o trato de um tema em<br />
que se sentia perfeitamente à vontade. Ao inaugurar-se o<br />
busto, em bronze, de Carvalho de Mendonça, oferecido ao<br />
Tribunal de Apelação do antigo Distrito Federal pelos<br />
advogados do Banco do Brasil, o Consultor Jurídico,<br />
Hugo Napoleão, assim se referiu à figura do sistematizador<br />
do Direito Comercial brasileiro:<br />
“Nós, os advogados do Banco do Brasil, tomamos<br />
a deliberação de oferecer a este egrégio Tribunal, por<br />
intermédio do seu eminente Presidente, o busto, que ora<br />
se inaugura, trabalhado em bronze pelo reputado escultor<br />
brasileiro Leão Veloso, e representativo da excelsa figura<br />
do Dr. José Xavier Carvalho de Mendonça que, por longos<br />
anos, prestou àquele estabelecimento de crédito os<br />
mais relevantes serviços, na qualidade de seu Consultor<br />
Jurídico. Em tão alto reconhecimento são tidos esses<br />
serviços pela Administração do Banco do Brasil, que seu<br />
eminente Presidente, Sr. Dr. João Marques dos Reis, jurista
73 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
como nós e emérito, tendo a justa compreensão do nosso<br />
desejo, perfilhou-o, tomando assim o encargo desta dádiva.<br />
Para nós, Sr. Presidente, este ato, expressando a<br />
manifestação pública do nosso reconhecimento e da nossa<br />
saudade pelo eminente Mestre, de quem recebemos,<br />
pessoal e diretamente, os esclarecidos ensinamentos, se<br />
constituem em motivo de grata satisfação. Para vós,<br />
Srs. Juízes, será, estamos certos, igualmente grato<br />
guardar o precioso bronze, que relembra o grande<br />
jurista, nas lições de quem, muitos dos julgados<br />
dos nossos Tribunais se inspiraram. Guardai, egrégio<br />
Tribunal, e guardai com carinho e veneração, porque<br />
ele, o sistematizador do Direito Comercial brasileiro, assim<br />
o merece e bem, e justamente.<br />
Sistematizador. Na realidade, o sistematizador do<br />
Direito Comercial brasileiro, esse trabalhador infatigável.<br />
A remota circunstância de se haver conservado,<br />
por longo tempo o Direito Comercial, como mero ramo do<br />
Direito Privado, mas sem disciplinação autônoma, e, mais,<br />
o fato de, só em época relativamente recente, se ter<br />
operado o desenvolvimento das nossas relações comerciais,<br />
determinou, entre nós, maior intensidade no estudo e<br />
maior aperfeiçoamento na disciplinação do Direito Civil,<br />
como aliás aconteceu por toda a parte, durante os<br />
séculos de efetiva dominação do Direito Romano. Daí e<br />
da necessidade de se disciplinarem, às pressas, as<br />
novas relações jurídicas que a rápida expansão da vida<br />
do comércio fez surgirem, nestas últimas décadas,<br />
resultou, com a modificação quase completa do nosso<br />
velho Código de 1850, o caos da nossa legislação
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 74<br />
comercial constante de diplomas esparsos, fragmentados,<br />
sem orientação, sem unidade.<br />
No reinado dessa confusão, tortura do<br />
profissional de Direito, aparece o orientador, o<br />
disciplinador, o sistematizador – Carvalho de Mendonça –<br />
para juntar-se a outras glórias de nossas letras<br />
jurídicas, aos lineadores principais do Direito Brasileiro<br />
– Ramalho, Paula Batista, Pimenta Bueno, Teixeira de<br />
Freitas, Carlos de Carvalho, Tobias, Lafayete, Clóvis<br />
Bevilacqua, conforme já acentuou Spencer Vampré.<br />
E que trabalho beneditino! Do conhecedor<br />
universal da literatura jurídica comercial, do experiente<br />
advogado de bancos e empresas, do observador dos<br />
usos, costumes e praxes das Bolsas e associações, do<br />
crítico, dos julgados de todos ou quase todos os juízes<br />
e Tribunais brasileiros, do colecionador de avisos e<br />
regulamentos, do administrador, do antigo professor, do<br />
juiz, do grande estudioso e, sobretudo, do infatigável,<br />
do impertérrito trabalhador, de tudo isto quanto foi<br />
Carvalho de Mendonça, surgiu a disciplinação do nosso<br />
Direito Comercial consubstanciado do seu Tratado de Direito<br />
Comercial.<br />
O que acabo de dizer, vós o sabeis, de sobra,<br />
senhores, porque nenhum homem que viva da vida do<br />
Direito, no Brasil, poderá prescindir dos ensinamentos<br />
desse magnífico Tratado de Direito Comercial. Nem estou<br />
aqui para traçar a biografia ou fazer o estudo da<br />
grande obra, do grande jurisconsulto, que se estende à<br />
inspiração e à factura de muitas de nossas leis, como,<br />
por exemplo, o Decreto n° 2.044, de 31 de dezembro<br />
de 1908. Não será, porém, demais que acentue a forma
75 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
despretensiosa e inigualável por que ele trabalhou na<br />
construção do nosso Direito Comercial, criticando, com<br />
independência, o erro de uns, ou salientando o acerto<br />
de outros dos nossos julgados, mostrando vícios e<br />
defeitos da nossa legislação, profligando, com altivez,<br />
a ausência de nosso patriotismo, de técnica ou de<br />
conhecimento de alguns legisladores expondo com<br />
sabedoria, mas sem exibições inúteis de erudição as sãs<br />
doutrinas, confessando, sem constrangimento, os erros em<br />
que incidiu e, acima de tudo, com elevada preocupação<br />
de fazer obra brasileira, genuinamente brasileira.<br />
Ao lado de tão elevadas, raras e peregrinas<br />
qualidades de Carvalho de Mendonça, reveladas através<br />
das circunstâncias, tão ligeiramente apontadas, na feitura<br />
do seu Tratado ou nas manifestações da sua vida de<br />
jurista, desejo, finalizando esta breve oração, relembrar,<br />
senhores juízes, que a grande elevação com que<br />
exercitou ele a sua vida de advogado, observando com<br />
o mais estrito rigor e ética profissional, praticando a<br />
mais rigorosa honestidade, ora rejeitando o patrocínio de<br />
causas que julgava injustas, ou de direito precário,<br />
ora emitindo pareceres contra pretensões dos próprios<br />
constituintes ou consulentes, tornou-o, no exercício da<br />
sua profissão, não somente um perfeito advogado, mas,<br />
também, um juiz probo e reto.<br />
Recebei, por isso, sem rebuços, senhores<br />
desembargadores, o busto que lembra a sua excelsa<br />
figura. Recebei-o. Podeis recebê-lo sem constrangimento.<br />
A sua presença não deslustrará este recinto, nem<br />
molestará a dignidade da Justiça.”
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 76<br />
PUBLICAÇÃO DE UM LIVRO DE PARECERES<br />
Coroou, assim, meu pai, o ciclo de conferências<br />
e discursos, naquele fim do ano de 1943, com um<br />
estudo sobre o patrono da Consultoria Jurídica, seu<br />
antecessor no cargo, falando em nome do corpo de<br />
advogados do Banco do Brasil. 1944 não decresceria na<br />
produção jurídica do então consultor. Pelo contrário. Iria<br />
ser um ano marcante, pela publicação do seu volume<br />
de Pareceres, em edição privada daquele estabelecimento<br />
de crédito. Nele, estão consubstanciadas as suas melhores<br />
produções jurídicas, numa seleção feita pelo próprio<br />
autor. Na sua seção “Livros e Autores”, O Globo, de<br />
14 de dezembro de 1944, assim saudou o aparecimento<br />
do livro de Pareceres:<br />
“Hugo Napoleão é um nome bastante conhecido<br />
nos meios jurídicos do País. Primeiramente na Câmara<br />
dos Deputados, onde, como representante do Piauí, teve<br />
ensejo, quer nas comissões técnicas, quer em plenário,<br />
de versar os mais complexos problemas de Direito, e<br />
depois na advocacia e no Banco do Brasil, como consultor<br />
jurídico.<br />
Hugo Napoleão, pela sua inteligência e pela<br />
sua dedicação ao trabalho, firmou, entre os seus colegas,<br />
um conceito dos mais brilhantes e acatados.<br />
Ainda agora o Banco do Brasil vem de reunir<br />
em volume os pareceres emitidos pelo ilustre jurista,<br />
como chefe do Departamento do Contencioso e como<br />
consultor jurídico. É uma edição de caráter privado,<br />
porque se destina a uso exclusivo no nosso principal<br />
estabelecimento de crédito. Nem por isso, entretanto,<br />
de menor valia jurídica, tal a importância dos assuntos
77 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
abordados. Especialmente as questões de Direito Comercial<br />
e Cambial mereceram cuidadoso estudo do ex-parlamentar<br />
piauiense. São oitenta pareceres que revelam a<br />
inteligência e a cultura de seu autor e que muito<br />
contribuirão para facilitar a solução de problemas que<br />
objetiva e que são diariamente causa de demandas<br />
no Judiciário.”<br />
Meu pai teve o prazer de receber, nessa<br />
ocasião, palavras de estímulo e admiração de inúmeros<br />
amigos e de figuras exponenciais que lhe testemunharam<br />
o seu interesse pela leitura do seu livro de pareceres,<br />
entre os quais se encontram Francisco Morato, José<br />
Bonifácio de Andrade e Silva, Levi Carneiro, Alencastro<br />
Guimarães, Luís Galloti, Valdemar Ferreira, Ricardo Xavier<br />
da Silveira, Alcebíades Delamare, Gudesteu Pires, Negrão<br />
de Lima, Pedro Aleixo, Mário Acioly, Laudo de Camargo,<br />
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Barreto Filho, João<br />
Vicente Campos e Alberto Diniz.<br />
Dentre essas opiniões, destaco apenas a de um<br />
espírito brilhante de sua terra, de seu ex-secretário, o<br />
advogado piauiense Cláudio Pacheco, jovem jornalista e<br />
causídico de raro talento, que, em 14 de março, dizia, de<br />
Teresina, ao autor de Pareceres, sem dúvida na melhor<br />
e mais completa apreciação feita àquela obra, que<br />
tanto sensibilizou meu pai naquela ocasião:<br />
“Li atentamente todos os pareceres. Eu já<br />
conhecia muito dos pareceres que foram elaborados antes<br />
de 1933, quando o senhor os escrevia numa fase de<br />
intensas atividades. Mas em todos eles se mantém alto<br />
o nível de pensamento, de cultura e de forma. A<br />
clareza, a transparência de expressão e a capacidade<br />
de síntese foram sempre as melhores características de
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 78<br />
sua inteligência e como que o predestinavam a ser<br />
um notável consultor jurídico. Por isto mesmo, pela<br />
projeção muito adequada daquelas qualidades mentais na<br />
elaboração de cada parecer, nota-se que cada trabalho<br />
tem a sua própria unidade, é completo e acabado no<br />
desenvolvimento da idéia principal. Em cada parecer, o<br />
pensamento como que realiza um ciclo completo. Também<br />
sobressaem outros aspectos qualitativos. Na conclusão<br />
de cada parecer nota-se aquele cunho próprio ao homem<br />
de ação, aos espíritos dominadores e ascendentes, que<br />
se revela na plasticidade das conclusões, na seleção<br />
do alvitre mais acertado e mais adaptável. Muitas vezes<br />
o ponto de vista jurídico comporta diversas soluções<br />
igualmente lícitas e aceitáveis, de modo que a escolha da<br />
solução mais profícua já não é mais uma função da<br />
cultura e sim um ato de intuição em que os homens<br />
de ação, pelo seu melhor conhecimento da realidade,<br />
sobrelevam os homens de gabinete. Salienta-se ainda<br />
nos pareceres a inteireza moral das convicções, a<br />
intransigência de opinar sobre a exclusiva inspiração da<br />
verdade jurídica, sem conveniências vacilantes e sem<br />
intenções de agrado. Com efeito, em nenhum dos pareceres<br />
se nota aquela argumentação artificiosa, aquele apego a<br />
fórmulas vazias e aquele malabarismo de idéias que,<br />
mesmo a despeito de um estilo brilhante ou do luxo de<br />
conhecimentos e citações, sempre revelam ao observador<br />
atento a trama de intuitos ou objetivos inconfessáveis.<br />
Por tudo isto é que eu disse que existe uma<br />
constante de elevação de nível em todos os pareceres.<br />
Estou fazendo assim uma apreciação geral, que comporta<br />
exceções num e noutro sentido: São naturalmente<br />
excluídos de comentário aqueles pareceres que, conforme<br />
explica o prefácio, “versando assuntos sem transcendência
79 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
ou sobre que não haja controvérsias”, são publicados<br />
apenas para utilidade interna do banco e que propriamente<br />
não se classificam como pareceres e sim como meras<br />
notas de orientação. Por outro lado, merecem apreciação<br />
destacada certos trabalhos que se elevam a maiores<br />
altitudes. Por exemplo: o Parecer n° 9, tratando da<br />
acumulação de percentagens do Diretor do Banco do<br />
Brasil, destaca-se de modo especial por ser um trabalho<br />
original, sem apoio ou inspiração em opiniões alheias,<br />
em que o pensamento do consultor se desenvolve<br />
livremente, com força penetrante, na exclusiva elaboração<br />
de convicções próprias. A respectiva conclusão é uma<br />
afirmação de princípios de moralidade e de predominância<br />
da via processual. O Parecer n° 23, tratando dos<br />
contratos de compra e venda entre ausentes, é um notável<br />
trabalho de doutrina jurídica e de argumentação aplicada,<br />
destacando-se ainda pela inteireza da conclusão.<br />
Recomendando o respeito ao direito de defesa e à<br />
liberdade de pensamento, o Parecer n° 30 reflete uma<br />
firmeza de convicções democráticas que antecipam as<br />
tendências atuais. O Parecer n° 74, que discute a<br />
estrutura jurídica do Banco do Brasil, além de ser um<br />
trabalho de fôlego, é um modelo daquela difícil operação<br />
mental que, partindo de ideais gerais, chega a conclusões<br />
concretas através de uma perfeita transição de raciocínio.<br />
Chego à conclusão final de que a sua função<br />
de consultor jurídico do Banco tem os requisitos de<br />
uma daquelas posições excepcionais em que um homem<br />
pode considerar que realizou integralmente as suas<br />
capacidades e pode considerar-se saciado e feliz. No<br />
nosso País, esta Consultoria é um dos supremos postos<br />
culturais. A maestria dos seus pareceres mostra que<br />
o senhor está, mental e culturalmente, à altura da
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 80<br />
função, por mais alta que ela seja. Isto é saciante,<br />
venturoso, esta rara coincidência da capacidade do<br />
homem com a plenitude da posição atingida. Acho que<br />
somente os seus impulsos de homem de ação não se<br />
acham saturados, se é que a idade madura já não os<br />
refreou...<br />
Já que me estou dirigindo a um consultor, não<br />
quero terminar sem fazer-lhe também a minha consulta.<br />
Leio no prefácio que o volume de pareceres tem “o<br />
caráter de edição privada, destinada a uso exclusivo do<br />
estabelecimento” e me sinto em dúvida se me é permitido<br />
fazer citações dos pareceres em razões forenses ou mesmo<br />
publicar estas apreciações. Será que o caráter de edição<br />
privada exclui a posse do volume por pessoas estranhas<br />
ao banco, de modo que a remessa de um exemplar a<br />
mim foi apenas um ato de estima pessoal, sem me<br />
dar o direito de qualquer invocação profissional das<br />
autorizadas opiniões? Peço-lhe uma resposta que me<br />
resolva estas dúvidas.”<br />
Meu pai iria receber, sempre, desde a publicação<br />
de seus Pareceres, notícias de referências aos mesmos,<br />
de várias partes do País, em que advogados ou juízes<br />
consultavam aquela obra, o que lhe dera um real prazer.<br />
Recentemente ainda, o professor Simplício de Souza<br />
Mendes, seu colega na Faculdade de Direito do Recife,<br />
em artigo sobre Hugo Napoleão, publicado em jornal de<br />
Teresina, iria dizer:<br />
(...)<br />
“As relações jurídicas são consideradas e<br />
discutidas com a segurança, o saber e o mérito de<br />
um jurista, que realmente, com sentimento de justiça,<br />
não se pode negar ao autor.”
81 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
(...)<br />
DEFESA DA OPERAÇÃO PAN-AMERICANA<br />
O discurso no qual o Presidente Juscelino<br />
Kubitschek se dirigiu aos embaixadores dos paísesmembros<br />
da Organização dos Estados Americanos,<br />
acreditados no Rio de Janeiro, tivera profunda repercussão<br />
não somente no Brasil como, também, no exterior,<br />
pela política clara de combate ao subdesenvolvimento<br />
continental, que pregava, propondo a sua total revisão<br />
através do movimento a que chamou de Operação Pan-<br />
Americana. Mais uma vez o Deputado Hugo Napoleão<br />
ocuparia a tribuna da Câmara dos Deputados para tecer<br />
comentários judiciosos sobre aquela operação de caráter<br />
continental e de larga envergadura, sendo dos primeiros,<br />
como já vimos, a apoiá-la publicamente, propondo,<br />
mais uma vez, a transcrição, nos Anais daquela Casa<br />
do Congresso, do importante discurso do Chefe da Nação,<br />
na sessão de 23 de junho de 1958:<br />
“Senhor Presidente, Senhores Deputados. Na<br />
qualidade de membro da Comissão de Relações Exteriores<br />
da Câmara, sinto-me no dever de tecer algumas<br />
considerações sobre um documento da mais alta valia<br />
para os povos deste continente. Refiro-me, Senhor<br />
Presidente, à monumental oração pronunciada pelo<br />
Presidente Juscelino Kubitschek na memorável noite do<br />
dia 20 deste mês sobre a chamada “Operação Pan-<br />
Americana”. Sua Excelência, com a clareza de suas<br />
frases simples, que toda a Nação já se acostumou a<br />
ouvir, traçou, de forma candente, os verdadeiros<br />
rumos de uma sadia política interamericana, cujos
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 82<br />
fundamentos podem, inclusive, ser encontrados na<br />
admirável doutrina do imortal Franklin Roosevelt.<br />
Sensível a esses notórios prenúncios de<br />
desequilíbrio que vem ameaçando a unidade americana,<br />
o Presidente brasileiro vestiu-se da coragem que nunca<br />
lhe faltou e, no momento exato, com clarividência e<br />
oportunidade, apontou aos povos do hemisfério o mal<br />
de natureza grave que tem minado o organismo de<br />
nossas nações latinas e de que os mais recentes<br />
pruridos de agitação social são indiscutível sintoma: o<br />
subdesenvolvimento.<br />
Realmente, Senhor Presidente, a pobreza gera<br />
conflitos incontroláveis e cria perigos de conseqüências<br />
imprevisíveis, sobretudo quando o desespero de que é<br />
causa ameaça contaminar, senão empolgar uma nação<br />
inteira ou um grupo de nações, unidas no mesmo<br />
destino, vítimas do mesmo mal e filhas do mesmo<br />
ideal político, social e econômico.<br />
O Brasil, que começa de maneira fecunda, sob<br />
a dinâmica do Presidente Kubitschek, o ciclo de sua<br />
industrialização, tem o dever de convidar os seus irmãos<br />
da América para a revisão de uma política interamericana<br />
que não tem frutificado de modo promissor. É preciso<br />
voltar à política de boa vizinhança, praticada sob as<br />
mais nobres inspirações, a fim de que possamos, como<br />
dantes, proclamar com orgulho a pujança de nossa<br />
união perante o mundo. Só assim poderemos participar,<br />
com destaque, das assembleias que lutam por evitar o<br />
choque entre dois mundos que já tomam posição para<br />
um combate brutal das mais terríveis conseqüências.
83 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Neste sentido, as advertências do Presidente<br />
Juscelino Kubitschek valem como um programa quando<br />
diz:<br />
“A causa ocidental sofrerá incalculavelmente se<br />
lhe faltar apoio no próprio hemisfério em que o avanço<br />
do sistema materialista encontra resistências morais<br />
mais decididas.”<br />
(...)<br />
Palavras corajosas e cheias de entusiasmo, que<br />
merecem, por isso, a solidariedade continental. Definem<br />
uma doutrina e marcam o tônus do verdadeiro panamericanismo;<br />
pan-americanismo ativo e realista, nos<br />
moldes do que S. Exª vem praticando com os povos<br />
vizinhos.<br />
Bem haja o Chanceler Macedo Soares que, num<br />
esforço que tem comovido a Nação, superando-se a si<br />
mesmo, num desdobramento de ação deveras admirável,<br />
tem sabido, com sua experiência sedimentada em grandes<br />
trunfos diplomáticos e com seu devotamento inexcedível,<br />
cumprir o Programa Kubitschek para a América, baseado<br />
na mais íntima aproximação e entendimento entre os<br />
povos do continente.<br />
Bem haja o Presidente Juscelino Kubitschek,<br />
estadista de extraordinária visão, que, com seu<br />
memorável discurso, situou-se entre os maiores paladinos<br />
da Doutrina Pan-Americana, proclamando verdades que,<br />
como acentuou,<br />
“... precisam ser ditas e reconhecidas enquanto é<br />
tempo”, já que, ainda segundo as palavras magníficas<br />
de Sua Excelência,
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 84<br />
“A união das Américas, além de um ideal, é um<br />
imperativo da nossa sobrevivência.”<br />
A franqueza, embora dura, evita desconfianças.<br />
Os povos irmãos saberão tomar as palavras do Presidente<br />
brasileiro como uma advertência amiga, como um<br />
caminho aberto para a consolidação da unidade<br />
continental, como a integração social nessa unidade<br />
continental. Assim como os Estados Unidos da América<br />
se tornaram, antes da Segunda Guerra Mundial, o<br />
arsenal das democracias, o nosso continente, nesta nova<br />
fase de incertezas universais, poderá ser convertido, com<br />
a execução da “Doutrina Kubitschek”, em laboratório<br />
criador da redenção econômica dos povos americanos.<br />
São esses os nossos votos; é essa a nossa esperança.<br />
Terminando, Sr. Presidente, solicito seja, na sua<br />
íntegra, transcrito, nos nossos Anais, o discurso do<br />
Senhor Presidente da República.”<br />
No dia 11 de julho de 1958, o Brigadeiro<br />
Francisco Correia de Melo, Ministro da Aeronáutica,<br />
procedeu à entrega, em reunião solene, da Medalha<br />
Santos Dumont a vários agraciados, especialmente<br />
congressistas, por decreto do Presidente da República,<br />
entre os quais se encontrava Hugo Napoleão.<br />
Dias depois, falando à Tribuna da Imprensa (17<br />
de julho de 1958), o Deputado Hugo Napoleão desfazia<br />
dúvidas sobre a notícia de que as tropas brasileiras<br />
que seriam enviadas para a zona do canal de Suez<br />
poderiam ser empregadas na luta que se travara no<br />
Oriente Próximo, afirmando que, sem autorização do<br />
Congresso Nacional, as tropas brasileiras que policiavam<br />
aquela zona não poderiam ser empregadas naquele
85 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
conflito, acentuando que qualquer deslocamento dos<br />
nossos pracinhas devia ser motivo de estudo por parte<br />
dos congressistas. E acentuava:<br />
“A tropa do Brasil foi enviada à zona do<br />
canal de Suez numa missão específica, com objetivo<br />
determinado. Não creio que isso implique na nossa<br />
participação numa possível guerra armada. Não temos<br />
nenhum compromisso nesse sentido. A crise do Oriente<br />
Próximo é um fato novo.”<br />
Inquirido sobre se havia possibilidade de<br />
colaboração do Brasil com os Estados Unidos da América,<br />
afirmou o Deputado Hugo Napoleão:<br />
“Fizemos uma lei para que os pracinhas fossem<br />
para Suez. Qualquer alteração sob esse aspecto deve ser<br />
motivo de mensagem ao Executivo. Como membros do<br />
Legislativo nos falece competência para deliberar por<br />
iniciativa própria.”<br />
Os jornais, em agosto de 1958, anunciavam a<br />
intenção do líder da Oposição, Deputado Afonso Arinos, de<br />
ocupar novamente a tribuna da Câmara dos Deputados<br />
para analisar a Operação Pan-Americana e a visita do<br />
Secretário de Estado, John Foster Dulles, ao Brasil.<br />
Anunciavam, também, que aquele representante da UDN<br />
coligia dados e fazia anotações para servirem de base<br />
ao seu próximo discurso. Em vista disso, o Correio da<br />
Manhã, de 10 de agosto de 1958, já falava na futura<br />
resposta a ser dada, em nome da maioria:<br />
“Para responder ao líder oposicionista, o líder<br />
da Maioria, Deputado Armando Falcão, está cogitando
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 86<br />
de delegar poderes ao vice-líder de sua bancada,<br />
Sr. Octacílio Negrão de Lima, que é irmão do Ministro<br />
das Relações Exteriores.<br />
Também, o Sr. Hugo Napoleão, que já foi<br />
presidente da Comissão de Relações Exteriores da<br />
Câmara e é reconhecida autoridade em direito<br />
internacional, será convocado pelo Sr. Armando Falcão,<br />
para colaborar na resposta que a Maioria oferecerá<br />
nos próximos dias ao discurso do líder oposicionista.<br />
A reabertura dos trabalhos da Câmara deverá<br />
oferecer, assim, debates acirrados entre Maioria e<br />
Oposição, ato que não ocorria há algumas semanas no<br />
Palácio Tiradentes.”<br />
Parece que o destino, com a sua mão mágica,<br />
havia determinado que o Deputado mineiro e o piauiense,<br />
velhos amigos e companheiros de trabalho de outros<br />
tempos, se defrontassem novamente, como que para<br />
manter, sempre que isso acontecia, quer em debates<br />
de política interna, quer em discussões de política<br />
externa, um ambiente de elevação e cultura que<br />
honravam as boas tradições da Casa do Congresso a<br />
que pertenciam. Os Deputados Afonso Arinos e Hugo<br />
Napoleão se defrontavam novamente, traçando normas<br />
em defesa dos pontos de vista da Oposição e do Governo.<br />
No dia 13 de agosto de 1958, o Correio da<br />
Manhã dizia que seria o Deputado Hugo Napoleão o<br />
representante da Maioria indicado para responder ao<br />
discurso do líder da Minoria, Deputado Afonso Arinos.<br />
O Sr. Hugo Napoleão, conforme antecipou o<br />
Correio da Manhã, foi designado pelo líder da Maioria<br />
para responder ao discurso de ontem do Sr. Afonso
87 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Arinos sobre a chamada “Operação Pan-Americana”, e a<br />
visita do Sr. Foster Dulles ao Brasil.<br />
O deputado piauiense vai demorar, entretanto,<br />
alguns dias para fazer seu discurso. Acha ele, como<br />
nos declarou, serem precisos alguns dias para apurar<br />
certos fatos mencionados pelo líder da Oposição.<br />
Para o Sr. Hugo Napoleão, o discurso do líder<br />
oposicionista foi mais literário do que político. Considera<br />
que nenhum fato novo de importância foi levantado.<br />
Por isso, supõe que sua tarefa será bem facilitada.<br />
A Resenha Política do Diário da Noite, de 18<br />
de agosto de 1958, se referia já ao discurso que o<br />
Deputado Hugo Napoleão pretendia pronunciar:<br />
O Deputado Hugo Napoleão ocupará, na sessão<br />
de segunda-feira, a tribuna da Câmara para, em nome<br />
da Maioria parlamentar, oferecer resposta ao último<br />
discurso do Sr. Afonso Arinos referente à política<br />
exterior. O representante piauiense, na parte preliminar<br />
de sua fala, pretender formular a conceituação histórica<br />
do pan-americanismo, ressaltando as constantes dessa<br />
doutrina até os dias presentes, para chegar à conclusão<br />
de que a iniciativa do Presidente Juscelino Kubitschek<br />
se enquadra naqueles princípios. Na parte central de<br />
seu discurso, o Deputado Hugo Napoleão examinará,<br />
ponto por ponto, as afirmações do representante mineiro<br />
da Oposição, opondo-lhe as indispensáveis refutações e<br />
focalizando, em último lugar, os aspectos da participação<br />
do Congresso nos assuntos da política externa.”
