Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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mudei, ainda sou a mesma pessoa que você conheceu".<br />
Os filósofos também se fazem tais perguntas, mas seu trabalho é confrontar as<br />
frases contraditórias das pessoas comuns e, ao fazê-lo, torna-se muito claro que a<br />
existência de uma identidade pessoal é uma enorme questão. Segundo a ciência oficial<br />
de nossos tempos, não deveria existir tal coisa.<br />
Por exemplo, se as pessoas são reais, o que as mantém coesas? Cada um de nós é<br />
composto de bilhões de células, e cada célula tem vida própria, num certo sentido. Só<br />
em nosso cérebro milhares de milhões de neurônios contribuem para a riqueza de nossa<br />
vida mental. Outros tantos milhares de milhões mantêm nosso coração em<br />
funcionamento, a mesma quantidade vai para nos dar um fígado e assim por diante.<br />
Como, dada toda esta complexidade, conseguimos ser uma coisa só no final das contas?<br />
Ou, de fato, como têm se perguntado alguns filósofos, será que na verdade existimos?<br />
A unidade da pessoa, ou sua suposta unidade, é um problema muito semelhante à<br />
unidade mais fundamental da consciência. Ele levanta as mesmas dificuldades para uma<br />
abordagem convencional, especialmente se aceitarmos o fato de que muito<br />
provavelmente nossa qualidade de pessoa depende, ao menos em parte, da estrutura e<br />
funcionamento de nosso cérebro. Se nosso cérebro consiste naquela miríade de<br />
neurônios, de onde emerge "uma pessoa" e quão sólida e básica ela realmente é?<br />
A aparente impossibilidade de responder a esta questão com base na ciência<br />
conhecida tem constituído a força da tese dualista de que a mente, ou a alma, ou a<br />
pessoa, tem uma existência própria que está simplesmente "envolvida" por um corpo ou<br />
"ligada" a ele. Mas pesquisas razoavelmente recentes sobre os efeitos da bisseção<br />
cerebral levantam objeções aparentemente insuperáveis a uma teoria que tente separar a<br />
pessoa de seu cérebro.<br />
Em alguns casos de epilepsia muito violenta, os médicos descobriram que algum<br />
alívio poderia ser proporcionado ao paciente se a ponte entre as duas partes de seu<br />
córtex cerebral (corpus callosum) fosse cortada; ou seja, cortando-se na metade a<br />
porção mais humana do cérebro. Durante muitos anos não se detectou nenhum efeito<br />
colateral mais sério dessa cirurgia; porém, quando as pessoas que haviam passado por<br />
ela começaram a ser submetidas a testes num laboratório de psicologia, os resultados<br />
foram assombrosos. Como disse certo cirurgião, a bisseção cerebral resultará na efetiva<br />
bisseção da personalidade — onde antes havia uma esfera de consciência agora havia<br />
duas. 1<br />
Cada lado do córtex cerebral, cada hemisfério, tem um conjunto próprio de<br />
funções bastante especializadas. O hemisfério direito, que em boa parte controla o lado<br />
esquerdo do corpo, é mais musical, mais intuitivo, o centro da imaginação espacial; o<br />
esquerdo, basicamente ligado ao lado direito do corpo, é mais lógico, melhor em<br />
matéria de cálculo, e sede exclusiva da fala. No cérebro normal, os dois hemisférios<br />
trocam informações entre si, comportando-se, portanto, como uma unidade coordenada;<br />
no entanto, se separados por procedimento cirúrgico, perdem essa habilidade. Então,<br />
literalmente, a mão direita não sabe o que a esquerda está fazendo.<br />
Se um paciente que foi submetido a essa cirurgia vir um objeto em seu campo