Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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O Vácuo Quântico<br />
e o Deus Interior<br />
Vivemos nossas vidas inescrutavelmente incluídos na fluente vida do Universo.<br />
Martin Buber, I and You<br />
Quando criancinha, ao olhar para o céu noturno, via Castor e Pollux, Orion e<br />
Cassiopeia. Não eram simples configurações de estrelas, mas pessoas, heróis e heroínas<br />
sobre os quais eu lera histórias emocionantes e cujos feitos de bravura inspiravam tantas<br />
das minhas fantasias e brincadeiras. Quando o vento soprava ou abatia-se uma<br />
tempestade, era Poseidon expandindo sua ira ou Zeus tendo uma explosão de raiva.<br />
Com um olho interior eu procurava no céu cristão e imaginava em qual das luzes<br />
Deus tinha seu trono. Também ele levantava ventos e fazia tempestades quando estava<br />
desgostoso com o mundo, mas era o mundo Dele, Ele o criara, e eu confiava Nele para<br />
tomar conta do mundo e de mim.<br />
Quando vou dormir, ao me deitar,<br />
Peço ao Senhor por minha alma zelar;<br />
Se acaso morrer antes de despertar,<br />
Peço ao Senhor para minha alma levar.<br />
Minha mãe lecionava letras clássicas e meu avô era um cristão devoto, e os dois<br />
juntos povoaram minha infância com deuses e fé. Porém, quando cresci um pouco e fui<br />
aprendendo o que o mundo é "na realidade", aprendendo sobre astronomia, cosmologia<br />
e evolução, a fé da minha infância (e todo o mundo construído através dela) ficou me<br />
parecendo um monte de histórias fantasiosas. O céu noturno tornou-se algo frio e<br />
indiferente, e minha própria existência uma questão acidental e insignificante no que diz<br />
respeito ao mundo. Nisso, minha vivência espelhou a de toda minha geração — e em<br />
grande parte a de algumas gerações anteriores. Nossa ciência rumava na direção oposta<br />
da nossa fé tradicional.<br />
Muitos já argumentaram no sentido de que as descobertas da ciência moderna não<br />
produzem, necessariamente, um impacto sobre a fé religiosa tradicional. Como diz o<br />
físico inglês Brian Pippard: "O verdadeiro crente em Deus (...) não precisa temer — sua<br />
cidadela é inexpugnável dos assaltos científicos, pois ocupa um território fechado à<br />
ciência". 1 Nessa visão, a fé e a razão representam dois mundos distintos, falam línguas<br />
diferentes e têm diferentes noções de verdade. Um é estranho ao outro e nenhum dos<br />
dois pode aprender ou refutar o outro. Mas uma atitude do tipo avestruz ("Não quero