Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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processo como um todo, dando unidade ao funcionamento cerebral e permitindo-lhe<br />
fazer escolhas livres e espontâneas. Onde está então, em meio aos trilhões de conexões<br />
nervosas e eventos deterministas, a pessoa que experimentamos como sendo nós<br />
mesmos? O que explica o "eu" que experimenta fome, que decide comer uma maçã e<br />
sente prazer após fazê-lo? Como é que chegamos a ter "a experiência" de comer uma<br />
maçã em vez de umas tantas impressões desconexas produzidas por um milhão de<br />
impulsos sensoriais distintos?<br />
O problema foi ilustrado por um trabalho recente sobre a visão humana. 5 Quando<br />
vemos uma maçã, sabemos imediatamente que é uma maçã, um pequeno objeto<br />
vermelho, redondo, em pé dentro de uma fruteira a um metro de distância, sobre a mesa.<br />
Há outras associações ligadas à maçã em nossa percepção consciente total: que ela irá<br />
satisfazer nossa fome, que ela faz bem à saúde, que a decisão de Eva quando comeu a<br />
maçã foi a desgraça da humanidade etc. Mas essas associações não fazem parte da<br />
percepção visual, que consiste em informações sobre o tamanho, forma, orientação, cor<br />
e localização da maçã — cada uma das quais é anotada separadamente pelo cérebro.<br />
O cérebro não vê "uma maçã", mas antes o vermelho, o redondo, o pequeno etc. A<br />
informação sobre cada uma das características está arquivada num lugar diferente,<br />
dentro de um "mapa de características distintas" e depois subseqüentemente num "plano<br />
geral de localização" (fig. 5.1). Uma vez composto o plano geral, a atenção focalizada<br />
assume o comando, olha para o plano geral e vê a maçã.<br />
A atenção faz uso desse plano geral selecionando simultaneamente, através de ligações<br />
com os diversos mapas de características, todas as características normalmente presentes<br />
numa determinada localidade (...) A informação integrada sobre as propriedades e<br />
relações estruturais em cada arquivo de objeto é comparada com descrições armazenadas<br />
numa "rede de reconhecimento". A rede especifica os atributos decisivos de gatos,<br />
árvores, ovos mexidos, nossa avó e todos os demais objetos de percepção conhecidos. 6<br />
Mas o que é esta atenção focalizada que promove a integração da informação<br />
vinda do plano geral da percepção?<br />
A unidade de nossa experiência consciente, o fio de atenção focalizada que reúne<br />
toda a miríade de impressões sensoriais, é um dado subjacente a todos os outros<br />
aspectos dessa experiência. Como as notas de uma melodia ou as várias características<br />
da maçã ou cenas visuais mais amplas, os conteúdos de nossa consciência se mantêm<br />
coesos. Eles formam um todo, um "quadro". Cada parte desse todo deriva dele o seu<br />
significado e reflete em seu próprio ser tanto o todo como suas outras partes<br />
constitutivas. O fá sustenido que eu ouço é um "fá sustenido do Adágio de Mozart", não<br />
está isolado em minha percepção. O freixo que vejo da janela do meu escritório é um<br />
freixo que cresce em meu jardim nos barrancos do riacho Oxford. Suas folhas se agitam<br />
no horizonte e acenam para Wytham Woods em frente a Port Meadow. Todas essas<br />
coisas estão presentes em mim ao mesmo tempo quando olho pela janela. Elas são, em<br />
sua inteireza, "minha visão da janela".<br />
Sem esta inteireza, essa unidade, não poderia existir nenhuma experiência tal<br />
como a conhecemos, nada de maçãs, jardins, nenhum sentido do ser (identidade pessoal<br />
ou subjetividade) e, portanto, nenhuma vontade pessoal ou decisão (intenção)<br />
propositada — tudo isso são características conhecidas de nossa vida mental. A unidade<br />
é a característica mais essencial da consciência, tão básica ao que quer que chamemos<br />
consciência que a maioria de nós nem sequer se dá conta de que existe. E, no entanto, é