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 88<br />
O Correio da Manhã, de 17 de agosto de 1958,<br />
anunciava, também, com antecedência, o discurso que<br />
pronunciaria o representante piauiense comentando o<br />
interesse que o assunto despertava:<br />
“O Deputado Hugo Napoleão, do PSD piauiense,<br />
vai ocupar a tribuna da Câmara na sessão de<br />
amanhã, para fazer a defesa da “Operação Pan-<br />
Americana”. A propósito, o representante pessedista<br />
afirmou-nos que iniciará sua oração fazendo um estudo<br />
do pan-americanismo, a fim de acentuar que a política<br />
preconizada pelo Senhor Juscelino Kubitscheck no<br />
hemisfério se ajusta às diretrizes históricas desse movimento.<br />
A seguir, refutará ponto por ponto, as críticas<br />
feitas no início da semana pelo líder da Oposição, mas<br />
deixará de lado as questões marginais focalizadas pelo<br />
líder oposicionista.”<br />
O Diário Carioca, de 17 de agosto de 1958, sob<br />
o título Defesa do Pan-Americanismo, alongou-se em<br />
considerações sobre o anunciado discurso do Deputado<br />
Hugo Napoleão, ao mesmo tempo em que se referia ao<br />
pedido de licença do Presidente Juscelino Kubitschek<br />
para visitar a Argentina, em vista do convite que lhe<br />
foi feito pelo Presidente Arturo Frondizi, dirigente da<br />
nação irmã:<br />
“Na mesma sessão da Câmara (amanhã) em<br />
que chegará a mensagem do Presidente da República,<br />
pedindo licença para ausentar-se do País, a fim de<br />
visitar a Argentina em outubro, o Deputado Hugo<br />
Napoleão responderá ao discurso do líder Afonso Arinos<br />
sobre as novas diretrizes da política externa brasileira.
89 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
O ex-Presidente da Comissão de Relações<br />
Exteriores da Câmara dos Deputados pretende, sobretudo,<br />
rebater as críticas da Oposição aos fundamentos e ao<br />
processo da Operação Pan-Americana, que é a dinâmica<br />
da Doutrina Kubitschek.<br />
A primeira parte do discurso do Sr. Hugo<br />
Napoleão constará de um histórico do pan-americanismo e<br />
da definição do seus pontos fundamentais. À luz desses<br />
elementos, o deputado pessedista provará que a política<br />
diplomática do Brasil, no continente, mantém-se fiel às<br />
suas raízes e coincide com os objetivos pan-americanistas<br />
que o Governo Kubitschek apenas pretende ver realizados<br />
com mais objetividade.<br />
O Sr. Hugo Napoleão antecipa que deixará sem<br />
comentários vários itens do discurso do Sr. Afonso<br />
Arinos, que fugiram do assunto a que se destinava,<br />
enveredando pelo campo da luta política interna. Pretende<br />
não sair do plano político internacional, e nesse plano<br />
dedicar-se ao capítulo da Operação Pan-Americana.<br />
A esse propósito, o ex-presidente da Comissão de<br />
Relações Exteriores deseja revelar alguns resultados que<br />
comprovam, desde já, a acertada orientação da OPA.<br />
O pedido de licença do Presidente Kubitschek<br />
deverá ser votado por toda a semana entrante,<br />
provavelmente na sessão de quarta-feira. A Câmara tem<br />
estado sem número para deliberações, mas a liderança<br />
oposicionista já assegurou ao Deputado Armando Falcão<br />
que não fará objeções à viagem de JK, que considerou<br />
de simples cortesia ao país vizinho.”<br />
O Deputado Hugo Napoleão costumava dizer<br />
que esse seu discurso seria o seu canto de cisne, em<br />
vista de sua resolução de não concorrer à reeleição.
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 90<br />
Nessa ocasião, além dos aborrecimentos motivados<br />
pelas últimas ocorrências políticas de sua terra, tinha<br />
um outro motivo sério para andar preocupado, ele que<br />
sempre foi um homem confiante, o que levava o<br />
Deputado Afonso Arinos, certa vez, como vimos, a dizer<br />
que seu colega via tudo com os olhos de Pangloss.<br />
É que, naquele momento, uma perspectiva sombria<br />
realmente enevoara o seu ânimo de lutador. Sofria de<br />
catarata nas duas vistas, menos numa do que na<br />
outra, o que o entristecia, não desejando entregar-se<br />
à realidade. Supusera, mesmo, a princípio, que estava<br />
perdendo a vista, pouco a pouco, chegando, certa vez,<br />
nas suas funções parlamentares, a necessitar ler um<br />
documento em plenário sem conseguir enxergar o que<br />
continha o papel que segurava nas mãos. Foi nesse<br />
momento que o Deputado Hugo Napoleão mais<br />
se aplicou, com apurado interesse, ao estudo do<br />
pan-americanismo, lançado pelo Presidente Juscelino<br />
Kubitschek. Os Deputados Afonso Arinos e Carlos Lacerda,<br />
Líderes da minoria e da UDN, cerrando ataque frontal<br />
combinado ao seu discurso, mal poderiam supor, naquele<br />
momento, o que se passava no íntimo do velho<br />
parlamentar. Com a sua juventude e ardor de moços<br />
não pouparam o orador que defendia a obra do governo.<br />
Confesso que, sem dizer a meu pai, fui ao Palácio<br />
Tiradentes, nesse dia, para ouvi-lo, colocando-me na<br />
tribuna dos fundos do plenário, de onde pude assistir<br />
ao torneio parlamentar que se realizava entre o<br />
orador e aquelas duas figuras vigorosas da Oposição. E<br />
fiquei orgulhoso de meu pai, que rugia como um leão<br />
acuado, toda vez em que os apartes dos dois adversários,<br />
como setas consecutivas, não cessavam e eram atiradas
91 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
contra o orador, que as devolvia, com o ardor de sua<br />
passada mocidade, animado, sem mesmo o sentir pelo<br />
seu velho espírito de luta. Creio que aquele foi o dia<br />
culminante de sua carreira política, em que qualquer<br />
piauiense se sentiria honrado de ver que era representado<br />
naquela Casa do Parlamento nacional por um digno<br />
representante de seu Estado. O discurso que proferia,<br />
as respostas aos apartes que lhe eram dados<br />
provocaram revide imediato do líder da Minoria, que<br />
seria, por sua vez, entrecortado pelos apartes do<br />
defensor do Governo. Aquele seria, realmente, o seu<br />
último discurso importante na Câmara dos Deputados,<br />
antes de seu afastamento político. Terminava o seu<br />
mandato como o iniciara, em plena luta parlamentar,<br />
na arena dos debates oratórios, naquela mesma Câmara<br />
dos Deputados em que estreara em sua mocidade,<br />
em 1927. Tinha 66 anos de idade e, apesar da fadiga<br />
física que já sentia, em conseqüência de sua vida de<br />
lutador perene, estava com a mente lúcida, o raciocínio<br />
claro, o pensamento lógico, como se verá pela oração<br />
que proferiu, a 18 de agosto de 1958, e as respostas<br />
que deu aos seus adversários políticos. (Anexo 37).<br />
ANEXO 37 (20)<br />
O SENHOR PRESIDENTE – Tem a palavra o<br />
Sr. Hugo Napoleão, por delegação do líder da maioria.<br />
(20) Transcrição parcial do Anexo 37, do livro UM LUTA<strong>DO</strong>R<br />
HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO –<br />
Centro Gráfico do Senado Federal – 1992 – Brasília – DF.
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 92<br />
O Sr. HUGO NAPOLEÃO – Senhor Presidente e<br />
Senhores Deputados, no seu longo e bem elaborado<br />
discurso de terça-feira passada, aqui pronunciado, o<br />
meu ilustre colega e prezado amigo, Professor Afonso<br />
Arinos, focalizou, de início, a atuação de estadistas e<br />
diplomatas brasileiros nas fases por que tem passado<br />
o pan-americanismo. Desejo, também, inicialmente,<br />
referir-me à evolução da doutrina política, não para<br />
encará-la somente do ângulo brasileiro, pois o panamericanismo<br />
é um ideal dos povos americanos, expresso<br />
pela voz de vários estadistas, de vários países em várias<br />
ocasiões, mas, para frisar que, nas suas etapas,<br />
salientam-se duas constantes, dois aspectos invariáveis:<br />
a convivência amiga ou boa vizinhança, para usar a<br />
expressão do Tratado de 1750, e a união, a solidariedade<br />
para a defesa dos povos e das nações do continente. É<br />
evidente que outros fatores de ordem social, política,<br />
econômica e cultural, nos momentos propiciados, influíram<br />
na marcha do pan-americanismo, mas esses dois foram o<br />
móvel principal, a razão de ser, por assim dizer, dessa<br />
doutrina política, desses sistemas de vida dos povos do<br />
nosso continente.<br />
Na realidade, na primeira fase, se inicia<br />
com a ação de Alexandre de Gusmão e, ao meu ver,<br />
vai até a Conferência de Washington de 1889, fase que<br />
foi chamada de fase de esperança.<br />
O pan-americanismo nos seus primórdios se<br />
expressava no sentido do alheamento das colônias em<br />
relação aos conflitos ou guerras entre as metrópoles<br />
européias da Península Ibérica e no receio das ameaças<br />
imperialistas da Santa Aliança. Como é fácil de observar<br />
antes mesmo de constituídos em países soberanos e<br />
independentes, já havia a idéia de se unirem os povos
93 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
americanos para a defesa do seu todo. É que, desde<br />
então, estava percebida a verdade que, mais tarde,<br />
muito mais tarde a frase genial de Rui Barbosa vinha<br />
expressar: “A América não é um agregado eventual de<br />
grupos humanos, mas um todo providencial”.<br />
Na primeira fase vêem-se atitudes diversas, ora<br />
meramente pessoais ora de grupos de nações, no sentido<br />
dessa predominante de defesa. Entre aqueles se alinham<br />
as de John Adams, nos fins do século XVIII, a de George<br />
Washington, na sua mensagem de despedida ao Congresso<br />
Americano, em 1796, de Thomas Jefferson, Henry Clay, de<br />
José Bonifácio, em 1822, a de Bolívar, na sua célebre<br />
“carta profética”, avultando, entre todas a declaração de<br />
Monroe no sentido da solidariedade continental, que cem<br />
anos mais tarde, na Conferência de Havana, se transformou<br />
em preceito adotado por todas as nações do continente.<br />
Entre as últimas podem ser citadas a tentativa<br />
malograda da Confederação das Nações Americanas no<br />
Congresso do Panamá de 1826, o Congresso de Lima, de<br />
1847, a Assembléia de Lima de 1869, e por fim a<br />
Conferência de Washington em 1889.<br />
Na segunda fase, que vai dessa Conferência de<br />
Washington até os nossos dias, na qual a doutrina<br />
pan-americana tomou corpo, se dilatou e se estruturou<br />
juridicamente, aquela defesa continuou sendo sua razão<br />
precípua, espécie de imperativo do destino alimentado pelo<br />
desenrolar natural ou extraordinário dos fatos <strong>históricos</strong>.<br />
Dentro dessa segunda fase de estruturação<br />
jurídica do pan-americanismo, consolidaram-se até a<br />
Segunda Guerra Mundial as normas para a solução<br />
pacífica dos conflitos e controvérsias, os direitos e deveres<br />
dos Estados, os direitos do homem, como personalidade
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 94<br />
central do mundo jurídico em nossa organização<br />
democrática do Estado, cogitaram-se de processos e meios<br />
de cooperação para desenvolver as condições econômicas<br />
e sociais dos povos americanos, traçaram-se planos<br />
para estimular a construção de vias de comunicação,<br />
entre as diversas nações irmãs do Continente,<br />
fortaleceu-se, em suma, por todos os modos e meios o<br />
sentido da unidade, de fraternidade, de vinculação efetiva<br />
diante dos problemas comuns, relativos ao progresso e à<br />
defesa do hemisfério, visando a robustecer os princípios<br />
que regem a vida democrática, pela qual lutaram<br />
nossos libertadores, bem como as gerações que os<br />
sucederam. De fato, nem eles abriram mão nem nós<br />
abandonaremos jamais o estilo de vida que assegura a<br />
liberdade pessoal e a soberania de nossos povos.<br />
Todo esse trabalho de estreitamento de relações,<br />
e criação de elos jurídicos positivos, de estruturação de<br />
princípios foi obra de várias Conferências pan-americanas,<br />
em Washington, México, Rio de Janeiro, Santiago,<br />
Havana, Montevidéu e Lima, em algumas das quais o<br />
Sr. Afrânio de Melo Franco, pai do nobre colega Afonso<br />
Arinos, teve ação destacada.<br />
Mas a solidariedade continental, esse sentimento<br />
de destino comum, de uns pelos outros, de unificação<br />
de esforços pela sobrevivência do conjunto americano,<br />
de luta pela defesa do “todo providencial”, da frase de<br />
Rui, essa solidariedade continental, em face do perigo<br />
de conflito mundial, teve seu início de corporificação,<br />
na famosa Conferência Interamericana de Consolidação<br />
da Paz, de Buenos Aires, em 1936, reunida por iniciativa<br />
de Roosevelt. Nela se estabeleceu o sistema de consulta<br />
entre os países do Continente, diante de fatos graves,<br />
para a comunidade americana. Esse instrumento de ação
95 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
foi a mola de novos entendimentos para a defesa do<br />
hemisfério, com as reuniões dos Ministros das Relações<br />
Exteriores no Panamá, Havana e Rio de Janeiro, esta<br />
logo após Pearl Harbour. Essas reuniões se constituíram<br />
em marcos decisivos nos entendimentos pela defesa<br />
comum, pois delas resultou a solidariedade ampla firmada<br />
em compromissos, livremente assumidos, que passaram a<br />
prevalecer como princípios assentados na ordem jurídica<br />
pan-americana. A neutralidade dos países do hemisfério<br />
diante da agressão contra um deles foi afastada,<br />
alinhando-se eles ao lado do agredido.<br />
Estava vitoriosa a tese antes defendida em<br />
algumas conferências pan-americanas, de que o ataque<br />
contra uma nação americana deveria ser considerado<br />
como ataque a todas. Estava consagrada a idéia de que<br />
todo o Continente Americano deve ser defendido em<br />
conjunto, para maior e pela garantia particular de cada<br />
um dos seus componentes.<br />
E o pan-americanismo segue, aprimorando-se,<br />
logo após a guerra de 1945, decidiu-se, em Chapultepec,<br />
dar estrutura jurídica definitiva à associação dos países<br />
americanos, iniciada de forma efetiva em 1889, bem como<br />
elaborar um instrumento que fixasse normas amplas para<br />
a defesa dos países continentais. O Tratado Interamericano<br />
de Assistência Recíproca, firmado no Rio de Janeiro,<br />
em 1947, corporificou essas normas. A Conferência de<br />
Bogotá, de 1948, onde o eminente chanceler João Neves<br />
da Fontoura teve ação decisiva e brilhante, realizou<br />
o anseio de dar ao Pan-americanismo a sua completa<br />
estruturação jurídica, criando a Organização dos Estados<br />
Americanos, com sua Carta e seus órgãos de ação.
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 96<br />
Assentada assim a formulação jurídica para a<br />
defesa comum diante de agressores externos ou mesmo<br />
internos, questão vital para a soberania e sobrevivência<br />
de cada país continental, avultaram desde logo os<br />
problemas igualmente ligados à soberania e sobrevivência,<br />
ou sejam os relativos a questões econômicas e sociais.<br />
Sobretudo nesse segundo após guerra preocupam-se<br />
os países americanos com os graves aspectos do<br />
subdesenvolvimento neles existentes. Diversas iniciativas<br />
foram aviltradas, inclusive a da criação de um banco,<br />
fundo, ou que nome possa ter, para aliviar o progresso<br />
de áreas de intenso pauperismo no hemisfério.<br />
Essa necessidade de vivificar a economia<br />
americana em geral, de aumentar o volume e a troca<br />
de riqueza, de estimular o trabalho, de fomentar a<br />
construção de obras de serviço público, de acelerar a<br />
expansão de indústrias-base, enfim, de criar fontes<br />
novas destinadas a assegurar a elevação dos níveis<br />
de vida das populações americanas, passou a ter um<br />
sentido não somente estritamente econômico e social, mas<br />
configurou-se, também, como medida de estratégia<br />
defensiva, pois que o regime democrático não vencera<br />
o da opressão, o Ocidente não superará o Oriente pela<br />
simples força dos argumentos, mas pelo florescimento<br />
de suas fontes de recursos, de atividade, de iniciativa<br />
destinada ao enriquecimento geral dos povos,<br />
proporcionando um bem-estar, um nível de vida, uma<br />
difusão de cultura que tornem o homem um decidido<br />
defensor do seu sistema de vida, sistema filosófico<br />
de vida, de regime de liberdade e democracia em que<br />
vive, e, portanto, do seu país e da sua comunidade<br />
americana.
97 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
E os países do hemisfério, concentrados no<br />
esforço à procura de meios para esses fins, não<br />
descuidaram de fundar, dentro da Organização dos<br />
Estados Americanos, um órgão que realizasse estudos<br />
naquele sentido, que apresentasse trabalhos e sugestões<br />
para o desenvolvimento econômico das Américas. Muito<br />
já se tem produzido, nesses últimos anos, o Conselho<br />
Interamericano Econômico e Social, embora muitas<br />
críticas lhe tenham sido feitas quanto ao rendimento<br />
de sua operosidade, diante dos trabalhos do órgão simular<br />
das Nações Unidas, a CEPAL (Comissão Econômica e<br />
Social para América Latina)¸ com sede em Santiago.<br />
O pan-americanismo, assim transformado em<br />
sistema político-jurídico, reclama, nos nossos dias,<br />
repita-se mais uma vez, novos meios de defesa,<br />
através da superação do subdesenvolvimento de que<br />
ainda sofrem alguns países do nosso hemisfério, para a<br />
manutenção dos princípios que ele pan-americanismo<br />
encerra. Daí a iniciativa da Operação Pan-Americana,<br />
sugerida, pelo eminente Presidente Juscelino Kubitscheck,<br />
que vai, sem dúvida, se constituir em novo marco, em<br />
início de nova fase do pan-americanismo.<br />
Sr. Presidente, na realidade, ninguém ignora<br />
que o mundo está hoje dividido em duas porções, em<br />
dois blocos, que se separam em opostas concepções,<br />
opostos sistemas de vida, opostas doutrinas políticas.<br />
Um, aquele em que nos incluímos, vivendo sob regime<br />
democrático, assegurando o exercício, o gozo de todas as<br />
liberdades humanas. O outro, o oriental, vivendo sob<br />
regime de força e proscrevendo aquelas liberdades. Este,<br />
procurando expandir-se, procurando avassalar todas as<br />
regiões do globo com a imposição dos seus métodos de<br />
vida, a sua doutrina, o seu sistema político. Daí, a
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 98<br />
ameaça que paira sobre nós, daí a necessidade de novos<br />
meios de defesa para a integridade física, política e<br />
social do nosso continente, fundamento precípuo do panamericanismo.<br />
Essa defesa, porém, não será possível,<br />
nem eficaz, se a grande maioria das nações continentais<br />
continuarem em estado de subdesenvolvimento. Foi isso<br />
que lhe inspirou a iniciativa da chamada “Operação<br />
Pan-Americana”, consubstanciado na carta dirigida ao<br />
Presidente Eisenhower e no seu memorável discurso de<br />
20 de junho.<br />
(...)<br />
Estou convencido, Sr. Presidente, que essas<br />
iniciativas do Sr. Presidente Juscelino Kubitschek alça<br />
a política externa do Brasil àquele ideal que para ela<br />
reclama o nobre líder da minoria. Na verdade, de tudo<br />
quanto se pode desejar como necessário à atuação<br />
do Brasil na vida internacional do Continente está<br />
compreendida na iniciativa do Governo brasileiro: a luta<br />
contra o subdesenvolvimento econômico, o interesse das<br />
Américas de se prepararem para a eventualidade de<br />
um conflito entre as duas forças, em que se divide<br />
o mundo, o sentimento cristão em face das forças<br />
materialistas, a necessidade de progresso dos povos do<br />
hemisfério, a clara concepção de defesa nacional, de<br />
necessidade da união efetiva dos povos americanos.<br />
(...)<br />
O Sr. HUGO NAPOLEÃO – Esse aspecto, sem<br />
a menor importância, a que V.Exª se referiu, nada<br />
tem em si com a organização pan-americana. É um<br />
assunto ao qual V.Exª está querendo dar, neste<br />
momento, importância, que, na realidade, não tem.
99 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
O Sr. Presidente da República, na sua<br />
entrevista ao New York Times, declarou que “o que o<br />
Brasil fez foi colocar, perante a opinião pública das<br />
Américas, um problema delicado, que deve ser definido,<br />
analisado e estudado em profundidade”. Tudo quanto<br />
propôs o Governo brasileiro foi que os países americanos<br />
se reunissem e se consultassem sobre assunto de<br />
interesse comum, em torno do combate ao subdesenvolvimento,<br />
para aumentar seus recursos de defesa.<br />
Que forma outra poderia ser dada ao encaminhamento<br />
inicial de uma simples sugestão?<br />
Tomada em consideração, aceita e aplaudida,<br />
como já o foi, será, conforme já ficou alvitrado na<br />
Declaração de Brasília, levada a estudo e discussão da<br />
Organização dos Estados Americanos.<br />
Cabe, aqui, Senhor Presidente, consignar fatos da<br />
ação diplomática brasileira que, se não se constituem<br />
propriamente em preliminares da Operação Pan-Americana,<br />
propiciaram, todavia, uma melhor auscultação dos<br />
problemas americanos e determinaram, em maior escala,<br />
maior aproximação do Brasil com as repúblicas sulamericanas,<br />
bem como a prática da verdadeira, da<br />
real política de boa vizinhança, já não somente daquela<br />
boa vizinhança de Alexandre de Gusmão, mas a<br />
daquela boa vizinhança, traduzida em efetiva colaboração<br />
econômica, ajuda recíproca e cooperação para resolver<br />
problemas fundamentais nossos e dos outros países,<br />
preconizada por Franklin Roosevelt, isto é, boa<br />
vizinhança com interdependências. Refiro-me, Senhor<br />
Presidente, em primeiro lugar, às repetidas visitas do<br />
eminente Chanceler Macedo Soares, o insigne Mediador
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 100<br />
da Paz do Chaco, a países americanos. Refiro-me, ainda,<br />
e principalmente, aos tratados que celebramos com a<br />
Bolívia e o Paraguai, em conseqüência dos quais temos<br />
propiciado a estes países a remoção das dificuldades<br />
que lhes resultam da sua insularidade mediterrânea,<br />
trazendo-os ao oceano Atlântico.<br />
(...)<br />
O Sr. HUGO NAPOLEÃO – (...)<br />
Conforme tenho dito e redito, não sou um<br />
espírito empedernido, não podendo, por isso, ser infenso<br />
à evolução das ciências, das artes ou de qualquer<br />
ramo do conhecimento ou da atividade humana. No<br />
campo do Direito, especialmente, sou adepto do conceito<br />
de Rippert quando, no seu magnífico livro As Forças<br />
Criadoras do Direito, diz: “Mas o jurista que denuncia<br />
o atraso, o envelhecimento de certas regras e propõe<br />
outras, não tem o objetivo de abalar o estatismo do<br />
direito.” Para ele, o espírito de reforma se concilia<br />
perfeitamente com o espírito de conservação. Fazer reparo<br />
num edifício velho, é impedir o risco de desabamento.<br />
A adaptação de regras antigas a novas situações é uma<br />
forma feliz da conservação. Admito, como não podia<br />
deixar de admitir, as modificações, as reformas, as<br />
transformações do Direito, pois que deve ele obedecer à<br />
evolução dos fatos sociais, da estrutura da sociedade,<br />
cuja vida, cujo modo de condução ele disciplina.<br />
Mas, daí até achar que a lei, especialmente<br />
a lei das leis, a Constituição, possa ser relegada,<br />
descumprida, ao talante de opiniões, de doutrinas, que<br />
por vezes não refletem necessidades sociais sentidas, a<br />
distância é muito grande. Neste caso a reparação, em<br />
vez de conservar, destruiria o edifício. Não estou longe
101 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
de admitir que o Congresso de hoje, como o nosso,<br />
penetrado da vontade popular, na frase do nobre<br />
colega Afonso Arinos, deve exercer maior colaboração<br />
no desenvolvimento da política externa. Mas modus in<br />
rebus. Poderemos chegar a isso, não transformando-o em<br />
agente diplomático, não erigindo-o em diretor e executor<br />
da política externa, o que iria ferir a independência<br />
dos poderes constitucionais.<br />
Poderemos chegar lá, isto é, à colaboração no<br />
desenvolvimento da política externa, mas, dentro de<br />
certos limites, de forma a não exercermos atos de<br />
execução. Poderemos lá chegar, mas, pelos meios<br />
regulares, ela reforma da Constituição, que, no momento,<br />
atribui ao Chefe do Poder Executivo a orientação, a<br />
direção da política externa.<br />
Nesse particular da intromissão do Congresso<br />
em assuntos de política externa, além dos limites<br />
da sua competência constitucional, ou ferindo aquele<br />
princípio fundamental da independência dos poderes,<br />
prefiro continuar como estudante respeitador do direito<br />
constituído, em vez de professor de jure constituendo.<br />
(...)<br />
O Sr. HUGO NAPOLEÃO – É possível.<br />
Sr. Presidente, finalizando:<br />
A Constituição é contrária à intromissão do<br />
Congresso na direção da política externa.<br />
Sr. Presidente, conforme já acentuou o meu<br />
nobre amigo Sr. Afonso Arinos, quando aqui contendemos<br />
a respeito da tese da união nacional, eu sou um<br />
otimista. Continuo otimista em relação ao Brasil. Sou
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 102<br />
também otimista em relação ao completo êxito da<br />
Operação Pan-Americana.<br />
Se Deus inspirar e abençoar a ação dos<br />
homens de governo na conjugação de esforços das nações<br />
americanas pela efetivação da Operação Pan-Americana,<br />
o bem-estar social, a segurança e a alegria de viver<br />
se instalarão nas Américas e a paz, talvez, venha a<br />
reinar no Mundo.<br />
(Muito bem! Muito bem! Palmas. O orador é cumprimentado.)<br />
(...)<br />
O Deputado Hugo Napoleão, no exercício de suas<br />
funções parlamentares, e nas atividades políticas nunca<br />
emprestou à sua atuação política partidária, o caráter de<br />
inimizade aos adversários. Sempre cultivou as melhores<br />
amizades com os elementos políticos das hostes adversas<br />
às suas. Através das vicissitudes e mudanças políticas<br />
do País, como o desaparecimento e a formação de novas<br />
agremiações, teve, em seus adversários, muitos dos seus<br />
melhores amigos pessoais, o que nunca contribuiu para<br />
que deixasse de bater-se leal e demoradamente pelos<br />
seus pontos de vista do seu partido, com todo o<br />
ardor de que era capaz, saindo sempre, respeitado pelos<br />
homens de responsabilidade dos partidos contrários. (21)<br />
(21) ALUÍZIO NAPOLEÃO, embaixador da República – Um Lutador Hugo<br />
Napoleão e Sua Época, pp. 265, 266, 267, 268, 691, 692, 693, 694, 695,<br />
270, 695, 696, 697, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278, 478, 488,<br />
489, 490, 491, 492, 493, 751, 752, 753, 754, 755, 756, 760, 761, 766, 770,<br />
494 – Centro Gráfico do Senado Federal – 1992 – Brasília – DF.
