Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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14.04.2013 Views

diálogo entre matéria e consciência é evidente e de vital importância — nenhum dos dois é redutível ao outro, e, no entanto, um não poderia funcionar sem o outro. Da mesma forma, e num nível mais básico, presume-se que essa mesma coerência quântica ordenada esteja presente em todos os tecidos vivos, inclusive no nível do próprio DNA. Como vimos, ela está inseparavelmente ligada à criatividade essencial da vida. Essa criatividade brota da capacidade auto-organizadora de todos os sistemas vivos (sistemas Prigogine do tipo Fröhlich) que pegam a matéria desestruturada, inerte ou caótica existente no meio circundante e a levam a um diálogo dinâmico, mutuamente criativo que tanto resulta numa estrutura mais complexa quanto em maior coerência ordenada. A coerência dos sistemas vivos evoca, assim, um potencial até então não realizado na matéria e que se torna organizado através dela (da coerência), bem como se auto-realiza mais plenamente. A coerência quântica ordenada que é a vida não tem a capacidade de autoconsciência que associamos à coerência quântica ligada às funções cerebrais superiores. Ela não reflete sobre si mesma, e seria uma projeção antropomórfica dizer que ela tem um sentido de "propósito". Mas, conforme argumentou Ilya Prigogine, ela tem um sentido de direção — o que ela chama de "paradigma evolutivo". A vida parece sempre criar mais vida, mais e maior coerência quântica ordenada. E este é um antecedente claro de intencionalidade que encontramos nos sistemas conscientes como nós mesmos. Eles têm a mesma física, e através dessa física podemos traçar as origens de nossa consciência até algo que tenhamos em comum, em algum sentido muito primitivo, com qualquer coisa viva. E, em cada nível em que há coerência quântica ordenada, há uma troca criativa entre essa coerência e seu ambiente material. Portanto, nós, seres conscientes, evidentemente partilhamos algo de nossa natureza consciente com todas as outras criaturas conscientes. Num nível mais elementar, partilhamos a física básica de nossa consciência com todas as outras coisas vivas — e todos temos em comum um diálogo criativo com o ambiente material. Mas a questão interessante é se a vida em si tem algum antecedente. Será o mundo vivo apenas um ramo aleatório de brutais processos universais que são em si totalmente estranhos à vida, ou há algum primeiro ancestral da física que se torna a física da vida? Poderemos traçar nossa ancestralidade consciente até o mundo não vivo? Argumentei anteriormente (cap. 7) que, em última instância, podemos traçar as origens de nossa consciência até suas raízes no tipo especial de relacionamento existente entre dois bósons que se encontram, até sua propensão a se unir, a se sobrepor e partilhar a mesma identidade. É essa propensão que possibilita a ordenação muito mais coerente de sistemas quânticos mais complexos (os da vida e da consciência humana) — em que milhões de bósons se sobrepõem e partilham uma identidade, comportandose como um grande bóson — mas em sua forma primitiva ela está presente sempre que dois bósons se encontram. Os físicos que trabalham com fótons o chamam de "efeito de agrupamento de fótons", 2 ao observar que os fótons emitidos de qualquer fonte nãocoerente de fótons chegam ao detector agrupados (fig. 15.1). É de sua natureza "fazer amizades".

Fig. 15.1 Agrupamento de fótons. Partindo de uma fonte caótica (não coerente) de fótons, os fótons chegam agrupados. O efeito de agrupamento levou o físico alemão Fritz Popp a concluir que: "A diferença entre um sistema vivo e um sistema não vivo é o aumento radical (de uma ordem de magnitude vinte vezes maior) no número de ocupação dos níveis eletrônicos". 3 Isto é, nos sistemas vivos, os fótons são muito mais (exponencialmente mais) agrupados, estando literalmente "espremidos" num condensado de Bose-Einstein, ao passo que nos sistemas não vivos estão menos aglomerados. Mas esta é uma diferença de grau, não de princípio. No processo do agrupamento de fótons, vemos o antecessor original da coerência que se torna vida, mas ela é em si atemporal — não tem sentido de direção. A direção surge através do processo descrito pela física "dos sistemas abertos auto-organizadores", a física de Ilya Prigogine — através do fato de que nos sistemas abertos, diferente daqueles movidos pela entropia, a ordem sempre aumenta. Os sistemas vivos são sistemas abertos desse tipo, mas sua física estende-se mais para trás, até o mundo do não vivo. Um sistema aberto Prigogine, como uma cachoeira, precisa ser impulsionado por um fluxo de matéria ou de energia que o atravessa. Ele não conseguiria manter seu impulso em direção a mais ordem num universo estático ou homogêneo, um universo em equilíbrio. Lembremo-nos de que a criatividade ocorre em condições bem distantes do equilíbrio. Mas nosso Universo não é homogêneo nem estático. Basta contemplar o céu noturno para ver amontoados de galáxias e bandos de estrelas, todos dotados de vastas reservas de energia gravitacional, energia que pode impulsionar sistemas autoorganizadores de Prigogine. Como diz o colega de Prigogine, Gregoire Nicolis: "A gravidade pode, portanto, ser considerada como fator organizador básico no Universo, mediando a passagem do equilíbrio para o não-equilíbrio". 4 A própria gravidade é um campo de força bosônico. Assim, os bósons (grávitons) são uma força motriz de grande escala que promovem mais ordenação no Universo. Num nível ainda mais básico, podem ainda ser responsáveis pelo colapso da função de onda quântica, o problema ressaltado pelo enigma do gato de Schrödinger.

