Danah Zohar O SER QUÂNTICO
Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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Um condensado de Bose-Einstein, que é o grau extremo de relacionamento<br />
exigido para que se tenha a unidade da consciência, é assim chamado porque é feito de<br />
bósons — no caso do sistema em tecidos vivos de Fröhlich, de fótons virtuais. Mas, se a<br />
partilha de identidade através da completa sobreposição de funções de onda<br />
constitutivas é fundamental para a unidade da consciência, seria de supor que apenas<br />
pares de bósons (ou sistemas maiores de bósons) poderiam ser associados a uma<br />
mentalidade primitiva. Assim, a característica especial dos sistemas vivos, embora não<br />
exclusiva deles, é sua capacidade de sustentar a condensação de Bose-Einstein e,<br />
portanto, a mentalidade.<br />
Contudo, isso não oferece uma divisão clara no mundo material em partes que são<br />
"protoconscientes" e partes que não são, pois, sob certas circunstâncias, os férmions<br />
podem formar pares que então, combinados, se comportam como bósons.<br />
As ligações químicas covalentes que unem moléculas orgânicas são feitas, na<br />
verdade, a partir das propriedades de tais pares de elétrons. Elas também dão aos<br />
supercondutores suas propriedades especiais, assim como os núcleos de He4 são a base<br />
para os superfluidos. Tanto supercondutores como superfluidos e o sistema em tecidos<br />
vivos de são condensados de Bose-Einstein, e combinados com o sistema de<br />
computação adequado provavelmente gerariam uma mentalidade estruturada de alguma<br />
utilidade. Esta poderá ser a base para computadores quânticos.<br />
Mas, sob condições normais, os férmions só cuidam da própria vida. O holismo<br />
relacionai encontrado em sistemas de férmions, responsáveis pela maior parte de nosso<br />
mundo material diário, é uma espécie de primo em primeiro grau do holismo relacionai<br />
extremo encontrado nos sistemas de bósons, onde a identidade das partículas é<br />
compartilhada. Esta é, porém, uma diferença fundamental: não fosse assim, não haveria<br />
nenhuma diferença entre o mundo da matéria e as forças entrepostas a ela, entre as<br />
esferas mental e física; e as coisas não poderiam ser como são.<br />
É porque os férmions não conseguem entrar no mesmo estado (compartilhar<br />
identidades) que a matéria pode ser sólida. A solidez da matéria depende da<br />
insociabilidade. Por outro lado, é porque os bósons conseguem entrar no mesmo estado<br />
que temos ondas e forças de grande escala. Mas não há uma demarcação nítida e nas<br />
circunstâncias certas mesmo o férmion mais ferrenhamente individualista pode ser<br />
levado a um relacionamento mais profundo. Nenhum recluso está completamente a<br />
salvo das tentações da sociedade.<br />
De fato, essa tensão entre partículas e ondas no nível quântico parece espelhar de<br />
modo interessante a tensão similar entre indivíduos e grupos na sociedade humana,<br />
levantando a questão do significado e da natureza da identidade grupai e individual, do<br />
modo como as experimentamos, e a questão de se as raízes de ambas não estariam<br />
fincadas na natureza mecânico-quântica da consciência.