103 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Vale ressaltar alguns retratos que constam da<br />
Iconografia da obra UM LUTA<strong>DO</strong>R HUGO NAPOLEÃO E<br />
SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO:<br />
Deputado Hugo Napoleão, em palestra com o Presidente<br />
Antônio Carlos, em 1935, sobre a escolha do Líder da<br />
Maioria da Câmara dos Deputados.<br />
Hugo Napoleão em São Paulo (1943), discursando no<br />
batismo de aviões oferecidos pelo Banco do Brasil ao<br />
Aeroclube de São Paulo, vendo-se, ao seu lado,<br />
o jornalista Assis Chateaubriand, incentivador do<br />
desenvolvimento da aviação no Brasil.<br />
Hugo Napoleão com a família de Carvalho de Mendonça,<br />
ao ser inaugurado, no Palácio da Justiça, o busto<br />
daquele Jurisconsulto, em 1943, cerimônia de que<br />
foi o orador.<br />
O Deputado Hugo Napoleão saúda o Governador de Minas<br />
Gerais então candidato do PSD à Presidência da<br />
República, em fevereiro de 1955, no início de sua<br />
campanha política. Veem–se no palanque armando<br />
no Palácio de Karnak em Teresina, entre outros, o<br />
Governador Pedro Freitas, o Governador eleito<br />
Gayoso e Almendra e os Senadores Magalhães Barata<br />
e Vitorino Freire.<br />
O Presidente JK recebendo, no Palácio do Catete, o<br />
Arcebispo de Teresina, Dom Avelar Brandão, e os<br />
Deputados Hugo Napoleão e Sigefredo Pacheco, do<br />
Piauí (década de 50).<br />
Hugo Napoleão profere o discurso de despedida, em 1954,<br />
do Banco do Brasil, na solenidade de inauguração do<br />
retrato no Departamento do Contencioso do Banco do<br />
Brasil.
ALUÍZIO NAPOLEÃO – 104<br />
Fotografia da delegação brasileira à Conferência<br />
Econômica Internacional de Rye, Nova Iorque (1944). Da<br />
esquerda para a direita: Mariano Ferraz, Luís Dodsworth<br />
Martins, João Daudt de Oliveira (Chefe), Euvaldo Lodi,<br />
Artur Lacerda Pinheiro, Alberto S. Oliveira e Hugo<br />
Napoleão.<br />
O deputado Hugo Napoleão, presidente da Comissão de<br />
Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e o<br />
seu filho, então ministro Aluízio Napoleão, chefe do<br />
cerimonial da Presidência da República. Fotografia<br />
feita na Academia Brasileira de Letras, na posse do<br />
escritor Álvaro Lins, então chefe do Gabinete Civil do<br />
presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (Década<br />
de 50).<br />
O então Ministro das Relações Exteriores, José Carlos<br />
de Macedo Soares, ao ser recebido na Comissão de Diplomacia e<br />
Tratados da Câmara dos Deputados, pelo seu Presidente,<br />
Deputado Hugo Napoleão (1957).<br />
DA<strong>DO</strong>S BIOGRÁFICOS<br />
Aluízio Napoleão de Freitas Rêgo nasceu em Belém,<br />
Estado do Pará, em 20 de novembro de 1914, sendo seus<br />
pais Hugo Napoleão do Rêgo e Matilde de Freitas Rêgo.<br />
(...) Removido para a Embaixada do Brasil em Paris,<br />
onde exerceu as funções de Primeiro Secretário (1951/1953)<br />
(...) Conselheiro das Embaixadas do Brasil em Paris (1953)<br />
e Ancara (1954/1955). (...) Promovido, por merecimento, a<br />
Ministro de 1ª classe (1960) (...) Embaixador do Brasil em<br />
Teerã (1961/1969) (...) Embaixador do Brasil em Estocolmo<br />
(1969/1975) (...) Embaixador do Brasil em Pequim (1975).<br />
Eleito membro da Academia Piauiense de Letras (1983)
105 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
SÉRGIO DARCY E A ESTRELA SOLITÁRIA<br />
SÉRGIO DARCY<br />
Presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 a 1939 e 1963)<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1963 / 1966)<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO<br />
Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil<br />
1995 / 1998 – 2001, 2004 / 2007-2010<br />
Nos idos de 1963, Ney Neves Galvão,<br />
presidente do Banco do Brasil, nomeou o advogado<br />
Sérgio Darcy para o cargo de consultor jurídico, em<br />
substituição de João Neves da Fontoura, falecido em<br />
março daquele ano. Ainda em 1963, Sérgio Darcy<br />
assumia, pela segunda vez, a Presidência do Botafogo<br />
de Futebol e Regatas.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 106<br />
A trajetória profissional de Sérgio Darcy<br />
começou nos idos de 1925, quando James Darcy, que<br />
dirigiu os destinos do Banco do Brasil (2/1/1925 a<br />
16/11/1926), o nomeou secretário particular do presidente.<br />
Antes de prestar homenagem ao consultor<br />
jurídico, fazemos uma retrospectiva da vida de James<br />
Darcy, pai de nosso homenageado. Dos 27 aos 31<br />
anos de idade, exerceu mandato de deputado federal,<br />
representando o Rio Grande do Sul.<br />
Retirando-se da política, manteve banca de<br />
advogado. Por longo período, foi consultor jurídico da<br />
Associação Comercial do Rio de Janeiro. No governo de<br />
Epitácio Pessoa, o advogado James Darcy assume as<br />
funções de Consultor Geral da Presidência da República.<br />
Nos idos de 1921, ao ensejo da realização do<br />
4° Centenário de Morte de Dante Alighieri, no Theatro<br />
Municipal do Rio de Janeiro, profere palestra sobre a vida<br />
e a obra do autor da Divina Comédia, na presença do<br />
Corpo Diplomático e do presidente Epitácio Pessoa .<br />
Herdado do pai o mesmo amor às causas<br />
nobres, Sérgio Darcy demonstrou respeito e dignidade<br />
à frente da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil.<br />
Anteriormente, assumiu a direção do Departamento do<br />
Contencioso. E, contando o tempo de exercício, foram<br />
4 décadas servindo ao Banco do Brasil. O primeiro<br />
funcionário de carreira a exercer as funções de consultor<br />
jurídico.
107 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Com os méritos reconhecidos pelo Banco do<br />
Brasil, antes da posse na Consultoria Jurídica, Sérgio<br />
Darcy foi homenageado no banquete de gala realizado,<br />
em 26/4/1963, no salão nobre do Clube Comercial. O<br />
advogado Armando Serzedelo Corrêa, em nome da<br />
Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, usou a palavra<br />
para enaltecer, com viva emoção, o pensamento de seus<br />
companheiros de trabalho.<br />
Por sua vez, Munir Hellayel, advogado do<br />
Departamento do Contencioso, proferiu brilhante discurso,<br />
a respeito da personalidade marcante e da carreira<br />
profissional de Sérgio Darcy, destacando a justiça de<br />
que se revestiu a nomeação do homenageado para o<br />
cargo de consultor jurídico do Banco do Brasil.<br />
Na ocasião, fizeram ainda o uso da palavra<br />
o desembargador Eduardo Espínola Filho, Astolpho Dutra<br />
Niccacio, diretor da Caixa Econômica do Rio de Janeiro,<br />
e Arthur Martins Sampaio, chefe do Departamento do<br />
Contencioso do Banco do Brasil.<br />
Por último, o ilustre homenageado proferiu, de<br />
improviso, um discurso agradecendo, bastante emocionado,<br />
a homenagem recebida dos seus amigos e colegas de<br />
trabalho, classificando o encontro de “uma festa do<br />
coração e da inteligência”.<br />
No período de 1963 a 1966, Sérgio Darcy<br />
exerceu as funções de consultor jurídico do Banco<br />
do Brasil, sendo substituído pelo não menos ilustre<br />
advogado Martins Napoleão que, sua vez, nos idos de<br />
1977, foi substituído por José Augusto Moreira Guimarães.<br />
Na agitada seara dos esportes, Sérgio Darcy,<br />
quando jovem, participou de competições de remo no
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 108<br />
Clube de Regatas Guanabara e chegou a ser campeão,<br />
nessa modalidade, no extinto Clube de Regatas Botafogo.<br />
Quando era presidente do clube do Botafogo,<br />
nos idos de 1937, mandou derrubar a arquibancada de<br />
madeira, fazendo erguer a de cimento, construída com<br />
dinheiro arrecadado da famosa campanha de um saco<br />
de cimento. O engenheiro Rafael Galvão foi o autor do<br />
projeto executado pela firma Cavalcanti, Junqueira & Cia.<br />
Naquela época, corria a notícia: “o Estádio do Botafogo<br />
é o mais bonito do Brasil”.<br />
Ao ser reconduzido à Presidência do Botafogo,<br />
Sérgio Darcy, nos idos de 1963, sucedendo ao presidente<br />
Paulo Azeredo, contratou o técnico de futebol Danilo<br />
Alvim. O Jornal do Brasil (10/4/1963), fez a cobertura da<br />
contratação e publicou a foto do técnico, ladeado por<br />
Renato Estelita, diretor de futebol, e pelo nosso ilustre<br />
homenageado. Médico auxiliar do Dr. Costa Cruz, fazia<br />
parte da Comissão Técnica, o Dr. Lídio Toledo que, durante<br />
muitos anos, veio a ser o médico da seleção brasileira.<br />
Naquela época, como nos dias de hoje, o<br />
Botafogo de Futebol possuía jogadores de nível de<br />
seleção brasileira. Vale destacar a presença de craques,<br />
consagrados não apenas nos campeonatos cariocas e<br />
brasileiros, mas em competições mundiais: Manga (goleiro),<br />
Nilton Santos, Amoroso, Gérson, Didi, Amarildo, Zagallo,<br />
Quarentinha, Garrinha e Jairzinho.<br />
Ainda nos idos de 1963, precisamente no dia<br />
21 de abril, foram abertos, na cidade de São Paulo, os<br />
IV Jogos Pan-Americanos, com a presença do governador<br />
Adhemar de Barros. É bom ressaltar a conquista da<br />
medalha de ouro pela tenista brasileira Maria Esther<br />
Bueno. Nesse Pan-Americano, o Botafogo emprestou à
109 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
seleção brasileira os jogadores Hélio Dias de Oliveira<br />
(goleiro) e Jair Ventura Filho – Jairzinho – (ponta-direita),<br />
tri-campeão carioca de juvenis. Ambos foram consagrados<br />
campeões dos IV Jogos Pan-Americanos. O jornalista Júlio<br />
Delamare fez a cobertura dos jogos para O Globo.<br />
O Presidente da CBD – Confederação Brasileira<br />
de Desportos era João Havelange, um dos nomes mais<br />
respeitáveis no cenário esportivo mundial, que iria,<br />
mais tarde, presidir a FIFA e divulgar o futebol, hoje<br />
o esporte mais conhecido no mundo, graças á atuação<br />
brilhante do ilustre brasileiro.<br />
Maio de 1963 é o mês de luto para o Brasil.<br />
No segundo dia, o desastre com o avião Convair da<br />
Cruzeiro do Sul fez 37 vítimas. Perdendo o avião de<br />
carreira, o deputado federal Miguel Bahury (PSP/MA),<br />
presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre<br />
Segurança de Vôo, na Câmara dos Deputados, não<br />
escapa do destino fatal. No Aeroporto de Congonhas,<br />
embarca num bimotor e morre nos destroços do avião<br />
que caiu no bairro Jabaquara, na capital paulista.<br />
O círculo de tragédia da família Bahury se<br />
fecha. A precisão do tempo é estarrecedor. Há 3 anos,<br />
na mesma hora de uma sexta-feira, morria a querida<br />
esposa do deputado maranhense. Na iconografia dos<br />
fatos, a Revista O Cruzeiro, edição de 03/05/1963, publica<br />
a foto de Bahuri, numa lancha, perto da cabeceira<br />
da pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro,<br />
em busca desesperada do corpo da mulher amada.<br />
Ainda em maio de 1963, outro desastre aéreo<br />
no Brasil. No interior do Rio Grande do Sul, um avião<br />
Cessna cai e tira de cena a atuação de Fernando<br />
Ferrari, em plena campanha presidencial. Velado em
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 110<br />
ambiente suntuoso, primeiro no Palácio Piratini, em Porto<br />
Alegre, e depois no Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro,<br />
o deputado gaúcho fez comover em prantos a nação<br />
inteira. Ainda hoje é amado e sempre relembrado, com<br />
viva emoção.<br />
Vale continuar destacando a presença de<br />
Sérgio Darcy à frente dos destinos do Botafogo, no meio<br />
da turbulência nacional: desastres aéreos, crise econômica,<br />
crise social e crise política.<br />
No dia 15 de junho de 1963, o Botafogo é<br />
manchete de jornais, no Estado da Guanabara: “Botafogo<br />
vence aqui e em Paris – Tricampeão de juvenis e campeão<br />
do Torneio de Paris.”<br />
O Jornal do Commercio comenta ainda a atuação<br />
do time alvinegro, na vitória sobre o Racing (3 x 2),<br />
no Parc des Princes, consagrando-se campeão do Torneio<br />
de Paris, “em partida das mais sensacionais até hoje<br />
realizadas naquela cidade”.<br />
Em 30/6/1963, sob a presidência do Dr. Sérgio<br />
Darcy, o Botafogo fez sua estréia na Taça Libertadores das<br />
Américas, derrotando o Alianza, campeão peruano, com o<br />
placar de 1 x 0, gol do médio-apoiador Elton, sob a<br />
arbitragem do juiz argentino José Luiz Pradante. O clube<br />
alvinegro atuou com a seguinte escalação: Manga,<br />
Paulistinha, Nagel, Nilton Santos, Rildo, Elton, Zagallo,<br />
Garrinha, Jair, Amarildo e Othon.<br />
No dia 04 de julho, o Botafogo alcançou outra<br />
vitória, em Lima, no Estádio Nacional, ganhando o<br />
Sporting Cristal, dirigido pelo técnico Didi, campeão mundial<br />
de futebol, pela contagem de 3 a 1.
111 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Antes daquela partida, Didi queria jogar contra<br />
o Botafogo, e pediu autorização ao chefe da delegação<br />
alvinegra, Renato Estelita, que, por sua vez, telefonou ao<br />
presidente Sérgio Darcy a respeito da idéia. A resposta<br />
foi negativa. No entanto, o jogador Didi poderia atuar,<br />
se assim desejasse, na partida, como jogador do Botafogo.<br />
A realidade é que Didi entrou em campo na condição de<br />
técnico do time peruano.<br />
Preservando a memória consagrada, como um<br />
dos ícones do futebol brasileiro, no passado, o nome<br />
Didi, atualmente, é designado em homenagem a um dos<br />
mais conhecidos parques esportivos no bairro Recreio dos<br />
Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro.<br />
Retomando a narrativa da excursão do Botafogo:<br />
com o placar de 2 x 0, mais uma vitória alvinegra<br />
pela Taça Libertadores das Américas derrotando o clube<br />
Milionários, em Lima, no dia 07 de julho de 1963.<br />
Na página esportiva de O Globo, edição de<br />
16/07/1963 – Amarildo cedido afinal ao Milan – O Dr. Sérgio<br />
Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, em<br />
reunião com o representante do Milan, da Itália, Sr.<br />
Rodolfo Rechi e o procurador do jogador Amarildo, Sr.<br />
Noel Guimarães, concordou em ceder o passe do jogador<br />
alvinegro para o clube italiano, mediante o recebimento<br />
de 400.000 dólares, por um contrato de 3 anos.<br />
Na declaração aos jornalistas, Sérgio Darcy<br />
revelou que o Botafogo não estava interessado em<br />
desfazer-se de nenhum de seus jogadores. Mas recebeu<br />
carta de Amarildo pedindo ao clube facilitar a ida<br />
dele para o Milan. Diante das circunstâncias, o Botafogo
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 112<br />
não poderia cobrir o que o jogador iria receber na<br />
Itália.<br />
A manchete do Jornal do Brasil (01/08/1963) destaca:<br />
Amarildo embarca com o pedido de CL para não ensinar o pulo<br />
do gato. O JB comentou que o jogador do Botafogo, ao<br />
embarcar, no Aeroporto do Galeão, em companhia de<br />
suas irmãs Nicéia e Maria do Carmo, e de Rodolfo Rechi,<br />
encontrou-se com o governador Carlos Lacerda que estava<br />
aguardando a chegada da escritora francesa Suzanne<br />
Labin. e o ouviu a recomendação de “mostrar todo<br />
seu futebol aos italianos, mas não ensinar-lhes o pulo do<br />
gato.”<br />
Amarildo estava muito satisfeito da vida porque,<br />
além do contrato assinado, recebeu do Botafogo 10 mil<br />
dólares extras, no almoço de despedida em que foi<br />
homenageado pelo clube. Muito emocionado, chorou e<br />
fez outros jogadores presentes chorarem. Neste gesto, o<br />
presidente Sérgio Darcy demonstrou, mais uma vez, o<br />
valor de ser justo para quem prestou relevantes serviços<br />
ao clube. Quanta dignidade num homem só!<br />
Com bastante dinheiro obtido pela venda do<br />
jogador Amarildo para o Milan, da Itália, o Botafogo de<br />
Futebol e Regatas adquire o passe do jogador Gérson<br />
comprado do Flamengo. A transação foi realizada, às<br />
14h:00min do dia 17 de setembro de 1963, dentro da<br />
Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, onde o<br />
consultor jurídico Sérgio Darcy, na qualidade de<br />
presidente do Botafogo, assinou um cheque nominal<br />
no valor de Cr$ 150 milhões, entregue a Fadel Fadel,<br />
presidente do Flamengo. Foi, sem dúvida, a maior<br />
negociação efetuada, até então, entre clubes brasileiros.
113 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
No contrato assinado, conforme divulgado pela<br />
imprensa, foi estabelecido ao jogador Gérson o pagamento<br />
de Cr$ 10 milhões de luvas e Cr$ 150 mil mensais por<br />
2 anos. Tempos depois, Gérson viria a ser comentarista<br />
da Rádio Globo, valorizando as transmissões de futebol.<br />
Nesse mesmo dia (17/09/1963), dois fatos<br />
importantes aconteceram na Guanabara, Estado governado<br />
por Carlos Lacerda: a inauguração da primeira das 2<br />
pistas do aterro do Flamengo e a apresentação do cantor<br />
americano Ray Charles, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.<br />
A atuação do Botafogo de Futebol e Regatas, que<br />
se desenrolava no meio do Campeonato Carioca do ano<br />
de 1963, foi comentada por Renato Estelita, diretor de<br />
Futebol, justificando “se o time ainda não tem um bom<br />
ataque é porque não foi possível, em curto prazo,<br />
preencher os lugares deixados pelos atacantes que foram,<br />
teoricamente, os melhores” (JB 01/11/1963). O dirigente<br />
alvinegro estava fazendo referência aos jogadores Didi,<br />
que foi transferido para o futebol peruano, e ao Amarildo<br />
para a Itália, e à contusão de Garrincha, impossibilitado<br />
de voltar, em curto prazo, aos gramados.<br />
Observamos que, meses antes da declaração<br />
do Sr. Renato Estelita, realmente o clube tinha o melhor<br />
ataque do mundo, com a presença de 3 bicampeões<br />
mundiais: Didi, Amarildo e Zagalo e, ainda, a participação<br />
de Quarentinha, o artilheiro do Botafogo, de ontem e de<br />
hoje, que jogou pela seleção brasileira.<br />
Dias depois da declaração do dirigente Renato<br />
Estelita, o Botafogo mudou de técnico. Saiu Danilo Alvim,<br />
mesmo prestigiado pela Diretoria, mas sem sorte nos<br />
últimos resultados dos jogos, e entrou Paraguaio, antigo<br />
jogador do clube.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 114<br />
No dia 05/11/1963, o presidente Sérgio Darcy,<br />
sempre elegante, trajando terno, apresenta aos jogadores,<br />
que estão de uniforme do clube, no meio do campo, o<br />
novo técnico de futebol. Suas palavras explicam porque<br />
o Botafogo trocou de técnico, permanecendo a mesma<br />
disposição para conquista do tricampeonato e pediu o<br />
máximo apoio ao Paraguaio..<br />
Dias depois, o time teve excelente atuação em<br />
campo e a imprensa comenta: “Botafogo mostrou pela<br />
primeira vez astúcia e categoria de bicampeão.” (JB –<br />
09/11/1963). Apesar do sucesso momentâneo, o time não<br />
conseguiu conquistar o campeonato. O campeão carioca<br />
de 1963 foi o Flamengo.<br />
Em 16/11/1963, houve eleição para a nova<br />
Diretoria do Botafogo. O Sr. Nei Cidade Palmeiro, juiz<br />
de Direito e professor do Colégio D. Pedro II, foi eleito<br />
presidente.<br />
Na solenidade de transmissão de cargo de<br />
presidente do clube, realizada em 03/01/1964, o nosso<br />
homenageado se despedia, com um discurso bastante<br />
aplaudido, na presença de inúmeras autoridades ligadas<br />
ao mundo dos esportes, destacando-se João Havelange,<br />
presidente da CBD – Confederação Brasileira de Desportos,<br />
e Antônio do Passo, presidente da Federação Carioca de<br />
Futebol.<br />
Ainda como presidente do Botafogo, Sérgio<br />
Darcy, viu coroados de êxito, para gáudio nosso, no<br />
recinto esportivo do Banco do Brasil, a AABB – Rio de<br />
Janeiro vencer a Hebraica, em 28/12/1963, conquistando<br />
o campeonato carioca de voleibol masculino. Segundo o
115 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Jornal do Commercio, Nuzman foi o jogador mais destacado<br />
da partida.<br />
Dentre as atuações de Carlos Arthur Nuzman,<br />
como atleta da seleção brasileira de vôlei, destaca-se<br />
o Campeonato Mundial, realizado em Moscou, URSS,<br />
nos idos de 1962. O chefe da delegação brasileira era<br />
Adolpho Schermann, nome que muito honra o esporte<br />
brasileiro, o Banco do Brasil, a AABB–Rio e a Academia<br />
de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Dois<br />
anos depois, em 1964, nos Jogos Olímpicos de Tóquio,<br />
quando o voleibol estreou em olimpíadas, Nuzman<br />
integrou a equipe brasileira. Carlos Arthur Nuzman é<br />
presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.<br />
Relembrando os idos de 1963: todas as noites,<br />
a partir das 5 para as 8h, o público se recolhia em<br />
seus lares, após a jornada de trabalho, para assistir à<br />
apresentação do noticiário da TV–RIO canal 6, na voz<br />
dos locutores Heron Domingues e Léo Batista. E às terçasfeiras,<br />
às 21h:00min, Hebe Camargo iniciava a apresentação<br />
do programa produzido por Maurício Schermann.<br />
Atualmente, decorridos 45 anos ininterruptos,<br />
Hebe Camargo (apresentadora do SBT) e o Léo Batista<br />
(comentarista esportiva TV-Globo) continuam fazendo<br />
sucessos, com elevados índices de audiência pública.<br />
O tempo em que é recordada a passagem de<br />
Sérgio Darcy, à frente dos destinos do Botafogo de<br />
Futebol e Regatas, pela 2ª vez, é o tempo do Brasil<br />
governado por presidente João Goulart. Época em que<br />
surge a luta política do governo pelas reformas de base,<br />
sem apoio do Congresso Nacional. Brasil de greves,<br />
Brasil de economia crescente, com inflação elevada, Brasil<br />
de grandes comícios.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 116<br />
Nessa época, nasce a bossa–nova. Aliás, o termo<br />
foi criado por um engraxate que limpava sapatos, bem<br />
próximo da Rua Primeiro de Março, 66 – Banco do Brasil,<br />
onde Sérgio Marcos Rangel Porto trabalhava. Um dia,<br />
usando um sapato sem cadarço, ele chegou perto do<br />
engraxate e este, admirado pela novidade, lhe disse<br />
olhando para o estilo do sapato: “bossa–nova”.<br />
Sérgio Porto gostou do dito jocoso e passou a<br />
empregá-lo, em vários jornais que escrevia, em toda<br />
novidade que aparecesse: um baile no Copacabana Palace<br />
Hotel, e outros eventos, e principalmente no estilo<br />
musical que, naquela época, estava surgindo.<br />
Apresentamos, a seguir, nossa impressão a<br />
respeito do sucesso do samba bossa-nova no exterior,<br />
onde recebeu calorosa recepção e teve repercussão<br />
internacional, inclusive para o Brasil, onde nasceu:<br />
“A bossa-nova foi introduzida e apreciada nos Estados<br />
Unidos, graças à mistura da batida do jazz, o tipo jazz<br />
soul, mais romântico, mais leve e um pouco dançante”. (22)<br />
Eis o segredo do sucesso do compositor Tom<br />
Jobim e a sua linda Garota de Ipanema (letra de Vinícius<br />
de Moraes), que encantou o mundo e fez surgir toda<br />
uma geração de grandes compositores de uma época que<br />
passou e, às vezes, recrudesce, de tempos em tempos.<br />
(22) ARTUR DA TÁVOLA – Mestres da Música – Programa radiofônico<br />
da Rádio MEC FM 98,9 MHz – Rio de Janeiro – RJ – 2005.
117 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
No Brasil e no exterior, o ano de 1963 teve<br />
ainda grandes acontecimentos:<br />
janeiro – realização do plebiscito pela volta do regime<br />
presidencialista, derrubando o parlamentarismo instituído<br />
em 1961, por emenda constitucional. Esse regime surgiu<br />
em decorrência da renúncia de Jânio Quadros e a fim de<br />
tirar o poder do presidente que assumia, João Goulart,<br />
injustamente prejudicado.<br />
março – Quincas Berro D´Água, personagem do romance<br />
Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado, se encarna em<br />
cena lírica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro,<br />
ambientado na coreografia da russa Feodorova e<br />
música de Cláudio Santoro.<br />
abril – Inauguração da sede da Reitoria da Universidade<br />
do Estado da Guanabara pelo governador Carlos Lacerda,<br />
com a presença do reitor Haroldo Lisboa da Cunha,<br />
deputado Raul Brunini, presidente da Assembleia<br />
Legislativa, Flexa Ribeiro, secretário de Educação, e<br />
inúmeras autoridades. A aula inaugural foi proferida<br />
pelo Prof. João Lira Filho.<br />
maio – Na divisa de Minas e Bahia, João Goulart,<br />
presidente da República, inaugura a Estrada de Rodagem<br />
Rio-Bahia. É a maior obra de engenharia, até então<br />
construída no País. No mês anterior, foram<br />
inaugurados os túneis Santa Bárbara e Tonelero, e a<br />
Avenida Radial Oeste pelo governador Carlos Lacerda.<br />
junho – eleição de miss Brasil, no Maracanãzinho. Eleita<br />
a gaúcha Iêda Maria Vargas.
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 118<br />
A respeito dos antecedentes do concurso, embora<br />
seja conhecida a 1ª eleição, em 1954, com a vitória de<br />
Marta Rocha, vale dizer que, em 1949, na AABB - Rio de<br />
Janeiro, foi realizado o 1° concurso de miss Brasil, com a<br />
eleição de Jussara Marques de Amorim, representando o<br />
Estado de Goiás.<br />
junho – ao entardecer de domingo, 30 de junho de 1963,<br />
é realizada a coroação do papa Paulo VI, sucedendo<br />
a João XXIII. 300 mil pessoas do mundo inteiro compareceram<br />
à Praça São Pedro. O presidente João Goulart e o senador<br />
mineiro Juscelino Kubitschek (ex-presidente da<br />
República) estavam ali presentes.<br />
julho – Ao ensejo das realizações das exéquias do papa,<br />
Goulart e Kennedy reúnem-se em Roma.<br />
setembro – Inaugurada a TV Excelsior – canal 2 – no<br />
Estado da Guanabara.<br />
– A vinda do marechal Tito da Iugoslávia em visita<br />
oficial a Brasília e a várias cidades brasileiras.<br />
– No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o<br />
compositor e maestro Igor Stravinsky rege Le Baiser da la<br />
Fée, balé composto nos idos de 1928, e na Igreja da<br />
Candelária, a Missa para coro e orquestra, ambos<br />
de sua autoria. No ambiente sagrado, recebe aplausos<br />
e admiração.
