Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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que uma solução pampsiquista para o problema mente—corpo seja convincente, o fato<br />
de que quase qualquer forma de pampsiquismo até hoje concebida é embaraçosa. Faz<br />
com que as pessoas mudem de posição em suas poltronas. Mesmo quando atenuantes<br />
como "muito primitiva", "elementar" ou "proto" são empregadas para discutir a<br />
consciência das partículas elementares, não podemos deixar de construir imagens de<br />
elétrons apaixonados um pelo outro ou então angustiados por não saber se terão um bom<br />
desempenho no próximo experimento de duas aberturas.<br />
Tal embaraço faz com que muitos daqueles que são atraídos pelo pampsiquismo,<br />
na falta de outra teoria melhor, sintam necessidade de se desculpar. Segundo alguns,<br />
Feigl teria dito: "Se me derem um par de martinis, um bom jantar e mais alguns<br />
drinques depois da refeição, eu admitiria que me sinto fortemente atraído pelo<br />
pampsiquismo (de um tipo bem diluído e inócuo)". 6<br />
Uns bons tragos talvez tornem a maioria dos problemas mais fáceis de suportar,<br />
mas dificilmente levam à solução. Sob a fria luz da sobriedade continuamos com a<br />
impressão de que o pampsiquismo, em sua forma atual, agride a sensibilidade moderna,<br />
como aliás também o fazem o materialismo, o idealismo e o dualismo. Há algo<br />
profundamente errado nas abordagens tradicionais do problema mente—corpo, pois<br />
todas se apóiam fundamentalmente em idéias antiquadas sobre a matéria e/ou deixam de<br />
perceber como as idéias mais atualizadas (as que vêm da física quântica) poderiam<br />
contribuir muito para explicar como algo que acontece em nosso cérebro físico<br />
(objetivo) pode dar origem a todas as características mentais associadas à mente<br />
(subjetiva). O problema parece tão grande que alguns filósofos alegam que não há<br />
solução. Segundo Colin McGinn, de Oxford, "a mente talvez seja simplesmente<br />
pequena demais para compreender a mente". 7<br />
Adotando uma linha mais otimista, o problema talvez necessite apenas de uma<br />
abordagem muito diferente, uma que combine as últimas descobertas sobre a física da<br />
matéria com aquilo que podemos conjeturar a respeito da física da consciência. Se<br />
reunirmos o conceito de matéria que brota da teoria quântica com um modelo mecânicoquântico<br />
da própria consciência, todo o "aspecto" do relacionamento mente—corpo<br />
muda radicalmente, e o fez de modo a iluminar tanto a verdadeira natureza dupla da<br />
realidade quântica como o significado da consciência.<br />
A matéria do nível quântico, devemos ter em mente, não é muito "material",<br />
certamente não no sentido que seria reconhecido por Descartes ou Newton. No lugar das<br />
íntimas bolinhas de bilhar movidas por contato ou por forças, há apenas uns tantos<br />
padrões de relacionamento ativo, elétrons e fótons, mésons e núcleons que nos irritam<br />
com suas ardilosas vidas duplas; ora são posição, ora momento, ora partícula, ora onda,<br />
ora massa, ora energia — e todos reagindo entre si e com o ambiente.<br />
Existência e relacionamento são um só emaranhado na esfera quântica, como na<br />
vida diária. São os dois lados da moeda quântica e são basicamente o que queremos<br />
dizer com a dualidade onda—partícula. Assim como a mente e o corpo são os dois lados<br />
da existência humana, aquele alerta, ou percepção de fundo não focalizado, e o<br />
pensamento concentrado são os dois lados de nossa vida mental.<br />
A dualidade onda—partícula é uma boa metáfora para um relacionamento<br />
mente—corpo profundamente integrado, mas, diante da idéia de que a própria<br />
consciência nasce de uma ordenação coerente de relacionamentos virtuais dos fótons no