As Fontes Bíblico-patrísticas da Música Litúrgica
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<strong>As</strong> <strong>Fontes</strong> <strong>Bíblico</strong> Patrísticas <strong>da</strong> <strong>Música</strong> <strong>Litúrgica</strong><br />
António José Ferreira<br />
com o que ouvis e vedes nos teatros e trazeis para os ritos <strong>da</strong> Igreja o que lá se pratica; esta é a<br />
origem desses gritos exagerados que na<strong>da</strong> significam... Será que as vossas mãos concorrem<br />
para a vossa súplica, quando as agitais em todos os sentidos, sem descanso? A que propósito<br />
vêm esses gritos violentos, que bem podem mostrar a força dos vossos pulmões mas na<strong>da</strong><br />
significam? Ousais misturar as diversões demoníacas com os hinos dos anjos que glorificam a<br />
Deus?" (57).<br />
Os Padres denunciam o poder sedutor <strong>da</strong> música idolátrica e a imorali<strong>da</strong>de dos cantos pagãos.<br />
Embora não sejam músicos e não se preocupem geralmente com a técnica musical, "por ser<br />
uma activi<strong>da</strong>de tão fun<strong>da</strong>mental aos cristãos reunidos em assembleia, parecia-lhes um dever<br />
fun<strong>da</strong>mental tornar clara aos olhos dos fiéis a riqueza espiritual e teológica" (58) dessa prática.<br />
É assim que a dissonância dá lugar ao acorde perfeito. Deus "ordenou o próprio universo por<br />
medi<strong>da</strong> e submeteu a dissonância dos elementos à disciplina do acorde, para se fazer do<br />
mundo inteiro uma harmonia" (59). A própria criação nos aparece liga<strong>da</strong> à música. Deus criou<br />
o homem e fez "entrar o seu sopro neste belo instrumento" (60), como o flautista sopra e dá<br />
vi<strong>da</strong> à flauta, arrancando-lhe a fala. A harmonia <strong>da</strong> natureza e as vozes humanas, que<br />
explicitam o louvor, concorrem para a sinfonia universal de glorificação a Deus.<br />
Os padres sublinham "a função ministerial <strong>da</strong> música, do ritmo, <strong>da</strong> melodia e o primado do<br />
texto e <strong>da</strong> palavra" (61). Daí deriva uma série de exigências, tanto para a assembleia, como<br />
para os ministérios, como para a música em si, na sua componente melódica, rítmica,<br />
harmónica, instrumental. Deve cantar-se com inteligência. Inspirado em São Paulo (62), Basílio<br />
diz-nos: "a língua cante e a mente trate de conhecer o sentido <strong>da</strong>s palavras canta<strong>da</strong>s, para<br />
cantares com o espírito e também com a tua mente" (63). O canto torna-se uma expressão de<br />
uma comuni<strong>da</strong>de orante. Daí certas exigências na composição, conjugação e execução do<br />
canto na assembleia cristã: ausência de conotações profanas; exigência de simplici<strong>da</strong>de (64);<br />
preponderância <strong>da</strong> palavra e do canto interior sobre a melodia e a voz; prática existencial, não<br />
mecânica, mas senti<strong>da</strong>.<br />
Tanto no Ocidente como no Oriente, vários textos falam de um canto "intimamente<br />
relacionado com a existência total dos crentes, com os seus ritmos vitais e inclusive com os<br />
seus conflitos e problemas" (65). Embora muitos cristãos frequentassem os espectáculos e<br />
teatros pagãos, contra a vontade dos pastores, recebendo uma influência prejudicial que se<br />
repercutia na vi<strong>da</strong> cristã e na própria liturgia, não se pede aos cristãos que abandonem o<br />
Meloteca 2009<br />
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