119 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
No dia 21/09/1963 é aberta a 3ª Feira da<br />
Providência do Rio de Janeiro, no Iate Clube e adjacências,<br />
por Dom Hélder Câmara. O evento atraiu 1 milhão e ½<br />
de pessoas, cinco vez maior do que a multidão que foi<br />
ver a coroação do papa Paulo VI, três meses antes, no<br />
Vaticano.<br />
Em 26/10/1969, Sérgio Darcy partiu para o reino<br />
onde a sabedoria deslinda os enigmas do caminhar.<br />
Nesse mundo de sonhos, aureolado pela luz das estrelas,<br />
luz que se projeta dos feitos de grandeza que o<br />
nosso homenageado sempre buscou dignificar a vida,<br />
se destacam os versos da música de Lamartine Babo:<br />
“Na estrada dos louros, num facho de luz<br />
Tua estrela solitária te conduz.” (23)<br />
Sem dúvida, sentimos muita satisfação em<br />
recompor, em breves linhas, alguns aspectos da trajetória<br />
terrena de Sérgio Darcy que, com imensa honra, integra<br />
a Galeria dos Presidentes do Botafogo de Futebol e Regatas,<br />
bem como o seleto grupo de consultores jurídicos do<br />
Banco do Brasil, contribuição singela que homenageia<br />
os grandes juristas que deixaram marco de grandeza à<br />
frente da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, empresa<br />
que tem um caminhar de progresso que se mistura com<br />
os próprios passos da História do Brasil.<br />
(23) LAMARTINE BABO – Letra do Hino do Botafogo de Futebol e<br />
Regatas. – in Botafogo – O glorioso – Uma história em preto e branco,<br />
p. 158 – Editor: Ney Oscar Ribeiro de Carvalho – Rio de Janeiro –<br />
1996.
Iconografia<br />
FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO – 120<br />
– Album: Botafogo, o glorioso – Uma história em preto e<br />
branco, p. 56 – Editor: Ney de Carvalho – Rio de Janeiro –<br />
1996 – Retrato de Sérgio Darcy – Arquivo: Botafogo de Futebol<br />
e Regatas.<br />
– Retrato/imagem de busto de Sérgio Darcy – Acervo:<br />
Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Acervo<br />
original: retrato p & b 13cm x 19cm – Album da família Darcy –<br />
cópia doada ao escritor Fernando Pinheiro.<br />
– Jornal do Brasil – 14/09/1963 – 1° Caderno – Sérgio Darcy,<br />
presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (retrato<br />
de busto, do lado esquerdo).<br />
– JB – 15/09/1963 – 1° Caderno – Foto de Sérgio Darcy<br />
conversando com Fadel Fadel, presidente do Flamengo,<br />
na sede do Morro da Viúva, Flamengo – Rio.<br />
– JB – 18/09/1963 – 1° Caderno – p. 16 – Foto de Sérgio<br />
Darcy assistindo ao exame médico do jogador Gérson<br />
ao lado do médico Costa Cruz.<br />
– JB – 06/11/1963 – 1° Caderno – p. 16 – Foto de Sérgio<br />
Darcy, de terno escuro, com o braço levantado,<br />
apresenta aos jogadores, – vestidos de uniforme,<br />
sentados no gramado – o técnico Paraguaio, no<br />
–<br />
campo de futebol do Botafogo, sede da Rua General<br />
Severiano, Botafogo – Rio de Janeiro.<br />
Boletim 1964 – BOTAFOGO F. R. – Foto de SÉRGIO<br />
DARCY, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas,<br />
assinando documentos na sede do clube.<br />
– O Globo – 03/01/1964 – Foto de Sérgio Darcy,<br />
segurando com a mão direita o microfone, proferindo<br />
o discurso de despedida do cargo de presidente do<br />
Botafogo de Futebol e Regatas, entre as autoridades<br />
desportivas, vale destacar João Havelange.
121 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
MARTINS NAPOLEÃO<br />
BENEDICTO MARTINS NAPOLEÃO <strong>DO</strong> RÊGO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976)<br />
TOBIAS PINHEIRO<br />
Conselheiro da ABI - Associação Brasileira de Imprensa<br />
“Este fluxo de música, Senhor,<br />
com que expresso o que sinto de bondade,<br />
de sonho, de esperança e de beleza,<br />
esta doce onda de música irresistível,<br />
não sou eu ...<br />
Esta música é o Teu sopro eterno,<br />
no instrumento do efêmero caniço.”<br />
MARTINS NAPOLEÃO
T<br />
OBIAS PINHEIRO – 122<br />
TOBIAS PINHEIRO, conselheiro da ABI – Associação Brasileira de<br />
Imprensa – Discurso proferido em 12/11/2004, ao ensejo da<br />
realização do 5° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social,<br />
promovido pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco<br />
do Brasil.<br />
O Poeta<br />
Em 30 de abril de 1981, o poeta Benedicto<br />
Martins Napoleão do Rêgo morreu no Rio de Janeiro.<br />
Mas ele permanece vivo pelos poemas que nos legou<br />
com marcas de perenidade. Por sua vez, o escritor<br />
Fernando Pinheiro, presidente da Academia de Letras dos<br />
Funcionários do Banco do Brasil, nos convidou para<br />
uma palestra sobre o poeta. Ele iluminou a juventude<br />
piauiense no Século XX. Era um poeta moderno, como<br />
Da Costa e Silva e Hindemburgo Dobal.<br />
Voltemos a Teresina, em 1943, no tempo dos<br />
incêndios. Ali encontramos o poeta no vigor dos 40 anos,<br />
quando ainda tínhamos apenas 16. Nascido em União,<br />
no dia 17 de março de 1903, mudou-se para a capital<br />
e, dali, para Belém, acompanhando o irmão Hugo<br />
Napoleão. Trabalhou na Biblioteca e Arquivo Público do<br />
Pará, enquanto estudava. Em Belém nasceu o sobrinho,<br />
embaixador Aluízio Napoleão de Freitas Rego, em 20<br />
de novembro de 1914, hoje sócio do Instituto Histórico e<br />
Geográfico Brasileiro.<br />
Benedito é inteligente e compenetrado. Quando<br />
termina o Curso Ginasial, em Belém, tem os colegas<br />
de turma Peregrino Júnior e Oswaldo Orico, que<br />
se elegeriam para a Casa de Machado de Assis, além<br />
de Eneida de Morais, a cronista do Diário de Notícias.<br />
Candidato à Academia Brasileira de Letras, em 1957,
123 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
não fez campanha, não foi eleito, mas os dois colegas<br />
votaram no amigo.<br />
No Almanaque da Parnaíba, edição de 1958,<br />
publicamos “Dois Votos para Martins”. Ele residia na Rua<br />
General Glicério, 326, Laranjeiras, Rio de Janeiro. Redator<br />
dos Diários de Notícias fomos levar-lhe a publicação. Era<br />
domingo, e quase nos obriga a almoçar. Dali em diante,<br />
passou a nos dispensar atenção especial, enviando-nos<br />
seus livros com encantadoras dedicatórias.<br />
Mas voltemos à juventude. De Belém veio para<br />
o Rio, onde trabalhou no Museu da Quinta da Boa Vista,<br />
segundo nos lembra o filho Sandro, nosso companheiro<br />
de juventude. Voltou para Teresina em 1924 e concluiu<br />
o Curso de Direito em 8 de dezembro de 1936.<br />
Professor, tornou-se conhecido com seu livro de estreia,<br />
Copa de Ébano, publicado em 1927.<br />
Nele se encontra O Destino da Lira:<br />
“Dói recolher, na concha e na alma, o alheio pranto / -<br />
o orvalho a gotejar de outras raízes... / Mas é tão doce a dor<br />
de o transformar num canto / que console infelizes!... ///<br />
O destino da Lira é como o das estrelas, / belas e inúteis,<br />
aparentemente mas a força vital infinita que há nelas / faz<br />
brotar a semente. /// O destino da Lira é o destino das<br />
rosas, / morrendo mas deixando o aroma que erra, / ou no<br />
ar ou no esplendor das mulheres formosas, / como um<br />
bem feito à terra.”<br />
Dali em diante, o poeta publicou 23 livros<br />
de poesia e prosa. Torna-se catedrático de Gramática<br />
Histórica e de Filosofia do Colégio Estadual do Piauí,<br />
professor de Direito Constitucional da Faculdade de<br />
Direito de Teresina, diretor da Instrução Pública,
TOBIAS PINHEIRO – 124<br />
secretário-geral e consultor jurídico do Estado. A tudo<br />
era chamado e tinha de dar atenção a todos.<br />
Com a queda de Getúlio Vargas, em 29<br />
de outubro de 1945, o ministro José Linhares tomou<br />
posse na Presidência da República, e Martins Napoleão<br />
assumiu o cargo de interventor do Estado, na fase de<br />
transição para a democracia.<br />
Nosso Mestre era a um só tempo a formiga<br />
diligente no trabalho e a cigarra que mais cantava<br />
naquele quintal da inteligência brasileira. Finda sua<br />
missão, passado o governo ao Dr. Rocha Furtado, nada<br />
mais tinha a fazer no Piauí. Lá existe uma cidade<br />
chamada Campo Maior, terra do acadêmico Raimundo<br />
Santana. Campo maior para ele era o Rio de Janeiro.<br />
Sentiu muita saudade dos amigos, mas mudou-se para<br />
a Cidade Maravilhosa.<br />
O poeta Martins Napoleão trabalhou no Setor<br />
Jurídico da Superintendência da Moeda e do Crédito,<br />
a SUMOC, de que se originaria o Banco Central. Dali<br />
passou para a Consultoria Jurídica do Banco do Brasil,<br />
onde trabalhou o irmão, deputado federal, Hugo Napoleão,<br />
avô do senador, ex-governador e ex-ministro de Estado,<br />
Hugo Napoleão do Reto Neto, filho de Aluízio, ambos<br />
titulares da Academia Piauiense de Letras. Em pouco<br />
tempo, seria o chefe, sem deixar de ser o poeta, um<br />
orgulho de seu Piauí, um ponto de referência no Rio<br />
de Janeiro.<br />
O Consultor Jurídico do Banco do Brasil
125 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Com o correr dos anos, o poeta Martins<br />
Napoleão preparou sua obra literária, mantendo-se nas<br />
funções de Consultor Jurídica do Banco do Brasil, onde<br />
se aposentou em 17 de setembro de 1977. Três anos e<br />
sete meses depois, no dia 30 de abril de 1981, o poeta<br />
morre. Encerra suas atividades na Terra mas nos<br />
deixou o Cancioneiro Geral, de 720 páginas, em dois<br />
volumes, mas sem uma revisão criteriosa, com algumas<br />
falhas de editoração.<br />
Ele sempre andou preocupado, com traduções e<br />
versões dos grandes poetas alemães, italianos, espanhóis,<br />
ingleses e franceses. Sua poesia ilumina as estradas que<br />
percorremos e tem projeção internacional.<br />
Uma Cultura Universal<br />
Com data de 2 de maio de 1969, conservo o<br />
seguinte cartão em bonita caligrafia: “Meu caro Tobias<br />
Pinheiro, recebi o convite para a festa de sua posse na<br />
Academia Guanabarina de Letras. Lamentei não poder ir,<br />
por estar comprometido para quarta-feira à noite. Já<br />
ouvi hoje que foi magnífico o seu discurso em que<br />
reuniu, sob o mesmo carinho, o Maranhão e o Piauí.<br />
Mande-me sua oração quando a publicar. Dou-lhe<br />
parabéns pelo seu ingresso à imortalidade acadêmica.<br />
O meu abraço cordial. a) Martins Napoleão.”<br />
Era assim o Mestre e amigo, que voou mais<br />
alto do que muita gente imagina, sobretudo como<br />
polígrafo. Adaptou inspirados poemas italianos, ingleses<br />
e alemãs à nossa Língua. Sua poesia se enfeitava com<br />
os conceitos universais e as inspiradas comparações,<br />
enquanto sua prosa nos encantava com recursos<br />
extraordinários. Quando fala sobre Goethe, seu estilo é<br />
mais pomposo. Vamos ouvi-lo em pequeno trecho:
TOBIAS PINHEIRO – 126<br />
“Glorioso e inacessível – sobranceiro, como um<br />
deus, a turba dos mortais – fora, até então, o autor do<br />
Divã uma das criaturas mais felizes e equilibradas de<br />
sua longa época. Poeta admirável, sua cultura universal<br />
se espraiava pelo romance e a filosofia, pela ciência e a<br />
política. A todas as excepcionais qualidades, com se<br />
distinguia, aliava extraordinária beleza física: vasta fronte,<br />
nariz perfeito, olhos de ver longe – digno nas atividades<br />
e elegante no trajar, adorado das mulheres e invejado dos<br />
homens.”<br />
Em matéria de amor, lembramos Sócrates.<br />
Um dos discípulos lhe perguntou: “Mestre, qual a maior<br />
tortura que os deuses podem dar a um homem?” E a<br />
resposta foi breve: “Filho, duas mulheres ao mesmo<br />
tempo.” Mas o amor do poeta está em tudo, para a<br />
transfiguração de uma rotina forçada, quase inconseqüente.<br />
Quando Gonçalves Dias escreveu Sextilhas de Frei Antão,<br />
disseram que ele conhecia o Português em suas origens.<br />
O mesmo podemos dizer de Martins Napoleão, em<br />
Tema, Coral e Fuga, edição de 1966, versos escritos entre 1957<br />
e 1965. Ali há cantigas de velhos tempos:<br />
“Falares de Ruy de Pina, / cantares de Dom Dinis, /<br />
cantigas de amor e amigo, / ó doce luz matutina, /<br />
breve sorriso feliz, / ó frool que se muda em flor, / cantigas<br />
de Ruy de Pina, / cantigas de amigo e amor. /// Ó<br />
poesia orvalhada, / coisa pura, madrugada / das palavras<br />
portuguesas, / ó queixumes, ó tristeza, / aliviai-me o<br />
desgosto, / gotejai pelo meu rosto / como pêndula<br />
ramada, / dizendo-me tudo, posto / que dizendo quase<br />
nada.”
127 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Antologia de Poemas Alheios<br />
Conservamos em nossa biblioteca a Pequena<br />
Antologia de Poemas Alheios, editada em 1960 pela Gráfica<br />
Olímpica Editora. Comprei o livro num sebo, mais pela<br />
dedicatória: “Ao querido Onestaldo de Pennafort, grande<br />
poeta de minha idade nova e grande tradutor de poetas,<br />
o Martins Napoleão.” Onestaldo nasceu no Rio de Janeiro<br />
em 25 de junho de 1902 e morreu em 17 de abril de<br />
1987. É, como sabemos, patrono da Cadeira n° 56 da<br />
Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.<br />
No livro, a transcrição de Renato Jobim,<br />
conselheiro da ABI, no Diário Carioca, de 03/02/1957. Ele<br />
ressalta que Martins Napoleão, “além de legitimamente<br />
inspirado, domina com maestria os elementos de técnica<br />
tradicional”. E o Jornal do Commercio, de 30-12-1956,<br />
assegura: “O Sr. Martins Napoleão pertence à melhor<br />
estirpe de vates dos nossos dias, não desses que se<br />
perdem na toada monocórdia do “modernismo”, mas dos<br />
verdadeiros poetas, cuja linhagem vem de Dante, Petrarca<br />
e Camões”.<br />
No prefácio, o poeta explica:<br />
“As traduções aqui reunidas – trabalho de duas<br />
épocas separadas por cerca de 30 anos – só ultimamente<br />
foram revistas no seu conjunto. Inéditas até agora, com<br />
exceção apenas de uma de D´Annunzio e das de Tagore,<br />
Samain, e Martinez, representam, ao lado da experiência<br />
artística, o desejo de que os outros também sintam, em<br />
língua nossa, um pouco das emoções que a sua leitura<br />
nos despertou.
TOBIAS PINHEIRO – 128<br />
Entre os autores traduzidos, está Guido Cavalcanti,<br />
de Florença, nascido em 1259 e falecido em 1300. Este poeta<br />
desenvolveu a teoria do amor com sutileza de raciocínio,<br />
elegância de estilo e novidade de ritmos. Vamos ler dois<br />
tercetos dele: “Aquelas que vos fazem companhia, / muito<br />
me agradam pelo vosso amor; / e eu lhe peço, por sua<br />
cortesia, / que cada qual vos preste honra maior / e tenha<br />
apreço a vossa senhoria, / porque vós sois de todas a<br />
melhor.”<br />
Dante Alighieri, de Florença, nasceu em 1265<br />
e morreu em 1321. Martins Napoleão traduziu cantos<br />
de A Divina Comédia e sonetos, como Vita Nuova:<br />
“É tão gracioso e tão honesto o ar / de minha<br />
amada quando alguém saúda, / que toda língua treme<br />
e se faz muda, / e os olhos não se atrevem de a fitar.<br />
/// Ela se vai, sentindo-se louvar, / vestida na humildade<br />
em que se escuda, / como coisa do céu que se transmuda /<br />
para um milagre ao mundo revelar. /// Mostra-se tão<br />
cortês a quem a mira, / que, ao vê-la, a alma se inunda<br />
de dulçor / tal que entender só pode quem o prove. ///<br />
E de seus lábios como que se move / espírito gentil cheio<br />
de amor / que dizendo ao coração: Suspira!”<br />
Francesco Petrarca nasceu em Arezzo, Itália,<br />
em 20 de julho de 1304 e faleceu em Arquà no dia<br />
19 de julho de 1374. Autor de belos sonetos, foi imitado<br />
por Camões. Vamos ler Na sepultura de Laura:<br />
“Rimas dolentes, ide à pedra dura / que o meu caro<br />
tesouro em terra esconde; / ali chamai a quem do céu<br />
responde, / tendo o corpo mortal na sepultura. /// Dizei-lhe<br />
que me canso desta escura / viagem num mar que à<br />
vida corresponde; / e os ramos recolhendo à murcha fronde,<br />
/ passo a passo, caminho à sua procura, /// nela tão só<br />
falando, viva e morta, / antes mais viva já, pois imortal, / por
129 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
que o mundo a conheça e também ame. /// Que a meu breve<br />
passar na última porta / atente; venha ao meu alcance e, qual /<br />
está no céu, a si me atraia e chame.”<br />
Encerramos com Arieta Esquecida, de Paul Verlaine:<br />
“Chora em meu coração / e chove na cidade. / Que é<br />
esta lassidão / que entra em meu coração? /// Doce cair da<br />
chuva / no chão e sobre os tetos! / Para uma alma viúva, oh!<br />
o cântico da chuva. /// Chora, mas sem razão, / na alma que<br />
se desalma. / Qual! Nenhuma traição? / É um sofrer sem<br />
razão. /// A que mais dói é a dor / de não saber por que, /<br />
sem ódio nem amor, / há em mim tanta dor.”<br />
Muitas vezes, encontramos Martins Napoleão na<br />
Igreja de Santa Cruz dos Militares, ao lado do Banco do<br />
Brasil, na Rua Primeiro Março. Hoje, apenas nos cabe<br />
levar uma flor a seu túmulo e estas palavras à sua memória.<br />
Tobias Pinheiro
XAVIER DE ALBUQUERQUE – 130<br />
Antes da apresentação do discurso proferido,<br />
em 14 de junho de 1972, pelo Consultor Jurídico Martins<br />
Napoleão, são transcritos, abaixo, trechos da carta do Dr.<br />
Xavier de Albuquerque, escrita em 1° de setembro de<br />
2003, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro:<br />
“Quando fui investido, em abril de 1972, no cargo<br />
de Ministro do Supremo Tribunal Federal, sucedeu-me no<br />
de Procurador–Geral da República, que eu exercera desde<br />
1969, o colega José Carlos Moreira Alves (mais tarde, por<br />
igual, Ministro do Supremo e seu Presidente, há pouco<br />
aposentado compulsoriamente por implemento de idade),<br />
que também integrava o quadro de advogados do BB.<br />
Esse, então, por sua Diretoria, promoveu em Brasília<br />
um banquete em homenagem a mim, que deixara<br />
definitivamente, havia pouco, o seu Serviço Jurídico, e ao<br />
Moreira Alves, que dele se afastava – segundo então se<br />
acreditava – temporariamente. Nesse evento, o então<br />
Consultor Jurídico, Dr. Martins Napoleão, proferiu o<br />
discurso que lhe envio, naturalmente, referindo a ambos<br />
os homenageados.<br />
Ao longo de minha judicatura no Supremo, e em seu<br />
nome, proferi discursos, aqui anexados, de homenagem<br />
aos Ministros Aliomar Baleeiro e Hahnemann Guimarães.<br />
Ao primeiro (cópia extraída de plaquete editada, como<br />
é ali tradicional, pelo próprio STF), por motivo de sua<br />
aposentadoria, ao segundo (cópia da respectiva publicação<br />
da Revista Ajuris), em razão de seu falecimento.
131 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Na solenidade de minha posse como Presidente da<br />
Corte, proferiram discursos o Ministro Décio Miranda<br />
(já falecido), em nome do Tribunal, o Procurador-Geral da<br />
República, Firmino Ferreira Paz (já falecido), em nome do<br />
Ministério Público Federal, o Dr. Galba Menegale (já<br />
falecido), em nome da Ordem dos Advogados do Brasil,<br />
Seção do Distrito Federal, o Ministro Evandro Lins e Silva<br />
(já falecido), em nome do Conselho Federal da mesma<br />
Ordem, e eu próprio. Foram todos incluídos na plaquete<br />
editada pelo STF, de que também segue cópia.<br />
Quando de minha aposentadoria, homenageou-me o<br />
Tribunal, como é tradicional e regimental. Discursaram<br />
então o Ministro Francisco Rezek, em nome do Tribunal,<br />
o Procurador-Geral da República, Inocêncio Mártires Coelho,<br />
em nome do Ministério Público Federal, e o Dr. Sérgio<br />
Gonzaga Dutra, em nome da Ordem dos Advogados do<br />
Brasil, Seção do Distrito Federal. Também estão reunidos<br />
na plaquete de que junto um exemplar.<br />
Ainda por motivo de minha aposentadoria,<br />
dedicaram-me sessões de homenagem a Ordem dos<br />
Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal, com discurso<br />
do Dr. Pedro Gordilho (ex-Ministro do Tribunal Superior<br />
Eleitoral), e o Instituto dos Advogados do Distrito Federal,<br />
com discurso do Dr. José Guilherme Villela (também ex–<br />
Ministro do Tribunal Superior Eleitoral). No seu vol. 258,<br />
a Revista Forense reuniu e publicou essas manifestações<br />
(inclusive a do Supremo, objeto da plaquete há pouco<br />
referida), pelo que mando cópia das páginas<br />
correspondentes.” (24)<br />
(24) XAVIER DE ALBUQUERQUE – Carta escrita em 1° de setembro<br />
de 2003, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro
HOMENAGEM<br />
MARTINS NAPOLEÃO – 132<br />
Ao Professor XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />
Ministro do Supremo Tribunal Federal<br />
Ao Professor MOREIRA ALVES<br />
Procurador–Geral da República<br />
Prestada por<br />
MARTINS NAPOLEÃO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967 a 1976)<br />
Exmos. Srs. Presidentes do Supremo Tribunal, Tribunal<br />
Federal de Recursos, Superior Tribunal do Trabalho,<br />
Tribunais de Contas da União e do Distrito Federal. (25)<br />
(25) BENECDITO MARTINS NAPOLEÃO, consultor jurídico do Banco<br />
do Brasil (1967/1977) – Discurso proferido, em 14/6/1972, ao<br />
ensejo da realização do banquete oferecido pelo Banco do Brasil<br />
ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Professor XAVIER DE<br />
ALBUQUERQUE, e ao Procurador-Geral da República, Professor<br />
MOREIRA ALVES.
133 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça.<br />
Srs. Ministros, Desembargadores e Juízes.<br />
Srs. Procuradores e Auditores.<br />
Srs. Presidentes da Ordem e do Instituto dos Advogados.<br />
Sr. Reitor da Universidade de Brasília.<br />
Srs. Representantes do Tribunal Superior Eleitoral, dos<br />
Estados, da Imprensa, Rádio e Televisão.<br />
Srs. Presidente, Diretores e Colegas do Banco do Brasil,<br />
Autoridades.<br />
Sr. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />
Sr. Procurador-Geral Moreira Alves:<br />
Ireis escutar o Banco do Brasil pelo seu<br />
Colegiado, na saudação do Diretor do Pessoal, o Master<br />
Admon Ganem. Tanto bastaria por consenso da Casa e<br />
a uníssono dos que representam aqui a magistratura<br />
e a advocacia, a administração, o ensino, a economia,<br />
a sociedade.<br />
Estaria, pois, esta homenagem coroada de<br />
remate feliz.<br />
Delegou-se-me, porém, como ao obscuríssimo<br />
dentre os cinco Consultores Jurídicos da admirável<br />
corporação financeira – que, só eles, a partir do ápice<br />
de J. X. Carvalho de Mendonça, deram lustre e grandeza<br />
ao nosso Departamento Legal – a honra, imposta ao<br />
dever e aceite com enlevo, de falar-vos agora em nome<br />
dos advogados, a cujo número continuais pertencendo,<br />
embora afastados, de modo definitivo um e outro,<br />
quem sabe, temporariamente, por motivo de investiduras<br />
recentes, a serviço mais alto do país.<br />
Ouvi-me, com a generosidade cordial da<br />
paciência que, no juízo do Santo e Doutor da SUMMA,<br />
ut virtus, non potest haberi sine charitate et grati.
MARTINS NAPOLEÃO – 134<br />
Sr. Ministro, Sr. Procurador-Geral da República:<br />
Tenho por mim sobrecarregado de significação<br />
o fato de que esta noite de apreço se verifique no<br />
cenário magnífico da Nova Capital.<br />
É que Brasília, edificada sob a inspiração do<br />
sonho e da necessidade, reduzindo diáteses e antinomias,<br />
explicáveis e naturais porventura, se firma, sem dúvida,<br />
como laboratório de síntese, propiciador da reunificação<br />
nacional, em todas as suas vastas e complexas dimensões.<br />
Entre muitos aspectos do seu realismo<br />
transcendente, releva acentuar, neste momento, o da<br />
revivescência do papel atuante da Província naquela<br />
presença com que, no passado, participou da formação<br />
das elites brasileiras.<br />
Erros sociais de planificação e antifuncionalidade,<br />
não sei, podem existir aqui. Não a<br />
antibrasilidade que lhe aponta eminente sociólogo.<br />
Da serena altitude destes páramos, onde o céu<br />
inteiro se nos mostra à vista embevecida; e os rasgados<br />
horizontes nos advertem de que a terra nossa continua,<br />
idêntica e desperta, em todos os quadrantes; e onde o<br />
gênio da arquitetura, a fábrica dos artistas, e a<br />
premonição dos governos plantaram a cidade modelar do<br />
trabalho e da meditação, neste planalto arrojado para o<br />
futuro, sentimos, outra vez, renascer de nós, estranhos<br />
a distanciamentos emulativos, justos nos meios porém<br />
acaso molestos nos fins – estes o bem–comum e<br />
supremo – numa catálise precisa, a idéia da pátria,<br />
sólida e una.
