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Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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E, no entanto, nossa intuição moderna sobre tais coisas está em dissonância com<br />

muitas plataformas de nossa história cultural pré-cartesiana e pré-newtoniana. Tem-se<br />

alguma espécie de pampsiquismo organizado desde os tempos pré-socráticos. O Uno de<br />

Parmênides ou o Fluxo Divino de Heráclito fazem supor que todas as coisas,<br />

conscientes e materiais, derivam fundamentalmente de uma fonte comum. "Deus é o dia<br />

e a noite, o verão e o inverno, a guerra e a paz, a saciedade e a fome; mas assume várias<br />

formas, assim como o fogo quando é misturado com espécies leva um nome segundo o<br />

sabor de cada uma delas (...) O homem não sabe o quanto aquilo que sofre variação está<br />

harmonizado com ele." 9<br />

Antes disso ainda, os espíritos da natureza dos animistas povoaram as árvores,<br />

montanhas e nuvens de chuvas da Grécia Antiga, da mesma forma que em muitas outras<br />

sociedades primitivas. A metáfora da Grande Corrente do Ser, 10 que retratou tudo como<br />

pertencente a uma única corrente unificada e completa estendendo-se do homem às<br />

menores partículas da matéria inanimada, originada em Timeu de Platão, influenciou a<br />

visão de mundo da gente de toda a Idade Média e da Renascença. Apenas nesta era<br />

moderna é que perdemos grandemente o contato com esse antigo paradigma.<br />

Mas, apesar disso, ou mais provavelmente como reação defensiva à tendência<br />

materialista e mecanicista de nossa cultura recente, algum tipo de pampsiquismo<br />

promoveu uma tradição moderna subcultural própria. Para muitos, a motivação foi<br />

basicamente espiritual ou religiosa. Conforme está expresso na Encyclopedia of<br />

Philosophy, muitos acreditaram que "somente aceitando o pampsiquismo é que o<br />

homem moderno (que acha impossível crer nas afirmações da religião tradicional)<br />

poderá escapar às angustiantes implicações do materialismo". 11<br />

Elevando a matéria ao nível da consciência, ou ao menos enxergando algumas<br />

propriedades conscientes incipientes em toda a matéria, muitos filósofos e psicólogos<br />

modernos (Spinoza, Leibnitz, William James, Teilhard de Chardin, Whitehead etc.)<br />

entraram em contato com uma realidade subjacente não de todo alheia à sua própria<br />

experiência.<br />

"Se somos pampsíquicos", escreveu o filósofo alemão Hermann Lotze, no século<br />

18, "não mais contemplamos 'uma parte do cosmo como mero instrumento cego e sem<br />

vida do cosmo usado para os fins de outra parte', mas, ao contrário, encontramos 'sob a<br />

superfície serena da matéria, por trás das repetições rígidas e regulares de seu<br />

funcionamento (...) o calor de uma atividade mental oculta'." 12 O contemporâneo de<br />

Lotze, G. T. Fechner, via a própria Terra como uma criatura viva, "um todo unitário em<br />

forma e substância, em propósito e efeito (...) e auto-suficiente em sua<br />

individualidade" 13 — uma idéia popularizada em nossa época pelo entusiasmo nutrido<br />

pela hipótese Gaia de J. E. Love-lock. 14<br />

Muitos dos modernos pampsiquistas aceitavam a doutrina em sua forma mais<br />

plena, acreditando que cada montanha, árvore, flor e partícula de poeira realmente<br />

possui uma vida interior psicológica, mas este não é o tipo de pensamento pampsiquista<br />

que nos diz respeito aqui. Antes, devemos nos preocupar em ver o que a física moderna<br />

poderá lançar sobre a natureza da consciência, a fim de compreendermos o que há no<br />

relacionamento entre matéria e consciência, no nível quântico que agora faz com que<br />

alguns físicos quânticos, e mais um punhado de filósofos baseados no trabalho daqueles,<br />

sejam considerados integrantes da tradição pampsiquista. Há, necessariamente, uma<br />

forma muito mais limitada e cautelosa de pampsiquismo, já que nada na física moderna

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