Danah Zohar O SER QUÂNTICO
Danah Zohar O SER QUÂNTICO Danah Zohar O SER QUÂNTICO
diálogo entre matéria e consciência é evidente e de vital importância — nenhum dos dois é redutível ao outro, e, no entanto, um não poderia funcionar sem o outro. Da mesma forma, e num nível mais básico, presume-se que essa mesma coerência quântica ordenada esteja presente em todos os tecidos vivos, inclusive no nível do próprio DNA. Como vimos, ela está inseparavelmente ligada à criatividade essencial da vida. Essa criatividade brota da capacidade auto-organizadora de todos os sistemas vivos (sistemas Prigogine do tipo Fröhlich) que pegam a matéria desestruturada, inerte ou caótica existente no meio circundante e a levam a um diálogo dinâmico, mutuamente criativo que tanto resulta numa estrutura mais complexa quanto em maior coerência ordenada. A coerência dos sistemas vivos evoca, assim, um potencial até então não realizado na matéria e que se torna organizado através dela (da coerência), bem como se auto-realiza mais plenamente. A coerência quântica ordenada que é a vida não tem a capacidade de autoconsciência que associamos à coerência quântica ligada às funções cerebrais superiores. Ela não reflete sobre si mesma, e seria uma projeção antropomórfica dizer que ela tem um sentido de "propósito". Mas, conforme argumentou Ilya Prigogine, ela tem um sentido de direção — o que ela chama de "paradigma evolutivo". A vida parece sempre criar mais vida, mais e maior coerência quântica ordenada. E este é um antecedente claro de intencionalidade que encontramos nos sistemas conscientes como nós mesmos. Eles têm a mesma física, e através dessa física podemos traçar as origens de nossa consciência até algo que tenhamos em comum, em algum sentido muito primitivo, com qualquer coisa viva. E, em cada nível em que há coerência quântica ordenada, há uma troca criativa entre essa coerência e seu ambiente material. Portanto, nós, seres conscientes, evidentemente partilhamos algo de nossa natureza consciente com todas as outras criaturas conscientes. Num nível mais elementar, partilhamos a física básica de nossa consciência com todas as outras coisas vivas — e todos temos em comum um diálogo criativo com o ambiente material. Mas a questão interessante é se a vida em si tem algum antecedente. Será o mundo vivo apenas um ramo aleatório de brutais processos universais que são em si totalmente estranhos à vida, ou há algum primeiro ancestral da física que se torna a física da vida? Poderemos traçar nossa ancestralidade consciente até o mundo não vivo? Argumentei anteriormente (cap. 7) que, em última instância, podemos traçar as origens de nossa consciência até suas raízes no tipo especial de relacionamento existente entre dois bósons que se encontram, até sua propensão a se unir, a se sobrepor e partilhar a mesma identidade. É essa propensão que possibilita a ordenação muito mais coerente de sistemas quânticos mais complexos (os da vida e da consciência humana) — em que milhões de bósons se sobrepõem e partilham uma identidade, comportandose como um grande bóson — mas em sua forma primitiva ela está presente sempre que dois bósons se encontram. Os físicos que trabalham com fótons o chamam de "efeito de agrupamento de fótons", 2 ao observar que os fótons emitidos de qualquer fonte nãocoerente de fótons chegam ao detector agrupados (fig. 15.1). É de sua natureza "fazer amizades".