135 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Eu me pergunto, como noutras épocas de<br />
anseios e turbações, quando os mitos ganhavam foros de<br />
verossimilança, se haverá, de fato, uma pátria – um<br />
solo, uma língua, um credo, um povo – comunidade<br />
de regiões dentro de uma constante de consciência<br />
coletiva, prendendo-nos o espírito ao mesmo fluxo de<br />
sentimentos e ideais que se entrecasam sob a influência<br />
de remotas simpatias e indizíveis afinidades.<br />
Haverá este coletivo sentido homogêneo da<br />
vida, assim nos triunfos quanto nas derrotas, assim nas<br />
alegrias alvissareiras como nas tristezas deprimentes,<br />
criando uma alma e um destino compartidos?<br />
Mas, enfim, que imensa caudal é a essa –<br />
outrora simples – gota da fonte – a que vieram<br />
desaguar, de todas as vertentes, os grandes tributários,<br />
que lhe marcaram, aprofundaram e encheram o leito,<br />
ora impetuoso como as tormentas, ora corredio e plácido<br />
qual flume sagrado?<br />
Certo, mal divisamos, num abraço retrospectivo<br />
dos olhos, os veios filiformes que, irrigando planícies e<br />
baixadas, terminaram por confluir no talvegue, para a<br />
mobilização da força e da riqueza.<br />
Manancial de que nos alimentamos. Água lustral<br />
em que mergulhamos para nos purgarmos de erros,<br />
para nos remirmos de pecados, estimulando-nos nas<br />
fraquezas, acalmando-nos nas angústias, porque ele é o<br />
miraculoso e perene rio da Pátria.<br />
E ei-lo novamente aqui, no acontecimento<br />
desta cidade reaglutinante, congraçando a velha província,<br />
carreadora de valores humanos.
MARTINS NAPOLEÃO – 136<br />
A mesa posta, a gente irmanada, os homens<br />
aptos, ao prisma da persuasão e da técnica, pela ação<br />
governativa e a paz reconquistada. Altiplano, de onde<br />
irradia a nova projeção do Brasil.<br />
Sr. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />
Prezado antigo companheiro:<br />
Madrugastes para o labor e cedo vos<br />
empenhastes nos estudos.<br />
Do funcionalismo do Banco do Brasil, a que<br />
chegastes por mérito de concurso, fostes, em boa<br />
hora, levado para o seu quadro de advocacia, de<br />
onde tantos têm saído, sem desertar, para os postos<br />
mais responsáveis da República, na Administração, no<br />
Parlamento, no Magistério e na Judicatura, esta que,<br />
ainda agora, se enobrece de um Ministro do Tribunal<br />
de Recursos em Esdras Gueiros, dois Desembargadores,<br />
e nada menos do que sete titulares entre a Justiça<br />
Comum da Guanabara e a do Trabalho, além de um<br />
Promotor e um Defensor.<br />
Tanto importa em dizer-se que a secular<br />
instituição de crédito, com vigorosa expansão dentro e<br />
fora do país, revitalizada, em metodologia e dinâmica,<br />
mercê da dedicação de seu conjunto de servidores e<br />
peritos, e de sua excelente Diretoria, à frente da qual<br />
cabe nomear o Presidente Nestor Jost, em contínua febre<br />
passional de atividade, ainda coopera, da melhor maneira,<br />
não apenas para o fomento da economia nacional por<br />
amplas latitudes, como também para os órgãos de maior<br />
importância na condução administrativa, judiciária e<br />
política do Estado.
137 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Integrante do Contencioso, foi-vos, Sr. Ministro,<br />
confiada, por substituição, a Assistência Jurídica de<br />
Brasília, a que igualmente emprestastes relevo excepcional,<br />
em fase árdua, com savoir–faire inexcedível, eficiência<br />
profissional, colaboração fecunda, tato rigoroso e tato<br />
edificante.<br />
Já então vínheis do magistério superior, em que<br />
ingressastes mediante as severas provas de competência.<br />
Não sei, mas bem presumo, que o dom da<br />
palavra – vivida, pronta e exuberante – vos acordou<br />
a vocação para o Direito Penal, assim no foro como<br />
na cátedra. E foi talvez por isto que, aliando dotes e<br />
tirocínio, vos inclinastes a disputar a cadeira, com êxito<br />
alcançada, de Direito Judiciário Penal na Faculdade<br />
amazonense, matéria que lecionais, com a habitual<br />
proficiência, na Universidade de Brasília.<br />
Em vossa tese, que dedicastes à memória de<br />
Análio de Mello Rezende, tão caro às raízes de minha<br />
gente, enfrentais “o tormento da delimitação conceitual<br />
do instituto de conexão”, ali demonstrando a seriedade<br />
dos vossos conhecimentos jurídicos e expendendo, a<br />
esmero, pontos de vista pessoais, com autoridade de<br />
doutrinador e hermeneuta.<br />
Vossa colaboração para nossa literatura<br />
especializada não se estancou nos ASPECTOS DA<br />
CONEXÃO, ensaio dos verdes anos, floridos de<br />
entusiasmo e já colmados de ciência.<br />
Seguiu-se-lhe, sobre o mesmo tema, com visão<br />
dilatada e longo fôlego – elucidando-o, ampliando-o e<br />
enriquecendo-o, ao lume de novas achegas – aquele outro<br />
AINDA SOBRE A CONEXÃO: UTILIDADE E ATUALIDADE
MARTINS NAPOLEÃO – 138<br />
DE UMA LIÇÃO CENTENÁRIA. E lúcidas e aquilatadas<br />
monografias outras, esparsas em Revistas de Direito.<br />
Nem bem lográvamos as dádivas do vosso<br />
talento e preparo, eis que o Poder Executivo, em razão<br />
deles e pela vocação de escolher e premiar, vos eleva<br />
à Chefia do Ministério Público Federal, ora em ablativos<br />
de reestruturação e aprimoramento, e, dentro em pouco,<br />
vos nomeia Ministro do Supremo Tribunal, galardão<br />
de vossa idoneidade, para cujo provimento impõe a<br />
Constituição os requisitos mais substantivos.<br />
Ao convívio diuturno e paralelo dos numes<br />
tutelares da Carta Fundamental, mestres insígnes,<br />
pontífices da Lei e guardiães e vigias da liberdade<br />
malferida ou ameaçada, onde aqueles mesmos que dali se<br />
apartaram, ainda o sulcam de clarões – naquela esfera<br />
de saber e equilíbrio, assegurada pela experiência, a<br />
moderar o que for para moderar, e aperfeiçoar o que for<br />
perfectível, somando opiniões e votos, sem vos despirdes<br />
das aquisições docentes de vossa cultura e entendimento,<br />
não incorrereis na inquinada obstinação dos a que<br />
se dirigia o Pregador, recomendando-lhes docilidade<br />
persuadida e convicta, sinônimo de ciência verdadeira.<br />
Mattirolo, ainda não relegado, e encontradiço<br />
entre os que vos são familiares, em certo passo do<br />
TRATA<strong>DO</strong> DE DIREITO JUDICIÁRIO CIVIL ITALIANO,<br />
lembra-nos que<br />
“Ufficio della dottrina giuridica non è quello soltanto di<br />
esplicare e di commentare la legge positiva, ma quello ancora<br />
– di esaminarne e di apprezzarne il merito, dal doppio lato<br />
della logica del diritto e della pratica opportunità”,
139 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
conselho prudente e momentoso, sobretudo quando as<br />
normas permanentes sofrem, não raro, a violência da<br />
legislação, instável, fragmentária ou tumultuosa, no afã<br />
mesmo de captar, e traduzir em regulæ juris, os<br />
cruciantes e agressivos fenômenos sociais e econômicos<br />
de um mundo em vertiginosa crise de transformações e<br />
de superação.<br />
Para tanto, reunis, numa combinação adequada,<br />
os predicamentos e as virtudes daquele que perquire,<br />
estuda e compara, daquele que aprende e transmite,<br />
daquele que vive e pratica o direito: jurista, professor e<br />
advogado, da mais pura categoria.<br />
Sr. Procurador Geral da República,<br />
Professor MOREIRA ALVES:<br />
Com este amorável título, que ilustrais<br />
tamanhamente, quero tratar-vos aqui, num encontro de<br />
amigos e companheiros.<br />
Afortunado dia aquele, eu o confesso<br />
comovidamente, em que me ocorreu convocar-vos para<br />
o Departamento Jurídico da Carteira de Crédito Agrícola<br />
e Industrial, que chefiava então, e a quando, noutro<br />
setor, desempenháveis já a função de advogado!<br />
Só vos conhecia, àquela altura, através de<br />
informações que vos acreditavam, sem discrepância, no<br />
mister e no ofício, embora tivesse, para fundamento<br />
de minha expectativa, a certeza de que o rebento não<br />
destoava da árvore, pois me acostumara a respeitar e<br />
admirar, de longe fosse, a carreira de vosso Pai,<br />
exemplo de probidade, inteligência e devotamento à<br />
Casa de nós ambos.
MARTINS NAPOLEÃO – 140<br />
Duplamente afortunada a hora em que pude<br />
chamar-vos para a Consultoria Jurídica, onde, malgrado<br />
meu e do Banco, não vos foi possível assistir por<br />
muito, porque vos requestava a cadeira de Direito Civil<br />
na gloriosa faculdade de São Paulo, após memorável<br />
segundo concurso, que do outro saístes sem a cátedra,<br />
embora conquistando a láurea indisfarçável, com que<br />
vos consagraram a vidência dos moços e a opinião dos<br />
sabedores.<br />
Transferindo-vos para a metrópole dinâmica,<br />
cedo na idade talvez, porém maduro no saber e na<br />
profissão, já nos tínheis oferecido o vosso DIREITO<br />
ROMANO, que raros dos nossos têm compendiado, por<br />
igual, em livro e sistema, e que nos reconcilia, velhos<br />
e jovens, educadores e aprendizes, à austera disciplina,<br />
quase apenas soletrada, com honrosas exceções, no<br />
currículo universitário, à pressão de dessorá-lo da seiva<br />
que alenta e sustém a tantos dos nossos institutos<br />
jurídicos.<br />
Na tendência de pragmatização dos cursos,<br />
até certo ponto aconselhável, tornou-se quase despiciendo<br />
o estudo da ciência mater, tanto mais que, aos poucos,<br />
dentre as letras clássicas, vai sendo restringida a<br />
discência do Latim, e voz corrente se espalha a de que<br />
é linguagem para veso de bacharéis e figuração de<br />
leguleios, vazios de idéias e inflados de aparência.<br />
Assim, com o venerando sermo contracto, a<br />
cuja omissão gradativa nos liceus, muitas nações, a<br />
exemplo da França pela fala dos seus mentores,<br />
culpam o declínio de sua civilidade humanística e<br />
científica.
141 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
E todos certos estávamos de que o idioma,<br />
por excelência disciplinar do pensamento, tão à puridade<br />
versáveis e conversáveis – no que sinceramente vos<br />
invejo – como o aviso de Vidari a seguir, nos<br />
SCRITTI VARII, de que é preciso estudar, dia e dia,<br />
os grandes exemplares da latinidade, porque “só deste<br />
modo se pode honrar a ciência e não desonrar a<br />
língua”, a dele e a nossa, na qual se perpetuam, por<br />
via de herança, a oratória siderante de Vieira e a lírica<br />
imarcescível de Camões, o verbo profético de Ruy e a<br />
concisão lapidar de Lafayette.<br />
Bem o entendeis, em DIREITO ROMANO e DA<br />
RETROVENDA, com o vosso estilo de escrever e dizer<br />
– sóbrio, claro, retilíneo e didático, sem recheios de<br />
loquacidade nem cosmética de arrebiques e retoques –<br />
com a segurança, quando ensinais ou expondes, de que<br />
a razão compete ao missivista de AS PROVINCIAIS, para<br />
quem la vraie éloquence se moque de l´éloquence”.<br />
Na vossa obra, pareceres, arrazoados e<br />
aulas, em numerosos centros escolares, a erudição se<br />
cristalizou em cultura.<br />
Como o outro homenageado desta noite, sois<br />
jurista, professor e advogado, em medida de qualidade<br />
e grandeza.<br />
Daí por que a mão firme e o senso exato do<br />
Ministro da Justiça – Mestre Alfredo Buzaid – vos<br />
levaram para o seu Gabinete e vos oneraram de tantos<br />
e nobres encargos, quais os de Coordenador da Comissão<br />
de Estudos Legislativos, membro da Comissão incumbida<br />
de elaborar o Anteprojeto do Código Civil, e presidente<br />
das Comissões Revisoras do Anteprojeto do Código Penal,<br />
Contravenções e Execuções Penais.
MARTINS NAPOLEÃO – 142<br />
E, pouco há, o Governo, com fidelidade no<br />
acertar, vos entrega a Procuradoria Geral da República,<br />
para refundir, no melhor metal, uma tradição de<br />
expoentes, citar um só dos quais fora para mim<br />
assinalar a todos, pela igual notoriedade de ilustração.<br />
Senhor Ministro, Senhor Procurador-Geral. De<br />
alongado, escusai-me agora; e por não ter, em suma,<br />
expresso o quanto mereceis, do que dá testemunho esta<br />
reunião de alegria e reconhecimento, perdoai-me de omisso.<br />
Se me pudesse outorgar alguma autoridade o<br />
ora penoso exercício do mandato, o manuseio dos livros,<br />
o comércio dos homens e a vivência dos fatos, numa<br />
era aflita de perplexidades, sem esquecer ainda uma<br />
tênue filosofia existencial, que a idade justifica – e<br />
tudo aliás não basta por si – ser-me-ia lícito<br />
pedir-vos o que, na verdade, é ocioso diante da vossa<br />
consciência de conduta e ministério.<br />
Deixai-me, não obstante, repetir um verso de<br />
Homero, dileto a Sócrates, segundo está na APOLOGIA,<br />
e de pleno sentido humano, não a modo de conselho,<br />
de que prescindis, mas à guisa de amistosa lembrança,<br />
a que vos atereis de sempre: “Não nasci do carvalho<br />
nem também do rochedo”.<br />
Dizendo a lei, que vale insuflá-la de viva,<br />
realística e oportuna, ou proclamando a justiça, que<br />
desmedida é pecado, e temperada é perfeição, na<br />
palavra do Doutor das CONFISSÕES, um e outro de<br />
vós, mestres e companheiros, nem viestes do carvalho<br />
para dar sombra apenas, nem do rochedo brotastes,<br />
para só transferir ao feito e julgamento o mudo<br />
coração da pedra.
143 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
7<br />
XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />
Presidente do Supremo Tribunal Federal (16/02/81 a 21/02/83)<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1985 a 1986)<br />
DÉCIO MIRANDA<br />
Ministro do Supremo Tribunal Federal<br />
Senhor Presidente e Senhores Ministros (26)<br />
Senhor Ministro da Justiça, representante do Senhor<br />
Presidente da República<br />
Senhor Presidente da Câmara dos Deputados<br />
Senhores Ministros de Estado<br />
Senhor Procurador-Geral da República<br />
(26) DÉCIO MIRANDA, ministro do STF – Discurso de saudação na<br />
solenidade de posse do ministro Francisco Manoel XAVIER DE<br />
ALBUQUERQUE no cargo de Presidente do Supremo Tribunal<br />
Federal – Brasília – DF – 16/2/ 1981.
DÉCIO MIRANDA – 144<br />
Senhor Consultor-Geral da República<br />
Senhores Presidentes e membros dos Tribunais Superiores<br />
da União, dos Estados e do Distrito Federal<br />
Senhores Governadores e membros de Assembléias<br />
Legislativas<br />
Senhores Presidentes dos Conselhos Federal e Seccionais<br />
da Ordem dos Advogados do Brasil<br />
Senhores Magistrados, Adgovados e membros do Ministério<br />
Público<br />
Senhoras e Senhores<br />
Honrada com tantas presenças ilustres, realiza-se<br />
neste momento a posse do Sr. Ministro Francisco Manoel<br />
Xavier de Albuquerque na Presidência da Casa.<br />
É próprio e adequado ao momento salientar,<br />
em apertado resumo, fatos e aspectos da vida e da<br />
personalidade de nosso novo Presidente.<br />
Sua ascensão ao Supremo Tribunal Federal<br />
se deu a 19 de abril de 1972, aos quarenta e seis<br />
anos de idade, propiciando-lhe alcançar, ainda não<br />
decorridos dois lustros de exercício, o mais alto posto<br />
do Poder Judiciário da República Federativa do Brasil.<br />
Acham-se os primórdios de sua carreira no<br />
portentoso Setentrião brasileiro, no Amazonas, onde os<br />
dados biográficos oficiais lhe registram o bacharelado e<br />
o doutorado pela Faculdade de Direito daquele Estado,<br />
o magistério jurídico e a advocacia na Capital, sem<br />
contudo, ainda assim, traduzir toda a sua experiência<br />
humana na Província.<br />
É que, assinale-se, a atividade profissional do<br />
jovem bacharel não se restringiu à Capital. Conheceu,<br />
nessa militância inicial, as frágeis embarcações da
145 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
penetração fluvial, dotadas de miraculosa capacidade, na<br />
imaginação de seus carregadores e capitães.<br />
Nelas viajou, dias e dias, por volumosas<br />
correntes ou igarapés, a requerer perante juízes<br />
interioranos.<br />
Ainda que de breve duração, essa experiência<br />
pioneira, entremeada na advocacia da Capital, marcou o<br />
espírito de Xavier de Albuquerque, como tudo o que se<br />
faz no verdor dos anos, com o sentimento de respeito<br />
ao homem comum do povo, ao trabalhador humilde<br />
e desprovido do Interior, ali oferecendo o profundo<br />
contraste de austeridade de vida com o vigor e a<br />
luxúria de águas e florestas.<br />
Cedo, menos de cinco anos após a formatura,<br />
ingressou Xavier de Albuquerque no magistério superior,<br />
para o qual já em 1956 preparara sua tese de<br />
concurso, < Aspectos da Conexão >. Versando aí um<br />
dos mais delicados temas de processualística, a ele<br />
voltaria em novo trabalho, de 1966, já em Brasília.<br />
Também lhe mereceram estudo teórico outros<br />
importantes temas de Direito Processual: < Da Clássica<br />
Divisão Dicotômica do Direito à Disputa Unitário-<br />
Dualística do Processo >, < Conceito de Mérito no Direito<br />
Processual Penal >, < Problemas Processuais da Execução<br />
Penal >, < A Assistência no Processo Penal Brasileiro ><br />
e < O Direito Processual na Constitutição de 1967 >.<br />
A transferência de Manaus para o Distrito<br />
Federal trouxe Xavier de Albuquerque a cenário novo,<br />
em que de pronto se havia de destacar na advocacia<br />
e no magistério.
DÉCIO MIRANDA – 146<br />
Tive a honra de vê-lo suceder a mim próprio –<br />
e com que lucro para a Justiça! – primeiro, no cargo<br />
de Ministro do Tribunal Superior Eleitoral, na classe de<br />
juristas, e, depois, no de Procuradoria-Geral da República.<br />
Neste último – o mais árduo cargo da República,<br />
segundo registrou Hahnemann Guimarães, que o<br />
ocupou nos idos de 1945 – Xavier de Albuquerque já<br />
completara dois anos de exercício, quando foi alçado,<br />
com aplauso de toda de toda a Nação, ao Supremo<br />
Tribunal Federal, na vaga deixada com a aposentadoria<br />
do eminente Ministro Adalício Nogueira.<br />
Os fastos desta Casa, que já anteriormente<br />
davam a nota de sua participação em julgamentos<br />
memoráveis, ora como advogado de partes, ora como<br />
defensor nomeado pelo Tribunal, e mais tarde como<br />
Procurador-Geral, passaram a espelhar sua diuturna<br />
contribuição para a jurisprudência e a doutrina, nos<br />
votos proferidos.<br />
Muitas dessas manifestações assumiram feição<br />
antológica, vindo a constituir um ideário de advogados,<br />
membros do Ministério Público e magistrados.<br />
Entre eles, sobressai, pela frequência da<br />
evocação, o gesto de fortalecimento espiritual da<br />
magistratura, ante a suspensão, então vigente, das<br />
garantias de sua independência.<br />
Disse, a propósito: < Como as concebo, as<br />
garantias da magistratura são uma conquista do<br />
Estado, e não dos juízes. Em outras palavras e<br />
no que me diz respeito: como cidadão e, se o fosse,
147 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
como pensador político, estimaria que se restabelecessem<br />
quanto antes, em toda a sua plenitude, por que<br />
isso restituiria ao Estado brasileiro o timbre do<br />
aperfeiçoamento que lhe deve ser, enquanto Estado,<br />
consubstancial. Como juiz, porém, pouco se me dá tê-las<br />
ou não tê-las, porque tê-las ou não tê-las não interfere<br />
em nada com a independência, com a imparcialidade, com<br />
a dignidade que imprimo ao desempenho da minha função<br />
judicante. ><br />
Bem constituem essas palavras amostra da<br />
posição vertical de Xavier de Albuquerque, comum em<br />
todas as suas atitudes e pronunciamentos, límpida<br />
expressão de seu inato sentimento da grandeza da<br />
função judicante.<br />
Da advocacia, não trouxe laivos de arrebatamento<br />
ou de impaciência, mas, sem dúvida, o fulgor das<br />
demonstrações lógicas, o brilho suave da elegância<br />
verbal, o método e a clareza da exposição.<br />
E sua contabilidade das horas é mistério<br />
insondável: os mais intrincados processos, recheados de<br />
complexas questões, parecem não mais lhe demorar às<br />
mãos que os simples e corriqueiros.<br />
Por modéstia, é com freqüência que menciona<br />
o enfado do esforço contínuo e da sobrecarga de<br />
trabalho do Juiz do Supremo Tribunal Federal, mas bem<br />
desconfio que o faz para consolo de alheias aflições,<br />
notadamente as minhas.<br />
Temo-lo, hoje, Presidente do Tribunal e do<br />
Conselho Nacional da Magistratura, a deter a imensa<br />
responsabilidade de Chefe do Poder Judiciário Nacional,
DÉCIO MIRANDA – 148<br />
de árbitro derradeiro das questões em que se dividir<br />
o Plenário, de juiz singular de várias atribuições, de<br />
dirigente máximo de um aparelho administrativo a que se<br />
requer funcionamento irrepreensível, funções e tarefas, todas<br />
essas, para as quais se acha superlativamente preparado.<br />
Sucede-lhe, na Vice-Presidência do Tribunal, o<br />
eminente Ministro Leitão de Abreu, cujo nome não me é<br />
possível declinar senão acrescentando, ao apreço e ao<br />
louvor de todos os brasileiros, o meu particular<br />
sentimento de gratidão, pelo dia em que, em nome do<br />
Presidente Emílio Médici, transpôs os umbrais, não só<br />
de minha casa, como de minha insuficiência, a transmitir<br />
o convite para o cargo, que tanto me honrou, de<br />
Ministro do Colendo Tribunal Federal de Recursos.<br />
Perfeito é o equilíbrio de suas virtudes com as<br />
do novo Presidente.<br />
S.Exª, como Vice-Presidente, é garantia de<br />
identidade de propósitos na direção da Casa, presença<br />
admirável de amigo, colega e conselheiro.<br />
Oriundos dos pólos extremos do universo<br />
brasileiro, o Amazonas e o Rio Grande do Sul, Xavier de<br />
Albuquerque e Leitão de Abreu ora se irmanam no<br />
supremo posto do Poder Judiciário do Brasil, em simbólica<br />
medida de nossa união nacional.<br />
O eminente Ministro Antônio Neder deixa a<br />
Presidência neste momento, cercado pelo respeito de todos,<br />
após cumprir por 2 anos os fatigantes deveres do cargo.<br />
Virá partilhar, de novo, dos trabalhos da<br />
respectiva Turma e do Plenário, a que chegou em 28<br />
de abril de 1971, e que tanto já enriqueceu com os<br />
seus votos, vasta cultura e sábia experiência.
149 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Agradece-lhe a Casa a grandeza e a altitude de<br />
seu exercício da Presidência, exigente de intenso labor<br />
jurisdicional, em feitos de sua competência singular e<br />
nos da competência coletiva, e nem lhe pode calar o<br />
elogio pelo êxito, dedicação e paciência com que também<br />
se ocupou da administração, objeto de seus permanentes<br />
cuidados.<br />
Foram estes quase dez anos da presença de<br />
Xavier de Albuquerque como Juiz desta Casa, tempos<br />
densos de acontecimentos.<br />
No campo internacional, a bipolaridade política<br />
– se bem que ainda não a militar – já parece ceder<br />
espaços à afirmação de outros centros de poder.<br />
No plano interno, a abertura política experimenta<br />
a restauração de instrumentos tradicionais da convivência<br />
nacional, e a criação de novos, inspirados pela sabedoria<br />
de políticos, sociólogos, legisladores.<br />
Seria impossível resumir as profundas<br />
transformações a que por último temos assistido, no País<br />
e no Mundo, senão consignar que os fatos sociais e<br />
econômicos assumiram e continuam assumindo novas e<br />
insuspeitadas dimensões, no sentido de que os antigos<br />
padrões de avaliação não mais conseguem abarcá-las,<br />
nem visualizar-lhes a tendência e o desenvolvimento.<br />
Ante a caudal amazônica das correspondentes<br />
novas aspirações – e aqui busco na terra de nosso<br />
Presidente o adjetivo apropriado – o legislador e o juiz<br />
enfrentam, aquele, ao mesmo tempo a queixa contra a<br />
insuficiência da legislação e contra o excesso de leis e<br />
normas; este, o contraditório apelo à celeridade e ao<br />
esgotamento completo de sucessivas instâncias.
DÉCIO MIRANDA – 150<br />
Os administradores, de outro lado, debatem-se<br />
no desafio permanente das contradições entre o<br />
necessário e o possível, entre o estímulo dirigido e a<br />
divinatória inspiração da livre iniciativa, entre o esforço<br />
da sofreguidão e a paciência das esperas.<br />
É nesse contexto, Srs. Ministros Xavier de<br />
Albuquerque e Leitão de Abreu, que o Supremo Tribunal<br />
Federal lhes entrega a chefia do Poder Judiciário<br />
Nacional.<br />
Nele, erram estridentemente os próprios sábios,<br />
quando tentam arriscar-se adiante de seu tempo,<br />
perturbam-se os futurologistas, quando às perspectivas<br />
de paz, felicidade, abundância.<br />
Em última análise, somente a fé na condição<br />
divina do homem conforta e alivia o expectador do<br />
futuro.<br />
Aquela fé que, segundo recordou de São Paulo<br />
o maravilhoso vate da Divina Comédia < é a<br />
substância do que se espera e argumento que, mesmo<br />
sem prova, leva à convicção >.<br />
Senhor Ministro Xavier de Albuquerque e<br />
Senhor Ministro Leitão de Abreu: é com o timbre da<br />
mais alta admiração e da mais profunda confiança que<br />
o Supremo Tribunal hoje lhes entrega a Presidência e<br />
a Vice-Presidência da Casa.<br />
Que a ambos inspirem, em cada hora e<br />
minuto, em todos os momentos, os altos desígnios da<br />
Paz e da Justiça.
151 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1986 a 1988)<br />
Procurador-Geral da Companhia Nacional de Abastecimento (1990 a 1992)<br />
Corregedor-Geral da Advocacia Geral da União (1994 a 2001)<br />
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993)<br />
Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000)<br />
Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />
Dr. JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA.<br />
Com V.Exª trabalhei por cerca de 11 anos,<br />
desde quando V.Exª assumiu a <strong>CONSULTORIA</strong> JURÍDICO-<br />
ADJUNTA PARA OS ASSUNTOS CONTENCIOSOS, e eu,<br />
em São Paulo, ainda a ASSESSORIA <strong>JURÍDICA</strong> REGIONAL<br />
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – Texto final do discurso de<br />
posse no cargo de consultor jurídico, em solenidade presidida, em<br />
29/8/1988, por Mário Bérard, presidente do Banco do Brasil.
