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1 introdução - Igreja e Camponeses.pdf - Diversitas - USP

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INTRODUÇÃO<br />

e laicos e foi também questionado pelo setor conservador, que procurou<br />

anular as decisões de Medellín. Para isso, depois de inúmeras tentativas, em<br />

1979, o Episcopado Latino-Americano reuniu-se em Puebla. Entretanto,<br />

mesmo tendo sido a reunião solicitada pelos religiosos contrários à Teologia<br />

da Libertação, as conclusões do encontro terminaram reafirmando Medellín,<br />

ficando irreversível, a partir de então, a prática interativa de parte da<br />

<strong>Igreja</strong> com vários setores da esquerda no Brasil e no Peru.<br />

A Teologia da Libertação pós-Puebla, ao mesmo tempo em que aprofundou<br />

sua relação com a fé, ampliou as práticas sociais e foi sendo objeto<br />

de admiração, preocupação e antagonismo. Seus mais ardorosos defensores<br />

foram questionados pela Congregação Para a Doutrina da Fé, e, de certa forma,<br />

procuraram responder com cautela às várias oposições dentro da <strong>Igreja</strong>.<br />

No Capítulo 2, analiso as práticas desenvolvidas pela <strong>Igreja</strong> da Libertação<br />

entre as populações rurais no Brasil. <strong>Camponeses</strong>, trabalhadores rurais<br />

e sem-terras, puderam contar com padres, bispos, freiras e agentes pastorais<br />

como aliados em suas lutas. Inicialmente organizados a partir de um<br />

movimento de sem-terras do Rio Grande do Sul, no início da década de<br />

1960, as lutas pela terra no sul atingiram Santa Catarina, Paraná e São<br />

Paulo, contando com a ação ativa das dioceses de Passo Fundo, Chapecó e<br />

Lins. Não apenas na organização dos grupos, mas na proposição de estratégias<br />

de ocupação de terras e nas lutas pelos assentamentos rurais, a <strong>Igreja</strong><br />

atuou de forma ativa e foi liderança política ao longo das décadas de 60, 70<br />

e 80. Com seu apoio os vários grupos puderam resistir, invadir, ocupar e<br />

produzir. Foi também por sua estratégia de formação técnica e política que<br />

vários assentamentos puderam sobreviver e criar mecanismos de trabalho<br />

e de produção coletivos. Como fruto de sua análise os camponeses começaram<br />

a enfre~tar a questão organizativa, com comissões de lavradores,<br />

associações de produção e disputa nos sindicatos rurais, luta em que<br />

procuravam reverter a situação de desemprego e subemprego crônica dos<br />

vários trabalhadores da região.<br />

Diferentemente do Sul, na região Centro-Oeste e Norte - Amazônia<br />

Legal - a <strong>Igreja</strong> da Libertação e os vários grupos envolvidos, índios,<br />

posseiros, seringueiros e camponeses, lutaram contra violência ímpar, uma<br />

vez que a terra ocupada, condição de vida de vários grupos, era disputada<br />

por setores do grande capital, por militares envolvidos na delimitação das<br />

áreas de Segurança Nacional e por governos envolvidos na especulação e<br />

na grilagem de terras.<br />

Nessa área, padres, bispos, agentes pastorais, índios, posseiros e seringueiros<br />

enfrentaram com suas vidas as várias faces do capitalismo brasileiro,<br />

que não esconde a barbárie nele contida, justificando-o, no mais das<br />

vezes, por discursos e práticas autoritárias, pela omissão de instituições<br />

como a Justiça e o Congresso.<br />

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