diálogo entre matéria e consciência é evidente e de vital importância — nenhum dos<br />

dois é redutível ao outro, e, no entanto, um não poderia funcionar sem o outro.<br />

Da mesma forma, e num nível mais básico, presume-se que essa mesma coerência<br />

quântica ordenada esteja presente em todos os tecidos vivos, inclusive no nível do<br />

próprio DNA. Como vimos, ela está inseparavelmente ligada à criatividade essencial da<br />

vida. Essa criatividade brota da capacidade auto-organizadora de todos os sistemas<br />

vivos (sistemas Prigogine do tipo Fröhlich) que pegam a matéria desestruturada, inerte<br />

ou caótica existente no meio circundante e a levam a um diálogo dinâmico, mutuamente<br />

criativo que tanto resulta numa estrutura mais complexa quanto em maior coerência<br />

ordenada. A coerência dos sistemas vivos evoca, assim, um potencial até então não<br />

realizado na matéria e que se torna organizado através dela (da coerência), bem como se<br />

auto-realiza mais plenamente.<br />

A coerência quântica ordenada que é a vida não tem a capacidade de<br />

autoconsciência que associamos à coerência quântica ligada às funções cerebrais<br />

superiores. Ela não reflete sobre si mesma, e seria uma projeção antropomórfica dizer<br />

que ela tem um sentido de "propósito". Mas, conforme argumentou Ilya Prigogine, ela<br />

tem um sentido de direção — o que ela chama de "paradigma evolutivo".<br />

A vida parece sempre criar mais vida, mais e maior coerência quântica ordenada.<br />

E este é um antecedente claro de intencionalidade que encontramos nos sistemas<br />

conscientes como nós mesmos. Eles têm a mesma física, e através dessa física podemos<br />

traçar as origens de nossa consciência até algo que tenhamos em comum, em algum<br />

sentido muito primitivo, com qualquer coisa viva. E, em cada nível em que há coerência<br />

quântica ordenada, há uma troca criativa entre essa coerência e seu ambiente material.<br />

Portanto, nós, seres conscientes, evidentemente partilhamos algo de nossa<br />

natureza consciente com todas as outras criaturas conscientes. Num nível mais<br />

elementar, partilhamos a física básica de nossa consciência com todas as outras coisas<br />

vivas — e todos temos em comum um diálogo criativo com o ambiente material. Mas a<br />

questão interessante é se a vida em si tem algum antecedente. Será o mundo vivo apenas<br />

um ramo aleatório de brutais processos universais que são em si totalmente estranhos à<br />

vida, ou há algum primeiro ancestral da física que se torna a física da vida? Poderemos<br />

traçar nossa ancestralidade consciente até o mundo não vivo?<br />

Argumentei anteriormente (cap. 7) que, em última instância, podemos traçar as<br />

origens de nossa consciência até suas raízes no tipo especial de relacionamento existente<br />

entre dois bósons que se encontram, até sua propensão a se unir, a se sobrepor e<br />

partilhar a mesma identidade. É essa propensão que possibilita a ordenação muito mais<br />

coerente de sistemas quânticos mais complexos (os da vida e da consciência humana)<br />

— em que milhões de bósons se sobrepõem e partilham uma identidade, comportandose<br />

como um grande bóson — mas em sua forma primitiva ela está presente sempre que<br />

dois bósons se encontram. Os físicos que trabalham com fótons o chamam de "efeito de<br />

agrupamento de fótons", 2 ao observar que os fótons emitidos de qualquer fonte nãocoerente<br />

de fótons chegam ao detector agrupados (fig. 15.1). É de sua natureza "fazer<br />

amizades".

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