Fig. 15.1 Agrupamento de fótons. Partindo de uma fonte caótica (não coerente) de fótons, os fótons chegam agrupados. O efeito de agrupamento levou o físico alemão Fritz Popp a concluir que: "A diferença entre um sistema vivo e um sistema não vivo é o aumento radical (de uma ordem de magnitude vinte vezes maior) no número de ocupação dos níveis eletrônicos". 3 Isto é, nos sistemas vivos, os fótons são muito mais (exponencialmente mais) agrupados, estando literalmente "espremidos" num condensado de Bose-Einstein, ao passo que nos sistemas não vivos estão menos aglomerados. Mas esta é uma diferença de grau, não de princípio. No processo do agrupamento de fótons, vemos o antecessor original da coerência que se torna vida, mas ela é em si atemporal — não tem sentido de direção. A direção surge através do processo descrito pela física "dos sistemas abertos auto-organizadores", a física de Ilya Prigogine — através do fato de que nos sistemas abertos, diferente daqueles movidos pela entropia, a ordem sempre aumenta. Os sistemas vivos são sistemas abertos desse tipo, mas sua física estende-se mais para trás, até o mundo do não vivo. Um sistema aberto Prigogine, como uma cachoeira, precisa ser impulsionado por um fluxo de matéria ou de energia que o atravessa. Ele não conseguiria manter seu impulso em direção a mais ordem num universo estático ou homogêneo, um universo em equilíbrio. Lembremo-nos de que a criatividade ocorre em condições bem distantes do equilíbrio. Mas nosso Universo não é homogêneo nem estático. Basta contemplar o céu noturno para ver amontoados de galáxias e bandos de estrelas, todos dotados de vastas reservas de energia gravitacional, energia que pode impulsionar sistemas autoorganizadores de Prigogine. Como diz o colega de Prigogine, Gregoire Nicolis: "A gravidade pode, portanto, ser considerada como fator organizador básico no Universo, mediando a passagem do equilíbrio para o não-equilíbrio". 4 A própria gravidade é um campo de força bosônico. Assim, os bósons (grávitons) são uma força motriz de grande escala que promovem mais ordenação no Universo. Num nível ainda mais básico, podem ainda ser responsáveis pelo colapso da função de onda quântica, o problema ressaltado pelo enigma do gato de Schrödinger.
- Page 111 and 112: Senão, não há nada a fazer. 1 Os
- Page 113 and 114: do autocontrole e da moderação."
- Page 115 and 116: Os animais, argumentou ele, incluin
- Page 117 and 118: significado e propósito ao comprom
- Page 119 and 120: compromisso quebrado é uma retirad
- Page 121 and 122: implicações morais básicas, impl
- Page 123 and 124: 12 A Liberdade do Ser: Responsabili
- Page 125 and 126: É portanto fundamentalmente necess
- Page 127 and 128: de defesa. O exemplo da sentença p
- Page 129 and 130: em frente à minha escrivaninha esc
- Page 131 and 132: decisão prometendo a mim mesma lar
- Page 133 and 134: genéticas, experiências e reflex
- Page 135 and 136: Ela ajuda a manter uma cultura e um
- Page 137 and 138: algo dentro de nós. Quando não h
- Page 139 and 140: sensos estéticos da criança sem p
- Page 141 and 142: integrar-se —, a criança reúne,
- Page 143 and 144: dos vários casos amorosos simultâ
- Page 145 and 146: contexto de relações significativ
- Page 147 and 148: É este certamente o significado de
- Page 149 and 150: sua habilidade) poderia lhe dar exi
- Page 151 and 152: mundo. Aristóteles tinha o belo co
- Page 153 and 154: moderna, que combatia toda estrutur
- Page 155 and 156: dos animais do arado. Por isso, som
- Page 157 and 158: fora um estacionamento, a segunda,
- Page 159 and 160: nem saber a respeito") diante da ci
- Page 161: possibilidades e faz com que aquele
- Page 165 and 166: Em minha versão, os "observadores"
- Page 167 and 168: como espécie, depois como indivíd
- Page 169 and 170: individualidade relacionamento Fig.
