Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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Fig. 6.3 Eletroencefalograma padrão de atividade cerebral. Poderia estar refletindo as excitações do condenado de Bose-Einstein? Quer as teorias existentes, como as que aplicam o sistema de Fröhlich ou os fótons coerentes de Popp à questão, estejam corretas ou não, a própria existência de um modelo mecânico-quântico viável da consciência já é em si prenhe de implicações filosóficas de amplas conseqüências. A inteireza não dividida que é pré-requisito para esse modelo e, portanto, a perda da individualidade de suas partes conduz de um modo geral à questão da identidade pessoal e dos relacionamentos de grupo. Além disso, qualquer modelo mecânico-quântico é necessariamente um modelo físico e, portanto, presume que os fenômenos da consciência (atenção, percepção, pensamento, memória etc.), juntamente com os da física, química e biologia, pertencem à ordem da natureza e podem ser experimentalmente investigados. Essa maneira de ver a consciência também implica que a consciência e a matéria estão tão integralmente presas uma à outra que ou a consciência é uma propriedade da matéria (como no pampsiquismo), ou a consciência e a matéria surgem juntas da mesma fonte comum (como sugere Nagel no cap. 4) — em nossa linguagem, do mundo dos fenômenos quânticos. Ambas as visões retiram a consciência da esfera do sobrenatural e a transformam num assunto adequado ao questionamento científico. Desafiam a presunção dualista amplamente sustentada de que a consciência e a matéria ("mente" ou "alma" e o corpo) são fenômenos completamente distintos, cada qual desenvolvendo-se à sua maneira e apenas acidentalmente tocando-se um ao outro neste nosso mundo imperfeito. Provando-se que a consciência é, de fato, um fenômeno quântico, seria possível desafiar as duradouras alegações dos dualistas de uma forma mais profunda do que jamais aconteceu. Estamos agora numa posição que nos permite reavaliar toda a questão de como se relacionam a mente e o corpo.
7 Mente e Corpo Concluo justamente que minha essência consiste nisto apenas, que eu sou uma coisa pensante (...) E no entanto talvez (...) tenho um corpo ao qual estou estreitamente ligado, tenho, de um lado, uma idéia clara e definida de mim mesmo como uma coisa pensante, não extensa, e, do outro lado, uma idéia nítida de meu corpo como uma coisa extensa e não pensante; é certo, portanto, que sou realmente algo distinto de meu corpo e posso existir sem ele. Descartes 1 Quando minha filhinha me perguntou o que a "alma" dela era, flagrei-me dizendolhe que era a parte mais essencial dela mesma, a parte que faz com que ela seja realmente "ela", e que era diferente de seu corpo. Se ela tivesse a sofisticação de perguntar sobre sua "mente", tenho certeza de que teria respondido de forma semelhante — apesar de tudo o que penso. Não obstante todas as minhas idéias sobre o assunto e minhas convicções racionais em contrário, sou no fundo uma boa cartesiana e, quando luto para dar a meus filhos explicações sobre coisas tão fundamentais como o relacionamento mente—corpo ou alma—corpo em termos que eles possam compreender, me flagro empregando alguma crença arraigada, plantada durante minha infância e fortalecida por toda minha educação. Suspeito que aconteça a mesma coisa com outras pessoas, mesmo àquelas que jamais leram ou nem sequer ouviram falar de Descartes. A maioria de nós sente que nossas mentes (ou almas) e nossos corpos são por alguma razão essencialmente diferentes um do outro, seja lá o que for que pensemos em nossas reflexões mais racionais. Nós nos experimentamos como um ser que tem ou que está dentro de um corpo. Sentimo-nos profundamente recolhidos, guardados, um algo intangível que espia o grande mundo lá fora e que pode desfrutar de toda a sorte de capacidades e liberdades, limitados apenas pelo corpo. Nos bons tempos transcendemos esta prisão de carne. Estamos saudáveis apesar de suas doenças, jovens apesar de seus cabelos brancos e rugas, "puros" apesar de sua "corrupção". Nos tempos ruins descemos até o fundo desse nível da carne e gritamos em desespero. "Infeliz de mim!", clamou São Paulo. "Quem me livrará deste corpo de morte? (...) Assim, pois, eu mesmo sirvo à lei de Deus com o espírito; e sirvo à lei do pecado com a carne." 2 O discurso de Paulo acerca de corpos vis e a penitência por suas ações deixou uma marca indelével em todo o desenvolvimento da cristandade e, portanto, na psique do homem ocidental. Embora sendo nosso mestre, ele foi por sua vez produto de sua própria educação e cultura — no seu caso em particular, os sentimentos expressos em Fédon e na República de Platão, cerca de meio milênio antes, e transmitidos por todos os tempos pelas tradições platônica e neoplatônica. "Enquanto nos ativermos ao corpo e nossa alma for contaminada por suas
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Fig. 6.3 Eletroencefalograma padrão de atividade cerebral. Poderia estar refletindo as excitações<br />
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Quer as teorias existentes, como as que aplicam o sistema de Fröhlich ou os fótons<br />
coerentes de Popp à questão, estejam corretas ou não, a própria existência de um<br />
modelo mecânico-quântico viável da consciência já é em si prenhe de implicações<br />
filosóficas de amplas conseqüências. A inteireza não dividida que é pré-requisito para<br />
esse modelo e, portanto, a perda da individualidade de suas partes conduz de um modo<br />
geral à questão da identidade pessoal e dos relacionamentos de grupo.<br />
Além disso, qualquer modelo mecânico-quântico é necessariamente um modelo<br />
físico e, portanto, presume que os fenômenos da consciência (atenção, percepção,<br />
pensamento, memória etc.), juntamente com os da física, química e biologia, pertencem<br />
à ordem da natureza e podem ser experimentalmente investigados. Essa maneira de ver<br />
a consciência também implica que a consciência e a matéria estão tão integralmente<br />
presas uma à outra que ou a consciência é uma propriedade da matéria (como no<br />
pampsiquismo), ou a consciência e a matéria surgem juntas da mesma fonte comum<br />
(como sugere Nagel no cap. 4) — em nossa linguagem, do mundo dos fenômenos<br />
quânticos.<br />
Ambas as visões retiram a consciência da esfera do sobrenatural e a transformam<br />
num assunto adequado ao questionamento científico. Desafiam a presunção dualista<br />
amplamente sustentada de que a consciência e a matéria ("mente" ou "alma" e o corpo)<br />
são fenômenos completamente distintos, cada qual desenvolvendo-se à sua maneira e<br />
apenas acidentalmente tocando-se um ao outro neste nosso mundo imperfeito.<br />
Provando-se que a consciência é, de fato, um fenômeno quântico, seria possível desafiar<br />
as duradouras alegações dos dualistas de uma forma mais profunda do que jamais<br />
aconteceu. Estamos agora numa posição que nos permite reavaliar toda a questão de<br />
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