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 152<br />
ADJUNTA. Aprendi logo a admirá-lo, pela competência,<br />
pela firmeza de caráter, pela integridade de conduta,<br />
pela segurança no comando, pela disponibilidade para<br />
o debate, pela compreensão na controvérsia, qualidade<br />
essas que exornam sua rica personalidade.<br />
Sertanejo da melhor cepa, somente chegou a<br />
BRASÍLIA, depois de forrado na espinhosa advocacia<br />
em defesa do Banco pelos menores burgos do sertão<br />
cearense. E para aqui veio para postular perante os<br />
Tribunais Superiores que então se instalavam na nova<br />
Capital. E assim o fez por largo tempo.<br />
Com a criação das duas <strong>CONSULTORIA</strong>S<br />
ADJUNTAS, foi por mérito nomeado para a ADJUNTA DE<br />
ASSUNTOS CONTENCIOSOS, onde de imediato sentimos<br />
a eficiência de sua Chefia. Éramos então advogados<br />
dispersos pelo País, cada um postulando em Juízo o<br />
direito do Banco, mas sem uma unidade de comando.<br />
Tantas e várias eram as questões, mas seu enfoque era<br />
pessoal, embora todos falássemos, peticionássemos, pela<br />
mesma empresa, resultando em desconformidade de<br />
entendimentos. Como sabem, Direito não é ciência exata.<br />
E aquela desconformidade se dava amiúde, com maior<br />
gravidade nas questões trabalhistas que então começavam<br />
a avultar-se. A empresa era uma só, mas o entendimento<br />
das questões de direito era diverso. E os Tribunais<br />
Superiores a apontarem essas divergências...<br />
O que fez V.Exª? Chamou à união seus<br />
advogados, uniformizou as postulações de direito do<br />
Banco em juízo, e os reflexos logo se mostraram.<br />
Hoje, quer a reclamação trabalhista seja do Sul ou do<br />
Norte; do Leste ou do Oeste do País, os processos<br />
chegam à Superior instância, guardando uniformidade nas
153 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
questões debatidas pelo Banco. E V.Exª assim agiu,<br />
tão-só pelo convencimento, sabendo respeitar a liberdade<br />
intelectual e profissional de cada advogado.<br />
Enfim, Dr. LACERDA, V.Exª como exímio<br />
lidador do Direito, combateu o bom combate, tornou-se<br />
vencedor, SUCEDER a V.Exa. é outra de minhas<br />
preocupações.<br />
Ficam para nós seu exemplo, sua competência,<br />
sua dedicação, sua retidão de caráter no exercício da<br />
<strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> do Banco.<br />
Para mim, resta-me rogar a proteção divina<br />
para que me fortaleça e me ajude nesta nova missão<br />
de minha vida.<br />
Muito obrigado.
9<br />
JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 154<br />
JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA<br />
Curriculum Vitae<br />
Carreira de Vida<br />
SUMÁRIO – HISTÓRICO FIEL NO TEMPO E NO ESPAÇO<br />
I - ORIGEM<br />
II – DESCENDÊNCIA E COMPLEXO FAMILIAR<br />
III – TRAJETÓRIA E ATIVIDADES EXERCIDAS:<br />
a) de zero aos 9 anos de idade; b) de 9 aos 10 anos<br />
de idade; c) de 10 aos 19 anos de idade; d) de 19 aos 22 anos<br />
de idade; e) de 22 aos 25 anos de idade; f) dos 25 aos 28 anos<br />
de idade; g) dos 28 aos 31 anos de idade; h) dos 31 aos 44 anos<br />
de idade; i) dos 44 aos 68 anos de idade; j) dos 68 aos 77 anos<br />
de idade; k) posição atual.
155 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
DESENVOLVIMENTO<br />
I - ORIGEM<br />
O titular deste currículo é originário do nordeste<br />
brasileiro – região do Cariri Cearense – Município de<br />
Mauriti, Distrito do Coité onde nasceu no dia 22 (vinte<br />
e dois) de janeiro de 1924 (mil novecentos e vinte e<br />
quatro), numa quarta-feira, por intermédio de uma velha<br />
“parteira” e sem nenhuma assistência médica. Ali<br />
ensaiou seus primeiros passos da vida rústica do campo<br />
situado nas fronteiras do Ceará, Paraíba e Pernambuco,<br />
através das quais se deslocavam, com toda facilidade,<br />
os bandos de cangaceiros e capangas protegidos pelo<br />
“coronelismo” reinante in illo tempore (“naquele tempo”).<br />
II - DESCENDÊNCIA E COMPLEXO FAMILIAR<br />
Filho primogênito de Pedro Sampaio de Lacerda<br />
(vulgo “Pedro Miguel”) e Maria Maranhão Silcon – esta,<br />
também, descendente dos Lacerdas do vale do Piancó,<br />
Estado da Paraíba, que se chamavam Francisco e<br />
Miguel da Silva Lacerda, respectivamente, ancestrais de<br />
Pedro e Maria, vieram para o Coité e se casaram<br />
com belas damas das famílias Furtado Leite, Maranhão,<br />
Sampaio, Martins de Morais, Araújolima, cujos<br />
descendentes foram se espalhando pelos municípios<br />
fronteiriços da Paraíba e Pernambuco, além de se<br />
projetarem tanto no Ceará (Milagres, Abaiara, Barbalha,<br />
Crato, Juazeiro do Norte, Fortaleza, etc), quanto em vários<br />
pontos do território nacional, conforme estudos genealógicos<br />
do Dr. José Leite Maranhão (também um Lacerda), a<br />
exemplo de seu irmão Pedro Maranhão de Lacerda,
JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 156<br />
e do Mons. Raimundo Augusto de Araújolima (vide<br />
Revista do Instituto Genealógico do Cariri, de junho/1981).<br />
Quanto aos genitores do titular deste currículo, fica<br />
registrado que o pai, Pedro, nasceu em 22/02/1898 e<br />
faleceu em 26/08/1980; e que a mãe, Maria, nasceu em<br />
14/12/1905 e faleceu em 03/10/1947, com 42 anos, de<br />
parto do décimo filho extraído já morto. Registre-se na<br />
história regional que dolorosas tragédias ocorreram com<br />
a família Lacerda, a saber:<br />
1°) – na cidade de Mauriti (CE), onde foi assassinado, em<br />
plena feira, o então Delegado Civil Pedro Lacerda,<br />
pai de Neco Lacerda e Maria Sampaio, morte vingada,<br />
imediatamente, por seu irmão José Miguel de Lacerda<br />
Sampaio;<br />
2°) – nas proximidades da cidade de Conceição do Piancó –<br />
PB, foi alvejado a tiros de rifles o pai de Pedro, José<br />
Miguel de Lacerda Sampaio, que morreu, logo em<br />
seguida, vítima de tocaia feita por três cangaceiros:<br />
“Manuel Gato”, “Asa Branca” e “Cícero Costa”, segundo a<br />
versão corrente do início do século XX, na região, em<br />
que nasceu o titular deste currículo. E seus avós<br />
paternos eram José Miguel de Lacerda e Maria Bela<br />
Pontanegra de Lacerda; os avós maternos eram<br />
Antônio Furtado Maranhão e Antônia Silcon de Lacerda.<br />
E o casamento de Pedro com Maria, genitores do<br />
titular, resultou de um “rapto”, em face da negação<br />
ao pedido feito ao pai da noiva, embora tenha<br />
reconhecido Antônio Furtado Maranhão, pai de<br />
Maria, em bilhete dirigido a Pedro, in verbis: “Pedro,<br />
meu sobrinho deixo de fazer a arrumação que tu<br />
me pedes porque tu tens dois inimigos fortes: Luiz<br />
Soares e Cícero Costa”. Esta é a síntese dramática da
157 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
descendência de José Sampaio de Lacerda, sem<br />
esquecer dos envolvimentos de “Pedro Miguel”, pai<br />
dele, no “Fogo do Coité – ataque de grupo de<br />
cangaceiros de “Senhor Pereira” e “Lampião” (75), ao<br />
Padre José Furtado de Lacerda (“Padre Lacerda”), no<br />
dia 19/01/1922 – ataque que durou seis horas (de 11<br />
às 17 horas), rechaçado pelos valentes irmãos Antônio<br />
Miguel, Pedro Miguel e João Miguel, auxiliados pelo<br />
primo “Neco Lacerda”, dois policiais e outros nove<br />
heróis, firmes defensores do Padre Lacerda, inclusive<br />
o humilde tocador de pífaro da banda Cabaçal da<br />
Igreja, conhecido com o nome de Joaquim Siqueira.<br />
E uma das prováveis causas determinantes desse<br />
ataque - além de conflitos políticos regionais -, foi a<br />
defesa de Pedro Miguel, feita pelo Padre Lacerda,<br />
em Júri Popular, a que foi submetido por suposta<br />
tentativa de homicídio, julgamento realizado na<br />
Comarca de Milagres – CE, da qual fora absolvido,<br />
unanimemente, após veemente defesa proferida pelo<br />
tio Padre Lacerda, que aproveitou a oportunidade<br />
para tecer duras críticas ao protetor de cangaceiros<br />
Coronel Zé Ignácio de Barro. Nesse episódio, Pedro,<br />
com apenas, cerca de 20 anos de idade, muito<br />
jovem, amargou dez meses de reclusão, em cadeia<br />
da cidade de Milagres – CE, hoje administrada por<br />
um sobrinho dele, o médico Dr. Elosman Leite<br />
Sampaio, já três vezes eleito Prefeito daquele<br />
Município que, no começo do século XX, foi<br />
bastante estratégico, no extremo sul do Ceará, para<br />
o combate ao cangacerismo que hoje, se chamaria<br />
de “crime organizado”, serviço do “coronelismo”<br />
então reinante.
JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 158<br />
III - TRAJETÓRIA E ATIVIDADES EXERCIDAS<br />
a) - de zero aos 9 anos de idade, José viveu na<br />
antiga vila do Coité, onde foi alfabetizado pelas<br />
parentas professoras Alice e Etelvina Leite de<br />
Lacerda, que usavam, naquela época (de 1930/1932),<br />
a Cartilha de ABC de Landelino Rocha;<br />
b) - de 9 aos 10 anos de idade (1933/1934), José<br />
recebeu, na cidade de Mauriti – CE, avançados<br />
conhecimentos de Português, Matemática, Geografia,<br />
História, Marcha Militar e Cívica, a título de<br />
preparação da juventude para a defesa da Pátria,<br />
tudo isso ministrado pelo grande Mestre Anselmo<br />
Chaves, amazonense ilustre, privado das duas pernas<br />
que perdera em missões na floresta amazônica.<br />
Basta lembrar que, nos desfiles das datas cívicas<br />
(7 de setembro, 15 de novembro, 21 de abril), os<br />
alunos marchavam, a pé, pela cidade de Mauriti,<br />
parando e discursando nas portas das casas dos pais<br />
(discursos preparados pelo Mestre e decorados pelos<br />
alunos), enquanto ele, por falta de pernas, tinha de<br />
acompanhar os desfiles em lombo de um cavalo. Esse<br />
período é inesquecível, porque foi a base intelectual<br />
e ética da carreira do titular deste currículo;<br />
c) - dos 10 aos 19 anos de idade, pode-se resumir na<br />
dura luta do titular, que teve de enfrentar grandes<br />
desafios nas atividades próprias da agricultura,<br />
pecuária, caçadas noturnas de animais silvestres<br />
(peba, tatu-bola, tamanduá, mocó, punaré, preá),<br />
tudo para sobrevivência, não esquecendo a “seca de<br />
1932”, quando o milho, feijão e arroz desapareceram<br />
do sertão” – segundo a poesia de Cordel, cantada<br />
no Coité – fato que obrigou a população a comer
159 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
fibras torradas da “macambira” e pão de massa<br />
lavada de “mucunam”, com as carnes dos “bichos<br />
do mato” já citados. Período bastante difícil, mas<br />
vencido com a ajuda de Deus e Nossa Senhora da<br />
Conceição;<br />
d) - dos 19 aos 22 anos de idade, pode-se considerar<br />
o início da fase áurea da vida de José. Basta<br />
relembrar que o então vigário de Mauriti, Padre<br />
Antônio Alves de Oliveira incentivou a criação de<br />
nova escola paroquial dirigida pelo ex-seminarista e<br />
competente Professor Zinha (João Alves de Souza),<br />
convocando os pais a matricularem os filhos no<br />
novo Colégio, que funcionava no Consistório da<br />
Igreja Matriz de Mauriti – CE. E, para lá, foi<br />
o titular deste currículo, em outubro de 1943,<br />
permanecendo, ali, apenas os três últimos meses<br />
daquele ano. Ao encerrar-se aquele trimestre e<br />
com a avaliação positiva do titular deste currículo, o<br />
Professor Zinha o convocou á Casa Paroquial e,<br />
numa cordial entrevista, o aconselhou a dirigir-se ao<br />
Colégio Diocesano do Crato (antigo “Gymnásio do Crato”),<br />
e tomar parte em eficiente curso de preparação<br />
ao então vigente “Exame de Admissão ao Ginásio”,<br />
ministrado pelos irmãos do Mestre e grande orador<br />
Professor Aluísio Epitácio Pereira. Ao fim da<br />
entrevista fraternal, o Prof. Zinha transmitiu a José<br />
o seguinte lema de honra e vida: “José, vá que<br />
você será aprovado! E não páre mais a partir da<br />
vitória! Eu lhe digo isso porque, quem começa<br />
projeto de vida e pára, é derrotado; quem começa<br />
e vai até certo ponto da jornada e desiste tem<br />
maior prejuízo; só aquele que começa, vai ao meio<br />
e chega ao fim, é o único vencedor”. Esse conselho
JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 160<br />
nunca me saiu da consciência e da vontade<br />
de cumprir a missão que Deus me reservou e era<br />
o desejo de meus amados pais Pedro e Maria,<br />
de saudosa memória. Pois bem, a 28 de janeiro de<br />
1944, estava José no meio dos alunos do curso<br />
preparatório ao mencionado “exame de admissão ao<br />
Ginásio de Crato – CE, que se realizou em fins de<br />
fevereiro de 1944, tendo o titular deste currículo<br />
alcançado a classificação de 2° lugar, numa turma<br />
de 48 alunos. No mesmo ano de 1944, foi<br />
matriculado na 1ª série do Curso Ginasial, logrando<br />
aprovação, também, no 2° lugar. Em 1945 e 1946,<br />
manteve a mesma classificação, não obstante ter<br />
assumido, em 1946, a grande responsabilidade de<br />
“auxiliar de disciplina” e de “catequista” do Colégio<br />
Diocesano do Crato, trabalhando das cinco horas<br />
manhã até às 21 horas, para ter direito, apenas, às<br />
aulas, às refeições e à moradia no “internato dos<br />
alunos”. Encerrado o ano letivo de 1946, foi extinto<br />
o “internato” daquele Colégio e José teve de se<br />
transferir para Fortaleza, para trabalhar e estudar,<br />
com o inestimável apoio de dois cidadãos<br />
inesquecíveis: Ivonísio Mosca de Carvalho, que<br />
conseguiu três “prêmios” caídos do céu, a saber:<br />
1°) vaga na “Casa do Estudante Pobre do Centro<br />
Estudantil Cearense”; 2°) matrícula no Liceu do<br />
Ceará; 3°) emprego de cobrador da TEXACO, a partir<br />
de fevereiro de 1947. O outro cidadão foi o Dr.<br />
José Leite Maranhão, de saudosa memória, primo<br />
legítimo da mãe de José, o qual providenciou todas<br />
as informações e garantias, exigidas pela TEXACO,<br />
para que o candidato ao cargo de cobrador pudesse<br />
exercer, com segurança, a função de receber dinheiro
161 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
dos clientes e prestar contas à tesouraria daquela<br />
empresa, diariamente, além da fiança dos pais de<br />
José. Deu tudo certo, graças ao Supremo Arquiteto<br />
do Universo. Aquele primeiro emprego durou de<br />
13/07/47 a 31/12/49, quando, mediante concurso<br />
público, José passou a exercer o cargo de escriturário<br />
da então Autarquia Federal Lloyd Brasileiro –<br />
Patrimônio Nacional, com sede no Rio de Janeiro<br />
(RJ), e Agência à Avenida Pessoa Anta – Fortaleza<br />
(CE). Ali, permaneceu de dezembro de 1949 a<br />
dezembro de 1952, quando foi nomeado “auxiliar de<br />
escriturário” do Banco do Brasil S/A – Agência de<br />
Salvador (BA), como resultado de concurso público.<br />
Naquele ano de 1952, José já havia concluído o<br />
segundo ano de Direito, depois de passar pelo 4°<br />
Ginasial de Santa Maria, três anos científicos do<br />
Liceu do Ceará e pelo pesado vestibular da Faculdade<br />
de Direito da Universidade Federal do Ceará;<br />
e) - vê-se, pois, que o titular deste currículo, no<br />
período dos 22 aos 25 anos de idade (1946 a 1949),<br />
enfrentou desafios pesados, tanto na conquista de<br />
emprego quanto na disputa de vagas no ensino<br />
universitário (3° grau), em Fortaleza, capital do<br />
Ceará, embora tenha sido egresso da vida camponesa,<br />
onde trabalhava de enxada, machado, roçadeira e<br />
cuidava de animais, trajando gibão, perneira, chapéu<br />
de couro, etc. Em dezembro de 1949, se encerrou<br />
a etapa a etapa do 1° emprego na TEXACO,<br />
em 10/06/48, casou com Francisca Zita de Moura<br />
Lacerda;<br />
f) - dos 25 aos 28 anos de idade (1949 a 1952), foi<br />
o lapso do tempo de serviço do 2° emprego exercido
JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 162<br />
no Lloyd Brasileiro, em Fortaleza – Ceará, de<br />
que resultou maravilhosa experiência. No mesmo<br />
período, nasceram seus três primeiros filhos: Maria<br />
Simone, Judite e José Júnior, respectivamente, em<br />
14/03/1949, 06/09/1950 e 12/09/1951, aumentando, com<br />
isso, sua responsabilidade familiar;<br />
g) - dos 28 aos 31 anos de idade (1952 a 1955),<br />
trabalhava e estudava, em Salvador, Estado da<br />
Bahia, tendo colado grau de Bacharel em Direito<br />
no dia 08/12/1955, no salão nobre da Reitoria<br />
da Universidade Federal da Bahia, em solenidade<br />
presidida pelo Professor, escritor e diretor da<br />
Faculdade de Direito, Dr. Orlando Gomes;<br />
h) - dos 31 aos 44 anos de idade, exerceu funções de<br />
Escriturário e Advogado do Banco do Brasil S/A.,<br />
na Bahia, no Ceará e nas comarcas de Araripina,<br />
Bodocó, Exu e Ouricuri, no Estado de Pernambuco,<br />
além de ter cumprido missões especiais em<br />
Camocim, Iguatú, Quixeramobim, Aracati e Fortaleza<br />
- CE. Ademais, foi fundador e 1° Diretor da Faculdade<br />
de Ciências Econômicas do Crato, então agregado à<br />
UFCE (hoje integrante da URCA);<br />
i) - dos 44 aos 68 anos de idade, já com residência<br />
fixa em Brasília (DF), desempenhou as funções de<br />
Advogado, Sub-Assessor, Assessor, Consultor Jurídico<br />
Adjunto de Contencioso e Consultor Jurídico Geral<br />
do Banco do Brasil S/A., responsável pela atuação<br />
jurídica daquela grande instituição financeira pública,<br />
inclusive realizando cursos e seminários de Advogados<br />
em várias cidades do País e resolvendo graves<br />
questões internas e internacionais. Esse período
163 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
durou até sua aposentadoria, em setembro de 1988,<br />
contando, então, 35 anos e nove meses de serviço,<br />
só no Banco do Brasil S/A, com mais de 3 anos de<br />
TEXACO e 3 de Lloyd Brasileiro, ultrapassou os<br />
41 anos de serviço, sem interromper contribuição<br />
de previdência (IAPTEC, IAPM e IAPB, INPS);<br />
j) - dos 68 aos 77 anos de idade, José se orgulha de<br />
ter exercido, com firmeza, dignidade e eficiência, as<br />
missões patrióticas de Procurador-Geral da CONAB –<br />
Companhia Nacional de Abastecimento (de 1990<br />
a 1992) e de Corregedor-Geral da Advocacia-Geral da<br />
União (1994 a 2001), responsável pela fiscalização<br />
e controle do serviço jurídico da União, executado,<br />
no País inteiro, pelos integrantes das carreiras<br />
de Advogados da União, Procuradores da Fazenda<br />
Nacional, Assistentes Jurídicos e Procuradores<br />
Federais das Autarquias e Fundações Públicas,<br />
participando, ainda, do Conselho Superior da AGU,<br />
cujo Regimento foi ele que elaborou;<br />
k) - posição atual do titular deste currículo é a de<br />
aposentado e supervisor atento de numerosa<br />
família, ligada diretamente a ele, que conta com<br />
oito filhos (todos educados e empregados), 26 netos<br />
bem encaminhados na vida e já duas bisnetas.<br />
No dia 22 de janeiro de 2005, José do Coité<br />
completou 81 anos de idade, mas ainda com muita<br />
disposição para o binômio Trabalho e Estudo,<br />
equação mágica de sua vitória na vida, ao lado<br />
de sua esposa e grande companheira Francisca<br />
Zita de Moura Lacerda, que tem sido força<br />
imprescindível a todo o sucesso registrado durante<br />
os 57 anos de nossa sociedade conjugal.
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 164<br />
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993)<br />
Advogado–Geral da União (jul/1993 a jan–2000)<br />
Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002)<br />
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA<br />
Advogado do Banco do Brasil (AJURE–Porto Alegre–RS (1977/1992)<br />
Assessor da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil (1992/1994)<br />
Nossa Academia de Letras está em festas. (25)<br />
Ingressa em suas fileiras, nada mais, nada menos, do que<br />
a figura do eminente confrade Dr. Geraldo Magela da<br />
(25) Discurso de recepção ao acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão,<br />
Advogado–Geral da União, na Academia de Letras dos Funcionários do<br />
Banco do Brasil, proferido pelo jurista Luiz Augusto Beck da Silva,<br />
em solenidade realizada, em 26/04/1994, no Auditório da Presidência<br />
do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF.
165 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Cruz Quintão, mui digno Advogado-Geral da União, com<br />
status de Ministro de Estado, merecidamente nomeado<br />
para tão importante cargo da vida da Nação, por Sua<br />
Excelência, o Presidente da República, Dr. Itamar Franco.<br />
Com efeito, este é um dia de júbilo para<br />
todos nós, amigos e colegas do Dr. Quintão, para<br />
seus familiares, para a alegria, a satisfação e o repetido<br />
orgulho com que, certamente, estão contagiados, são<br />
facilmente imagináveis.<br />
Para nós, acadêmicos e seus futuros pares<br />
de um intercâmbio sócio-cultural que se espera seja<br />
promissor e profícuo em criações literárias, não haverá<br />
de ser diferente.<br />
Estamos contentes, Dr. Quintão! Vossa<br />
Excelência chega para engrandecer nossa Casa e nossa<br />
Academia engalana-se para recebê-lo de braços e portas<br />
abertos, com muito honra, em especial para esta<br />
Diretoria Cultural que, circunstancialmente, de forma por<br />
igual honrada, representamos, buscando dignificá-la.<br />
Feliz do homem que chega ao estágio de sua<br />
vida em condições de semear autêntico e legítimo<br />
ufanismo nas hostes de instituição em que adentre,<br />
mercê de seus próprios méritos e de suas qualidades<br />
pessoais, aliados a um passado que o recomenda.<br />
Sua produção jurídica é por demais expressiva.<br />
Pareceres e posicionamentos escorreitos grassaram em<br />
nosso meio ao longo de vários lustros.<br />
A abordagem com que V.Exª nos brindará,<br />
ainda esta noite, a respeito da vida e da obra de<br />
João Neves da Fontoura, será, temos a certeza, mais<br />
um atestado de seu talento, enriquecendo seu currículo.
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 166<br />
V.Exª sempre soube conceber a ciência que<br />
regula as relações inter-humanas em sociedade com<br />
respeito à ética, à moral e aos bons costumes.<br />
Não são os cargos que dignificam os homens,<br />
bem o sabemos, mas os homens que os engrandecem.<br />
Com o estimado acadêmico, assim têm sido. Por onde<br />
passa, por onde deixa sua marca de administrador e de<br />
jurista, seus comandados, de um modo geral, têm<br />
saudades, sem nenhum desdouro para quem o suceda.<br />
Ocorre que o Dr. Quintão, seja na Chefia da<br />
Assessoria Jurídica Regional em São Paulo, seja como<br />
Consultor Jurídico da Presidência do Banco do Brasil,<br />
nesta Capital, quando assumiu a 29/8/1988, seja como<br />
Advogado-Geral da União, para referir-me, apenas,<br />
às funções que desempenhou mais recentemente ou<br />
desempenha, no presente, não raro se revelou um<br />
homem equilibrado, prudente e criterioso, sem descurar<br />
dos interesses coletivos de seus administrados, de modo<br />
a prestigiá-los e dotá-los de melhores condições de<br />
trabalho, sempre que estivesse ao seu alcance.<br />
Não bastasse seu admirável conhecimento<br />
técnico, seu senso jurídico, sua acuidade e feeling<br />
administrativos, o nosso homenageado sempre se<br />
caracterizou como uma pessoa polida, cordata e hábil<br />
no seu diuturno convívio junto a escalões superiores e<br />
na resolução das questões mais tormentosas e difíceis<br />
que se desfraldam à sua frente.<br />
Não reunisse esse perfil e qualificação, bem<br />
sabe V.Exª que não teria galgado os degraus<br />
que alcançou e os escolhidos teriam sido outros. A<br />
sensibilidade, o tato e o trato lhano, a par de uma
167 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
probidade, liderança e carisma, devem aliar-se à sua<br />
reconhecida experiência na área do Direito.<br />
Os cargos que o prezado colega ocupou e<br />
ocupa em sua vida exigem que se reúna tais predicados,<br />
se quisermos ser bem-sucedidos, máxime quando<br />
nossa ascensão se dá independentemente de filiação e<br />
militância em qualquer agremiação político - partidária.<br />
Não fosse assim, o advogado que V.Exª é não<br />
teria sido o Consultor Jurídico pessoal e direto de<br />
quatro presidentes do Banco do Brasil, por largos<br />
períodos. Foi a culminância, internamente, de uma<br />
carreira exemplar.<br />
V.Exª também sabe se revelar político quando<br />
a situação o exige. Não há que se confundir, porém,<br />
Política, na sua mais pura e legítima acepção, é<br />
promover o bem comum, é voltar-se para o social,<br />
para o coletivo, para a proteção dos interesses difusos,<br />
cada um em sua área, ainda que a comunidade<br />
defendida represente um universo restrito, ligada a uma<br />
organização pública ou privada. E bem comum, na<br />
definição do saudoso professor Armando Câmara, “é o<br />
conjunto de condições pessoais e sociais de vida que<br />
asseguram a realização dos fins humanos.”<br />
O relato que faço sobre sua pessoa, Dr.<br />
Quintão, vida e obra, tributando-lhe justa e merecida<br />
homenagem, é fruto e produto do caminho trilhado por<br />
V.Exª e de testemunhos de quem conviveu com o<br />
amigo, mas também, de alguém que militou ao seu<br />
lado, freqüentando seus gabinetes, tanto no Banco do<br />
Brasil, quanto no Palácio do Planalto, de alguém, enfim,<br />
que teve a oportunidade e a honra, como eu, de ser<br />
recebido em sua própria casa.
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 168<br />
Aliás, Aristóteles, pensador e filósofo grego,<br />
com suas doutrinas que serviram à criação da lógica<br />
formal e da ética, e que exerceram e ainda exercem<br />
enorme influência no pensamento ocidental, já o<br />
proclamava ao seu tempo: “O homem é um animal<br />
político.”<br />
Nada há de gratuito ou de impróprio, portanto.<br />
Desde nosso comparecimento a seminário<br />
regional em Santos (SP), nos idos de 1985, quando<br />
tive o ensejo de conhecê-lo como pessoa, passando<br />
a admirá-lo, intelectualmente, foi que pude começar a<br />
avaliar a profundidade técnica e a judiciosidade de<br />
suas posições. Suas oportunas e percucientes intervenções<br />
marcaram sua presença. Quando nossas acaloradas<br />
discussões sobre temas polêmicos e controvertidos<br />
afloravam, V. Exª trazia a solução após permitir que o<br />
terreno fértil do pensamento e das idéias prosperasse.<br />
Sua atuação frente à Assessoria Jurídica do<br />
mais desenvolvido e importante estado da Federação,<br />
a partir de 1980, conduzido pelas mãos seguras de<br />
Mário Bérard, o credenciou a ser guindado, nos idos<br />
de 1988, ao mais alto posto hierárquico da carreira<br />
técnico-científica de advogados do Banco, distinguindo<br />
cargo anteriormente ocupado por juristas da estirpe e<br />
da expressão de um João Neves da Fontoura, insígne<br />
ministro, patrono da Cadeira de n° 20 que V. Exª,<br />
hoje, tem a honra de ocupar, além de Carvalho de<br />
Mendonça, Afonso Penna Júnior, Hugo Napoleão, Sérgio<br />
Darcy, Martins Napoleão, Xavier de Albuquerque e José<br />
Sampaio de Lacerda, entre outros de idêntica nomeada.
