Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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7<br />
Mente e Corpo<br />
Concluo justamente que minha essência consiste nisto apenas, que eu sou uma coisa<br />
pensante (...) E no entanto talvez (...) tenho um corpo ao qual estou estreitamente ligado,<br />
tenho, de um lado, uma idéia clara e definida de mim mesmo como uma coisa pensante,<br />
não extensa, e, do outro lado, uma idéia nítida de meu corpo como uma coisa extensa e<br />
não pensante; é certo, portanto, que sou realmente algo distinto de meu corpo e posso<br />
existir sem ele.<br />
Descartes 1<br />
Quando minha filhinha me perguntou o que a "alma" dela era, flagrei-me dizendolhe<br />
que era a parte mais essencial dela mesma, a parte que faz com que ela seja<br />
realmente "ela", e que era diferente de seu corpo. Se ela tivesse a sofisticação de<br />
perguntar sobre sua "mente", tenho certeza de que teria respondido de forma semelhante<br />
— apesar de tudo o que penso. Não obstante todas as minhas idéias sobre o assunto e<br />
minhas convicções racionais em contrário, sou no fundo uma boa cartesiana e, quando<br />
luto para dar a meus filhos explicações sobre coisas tão fundamentais como o<br />
relacionamento mente—corpo ou alma—corpo em termos que eles possam<br />
compreender, me flagro empregando alguma crença arraigada, plantada durante minha<br />
infância e fortalecida por toda minha educação. Suspeito que aconteça a mesma coisa<br />
com outras pessoas, mesmo àquelas que jamais leram ou nem sequer ouviram falar de<br />
Descartes.<br />
A maioria de nós sente que nossas mentes (ou almas) e nossos corpos são por<br />
alguma razão essencialmente diferentes um do outro, seja lá o que for que pensemos em<br />
nossas reflexões mais racionais. Nós nos experimentamos como um ser que tem ou que<br />
está dentro de um corpo. Sentimo-nos profundamente recolhidos, guardados, um algo<br />
intangível que espia o grande mundo lá fora e que pode desfrutar de toda a sorte de<br />
capacidades e liberdades, limitados apenas pelo corpo. Nos bons tempos transcendemos<br />
esta prisão de carne. Estamos saudáveis apesar de suas doenças, jovens apesar de seus<br />
cabelos brancos e rugas, "puros" apesar de sua "corrupção". Nos tempos ruins descemos<br />
até o fundo desse nível da carne e gritamos em desespero.<br />
"Infeliz de mim!", clamou São Paulo. "Quem me livrará deste corpo de morte?<br />
(...) Assim, pois, eu mesmo sirvo à lei de Deus com o espírito; e sirvo à lei do pecado<br />
com a carne." 2 O discurso de Paulo acerca de corpos vis e a penitência por suas ações<br />
deixou uma marca indelével em todo o desenvolvimento da cristandade e, portanto, na<br />
psique do homem ocidental. Embora sendo nosso mestre, ele foi por sua vez produto de<br />
sua própria educação e cultura — no seu caso em particular, os sentimentos expressos<br />
em Fédon e na República de Platão, cerca de meio milênio antes, e transmitidos por<br />
todos os tempos pelas tradições platônica e neoplatônica.<br />
"Enquanto nos ativermos ao corpo e nossa alma for contaminada por suas