- Page 171 and 172: dará sentido a nossas decisões e
- Page 173 and 174: fragmentaram-se, formando extremos
- Page 175 and 176: oriental. Analogamente, a cosmovis
- Page 177 and 178: Capítulo 4 3 Prigogine, Ilya, From
- Page 179 and 180: Capítulo 6 10 The Holographic Para
- Page 181 and 182: Capítulo 8 Capítulo 9 12 "The Ori
- Page 183 and 184: 3 a 31. 7 Bloom, Allen, The Closing
- Page 185 and 186: em Oxford, maio de 1989. 10 Thorpe,
diálogo entre matéria e consciência é evidente e de vital importância — nenhum dos<br />
dois é redutível ao outro, e, no entanto, um não poderia funcionar sem o outro.<br />
Da mesma forma, e num nível mais básico, presume-se que essa mesma coerência<br />
quântica ordenada esteja presente em todos os tecidos vivos, inclusive no nível do<br />
próprio DNA. Como vimos, ela está inseparavelmente ligada à criatividade essencial da<br />
vida. Essa criatividade brota da capacidade auto-organizadora de todos os sistemas<br />
vivos (sistemas Prigogine do tipo Fröhlich) que pegam a matéria desestruturada, inerte<br />
ou caótica existente no meio circundante e a levam a um diálogo dinâmico, mutuamente<br />
criativo que tanto resulta numa estrutura mais complexa quanto em maior coerência<br />
ordenada. A coerência dos sistemas vivos evoca, assim, um potencial até então não<br />
realizado na matéria e que se torna organizado através dela (da coerência), bem como se<br />
auto-realiza mais plenamente.<br />
A coerência quântica ordenada que é a vida não tem a capacidade de<br />
autoconsciência que associamos à coerência quântica ligada às funções cerebrais<br />
superiores. Ela não reflete sobre si mesma, e seria uma projeção antropomórfica dizer<br />
que ela tem um sentido de "propósito". Mas, conforme argumentou Ilya Prigogine, ela<br />
tem um sentido de direção — o que ela chama de "paradigma evolutivo".<br />
A vida parece sempre criar mais vida, mais e maior coerência quântica ordenada.<br />
E este é um antecedente claro de intencionalidade que encontramos nos sistemas<br />
conscientes como nós mesmos. Eles têm a mesma física, e através dessa física podemos<br />
traçar as origens de nossa consciência até algo que tenhamos em comum, em algum<br />
sentido muito primitivo, com qualquer coisa viva. E, em cada nível em que há coerência<br />
quântica ordenada, há uma troca criativa entre essa coerência e seu ambiente material.<br />
Portanto, nós, seres conscientes, evidentemente partilhamos algo de nossa<br />
natureza consciente com todas as outras criaturas conscientes. Num nível mais<br />
elementar, partilhamos a física básica de nossa consciência com todas as outras coisas<br />
vivas — e todos temos em comum um diálogo criativo com o ambiente material. Mas a<br />
questão interessante é se a vida em si tem algum antecedente. Será o mundo vivo apenas<br />
um ramo aleatório de brutais processos universais que são em si totalmente estranhos à<br />
vida, ou há algum primeiro ancestral da física que se torna a física da vida? Poderemos<br />
traçar nossa ancestralidade consciente até o mundo não vivo?<br />
Argumentei anteriormente (cap. 7) que, em última instância, podemos traçar as<br />
origens de nossa consciência até suas raízes no tipo especial de relacionamento existente<br />
entre dois bósons que se encontram, até sua propensão a se unir, a se sobrepor e<br />
partilhar a mesma identidade. É essa propensão que possibilita a ordenação muito mais<br />
coerente de sistemas quânticos mais complexos (os da vida e da consciência humana)<br />
— em que milhões de bósons se sobrepõem e partilham uma identidade, comportandose<br />
como um grande bóson — mas em sua forma primitiva ela está presente sempre que<br />
dois bósons se encontram. Os físicos que trabalham com fótons o chamam de "efeito de<br />
agrupamento de fótons", 2 ao observar que os fótons emitidos de qualquer fonte nãocoerente<br />
de fótons chegam ao detector agrupados (fig. 15.1). É de sua natureza "fazer<br />
amizades".