169 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Tenho a certeza, Dr. Quintão, de que se o<br />
Exm° Sr. Presidente da República não o houvesse<br />
convocado para estar ao seu lado, nessa grandiosa e<br />
desafiante missão de organizar e conduzir a Advocacia-<br />
Geral da União, V.Exª ainda estaria servindo ao Banco<br />
do Brasil.<br />
Esta foi uma Casa que o ilustre colega amou<br />
e, creio, continua a amar, sem prejuízo de sua isenção<br />
e fidelidade à causa hoje abraçada.<br />
Quem dedicou uma vida ao Banco sabe muito<br />
bem que esta é uma Casa de probidade e de disciplina<br />
e que os desvios de comportamento num contingente<br />
de cerca de 126.000 funcionários, concursados e em<br />
geral treinados, entre tantas renovações já sofridas<br />
ao longo de quase dois séculos de existência, são<br />
exemplarmente punidos, inclusive com demissão,<br />
anulação de concurso público, etc, etc. É perfeitamente<br />
compreensível, por conseguinte, num país onde a<br />
corrupção grassa e o calote impera, que entidades<br />
representativas de reserva moral e de seriedade sejam<br />
alvo de quem tem interesses pessoais e escusos,<br />
pensando em si e não no País, com o fim último<br />
de fazer sensacionalismo e ver dívidas pessoais.<br />
Pessoas anistiadas, após frustradas tentativas<br />
judiciais de vê-las eliminadas. Possibilitar a que banqueiros<br />
privados e internacionais também possam satisfazer<br />
seus aguçados apetites segue-se na mesma linha<br />
dentro de uma companha orquestrada e sórdida<br />
de desestabilização, em que se joga contra a opinião<br />
pública uma empresa da sua tradição, maior responsável<br />
pelo desenvolvimento e a integração nacionais.
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 170<br />
Afinal de contas, ela é rentável, sólida e não<br />
necessita participar do orçamento da União, prescindindo,<br />
outrossim, da conta - movimento do Tesouro Nacional;<br />
ao contrário, não raro socorre o acionista<br />
controlador, com reflexos e prejuízos ao minoritário,<br />
constituindo-se na sua maior credora. Recebesse o<br />
que lhe é devido, os quadros comparativos, em geral<br />
distorcidos, apresentados pela mídia e pela grande<br />
imprensa sobre suas realidades e resultados financeiros,<br />
redundariam sensivelmente esvaziados.<br />
As mais de três décadas dedicadas a esta<br />
Casa por V. Sª não lhe pesaram nos ombros. Era<br />
perceptível sua disposição e o seu contagiante entusiasmo<br />
para o trabalho. V. Exª confirma o adágio: quando<br />
se faz o que se gosta e se é valorizado, o trabalho<br />
resulta em prazer.<br />
Registra a História que o célebre Thomas Edison<br />
passava o dia em sua oficina de trabalho dedicando-se<br />
à pesquisa energética, que viu coroada.<br />
Indagado, já em sua derradeira encruzilhada,<br />
por que trabalhava tanto em sua vida, deixando de<br />
melhor aproveitá-la, respondeu: nunca trabalhei em<br />
minha vida; o que vocês chamam de trabalho, para<br />
mim, é um lazer.<br />
Com V.Exª não é diferente, Dr. Quintão.<br />
Certamente não sou a pessoa mais autorizada para dar<br />
tal testemunho. V.Exª teve colaboradores mais próximos,<br />
mais diretos e que estiveram ao seu lado por muitos<br />
anos. Socorrendo-me, todavia, de tais depoimentos e<br />
outro tanto por minha própria observação, posso<br />
afirmar, sem vacilar ou medo de errar, que o estudo
171 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
da ciência jurídica para o renomado confrade é como<br />
o oxigênio necessário às nossas vidas.<br />
V.Exª, praticamente, dedicava três turnos ao<br />
Banco e, com certeza, ainda levava intrincados e urgentes<br />
casos, rotineiramente para casa, ocupando-se em suas<br />
horas de merecido repouso para melhor e com maior<br />
presteza desincumbir-se das questões que lhe eram<br />
submetidas. Nessas circunstâncias, Dr. Quintão, só<br />
chegou, só é viável pensar, criar, resolver, escrever,<br />
quando se tem ao lado uma grande mulher. É o seu<br />
caso, não tenho dúvidas, sem esta força, sem sua<br />
compreensão, tolerância, resignação e renúncia, sem o<br />
seu carinho, sem o seu afago, sem a sua palavra<br />
amiga, estimulante e confortadora, o estimado confrade,<br />
seguramente, não teria chegado onde aportou e não<br />
seria um candidato em potencial para ocupar outros<br />
cargos de expressão na vida jurídica nacional.<br />
Dona Dineuza, sua companheira inseparável,<br />
bem compreendeu, com o seu exemplo, que mais vale<br />
caminhar ao lado do marido do que com ele competir.<br />
Juntos, de mãos dadas, cada qual na busca dos<br />
ideais perseguidos, de acordo com a missão que o Grande<br />
Arquiteto do Universo lhe reservou.<br />
Para quem não o conhece, devidamente,<br />
esclareço que o Dr. Quintão, em realidade, não é homem<br />
de perder as estribeiras, como se diz em minha terra.<br />
O recipiendário que ora passa a nos fazer companhia<br />
não é homem de se desnortear ou desequilibrar-se.<br />
Não pratica despropósitos, não se desorienta, não é<br />
descomedido. São virtuosismos de um homem sereno,<br />
que busca ser uma espécie de ouvires do seu próprio<br />
ser, porquanto nascemos pedra-bruta e necessitamos<br />
burilar-nos.
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 172<br />
V.Exª dá-nos demonstrações de haver<br />
encontrado o ponto de equilíbrio, conquistando estágio<br />
existencial e de espiritualidade, invejáveis, peregrinando<br />
na garimpagem e na lapidação de seu aperfeiçoamento<br />
como ser humano útil à sociedade em que vive.<br />
Foi junto ao Banco do Brasil, inegavelmente,<br />
que V. Exª forjou seu caráter, aprendendo a cultivar<br />
princípios assentados no respeito, na hierarquia e na<br />
exação no cumprimento do dever, valores certamente<br />
praticados e pregados por seus genitores, humildes<br />
agricultores que souberam orientá-lo para a vida,<br />
matriculando-o, desde cedo, no Colégio Caraça,<br />
pertencente à ordem dos padres lazaristas, onde estudou<br />
anteriormente um dos seus antecessores na Consultoria<br />
Jurídica, Afonso Penna Júnior.<br />
Essa firmeza de caráter e conduta retilínea<br />
fizeram com que o prezado confrade, em sua brilhante<br />
carreira, não deixasse de prestigiar, sempre que pudesse,<br />
seus comandados. E tenho dois exemplos comprobatórios<br />
de minha assertiva. Um, vivido pessoalmente, outro<br />
vivenciado por digno, denodado e competente colega com<br />
quem militei.<br />
De minha parte, sou reconhecido e grato pela<br />
indicação de meu nome para representar a Consultoria<br />
Jurídica do Banco do Brasil junto à Associação dos<br />
Juízes do Rio Grande do Sul – a AJURIS, proferindo<br />
palestra em 26/11/1992, no Auditório do Foro Central da<br />
cidade de Porto Alegre, para dezenas de magistrados dos<br />
Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,<br />
na companhia de eméritas figuras ligadas ao mundo<br />
jurídico e econômico, como os MM. Juízes Doutores<br />
Sérgio Corvello, de São Paulo e Arnaldo Rizzardo, da
173 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
capital gaúcha, autores de valorizadas obras, além da<br />
ex-ministra do Planejamento, Drª Ieda Crusius e do<br />
Prof. Hernani Oliveira, da Universidade Federal do mais<br />
meridional estado da Federação.<br />
De outra parte, foi graças à sua intervenção<br />
oportuna que dedicado colega a que me reportei,<br />
permanece em nosso meio, pois o presidente Alberto<br />
Policaro, à época, ficara indignado com os termos de<br />
carta que lhe fora dirigida, determinando seu afastamento.<br />
Ocorre que na condição de presidente da<br />
Associação Regional de Advogados, revoltado com<br />
referências genéricas que se fazia à classe, por dois<br />
gerentes do interior, em festivo jantar, teria excedido-se<br />
em suas considerações, justamente porque tinha vergonha<br />
e tem caráter.<br />
Faço esse registro porque V.Exª intercedeu,<br />
prontamente, em defesa do advogado, mantendo-o em<br />
nossos quadros, sem embargo pudesse ser merecedor<br />
de reprimenda ou de censura, mérito no qual não<br />
adentramos, pelos eventuais excessos cometidos ou pela<br />
impetuosidade revelada.<br />
Não é sem razões, Dr. Quintão, que V.Exª<br />
representa, hoje, a Advocacia-Geral da União. Uma<br />
pessoa que reúne tantos atributos pessoais e profissionais<br />
não pode se limitar a defender interesses meramente<br />
privados.<br />
V. Exª já não mais pode ter poder de<br />
disposição absoluto ou pleno.<br />
Sua atuação transcendeu as fronteiras da<br />
Instituição que aprendemos a admirar e defender. Esse é
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 174<br />
o ônus de quem palmilhou sua vida como o ínclito<br />
homenageado. O País precisou e precisa de V. Exª.<br />
Trata-se de um munus público.<br />
Manifestações insidiosas, solertes, oriundas de<br />
facção, que semeia a cizânia e a discórdia, buscando<br />
denegrir a imagem de pessoas de bem e faturar<br />
dividendos, acusando sem provas, não foram suficientes<br />
para impedir que a Presidência da República separasse<br />
o joio do trigo e confirmasse seu nome à frente da<br />
Advocacia Geral da União.<br />
Aliás, foi Marx, que nunca leu a doutrina<br />
tomista de São Thomás de Aquino, quem pregou:<br />
“as circunstâncias fazem os homens, tanto quanto os<br />
homens fazem as circunstâncias.”<br />
V.Exª sobrepujou a tudo e a todos. Venceu e<br />
hoje é convocado pelo mais alto mandatário da Nação<br />
para manifestar-se sobre assuntos de sua competência.<br />
Presentemente, pela confiança, lealdade e<br />
respeito conquistados, tenho a convicção de que<br />
V.Exª se constitui, também, numa espécie de Ouvidor<br />
da Presidência da República; um formador de opinião,<br />
porque não dizer, malgrado nem tudo esteja ao seu<br />
alcance ou seja da sua responsabilidade.<br />
Ainda ao final do mês passado, a Nação<br />
assistia atônita e perplexa a um admirável impasse<br />
que se deflagrava entre os três poderes constituídos em<br />
decorrência de interpretações dada à Medida Provisória<br />
n° 434, de 27/02/94, que dispunha sobre o programa<br />
de estabilização econômica, o sistema monetário nacional<br />
e a instituição da unidade real de valor, parecendo<br />
evidenciar quão frágil é a nossa democracia. Enquanto
175 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
a imprensa insuflava, os ânimos acirravam-se e o<br />
radicalismo persistia. V.Exª, com a serenidade e a<br />
independência que o caracterizam, intervinha de forma<br />
sensata, firmando posição que serviu para evitar uma<br />
crise de maiores proporções, conforme chegaram a<br />
divulgar os principais jornais do País em manchetes de<br />
primeira página.<br />
Tenho conhecimento, ainda que perfunctório,<br />
da herança recebida. Não desconheço a forma como<br />
V.Exª encontrou a Advocacia-Geral da União advinda<br />
de um governo que acabou deposto. Durante meses<br />
o País esteve ingovernável. V.Exª soube escolher quem<br />
iria assessorá-lo, formando bela equipe de trabalho.<br />
No curso de sua vida, V.Exª já provou que os<br />
desafios não lhe acovardam; ao contrário, estimulam-no<br />
a enfrentá-los e superá-los.<br />
Quando os caminhos são adversos, tortuosos<br />
e espinhosos, a satisfação por vê-los superados é<br />
maior. De causas fáceis a humanidade está cheia;<br />
valor mesmo, tem as difíceis.<br />
V. Exª combateu o bom combate e isso é<br />
gratificante e confortador para quem o realiza.<br />
Neste momento, já podemos dizer, sem<br />
titubear, que a Advocacia-Geral da União teve duas<br />
fases: antes e depois do Dr. Quintão.<br />
O Decreto n° 868, de 13/07/93, a Lei 8.682,<br />
de 14.07.93, as Medidas Provisórias 377 e 397, de<br />
26.11 e 29.12.93, respectivamente, convertidas em lei,<br />
na conformidade do Art. 62, § único de nossa Carta<br />
Política, dispondo sobre o exercício das atribuições<br />
institucionais da Advocacia-Geral da União, são algumas
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 176<br />
provas disso, coroando, vamos assim dizer, a Lei<br />
Complementar n° 73, de 10/12/93, que estabeleceu a<br />
sua lei orgânica, servindo-lhe de fundamento.<br />
Minhas senhoras e meus senhores! Para ser<br />
Advogado-Geral da União, exercendo as funções de<br />
consultoria e assessoramento ao Poder Executivo é<br />
pressuposto que o seu detentor possua notável saber<br />
jurídico e reputação ilibada, prescreve nossa augusta<br />
Carta em seu Art. 131 e § 1°. E o motivo é simples:<br />
compete-lhe fixar a interpretação da Constituição, das<br />
leis, dos tratados e demais atos normativos, a ser<br />
uniformemente seguida pelos órgãos e entidades da<br />
Administração Federal.<br />
Ora, num país onde o tráfico de influências e<br />
as injunções políticas são a tônica, saber que pessoas<br />
da sua índole, Dr. Quintão, encontram espaço e são<br />
reconhecidas, é ter a certeza de nem tudo está perdido<br />
e que podemos continuar a ter esperanças, pois a<br />
competência prevalecerá.<br />
Esse é um elenco de motivos pelos quais<br />
V. Exª adentra à Academia de Letras de nossa Casa.<br />
Aqui há espaço para o pensador, para a<br />
arte e para a criatividade de V. Exª. Temos a certeza<br />
de que o prezado confrade constituir-se-á em exímio<br />
exemplar desse vivo acervo cultural.<br />
Como é bom, Dr. Quintão, encontrar um<br />
lugar nesse mundo massificado, competitivo, materialista,<br />
injusto, discriminatório e desigual, onde há fraternidade,<br />
sem malícia, onde a literatura encontra terreno fecundo<br />
para progredir e desenvolver-se. Como é enriquecedor<br />
poder exercitar idéias e possuir ideais.
177 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Foi Oswaldo Aranha, cidadão das Américas,<br />
ex-presidente da Assembléia Geral da ONU, baluarte na<br />
luta pela paz mundial, cujo centenário de nascimento<br />
este ano se comemora, quem definiu:<br />
“O ideal é o lume que rompe a treva, que norteia<br />
a rota, que orienta o peregrino, que salva o navegante,<br />
que anima o herói, que dignifica a existência, que<br />
ilumina as ideias, dá vida às criaturas e sobrevivência<br />
aos povos”,<br />
Clóvis Bevilácqua, por sua vez, afirmava:<br />
“A vida deve ser uma ideia, vencida ou vitoriosa,<br />
mas uma ideia”,<br />
E Túlio Ascarelli, ao seu turno, sentencia:<br />
“Na atual crise de valores o mundo pede aos juristas<br />
sobretudo novas ideias, e não suas sutis interpretações:<br />
Devemos retornar e reexaminar os conceitos fundamentais”.<br />
Esperamos Dr. Quintão, muito continuar<br />
colhendo de seus ensinamentos jurídicos. V. Exª, agora,<br />
terá a oportunidade de conviver e manter intercâmbio<br />
com seus pares, sobretudo em sua área, em particular<br />
com escritores do gabarito de um tratadista de tomo,<br />
como José da Silva Pacheco, e de Luís Ivani de Amorim<br />
Araújo, nosso presidente, respeitado professor da<br />
Faculdade de Direito da Universidade Cândido Mendes,<br />
no Estado do Rio de Janeiro, entre outros advogados<br />
renomados, que engrandecem esta Casa, ao lado de<br />
poetas, poetisas e ensaístas, cuja companhia igualmente<br />
envaidece.<br />
Entre nossos membros honorários, Dr. Quintão,<br />
destacam-se personalidades da estatura de Alcir Calliari,
LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 178<br />
nosso Presidente de Honra, na conformidade de nossos<br />
Estatutos, de Sua Exª, ex-advogado do BB – Assessoria<br />
Jurídica Regional de São Paulo – SP, eminente ministro<br />
José Carlos Moreira Alves, que tantas lições, saber<br />
jurídico, e independência tem revelado no proferimento<br />
de seus votos perante a mais alta Corte de Justiça<br />
do País, o excelso Supremo Tribunal Federal, além do<br />
Exm° Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Abastecimento<br />
e Reforma Agrária, Dr. Synval Guazzelli, conceituado<br />
advogado, no Rio Grande do Sul, líder estudantil desde<br />
a adolescência e que ingressou na vida pública para,<br />
um dia, governar seu Estado, por duas vezes, a par<br />
de dirigir, com sucesso, instituições financeiras com<br />
raízes gaúchas, além do Banco Meridional, com brilhante<br />
passagem pelo Banco do Brasil.<br />
Seja bem-vindo, Dr. Quintão, a exemplo do<br />
Exm° Sr. Sérgio Pinheiro Rodrigues, Diretor de Recursos<br />
Tecnológicos e Materiais do Banco do Brasil, nosso mais<br />
novel membro honorário, a que, nesta noite, também<br />
prestamos justa e merecida homenagem.<br />
Não poderia deixar de agradecer, naturalmente,<br />
a presença e a atenção de todos quantos vieram<br />
prestigiar este evento, em especial a de meu querido<br />
amigo, Dr. Paulo Fernando Neves da Fontoura,<br />
ilustrado membro do Ministério Público do Rio Grande do<br />
Sul, ex-procurador de Justiça, com atuação junto aos<br />
egrégios Tribunais Superiores de Porto Alegre, sobrinho<br />
de João Neves da Fontoura, cuja memória hoje<br />
se reverencia, bem como o comparecimento de seu<br />
estimado filho, que o acompanha, os quais até aqui<br />
se deslocaram, espargindo-nos contentamento.
179 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
Peço vênia, por derradeiro, para deixar minha<br />
mensagem a V.Exª invocando o grande advogado e<br />
jornalista, com militância de mais de meio século,<br />
radicado no Rio Grande do Sul, Talia O´Donnell, cujo<br />
pensamento submeto à reflexão de todos:<br />
(...)<br />
“A profissão do advogado é sempre fascinante,<br />
mas o advogado não deve apenas ser um profissional,<br />
um cultor do Direito, um paladino da Justiça, como<br />
síntese de suas atividades, deve ser ainda um instrumento<br />
de formação cultural na sociedade onde atua, levando<br />
sempre uma parcela de sua contribuição ao tesouro<br />
do esforço coletivo que procura formar a cultura de uma<br />
nação e forjar o destino de uma raça.”<br />
Muito obrigado.<br />
<br />
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Auditório Ed. Sede III – Brasília–DF – 26/4/1994 –<br />
Solenidade de posse do acadêmico Geraldo Magela da Cruz<br />
Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves da Fontoura)<br />
na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. –<br />
A Mesa foi constituída das seguintes autoridades (da esquerda<br />
para a direita): MARCOS VILAÇA, presidente do Tribunal de<br />
Contas da União, representando a Academia Brasileira de Letras,<br />
Srª DINEUZA QUINTÃO, esposa do acadêmico empossando,<br />
GERAL<strong>DO</strong> MAGELA DA CRUZ QUINTÃO, advogado–geral da<br />
União, acadêmico FERNAN<strong>DO</strong> PINHEIRO, representando o<br />
presidente da Academia, Prof. Luís Ivani de Amorim Araújo,<br />
ERNESTO CAPPOZZI, chefe–de–gabinete da Presidência do Banco<br />
do Brasil, representando Alcir Calliari, presidente do Banco do<br />
Brasil; SÉRGIO PINHEIRO RODRIGUES, diretor de Recursos<br />
Tecnológicos e Materiais do Banco do Brasil, JOÃO OTÁVIO DE<br />
NORONHA, consultor jurídico do Banco do Brasil.
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 180<br />
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA<br />
Consultor Jurídico do Banco do Brasil (abril/1994 a agosto/2001)<br />
Diretor Jurídico do Banco do Brasil (3/9/2001 a 2/12/2002)<br />
Ministro do Superior Tribunal de Justiça (a partir de 3/12/2002)<br />
HISTÓRICO PROFISSIONAL<br />
1 – Superior Tribunal de Justiça<br />
Curriculum Vitae<br />
Ministro do Superior Tribunal de Justiça, a partir de 03<br />
de dezembro de 2002; Membro da 2ª Turma, 1ª Seção<br />
e da Corte Especial, de acordo com o disposto no<br />
art. 2°, II, do Regimento Interno.<br />
Designado, de acordo com o ato n° 110 de 9 de junho<br />
de 2005, como Presidente da Segunda Turma pelo<br />
período regimental de 21 de junho de 2005 a 20 de<br />
junho de 2007.
181 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
2 – Banco do Brasil S.A.<br />
Posse no Banco do Brasil – Agência Andradas (MG), em<br />
22/12/1975, sendo transferido para Agência Santa Rita<br />
do Sapucaí (MG), em 29/09/76.<br />
Advogado do Banco do Brasil, lotado no SEJUR – Serviço<br />
Jurídico do Banco do Brasil em Varginha (MG), de<br />
01/08/84 a 07/06/87.<br />
Supervisor do Núcleo Jurídico do Banco do Brasil, em<br />
Varginha (MG), jurisdicionando todo o Sul de Minas, de<br />
08/06/87 a julho de 1990.<br />
Chefe de Assessoria Jurídica Regional do Banco do Brasil,<br />
em Vitória (ES), de 01/08/90 a março de 1991.<br />
Consultor Jurídico Geral do Banco do Brasil, em Brasília,<br />
de abril de 1994 até agosto de 2001.<br />
Diretor Jurídico do Banco do Brasil, em Brasília, desde<br />
dezembro de 2001.<br />
3 – Ordem dos Advogados do Brasil<br />
Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção<br />
de Minas Gerais – 1993/1994.<br />
Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil<br />
– 1998/2002.<br />
4 – Membro dos Conselhos de Administração das seguintes<br />
empresas:<br />
Cia. Energética do Rio Grande do Norte – COSERN,<br />
desde 1998;<br />
ITAPEBI Geração de Energia S.A.;<br />
Cia. de Seguros Aliança do Brasil.
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 182<br />
ATIVIDADES ACADÊMICAS<br />
Professor Titular da Faculdade de Direito de Varginha (MG),<br />
lecionando nas cadeiras de Direito Processual Civil<br />
e Direito Comercial, conforme aprovação pelo<br />
MEC – Processo n° 23018.003104/88-15, despacho de<br />
n° 478/88, de 02 de dezembro de 1988.<br />
Professor de Direito Bancário na Escola Superior de Advocacia<br />
da OAB/MG.<br />
Professor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da<br />
Universidade de Itaúna (MG) – 1992/1993.<br />
Professor de Direito Processual Civil do Instituto de Educação<br />
Superior de Brasil – IESB, desde 03/02/2003.<br />
Professor de Direito Processual Civil no Curso de Pós-<br />
Graduação do UNICORB.<br />
Professor da Escola Superior da Magistratura do Tribunal<br />
de Justiça do Distrito Federal e Territórios.<br />
GRADUAÇÃO<br />
Curso de Direito<br />
Faculdade de Direito<br />
Pouso Alegre – MG<br />
Início: 1978 – Término: 1981<br />
TÍTULOS<br />
Concurso Público para Magistratura do Estado de Minas Gerais.<br />
Aprovado em 1° lugar no “CONCURSO PÚBLICO PARA JUIZ DE<br />
DIREITO E JUIZ DE DIREITO AUXILIAR DE MINAS GERAIS”.
183 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
PALESTRAS<br />
• Questões Controvertidas no Processo de Execução<br />
Escola da Advocacia da OAB-MG, Belo Horizonte – MG.<br />
• Ação Monitória<br />
Jornadas de Direito Processual Civil – IBDP, Brasília – DF.<br />
Escola de Advocacia da OAB/MG – Patos de Minas – MG.<br />
• Congresso de Procuradores do DNER<br />
Recursos Especial e Extraordinário – Brasília – DF.<br />
• Execução de Obrigação de Fazer<br />
Jornadas de Direito Processual Civil – IBDP, Salvador – BA.<br />
• Custo do Processo<br />
Conselho Superior de Magistratura Federal, Brasília – DF.<br />
• O Sistema de Cobrança do Crédito Bancário<br />
Encontro de Juristas de Língua Portuguesa – Banco Central do<br />
Brasil, Brasília – DF.<br />
• Aspectos Jurídicos do Novo Sistema de Pagamentos Brasileiro<br />
Associação Brasileira de Bancos Estaduais – ASBACE,<br />
Brasília – DF.<br />
• Os Contratos Bancários e o Código de Defesa do Consumidor<br />
Faculdade de Direito do Largo de S.Francisco, São Paulo – SP.<br />
• Congresso de Defensores Públicos de Belo Horizonte<br />
Exceção de Pré-Executividade – Belo Horizonte – MG.<br />
• Congresso da Ordem dos Advogados do Brasil em Ouro Preto<br />
Uma Nova Visão do Processo de Execução – Minas Gerais.<br />
• O Federalismo Brasileiro e a Repartição dos Poderes<br />
Palestra proferida na Câmara Municipal de Três Corações,<br />
Minas Gerais.
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 184<br />
• Recursos Cíveis<br />
Escola de Advocacia da OAB – MG, Varginha – MG.<br />
• As Reformas do CPC<br />
Ordem dos Advogados do Brasil, Belo Horizonte – MG.<br />
• A Cédula de Crédito Bancário<br />
Escola de Advocacia da OAB - GO, Goiânia – GO.<br />
Escola de Magistratura do Tribunal de Justiça de Rondônia.<br />
• Do “Commercial Paper” e Outros Contratos Bancários<br />
Internacionais<br />
Instituto de Magistrados do Ceará, Fortaleza – CE.<br />
• O Conceito de Empresário no Novo Código Civil<br />
OAB – Seção de Minas Gerais – Escola Superior de Advocacia –<br />
dez./2002<br />
• Mediação e Outros Meios Alternativos de Solução de<br />
Conflitos<br />
Escola de Magistratura do Rio de Janeiro – EMERJ – 17/03/2003<br />
• O Novo Código Civil no Mercado Imobiliário e no Direito<br />
Empresarial<br />
Seminário realizado na Câmara Municipal de São José dos<br />
Campos – SP – 20/03/2003.<br />
• O Acesso ao Judiciário e o Custo do Processo<br />
II Simpósio Regional de Advogados e Acadêmicos de Direito de<br />
Dourados e Região – Dourados – MT – 04/04/2003.<br />
Palestra na Embratel – Ed. Sede da Embratel – Salão Nobre –<br />
16/05/2003.<br />
• Função Social do Contrato no novo Código Civil<br />
Primeiro Congresso Goiano de Temas Constitucionais – Universidade<br />
Católica de Goiás – 21/05/2003.
