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Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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Mas até que ponto essa tensão será real? É uma tensão entre a realidade e a ilusão<br />

— entre um ser real e intimidades ilusórias, ou entre um ser ilusório e intimidades reais<br />

— ou é uma tensão entre duas realidades, entre um ser real que existe como indivíduo e<br />

um "nós" real do qual aquele indivíduo pode fazer parte? Se a última alternativa estiver<br />

correta, se tanto o "eu" como o "nós" são reais e importantes, por que nossos filósofos<br />

têm tanta dificuldade em vê-la?<br />

Toda a argumentação do último capítulo mostrou-nos que a realidade do "eu" não<br />

é um problema. Do ponto de vista mecânico-quântico, vemos o ser como algo flutuante<br />

e enevoado cujas fronteiras, tanto internas como externas, estão sempre se movendo e se<br />

modificando. Não obstante, isso não o faz menos real, menos substancial. O ser não é<br />

uma ilusão. Para o senso comum, um estreito relacionamento entre nós e os outros<br />

parece igualmente real, e de fato parece definir ao menos parcialmente quem e o que<br />

somos.<br />

A maioria de nós já passou por uma experiência como a dos amantes do poema de<br />

Graves, em que a intimidade entre nós e um outro foi tão completa a ponto de<br />

aparentemente apagar qualquer distinção entre os dois. Esta é uma experiência comum<br />

entre mães e seus bebês, ao menos no sentido de que a mãe sente o bebê como uma<br />

extensão de si mesma, vivenciando ambos como existentes numa esfera de intimidade<br />

cujas fronteiras definem sua identidade comum. Os psicólogos nos dizem que o bebê<br />

sente a mesma coisa.<br />

Diz-se que o mesmo tipo de ligação íntima existe entre o psicoterapeuta e seu<br />

paciente, que muitas vezes o terapeuta se vê sentindo sentimentos e pensando<br />

pensamentos que na verdade são de seus pacientes. Durante o tempo de cinqüenta<br />

minutos, os dois parecem partilhar em alguns momentos de uma identidade comum,<br />

parecem ser um corpo e uma mente. O mecanismo pelo qual isso ocorre é chamado<br />

"identificação projetiva" e é considerado um veículo de suma importância através do<br />

qual o terapeuta pode realmente conhecer em primeira mão os problemas inconscientes<br />

que seu paciente enfrenta. Durante algum tempo, até tornar-se consciente deles e de sua<br />

origem, ele experimenta os problemas do paciente como próprios.<br />

Como descreve certo analista junguiano: "A identificação projetiva pode ser<br />

concebida como uma espécie de fusão que envolve a mistura e emaranhamento de<br />

sujeito e objeto, dos mundos interno e externo; envolve o desfazer de fronteiras". 2<br />

Muitos exemplos desse grau extremo de intimidade ocorrem em nossa vida diária.<br />

As experiências dos amantes de Graves e da mãe com seu bebê são desse tipo. O<br />

mesmo ocorre entre o professor talentoso e seu aluno, em que não só o conhecimento do<br />

professor, mas toda sua pessoa — entusiasmo, maneirismos, estilo de pensamento —<br />

"entram" no aluno e tornam-se próprios dele. Da mesma forma, os líderes políticos<br />

talentosos têm um jeito de perceber os desejos e aspirações não expressos de seus<br />

seguidores, e não só expressá-los como se fossem próprios, mas realmente senti-los<br />

como próprios.<br />

Em todos esses casos, o relacionamento íntimo parece produzir duas pessoas que<br />

se sobrepõem a tal ponto que cada qual abarca o conteúdo interno da outra. Elas<br />

partilham uma identidade. O mecanismo através do qual isto ocorre também parece<br />

relacionar-se muito intimamente ao sentido um pouco menos extremado da empatia<br />

normal que sentimos por todas as pessoas. Na empatia, sabemos que não somos a outra

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