185 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
• Impacto das Decisões Judiciais no Custo do Crédito no Brasil<br />
Congresso Nacional de Direito Bancário – SP – Organizado pela<br />
Comissão Jurídica da FEBRABAN – 11 a 12/08/2003.<br />
• A Inadimplência dos Usuários de Serviços<br />
Palestra Abradee – Auditório do Hotel Pestana – Via Costeira, Natal –<br />
29/08/2003.<br />
• O Poder Judiciário e o Anseio Popular<br />
II Congresso Estadual de Magistratura – Salão Pleno do Tribunal de<br />
Justiça do Espírito Santo – 19/09/2003.<br />
• 2° Ciclo Matogrossense de Direito Processual - 11/10/2003.<br />
• Seminário Jurídico sobre Concessões das Rodovias<br />
Hotel Serra Azul – Gramado – 28/11/2003.<br />
• Recursos Especial e Extraordinário – Técnicas de Interposição<br />
na perspectiva da Reforma do Judiciário.<br />
Auditório OAB – Belo Horizonte – MG – 29/04/2004;<br />
• Palestra UPIS – Brasília – DF – 03/05/2004.<br />
• Responsabilidade Civil dos Profissionais de Saúde -<br />
UNIMED Itaperuna – RJ – 13/05/2004.<br />
• Reflexões acerca do Princípio da Função Social nos<br />
Contratos Imobiliários<br />
Seminário A Segurança Jurídica nos Negócios Imobiliários – Tribunal<br />
de Alçada de Minas Gerais (Centro de Estudos Jurídicos) –<br />
Poços de Caldas – MG – 02/07/2004.<br />
• A Reforma do Judiciário<br />
FEBRABAN – Novotel – SP – 16/08/2004<br />
• Palestra na Faculdade Politécnica<br />
Uberlândia - MG – 22/08/2004
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 186<br />
• Decadência e Prescrição na Jurisprudência do STJ<br />
II Seminário do Instituto Pernambuco de Estudos Tributários<br />
– O caso do lançamento por homologação e as hipóteses<br />
de dolo, fraude ou simulação. Direito Tributário Material,<br />
Processual e Penal – Mar Hotel – Recife – PE – 03/09/2004.<br />
• Aspectos Processuais da Prescrição e Decadência<br />
Instituto Brasileiro de Direito Processual – Aulas proferidas<br />
por João Otávio de Noronha no Curso de Pós-Graduação<br />
Lato Sensu em Direito Processual Civil – 15/09/2004.<br />
• Procedimentos Especiais<br />
Instituto Brasileiro de Direito Processual – Aulas proferidas por<br />
João Otávio Noronha no Curso de Pós-Graduação Lato<br />
Sensu em Direito Processual Civil – 06/10/2004.<br />
• Tributação das Cooperativas<br />
IV Congresso do Nordeste Brasileiro em Direito Tributário e<br />
II Congresso Internacional de Direito Tributário – ISET –<br />
Instituto Sergipano de Estudo Tributário – Aracaju –<br />
•<br />
08/10/2004.<br />
Contratos Atípicos<br />
Seminário sobre Fomento Mercantil com apoio do TJSC e da<br />
AMC – 28 a 29/10/2004.<br />
Seminário Fomentando Direito – Escola de Magistratura de<br />
•<br />
Vitória – Tribunal de Justiça – Salão Pleno – 25/02/2005.<br />
Novas Perspectivas do Poder Judiciário<br />
Seminário Nacional de Associação de Mulheres da Carreira<br />
•<br />
Jurídica – 19/11/2004.<br />
Recursos Cíveis - A reforma do CPC e a Racionalização<br />
da Justiça<br />
II Ciclo de Debates OAB/RS – Hotel Embaixador – RS – 30/11/2004.
187 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
• Prescrição e Decadência – Tema no Novo Código Civil e<br />
no Código Tributário Nacional<br />
Banco Central – 14/07/2003.<br />
Seminário Jurídico “Benjamin Colucci” – Juiz de Fora –<br />
OAB – MG – 04 a 08/08/2003<br />
VIII Simpósio Serrano de Direito - 26/09/2003<br />
Simpósio Itapira – Salão do Júri – Fórum de Itapira –<br />
29/10/2003.<br />
Escola Superior de Magistratura – ESMAT – Tribunal de Justiça –<br />
Tocantins – 18/06/2004<br />
III Congresso Estadual de Magistrados – AMERON – Ji-<br />
Paraná – RO – 21/08/2004<br />
OAB – Londrina – PR – 27/08/2004<br />
Escola de Advocacia OAB – MG – Uberlândia – 25/11/2004<br />
Simpósio de Direito Civil e Processual Civil – OAB – Paraná –<br />
28/04/2005.<br />
Seminário de Direito Civil – Fórum Miguel Reale – Auditório ESMAF –<br />
Escola de Magistratura Federal – TRT 1ª Região – 24/06/2005.<br />
Congresso Brasileiro O Direito em Debate – Hotel Jutiúca – Maceió –<br />
AL – 14 a 16 de setembro de 2005.<br />
• Federação Nacional das Seguradoras<br />
Evento em Porto Alegre – RS – 22/10/2004.<br />
• A Reforma do Processo de Execução<br />
XI Encontro Estadual dos Advogados Mineiros – Araxá – MG –<br />
29/04/2005.<br />
• Responsabilidade Civil, Social e Trabalhista no Transporte<br />
Terrestre de Passageiros<br />
X Congresso – São Roque – SP – 06 a 08 de maio de 2005<br />
• XVII Fórum Nacional dos Juizados Especiais<br />
Curitiba – PR – 25 a 28 de maio de 2005
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 188<br />
• V Conferência dos Advogados do Distrito Federal<br />
Brasília – 9 a 11 de agosto de 2005<br />
• Agilização da Justiça<br />
III Conferência dos Advogados do Estado do Paraná. O<br />
Advogado e a Reforma do Poder Judiciário – OAB – Curitiba –<br />
PR – 15/08/2005<br />
• Seminário sobre Planos Privados de Saúde<br />
Santiago – Chile – 07 a 11 de setembro de 2005<br />
• Sistema Tributário e Mudanças Constitucionais<br />
III Congresso Internacional de Direito Tributário – Ccntro de<br />
Convenções de Pernambuco – Olinda – PE – 21 a 23 de<br />
setembro de 2005<br />
• II Fórum Jurídico da Atividade Seguradora – A Boa Fé<br />
objetiva nas Relações Contratuais.<br />
Hotel Villa Rossa – São Roque – SP<br />
• I Ciclo de Palestras “A Jurisprudência do STJ no Âmbito do<br />
Direito Público e do Direito Privado”<br />
Rio de Janeiro – RJ – 14/10/2005<br />
• VI Seminário Jurídico da ABRADEE Política Tarifária –<br />
“Revisão e Reajuste Tarifário – A Intervenção do Poder<br />
Judiciário”<br />
Salão Mercosul do Hotel Sheraton – Porto Alegre – RS –<br />
27/10/2005<br />
• II Encontro de Juizados Especiais de São Paulo – “Os<br />
Serviços Públicos Essenciais e os Juizados”<br />
UNIP – Campinas – SP – 28/10/2005<br />
• XIX Congresso Brasileiro de Direito Tributário – Homengagem<br />
a Geraldo Ataliba – “República e Constituição Federal”<br />
Hotel Gran Meliá WTC – São Paulo – 28/10/2005
189 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
• IV Seminário – Temas Atuais em Direito Tributário –<br />
“Prescrição de Créditos Tributários e a Lei Complementar<br />
n° 118/02 – Auditório Térreo da FIEMG – Belo Horizonte –<br />
MG – 10/11/2005<br />
• V Congresso Tributário do Nordeste Brasileiro; III Congresso<br />
Internacional de Direito Tributário; Congresso Brasileiro de<br />
Direito Municipal – A Ampla Defesa e o Contencioso<br />
Administrativo e Judicial<br />
Teatro Tobias Barreto – Aracaju – SE - 14/11/2005<br />
• V Seminário de Direito Militar – Reintegração de Posse de<br />
Patrimônio da União sob Jurisdição Militar<br />
Superior Tribunal Militar – 24/11/2005<br />
• Seminário Jurídico “O Contrato no Ordenamento Civil<br />
•<br />
Brasileiro” – As Decisões do Poder Judiciário e os Reflexos<br />
na Sociedade”<br />
Escola de Magistratura do Espírito Santo – Vitória – ES –<br />
25/11/2005<br />
Fórum de Direito Bancário – O Papel do Banco Central na<br />
Evolução do Direito Bancário<br />
São Paulo – SP – 28/11/2005<br />
• Congresso de Advocacia Pública – Prescrição e Decadência<br />
dos Créditos Tributários<br />
Teatro Izabela Hendrix – Belo Horizonte – MG – 28/11/2005<br />
• Aula Magna na Faculdade de Direito do Sul de Minas com<br />
o tema “A recente reforma do Código de Processo Civil e o<br />
cumprimento da sentença e execução – Pouso Alegre –<br />
24/03/2006<br />
• Encontro Regional de Advogados – Prestação Jurisdicional<br />
célere e segura – Um desafio para o Poder Judiciário<br />
Contemporâneo – Uberlândia – MG - 04 a 06 de maio de<br />
2006
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 190<br />
• Direito e Cidadania – Alterações no Processo Civil<br />
Instituto Camilo Filho – Teresina – PI – 13/05/2006<br />
• Curso de Especialização em Direito Tributário – Realização<br />
da dívida ativa: execução fiscal e medida cautelar fiscal<br />
IBET – 20/05/2006<br />
• Seminário A Justiça e o seu papel no combate à<br />
•<br />
concorrência desleal – O papel do STJ como intérprete da lei<br />
federal em última instância<br />
AJUFE – ETCO – São Paulo – SP<br />
IMATS – Instituto dos Magistrados dos Tribunais Superiores<br />
– Seminário “Aspectos Jurídicos e Econômicos das Taxas de<br />
Juros”<br />
Itaipava – RJ – 10/06/2006<br />
• X Congresso de Direito Tributário da ABRADT - Associação<br />
de Direito Tributário – Conferência: A tributação da importância<br />
de serviços pelo ISS – limites à competência dos entes<br />
federados<br />
Belo Horizonte – MG – 08 a 11 de agosto de 2006<br />
• Seminário “A importância do crédito como fator de<br />
desenvolvimento econômico e social<br />
Comandatuba – Bahia – 07 a 10 de setembro de 2006<br />
• VI Congresso Internacional de Direito Tributário de<br />
•<br />
Pernambuco – A reforma do CPC e seus reflexos no Processo<br />
Judicial Tributário<br />
Recife – PE – 29/09/2006<br />
23° Encontro Nacional de Juízes Federais do Brasil<br />
Muro Alto – Pernambuco – 15/17 de novembro de 2006<br />
• Primeiro Encontro Paraibano de Justiça com Meio Ambiente<br />
– Meio Ambiente no STJ<br />
João Pessoa – PB – 06 a 08 de dezembro de 2006
191 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
• Congresso Jurídico Banco Central – Aplicação do Código<br />
de Defesa do Consumidor aos Bancos – Repercussões da Adin<br />
2591 – MG – 10/11/2005<br />
Banco Central do Brasil – 05 e 06 de dezembro de 2006<br />
• III Congresso Internacional de Direito Tributário do Paraná –<br />
Substituição Tributária e pautas fiscais na jurisprudência do STJ<br />
e do STF<br />
Curitiba – PR – 29 de março de 2006<br />
• Seminário Jurídico – Aspectos Jurídicos Fundamentais<br />
•<br />
dos Fundos de Pensão – A importância da Previdência<br />
Complementar no Contexto Econômico Brasileiro<br />
Domingos Martins – ES – 31/03/2007<br />
Congresso Nacional de Jovens Advogados – Relacionamento<br />
do Advogado com o Poder Judiciário<br />
Belo Horizonte – MG – 27/04/2007<br />
• Associação dos Advogados de São Paulo – AASP – Os<br />
fundamentos do Recurso Especial<br />
São Paulo – SP – 21/05/2007<br />
• 12° Congresso de Responsabilidade Civil e Direito Aplicado<br />
ao Transporte Terrestre de Passageiros – A importância do<br />
Marco Regulatório para o setor de transporte de passageiro<br />
São Roque – SP – 18/05/2007<br />
• 29ª Semanajur – Reforma do Processo na Execução<br />
Faculdade de Direito de Barbacena – MG – 27/05/2007<br />
• O Ciclo de Palestras sobre Mercado de Capitais para Juízes<br />
– O STJ e o Sistema Financeiro Nacional<br />
Bovespa – São Paulo - SP – 01/06/2007<br />
• Seminário Novos Rumos do Processo e do Direito Civil –<br />
Alterações no Processo de Execução<br />
Teresópolis – RJ – 30/06/2007
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 192<br />
• Jornada Jurídica de Direito de Energia – Palestra: Discussão<br />
sobre cabimento da tributação do “transporte” da energia elétrica<br />
em processos em matéria tributária<br />
Florianópolis – SC – 27/07/2006<br />
• Seminário Propaganda de Alimentos – Aspectos Constitucionais<br />
– Tema: Restrições da propaganda de alimentos comercial.<br />
Forma. Alcance do art. 22, XXIX e 220, § 3°, II da CF<br />
São Paulo – SP – 17/08/2007<br />
• ABDIB – Centro de Eventos e Convenções Brasil XXI –<br />
Palestra: As bases para o desenvolvimento sustentável da<br />
Infra-estrutura. Visões dos Poderes Executivo, Legislativo e<br />
Judiciário<br />
Brasília – DF – 22/08/2007<br />
• XI Congresso Internacional de Direito Tributário – Tema: O<br />
direito do contribuinte de oferecer precatórios em garantia<br />
na execução fiscal e sua equiparação a dinheiro, na visão<br />
do STJ<br />
Belo Horizonte – MG – 23/08/2007<br />
• Aula Magna na Universidade de Ribeirão Preto – Tema:<br />
A reforma do processo de execução – 21/09/2007<br />
• VII Congresso Internacional de Direito Tributário de<br />
•<br />
Pernambuco – Mar Hotel – Recife – PE – 28/09/2007<br />
V Simpósio sobre Responsabilidade Civil no Transporte<br />
Rodoviário de Cargas – Tema: Responsabilidade dos Sócios e<br />
dos Administradores por Dívidas Tributárias das Empresas –<br />
Desconsideração da personalidade jurídica – Penhora on line<br />
– São Paulo – SP – 21/09/2007<br />
• Seminário de Estudos sobre Fomento Mercantil – Factoring –<br />
Tema: Reflexos das Decisões Judiciais na atividade econômica<br />
Jarinú – SP – 20/10/2007
193 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
• VII Seminário ABRADEE – Palestra Magna: A Inadimplência<br />
dos Usuários do Serviço de Energia Elétrica na Visão do STJ<br />
Belo Horizonte – MG – 11 a 13 de novembro de 2007<br />
• Convênio de Estágio sobre Administração Judiciáaria,<br />
Administração Pública e Estudo Comparado de Sistemas<br />
Judiciários Brasil/Estados Unidos da América com ênfase<br />
nos estados de Pernambuco / Geórgia<br />
Local do evento: Cidade Universitária de Athens, GA – UGA –<br />
25/11/2007 a 08/12/2007<br />
• Encontro Capixaba de Direito de Estado – Tema:<br />
Cumprimento de Sentença.<br />
Vitória – ES – 14/12/ 2007<br />
HOMENAGENS<br />
• Homenagem da Agremiação de Mulheres da Carreira Jurídica<br />
de Três Corações<br />
Clube de Três Corações – Minas Gerais – 27/11/ 2004<br />
• Homenagem da Assembléia Legislativa do Espírito Santo –<br />
Entrega do Título de Cidadão Espírito Santense<br />
Assembleia Legislativa do Espírito Santo<br />
Vitória – ES – 25/11/2005<br />
MEDALHAS<br />
• Comenda “Mérito Benjamin Colucci”<br />
Juiz de Fora – MG – 09/08/2003<br />
• Solenidade de entrega das Comendas – TST<br />
Ministro João Otávio Noronha admitido no grau de Grande<br />
Oficial da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho –<br />
12/08/2003
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 194<br />
• Medalha de Mérito Jurídico da Faculdade de Direito de<br />
Varginha – 26/03/2004<br />
• Medalha de Mérito Jurídico Prof. Antônio José de Souza<br />
Levenhagen – De acordo com o art. 132 do Regimento<br />
Interno da Faculdade de Direito de Varginha – 26/03/2004<br />
• Solenidade Cívico Militar de Imposição da Insígnia da Ordem<br />
do Mérito Militar<br />
Quartel General do Exército – SMU – 19/04/2004<br />
• Ordem do Mérito Des. Theotônio Segurado, no grau de<br />
Grande Cruz – Resolução n° 011, de 13 de novembro de 2003<br />
– Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins – 18/06/2004<br />
• Ordem do Mérito Judiciário Militar – Alta Distinção da Ordem<br />
em sessão de 26/11/2004 – Criada pelo Superior Tribunal<br />
Militar, em sessão de 12 de junho de 1957 – 01/04/2005<br />
• Grande Medalha da Inconfidência – Criada pela Lei 882, de<br />
1952 e consolidada pelo Decreto 38.690, de 1997<br />
Ouro Preto – MG – 21/04/2005<br />
• Mérito Judiciário do Tribunal de Justiça do Piaui –<br />
Teresina – PI – 13/05/2005
195 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />
CONSULTORES E DIRETORES JURÍDICOS<br />
(1922/2011)<br />
CONSULTORES JURÍDICOS PERÍO<strong>DO</strong><br />
1 – José Xavier Carvalho de Mendonça 20/3/1922 a 20/10/1930<br />
2 – João Neves da Fontoura 2/12/1930 a 24/4/1932<br />
3 – Afonso Penna Júnior 25/4/1932 a 3/12/1937<br />
4 – João Neves da Fontoura 1937 a 1943<br />
5 – Hugo Napoleão do Rêgo 1943 a 1944<br />
6 – João Neves da Fontoura 1944 a 1963<br />
7 – Sérgio Darcy 1963 a 1966<br />
8 – Benedicto Martins Napoleão do Rêgo 3/5/1967 a 16/9/1977<br />
9 – José Augusto Moreira Guimarães 1977 a 1980<br />
10 – Alcyr Carvalho da Silva 1980 a 1985<br />
11 – Francisco Manoel Xavier de Albuquerque 1985 a 1986<br />
12 – José Sampaio de Lacerda 1986 a 1988<br />
13 – Geraldo Magela da Cruz Quintão 1988 a 1993<br />
14 – João Otávio de Noronha 1994 a 2001<br />
DIRETORES JURÍDICOS<br />
1 – João Otávio de Noronha 3/9/2001 a 2/12/2002<br />
2 – Antônio Eduardo Silva Ribeiro 3/12/2002 a 16/2/2003<br />
3 – Miguel Oscar Viana Peixoto 17/2/2003 a 2/4/2006<br />
4 – Izaías Batista de Araújo 21 a 24/3/2005, 13 e 14/10/2005<br />
26 a 30/12/2005, 3 a 16/4/2006, int.<br />
5 – Maurício Doff Sotta 17/4/2006 e 13/7/2007 a 26/8/2007<br />
6 – Antônio Pedro da Silva Machado 5 a 23/2/2007, int.<br />
7 – Joaquim Portes de Cerqueira César 27/8/2007 a 29/11/2009<br />
8 – Orival Grahl 30/11/2009 a 25/2/2011<br />
9 – Antônio Pedro da Silva Machado 25/2/2011 a .. .. ..
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 196<br />
Bibliografia<br />
Autorizada ao escritor Fernando Pinheiro<br />
AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO FILHO, membro da Academia<br />
Brasileira de Letras – Afonso Arinos e a Política Externa, palestra<br />
apresentada em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a<br />
Integração Social. – Autorização concedida, em 10/05/2004, por<br />
Afonso Arinos de Melo Franco Filho.<br />
AFONSO PENNA JÚNIOR – Apud Discurso de recepção do acadêmico<br />
Dilermando Cruz ao Sr. Afonso Penna Júnior – in<br />
Revista da<br />
Academia Mineira de Letras – p. 50 – Volume IV – Belo Horizonte –<br />
Imprensa Oficial – Belo Horizonte–MG – 1926) – Autorização<br />
concedida, em 07/09/2007, por Maria Lúcia Affonso Penna Gubert,<br />
neta de Afonso Penna Júnior.<br />
BRAGA, Odilon – Prefácio da obra <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> – Pareceres, de<br />
Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. – Rio de Janeiro – 1941<br />
– Autorização concedida, em 25/06/2004, por Raul Murgel Braga,<br />
filho de Odilon Braga.<br />
CABRAL, Bernardo, senador da República – O Centenário de Nogueira da<br />
Gama, palestra proferida, em 25/10/1999 – 3° Seminário Banco<br />
do Brasil e a Integração Social. – Autorização concedida, em<br />
07/12/2006, por Bernardo Cabral.
197 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
CAMPOS, Mauro Orofino, diretor–presidente da Companhia Docas do<br />
Rio de Janeiro – Homenagem a João Marques dos Reis, palestra<br />
apresentada, em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a<br />
Integração Social). – Autorização concedida, em 30/10/2006, por<br />
Mauro Orofino Campos.<br />
DARCY, James, presidente do Banco do Brasil (02/01/1925 a 16/11/1926)<br />
– VI Centenário da morte de Dante Alighieri, discurso proferido, nos<br />
idos de 1921, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro – Apud<br />
Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro – p. 49 – Cadernos<br />
AAAB – Rio de Janeiro – 1955 – Autorização concedida, em<br />
25/09/2007, por Alina Monteiro, viúva de Fernando Monteiro.<br />
FONTOURA, João Neves da Fontoura, consultor jurídico do Banco do<br />
Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962), embaixador do Brasil<br />
em Portugal (1943 a 1945). ministro das Relações Exteriores (1946<br />
e 1951/ 1953) – Apud Discurso de posse do acadêmico Geraldo<br />
Magela da Cruz Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves<br />
da Fontoura) na Academia de Letras dos Funcionários do Banco<br />
do Brasil, em solenidade realizada em 26/4/1994, no Auditório da<br />
Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF.<br />
– Autorização concedida, em 12/01/2006, por Geraldo Magela da<br />
Cruz Quintão.<br />
LACERDA, José Sampaio de, – Curriculum Vitae (Carreira de Vida) -<br />
Sumário – Histórico fiel no tempo e no espaço – I – Origem – II –<br />
Descendência e complexo familiar – III – Trajetória e atividades<br />
exercidas. – Autorização concedida, em 17/09/2003, por José<br />
Sampaio de Lacerda.<br />
MACHA<strong>DO</strong>, Aimberê Araken – Homenagem ao patrono Cláudio Pacheco,<br />
palestra proferida, em 22/04/1997, na Academia de Letras dos<br />
Funcionários do Banco do Brasil. – Autorização concedida, em<br />
21/08/2007, por Aimberê Araken Machado.<br />
MIRANDA, Décio, ministro do STF – Discurso proferido, em 16/02/1981,<br />
na solenidade de posse do ministro Francisco Manoel XAVIER DE<br />
ALBUQUERQUE no cargo de presidente do Supremo Tribunal<br />
Federal – Brasília – DF. – Autorização concedida, em 09/10/2003,<br />
por Maria Helena de Miranda Rodrigues e Ana Luiza de Miranda<br />
Cardoso, filhas de Décio Miranda (falecido).
<strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong> – 198<br />
NAPOLEÃO, Aluízio, embaixador da República – Um Lutador Hugo<br />
Napoleão e Sua Época, pp. 265, 266, 267, 268, 691, 692, 693, 694,<br />
695, 270, 695, 696, 697, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278,<br />
478, 488, 489, 490, 491, 492, 493, 751, 752, 753, 754, 755, 756, 760,<br />
761, 766, 770, 494 – Centro Gráfico do Senado Federal – 1992<br />
– Brasília – DF. – Autorização concedida, nos idos de 1998, por<br />
Aluízio Napoleão, e em 21/09/2004, por Hugo Napoleão do Rêgo<br />
Neto.<br />
NAPOLEÃO, Benedicto Martins, consultor jurídico do Banco do Brasil –<br />
Discurso proferido, em 14/06/1972, ao ensejo da realização do<br />
banquete oferecido pelo Banco do Brasil, em Brasília, ao Ministro<br />
do Supremo Tribunal Federal, Professor Xavier de Albuquerque,<br />
e ao Procurador–Geral da República, Professor Moreira Alves.<br />
– Autorização concedida, em 30/01/2007, por Igor Silva de<br />
Martins Napoleão, filho de Benedicto Martins Napoleão (falecido).<br />
NORONHA, João Otávio de, consultor jurídico do Banco do Brasil<br />
(1994/2001) – Curriculum vitae – Autorização concedida, em<br />
22/01/2008, por João Otávio de Noronha, ministro do Superior<br />
Tribunal de Justiça.<br />
PINHEIRO, Fernando, presidente da Academia de Letras dos<br />
Funcionários do Banco do Brasil (1995/1998–2001, 2004/2007–<br />
2010) – Afonso Penna Júnior – Trajetória em ouro e aura<br />
(palestra) – Afonso Penna Júnior, ministro de Estado da Justiça<br />
(1925/1926), diretor da Carteira de Liquidações do Banco do Brasil<br />
(1930/1931), consultor jurídica do Banco do Brasil (1932-1937).<br />
Sérgio Darcy e a Estrela Solitária (palestra) – Sérgio Darcy,<br />
presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 a 1939 e 1963),<br />
consultor jurídico do Banco do Brasil (1963 / 1966).<br />
PINHEIRO, Tobias, conselheiro da ABI – Associação Brasileira de<br />
Imprensa – Martins Napoleão – O Poeta – Uma Cultura Universal<br />
(palestra) – Benedicto Martins Napoleão do Rêgo, consultor<br />
jurídico do Banco do Brasil (1967/1976). – Autorização concedida,<br />
em 26/01/2006, por Tobias Pinheiro.
199 – <strong>BANCO</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong> - <strong>CONSULTORIA</strong> <strong>JURÍDICA</strong> - <strong>Ensaios</strong> <strong>históricos</strong><br />
QUINTÃO, Geraldo Magela da Cruz Quintão, consultor jurídico do Banco<br />
do Brasil (1988 a 1993), advogado–geral da União (jul-1993 a jan–<br />
2000), ministro de Estado da Defesa (24/01/2000 a 31/12/2002) –<br />
Texto final do discurso proferido, em 29/08/1988, ao assumir o<br />
cargo de consultor jurídico, no qual presta homenagem a José<br />
Sampaio de Lacerda, consultor jurídico do Banco do Brasil (1986<br />
a 1988). – Autorização concedida, em 12/01/2006, por Geraldo<br />
Magela da Cruz Quintão.<br />
SILVA, Luiz Augusto Beck da Silva – Discurso de recepção, em<br />
26/04/1994, ao acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão,<br />
advogado-geral da União, na Academia de Letras dos Funcionários<br />
do Banco do Brasil – Auditório da Presidência do Banco do Brasil<br />
– Edifício Sede III – Brasília – DF). – Autorização concedida, em<br />
11/01/2006, por Luiz Augusto Beck da Silva.<br />
TUNHOLI, Nazaré – Discurso de posse na Cadeira n° 45 (patronímica<br />
de Doutel de Andrade) da Academia de Letras dos Funcionários<br />
do Banco do Brasil (citação de texto) – Sessão solene realizada,<br />
em 27/05/1994, no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de<br />
Janeiro – RJ – Iconografia: Academia de Letras dos Funcionários<br />
do Banco do Brasil.<br />
XAVIER DE ALBUQUERQUE, Francisco Manoel, presidente do Supremo<br />
Tribunal Federal (16/02/1981 a 21/02/1983), consultor jurídico do<br />
Banco do Brasil (1985 a 1986) – Carta–resumo, de 01/09/2003,<br />
de currículo, assinada pelo jurista Francisco Manoel Xavier de<br />
Albuquerque, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro.